segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Marcus Pestana - Ajuste fiscal, aumento de impostos e desenvolvimento

- O Tempo - MG

O nível de tributação é variável chave em seu processo de desenvolvimento. É inevitável que a sociedade financie as ações do aparelho estatal e as diversas políticas públicas, mas a definição do tamanho do Estado é essencial na determinação do nível de investimentos e eficiência do país. Inicialmente, o Estado moderno tinha funções mínimas ligadas à defesa nacional, à efetividade do aparato legal e à credibilidade da moeda. Com o passar dos tempos, sobretudo no século XX, as funções do Estado foram ampliadas das políticas sociais até ações empresariais, via estatais.

O tamanho do Estado é determinado historicamente, e cada país trilha seu caminho. Há nações onde a sociedade e o mercado são maiores que o Estado, e há casos inversos. Quanto maior o Estado, maior seu patamar de financiamento e a exigência de o governo transferir renda da sociedade para os cofres públicos. O Estado socialmente necessário em cada situação concreta é decisão política da sociedade, que reflete certa disposição de pagar tributos até determinado nível em troca da prestação de serviços públicos com certa qualidade e amplitude. Independentemente do tamanho do Estado e da carga tributária, o equilíbrio fiscal é um fundamento central para o bom desempenho da economia. O gasto superior ao volume de impostos arrecadados implica ampliação da dívida pública.

No Brasil, a economia e a sociedade floresceram à sombra do Estado. Nossa modernização e industrialização nasceram com o patrocínio da forte e visível mão do Estado. Getúlio, JK e Geisel lideraram ciclos de desenvolvimento gerados por forte intervenção estatal. A partir da crise dos anos 90, colocou-se em pauta o tema da reforma do Estado. Hoje, o Brasil vive uma gravíssima crise fiscal. O déficit nominal, neste ano, deve bater quase em 8% do PIB. E a carga tributária chegará a 37% do PIB, uma das maiores entre os países emergentes, sendo um forte obstáculo ao desenvolvimento nacional.

O remédio para a crise fiscal deve vir do corte de despesas, do aumento da produtividade dos recursos e do aumento de receitas via crescimento econômico, não do aumento da carga tributária. Mas essa não é a receita perseguida por Dilma e Pimentel. A presidente ensaia a volta da CPMF e aumentou outros impostos, contribuições e taxas. O governador de Minas propôs e aprovou, na Assembleia, um violento aumento de impostos (energia, telefonia, bebidas, cosméticos etc.). A economia mineira perderá competitividade e o consumidor é que pagará essa conta.

A sociedade brasileira tem demonstrado de forma clara e cristalina que não suporta mais aumento de impostos. Até porque a qualidade dos serviços públicos vem se deteriorando e a corrupção institucionalizada chegou a limites intoleráveis. Por isso, no Congresso Nacional, a CPMF não passará.
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Marcus Pestana é deputado federal (PSDB-MG)

Vinicius Mota - Regra sem exceção

- Folha de S. Paulo

Criticou-se a presidente Dilma Rousseff por ter-se disposto a trocar os titulares de pastas como Saúde e Educação na reforma ministerial da semana passada. Seriam áreas muito importantes para ser loteadas a representantes do baixo clero da Câmara, no caso da primeira, ou para sofrer com mais uma descontinuidade, exemplo do MEC.

Distribuir cargos sob critério político-partidário é um modo de governar disseminado neste mundo. As exceções costumam ser ditaduras.

A melhor vacina contra o estrago que o empossado pode causar na administração é o controle institucional. Em democracias avançadas, políticas públicas cristalizam acordos sociais profundos e atraem vigilância obsessiva. É preciso muita força para mudar o curso do transatlântico.

Aqui nem tanta. Ainda há atalhos pelos quais grupos políticos capturam recursos de pastas como Saúde ou Educação e os põem para trabalhar por seus interesses, à custa do serviço prestado aos usuários.

O PT não é exceção à regra do aparelhamento sectário, ao contrário da impressão deixada pelas lamúrias da "comunidade do SUS" antes da demissão humilhante de Arthur Chioro. As corporações de profissionais de saúde na órbita do petismo tiveram acesso predatório às estruturas de comando da pasta pelo Brasil.

Esse conúbio bloqueou a modernização da gestão em instituições federais de saúde, como hospitais e centros de pesquisa e desenvolvimento.

Desalojados e candidatos a desalojados reclamam da escolha de Marcelo Castro, inexpressivo deputado federal do PMDB do Piauí, para chefiar a Saúde –inexpressivo e "inimpressionável", como ele filosofou.

Mas que estragos Castro poderá fazer na comparação com os que o PT patrocinou? Tirar um pouco de água da fonte do corporativismo e matar a sede de oligarquias regionais?

Para o usuário do SUS, que não recebe serviço compatível com o custo dessa máquina, dá no mesmo.

José de Souza Martins - História que se arrasta

• Prevenção de arrastões lembra métodos da Polícia de Repressão à Vadiagem, ativa após a abolição da escravatura, diz sociólogo

- O Estado de S. Paulo / Aliás

Os arrastões de praia no Rio de Janeiro e os contra-arrastões da polícia para combater essa prática, inspecionando ônibus em que eventualmente viajam jovens procedentes dos bairros e da periferia com destino às praias, explicam-se por uma mesma lógica. A ideologia de praia, no Brasil, é a ideologia da apropriação por alguns de espaço que é de todos. Nas áreas urbanas, de todas as cidades, há uma sub-reptícia classificação social de senso comum que “põe cada um no seu lugar”. A própria palavra “periferia” é aplicada para definir o que está longe do que é propriamente urbano e civilizado.
Essas classificações atingem seus moradores e a eles estendem, injustamente, atributos de inferioridade social, que acabam sendo considerados indícios de inferioridade pessoal. Isso vale também para “morro” e “favela”.

Daí decorre uma cerca invisível que, no caso das praias, as torna subjetivamente inacessíveis a um grande número de pessoas que carregam alguma marca de diferença. Apesar da multidão que a ocupa, na praia há regras que asseguram o reconhecimento da validade dessa concepção: parece um lugar público, mas não o é. A praia é um faz de conta, uma fantasia.

O aparato de coisas que carregam os que vão à praia, aquilo que o sociólogo Erving Goffman define como equipamento de identificação, torna-a culturalmente inacessível aos que não têm o que ostentar. 

De certo modo, esses lugares públicos, ao se tornarem lugares de ostentação, numa sociedade que não é igualitária, dominada pelo discurso da polarização de classes sociais e da injustiça histórica que a fundamenta, acabam sendo usados como lugares de refúgio, mais do que lugares de liberdade. Os arrastantes, por sua vez, procedem do confinamento decorrente e residual daqueles para os quais os lugares de ostentação se tornaram interditados, lugares de suspeição e rejeição. O arrastão é uma forma comunitária e autodefensiva de reagir ao confinamento de classe social, no bloqueio do acesso aos lugares simbolicamente proibidos a quem não pode exibir os signos de pertencimento.

O fato de que os participantes dessas demonstrações coletivas de força sejam adolescentes oriundos dos bairros e da periferia do Rio de Janeiro não significa necessariamente que o façam para apenas roubar. O “arrastão ostentação”, como é chamado nas redes sociais das localidades de origem dos participantes desses atos, indica um exibicionismo juvenil que tem outra motivação. 

Independentemente das diferenças sociais que se escondem por trás das ocorrências, nessas exibições os arrastantes completam em casa e no bairro o ato iniciado na praia: quanto mais colares de ouro, celulares e outros objetos de desejo cada um exibir na rede, maior o seu triunfo. Esse é o modo de construírem sua própria fantasia de praia.

As praias das áreas afluentes dessas ações são encaradas pelos participantes como um jardim zoológico, território de caça ao tesouro, lugar de exibição da valentia e da coragem de que os jovens, do sexo masculino, precisam para se mostrarem adultos para si mesmos e para sua gangue. O medo das vítimas, que é hoje um componente da cultura da classe média, dá a esses jovens o ânimo para o exercício do poder e do prazer que podem sentir diante de um adulto de outra classe social, indefeso e aterrorizado. 

Os arrastões têm a função de um rito de passagem da adolescência para a maturidade, ainda que pela via errada. O problema não está no rito, mas na forma que assume, por falta de vias integrativas de passagem de uma faixa de idade a outra. A sociedade protege-se contra desvios sociais optando pela exclusão do outro. Entrega à polícia a tarefa de reprimir para protegê-la na omissão que considera um direito. Coisa de sociedade que teve escravidão, em que o capitão do mato enquadrava os insubmissos.

Consciência coletiva. A polícia, na equivocada política de uma abordagem preventiva que é repressivamente cerceadora do direito de ir e vir, acaba confirmando a discriminação e coadjuvando o confinamento exibicionista dos que podem e ocupam as praias. Ao fazê-lo legitima as desigualdades sociais. Age como defensora dos valores da sociedade estamental que subsistem na consciência coletiva, a sociedade da estratificação social rígida que precedeu a relativamente flexível sociedade de classes, a sociedade moderna. É evidente que a igualdade jurídica dos banhistas e frequentadores de praia não fica assegurada por ações que apenas reforçam a concepção de que a praia é um lugar reservado aos que podem ostentar.

É o que torna mais grave essas ações se considerarmos que a polícia do Rio usou como critério abordar menores que estivessem sem documentos, descalços, que não tivessem pagado a passagem. A única arma de que dispõe na prevenção dos arrastões, que sem dúvida são crime, é a do estereótipo e do preconceito. Os mesmos instrumentos da velha Polícia de Repressão à Vadiagem, que foi ativa após a abolição da escravatura para enquadrar na disciplina do trabalho compulsório ex-escravos e imigrantes.
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JOSÉ DE SOUZA MARTINS É SOCIÓLOGO, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS. ESCREVEU, ENTRE OUTROS LIVROS, UMA SOCIOLOGIA DA VIDA COTIDIANA (CONTEXTO)

Denis Lerrer Rosenfield - Reforma e crise

- O Globo

Engana-se quem pensa que a reforma ministerial terá o misterioso condão de levar o Congresso Nacional à aprovação da CPMF ou a evitar o processo de impeachment. Seria nada mais do que a ilusão da aparência. O processo de impeachment pode ser eventualmente um pouco postergado, tudo dependendo de fatores que escapam completamente do controle da presidência. Em todo caso, a jogada da presidente foi de alto risco, pois terminou criando problemas no PMDB, sob a suposição de que estaria contentando suas diferentes alas.

Em todos esses anos petistas, o PMDB, apesar de seus problemas, tem sido um poderoso fator de estabilidade institucional e de moderação política, impedindo excessos político-sociais e advogando pela unidade do país. E se adotou esse rumo, isto em muito se deve à atuação de seu presidente, Michel Temer, também vice-presidente da República. Note-se que, sob a sua liderança, o partido conseguiu conciliar suas desavenças internas, mantendo-as sob controle. Publicamente, o partido sempre tem aparecido unido, procurando resolver seus problemas internamente. Foi, neste sentido, particularmente bem-sucedido, ganhando credibilidade e legitimidade.

Ora, o que fez a presidente da República? Resolveu implodir essa união, como se ela devesse dar agora as cartas. Passou literalmente por cima do presidente do partido e decidiu estabelecer uma negociação direta com o deputado Leonardo Picciani, representante do baixo clero, em particular carioca. O recado dado foi o de que o deputado não mais deveria passar pelo seu presidente partidário e vice-presidente da República, passando a falar diretamente com ela. A presidente decidiu por seu vice de lado, apesar de declarações públicas de apreço. Alienou um aliado decisivo!

Ficou, agora, refém desta ala particularmente fisiológica do PMDB, não tendo mais nenhum escudo. Será obrigada a fazer a política miúda, aquela que diz desprezar. E o fará sem nenhum anteparo. De imediato, teve de engolir suas indicações para o Ministério, entre elas a da Saúde. Observe-se que o partido teria nomes qualificados para essa pasta, como os dos deputados Osmar Terra e Tarcísio Perondi, ambos médicos, entre outros. Evidentemente que a escolha não poderia, dadas as condições existentes, recair sobre eles.

De imediato, fruto desta desunião provocada pela presidente, 22 deputados de uma bancada de 66 do PMDB lançaram um manifesto contra essas “negociações” e se colocaram na oposição. Um terço da bancada já se afastou desta nova configuração partidária, sem falar dos que não se expressaram publicamente e, contudo, apenas aguardam o melhor momento para saltarem de um barco que está afundando.

As denúncias de que o deputado Eduardo Cunha possui contas na Suíça só tendem a piorar a situação da presidente da República. E isto por que o deputado está convencido de que se trata de uma grande orquestração organizada pela presidente e pelo PT. Independentemente de sua culpa ou não, a seu favor joga a celeridade do processo contra ele, que não ganha a mesma velocidade quando se trata de outros políticos petistas importantes envolvidos na Lava-Jato. Ferido desta maneira, ele tende a centrar fogo na presidente e em seu partido, pondo ainda mais combustão a um processo de impeachment. Se cair, fará tudo para levar a presidente e o seu partido consigo. O ambiente, neste sentido, piora não apenas para ele, mas também para os seus adversários.

No cronograma da crise, será votado muito provavelmente entre os dias 7 e 9 o parecer do ministro Nardes relativo às contas da presidente. Tudo indica que a decisão do TCU será pela sua rejeição. Os dados técnicos seriam maciços, inquestionáveis. As mais de mil páginas da AGU, em defesa do governo, não teriam produzido nenhum argumento convincente. Uma vez votado, será encaminhado ao Congresso, que pode acatá-lo ou não. Se acatar, estará aberto um processo de crime por responsabilidade administrativa. Contudo, do ponto de vista político, a não aprovação das contas pelo TCU já é da maior relevância. O cenário estaria armado para o início do processo de impeachment.

Outro fator da maior importância, em conexão com a decisão do TCU, reside no pedido de impeachment apresentado por Hélio Bicudo e Miguel Reale Junior, que estaria muito bem embasado. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, se não mudar de opinião até lá, indeferirá o pedido. Um recurso seria interposto por deputados. Uma vez aceito, bastaria, para o início do processo de impeachment, que ele fosse aprovado pela maioria simples dos deputados presentes no plenário, algo que não seria difícil de ser conseguido. Não é necessária uma maioria simples absoluta em cujo cômputo entraria o total dos deputados da Câmara.

O fator decisivo aqui seria o comparecimento dos cidadãos deste país às ruas. Se grandes manifestações forem realizadas, a pressão popular seria enorme, podendo, mesmo, tornar-se insuportável para a presidente e o seu partido. Atos parlamentares seriam acompanhados por manifestações de rua, criando uma consonância e sintonia entre o Congresso e a sociedade. Um cenário completamente diferente então se desenharia, com novos protagonistas entrando na cena pública. Alianças de bastidores como a tecida pela presidente desmoronariam imediatamente. Cada deputado estaria preocupado somente com a sua própria sobrevivência. Entre os seus eleitores e uma frágil aliança, a decisão já estaria tomada de antemão.

Talvez aqui possa ocorrer um cenário que obrigue a presidente a renunciar. Collor também disse que não renunciaria, porém se viu forçado a isto, uma vez que a lógica política ganhou corpo próprio, fugindo de seu controle. E isto apesar de uma reforma ministerial que era, em muito, superior a esta que está sendo feita pela presidente. Até o presidente Lula encontraria o seu limite, preocupando-se exclusivamente com sua própria sobrevivência e criando condições para candidatar-se em 2018. A presidente pode tornar-se um estorvo para os seus planos.
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Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Paulo Guedes - A Velha Política

• O fisiologismo do Legislativo e a cumplicidade do Judiciário, essência da Velha Política, seriam a ‘sarneyzação’ do segundo mandato de Dilma

- O Globo

O governo recupera o fôlego com cargos e verbas para o PMDB e o fatiamento das investigações do Petrolão. As práticas fisiológicas no Legislativo e as manobras de abafamento das investigações e de influência sobre os julgamentos no Judiciário são a essência da Velha Política. As sugestões de Sarney a Lula para escapar do mensalão foram repassadas e finalmente ensaiadas por Dilma Rousseff. A cooptação parlamentar e a perspectiva de ajuste fiscal compram tempo e acalmam os mercados.

A má notícia para o governo é que o fôlego de suas manobras pode se revelar curto. Pois têm dimensões oceânicas os vagalhões da crise atual. As irresponsáveis pedaladas fiscais vão a julgamento pelo Tribunal de Contas da União. As suspeitas de irregularidade no financiamento da campanha presidencial serão avaliadas pelo Tribunal Superior Eleitoral. Os pedidos de impeachment serão celeremente encaminhados pelo presidente da Câmara dos Deputados, indignado com as acusações de malfeitos milionários, cuja coordenação e vazamento são por ele atribuídos aos responsáveis por malfeitos bilionários.

O principal obstáculo às táticas anacrônicas e desmoralizantes do governo é a dinâmica de comunicações de uma sociedade aberta em evolução. Pois o fisiologismo dos parlamentares e a cumplicidade do Judiciário são apostas contra o inevitável aperfeiçoamento de nossas instituições. Ignoram a voz das ruas. A opinião pública já tem a desconcertante percepção de que o establishment trabalha de fato pela impunidade. Quando Dias Toffoli, em defesa do fatiamento no Supremo Tribunal Federal, perguntou se existia apenas um juiz no Brasil, deveria perceber que o entusiasmo da opinião pública pelo desempenho de Sérgio Moro sugere atordoante resposta: “Competentes e probos como ele, poucos.” Afinal de contas, são décadas de escândalos, roubalheiras e impunidade.

Lula quer ainda mais de Dilma. Abafar as investigações e abraçar o PMDB para evitar o impeachment e aprovar o ajuste fiscal seriam apenas uma estratégia de sobrevivência política acompanhada de um “feijão com arroz” na economia. Uma “sarneyzação” do segundo mandato de Dilma, que apenas evitaria o destino de Collor, mas não a tragédia eleitoral que devastaria o PT e inviabilizaria o retorno de Lula em 2018.

Pelo fim do doping eleitoral – Editorial / O Estado de S. Paulo

O debate sobre o financiamento eleitoral está contaminado pela presunção de que todos os partidos e políticos são corruptos por definição, cabendo ao Estado agir para que esse suposto caráter inato não se manifeste. Segundo esse argumento, o veto às doações de empresas para as campanhas, decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), vai estimular a formação de caixa dois, isto é, o financiamento à margem dos controles públicos.

Ora, é preciso ficar claro que os partidos e os políticos já captavam esses “recursos não contabilizados” quando era legal receber dinheiro de empreiteiras, bancos e grandes companhias privadas. O mensalão e o petrolão estão aí como a maior prova disso. Ou seja, políticos corruptos serão sempre corruptos até que suas trajetórias públicas sejam interrompidas e seus crimes sejam punidos com os rigores da lei.

O problema das doações de pessoas jurídicas pode até ser de natureza moral, como querem fazer crer os que enxergam as traficâncias entre empresas e partidos como próprias do mundo político. Antes de tudo, porém, trata-se basicamente de uma questão política, pois essas contribuições, que fazem dos eleitos potenciais comissários das empresas no Executivo e no Legislativo, ferem o princípio democrático segundo o qual todos os eleitores são iguais. Foi isso o que concluiu o STF, que também salientou o desequilíbrio causado pelo poder econômico sobre as eleições.

Uma vez declarada a ilicitude das relações promíscuas das empresas com o poder público e com os partidos políticos, ao contrário do que se diz, certamente diminuirá o fluxo de dinheiro clandestino. Esse efeito já é obtido pela Operação Lava Jato, cujos procuradores defendem que se mude a lei para criar a responsabilidade objetiva dos partidos por caixa dois e por lavagem de dinheiro de campanha.

Hoje em dia, é raro a empresa que aceite os riscos de manter caixa dois para financiar negócios obscuros ou para sonegar. Certamente não ampliarão esses riscos para alimentar, com dinheiro desviado da contabilidade legal, o caixa dois de partidos políticos. Os empresários já pensam duas vezes antes de fazer contribuições eleitorais mesmo como pessoas físicas, abalados que estão com a visão dos mais poderosos empreiteiros do País atrás das grades, enrascados depois de pagarem propinas disfarçadas de doações eleitorais aparentemente legais. Já não se animam a financiar palanques.

Dessa forma, a decisão do STF - que derrubou inclusive a possibilidade de que empresas possam doar a partidos mesmo em anos não eleitorais - enquadra-se num esforço saneador cujo efeito imediato será obrigar as legendas e seus candidatos a buscar recursos legais, que obviamente serão muito mais escassos que os ilegais. Não será fácil. Como lembrou recente reportagem do Estado, dois terços de todo o dinheiro que entrou nos cofres do PT, do PMDB e do PSDB entre 2010 e 2014 vieram de contribuições de empresas.

Esse novo cenário levou os críticos da decisão do STF a argumentar também que, agora, somente os candidatos mais conhecidos - como os atores, os palhaços e os apresentadores de TV - terão visibilidade eleitoral, inviabilizando a construção de candidaturas de gente comum. Mais uma vez, trata-se de uma falácia: desde sempre, figuras notórias puxam votos, sem que isso represente prejuízo irremediável para a democracia ou impeça a renovação da representação popular.

O grande prejuízo se dá quando os partidos se viciam em dinheiro farto, transformando as campanhas eleitorais em espetáculos dirigidos por marqueteiros que hoje são, na prática, os responsáveis por formular o programa dos candidatos. Assim, não será surpresa se, para substituir a fartura das “doações” empresariais, os partidos pleitearem ainda mais dinheiro do Fundo Partidário e a ampliação da propaganda eleitoral dita “gratuita”, que de gratuita não tem nada, pois é financiada por meio de renúncia fiscal. Em ambos os casos, o contribuinte banca as despesas de partidos com os quais não tem necessariamente alguma afinidade. É um óbvio disparate. Para que a política volte a ter a substância que uma democracia madura exige, é preciso acabar de uma vez por todas com esse doping eleitoral.

A cruz do PT – Editorial / O Estado de S. Paulo

O ex-ministro Gilberto Carvalho encontrou uma maneira, digamos, teológica para explicar por que o PT, um partido que se dizia diferente dos outros por ser ético e honesto, sucumbiu à mais grossa corrupção desde que chegou ao poder, numa escala inédita na história brasileira. Na exegese de Carvalho, talvez inspirado pelos sermões que ouviu quando foi seminarista, o PT pecou, embora com a melhor das intenções, e agora tem de “sofrer” para que a política nacional se redima.

“Temos a nossa cota de responsabilidade”, disse Carvalho, um dos principais ideólogos do PT, em entrevista à TV Brasil, reconhecendo que, por ter se envolvido em escândalos, o partido enfrenta a crescente hostilidade da opinião pública. “É duro ser apontado na rua, chamado de bandido, ter companheiros presos”, lamentou o ex-ministro de Lula.

No entanto, segundo o raciocínio de Carvalho, o sofrimento do PT terá valido a pena se as ações da polícia e da Justiça contra os corruptos desmontarem “um processo oligopólico que sempre existiu no Brasil” e reduzirem a corrupção que tomou a estrutura do Estado. Carvalho julga, assim, que o PT tem uma cruz a carregar, em nome da redenção nacional: “Se o preço que nós estivermos pagando for o preço necessário para se extirpar a corrupção no País, não tem problema. Nós vamos pagar esse preço”.

Carvalho explica o calvário petista como uma consequência da boa alma do partido. Segundo ele, o PT queria deflagrar um “processo virtuoso”, nome que ele deu à implementação da desastrosa política estatista que tinha a pretensão de acabar com a pobreza do País por decreto. Mas para Lula chegar “lá”, como dizia o jingle da campanha presidencial de 1989, foi preciso seguir “o exemplo da prática política dos partidos tradicionais que mais condenávamos”, afirmou Carvalho. “Não fosse a contratação do (marqueteiro) Duda Mendonça em 2002 a peso de ouro, provavelmente não teríamos ganhado as eleições e não teríamos feito tudo isso o que nós fizemos”, disse o ex-ministro em sua “autocrítica”. Mas não há arrependimento: “Postos os fatos na balança, acho que nós fizemos o caminho necessário para chegar ao governo, dentro de uma regra do jogo que estava estabelecida”.

Essa “regra do jogo”, explicou Carvalho, é aquela segundo a qual não se faz campanha eleitoral sem o dinheiro de empreiteiras e outros grandes grupos empresariais. O PT, então, teria despido as vestes de partido casto porque somente assim seria possível chegar ao poder e, então, realizar a missão salvadora para a qual se julgava (e ainda se julga) destinado. “Se você não mudar essa regra do jogo, nunca haverá partidos virtuosos”, disse o ex-ministro, considerando que não é possível fazer política sem sujar as mãos.

É claro que o PT, embora tenha aderido à corrupção, só o fez porque precisava mudar o País, segundo a lógica de Carvalho. Mas, uma vez no poder, disse o ex-ministro, o PT cometeu um “grande erro” ao não aproveitar a “correlação de forças favorável” para encaminhar uma reforma política “com muito vigor”, depois de “ter sofrido das dores do mensalão” e de perceber “que esse câncer da corrupção começava a se espalhar dentro do partido”. E Carvalho explica por que o PT não fez isso: “Talvez porque nós estávamos tão envolvidos em todo o processo de fazer a mudança do País, envolvidos na questão toda da obra de governo, que não nos demos conta”. Simples assim.

Mas a “autocrítica” dos petistas, como de hábito, é apenas um truque retórico para atacar os inimigos de sempre. Carvalho argumenta que as denúncias de corrupção contra o PT nada mais são do que o “mote que a elite usou, com todo o exército da mídia”, para impedir as reformas que o partido desejava promover. “O nosso erro foi dar a eles esse mote”, disse Carvalho. “Esse pessoal todo que nos acusa não tem moral, porque o nosso grande erro foi o de imitá-los.” Ou seja, para o PT, o problema não é ter se corrompido, mas sim ter dado oportunidade para que a “elite” o atacasse. É Barrabás querendo se passar por Cristo.

Roberta Sá - A flor e o espinho

Fernando Pessoa - Vendaval

Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,
Não achas, soprando por tanta solidão,
Deserto, penhasco, coval mais vazio
Que o meu coração!

Indômita praia, que a raiva do oceano
Faz louco lugar, caverna sem fim,
Não são tão deixados do alegre e do humano
Como a alma que há em mim

Mas dura planície, praia atra em fereza,
Só têm a tristeza que a gente lhes vê
E nisto que em mim é vácuo e tristeza
É o visto o que vê.

Ah, mágoa de ter consciência da vida!
Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,
Que rasgas os robles — teu pulso divida
Minh'alma do mundo!

Ah, se, como levas as folhas e a areia,
A alma que tenho pudesses levar –
Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia
De eu ter que pensar!

Abismo da noite, da chuva, do vento,
Mar torvo do caos que parece volver –
Porque é que não entras no meu pensamento
Para ele morrer?

Horror de ser sempre com vida a consciência!
Horror de sentir a alma sempre a pensar!
Arranca-me, é vento; do chão da existência,
De ser um lugar!

E, pela alta noite que fazes mais'scura,
Pelo caos furioso que crias no mundo,
Dissolve em areia esta minha amargura,
Meu tédio profundo.

E contra as vidraças dos que há que têm lares,
Telhados daqueles que têm razão,
Atira, já pária desfeito dos ares,
O meu coração!

Meu coração triste, meu coração ermo,
Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada

domingo, 4 de outubro de 2015

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Talvez um anjo perverso aconselhe à presidente: entregue logo sua alma ao diabo, entre mais fundo no "toma lá dá cá" e salve seu mandato. Pode até conseguir, mas valerá a pena? E acaso isso modifica a dança do País à beira do abismo?
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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo e ex-presidente da República. ‘Os reis também morrem’. - O Globo, 4 de outubro de 2015

PMDB comandará orçamento maior do que os petistas na nova Esplanada

• Ministérios que a partir de agora estarão nas mãos dos peemedebistas têm alto poder político e econômico

Alberto Bombig, Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

A reforma ministerial deu fôlego à presidente Dilma Rousseff, mas ela virou refém do PMDB e seus auxiliares temem que o partido cobre faturas cada vez mais altas para emprestar apoio ao Palácio do Planalto, se a crise não arrefecer. O PT nunca esteve tão enfraquecido na correlação de forças com os partidos da coalizão governista desde que chegou ao Planalto, mostra levantamento feito pelo Estado. No novo arranjo da Esplanada, o PMDB tem previsão de administrar ao menos R$ 99 bilhões do Orçamento para 2016, ante R$ 75, 5 bilhões programados para as pastas petistas.

O levantamento também deixa claro que, ao longo dos mandatos, a era petista vem sendo corroída pelo arranjo de forças para dar sustentação ao projeto do partido, alvo de denúncias de corrupção e sob constante ataque dos adversários. Se em 2003, início da primeira gestão Lula, o partido tinha 19 dos 35 ministérios (54% do total de pastas), agora os petistas estarão à frente apenas de 9 das 31 pastas (29% do total).

Principal parceiro do PT, o PMDB entrou no governo com apenas dois ministérios, em 2004: Comunicações e Previdência. Em 2007, no início da segunda gestão Lula, o partido sobe de status e leva a Saúde, a Integração Nacional e a Agricultura. Agora, com Dilma sob ameaça de impeachment e em momento de crise econômica, comandará sete pastas, todas de alto peso político e grande poder orçamentário: Saúde, Minas e Energia, Agricultura, Ciência e Tecnologia, Turismo, Secretaria da Aviação Civil e Secretaria de Portos, que, juntas, têm quase R$ 100 bilhões previstos para o Orçamento de 2016.

Os números ajudam a ilustrar a preocupação de auxiliares da presidente em relação aos aliados. Avaliam que o PMDB pode até ser confiável para que o Planalto possa derrubar a chamada pauta-bomba no Congresso e aprovar a nova fase do ajuste fiscal, que prevê a volta da CPMF (o imposto do cheque) e de outros tributos. Mas os petistas receiam que, superados esses obstáculos, o aliado não se comprometa a evitar o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Os mais céticos avaliam ainda que o PMDB planeja, na verdade, limpar a pauta-bomba e resolver o déficit no Orçamento justamente para ficar em condições ainda melhores de governar o País sem Dilma e o PT.

Para os petistas, uma sinalização nesse sentido ocorreu na noite da quarta-feira passada, quando o vice-presidente Michel Temer, que preside o PMDB, participou de um jantar oferecido pelo líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE). Em diversos momentos ao longo da festa, Temer foi tratado como “futuro presidente”.

Naquela altura, a reforma ministerial já estava praticamente definida e a ampliação do espaço do PMDB sacramentada. Ainda, o tema principal do jantar foi a possibilidade de impedimento de Dilma. O anfitrião do jantar não admite em público a possibilidade de a reforma ministerial fracassar e não ser suficiente para manter Dilma no Palácio do Planalto, porém, reservadamente, “não aposta R$ 10 no governo”, afirma um de seus interlocutores.

Aritmética. Ao ampliar as cadeiras do PMDB na Esplanada, e não desalojar outros aliados, a presidente tem agora, em tese, número suficiente de votos para se manter no poder. Para barrar um pedido de impeachment, ela precisa de ao menos 172 dos 513 deputados. Na contabilidade do governo, Dilma já conta com 200.

Um dirigente do PMDB disse ao Estado que, com as mudanças no coração do governo, a presidente colherá frutos na política porque os novos ministros “sabem usar o bambolê”. Era uma referência à peça cor de rosa que Henrique Eduardo Alves, então líder do PMDB na Câmara e hoje ministro do Turismo, deu a Dilma em 2008, quando ela chefiava a Casa Civil. “A gente achava que ela era muito dura, muito técnica, e precisava de jogo de cintura”, comentou Alves.

A maior preocupação do Planalto, hoje, é com o Tribunal de Contas da União. Na sexta-feira, o ministro Augusto Nardes, relator do processo sobre as contas de Dilma, distribuiu seu voto recomendando a rejeição do balanço do ano passado. O julgamento pelo plenário da corte ocorrerá na próxima quarta e o Planalto já prevê a reprovação, que pode abrir caminho para a Câmara instalar processo de impeachment.

Se a base aliada votar unida, porém, Dilma deve se salvar. Além disso, o governo conta com a fragilidade do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – após a informação de procuradores da Suíça de que ele tem ao menos quatro contas secretas naquele País –, para enfraquecer o movimento da oposição e de dissidentes aliados pela saída de Dilma.

Cunha quer que o PMDB desembarque do governo e vai levar essa proposta ao congresso da legenda, marcado para novembro. Hoje, ele perderia. O partido ainda tem, no entanto, uma convenção em março de 2016, que pode servir como nova ameaça.

Crise obriga empresas a vender R$ 150 bi em ativos

• Estatais e grupos privados se desfazem de negócios pouco lucrativos

Companhias tentam driblar recessão e dólar alto. Empreiteiras sofrem também com Lava-Jato

A crise econômica levou as principais empresas brasileiras a realizarem uma verdadeira liquidação de ativos. Entre negócios recentemente vendidos e outros que ainda buscam comprador, companhias de diferentes setores estão se desfazendo este ano de R$ 150 bilhões. A lista inclui desde participações em aeroportos até fábricas de alimentos e uma mina de carvão. A situação é mais grave nas empreiteiras por causa da Lava-Jato. “Para algumas empresas, era vender ativos ou quebrar”, diz Ricardo Carvalho, diretor da Fitch Ratings. O dólar alto tornou o preço dos ativos em reais mais baixo e pode facilitar a venda, afirmam analistas.

Um saldão de R$ 150 bilhões

• Recessão, alta do dólar e Lava-Jato levam empresas pública e privadas a vender ativos

Bruno Rosa, Danielle Nogueira, Danilo Fariello, Geralda Doca, João Sorima Neto e Ana Paula Machado - O Globo

RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO - Afetadas pela crise econômica, preocupadas em aumentar a geração de caixa ou em se adaptar à nova realidade do mercado — focando em segmentos mais estratégicos e lucrativos —, empresas públicas e privadas estão promovendo um verdadeiro saldão de ativos. Levantamento feito pelo GLOBO em diferentes setores aponta que as companhias estão tentando se desfazer de ao menos R$ 149,6 bilhões. Para se ter uma ideia do tamanho desta operação, a cifra equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia no ano passado. É comparável ainda ao orçamento de seis usinas Belo Monte. Ou ainda: o montante é pouco superior ao impacto causado pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, na economia brasileira em 2015, segundo cálculos da GO Associados (R$ 140 bilhões).

Na lista de empresas, estão Petrobras, Vale, Eletrobras e Infraero. As construtoras, afetadas pela Operação Lava-Jato, também entraram em temporada de liquidação, que inclui a venda de participações em diversas concessões. Analistas destacam que, apesar da instabilidade econômica, a forte alta do dólar — muito próximo dos R$ 4 — contribui para atrair investidores estrangeiros.

— O Brasil está barato. Houve desvalorização de 60% a 70% no valor dos ativos nos últimos 12 meses por causa da alta do dólar. E a liquidez internacional é gigantesca — diz Fabio Silveira, diretor de pesquisa da GO Associados.

Ele avalia que a crise econômica pode durar até três anos e que a turbulência política, apesar de criar instabilidade institucional, é menor que os problemas políticos e sociais de outros emergentes, como os países do Leste Europeu e do Oriente Médio.

Governo pode levantar R$ 10 bi com aeroportos
Mas há desafios. Especialistas citam o caso da Petrobras, que vem sentindo os efeitos da crise econômica e da Operação Lava-Jato. Em meio ao maior escândalo de sua história, a estatal foi obrigada a cortar investimentos e vender ativos para reduzir seu nível de endividamento, que deve ter chegado a R$ 500 bilhões no fim de setembro, agravado pela alta do dólar e pela queda do preço do petróleo. Sua meta é se desfazer de US$ 15,1 bilhões (R$ 59,6 bilhões) até o fim do ano que vem.

— A companhia precisa vender ativos, mas ainda não conseguiu bom resultado. Até a abertura de capital da BR Distribuidora foi adiada — diz Eduardo Roche, sócio-gestor da Canepa Asset Brasil.

Com o fim do superciclo das commodities, principalmente devido à desaceleração da China, a Vale apertou o passo de seu programa de venda de ativos. Para este ano, a expectativa da mineradora é levantar de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões (até R$ 27,6 bilhões) com desinvestimentos e parcerias. No rol dos ativos que foram para a prateleira estão participações no corredor logístico de Nacala e uma mina de carvão, ambos em Moçambique.

A Vale frisa que a reorganização de portfólio foi iniciada em 2011, quando passou a focar em “ativos de classe mundial, com baixo custo, vida longa e potencial de expansão”. O objetivo é fazer caixa para tocar projetos essenciais, como o S11D (expansão do Complexo de Carajás, no Pará), o maior da história da companhia, orçado em US$ 16 bilhões.

A CSN é outra que está à caça de compradores. São dois os ativos oficialmente à venda: o terminal de contêineres de Sepetiba (Rio de Janeiro), avaliado em cerca de R$ 1 bilhão, segundo fontes de mercado, e a fatia da empresa na Usiminas. Mas não está descartada a venda de ações que a siderúrgica detém na MRS e as subsidiárias de embalagem.

Em recente relatório, a agência de classificação de risco Fitch avaliou que a empresa precisa vender R$ 4 bilhões nos próximos dois anos para reduzir seu endividamento. A dívida líquida da companhia no fim do segundo trimestre estava em R$ 20,7 bilhões. A CSN não comenta.

A empresa estava correndo contra o tempo para negociar com potenciais compradores, mas conseguiu fôlego mês passado, ao alongar cerca de R$ 5 bilhões de sua dívida de curto prazo. O cenário não ajuda. Além da sobreoferta mundial de aço, a demanda por produtos siderúrgicos vem caindo no Brasil, com a desaceleração econômica.

Marco Aurélio Barbosa, estrategista da CM Capital Markets, que acompanha 180 companhias de capital aberto no país, lembra que a venda de ativos é uma saída extrema para evitar a quebra:

— Antes, ela pode reduzir investimentos, enxugar custos, demitindo pessoas ou revendo contratos, por exemplo. Mas, quando há um descasamento enorme entre a geração de caixa e os custos para se manter, a saída é vender. O problema é que o comprador acaba oferecendo valor muito depreciado e, com a economia em retração, isso se potencializa.

No setor aéreo, o governo planeja vender os 49% de participação da Infraero nos aeroportos já concedidos à iniciativa privada — Brasília, São Paulo (Guarulhos e Viracopos), Galeão (no Rio) e Confins (Belo Horizonte). Segundo estimativas da equipe econômica, a meta é faturar ao menos R$ 10 bilhões. Na nova rodada de concessão, prevista para 2016, os aeroportos de Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre deverão ser integralmente entregues ao setor privado.

— Haverá demanda dos estrangeiros. Os ativos estão baratos e a instabilidade econômica e política também pesa, o que pode deixá-los mais em conta — diz o advogado Roberto Nasser.

Nas montadoras, saída é cortar vagas
Entre as empreiteiras, a Lava-Jato colocou sob os holofotes pesos-pesados como OAS, Odebrecht, Galvão Engenharia e UTC. Endividadas, com contratos cancelados e sem crédito, ao menos cinco empresas, com dívidas que somam R$ 15 bilhões, pediram recuperação judicial. E vão vender ativos para tentar quitar dívidas. Caso da OAS, que colocou à venda sua fatia de 22,44% na Invepar, empresa que tem participação no aeroporto de Guarulhos, Metrô Rio, entre outros. A empreiteira espera arrecadar R$ 2,2 bilhões com a venda. Já a UTC está vendendo os 23% que detém no aeroporto de Viracopos. O valor estimado é de R$ 450 milhões. Procuradas, as empresas não comentam.

— Para algumas empresas era vender ativos ou quebrar — afirma Ricardo Carvalho, diretor da Fitch Ratings.

Há exemplos até no setor de carnes processadas. Em junho, a Marfrig vendeu para a JBS por US$ 1,5 bilhão (R$ 4,5 bilhões ao câmbio da época, R$ 3,10) a marca de alimentos Moy Park, com base na Irlanda do Norte. A empresa ganhou fôlego para reduzir o endividamento, de R$ 10 bilhões, sendo 92% em moeda estrangeira, segundo o analista Felipe Martins, da Coinvalores. A BRF se desfez de ativos não prioritários — concluiu a venda da unidade de lácteos em julho para a francesa Lactalis — para se concentrar em bovinos e suínos e produtos processados. A unidade de lácteos representava 10% da receita líquida, justifica a empresa.

Na indústria automobilística, a opção foi recorrer a suspensões temporárias do contrato de trabalho ( lay off), férias coletivas, licenças remuneradas, adoção do Programa de Proteção ao Emprego (PPE) e demissões. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), até agosto foram fechadas quase 10 mil vagas. No centro das turbulências que atravessam o setor elétrico e com negócios sob investigação na Operação Lava-Jato, a Eletrobras vai encolher e concentrar suas atividades em setores onde o governo considera a presença estatal estratégica: as grandes hidrelétricas e linhas de transmissão. Na quarta-feira, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, recebeu da consultoria Roland Berger levantamento dos ativos que poderiam ser colocados à venda. Participações da Eletrobras e suas subsidiárias estão no radar.

— Estamos trabalhando em um projeto de reestruturação e em uma nova estratégia da holding, bem como a de cada uma das coligadas e das distribuidoras. Temos 154 Sociedades de Propósito Específico embaixo da Eletrobras. A nossa meta é fazer um grande enxugamento nisso, mas temos de avaliar cada uma delas. Isso está sendo feito — disse o ministro ao GLOBO.

Celg: valor estimado de R$ 8 bi
Além dessas participações, a Eletrobras planeja se desfazer das distribuidoras de energia nos estados, ou pelo menos de parte desses ativos. A primeira a ser vendida é a Celg, de Goiás, onde a estatal tem 51% de participação. A companhia tem valor de mercado estimado em R$ 8 bilhões. Outras seis distribuidoras poderão ser vendidas, ou pelo menos parte dos ativos: Cepisa, do Piauí; Ceal, de Alagoas; Eletrobras Amazonas; Ceron, de Rondônia; Eletroacre, do Acre; e Bovesa, de Roraima. Também estão na lista a CEA, do Amapá; e a CERR, de Roraima, onde a Eletrobras tem apenas participação.

— O Brasil está à venda. O grande problema dessas distribuidoras é má gestão da Eletrobras, que sofre com indicações políticas. Mas são empresas interessantes com um grande mercado e que vão dar retorno a seus investidores. A Equatorial, por exemplo, comprou a distribuidora do Maranhão e a do Pará, e as empresas já são lucrativas. O mesmo vai ocorrer com a Energisa, que comprou o Grupo Rede, que estava sob intervenção, e agora já se fala até em dividendos — diz Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), do Instituto de Economia da UFRJ.

A estratégia do governo é começar a se desfazer dos ativos da Eletrobras menores, como usinas eólicas, pequenas hidrelétricas e linhas de transmissão curtas. Isso porque são considerados ativos mais líquidos e com demanda garantida, conforme revelaram leilões recentes, segundo uma fonte do governo.

Na quarta-feira, o ministro Eduardo Braga recebeu o presidente do conselho da Eletrobras e atual diretor de Infraestrutura do BNDES, Wagner Bittencourt, para tratar da venda da Celg e debater o relatório da Roland Berger. Segundo Braga, o governo ainda espera procedimentos do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para vender a distribuidora goiana.

Apetite chinês
Mais do que arrecadar recursos para a União, a venda de ativos do setor elétrico visa a reduzir o endividamento da Eletrobras e fortalecê-la financeiramente nas áreas em que o governo considera fundamental a presença forte da estatal. Essa seria uma alternativa para resolver os problemas de caixa dentro da própria empresa, uma vez que o acesso a financiamentos ficou mais restrito, disse uma fonte.

Segundo especialistas, as distribuidoras vão atrair interesse dos investidores estrangeiros, sobretudo, os chineses.

— Os grandes concorrentes serão os chineses até por causa do dólar — lembra Nivalde, explicando que os grupos nacionais estão sem caixa para investir nesses projetos.

Procurada para comentar suas projeções de investimentos e vendas de ativos, a Eletrobras limitou-se a enviar fato relevante sobre o Plano de Negócios 2015 a 2019, aprovado em 31 de julho, e informou que “qualquer comentário adicional será feito em comunicado ao mercado quando necessário”.

Governo se arma para conter ação de Cunha pelo impeachment

• Dilma pede a ministros que se preparem para reagir ao presidente da Câmara

Governo teme ação de Cunha para viabilizar impeachment

• Dilma pede a ministros que se preparem para reagir ao presidente da Câmara

• Planalto avalia que deputado pode tentar deflagrar processo, mesmo depois de ser alvejado pela Lava Jato

Natuza Nery, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Horas depois de concluir a reforma de seu ministério, que abriu espaço para o PMDB no governo na esperança de barrar os pedidos de impeachment contra ela, a presidente Dilma Rousseff mandou os auxiliares se prepararem para reagir se o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se movimentar para deflagrar o processo.

Com a reforma ministerial anunciada sexta (2), Dilma entregou ao PMDB o controle de sete ministérios, incluindo as pastas da Saúde e da Ciência e Tecnologia, que serão dirigidas por deputados do baixo clero, alinhados a Cunha.

Mesmo assim, o governo teme que o presidente da Câmara dê nas próximas semanas os passos necessários para pôr em marcha o impeachment, na tentativa de camuflar o desgaste que ele tem sofrido desde que se tornou alvo da Operação Lava Jato.

A Procuradoria-Geral da República denunciou Cunha ao Supremo Tribunal Federal por suspeita de corrupção, acusando-o de receber US$ 5 milhões em propina de fornecedores da Petrobras. O Supremo ainda não decidiu se aceitará a denúncia e abrirá processo contra o deputado.

Na semana passada, o Ministério Público da Suíça informou que encontrou quatro contas bancárias controladas por Cunha e seus familiares, ampliando as suspeitas sobre ele. O deputado nega possuir contas no exterior.

Na avaliação do Palácio do Planalto, as acusações contra Cunha tiram força do movimento pró-impeachment, mas os auxiliares de Dilma apostam que o deputado insistirá em deflagrar o processo, com o objetivo de criar uma cortina de fumaça que o ajude a se defender das denúncias.

Cabe ao presidente da Câmara decidir se um pedido de impeachment deve ou não ser analisado pelos deputados. Cunha recebeu 19 petições desde fevereiro e já engavetou 11 até a semana passada.

O principal pedido, formulado pelo jurista Hélio Bicudo, que rompeu com o PT há alguns anos, e pelo ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, que trabalhou no governo Fernando Henrique Cardoso, continua em sua mesa.

É possível que Cunha também rejeite esse pedido, numa manobra combinada com a oposição, que em seguida recorreria ao plenário para que a maioria dos deputados desse a palavra final sobre o assunto. Seria possível assim abrir o processo de impeachment e afastar Dilma da Presidência sem vincular Cunha diretamente à iniciativa.

Na próxima semana, o TCU (Tribunal de Contas da União) deve rejeitar as contas do governo referentes a 2014, o que pode realimentar a crise, reforçando o discurso dos que defendem o impeachment.

Apesar dos riscos, a presidente chegou ao fim da semana aliviada com o desfecho da reforma ministerial. Em almoço com governadores aliados após o anúncio da nova equipe, ela estava "feliz da vida", segundo um assessor.

Dilma disse acreditar que as mudanças no primeiro escalão e a reaproximação com o PMDB ajudam a atenuar a crise e reduzem os riscos de abertura de um processo de impeachment na Câmara.

A presidente reconheceu, porém, que será necessário trabalhar daqui para a frente para tentar reaver a estabilidade política de maneira mais consistente. A reforma ministerial foi apenas o primeiro passo neste sentido.

Dilma pretende participar mais ativamente do trabalho de articulação política, como fez no processo de montagem de nova equipe. A petista assumiu as negociações e conduziu diretamente a maior parte das conversas para escolha dos novos ministros.

A presidente quer manter o grupo do vice-presidente Michel Temer (PMDB) na coordenação política. Sua intenção é que o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, aliado do vice, trabalhe com o novo chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, e o ministro Ricardo Berzoini, da nova Secretaria de Governo, na definição de estratégias para votações no Congresso Nacional.

A presidente acredita ainda que conseguiu reduzir uma de suas fragilidades no Congresso ao abrir canal direto com o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), o que pode ajudar o Planalto a se contrapor a Cunha.

Recomeço
Auxiliares de Dilma dizem que, com o fôlego obtido na reforma ministerial, a presidente teria reunido condições para superar aos poucos a instabilidade política e enfrentar a crise econômica.

Neste recomeço, Dilma fez concessões também ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu antecessor e padrinho político, algo que tentava evitar desde o início do segundo mandato. A partir de agora, Dilma terá três lulistas ao seu lado dentro do Palácio do Planalto: Wagner, Berzoini e o chefe da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva.

Ao entregar sete ministérios ao PMDB, a presidente procurou contemplar os principais líderes do partido, distribuindo as pastas a aliados do vice Michel Temer, de Cunha e do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL).

A sétima ministra peemedebista é a senadora Kátia Abreu, na Agricultura. Recém-chegada ao PMDB, ela é amiga de Dilma e não é considerada pelos peemedebistas uma indicação partidária.

Estratégia é empurrar impeachment até 2016

• Líderes governistas avaliam que calendário apertado deixaria possível abertura do processo de impedimento da presidente para o próximo ano

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Uma possível abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff no Congresso, baseado nas pedaladas fiscais do governo, deve ficar apenas para 2016, avaliam líderes da base governista com base no calendário apertado deste final de ano.

Os ministros do Tribunal de Constas da União (TCU) devem se reunir na próxima quarta-feira para emitir um parecer a respeito das maquiagens feitas pelo governo no Orçamento da União do ano passado. A decisão dos ministros será posteriormente analisada pelos congressistas e, a depender do resultado, dar origem a um processo de impedimento.

O primeiro passo após a decisão do TCU é o recebimento do parecer por parte da Comissão Mista do Orçamento (CMO), que o transformará em um Projeto de Decreto Legislativo. Segundo o regimento do colegiado, o prazo para votação do texto é de até 85 dias. Mesmo se o entendimento dos ministros seja o encaminhado à CMO no dia seguinte à sessão do TCU, a princípio não haveria tempo para a comissão concluir a análise das contas de Dilma antes de dezembro, quando se encerra a tramitação.

Outro ingrediente a favor do Palácio do Planalto é o fato de os congressistas entrarem em recesso no dia 23 de dezembro e só voltarem às atividades em 1.º de fevereiro de 2016. “Neste caso ainda terei que nomear o relator e para tudo temos que seguir os prazos”, afirmou ao Estado a presidente da CMO, senadora Rose de Freitas (PMDB-ES). “Há ainda na frente outras prestações de contas para serem votadas. Além disso, há o recesso e eu não posso fazer uma votação sem que o Congresso esteja funcionando.”

A quantidade de proposta na pauta da CMO é mais um potencial empecilho para se avançar nas discussões em torno da prestação de contas. Entre os projetos pendentes de votação está a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2016; o Plano Plurianual (PPA); o Orçamento da União do próximo ano e prestações de contas referentes aos anos de 2009 a 2012. Para integrantes da oposição, a expectativa é de que a decisão do TCU seja adiada novamente, o que deixaria o calendário ainda mais apertado.

Opositores alegam, porém, que um processo de impedimento independe do desfecho da corte de contas. “Nós não estamos na expectativa de ter que julgar as contas no Congresso para poder avançar no processo de impeachment. O julgamento do TCU é uma etapa a mais, reforça a tese”, afirmou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

Após passar pela CMO, mesmo que os prazos sejam encurtados, o Projeto de Decreto Legislativo é encaminhado para a secretaria do Congresso e no regimento interno não está estabelecida nenhuma data para o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), distribuir o texto para uma das Casas. Segundo o Estado apurou, o peemedebista tem dito a pessoas próximas que o tema “não é prioridade” e que pedaladas fiscais não são motivo para um impeachment.

Reforma também tornou Dilma mais dependente de Lula

• Com mais influência no governo, ex-presidente pede cuidado com Cunha e sugere a ministro conversar com oposição

Alberto Bombig e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

A reforma ministerial também tornou Dilma Rousseff mais dependente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nos últimos dias comandou as articulações internamente no PT e com os aliados. Foi ele quem pediu a deputados e senadores do PT que tomem cuidado com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rompido com o governo e com inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal, e não solicitem o afastamento dele do cargo. Na quinta-feira, um dia antes do anúncio da reforma, Lula conversou com um grupo de parlamentares, em Brasília, e cobrou a blindagem de Dilma no Congresso.

Com mais influência no governo, ele também aconselhou o novo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, a chamar a oposição para conversar. Wagner é considerado mais habilidoso do que Aloizio Mercadante, que na Casa Civil comprou briga com o PMDB e até com petistas e voltou para o Ministério da Educação por insistência do ex-presidente. Em nove meses de gestão, o governo que tem o lema “Pátria Educadora” já abriga o terceiro titular da pasta. “O Plano Nacional de Educação é muito bom, mas ninguém conhece”, reclamou Lula, em conversa com Dilma e ministros do PT.
"O ajuste fiscal é um remédio amargo. Tomar remédio amargo tudo bem, mas a pergunta é: vai sarar? Então a gente precisa construir uma agenda positiva depois dessa reforma.”

Vetos. Para o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), o partido vai ajudar Dilma a governar e manterá os vetos da presidente, na votação de terça-feira, às propostas que aumentam despesas do governo. Nessa lista estão o reajuste aos servidores do Judiciário, com impacto de R$ 36 bilhões até 2019, e a extensão do aumento do salário mínimo a todos os aposentados.

“Com a reforma, a bancada do PMDB na Câmara se sente mais confortável. O PMDB é o maior partido da coalizão e temos agora o espaço adequado à nossa representação no Congresso”, resumiu Picciani. Dois ministérios ficaram com deputados da sigla: Saúde e Ciência e Tecnologia. O PT, por sua vez, viu seu número de pastas diminuir de 13 para 9.

“Esse redesenho da Esplanada será muito importante para a aprovação de projetos fundamentais para recuperar a economia”, argumentou o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). Ao ser questionado sobre o corte dos ministérios do partido, ele respondeu: “Vão-se os anéis. Ficam os dedos.”

‘Época’: Lula fez lobby para Odebrecht na Guiné

• Segundo ‘Veja’, OAS pagou reforma em imóvel no Guarujá do ex-presidente

O Globo

Documentos secretos do Itamaraty obtidos pela revista “Época” revelam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez lobby para a empreiteira Odebrecht em 2013, na Guiné Equatorial — país governado há 36 anos pelo ditador Teodoro Obiang. Em março daquele ano, Lula esteve com empreiteiros brasileiros, que reclamaram sobre a demora do BNDES e do Banco do Brasil para liberação de financiamentos na África. Depois, Lula se encontrou com o vice-presidente da Guiné, Ignacio Milán Tang.

No encontro, segundo a revista, Lula usou sua influência para conseguir contratos para a Odebrecht. A reunião foi testemunhada pela embaixadora do Brasil na Guiné Equatorial, Eliana da Costa e Silva Puglia.

“Lula citou, então, telefonema que dera ano passado ao presidente Obiang sobre a importância de se adjudicar (ganhar a licitação de) obra de construção do aeroporto de Mongomeyen à empresa Odebrecht”, registrou Eliana em telegrama enviado ao Itamaraty.

Segundo “Época”, a diplomata constatou a atuação do expresidente a favor da Odebrecht. A Andrade Gutierrez, que também participava da concorrência do aeroporto, não teve a ajuda de Lula. A revista informou que os documentos confidenciais estão sendo analisados pelo Ministério Público Federal em Brasília.

Depois da visita à Guiné, Lula ainda passou por Acra, capital de Gana, onde foi recebido pelo chefe de Estado do país, John Dramani Mahama. Segundo a revista, numa conversa privada, Mahama pediu o apoio de Lula para conseguir a liberação do financiamento de US$ 1 bilhão para projetos de infraestrutura no país.

“O ex-presidente Lula disse acreditar que o BNDES teria condições de acolher a solicitação da parte ganense e, nesse sentido, intercederia junto à presidenta Dilma Rousseff”, registra o telegrama do Itamaraty.

Então, o presidente de Gana entregou nota formalizando a solicitação de crédito para a construção de uma rodovia em Gana. Quatro meses depois, o BNDES liberou o dinheiro para um consórcio formado pela Odebrecht e pela Andrade Gutierrez, ambas empreiteiras investigadas na Operação LavaJato. A Odebrecht Infraestrutura disse à “Época” que mantém relação institucional com Lula.

Apartamento de Lula
Reportagem da revista “Veja” informa que a construtora OAS, envolvida no escândalo da Lava-Jato, pagou a reforma da cobertura triplex que pertence à família de Lula no Guarujá, litoral paulista.

De acordo com a revista, a OAS contratou a Tallento Inteligência em Engenharia, uma firma especializada em reformas luxuosas, para cuidar da obra ano passado. “Veja” reproduz declarações de funcionários que participaram da empreitada e publica fotos de como ficou o apartamento.

“Nos dias em que eles marcavam para visitar a obra, a gente tinha de parar o trabalho e ir embora. Ninguém era autorizado a permanecer no apartamento. Só ficamos sabendo quem era o dono muito tempo depois, pelos vizinhos e funcionários do prédio, que reconheceram dona Marisa e o Lulinha (Fábio Luís Lula da Silva, o filho mais velho do ex-presidente)”, reproduz a revista.

A OAS assumiu as obras no edifício, localizado na Praia das Astúrias, após a Bancoop — a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo — abandonar a obra. O Instituto Lula reafirmou que o apartamento pertence à OAS e que a esposa de Lula, Marisa, possui apenas cotas do empreendimento.

OAS pagou reformas em apartamento de Lula, afirma revista

• Assessoria diz que triplex é da empresa

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A empreiteira OAS, acusada de envolvimento no esquema da Petrobras, custeou reformas em apartamento cuja opção de compra pertence à família do ex-presidente Lula, informou a revista "Veja".

Segundo a revista, documento de 2014 mostra que a OAS contratou uma empresa especializada em reformas de alto padrão para, entre outras coisas, instalar um elevador privativo no triplex em Guarujá, no litoral paulista, avaliado em R$ 2,5 milhões. O empreendimento, iniciado pela Bancoop (cooperativa dos bancários de São Paulo), foi assumido pela OAS em 2009.

Procurada, a assessoria do Instituto Lula afirmou que o apartamento ainda pertence à OAS, já que Lula e Marisa adquiriram uma cota do imóvel, mas não chegaram a concluir o negócio e, por isso, cabe à empreiteira arcar com custos referentes ao empreendimento, inclusive uma eventual reforma.

Dilma foi alertada pelo TCU sobre contas em 2014

• Na próxima quarta (7), contabilidade do governo federal pode ser rejeitada pela corte pela primeira vez

• Pedaladas eram apuradas desde o ano passado por especialista em contas públicas premiado pela Fazenda

Dimmi Amora – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Estádio Itaquerão (SP), 12 de junho de 2014. Numa sala reservada, a presidente Dilma Rousseff recebeu o então presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Augusto Nardes, que lhe informou de problemas na sua prestação de contas de 2013.

Irregularidades eram cometidas sem que o governo adotasse medidas para saná-las. O relator das contas, Raimundo Carreiro, cogitava rejeitá-las, o que poderia impedir Dilma de concorrer à reeleição.

A presidente mostrou-se preocupada e disse não ter conhecimento de tudo. Momentos depois, a Croácia abriu o placar contra a Seleção Brasileira –que fez gol contra.

Carreiro foi procurado por integrantes do governo com a promessa de que os problemas seriam sanados. O ministro considerou que rejeitar as contas naquele momento, próximo da eleição, poderia parecer um ato político. Fez críticas, mas aprovou-as com 26 ressalvas em junho.

A seleção virou o jogo contra a Croácia. A presidente Dilma foi reeleita meses depois.

O destino da Seleção após a cambaleante estreia é conhecido: a inédita goleada 7 a 1 para a Alemanha. O destino da presidente parece seguir o mesmo caminho. A vitória na aprovação da mambembe conta de 2013 deve virar uma inédita goleada este ano.

Investigação
Das 12 irregularidades apontadas para rejeitar as contas de 2014, uma era investigada desde o ano passado, a "contabilidade criativa".

Com a arrecadação já em queda, o governo manobrava para manter seus gastos em níveis crescentes, escondendo que já tinha deficits primários, o que não era permitido até uma mudança de última hora na lei orçamentária.

A Caixa teve que pedir uma arbitragem na Advocacia-Geral da União para receber do governo o que lhe era devido. O Banco Central chegou a ordenar que o banco contabilizasse o rombo como dívida.

Para a investigação, o TCU escalou Antônio D'Ávila, especialista em contas públicas e duas vezes premiado pelo Ministério da Fazenda por suas monografias. D'Ávila não teve dúvidas em apontar que não havia criatividade.

Em março de 2014, o ministro do TCU José Múcio Monteiro considerou ilegais as manobras, já reapelidadas de "pedaladas", na ação que apura seus responsáveis. Dezessete ex-ministros e servidores podem ter que pagar multa e ressarcir o prejuízo. Esse processo não está finalizado.

O sinal de alerta acendeu no governo, que oscilou sua defesa entre a agressividade (acusou o TCU de fazer o mesmo), a banalidade (todo mundo fez) e o risco jurídico (mudança nas regras do jogo).

Diante de provas cada vez mais robustas, terminou a semana com a "estratégia da misericórdia", criando decreto para impedir o que a lei já proíbe: que bancos públicos banquem despesas federais.

Voto
Na próxima quarta (7), os nove ministros do órgão votam se seguem ou não o parecer de Nardes pela rejeição.

Na semana passada, em coro, os ministros pediram para que o processo fosse votado o mais rapidamente possível.

Sentem-se cansados da disputa política que se gerou em torno do trabalho, que avaliam como técnico. Querem que o Congresso Nacional, que tem a palavra final sobre as contas, decida.

Dirigente partidária, a nova face de Marina

• Após criação da Rede, ex-ministra molda discurso 'sonhático' com a função de líder da nova legenda

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

Quatro anos após iniciar o movimento de construção de seu partido político, a Rede Sustentabilidade, a ex-ministra Marina Silva enfrenta agora o desafio de adequar o discurso "sonhático" - e em defesa da "nova política" - à realidade pragmática de dirigente partidária. Este atual momento de autonomia da ex-senadora contrasta com passagens marcadas por atritos em cúpulas de outras três legendas, do PT, do PV e do PSB.

A partir de agora, ela passa a dirigir sua própria sigla, tendo assim que administrar eventuais conflitos internos, uma vez que o partido conta com nomes com projetos de poder próprios, como a ex-senadora Heloísa Helena (AL), o senador Randolfe Rodrigues (AP) e o ex-ministro das Comunicações Miro Teixeira (RJ)

Apesar de estrear na condição de "nanico" (são apenas 5.600 militantes registrados no Brasil), o partido nasce sob a expectativa de ser a base de lançamento de Marina na disputa pelo Palácio do Planalto em 2018.

Depois de conseguir o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no dia 22 de setembro, a Rede estreou com cinco deputados federais, um senador e a promessa de fazer oposição moderada ao governo da presidente Dilma Rousseff.

No 2.º turno das eleições presidenciais, Marina apoiou o tucano Aécio Neves (MG), mas agora posicionou seu partido fora do bloco oposicionista pró-impeachment no Congresso Nacional. Todos os deputados do PSDB fazem parte da frente.

Bancada. Dos cinco deputados da recém-criada bancada da Rede, quatro vieram da base do governo: Alessandro Molon (RJ), ex-vice líder do PT na Casa; Miro Teixeira (RJ), que deixou o PROS, e dois egressos do PC do B, João Derly (RS) e Aliel Machado (PR). Mas é a maranhense Eliziane Gama (ex-PPS), única parlamentar oriunda da oposição na bancada da Rede, quem deve assumir a liderança do bloco. Aliada de Marina desde a eleição de 2010, ela é a preferida da cúpula do novo partido para exercer a função de maior visibilidade da Rede.

Um integrante da direção conta que a Rede poderia ter oito deputados, mas divergências "programáticas" e disputas locais inviabilizaram a migração de três parlamentares que já estavam de malas prontas. Prevaleceu na negociação a máxima cunhada por Marina: "A Rede buscará qualidade".

Caso se confirme a indicação de Eliziane, que será definida em uma reunião nesta semana em Brasília, a deputada orientará seu voto contrário a qualquer tentativa de impedimento da presidente que seja colocada em pauta pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Pelo menos por enquanto. "Consideramos que, hoje, não estão colocadas as condições para o impeachment", afirma Bazileu Margarido, porta-voz da Rede Sustentabilidade.

O partido também se colocará contra a aprovação de medidas da chamada "pauta-bomba", que oneram as contas públicas. "Vamos analisar os casos no mérito, mas somos contra a criação de impostos em um País com a carga tributária tão elevada", diz Margarido.

Espectro ideológico. O perfil dos quadros do partido, dentro e fora do Congresso, mostra que a agremiação se tornou um refúgio para políticos de esquerda insatisfeitos com a gestão Dilma Rousseff. Depois de filiar o senador Randolfe Rodrigues (AP), que deixou o PSOL, partido que nasceu das costelas do PT, a Rede está "conversando" com os senadores Paulo Paim (PT-RS), Walter Pinheiro (PT-BA) e José Antônio Reguffe (PDT-DF). "A Rede está ocupando um espaço que era do PSOL: um partido que faz oposição a Dilma pela esquerda", destaca o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília.

Em novembro, o partido promove, em Brasília, seu primeiro congresso nacional para revisar seu estatuto e eleger sua nova direção. "Dificilmente teremos vetos a partidos políticos específicos em 2016. Nossas coligações serão orientadas por questões programáticas", ressalva Margarido. Na prática, isso significa que a sigla poderá se aliar a legendas com propostas variadas.
Com 5.600 filiados, a Rede surge como um partido nanico, apesar de apresentar 21 diretórios estaduais. Contará com apenas 1% do tempo de TV reservado aos partidos no horário eleitoral na TV, o que equivale a poucos segundos.

Fernando Henrique Cardoso - Os reis também morrem

• O mandado de Dilma ainda dura três anos e pouco, e o tempo urge. Ou bem a presidente reage ou ela é ‘renunciada’; chegará a hora de acelerar decisões

- O Estado de S. Paulo

Num dos sábados do mês de setembro encontrei tempo e motivação para escutar a Orquestra do Estado de São Paulo (Osesp), sob o comando do maestro Isaac Karabtchevsky, tocar os Gurre-Lieder de Arnold Schönberg. Com a força expressiva do autor, os versos novecentistas do dinamarquês Jens Peter Jacobsen, traduzidos para o alemão por Robert Franz Arnold, ganham uma dramaticidade wagneriana. Dizem os entendidos que, ademais de Wagner, os acordes transpiram também a Mahler. Não saberia avaliar. O que senti, especialmente quando os instrumentos entoaram sons de uma marcha fúnebre, foi o inevitável da morte e a angústia dos próximos que ficam.

Essa sensação talvez me tenha vindo porque, na última vez que fui à Osesp em sua companhia, Ruth teve a crise cardíaca que, dias depois, terminou sendo fatal. Estive a recordar o tempo todo que em setembro ela faria 85 anos.

O rei Waldemar, no poema, chora a morte de sua amada e diz: "Mas Tove está aqui e está lá, está tão perto e está tão longe". Revolta-se contra os próprios deuses e proclama: "Senhor Deus, teus exércitos de anjos cantam sempre tua glória; entretanto, o que necessitarias era de um anjo que te soubesse censurar. Mas quem se atreveria?".

Da angústia existencial da morte concreta, a dos mais próximos e a própria, passei a pensar na morte política para não me afligir ainda mais. Grave e grande problema: como passar de uma situação de poder a outra? Os reis podem abdicar e assim, sem morrer, renunciam ao poder. Penam em vida, eventualmente, a ausência do poder. Agora, até os papas renunciam; devem rezar na paz de Castel Gandolfo pelo êxito do sucessor.

No parlamentarismo são os deputados que, formando uma nova maioria, ora ressuscitam o primeiro-ministro moribundo, ora simbolicamente o decapitam, escolhendo outro. No presidencialismo o eleito, em tese, deve esperar que o tempo se esvaia até que o povo escolha novamente um "rei". O anterior, de bom grado ou de mau grado, sobrevive fisicamente, ora tentando voltar ao trono, ora conformado com o que já fez; ora ajudando o sucessor a governar, ora o atrapalhando.

Às vezes, entretanto, não há sucessão à vista e o rei já não governa. Quando o presidente, no caso de República democrática, agride a Constituição, ainda sobra o remédio do impedimento, uma espécie de morte assistida. Ou, então, ele abre mão voluntariamente do poder pela renúncia. O tema, na ciência política, sem ter a dramaticidade do Gurre-Lieder, é sempre tratado com circunspecção e interesse.

Não por acaso voltou à baila em algumas Repúblicas presidencialistas contemporâneas o discutível instituto do recall: a velocidade da vida e dos meios de comunicação tornam precocemente envelhecidos governos democraticamente eleitos. Estamos diante dessa encruzilhada. Trombetas, trompas e fagotes já entoam o final, falta apenas a percussão dos címbalos para que todos saibam que o rei morreu. Este, entretanto, detém o poder e não encontra ninguém, como o anjo que Waldemar queria que se atrevesse diante do próprio Deus, para lhe dizer: acabou!

Por enquanto, falei no figurativo. Mas vamos aos fatos.

O povo não vê no ajuste financeiro a glória futura, mas, sim, o aperto cotidiano. Os programas e promessas são palavras que a experiência mostrou natimortos pela inércia da administração ou por sua incompetência. Os políticos já não sabem quantos mais anéis pedir à presidente para cumprirem o que, em princípio, já lhes foi pago, pois querem mais. Para não falar nos mercados, que buscam refúgio no dólar, embora não se tenha crise cambial à vista.

Estamos assistindo a uma corrida contra o tempo. Repito o já sabido e dito: as forças dinâmicas do quadro brasileiro vêm sendo a crise econômica e a Operação Lava Jato. Só que o desdobramento de uma, a judicial, independe da outra, que, entretanto, sofre suas consequências. Não obstante, as lideranças políticas, a começar pela maior da República, parecem assistir conformadas ao mergulho do País no poço fundo da crise pela falta de confiança.

Daí a angústia: há urgência para que as decisões políticas nos permitam enfrentar os desafios econômicos e sociais. Estes são de magnitude: os compromissos legais de financiamento a serem cumpridos pelo governo, seja por diretivas constitucionais, seja por mandamentos legais, seja por compromissos políticos assumidos, não cabem no Orçamento e o País não quer pagar mais impostos. Não quer porque não vê que deles resulte melhoria palpável para as contas públicas nem para a população, dadas a continuidade da gastança, a incompetência da gestão e a corrupção.

A quadratura desse círculo exige a reconstrução da confiança perdida. Daí a corrida contra o tempo. O mandato ainda dura três anos e pouco e o tempo urge. Ou bem a presidente reage (e vê-se que não tem gás para tanto) ou ela é “renunciada”. Mesmo que se cogite de impedimento, este está limitado pelo decorrer de prazos legais. Haverá tempo? Como conciliar, sempre dentro da Constituição, as urgências da economia e da vida com a morosidade dos tempos políticos?

Não tenho vara de condão para me levar ao futuro. Arrisco dizer, no entanto, que nessa pugna entre os meneios político-partidários e as necessidades concretas das pessoas e das empresas chegará o momento de acelerar decisões. Talvez um anjo perverso aconselhe à presidente: entregue logo sua alma ao diabo, entre mais fundo no "toma lá dá cá" e salve seu mandato. Pode até conseguir, mas valerá a pena? E acaso isso modifica a dança do País à beira do abismo?

Quanto antes os mais responsáveis percebam que ou agem ou serão tragados pela voragem da crise, melhor. Ainda há tempo. Pouco, contudo.