Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Poema – Graziela Melo
Pardos
dias
que
se vão
ao
longo
do
meu viver,
o
entra
e
sai
da
agonia,
olhando
a
casa
vazia.
desde
a
noite
ao
sol nascer!
Os
sons
longínquos
da
alma,
exíguos
e
já
rarefeitos,
se
assemelham
aos
tristes
sinos,
que
badalam
na
solidão
quando
o sol
já
vai fugindo
e
o céu
se
avermelha
antes
da
escuridão
Graziela Melo,12/12/09
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
OPINIÃO DO DIA – Cícero: República
“É, pois, a República
coisa do povo, considerando tal, não todos os homens de qualquer modo
congregados, mas a reunião que tem seu fundamento no consentimento jurídico e
na utilidade comum. Pois bem: a primeira causa desta agregação de uns homens a
outros é menos a sua debilidade do que
um certo instinto de sociabilidade em todos inato; a espécie humana não nasceu para o isolamento e para a vida errante, mas com uma disposição
que, mesmo na abundância de todos os bens
a leva a procurar o apoio comum.”
Marco Túlio
Cícero (3 de janeiro
de 106 a.C.
- 7 de dezembro
de 43 a.C.),
foi um filósofo,
orador,
escritor,
advogado
e político
romano. Da República, p. 147. Os pensadores,
Editora Nova Cultural, S. Paulo, 1988.
Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil
O GLOBO
Supremo só terá novo ministro após eleições
Ibope: Haddad tem 18% e Serra, 17% em SP
Dilma quer pacto anticrise
Senado aprova texto criticado por Dilma
FOLHA DE S. PAULO
Dilma ataca os EUA e diz que defesa da indústria é legítima
Indicado ao STF afirma que não vai paralisar mensalão
Condenada pelo Supremo diz que a vida é 'dura demais'
Na briga pelo 2º turno, Haddad tem 18% e Serra, 17%, diz Ibope
Por tributo menor, carro precisará de mais peça nacional
O ESTADO DE S. PAULO
Dilma diz na ONU que ganho com protecionismo é espúrio
Pesquisa aponta Haddad com 18% e Serra com 17%
Teori mantém dúvida se julgará mensalão
Senado aprova MP do Código Florestal
Papéis da ONU ligam o Brasil a Operação Condor
VALOR ECONÔMICO
Grandes bancos enfrentam desafio do ajuste de contas
Governo vai agir para conter o dólar
Muda regra para preço de transferência
Dinheiro do petróleo não beneficia saúde
Grupo de Eike tem 'fôlego' para dois anos
BRASIL ECONÔMICO
Dilma na ONU: a “legítima defesa comercial” não é protecionismo
Após Bradesco, Itaú baixa juros do cartão de crédito
Montadoras só terão IPI menor se reduzirem o consumo dos carros
CORREIO BRAZILIENSE
Senadores dão calote e quem vai pagar é você
Candidata a vereadora de Valparaíso é fuzilada
Dilma faz críticas a países ricos e condena islamofobia
O polêmico voto de Teori Zavascki
Malha fina pega 3,6 mil servidores da Câmara
ESTADO DE MINAS
Amigos, amigos. Negócios à parte
Itaú também cortará juros do cartão
Supremo: Novo ministro só assumirá após eleições
Menos distante: Desigualdade caiu na década do emprego
ZERO HORA (RS)
Avanços na ofensiva pelo juro “civilizado” no cartão de crédito
Justiça brasileira proíbe filme que ofende Maomé
Pedrinho e Ted na berlinda
JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Debate em clima acirrado
Senado aprova o projeto do Código Florestal
Protecionismo é criticado por Dilma
Supremo só terá novo ministro após eleições
Ibope: Haddad tem 18% e Serra, 17% em SP
Dilma quer pacto anticrise
Senado aprova texto criticado por Dilma
FOLHA DE S. PAULO
Dilma ataca os EUA e diz que defesa da indústria é legítima
Indicado ao STF afirma que não vai paralisar mensalão
Condenada pelo Supremo diz que a vida é 'dura demais'
Na briga pelo 2º turno, Haddad tem 18% e Serra, 17%, diz Ibope
Por tributo menor, carro precisará de mais peça nacional
O ESTADO DE S. PAULO
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Muda regra para preço de transferência
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Grupo de Eike tem 'fôlego' para dois anos
BRASIL ECONÔMICO
Dilma na ONU: a “legítima defesa comercial” não é protecionismo
Após Bradesco, Itaú baixa juros do cartão de crédito
Montadoras só terão IPI menor se reduzirem o consumo dos carros
CORREIO BRAZILIENSE
Senadores dão calote e quem vai pagar é você
Candidata a vereadora de Valparaíso é fuzilada
Dilma faz críticas a países ricos e condena islamofobia
O polêmico voto de Teori Zavascki
Malha fina pega 3,6 mil servidores da Câmara
ESTADO DE MINAS
Amigos, amigos. Negócios à parte
Itaú também cortará juros do cartão
Supremo: Novo ministro só assumirá após eleições
Menos distante: Desigualdade caiu na década do emprego
ZERO HORA (RS)
Avanços na ofensiva pelo juro “civilizado” no cartão de crédito
Justiça brasileira proíbe filme que ofende Maomé
Pedrinho e Ted na berlinda
JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Debate em clima acirrado
Senado aprova o projeto do Código Florestal
Protecionismo é criticado por Dilma
Comissão de Ética não deve ser submissa ao Planalto, diz Pertence
Colegiado deve atender interesses do Estado, afirma ex-presidente
Breno Costa
BRASÍLIA - Um dia após renunciar ao comando da Comissão de Ética Pública da
Presidência da República por estar insatisfeito com mudanças na composição do
grupo, Sepúlveda Pertence disse se preocupar com a possibilidade de o colegiado
se vincular ao governo, e não ao Estado.
"Tenho [receio], mas resta confiar nos que lá estão e nos que virão,
que tenham a compreensão do que significa a Comissão de Ética", afirmou.
Sua saída foi motivada por a presidente Dilma Rousseff, de maneira inédita,
não ter reconduzido para um novo mandato de três anos dois conselheiros da
comissão indicados por ele: Marília Muricy e Fábio Coutinho.
Ambos foram tirados da comissão após tomarem decisões contrárias aos
interesses do Planalto.
Um relatório de Marília Muricy levou, em dezembro passado, à recomendação
por parte do colegiado de demitir o então ministro Carlos Lupi (Trabalho),
envolvido em uma série de suspeitas.
Fábio Coutinho propôs advertir outro ministro, Fernando Pimentel
(Desenvolvimento), por sua atuação como consultor em 2009 e 2010.
A renúncia "foi a única forma que eu tinha de manifestar minha
solidariedade aos dois companheiros", afirmou Pertence.
Ele negou que tenha contribuído para sua saída a decisão de Dilma de não
indicar para o Tribunal Superior Eleitoral um filho seu, em 2011. A informação
foi publicada ontem pelo Painel, da Folha.
Dizendo que seria inclusive "intempestivo" relacionar esse fato
com sua renúncia, afirmou que o filho, Evandro Pertence, foi colocado em lista
de indicados para o tribunal, mas que ele mesmo entendeu que só iria postular a
vaga quando fosse o mais antigo na lista.
Ao manifestar preocupação com o rumo da comissão, Pertence fez coro a receio
expresso ontem, em entrevista à Folha, por Marília Muricy, professora de
direito na Universidade Federal da Bahia.
"A sociedade deve continuar exercendo seu papel de estar atenta aos
trabalhos da comissão para que, em nenhum momento, a comissão se torne uma
comissão de governo. Senão não adianta, não tem razão de existir."
De acordo com Muricy, "não pode provocar estranheza o fato de que um
membro da comissão indique exoneração de ministro".
Pelo segundo dia seguido, a Presidência da República não se pronunciou sobre
a renúncia de Pertence.
Fonte: Folha de S. Paulo
Pertence diz que Comissão de Ética deveria investigar mais
Ex-ministro, que deixou a presidência do colegiado, defende ainda a extinção
da recondução e mandato fixo para os conselheiros
Débora Bergamasco, Tânia Monteiro
BRASÍLIA - Após renunciar ao cargo de presidente da Comissão de Ética Pública
ao ver duas de suas indicações serem "rifadas" pela presidente Dilma
Rousseff, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence quer
mais poderes de investigação para a Comissão e também que seja extinta a
recondução dos conselheiros, optando-se por um mandato fixo mais longo que os
atuais seis anos para evitar retaliações.
"O episódio que eu acabo de viver me sugere que não haja recondução e
que se opte por um mandato mais longo porque a recondução pode gerar uma forma
de retaliação por causa de posições assumidas, por parte das autoridades
governamentais. Isso é tudo o que não pode haver para que a comissão possa
trabalhar."
Além dessas mudanças regimentais, Pertence atribui a dificuldade de
andamento dos trabalhos à falta de poder de investigação da comissão:
"Nossos poderes de investigação são praticamente zero. Não pretendemos
concorrer nem com a Corregedoria da União, nem com a Polícia Federal. Mas na
maior parte das vezes tomamos iniciativa por denúncias na imprensa. Não queremos
condenar ninguém, mas o que fazemos hoje é frequentemente dar à autoridade a
oportunidade de se explicar".
O ex-ministro fez um mea-culpa sobre a possível irritação da presidente
Dilma com a conselheira Marília Muricy - uma das não reconduzidas - na época em
que ela recomendou a exoneração de Carlos Lupi, então à frente do Ministério do
Trabalho. "Me disseram que a presidenta ficou irritada porque soube da
decisão pela imprensa. Foi um problema burocrático que fez com que o ofício
assinado por mim comunicando a decisão não chegasse às mãos de Dilma na hora
certa", disse Pertence.
O ex-ministro do STF negou que a renúncia esteja associada à recusa do
Planalto em indicar seu filho, o advogado Evandro Pertence, para uma vaga de
ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Seria intempestivo da
minha parte, pois o caso ocorreu em outubro de 2011", disse.
"Independência". Os três novos integrantes do grupo assumiram seus
cargos certos de que terão independência para exercer seu trabalho.
"Independência já é uma marca da Comissão de Ética e temos muito trabalho
pela frente", disse ontem Mauro Azevedo Menezes, que, na primeira reunião
realizada na segunda-feira, foi designado relator do polêmico caso de um dos
ministros mais próximo de Dilma: Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, que
enfrenta denúncias sobre irregularidades em consultorias prestadas por ele, em
Minas Gerais. "Me sinto completamente à vontade para apreciar qualquer
caso. Para mim, não há distinção entre este ou aquele ministro, esta ou aquela
autoridade", prosseguiu ele, ao comentar que não sofreu nenhum
questionamento na conversa que manteve com o chefe de gabinete da presidente
Dilma, Gilles Azevedo, quando foi convidado para o cargo.
Antônio Modesto da Silveira, outro recém-incorporado à comissão, por sua
vez, comentou que "não vê nenhum constrangimento" para o grupo no
fato de Pertence ter renunciado ao cargo, reclamando pela não recondução de
seus indicados. "Todas as dificuldades podem ser resolvidas com um bom
diálogo", comentou, acentuando que não acredita em nenhum tipo de
interferência sobre a comissão.
Fonte: O Estado de S. Paulo
Ética: ex-conselheira afirma que trabalhou a favor da República
Marília Muricy, não reconduzida ao cargo, diz que Comissão não foi feita
para agradar ao governo
Regina Bochicchio
SALVADOR Sem querer emitir juízo de valor sobre a decisão da presidente
Dilma Rousseff de não reconduzi-la ao posto de conselheira da Comissão de Ética
da Presidência da República, Marília Muricy, ainda assim, deu seu recado:
- Se eu acreditar que o motivo da minha não recondução foi o fato de haver
incomodado o governo, ao indicar a exoneração do ex-ministro (Carlos Lupi),
tenho que concluir que aí está uma contradição com a própria função do Conselho
de Ética - disse ontem.
Ano passado, Marília elaborou relatório sugerindo a demissão do então
ministro do Trabalho, que era acusado de desvio de verbas por meio de ONGs. O
relatório vazou para a imprensa e, dias depois, Lupi pediu exoneração. A
decisão de Marília teria contrariado a presidente.
- Com isso (a não recondução), se for verdade o que diz a imprensa, se
entende que, se desagradar em certo momento o governo, não se pode servir a
esse governo. É um gesto político que eu, pessoalmente, não por mim , avalio
como um certo prejuízo institucional.
Marília disse ainda que a conjuntura política não deve interferir na
autonomia da comissão:
- A Comissão de Ética foi criada para atender aos interesses do Estado e da
República. Uma coisa é estrutura do Estado, outra coisa são interesses
conjunturais do governo. Parece que as pessoas confundem isso. Não podemos na
comissão trabalhar pró ou contra o governo. Mas sim pró-República.
Ela defendeu sua decisão de pedir a demissão do ministro:
-Tudo foi feito de acordo com o decreto. Isso parece que surpreende a quem
desconhece as regras da democracia.
Fonte: O Globo
O código de ética da presidente
A Comissão de Ética Pública
da Presidência da República tem poucos poderes. Mas, mesmo limitadíssimos, são
suficientes para incomodar o governo do partido do mensalão. Ética, na gestão
do PT, não é coisa que se pratique dentro de casa; é só da boca e da porta para
fora.
O pouco caso que o partido
de Lula, Dilma Rousseff, José Dirceu e sua quadrilha de mensaleiros faz de
princípios e valores que a sociedade brasileira tanto preza ficou mais uma vez
evidenciado com a atitude da presidente da República perante a Comissão de Ética
Pública. Ali, na ótica petista, só pode ter assento quem não incomoda o
governo.
No início do mês, Dilma
indicou três novos integrantes para compor a comissão, que, esvaziada, há dois
meses não se reunia por falta de quórum. Na nomeação, aproveitou para limar do
órgão dois integrantes que lhe causaram dissabores: a professora Marília Muricy
e o advogado e escritor Fábio Coutinho. Embora pudessem ser reconduzidos para
mais três anos na comissão, foram preteridos por Dilma.
O pecado de Marília e
Coutinho foi ter recomendado reprimendas, respectivamente, aos ministros Carlos
Lupi, então no Trabalho, e Fernando Pimentel, ainda no Desenvolvimento. Dilma
não gostou nem um pouco de ver seus auxiliares virarem alvo da comissão, cuja
missão é "zelar pelo cumprimento do Código de Conduta da Alta
Administração Federal" e "inspirar o respeito no serviço
público".
Insatisfeito com a atitude
de Dilma, ontem o presidente da comissão, Sepúlveda Pertence, renunciou ao
cargo. Ele esperou dar posse aos novos integrantes do órgão para se afastar. O
ex-ministro do Supremo Tribunal Federal não escondeu a irritação com a não
recondução de Marília e Coutinho: "Lamento, devo ser sincero, a não
recondução dos dois membros que eu havia indicado para a comissão e que a honraram
e a dignificaram", disse.
Marília havia recomendado,
em novembro do ano passado, a demissão do então ministro do Trabalho. Carlos
Lupi estava enredado numa "enxurrada de denúncias", como ela
descreveu à época, das quais não conseguia se desvencilhar e muito menos
explicar. Iam desde convênios suspeitos do ministério beneficiando entidades
ligadas ao PDT à acumulação de cargos públicos por Lupi na Câmara dos
Deputados, em Brasília, e na Câmara Municipal do Rio.
Naquela altura, Lupi era o
sexto ministro de Dilma na corda bamba em razão de uma série de suspeitasde corrupção. A presidente o
segurava no cargo havia um mês, quando o relatório de Marília para a Comissão
de Ética Pública recomendou-lhe a demissão. Lupi caiu quatro dias depois. (O
pedetista, não custa lembrar, é um dos signatários da carta-desespero divulgada
na semana passada em defesa do ex-presidente Lula.)
Foi com episódios desta
natureza que Dilma construiu seu fantasioso, mas conveniente, figurino de
"faxineira ética" de um governo que, apenas em seu primeiro ano de
existência, teve seis ministros afastados por envolvimento em corrupção e irregularidades.
Já Fábio Coutinho nem ousou
ir tão longe em seus atos na comissão. Coube a ele analisar o caso das polpudas
e inexplicáveis consultorias prestadas por Fernando Pimentel à Federação das
Indústrias de Minas Gerais, que lhe renderam R$ 2 milhões em dois anos.
Em junho passado, Coutinho
propôs a aplicação de advertência ao ministro, por considerar que seu
comportamento evidenciou conflito de interesses. A comissão optou por pedir
mais explicações a Pimentel e ainda não deliberou a respeito, passado quase um
ano do surgimento da denúncia. Recentemente, Coutinho voltou a incomodar ao
propôr verificar a legalidade das participações de autoridades em diversos
conselhos de estatais.
A decisão de mexer na
Comissão de Ética Pública já estava selada desde fevereiro, quando foi aberto
processo para investigar Pimentel. Na ocasião, Dilma, contrariada, manifestou a
intenção de mexer em cinco dos sete integrantes. "A presidente entende que
a comissão está 'extrapolando' em suas funções ao tomar decisões contra seus
ministros, na avaliação dela apenas com base em denúncias de jornais, sem uma
apuração concreta", informou à época O Estado de S.Paulo.
Até os episódios de Lupi e
Pimentel, a comissão tivera atuação ainda mais tímida. Nos casos dos
ex-ministros Antonio Palocci, que também enriquecera prestando consultorias, e
Erenice Guerra, que transformara a Casa Civil na casa da sogra sob as barbas de
Lula e de Dilma, o órgão limitara-se a aplicar-lhes mera censura ética - única
cabível, uma vez que já haviam deixado seus cargos.
Com as atitudes agora
tomadas por Dilma Rousseff, a gestão petista reduz efetivamente a pó a função
do órgão criado pelo governo tucano para zelar pela ética pública na
administração federal. Nada mais condizente com um governo cujo partido tem dez
importantes figuras sentadas no banco dos réus da mais alta corte de Justiça do
país respondendo pelo maior escândalo de corrupção de nossa história. Dúvida
não há: ética e PT não têm, mesmo, nada a ver.
Fonte: Instituto Teotônio
Vilela
Supremo só terá novo ministro após eleições
Oposição
temia que pedido de vista de Zavascki suspendesse julgamento
Em sabatina na CCJ do
Senado, indicado por Dilma diz que decisão sobre sua participação no mensalão
deve caber ao plenário do STF
Ao ser sabatinado na CCJ
do Senado, o ministro do STJ Teori Zavascki, indicado pela presidente Dilma
para o Supremo, evitou dar a certeza de que não participará do julgamento do
mensalão, como queriam a oposição e parlamentares independentes da base aliada.
Disse que a decisão deve caber ao colegiado do STF e comprometeu-se apenas a
não pedir vista. Às vésperas do julgamento de José Dirceu, ex-chefe da Casa
Civil, a resposta não convenceu os senadores: a sabatina foi suspensa e só será
retomada depois das eleições de 7 de outubro. No Planalto, assessores disseram
que Dilma não se incomodou, pois só teve pressa em indicar Zavascki para conter
pressões do PT.
Sabatina
de Zavascki é suspensa
Análise do indicado por Dilma ao STF será retomada somente após o primeiro
turno das eleições
André de Souza, Júnia Gama
BRASÍLIA A sabatina do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Teori
Zavascki - indicado pela presidente Dilma Rousseff para integrar o Supremo
Tribunal Federal (STF) - foi suspensa ontem na Comissão de Justiça e Cidadania
(CCJ) do Senado e será retomada apenas depois das eleições de 7 de outubro.
Senadores oposicionistas e independentes vinham reclamando da pressa do
Planalto em indicar o ministro e tentar aprovar sua indicação no Senado. O
temor era que, uma vez no Supremo, Zavascki pedisse vista e adiasse o
julgamento do mensalão às vésperas do item sobre o ex-chefe da Casa Civil José
Dirceu, acusado de corrupção ativa e formação de quadrilha.
Ontem, durante a sabatina, o ministro avisou que a decisão sobre participar do
julgamento do mensalão não é do ministro, mas do colegiado do STF. Ou seja,
quem tem que decidir se ele poderá participar ou não é o plenário:
- Quando se trata de um julgamento colegiado, não é um eventual juiz que
chega a um tribunal que vai determinar quando ou onde vai participar. Existem
regras. E essas regras são controladas pelo órgão colegiado.
Zavascki fez questão de elogiar a regra que veda a participação de juiz que
não assistiu a apresentação do relatório do processo ou perdeu a parte dos debates.
A apresentação do relatório da ação penal do mensalão ocorreu no início de
agosto e ele não estava presente. O ministro ressalvou, no entanto, que caso
venha a se considerar apto a votar, não poderia pedir vista.
- A regra diz que, em princípio, juiz que não ouviu relatório e não
participou dos debates não participa de julgamento. E parece que essa regra é
correta, em nome ao princípio da ampla defesa. Tem uma ressalva: salvo se o
juiz se der por habilitado. Dar-se por habilitado significa estar em condições
de votar imediatamente. Significa uma contradição dar-se por habilitado e pedir
vista - disse ele aos senadores.
Porta aberta para análise de embargos
Mas Zavascki não fechou todas as portas, deixando aberta a possibilidade de
analisar recursos ou embargos ao julgamento do mensalão, por exemplo. Por isso,
alegou que não poderia falar diretamente sobre o processo do mensalão, porque a
lei orgânica da magistratura impede que um juiz se pronuncie sobre um caso
ainda em andamento.
- Nesse caso que está em andamento no STF eu não tenho ideia do que terei
que decidir, se for decidir. De modo que eu não acho que eu possa ou deva me
pronunciar sobre esse caso que está em curso no STF - disse.
O ministro não escondeu o desconforto sobre os questionamentos a respeito de
sua participação no julgamento do mensalão.
- Espero ter dado os devidos esclarecimentos sobre essa questão, que me
deixa pessoalmente muito desconfortável - afirmou, de olhos marejados.
Zavascki se manifestou sobre outro ponto polêmico que se reflete no
julgamento do mensalão. Afirmou que, em sua opinião, a perda de mandato
parlamentar para réus que forem condenados pela Corte não é automática. Hoje,
existe a dúvida se a decisão do Judiciário precisa ou não ser chancelada pela
Câmara. Há três deputados que são réus no mensalão: Valdemar Costa Neto
(PR-SP), João Paulo Cunha (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT).
Ao término da sessão, que foi interrompida pelo início da ordem do dia, a
maioria dos parlamentares entendeu que não foi possível concluir se o ministro
pretende ou não participar do julgamento do mensalão.
- Ele não concluiu nem em resposta ao segundo inquisidor. Responder ou não é
um direito dele. Votar contra ou a favor é um direito do senador. Se não se
sentir satisfeito com a resposta, pode votar contra. O voto é secreto - afirmou
o presidente da CCJ, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE).
O líder do PSDB, Alvaro Dias (PR), foi um dos poucos que interpretou a fala
de Zavascki:
- Ele deixou implícito que é impossível ter conhecimento pleno dos fatos sem
participar de todos os procedimentos durante o julgamento. Portanto, para um
bom entendedor, ficou claro que o ministro está impedido de participar e que só
participaria se houvesse uma decisão do pleno do Supremo.
Tenso, Teori chegou a se emocionar durante a sabatina, quando questionado
sobre sua suspeição para atuar no julgamento do mensalão. Perguntado sobre como
se sentiu a respeito das insinuações de que não estaria habilitado para
participar do julgamento por motivos políticos, limitou-se a dizer:
- Vocês viram o que aconteceu, né?
Zavascki minimiza valor de eventual voto
Ainda durante a sabatina, Zavascki tentou minimizar a importância de um
eventual voto dele no mensalão. Sem mencionar o caso, ele descartou a hipótese
de que o voto de um décimo primeiro ministro (o STF conta com dez ministros
atualmente) possa desempatar um processo penal. Segundo ele, em empate, deve
prevalecer a opção mais vantajosa ao réu, ou seja, a absolvição. Assim, um voto
a mais somente confirmaria a absolvição ou, pelo contrário, condenaria o réu. O
Supremo, no entanto, ainda não decidiu que mecanismo será usado caso haja algum
empate na ação do mensalão.
Zavascki também falou sobre o parecer favorável que deu, em 2010, como
ministro do STJ, à absolvição do petista Antonio Palocci, em processo por
improbidade administrativa, relativo à gestão na prefeitura de Ribeirão Preto,
no interior de São Paulo. A decisão da 1ª Turma do STJ foi unânime e abriu
caminho para que Palocci se tornasse ministro da Casa Civil, no governo Dilma.
Em seu voto, Zavascki disse que não se pode confundir ilegalidade com
improbidade:
- A jurisprudência que foi aplicada naquele caso é o entendimento pacífico
do Superior Tribunal de Justiça em muitos casos semelhantes. Nós não podemos
suspender direitos políticos de um prefeito ou de um governador porque teve
problema de composição de uma comissão de licitação, por má interpretação da
lei. Temos aí uma ilegalidade, mas não um ato que importe sanção tão grave como
é a perda do cargo.
Durante a sabatina, por 14 votos a seis, um requerimento do senador Aloysio
Nunes Ferreira (PSDB-SP) pedindo o adiamento da sabatina foi derrotado. Antes
do começo da sabatina, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), negou que
houvesse pressa ou pressão para aprovar o nome de Teori:
- Não há pressa. Não há decisão. Ninguém (do governo) falou comigo para que
tomássemos essa decisão de apressar a votação do ministro com outros objetivos.
Está seguindo normalmente, conforme manda o regimento.
Fonte: O Globo
Dilma apressou escolha de Teori Zavascki para diminuir pressão do PT
Adiamento não incomoda ao Planalto
Júnia Gama
BRASÍLIA - Na conversa que teve com
Teori Zavascki para convidá-lo ao Supremo Tribunal Federal (STF), a presidente
Dilma Rousseff acertou com o ministro que ele não votaria na parte principal do
julgamento do mensalão e tampouco participaria do cálculo das penas. De acordo
com assessores do Palácio do Planalto, a pressa da presidente foi para indicar
logo o ministro e esvaziar pressões políticas, principalmente vindas do PT, que
pretendia emplacar um nome simpático aos réus do mensalão na vaga deixada por
Cezar Peluso.
Com a diminuição da pressão desde que Zavascki foi indicado, a avaliação no
governo é de que não há pressa para que ele assuma sua cadeira no STF. Por esse
motivo, o governo não se incomodou ontem com o adiamento do fim da sabatina
para depois das eleições.
Segundo pessoas próximas à presidente, Dilma e Zavascki concordaram que a
abstenção no julgamento seria necessária para blindá-la de acusações de que
teria colocado o ministro no Supremo com o objetivo de interferir no resultado.
O acordo não impediria, no entanto, que Zavascki participe de deliberações
sobre recursos ou embargos, na parte final do processo. Para isso, avalia o Planalto,
não há problema.
A fala do ministro na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ontem, foi
interpretada por assessores do Planalto como uma maneira de deixar aberta a
possibilidade de participar no futuro, mas sinalizando que, sem ter acompanhado
o relatório e os debates, o correto seria não deliberar neste momento no
processo que analisa as acusações contra 37 réus.
Na base de apoio ao governo, prevaleceu o corpo mole para levar adiante a
sabatina de Zavascki. Desde a manhã de ontem, o clima era de pouca pressa, como
resumiu um cacique peemedebista:
- Realmente, a indicação de Zavascki foi muito rápida, diferentemente da de
outros ministros, que levaram alguns meses para serem escolhidos. Mas também
não vejo urgência dele ser nomeado já. Isso pode ficar para depois das eleições
municipais.
O próprio líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), mostrou pouca
disposição em brigar para que a sabatina fosse concluída ainda ontem.
- Se a CCJ não terminar a sabatina e votar até as 16h, não deve ir para
plenário hoje (ontem). Mas não creio que isso seja um problema - disse, pouco
antes das 14h.
Quem aproveitou para tentar ganhar pontos com o governo foi o senador Renan
Calheiros (PMDB-AL). Segundo pessoas próximas ao parlamentar, ele teria se
engajado pessoalmente para que, em tempos de recesso branco, fosse ao menos
iniciada a análise da indicação de Zavascki pelo Senado. O gesto do senador,
que também se comprometeu a aprovar a medida provisória da energia elétrica,
seria mais uma maneira de angariar o apoio do Planalto para sua candidatura
para a presidência do Senado, no ano que vem.
Fonte: O Globo
Indicado ao STF afirma que não vai paralisar mensalão
Indicado para o
Supremo, Teori Zavascki afirmou em sabatina no Senado que caberá à corte
decidir sobre a participação dele no julgamento do mensalão.
Ele disse, porém, que
não pedirá vista do processo, caso seja aprovado como ministro e decida atuar
no julgamento. Sua sabatina foi interrompida e será retomada após as eleições.
Indicado para o STF
descarta intenção de adiar julgamento
Teori Zavascki diz a comissão do Senado que não pedirá vista do processo
Ele afirma que cabe ao tribunal definir sua participação no caso; conclusão
da sabatina ficou para outubro
BRASÍLIA - Indicado para o Supremo Tribunal Federal, o ministro Teori
Zavascki disse ontem no Senado que não tomará nenhuma iniciativa que represente
a paralisação do julgamento do mensalão.
Em sabatina na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), ele descartou que,
ao chegar à corte, vá pedir vista do processo, o que poderia adiar a conclusão
do caso para o ano que vem.
Aos senadores, Teori (pronuncia-se Teorí) não deixou claro se participará ou
não do julgamento, decisão que, segundo ele, cabe aos demais ministros do STF.
A sabatina foi interrompida e só será retomada na segunda semana de outubro.
Depois da CCJ, o nome do ministro ainda precisa ser aprovado no plenário da Casa.
Como ainda pode demorar para tomar posse após a aprovação, Teori talvez só
esteja apto a participar do julgamento do mensalão na fase de definição das
penas.
Com o argumento de que a agilidade na indicação de Teori, 64, tem o objetivo
de tumultuar o andamento do julgamento, a oposição tentou ontem adiar o início
da sessão da CCJ, sem sucesso.
O nome do ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) foi anunciado pela
presidente Dilma Rousseff apenas 11 dias após a vaga ser aberta com a
aposentadoria de Cezar Peluso.
Ao ser questionado sobre sua participação no julgamento do mensalão,
Zavascki se emocionou, ficando com os olhos marejados.
Disse que é o "primeiro interessado" em esclarecer a questão. Mas
afirmou que a decisão sobre sua participação não lhe cabia. "Quem decide
sobre a participação de um juiz é o órgão colegiado do qual ele vai fazer
parte."
Apesar da indefinição, ele descartou o chamado pedido de vista caso
participe do julgamento. Segundo ele, seria "incoerente" estar
habilitado para analisar a causa e, em seguida, pedir tempo para analisá-la.
Teori, que se aprovado completará o quórum de 11 ministros, também rebateu
as críticas de que sua entrada no STF poderá beneficiar réus do mensalão.
"O 11º voto jamais pode beneficiar o acusado. Porque o acusado está
beneficiado pelo empate. O 11º voto só pode prejudicar o acusado", disse
ele em referência à tese de que o empate favorece o réu.
A participação de Teori no julgamento não é consensual na corte. Pelo menos
dois ministros, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, avaliaram que o tribunal
tomará a decisão. Mas Ricardo Lewandowski afirmou que a decisão é do ministro.
"Esse julgamento foi tumultuado indevidamente e é preciso que haja
tranquilidade. Qualquer iniciativa de tumulto deve ser repudiada", disse
Mendes ontem. Questionado sobre o qual episódio teria sido indevido, o ministro
se limitou a responder: "Pesquise no Google".
Artigo do regimento do Supremo diz que não pode participar de julgamento um
ministro que não acompanhou a leitura do relatório e os debates, mas o
documento abre uma brecha para aqueles que se declarem "esclarecidos"
sobre a matéria.
A sabatina foi interrompida depois que apenas 5 dos 25 senadores inscritos
fizeram perguntas. Isso aconteceu devido ao início da sessão de votação no
plenário.
Não há novas sessões antes das eleições. "O Congresso não funciona
antes do dia 7 de outubro [1º turno das eleições]. Eu mesmo tenho dois comícios
amanhã", disse o presidente da CCJ, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Fonte: Folha de S. Paulo
Mendes critica nota de Dilma que contesta relator
Para ministro, depoimento da presidente "vale como os outros" e
não cabe à Corte "buscar a interpretação autêntica do depoente"
Mariângela Gallucci
BRASÍLIA - Em novo sinal da tensão que envolve o Planalto e o Supremo
Tribunal Federal por causa do julgamento do mensalão, o ministro Gilmar Mendes
criticou ontem a decisão da presidente Dilma Rousseff de divulgar uma nota
oficial, na sexta-feira, um dia depois de ter sido citada em sessão da Corte.
"O depoimento dela vale como todos os outros. Não é assim que se diz na
República?", afirmou Mendes.
O ministro questionou a reação da presidente após citação feita pelo relator
do caso, ministro Joaquim Barbosa. Para sustentar a tese de que houve compra de
votos no Congresso, o relator citou depoimento dado por Dilma à Justiça em
2009, quando era ministra-chefe da Casa Civil, no qual afirmou ter ficado
supresa com a rapidez na votação do marco regulatório do setor elétrico. No
início do governo Lula, Dilma ocupou a pasta de Minas e Energia.
A presidente emitiu uma nota de "esclarecimento" na sexta-feira,
sugerindo que suas afirmações foram tiradas de contexto. Na sessão do Supremo,
Barbosa defendeu a punição de réus políticos acusados de envolvimento no
esquema. No texto oficial, Dilma afirmou que eram necessários
"esclarecimentos" para eliminar quaisquer dúvidas sobre seu
depoimento e afirmou que as relações entre o Executivo e o Judiciário são
marcadas pelo "absoluto respeito".
Ontem, Mendes disse que o episódio "é apenas um acidente nesse
processo", depois de participar de uma sessão de julgamento nas turmas do
Supremo. "Imagine se, cada vez que um tribunal tiver de se debruçar sobre
depoimentos, tiver de buscar a interpretação autêntica do depoente. Imagina o
que vai representar isso", afirmou. "Vocês imaginam quantos depõem na
CPMI, inquéritos policiais, perante o juiz, e agora alguém diz que o que o
relator disse não é exatamente. Isso vai anular o julgamento?"
Em maio, o próprio Mendes foi protagonista de uma polêmica envolvendo o
julgamento. Na época, a revista Veja relatou um encontro entre ele e Lula no
escritório do ex-ministro Nelson Jobim, no qual o ex-presidente teria feito uma
oferta velada para evitar o início do julgamento do mensalão no período
eleitoral. Mendes confirmou o teor da reportagem; Lula negou.
Convivência. Alvo da resposta de Dilma, Barbosa evitou comentar a nota. Em
novembro, o relator do mensalão assume a presidência do STF e, provavelmente,
terá de se relacionar com mais frequência com Dilma. Ele substituirá Carlos
Ayres Britto, que terá de se aposentar compulsoriamente em novembro, ao
completar 70 anos.
Na nota divulgada na semana passada, Dilma destacou que, após a crise na
geração e transmissão de energia, em 2001 e 2002, o governo mandou para o
Congresso medidas provisórias para criar o marco regulatório do setor e
garantir o abastecimento de energia elétrica.
"Na sessão do STF, o senhor ministro Joaquim Barbosa destacou a
"surpresa" que manifestei no meu depoimento judicial com a agilidade
do processo legislativo sobre as MPs. Surpresa, conforme afirmei no depoimento
de 2009 e repito hoje, por termos conseguido uma rápida aprovação por parte de
todas as forças políticas, que compreenderam a gravidade do tema", disse a
presidente. "Como disse no meu depoimento, em função do funcionamento
equivocado do setor até então, ou se reformava ou o setor quebrava. E quando se
está em situações limites como esta, as coisas ficam muito urgentes e
claras."
Fonte: O Estado de S. Paulo
Ministro critica Dilma e aliados
Gilmar Mendes demonstra insatisfação com as notas divulgadas pela presidente
e por governistas sobre o julgamento
Helena Mader
Diante de críticas de partidos da base aliada ao julgamento do mensalão, o
ministro Gilmar Mendes saiu ontem em defesa da Corte e rebateu os argumentos de
que o Supremo estaria sendo pressionado a condenar políticos sem provas. Ele
também comentou a nota divulgada pela presidente Dilma Rousseff, em que ela
demonstrou insatisfação por ter sido citada pelo relator do caso, ministro
Joaquim Barbosa. Para Gilmar Mendes, não há politização no julgamento e as
votações seguem o trâmite normal do STF, com base em provas colhidas na
instrução.
A nota dos partidos, divulgada na última quinta-feira, foi assinada pelos
presidentes do PT, PSB, PMDB, PCdoB, PDT e PRB. No documento, eles repudiam uma
suposta tentativa de dirigentes do PSDB, DEM e PPS de "comprometer a honra
e a dignidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva". No fim da nota,
os representantes da base aliada comentam sobre o julgamento. "Quando
pressionam a mais alta Corte do país, o STF, estão preocupados em fazer da Ação
Penal 470 um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as
conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula."
Para o ministro Gilmar Mendes, "as pessoas que firmaram essa nota estão
distantes da realidade". Ele não gostou da insinuação de que o julgamento
conduzido pelos integrantes do STF foi politizado. "Vocês viram alguma
politização nesse julgamento? Vocês viram alguma partidarização?",
questionou Gilmar Mendes, em conversa com jornalistas na tarde de ontem. Para
ele, "basta ver as referências que fizeram a dados históricos, a 1954, a
1964" para constatar que os autores da nota estão equivocados.
O documento diz que a oposição "não hesita em golpear sempre que seus
interesses são contrariados". "Assim foi em 1954, quando inventaram
um mar de lama para afastar Getúlio Vargas. Assim foi em 1964, quando
derrubaram Jango para levar o país a 21 anos de ditadura", diz um trecho
da nota, questionado pelo ministro Gilmar Mendes.
Sobre a carta divulgada na última sexta-feira pela presidente Dilma, Gilmar
afirmou que o depoimento prestado por ela, quando ainda era ministra da Casa
Civil, não tem nenhum valor especial no processo. Depois que o ministro Joaquim
Barbosa citou o depoimento judicial de Dilma, a presidente veio a público para
explicar o contexto em que prestou as declarações. "Imagina se cada vez
que o tribunal se debruçar sobre depoimentos tiver que buscar a interpretação
autêntica do depoente? O que isso representaria?", questionou Gilmar
Mendes. Para ele, o depoimento prestado por Dilma como testemunha de defesa e
mencionado por Barbosa "é apenas um acidente nesse processo, não tem o
menor significado no contexto geral".
O ministro reconheceu que o caso do mensalão é extremamente difícil, mas
lembrou que existe uma vastidão de provas. "O depoimento dela (Dilma) vale
tanto quanto todos os outros", acrescentou Gilmar Mendes. "Agora isso
vai anular o julgamento? Diante da vastidão de provas existentes? É um caso
extremamente difícil, o que gera esse tipo de anomalia."
Fonte: Correio Braziliense
Após veredicto, Gurgel seguirá com investigação sobre mensalão
PGR apura irregularidades em convênio entre BMG e INSS; Lula é acusado de
favorecer banco
Vinicius Sassine
BRASÍLIA O fim da ação penal número 470, no plenário do Supremo Tribunal
Federal (STF), significará a conclusão de apenas uma etapa do julgamento do
mensalão. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse ontem que
pretende destravar outras frentes de investigação após o veredicto sobre os
réus julgados pelos ministros do STF. O término do julgamento está previsto
para o fim de outubro.
- Do contexto da ação penal 470 surgiram diversas outras ações, em São Paulo,
Minas Gerais e algumas coisas na Procuradoria-Geral da República. Assim que
terminar esse julgamento, haverá um esforço para dar andamento a essas ações -
disse Gurgel ao GLOBO, no intervalo da sessão plenária no Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP).
A denúncia central do mensalão resultou em outro inquérito que tramita no
próprio Supremo. O procedimento tem o número 2.474 e corre em segredo de
Justiça. Com 77 volumes, está na fase de investigação policial e ainda não
resultou em denúncia por parte do procurador-geral. O inquérito é um
desdobramento da ação penal 470, e foi aberto para apurar novos sacadores de
dinheiro das empresas de Marcos Valério, considerado o operador do mensalão.
O procedimento já tem cinco anos. Foi instaurado em 2007, a partir de cópia
integral do inquérito que resultou na ação penal em julgamento no STF. Além dos
novos saques nas contas de Valério, o inquérito 2.474 investiga supostas
irregularidades em convênio entre o Banco BMG e o Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS), com a participação da Empresa de Tecnologia e Informações da
Previdência (Dataprev), para a "operacionalização de crédito consignado a
beneficiários e pensionistas".
As mesmas suspeitas levaram o Ministério Público Federal em Brasília a acionar
na Justiça Federal, por improbidade administrativa, o ex-presidente Lula.
Segundo a denúncia do MP, de 2011, Lula favoreceu o BMG e buscou a
"autopromoção" quando enviou cartas a aposentados e pensionistas oferecendo
crédito consignado. O ex-ministro da Previdência Amir Lando também é réu no
processo.
Reportagem publicada pelo GLOBO no último dia 15 mostrou que a denúncia
principal do mensalão resultou em mais 45 processos que tramitam no próprio STF
(como é o caso do inquérito nº 2.474), na Justiça Federal no DF e em quatro
estados - Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo - e no
Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, em São Paulo. São mais 80 réus,
que ficaram fora da denúncia formulada pela PGR e que passaram a ser
investigados pelo MP em outras instâncias. Somados os 38 acusados que começaram
a ser julgados pelo STF em agosto, o mensalão tem 118 réus país afora, como
mostrou a reportagem.
Fonte: O Globo
Sindicatos em defesa de Lula
Paulo de Tarso Lyra
Os movimentos sociais e os sindicatos vão divulgar uma nota defendendo o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. A exemplo do documento divulgado na semana passada
pelos partidos da base aliada, a intenção é contrapor-se às acusações de que o
ex-presidente seria o verdadeiro chefe do esquema do mensalão. Para não
contaminar o debate eleitoral — e evitar que a oposição diga que o protesto
está ligado ao pífio desempenho dos candidatos governistas nas eleições
municipais —, o manifesto só será divulgado após o primeiro turno das eleições
de outubro.
Outro cuidado para não dar brechas às reclamações é evitar a pressa na
redação do documento. Segundo apurou o Correio, os articuladores do protesto
pretendem procurar o maior número possível de representantes dos movimentos
sociais e sindicais, para não repetir as falhas do texto dos partidos, que
deixou PR, PP e PTB de fora e ainda foi alvo de críticas por não ter sido
amplamente debatido no meio político.
A organização está sendo feita pelo ala do PT ligada aos movimentos sociais
e pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em 2005, quando o escândalo do
mensalão estourou e o ex-presidente Lula decidiu viajar pelo país para
defender-se das acusações que assolavam seu governo, a CUT foi a primeira
entidade a defender abertamente o petista. Criou um botom com a frase:
"Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo", gerando uma dívida
de gratidão que o ex-presidente já disse que levará pelo resto de sua vida.
A ação complementar dos movimentos sociais e dos partidos tem como objetivo
suprir o silêncio que Lula se impôs após a matéria da revista Veja na qual é
apontado, com base em supostos desabafos do empresário Marcos Valério a
familiares e amigos, como o principal responsável pelo mensalão. O manifesto
conjunto também foi pensado para não deixar o PT isolado na defesa do governo
anterior e mostrar a coesão da aliança governista.
Manifesto
Além disso, os aliados do PT pretendem contrapor-se aos partidos de oposição,
que defendem a reabertura do caso em primeira instância, incluindo Lula como um
dos possíveis investigados. "É um absurdo. Estão fazendo acusações sem
base na tentativa de destruir todo o legado social deixado pelo ex-presidente
Lula", disse ao Correio o presidente da União da Juventude Socialista
(UJS), André Tokarski.
Ontem foi divulgado um manifesto de intelectuais e artistas criticando o tom
de euforia da sociedade diante das recentes condenações de réus do mensalão
pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Eles esperam que o julgamento não
se torne um espetáculo. A maior parte dos signatários tem relação de amizade com
o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que deverá começar a ser julgado na
próxima semana por corrupção ativa — ele também é acusado de formação de
quadrilha, mas esse capítulo do processo deverá ser analisado em outro momento.
O texto dos intelectuais afirma que "parte da cobertura na mídia e até
mesmo reações públicas que atribuem aos ministros (do STF) o papel de heróis
nos causam preocupação". O documento prossegue explicitando que
"somos contra a transformação do julgamento em espetáculo, sob o risco de
se exigir — e alcançar — condenações por uma falsa e forçada exemplaridade.
Repudiamos o linchamento público e defendemos a presunção da inocência".
Os signatários — 267 ao todo — afirmam que "a defesa da legalidade é
primordial". E completam, apesar do desconforto inicial, que confiam no
"senhores ministros, membros do Supremo Tribunal Federal, que saberão
conduzir esse julgamento até o fim sob o crivo do contraditório e à luz suprema
da Constituição".
Fonte: Correio Braziliense
Dilma e a ética pública - Merval Pereira
A manobra da presidente Dilma para esvaziar a Comissão de Ética Pública, que
acabou gerando a demissão de seu presidente, o ex-ministro do Supremo Tribunal
Federal Sepúlveda Pertence, mostra bem sua maneira de agir quando desagradada.
Depois de quase três meses sem se reunir, pois só contava com dois dos sete
conselheiros, sem o quorum mínimo, portanto, de quatro membros para a
realização de sessões, a comissão entrou em uma crise quando a presidente
decidiu, afinal, preencher suas vagas. O não preenchimento das vagas passou uma
mensagem clara do Palácio do Planalto: a comissão passara a ser um estorvo para
o governo, que não tinha interesse em pô-la em funcionamento. Só depois que a
imprensa chamou a atenção para a extinção branca da comissão, a presidente
viu-se na obrigação de preencher as vagas no número mínimo para recolocá-la em
condições de funcionamento.
Cinco mandatos se encerraram nos meses de junho e julho, e poderia haver
reconduções para novos mandatos em dois casos, os dos conselheiros Marília
Muricy e Fábio Coutinho. Nos outros três, a presidente da República teria,
necessariamente, que nomear brasileiros sem passagem anterior pela CEP, pois já
estavam em seu segundo mandato, como sempre foi praxe na comissão. Pois ela
nomeou três novos conselheiros e não reconduziu os dois únicos que poderiam
permanecer, justamente aqueles que haviam sido indicados por Pertence.
Mas não foi isso que os fez cair em desgraça junto ao Palácio do Planalto, e
sim suas atuações em dois episódios envolvendo ministros do governo Dilma.
Ambos atuaram na análise de denúncias contra o então ministro do Trabalho,
Carlos Lupi, recomendando sua demissão após denúncia de que seu partido, o PDT,
cobrava comissões de ONGs que tinham convênios com o Ministério do Trabalho.
A presidente Dilma, que parecia estar em meio a uma operação de faxina em
seu Ministério para livrá-lo de corruptos, não gostou da orientação da
comissão, pois seu plano era fazer a substituição sem romper politicamente com
o PDT. Na ocasião, ela se disse desagradada por ter sabido através dos
jornalistas da recomendação da comissão.
Não custa lembrar que o mesmo Lupi já tivera um enfrentamento com a mesma
comissão - o que não é de estranhar - no governo Lula, quando o ex-ministro
Marcílio Marques Moreira a chefiava. A comissão exigiu que Lupi deixasse a
presidência do PDT enquanto exercesse o cargo de ministro do Trabalho, e ele
durante meses resistiu à recomendação. Ao final de uma crise política tensa, a
comissão exigiu a demissão de Lupi, obrigando-o a abrir mão da presidência
formal do partido.
Os dois conselheiros que não foram reconduzidos aos seus cargos haviam
também tomado parte da decisão de cobrar mais explicações sobre as palestras do
ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, sendo que Fábio Coutinho fora o
relator do caso. Muito ligado à presidente, Pimentel ficou em situação
constrangedora no ministério, o que irritou a presidente, que não pretendia
abrir mão de sua colaboração.
A "punição" sofrida pelos dois conselheiros demonstra que o
Planalto, sob a gestão de Dilma, não admite ser confrontado por uma Comissão de
Ética Pública que se considere independente.
Para não fugir ao hábito de difamar os adversários, ou os que passa a
considerar como adversários, o Palácio do Planalto deixou "vazar"
informações de que os motivos de desagrado de Sepúlveda Pertence seriam outros,
bem menos nobres.
O ex-ministro do Supremo estaria desgostoso porque seu filho fora preterido,
tanto por Lula quanto por Dilma, na escolha para ministro do Tribunal Superior
Eleitoral. A posição republicana de Sepúlveda passaria a ter, nessa versão
palaciana, motivação vulgar: reivindicação nepotista não atendida. O
ex-ministro do STF portou-se de maneira elegante ao pedir demissão, sem explicitar
as razões mais profundas que o levaram a sair, dizendo apenas que o fazia em
solidariedade aos conselheiros não reconduzidos. Mas Sepúlveda admitiu que a
tarefa de "impor limites éticos" ao governo é necessária, mas
difícil.
A posição da presidente Dilma, ao contrário, acende uma luz amarela em
relação à sua disposição de abrir o governo ao contraditório, na busca de um
aprimoramento ético. Justamente o contrário daquela imagem de "faxineira
ética" do início do governo.
Fonte: O Globo
Comparação indevida - Dora Kramer
A determinada altura da sessão desta segunda-feira o revisor Ricardo Lewandowski
justificou assim o voto pela condenação de três réus por formação de quadrilha:
"Era um mecanismo permanentemente em funcionamento. Isso caracteriza a
quadrilha, e esses crimes eram praticados à medida da necessidade demonstrada
pelos parlamentares que se deixaram corromper".
Portanto, se alguém se deixou corromper, houve também o agente corruptor
e um motivo para corrupção.
A forma da prova, entretanto, continua em debate. A manifestação
majoritária dos ministros em relação ao crime de corrupção passiva em
"fatia" anterior do julgamento do mensalão provoca revolta aqui e
ali.
Advogados de defesa, políticos e agora até um grupo de intelectuais,
artistas e acadêmicos alegam que o Supremo Tribunal Federal está inovando.
Invocam o julgamento que absolveu Fernando Collor de Mello em 1994,
reivindicando tratamento semelhante.
O próprio Lewandowski qualificou de "heterodoxo" o
entendimento preponderante no tribunal e justificou a absolvição de João Paulo
Cunha do crime de corrupção passiva dizendo que havia se baseado na
jurisprudência da ação penal 307, a do caso Collor.
Na essência da lei o STF não está criando nada. A condenação de Cunha
decorreu do artigo 317 do Código Penal, cuja definição do ilícito é a mesma:
"Solicitar ou receber, para si ou outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função, mas em razão dela, vantagem indevida ou aceitar promessa de
tal vantagem".
O único dos atuais ministros a participar do julgamento de Collor, Celso
de Mello, na época apontou a exigência de "precisa identificação de um ato
de ofício" na esfera das atribuições do presidente, para que se
caracterizasse a corrupção.
Justamente o que a Procuradoria-Geral da República não conseguiu
demonstrar na ocasião: a denúncia não descreveu uma parte do crime, não apontou
que interesses as pessoas que deram dinheiro ao operador de Collor, Paulo César
Farias, teriam nos atos do presidente.
E, naquele voto em 94, Celso de Mello falou também sobre a necessidade
de haver "uma relação entre a conduta do agente que solicita, recebe ou
aceita a promessa de vantagem indevida e a prática, que pode até não ocorrer,
de um ato determinado de ofício".
E o que demonstra a denúncia ora em exame? Exatamente a existência de
uma relação de trocas indevidas entre parlamentares, partidos e um governo
mediante práticas ilegais.
Ou seja, o Supremo não inventa. Os casos é que são diferentes.
Conceito de ética. Quando
deixou a presidência da Comissão de Ética Pública em fevereiro de 2008, três
meses antes do fim do mandato, Marcílio Marques Moreira disse o seguinte:
"Não temos nenhuma força, não temos nenhuma tropa, temos apenas a nossa
consciência e a nossa autoridade moral".
Autoridade solapada pelo então presidente Luiz Inácio da Silva ao
ignorar por diversas vezes a recomendação de que Carlos Lupi optasse entre o
Ministério do Trabalho e a presidência do PDT pelo evidente conflito de
interesses entre as duas funções.
Quando renunciou na segunda-feira à presidência da Comissão de Ética
Pública um ano antes do fim do mandato, Sepúlveda Pertence nem precisou repetir
as palavras de Marcílio para que deixasse perfeitamente entendida a razão de
sua saída.
Demolição de autoridade moral.
Desta vez pela presidente Dilma Rousseff, que resolveu retaliar contra
dois conselheiros que cobravam mais duramente explicações do ministro do
Desenvolvimento, Fernando Pimentel, a respeito de contratos de consultoria
cujos serviços não foram comprovados.
Fonte: O Estado de S. Paulo
Peculiaridades não significam novidades - Rosângela Bittar
Peculiar é característico, ímpar, singular, e tantos outros adjetivos que o
dicionário Houaiss nos oferece e podem qualificar a definição do que se passa
no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. O gigantismo do caso é
peculiar, os estudos de jurisprudência que tem exigido também é, o
entrelaçamento dos fatos, a imbricação dos crimes, dos acontecimentos, dos
réus, das pessoas circunstantes. Qualquer dos personagens sobre quem se coloca
um foco, vê-se que suas relações são inacreditavelmente variadas e amplas.
São 38 réus, muitas imputações, 600 testemunhas. O ineditismo, porém, está
na intensa visibilidade, na exposição da técnica argumentativa do Ministério
Público, dos advogados e dos ministros do Supremo, na jurisprudência peculiar
que, embora exista desde sempre, nunca foi tão vista e ouvida como agora. Os
fatos foram peculiaríssimos, exigindo um equacionamento também peculiar. Há
filigranas, conexões, particularidades que exigem um equacionamento especial.
Sem que isso signifique mudança. Os juízes estão dando tratos à bola nesse
desempenho.
Avaliações de técnicos que acompanham o trabalho ali realizado desautorizam
o reconhecimento de inovações. O que há de novo, admite-se, é a superexposição
dos juízes, o conhecimento que toda a sociedade vai tendo, em tempo real, do
julgamento, as teorias discutidas em praça pública - até (era imaginável?) em
academias de ginástica cujos aparelhos de TV estão sintonizados na emissora da
Justiça.
Entre as críticas que o tribunal registra, e que vêm até de advogados que
não atuam na defesa dos réus, portanto descomprometidos, estão as de ter o STF
surpreendido, por exemplo, com as teses do domínio do fato, do ato de ofício,
da inversão do ônus da prova, para escolher três das campeãs de audiência.
Diz-se, no Supremo, que o novo é o contexto, o conhecimento que só chegou
agora, com a transmissão ao vivo, a Internet, o tempo real, de todos os meios
que não existiam há 20 anos. E a metodologia, tendo em vista a peculiaridade do
processo. Uma metodologia em que se vai do particular para o geral,
estabelecendo-se a conexão até a compreensão final. Fato por fato, protagonista
por protagonista, peça por peça.
Nesse raciocínio indutivo, chega-se ao geral e às conclusões sobre o que
houve. Não é uma inovação, defendem, é uma metodologia cuja novidade está
apenas no fato de que todos estão vendo o processo andar e nunca antes haviam
acompanhado um tão de perto quanto este.
Qual o ofício de um deputado? É o que, didaticamente, se perguntam os
especialistas no julgamento para rebater a tese de que o Supremo inovou na
caracterização do ato de ofício. É a opinião, a palavra, o voto. Atos que se
praticam por ação e por omissão. Portanto, explica-se considerar a omissão.
À crítica à flexibilização da presunção da inocência, de que o STF foi alvo
porque, em um dos votos, o ministro Luiz Fux argumentou que cabe ao réu provar
seu álibi, responde-se que, se não provar, por exemplo, com recibos, que o
dinheiro foi destinado a um pagamento específico alegado, cada um pode dizer ao
juiz o que quiser e ficar tudo por isso mesmo. Mas também não é novo.
Outra jurisprudência da lista de inovações contestadas no plano técnico é a
do domínio do fato como razão para imputar responsabilidade. Sem o grande
protagonista os fatos aconteceriam daquela forma? Esta é a pergunta que pode
sustentar o raciocínio e que já esteve nos meandros do encadeamento de votos.
Sem determinada figura, tudo seria igual?
Foi o domínio do fato que absolveu, por exemplo, a ré do mensalão Geiza
Dias. Ela sabia de tudo? Não. Do que sabia, tinha condições de questionar os
patrões sendo uma servidora da iniciativa privada sem estabilidade no emprego?
Não.
Não faz parte do rol de perplexidade com o peculiar, mas de um conjunto de
exigências com que se pressiona o tribunal, a cobrança de fidelidade do juiz ao
governo que o nomeou. São frequentes as contas de quantos ministros, nomeados
por qual presidente, votaram desta ou daquela maneira.
A quem o ministro do Supremo deve fidelidade? Quando o processo envolve
políticos e partidos, a cobrança se acirra.
Tome-se o exemplo de um juiz, conhecido como Carlinhos na sua região,
estimado, respeitado e querido no Nordeste dos pequenos Sergipe e Alagoas, que
foi lá buscado por alguém que o identificou, indicou, pinçou e nomeou para o
Supremo Tribunal Federal. Passou pelo crivo dos três poderes. Qual o limite do
seu compromisso com a circunstância pela qual chegou lá?
O ministro Carlos Ayres Britto, presidente do Supremo Tribunal Federal,
personagem descrito acima, já teve oportunidade de se confrontar com essa
questão e sobre ela refletir em mais de uma oportunidade em que se viu diante
de um julgamento desafinado do desejo dos que o elevaram à função. Ayres Britto
já expressou mais de uma vez à sua audiência que, do ponto de vista
rigorosamente jurídico, o juiz tem que fazer a distinção. Enquanto juiz, é um
agente. Então não pode se deixar tomar por uma virtude, um tipo de virtude que
tem obrigação de ter, e tem, enquanto gente, que é a gratidão. Enquanto agente
não pode ser grato, não vai pagar a nomeação com o exercício da função.
Na argumentação que o ministro apresenta em conversas e palestras, diz que
tem fidelidade, mas no plano objetivo, não no subjetivo. Sua fidelidade é à Constituição.
Essa exige, como condição de sua nomeação, reputação ilibada e notável saber
jurídico. Assim, sua obrigação é transformar esses pré-requisitos em
desempenho: permanecer com a boa reputação e manter o saber jurídico refinado,
com estudos. Se o juiz observar essa divisão, estará em uma faixa de atuação
segura. Enquanto vai guardando no seu coração, de gente, a gratidão ao
descobridor.
Fonte: Valor Econômico
Os réus morais do mensalão -José Neumanne
Há dúvidas se os efeitos do julgamento do escândalo que se tornou conhecido
como mensalão - e agora se vê que por motivo justo, pois havia mesmo
parlamentares e dirigentes partidários recebendo propinas mensais - ajudarão a
sanear a política brasileira de seus péssimos costumes ou se ele será uma
exceção. Não no sentido de servir a interesses discricionários, como definiu o
insigne professor Wanderley Guilherme dos Santos, presidente da Casa de Rui
Barbosa, até segunda ordem um órgão do governo, ao Valor Econômico, mas
significando algo anômalo, fora do comum e que não produzirá efeitos. Uma coisa,
porém, é certa - e, até agora, isso já o torna histórico: trata-se de uma
tomografia que expõe sem piedade as vísceras apodrecidas da República. E é
capaz de revelar detalhes da promiscuidade e, como já se pode constatar, também
da desfaçatez e da pusilanimidade sem pudor da elite que manda e desmanda no
País.
O imenso pântano de cinismo e caradura em que essa elite chafurda já foi
descrito em detalhes no manual da corrupção na administração pública nacional que
é o livro Nervos de Aço (Topbooks, Rio de Janeiro, 2007), do delator do esquema
de compra de votos das bancadas governistas com dinheiro público, Roberto
Jefferson, presidente nacional do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Mas
como tudo o que expõe sesquipedais rabos de palha, a publicação caiu em
ostracismo. Agora, não mais: a malversação do dinheiro público tem sido
descrita em capítulos, lidos nas tardes de segunda, quarta e quinta-feiras pelo
relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa. O
relato, feito com lógica de orgulhar Aristóteles e lido com dicção perfeita e
no tom certo, é seguido com interesse pela sociedade graças à oportuníssima
exibição ao vivo em canais por assinatura na televisão. E também é reportado
pelos meios de comunicação, para desespero de todos quantos pensavam que seriam
capazes de mandar o velho Abraham Lincoln às favas, pois conseguiriam enganar
todos durante todo o tempo que lhes conviesse.
O trabalho minucioso e competente do ministro trouxe à luz a forma como foi
aparelhada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no poder uma instituição secular
e respeitável como o Banco do Brasil (BB), fundado no começo do século 19 pelo
monarca português e que virou símbolo da passagem de nossa condição colonial à
de sede da Corte. E narra o que no livro de Jefferson pode até ser considerado
retaliação de perdedor: a entrega de envelopes (e até malotes transportados em
carros-fortes de bancos) com gorjeta usada para convencer parlamentares cúpidos
e chefes partidários venais a dizerem amém na Câmara e no Senado às ordens
emanadas do que passou a ser todo-poderoso Executivo.
Atrás do propinoduto de que Marcos Valério foi só "operador", no
dizer do delator e confirmado pelo relator, foi engendrado o verdadeiro ovo da
serpente, o golpe sub-reptício com o objetivo sórdido de instalar uma ditadura
dos políticos profissionais sobre os cidadãos comuns. O julgamento do mensalão
decidirá o destino de gestores acusados de desviar recursos públicos para
aplicarem em seus projetos partidários e nas próprias fortunas pessoais. E terá
o condão de decidir de vez que em nosso frágil, mas irreversível, Estado
Democrático de Direito todos são de fato iguais perante a lei. A tentativa de
reduzir crimes maiores, como corrupção ativa e passiva, peculato e lavagem de
dinheiro, a um delito menor, o caixa 2 de campanha ("recursos não
contabilizados", no eufemismo da vez), partiu do pressuposto de que eles
podem fazer o que não nos é permitido. A contabilidade paralela da Daslu levou
a empresária Eliane Tranchesi à prisão. Não a de Delúbio Soares. "Pois,
afinal, é praticada por todos os partidos. Se os outros podem, por que o PT
não?", questionou o chefão geral, Luiz Inácio Lula da Silva, como acaba de
fazê-lo o único acusado do esquema que se beneficiou da delação premiada, o
chef Silvio Pereira.
A cúpula petista no poder republicano não tinha dúvidas de que a teoria do
padim transmitida a seus causídicos milionários seria aceita facilmente no
plenário do Supremo. Afinal, oito dos 11 ministros foram nomeados por um
presidente do partido e teriam de ser-lhe gratos. Se o BB foi aparelhado, se a
Casa Ruy Barbosa foi aparelhada, se a Petrobrás foi aparelhada, por que não o
STF? A verdadeira elite dirigente esqueceu-se de prestar atenção em Chapolim e
não contou com a astúcia dos ministros que, imunes à demissão, tratam de evitar
que a gratidão emporcalhe sua biografia. O general De Gaulle disse muito bem
que a ingratidão é a maior virtude de um estadista.
E é assim que o velho conceito da igualdade de todos perante a lei está
sendo garantido pelo STF e os políticos viciados em caronas em jatinhos (quando
não dispõem do próprio avião) e nas festas promíscuas pagas pelos sanguessugas
do Estado exercem o direito que os galhofeiros verteram para o latim: jus
sperneandi. O direito de espernear é a única explicação para a carta dita de
apoio a Lula, articulada pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, e assinada
por seis partidos da chamada "base governista", comparando a atuação
do STF ao movimento que levou Getúlio Vargas em 1954 ao suicídio e à derrubada
de João Goulart em 1964.
O presidente do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Valdir
Raupp, disse que a assinou "constrangido". Terá o Falcão do PT
recorrido a um revólver para convencê-lo? Parlamentares do Partido Democrático
Trabalhista (PDT) desautorizaram seu líder, Carlos Lupi. Por que, então, não o
depõem da presidência? Habituados a retirar assinaturas de projetos, ao terem
atendidos seus pleitos pelo Executivo, devem calcular a inteligência alheia
pelo conceito que têm da própria honra. Ao assinarem o documento tragicômico e
tentarem fugir da responsabilidade por isso, incluem-se, e também Lula, na
categoria de "réus morais" do mensalão. Pois não é isso mesmo que
eles são?
Fonte: O Estado de S. Paulo
Ainda que tardia - Míriam Leitão
Enfim. É a primeira coisa que se pode dizer sobre a decisão da Justiça de
que na certidão de óbito de Vladimir Herzog deixe de constar a mentirosa
informação de suicídio. O Brasil começou a mudar. Lenta e tardiamente. Já há
réus em crimes de morte de presos políticos, o STF tomou uma decisão que altera
a interpretação que impedia processo contra responsáveis por casos de
desaparecidos.
Na semana passada, a segunda turma do STF deferiu parcialmente o pedido do governo
argentino de extraditar Claudio Vallejos, acusado de tortura, homicídio,
sequestro e desaparecimento forçado de pessoas durante a ditadura militar
argentina. Ele era militar e atuava num terrível centro de tortura, a Escola de
Mecânica da Armada Argentina (ESMA). O deferimento só foi parcial porque ele
responde a processos no Brasil.
A defesa alegou que o crime prescreveu. O ministro Gilmar Mendes, autor do
voto seguido por unanimidade, citou jurisprudência do STF de que "nos
delitos de sequestro, quando os corpos não forem encontrados, em que pese o
crime ter sido cometido há décadas, na verdade se está diante de um delito de
caráter permanente, com relação ao qual não há como assentar-se a
prescrição". O Ministério Público tem trabalhado com essa tese: do crime
permanente para os casos como os do deputado Rubens Paiva e de mais de uma
centena de brasileiros cujos corpos jamais apareceram.
Não é o caso de Vladimir Herzog. Convocado, o jornalista compareceu ao II
Exército para prestar depoimento. Horas depois, estava morto. O corpo dele foi
entregue à família para o enterro, mas na certidão de óbito foi registrado o
que foi dito na nota do II Exército.
Foram necessários 36 anos e 11 meses para que o Estado brasileiro
conseguisse emitir através do Judiciário a ordem de que a mentira seja removida
dos documentos oficiais. Nesse tempo, já houve sete mudanças na Presidência da
República. O último general saiu do Palácio há 27 anos, seis meses e 11 dias. E
só agora a versão dos torturadores está sendo varrida da história.
Mesmo para um país que tem dificuldade de olhar seu passado, entendê-lo,
aprender com ele para pavimentar o futuro, essa espera foi longa demais. O que
constrangeu o poder civil e democrático por tanto tempo? Inexplicável.
Recentemente, a Justiça Federal de Marabá, no Pará, aceitou a denúncia
contra o coronel Lício Maciel, no caso da morte de Divino Ferreira de Souza. A
juíza Nair Pimenta de Castro abriu ação contra ele por ter assumido esse e
outros crimes na fase final da luta contra a guerrilha, quando, segundo o MPF,
houve a "adoção sistemática de medidas ilegais e violentas, promovendo-se
o sequestro e a execução sumária dos militantes". A denúncia contra o
major Sebastião Curió, ajuizada antes, tinha sido recusada, mas a decisão foi
alterada, e ele também virou réu em mortes ocorridas na mesma época, durante a
ditadura.
A Comissão da Verdade não tem atribuição judicial. Sua função é buscar as
informações, tomar depoimentos, fazer sugestões ao governo de como encaminhar o
problema. Mas sua existência, ainda que com depoimentos tomados de forma
reservada, tem ajudado a movimentar o país na busca dos pontos perdidos dessa
dolorosa história. O Ministério Público tem apresentado denúncias em todas as
regiões do país para esclarecer o entendimento sobre os princípios da justiça
de transição; que trata dos crimes de um período de exceção.
Tudo isso aconteceu há muito tempo. Alguns desses crimes foram cometidos
quando a maioria dos brasileiros nem era nascida. É mais um motivo para que o
Estado brasileiro se apresse.
Fonte: O Globo
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