sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Retrocesso na PM de São Paulo deve preocupar o país

O Globo

Outrora exemplo para resto do Brasil, corporação paulista sofre reviravolta que traz risco a políticas de sucesso

Num momento em que o Brasil enfrenta crise na segurança pública, a Polícia Militar de São Paulo — outrora exemplo para o país — vive dias turbulentos, dentro e fora dos quartéis. Nesta semana, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) exonerou, com uma só canetada, o subcomandante da PM e trocou mais da metade dos coronéis da cúpula da corporação. As decisões causaram insatisfação na tropa e foram vistas como reflexo da interferência política do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL-SP).

É certo que mudanças na PM, explicadas oficialmente por “conveniência de serviço”, podem até se justificar tecnicamente. Mas reviravoltas dessa natureza trazem risco enorme para uma corporação que se profissionalizou nas últimas décadas, especialmente depois do Massacre do Carandiru, em 1992, com resultados incontestáveis.

Vera Magalhães - No STF, Dino reforçará o 'alexandrismo'

O Globo

Novo ministro será um reforço à ala ‘antigolpe’ do STF, que tem referendado decisões de Moraes e deve se manter monolitica por bastante tempo

Foi-se o tempo em que era possível traçar uma risca de giz no chão do plenário do Supremo Tribunal Federal e separar os ministros chamados garantistas dos punitivistas — que, no intervalo entre 2014 e 2019, também ganharam a alcunha de lavajatistas.

O declínio da Lava-Jato, que coincidiu com os anos Jair Bolsonaro, em que o STF foi instado a agir como barreira de contenção não apenas em relação ao golpismo eleitoral, já na reta final, mas também em questões ambientais, sanitárias e direitos dos povos indígenas, entre outros, tornou essa distinção superada, para usar um adjetivo caro aos magistrados em seus debates no plenário.

A necessidade de impor ao Executivo limites que não eram dados pela Procuradoria-Geral da República, na maior parte do período sob o comando de Augusto Aras, ou pelo Congresso, cooptado à base de orçamento secreto, fez sumirem arestas antigas entre integrantes dos dois blocos antes vigentes e surgirem novas alianças e novos líderes.

Luiz Carlos Azedo - Flávio Dino amplia a interlocução de Lula com Supremo

Correio Braziliense

Gilmar e Toffoli foram os principais interlocutores do Supremo com o mundo político, mas Lula tem, agora, outros dois ministros de suas relações de confiança. Há limites éticos para  isso

O ex-governador e ex-senador Flávio Dino, aos 55 anos, novo ministro do Supremo Tribunal, tomou posse, ontem, na vaga de Rosa Weber. Na cerimônia, apenas falou o presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso: “Me limito a fazer uma brevíssima saudação de boas-vindas ao ministro Flávio Dino, que é uma pessoa recebida por todos nós com muita alegria”. Dino jurou cumprir a Constituição, assinou o termo de posse, depois se retirou para participar de uma missa na Catedral de Brasília. Dispensou a tradicional festa organizada pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB).

À posse minimalista, compareceram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e 900 convidados. Dino será o ministro mais político da Casa, com muita capacidade de interlocução com o Executivo e o Legislativo. A experiência na gestão dos problemas da sociedade e suas conexões com o Judiciário devem pautar sua atuação na Corte.

Fernando Abrucio* - Políticas para jovens são urgentes

Valor Econômico

Ter uma juventude sem perspectiva na sociedade afeta a produtividade presente e, principalmente, futura da economia brasileira

Tem sido muito raro construir consensos no sistema político brasileiro atual. As relações entre o Executivo e o Legislativo se tornaram mais complicadas desde o segundo governo Dilma, os congressistas estão em constante embate com o STF e a sociedade está fortemente polarizada. Mesmo assim, em determinados temas o conflito dá lugar à cooperação. Esse é o caso da aprovação da poupança para alunos mais pobres do ensino médio público.

Intitulado Pé de Meia, é um programa fundamental para um grupo essencial para o presente e o futuro do país: a juventude. Trata-se de uma excelente notícia, mas ao mesmo tempo revela uma carência perigosa de ações à população mais jovem.

Não faltam prioridades num país tão complexo e desigual como o Brasil. Mas há temáticas que deveriam merecer mais atenção por conta de quatro fatores. O primeiro diz respeito ao número de pessoas de um determinado grupo que estão numa situação social complicada.

Além disso, deve-se levar em consideração o impacto sistêmico desse problema. Isto é, os vários males causados pela não resolução de determinada questão. Um terceiro ponto também é central: como este tema faz a ponte entre o presente e o futuro do país? Por fim, um aspecto prioritário é aquele que pode modificar a forma de se ver e conduzir a política, gerando um efeito bola de neve na agenda pública.

Segundo dados do IBGE, o número de jovens de 15 a 29 anos que nem estuda nem trabalha é de quase 11 milhões, totalizando cerca de 22% desse grupo populacional (mais de um quinto da população jovem). Num estudo recente da OCDE, o Brasil era o segundo país com mais jovens nem-nem entre 37 nações analisadas. A situação é muito ruim em ambos os gêneros, mas a maior parte dos nem-nem é composta por mulheres e, do ponto de vista social, pelo contingente mais pobre da população.

José de Souza Martins* - Sertanejo, da tradição ao negócio

Valor Econômico

A música sertaneja, surgida após uma trajetória de transformações da música caipira, completa 100 anos, com um precedente histórico que atravessa todo o período colonial

O gênero musical sertanejo ganha nova e diferente notoriedade no upgrade de festival metropolitano que reúne 100 mil pessoas. Nasceu na segunda metade dos anos 1920, na cidade de São Paulo. Está chegando, portanto, ao centenário. Trata-se de uma longa trajetória do gênero que resultou da transformação da música caipira em música sertaneja.

Seu precedente histórico atravessa todo o período colonial, expressando-se através de diferentes e sucessivas categorias sociais. Segundo Antonio Candido, uma das variantes originou-se de uma dança ritual indígena, como o cururu, que os jesuítas converteram na dança da Santa Cruz. Cuja cadência da marcha em dupla atrás dos violeiros, indo de frente e voltando de costas, em direção à porta da igreja e dela se afastando, ainda é claramente indígena.

César Felício -Bolsonaro busca as ruas porque está fraco

Valor Econômico

Ex-presidente está na defensiva, não na ofensiva

“Ninguém ganha uma briga contra o Supremo”. A frase, de um advogado com enorme trânsito nos três Poderes, ganhou ares de alerta nessa quinta-feira, com o depoimento simultâneo de 23 implicados na investigação do Judiciário sobre a conspiração golpista do ex-presidente Jair Bolsonaro, 90 minutos antes da posse de Flávio Dino como ministro do STF.

Nesse domingo, em São Paulo, Bolsonaro recoloca a oposição nas ruas, o que o entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre temeu. Multidões protestando na rua sempre são uma péssima notícia para qualquer governante de turno, mas o diferencial que diminui o poder de desestabilização da manifestação deste domingo é que Bolsonaro está na defensiva, e não na ofensiva.

Bernardo Mello Franco – Silêncio estratégico

O Globo

Ex-presidente seria pego na mentira se tentasse negar a tentativa de golpe

A defesa de Jair Bolsonaro orientou o capitão a ficar em silêncio na Polícia Federal. Os advogados apresentaram três recursos para tentar adiar o interrogatório de ontem. Como não colou, a saída foi manter o cliente de bico fechado.

Todo investigado tem direito a permanecer calado. No caso de Bolsonaro, exercer o direito era uma necessidade. Ele seria pego na mentira se buscasse negar a tentativa de golpe para se perpetuar no poder.

Na prática, o ex-presidente teria pouco a acrescentar à investigação. A PF já reuniu uma pilha de provas de que ele idealizou e comandou a trama contra a democracia, da qual seria o principal beneficiário.

Eliane Cantanhêde - O medo da prisão

O Estado de S. Paulo

Posse no STF sem grades e oficiais depondo são parte da normalidade, Forças precisam se acostumar

É a primeira vez na história que militares de alta patente são investigados pela Justiça comum, mas é exatamente isso que a Constituição previa e prevê. A Justiça Militar é para crimes militares, não para indivíduos militares suspeitos de praticar qualquer outro tipo de crime, e o simples reconhecimento dessa norma constitucional é mais um forte indicador da volta à normalidade, com tudo o que ela tem de bom e também de ruim.

Enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro e uma dezena de militares e outros investigados por tentativa de golpe de Estado prestavam depoimentos à Polícia Federal, simultâneos, mas separados, as cúpulas de Executivo, Legislativo e Judiciário compareciam em peso à posse do ex-ministro da Justiça Flávio Dino no Supremo. Já sem as grades medonhas que isolavam a Corte, como o Congresso, por segurança.

André Roncaglia* - Mauro Boianovsky, embaixador do pensamento econômico brasileiro

Folha de S. Paulo

Em sua obra, economista aliou meticulosidade à sua admirável erudição

No dia 21 de fevereiro de 2024, as ciências sociais brasileiras receberam um golpe triplo: Affonso Celso PastoreLuiz Werneck Vianna e Mauro Boianovsky nos deixaram. Destacarei a obra de Mauro Boianovsky, pela sua importância no campo da história das ideias econômicas.

Figura proeminente, com destacada carreira como professor na Universidade de Brasília, Mauro foi um dos pesquisadores mais influentes do mundo, tendo presidido a History of Economics Society (HES) no biênio 2016-17 e recebido inúmeros prêmios por suas contribuições.

Boianovsky atuou como embaixador do pensamento econômico brasileiro no exterior e enriqueceu o diálogo global sobre a evolução da economia como campo do conhecimento. Sua vasta obra abrange o pensamento econômico brasileiro e as contribuições de economistas de renome internacional, bem como a evolução de teorias econômicas, com destaque para a macroeconomia, em contextos históricos variados.

Vinicius Torres Freire - Mais dinheiro, alívio político

Folha de S. Paulo

Arrecadação melhora pelo segundo mês; discussão ruim sobre meta fiscal talvez seja adiada

A arrecadação do governo federal foi muito bem, como adiantado por reportagens desta Folha. Cresceu 6,7% além da inflação, na comparação com janeiro do ano passado.

Não temos os dados do crescimento da economia, do PIB, do final de 2023, e nem mesmo a estimativa mensal do Banco Central para janeiro. Mas certamente o PIB não está crescendo a 6% ao ano ou mesmo à metade desse ritmo.

Em resumo, óbvio, a receita cresceu mais do que o PIB em janeiro, assim como em dezembro. É uma recuperação recentíssima. No ano passado, a receita diminuiu em termos absolutos, ainda mais em relação ao PIB, o que contribuiu para um déficit ainda maior.

Decerto tem dinheiro novo entrando de modo mais regular, como o dos impostos sobre ricos, entre outros resultados das providências da Fazenda a fim de preencher os cofres. Mais importante, por enquanto, é o possível efeito político da (possível) melhora da arrecadação.

Hélio Schwartsman - Triunfo do populismo

Folha de S. Paulo

Por incrível placar de 62 a 2, Senado vota por limitar as saídas temporárias de presos

Um dos problemas da democracia é que ela entrega aos eleitores o que eles querem. E eleitores, como todos os humanos, são poços de vieses cognitivos. Quando lidamos com erros de distribuição aleatória, até que a coisa pode funcionar. Se, numa questão complexa, um bom pedaço dos eleitores ou dos legisladores pende para um lado, e outro, de dimensões comparáveis, para o outro, o desenho da política a ser adotada acabará recaindo sobre os poucos que não têm uma preferência muito clara (os moderados), que tendem a ser mais sensíveis à argumentação racional. Quando, porém, estamos diante de um viés sistemático, isto é, em que a grande maioria exibe a mesma propensão, é quase certo que o erro será imortalizado em política.

Bruno Boghossian - Braga Netto é a arma fumegante

Folha de S. Paulo

Apesar de silêncio da dupla em depoimento, PF tem fartura de provas sobre tabelinha golpista

Jair Bolsonaro não queria só um companheiro de chapa quando escolheu Braga Netto na campanha à reeleição. "O vice é aquela pessoa que está ao seu lado nos momentos difíceis", disse o presidente, em julho de 2022. "O vice não pode ser aquela pessoa que conspira contra você."

Àquela altura, a virada de mesa era o plano A de um grupo político que tinha pesadelos com uma derrota. Com influência no topo das Forças Armadas, desenvoltura autoritária e interesse direto no golpismo, Braga Netto seria peça central de uma conspiração a favor de Bolsonaro.

Marcos Augusto Gonçalves - Lula e a ordem 'pos-ocidental'

 

Folha de S. Paulo

Ao reforçar tese do genocídio, Brasil abandona mediação e se engaja na diplomacia do mundo 'pós-ocidental'

Os equívocos da declaração do presidente Lula sobre o Holocausto e os ataques a Gaza já foram apontados por analistas equilibrados, além de explorados à exaustão por oportunistas, haters, simpatizantes da extrema direita e apoiadores da política criminosa de Binyamin Netanyahu em sua reação desproporcional ao atentado do Hamas.

A questão talvez mais relevante, do ponto de vista da política externa, já havia sido colocada por Maria Hermínia Tavares em sua coluna na Folha (17/1) por ocasião do apoio do governo brasileiro à tese de genocídio levada pela África do Sul ao Tribunal de Haia. Como sugeriu a professora, estamos assistindo a uma redefinição da política externa brasileira, que se mostra mais aderente à perspectiva da ordem "pós-ocidental", ou seja, a um realinhamento em que o chamado Sul Global se contrapõe aos Estados Unidos e seus aliados, em especial os europeus.

Glenn Greenwald - Lula está certo sobre Gaza e não é antissemita

Folha de S. Paulo

Intelectuais judeus também afirmam que desumanização coletiva que gerou Holocausto está por trás da destruição da Faixa de Gaza agora

Desde que Lula evocou o Holocausto para denunciar a destruição de Gaza por Israel, a grande mídia brasileira se uniu, com raras exceções, para condená-lo. Na segunda-feira (19) à noite, o jornalista William Waack afirmou na CNN Brasil que a declaração de Lula "ofende judeus no mundo inteiro".

Deixando de lado a incongruência que é ver William Waack se colocar como vigilante da intolerância e fiscal do que se pode dizer no discurso público, a pergunta que faço é: com base no que ele se coloca como porta-voz dos "judeus no mundo inteiro"?

É verdade que a declaração de Lula enfureceu o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que declarou Lula "persona non grata" em Israel. Mas equiparar o governo de Israel a "judeus no mundo inteiro" não é só falso, é também antissemitismo.

Como todos os grupos, os judeus não são um monolito. Qualquer pessoa que, como eu, tenha crescido numa família judaica e imersa nessas tradições sabe que o grupo passa longe de ser homogêneo. Há dentre os judeus discussões e divergências sobre os mais diversos assuntos, inclusive o Estado de Israel, o tratamento desumano dispensado aos palestinos e a abjeta imoralidade da destruição de Gaza.

Um mês antes do ataque do Hamas de 7 de outubro, o ex-chefe do Mossad, agência de inteligência israelense, Tamir Pardo —indicado por Netanyahu— afirmou que Israel impõe "uma forma de apartheid aos palestinos". Muitos líderes Israelenses, incluindo o ex-primeiro Ministro Ehud Barak, já disseram o mesmo.

O jornalista judeu brasileiro Breno Altman vem repetidamente comparando as ações de Israel em Gaza ao nazismo, ao ponto de estar sendo investigado pela Polícia Federal por expressar sua visão. Um grupo de judeus brasileiros, conforme relatado pela Folha, emitiu uma nota para defender as declarações de Lula.

Nesta semana, a escritora judia russa Masha Gessen recebeu o Polk Award, o segundo prêmio mais importante no jornalismo dos EUA, por seu brilhante ensaio na revista New Yorker intitulado "Na Sombra do Holocausto". No texto, Gessen aponta como o Holocausto é frequentemente evocado para silenciar as críticas aos crimes de guerra de Israel.

Gessen cita a filósofa Hannah Arendt, judia que em 1948 comparou grupos sionistas extremistas ao Partido Nazista, tanto em sua mentalidade quando em suas táticas —isso tudo menos de três anos depois do fim da Segunda Guerra.

Luiz Sérgio Henriques* - A morte de Luiz Werneck Vianna

A morte de Luiz Werneck Viana (1938-1924) interrompe a trajetória de um dos mais brilhantes intelectuais da sua geração. Sua obra tem característica ímpar por vários aspectos, entre os quais o de aliar rigor teórico e empenho político em alto grau.

Um segundo aspecto é que o primeiro livro de Werneck Vianna já nasce como obra-prima inconteste e ponto de referência dos estudos que viriam depois: trata-se de "Liberalismo e sindicato no Brasil", publicado originalmente em 1976.

A rigor, embora o autor fosse enveredar por temas distintos no correr dos anos, "Liberalismo e sindicato" é um primeiro movimento que seria retomado sucessivamente em outros livros, sempre em torno dos caminhos da modernização brasileira, do papel do liberalismo e do corporativismo na nossa "revolução burguesa pelo alto" e, muito especialmente, da posição nela havida pelo movimento sindical e político dos "subalternos".

Ricardo José de Azevedo Marinho* - O sorriso esperançoso de Luiz Werneck Vianna

Luiz Werneck Vianna é a redenção do Brasil. Sua grande vida é um exemplo para a hora que vivemos. Ele viveu como quis, isto é, da maneira mais digna. Castigado pela vida e perseguido por quem o temia, nunca conheceu o medo nem o desânimo, por isso foi um vencedor. Ele lutou por cada minuto de toda a sua existência, mesmo quando a morte o atingiu.

Sempre soube abraçar as palavras para se fazer ouvir pelos humildes sobre cujos ombros chegou à última morada. Sua vida heroica foi seu único discurso ouvido até o último canto do país por inúmeros brasileiros que, hoje velando a morte do Mestre, aguardam a sua hora.

Paulo Fábio Dantas Neto* - Luiz Werneck Vianna

Brilhantemente, como pensava;  inconfundivelmente, como escrevia; contundentemente, como falava;  assertivamente, como orientava;  calorosamente, como acolhia; implacavelmente, como advertia,  generosamente, como se doava e intensamente (muito  intensamente) como viveu e plantou vida em todas as pessoas e tempos verbais - nas circunstâncias que teve de encarar e pelas veredas que sua inteligência e lucidez abriram - Luiz Werneck Vianna instala-se agora, espaçosamente, inapelavelmente, definitivamente, na memória de quem o leu, ouviu e conheceu. 

Luiz Eduardo Soares* - Perdemos um gigante: Luiz Werneck Vianna

Amigos e amigas, perdemos, hoje (21.2.2024), um gigante: Luiz Jorge Werneck Vianna, aos 85 anos. Uma vida inteira dedicada a pensar o Brasil e a mudar esse país tão desigual e violento.

Foi ele que me recebeu no partido comunista brasileiro nos anos 70, na clandestinidade. Foi ele quem me ensinou a analisar a conjuntura, distinguir tática e estratégia, reler Marx e Gramsci com os olhos postos no presente, sem dogmatismos.

Sua coragem, sua independência, seu espírito crítico, sua devoção à causa coletiva -sonhando um socialismo renovado, aberto e brasileiro- foram e são exemplos para minha geração e as seguintes. Em tudo que fazia punha toda a sua paixão.

Era lucidez, inteligência, compromisso e paixão. Um erudito discreto, mas transgressor, uma usina exuberante de afeto e generosidade, às vezes disfarçada pela aspereza dos rompantes.

Poesia | Mario Quintana - Poesia Pura

 

Música | Mônica Salmaso - A terceira margem do rio (Milton Nascimento / Caetano Veloso)

 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Fim da ‘saidinha’ de presos corrige brecha na lei penal

O Globo

Apesar da derrota do governo, Lula não deveria vetar projeto caso ele seja referendado pela Câmara

O Senado aprovou na última terça-feira o Projeto de Lei (PL) que acaba com as “saidinhas” de presos da cadeia em feriados e datas comemorativas. A proposta, que tramitava havia 14 anos no Congresso, ainda voltará à Câmara para nova votação, pois o texto foi modificado pelos senadores. Mas não se espera resultado diferente. Além do consenso evidenciado pela maioria avassaladora — 62 votos a favor e apenas dois contra —, o governo, que se opõe ao PL, não conseguiu convencer sequer os senadores de sua base. O próprio líder governista, senador Jaques Wagner (PT-BA), decidiu liberar a bancada.

A aprovação do projeto traduz um sentimento que tem tomado conta da sociedade. Por mais bem-intencionada que seja a atual legislação penal, ela está repleta de brechas que precisam ser corrigidas, especialmente num momento de crise aguda na segurança pública.

Merval Pereira - Defeito de caráter

O Globo

As conversas entre o ajudante de ordens e generais quatro estrelas como Braga Netto mostram um nivelamento por baixo de funções e linguagem que impedem o respeito à hierarquia militar

Poucas vezes a face humana de uma crise política ficou tão revelada quanto na participação dos militares na comissão que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) montou para acompanhar a votação nas urnas eletrônicas na eleição de 2022. De um lado, o presidente do TSE, ministro do Supremo Luís Roberto Barroso, mostra-se “decepcionado” com a constatação da má-fé com que os militares usaram a chance de colaborar com as autoridades, garantindo uma eleição fora de dúvidas razoáveis sobre sua honestidade.

Do outro, um presidente da República que, se aproveitando do momento, colocou todo o seu esforço para demonstrar que a eleição era manipulada por forças políticas para eleger seu adversário. A fala de Bolsonaro na reunião ministerial em que um golpe de Estado foi discutido — diante do silêncio dos inocentes de sempre — é de uma frieza assustadora.

O que era uma oferta de colaboração foi visto como erro primário de um adversário desprezível pela fraqueza de estender a mão.

— Será que eles esqueceram que eu sou o comandante em chefe das Forças Armadas? — perguntou, incrédulo, aquele que se classificou como “um fodido, um deputado do baixo clero, escrotizado dentro da Câmara, sacaneado, gozado, uma porra de um deputado”.

Míriam Leitão - O ano econômico segundo Haddad

O Globo

Ministro fala sobre a negociação com o Congresso, o foco no déficit zero, crescimento da economia e redução dos juros aqui e nos EUA

O ministro Fernando Haddad fechou ontem em conversa com o presidente Lula e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a solução do problema da MP da reoneração, que tanta reação causou. Será mandado para o Congresso nas próximas semanas um projeto de lei com urgência tratando da reoneração exclusivamente. O programa do setor de eventos, o Perse, e a compensação tributária permanecerão na MP. Na semana que vem deve ser anunciado o novo seguro para reduzir a volatilidade cambial, em mesa na qual estarão o Banco Mundial e o BID, em São Paulo.

Entrevistei por quase uma hora o ministro da Fazenda, a íntegra está transcrita no blog, e foi ao ar ontem à noite na GloboNews. Perguntei sobre a polêmica da semana, a fala do presidente Lula sobre Israel. Ele disse que para ele é muito penoso falar sobre isso como filho de libanês que deixou sua terra pelo crescimento da intolerância religiosa.

— O Padilha (Alexandre, ministro) usou uma expressão no Roda Viva (programa) que eu gostei. Ele falou: aquilo foi um grito de socorro. O presidente passou muitas horas ouvindo depoimentos e vendo imagens fotográficas e filmes sobre o que estava acontecendo em Gaza. O presidente não é um político tradicional que se mantém frio diante da morte de crianças e mulheres na escala que está acontecendo. Eu acho que o grito de socorro do presidente é pertinente. Não podemos ficar indiferentes ao que está acontecendo, que é muito grave.

Vinicius Torres Freire - Quando Lula chuta o balde

Folha de S. Paulo

Efeito maior na política, na diplomacia ou no que importa é o de impedir progressos

O tumulto causado pelas besteiras que Luiz Inácio Lula da Silva disse sobre a guerra de Israel vai resultar em nada ou quase isso. Não deve mudar a política doméstica, a diplomacia, a economia ou alterar qualquer assunto público de relevância. Isso é mau.

Entenda-se o sentido de "não mudar nada": uma situação ruim e problemas difíceis ficam na mesma, como na política doméstica. Em outros casos, a tolice ideológica temperada de ignorância e megalomania não basta nem mesmo para piorar relações condicionadas por forças muito maiores, como as relações diplomáticas com os EUA de Joe Biden.

É a inércia na lama.

A ultradireita no Congresso se aproveitou, claro, das declarações de Lula. Juntou 133 deputados para pedir impeachment. Não vai dar em nada. Já se sabia também que um quarto da Câmara é zona morta para o governo.

Maria Cristina Fernandes - Lula dá gás à polarização e sobrevida ao bolsonarismo

Valor Econômico

Antes da viagem à África, o governo vivia seu melhor momento e vai dar trabalho recuperá-lo

O afastamento de coronéis pioneiros na implementação do sistema de câmeras nos uniformes policiais de São Paulo, de uma corregedoria ativa e de pontes com o movimento social, é o último lance do bolsonarismo redivivo. Não é por coincidência que acontece agora.

Antes desta última viagem internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo vivia seu melhor momento. Indicadores econômicos positivos, barganhas congressuais sob a mira da Receita Federal e popularidade, finalmente, se mexendo para cima.

Com o Supremo e a Polícia Federal cuidando para que seu antecessor, sob flagrante golpismo, nunca mais voltasse a ver seu nome numa urna eletrônica, caberia a Lula derrotar politicamente o bolsonarismo. E foi a esta tarefa que se dedicou, com habilidade inaudita, ao encontrar os governadores dos três maiores colégios eleitorais, todos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao “normalizar” a política, Lula a trazia para o jogo que conhece, sabe e ganha.

Com a frase em que juntou Hitler e Gaza, Lula andou muitas casas para trás nesse tabuleiro. Transformou a política externa, novamente, em campo minado, quando poderia, facilmente, fazer a diferença neste terreno com moderação e equilíbrio.

Malu Gaspar - O saldo da doutrina Amorim

O Globo

Lula errou feio ao comparar a tragédia da guerra em Gaza com o Holocausto. A situação na Palestina se insere na lista de grandes atrocidades presenciadas pela humanidade, mas não chega perto do genocídio promovido por Adolf Hitler contra os judeus, como o presidente brasileiro sugeriu.

O governo Benjamin Netanyahu também errou ao tentar encurralar a diplomacia brasileira com uma emboscada diplomática e ataques destrambelhados — que podem até ter atraído algum dividendo político interno, mas não alteram o status de Israel no mundo.

Dois erros não produzem um acerto, mas parece ser isso o que pretende fazer o assessor especial do Palácio do Planalto para questões internacionais, Celso Amorim. Na última terça-feira, ele declarou que a fala de Lula “sacudiu o mundo e desencadeou um movimento de emoções” que pode ajudar a solucionar o conflito em Gaza.

Bruno Boghossian - Barulho internacional

Folha de S. Paulo

Palavras de Lula não conquistam casas no tabuleiro da guerra, e oposição se resume a reações desonestas e um 'perdido de impeachment'

Lula faz sua diplomacia como o político que é. Numa mesma entrevista, revestiu-se de cautela ao reclamar do que chamou de pré-julgamento do governo Vladimir Putin pela morte do opositor Alexei Navalni, escapuliu de uma pergunta sobre o cerco de Nicolás Maduro à ONU na Venezuela e citou o Holocausto ao criticar a matança em Gaza.

Presidentes têm uma latitude que é vedada aos diplomatas. Costumam ser ideologicamente seletivos em comentários sobre parceiros e adversários, dispensam coerência em posicionamentos públicos, surfam nas ondas de suas bases políticas e exageram no barulho para ganhar atenção em debates internacionais.

Ruy Castro - Debaixo de vara

Folha de S. Paulo

E não é que, quando Bolsonaro terá de desembuchar, Lula roubou-lhe as manchetes com uma frase?

Todos conhecemos a expressão "debaixo de vara". Já a vimos ser aplicada a garotos rebeldes cujos pais, esgotadas as tentativas racionais para sua regeneração, viam-se obrigados a adotar medida drástica —tomar o malandro pela orelha e levá-lo à força até o castigo. A orelha em chamas deveria representar o opróbrio, a vergonha de estar passando por aquilo. Era um privilégio da autoridade, da qual o "debaixo de vara" era um símbolo, reminiscente de um tempo em que a vara de marmelo, flexível e impenitente como um chicote, era um cruel instrumento de punição.

Maria Hermínia Tavares* - A bússola da política externa está avariada

Folha de S. Paulo

Brasil ainda é país intermediário, mas as circunstâncias externas vêm mudando para valer

No campo internacional, o Brasil joga no time dos intermediários. São países dotados de peso regional e alguma capacidade de influir nos assuntos globais, desde que de forma coordenada. Organizam coalizões, negociam conflitos e figuram entre os grandes defensores das instituições multilaterais­ –que lhes oferecem condições melhores para lidar com as grandes potências.

Nesse figurino, nossa política externa soube aproveitar, décadas a fio, as possibilidades abertas pelo porte do país e os seus recursos de poder. Para tanto, arrimou-se numa diplomacia profissional sóbria nos gestos, consciente dos seus limites, atenta às oportunidades e, sobretudo, firme na defesa da autonomia em face das nações mais poderosas.

William Waack – O Brasil e a anarquia

O Estado de S. Paulo

O Brasil tem grandes vantagens no embate geopolítico, não precisa buscar conflitos

Abriga desnecessária com Israel estragou a festa de presidir o G-20, mas é provável que o presidente considere que “avançou”. Faz sentido dentro da visão de mundo que orienta sua política externa personalíssima, segundo a qual a hegemonia americana explica pobreza, desigualdade, injustiças, guerras (como a de Gaza) e assim por diante, incluindo a Lava Jato.

Nessa ordem das coisas, Israel é visto como preposto de Washington, e suas ações poderiam ser inibidas se os americanos quisessem. Como comprovação está aí mais um veto dos EUA a uma resolução de cessar-fogo em Gaza no Conselho de Segurança da ONU. Cuja reforma, repete Lula, traria mais “governança” ao mundo e incluiria mais “pobres”.

Eugênio Bucci* - A foto sem fato

O Estado de S. Paulo

Somos a civilização da falsificação da imagem que interpretava os fatos. Um milhão de fotos vale mais que uma palavra de honra. E como vende. E como funciona

A credibilidade da fotografia entrou numa espécie de fadiga do material. Não há mais como não duvidar da autoridade daquela imagem realista que se abria diante dos nossos olhos como se fosse a prova definitiva de um acontecimento. Uma foto, muitas vezes, é um embuste.

Tempos atrás, quando as câmeras ainda se valiam de filmes para registrar um instante, o negativo era reverenciado como se fosse a verdade em pessoa. Acreditava-se que naquele pequeno rolo de triacetato de celulose estavam impressos fragmentos genuínos da História, um documento tão confiável quanto um caco de cerâmica de civilizações extintas, um manuscrito autêntico de um escritor célebre, um dente de dinossauro. Hoje, a conversa mudou. Estão aí as evidências escarradas de que as fotografias mentem.

José Serra - Gasto público: cortes e eficiência

O Estado de S. Paulo

Adoção no Brasil de um processo sistemático e transparente de revisão de gasto conversaria muito bem com o novo arcabouço fiscal e as regras da LRF

Desde a crise do endividamento brasileiro, nos anos 80 do século passado, a necessidade de ajuste das contas públicas aparece como uma recorrência no debate econômico. A expressão “corte de gastos” talvez seja uma das mais lidas no noticiário destes 40 anos.

É lógico que os cortes, por vezes, são necessários para que se encontre uma posição fiscal percebida como sustentável pelos agentes econômicos. O problema principal é que nosso país é excessivamente desigual e desprovido de infraestrutura, o que torna as demandas sociais sobre a máquina pública múltiplas e inescapáveis, sob a perspectiva de um país civilizado e solidário. De outro lado, há segmentos importantes de nossa economia que vivem da interação com o Estado, tanto como fornecedores de bens e serviços como beneficiários de recursos públicos. Este contexto de pressões, legítimas e ilegítimas, tende a levar as autoridades a optar por cortes lineares, especialmente em investimentos públicos, justamente para fugir às pressões setoriais e de interesses específicos.

Luiz Carlos Azedo - Werneck Vianna, intérprete do Brasil contemporâneo

Correio Braziliense

Difusor do pensamento gramsciano no Brasil, produziu ensaios que servem de referência para o estudo do liberalismo, do Judiciário e da nossa modernização conservadora

O sociólogo carioca Luiz Jorge Werneck Vianna faleceu, nesta quarta-feira, aos 85 anos. Fez parte de uma geração de artistas e intelectuais que formou o pensamento crítico da esquerda brasileira nas décadas de 1960, 1970 e 1980, entre os quais, destacam-se Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Joaquim Pedro, Walter Lima Jr., Zelito Viana, Luiz Carlos Barreto, Glauber Rocha, Leon Hirszman, Ferreira Gullar, Leon Amoedo, Tereza Aragão, Zuenir Ventura, Milton Temer, Norma Pereira Rego, Leandro Konder, Darwin Brandão, Marilia Kranz, Ziraldo, Jaguar, Albino Pinheiro, Ferdy Carneiro, Hélio Oiticica e Hugo Bidet, Hugo Carvana, Paulo Góes, Vergara, Carlinhos Oliveira, Zózimo Amaral, Tom Jobim, Carlos Lira, Vinicius do Moraes e Oduvaldo Viana Filho.

Residentes no Rio de Janeiro, em sua maioria, formavam a chamada República de Ipanema. Apesar da influência do antigo PCB no meio cultural carioca, muitos não eram comunistas e tinham profundas divergências com os militantes do setor cultural do velho Partidão, do qual Werneck fez parte. Com raízes familiares na aristocracia cafeeira fluminense, Werneck Vianna foi criado em Ipanema e estudou nos melhores colégios da Zona Sul carioca, mas teve trajetória rebelde, influenciado por autores como Monteiro Lobato, Eça de Queiroz, Fiódor Dostoiévski e Miguel de Cervantes.

Morre aos 85 anos Luiz Werneck Vianna, referência na sociologia brasileira

Folha de S. Paulo

Referência nas ciências sociais do Brasil, acadêmico foi opositor da ditadura e um dos críticos iniciais da Lava Jato

SÃO PAULO e RIO DE JANEIRO - Morreu nesta quarta-feira (21) aos 85 anos Luiz Werneck Vianna, professor e ex-presidente da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) e referência na sociologia brasileira.

O acadêmico foi autor de livros como "Liberalismo e Sindicato no Brasil" (1976), "Esquerda Brasileira e a Tradição Republicana" (2006) e a "A Judicialização da Política e das Relações Sociais no Brasil" (1999). Foi mestre em ciência política pelo Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e doutor em sociologia pela USP.

Também era graduado em direito e foi advogado de presos políticos durante a ditadura militar. Integrante do Partido Comunista Brasileiro nos anos 1960, o sociólogo teve que ir para a clandestinidade durante o período autoritário e passou um período exilado no Chile.

Vianna foi criado no bairro de Ipanema, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, e frequentou colégios de elite, mas dizia que sua família era de "de classe média, de recursos não abundantes, também não muito escassos".

Em depoimento a centro de pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas), falou sobre a aproximação no auge da ditadura de intelectuais com o MDB, que incluía a atuação de Fernando Henrique Cardoso, também acadêmico.

"Fizemos esse programa, que foi editado um livrinho vermelho: era o programa do MDB de 74 e fomos a uma reunião em Brasília", disse ele.

Morre o sociólogo Luiz Werneck Vianna: Um pensador fundamental para entender o Brasil

Luis Felipe Azevedo / O Globo

Autor de obras importantes da Sociologia brasileira, se exilou durante a ditadura e ajudou a redigir o programa político do MDB  

Morreu nesta quarta-feira o cientista social Luiz Werneck Vianna, aos 86 anos, no Rio de Janeiro. O intelectual era professor da PUC-Rio e publicou livros considerados fundamentais para a sociologia brasileira, como “Liberalismo e sindicato no Brasil” (1976) e “A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil” (1997).

O cientista social estava internado no Hospital Copa D'Or. Em nota, a unidade de saúde lamentou a morte do paciente.

"O Hospital Copa D’Or lamenta profundamente a morte do paciente Luiz Jorge Werneck Vianna na tarde desta quarta-feira (21). O hospital se solidariza com a família e amigos por essa irreparável perda, também informa que não tem autorização para divulgar mais detalhes."

Nascido em 1938 no Rio, Vianna foi criado no bairro de Ipanema, na zona sul da cidade. A trajetória em escolas de elite contou com percalços. Ele chegou a ser expulso de uma instituição devido à denúncia de pais por receio de possível “influência comunista”.

Amante da literatura, o afinco por livros era observado desde a juventude. Monteiro Lobato, Eça de Queiroz, Fiódor Dostoiévski e Miguel de Cervantes são exemplos de autores que influenciaram a inclinação de Vianna pelos valores humanistas que perpassam sua carreira.

Ele ingressou na faculdade de Direito da Universidade do Estado da Guanabara (atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ UERJ) em 1958. Dois anos depois, Vianna passou a fazer parte do Partido Comunista Brasileiro (PCB).