• Lula ajuda a eleger mas também quer a ajudar a governar
- Valor Econômico
O PT passou a considerar a hipótese de vencer a eleição presidencial no primeiro turno, em reunião realizada pela coordenação da campanha da presidente Dilma Rousseff, após o debate da Rede Record. "Não é provável, mas também não é impossível", dizem os integrantes do comitê eleitoral da reeleição, tendo por base uma série de números positivos mostrados pelas últimas pesquisas.
Essa hipótese será maior, na avaliação da campanha da presidente da República, se a candidata Marina Silva (PSB) repetir no debate da TV Globo, marcado para o dia 2, quinta-feira, o mesmo desempenho que teve no debate da Record, na noite do último domingo. Marina estava na defensiva. Aparentemente sentiu o impacto da queda nas pesquisas e perdeu um pouco do ímpeto que exibiu em outras ocasiões.
Dilma, ao contrário, incorporou o papel da "gerentona", investiu contra os adversários e deixou claro que eles podiam atacar, que ela estava preparada para rebater qualquer acusação. Aécio foi bem, segundo avaliação dos petistas, mas nada a ponto de mudar o curso de uma eleição que caminha para um segundo turno entre Dilma Rousseff e Marina Silva, se não se concretizar a possibilidade remota de o PT não ganhar no domingo mesmo.
"Resta saber se vamos bater na trave ou vamos para o segundo turno", diz o coordenador da campanha de Dilma em São Paulo, Luiz Marinho, ex-ministro do Trabalho no governo Lula, atual prefeito de São Bernardo do Campo. O PT "bateu na trave" em 2006, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou a milímetros da vitória em primeiro turno, assim como Dilma em 2010 - nas duas eleições o PT perdeu votos devido a escândalos denunciados na reta final da campanha.
O PT justifica seu atual momento otimista com base em informações quantitativas e qualitativas, após um período de depressão que durou de meados de agosto até o início de setembro. Até o "Volta Lula" chegou a ser lembrado, quando Marina disparou dez pontos de vantagem sobre Dilma, numa simulação do Datafolha de segundo turno. Mas Lula era um dos poucos a dizer que a eleição não estava perdida e que a reação era possível.
Os sinais "qualitativos" que a campanha de Dilma passou a recolher nos últimos dias indicam, por exemplo, que já há duas semanas cresce a parcela da população brasileira que acha que a presidente conseguirá a reeleição (já foi de 51%, agora está em 61%), mesmo entre aqueles que não votam nela.
Os eleitores de Dilma também são os mais fidelizados. A pesquisa MDA/CNT divulgada ontem revela que 85,9% dos eleitores de Dilma disseram que a presidente é sua opção definitiva. O percentual de Marina e Aécio é bem menor.
O ministro Miguel Rossetto, que se licenciou do cargo para se dedicar aos últimos 30 dias da campanha da presidente Dilma, também chama a atenção para outro aspecto, o fato de a candidatura da presidente chegar a esta altura da disputa em curva ascendente e com possibilidade de se manter assim até o próximo domingo, como sugerem os dados qualitativos. "Nós estamos entrando em crescimento na reta final da campanha. É o melhor momento de nossa campanha e é um momento de crescimento eleitoral, enquanto os nossos adversários estão em queda".
Com todos esses indicadores favoráveis, a campanha espera ainda ganhar a maior parte dos votos dos eleitores que consideram regular o desempenho do governo Dilma Rousseff, algo estimado em 35% do total. O movimento de "desconstrução" de Marina deve continuar, enquanto Lula dobrou suas atividades em São Paulo, o maior bastião da resistência ao petismo.
Segundo a coordenação da campanha, Dilma cresceu nas pesquisas porque se afirmou como uma líder capaz de governar o país, nos próximos quatro anos, com uma "estabilidade positiva". Tanto no que diz respeito à economia, como em relação às relações com o Congresso e às mudanças que o país exige e aparecem refletidas nas pesquisas, ainda agora quando a presidente retoma o favoritismo na disputa presidencial.
A última semana de campanha demonstra uma notável capacidade de adaptação do comando estratégico da campanha Dilma à nova situação criada com a morte do ex-candidato do PSB, Eduardo Campos, ocorrida em acidente aéreo no dia 13 de agosto. A campanha do PT se adaptou mais rapidamente à nova conjuntura e foi ágil ao trocar o que havia preparado para disputar a eleição com Aécio Neves por uma outra estratégia tendo como alvo a ex-senadora Marina. No momento, tem material tanto para disputar com Marina como com Aécio, na hipótese improvável de o candidato do PSDB passar para o segundo turno das eleições.
O PT já fala e age como vitorioso. É voz corrente na campanha da reeleição da presidente da República que o ex-presidente Lula pretende ter uma participação mais ativa nos rumos do segundo governo Dilma. Os petistas falam em inverter a equação do primeiro mandato, mais ou menos definidos nos seguintes termos: "A campanha é nossa, o governo é dela". Ou seja, o PT é bom para a campanha e para levantar a candidata, em seus momentos de dificuldade, mas não serviria para governar. Forte ressentimento. Mas é algo que segundo os petistas deve ser feito com muito cuidado, para não estressar e levar Dilma a se fechar em relação a empresários, congressistas e às críticas sobre a condução da política econômica, muitas delas surgidas no arraial do próprio Lula da Silva. E a impressão no PT é que Dilma sai de 2014 mais devedora que em 2010, quando era só um poste.
O apoio do PSDB a Marina, no segundo turno, não é ponto pacífico. A candidata do PSB demora muito a fazer um aceno para Geraldo Alckmin, que deve vencer em São Paulo em aliança com o PSB, quando o próprio vice de sua chapa, Beto Albuquerque, já gravou para os programas de Alckmin e de José Serra para o Senado. Os tucanos também acham que Marina mantém um forte ranço petista.
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