quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Opinião do dia: José Arthur Giannotti

Nós estávamos numa negação política. O Congresso fechado nele mesmo, armado para se reproduzir. O governo isolado, incapaz de enfrentar as crises econômicas e sociais. Estávamos num fechamento total. E a Lava Jato denunciando, num processo jurídico-político, na medida em que atua juridicamente mas com intenções políticas. Sua intenção é jogar uma bomba atômica no processo político."

• Por que a polaridade PT-PSDB foi varrida?

"Foi varrida porque ao PSDB faltaram lideranças, faltou se renovar. Quando você chega ao [João] Doria, que é pura aparência, é o fim. Nós vivemos numa sociedade do espetáculo, mas com o Doria você só tem espetáculo, não tem conteúdo político. O PSDB ficou dividido entre o Alckmin e o Doria. Do outro lado, o PT levou o país a uma recessão brutal por causa de uma série de equívocos econômicos. Esta eleição recupera e amplia 2013 [movimento contra alta de tarifas de transporte que depois começou a questionar a agenda dos partidos e a eficiência do Estado].


-----------------------
José Arthur Giannotti é professor de filosofia, em entrevista: ‘Forças ocultas vão ter de se moderar’, Folha de S. Paulo, 16/10/2018

William Waack: O abismo é outro

- O Estado de S.Paulo

Diante do que vem aí, vencer as eleições foi só o mais fácil

Pergunta que começa com “se” não tem resposta. Por isso pode parecer inútil perguntar como teria sido a corrida eleitoral de 2018 se não tivesse ocorrido o atentado contra Jair Bolsonaro, se Lula não tivesse destruído a possibilidade de uma união inicial das esquerdas, se as forças ao “centro” do espectro político tivessem identificado lá atrás qual o eixo em torno do qual se alinhou a grande maioria do eleitorado (o repúdio ao sistema e o antipetismo).

Ocorre que o exercício do contrafactual (“o que teria sido se”) é útil, sim. Antes de mais nada, serve para demonstrar que não existe o “inevitável”. Que a política é, por definição, o terreno do imponderável e do acaso. E que escolhas feitas por agentes políticos – por Lula, Bolsonaro, Fernando Henrique, Ciro, ou quem você quiser – têm a condição de alterar o rumo das coisas dentro dos grandes limites impostos, por exemplo, pela herança do passado.

Sendo enorme a probabilidade de que o tsunami político que empurrou Bolsonaro o elegerá presidente, essa onda, “inevitavelmente”, nos conduzirá até onde? Parece evidente que esse fenômeno social e cultural (o embate político tem as características da “guerra cultural” de valores, não importa se a gente aplaude ou repudia o que Bolsonaro e o PT dizem) alterou fundamentalmente nossa paisagem política, dando cara e voz a um nutrido eleitorado antes disperso e desorganizado (estou evitando colocar rótulos).

É um eleitorado que desconfia da imprensa, da Justiça, da política e que tem medo, sente-se órfão das instituições, acha que seu esforço individual é torpedeado pelo Estado, pelos impostos, pela burocracia e por “eles” em Brasília, e encontrou uma resposta (se você gosta ou não, é outra conversa) na figura de Bolsonaro. O que eu algumas semanas atrás chamava de “choque de placas tectônicas” entre o desejo de mudança e a velha política parece ter produzido o rompimento de um dique político e abriu uma enorme avenida de oportunidade ao mesmo tempo em que levanta um ponto de interrogação igualmente enorme.

Merval Pereira: Aperitivo polêmico

- O Globo

Bolsonaro mostrou que pretende interferir em questões penais que já estão pacificadas pela legislação

Antes de colocar a outra mão na faixa presidencial, Bolsonaro anda metendo as duas mãos em cumbuca. No mesmo dia, levantou duas polêmicas com a Procuradoria-Geral da República em temas delicados: a escolha do substituto de Raquel Dodge e a proposta sobre o conceito de legítima defesa, para policiais e civis.

Ao afirmar que providenciaria imediata mudança no Código de Processo Penal para aplicar automaticamente a legítima defesa em favor dos policiais nos embates em que morram supostos bandidos, ou até mesmo “terceiros”, mostrou que pretende interferir em questões penais que já estão pacificadas pela legislação.

A figura do “excludente de ilicitude”, que compreende a “legítima defesa”, já existe, mas tem que haver um processo, a avaliação de um juiz. Um delegado até pode decidir, mas tem que ter um registro de ocorrência, a polícia tem que investigar.

O Ministério Público é que acusa, ou não. Os autos de resistência, mortes em decorrência de atividade policial, são encaminhados ao Ministério Público. É improvável que o Supremo Tribunal Federal (STF) aceite uma mudança através de projeto de lei, até mesmo por emenda constitucional. Pela Constituição, o Ministério Público é o titular da opinião sobre o cometimento de crime, tem a competência privativa para promover a ação penal. Mudar isso seria, na interpretação corrente, alterar uma cláusula pétrea constitucional, com um poder interferindo em outro.

O projeto do deputado Jair Bolsonaro quer também retirar do artigo 25 do Código Penal, que define a legítima defesa, a parte que diz “(...) usando moderadamente dos meios necessários”. Questão similar foi discutida devido às missões de paz do Brasil no Haiti. Um dos principais assessores de Bolsonaro, já anunciado como futuro ministro da Defesa em um seu provável governo, o general Augusto Heleno chefiou uma dessas missões.

Míriam Leitão: Do pouco que até agora se sabe

- O Globo

Economistas de Bolsonaro preparam programa em segredo para, se ele ganhar, ser divulgado ao eleitor apenas depois das urnas

O pouco que se sabe do candidato que está na frente das pesquisas já está causando preocupação em alguns empresários. Jair Bolsonaro tem mostrado reservas em relação à China, sem explicar o que isso significa. O país é o investidor estrangeiro mais ativo na economia brasileira com projetos em energia e agora na conclusão do Comperj. O presidente da Vale alertou para a importância do país asiático como parceiro para a empresa e o Brasil. A Unica está preocupada com o abandono do Acordo de Paris. A reforma da Previdência é uma incógnita.

O que se sabe sobre a economia num eventual governo Jair Bolsonaro é excessivamente vago e estamos a 10 dias das eleições. O programa está sendo preparado por grupos temáticos sob o comando do economista Paulo Guedes, mas pouca coisa sai, até porque a estratégia é falar o mínimo possível para não atrapalhar a campanha. O Brasil fica assim na estranha situação de estar prestes a escolher um presidente — ontem ele disse na Polícia Federal que está com a mão na faixa — e sua equipe prepara um programa que será surpresa pós-urnas. Isso se houver concordância entre o candidato e os economistas, coisa que até agora não parece haver. “Não queremos flertar com o desconhecido”, disse ele ontem, mas na economia é exatamente isso que o pacto de silêncio dele e de sua equipe está oferecendo ao país.

Do pouco que se sabe, há esse temor sempre repetido pelo candidato em relação ao investimento chinês no Brasil. A China estaria “comprando o Brasil”, segundo ele. O país é o maior comprador de produtos brasileiros, o maior mercado da soja brasileira, portanto o agronegócio precisa manter essa relação estável e sem ruídos. O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, empresa que opera em 16 portos chineses, disse que há uma dependência mútua entre Brasil e China, e que em qualquer governo a Vale continuará tendo uma boa relação com eles. É ao capital chinês que a Petrobras está recorrendo para concluir o investimento no Comperj. A expectativa da estatal é concluir em dois anos as obras da refinaria de Itaboraí, a partir do momento em que fechar o acordo com a CNPC chinesa.

Carlos Alberto Sardenberg: Ele ganha. Governa?

- O Globo

Há também na onda Bolsonaro eleitores liberais no sentido amplo da palavra: na política, na economia e nos costumes

Ok, tem uma onda conservadora que carrega Bolsonaro, mas as pessoas que ali se juntam são bem diferentes e chegaram lá por motivos diferentes.

Há eleitores que estão assustados com a falta de segurança. E não gostam das lideranças e movimentos que criticam a ação da polícia quando esta se mete em confrontos e mata bandidos. Acham que é preciso mais, e não menos polícia. Mas não são justiceiros. São pessoas que têm medo de sair de casa, ficam preocupadas com os parentes que demoram a voltar. Assim, compram o discurso de que a polícia precisa endurecer, mesmo que Bolsonaro não diga como será a política de segurança. Também aprovam a redução da maioridade penal e uma maior liberação da posse de armas.

Mas, atenção, não são pessoas que estão prontas para comprar armas e sair matando bandido. Lembram-se do referendo do desarmamento? Uma imensa maioria manifestou-se contra a proibição da venda de armas. E não houve aumento na venda de armas.

Há uma classe média que está farta do peso do Estado e do governo em suas vidas. Gente que não consegue abrir um negócio legalmente sem pagar propinas ou mesmo sem pagar taxas abusivas antes de começar a trabalhar. Gente que paga imposto demais e ainda percebe que precisa colocar seus filhos em escola particular e comprar plano de saúde.

Há também na onda Bolsonaro os eleitores liberais no sentido amplo da palavra: liberais na política, na economia e nos costumes. Na economia, pedem um Estado menor e mais espaço para a iniciativa privada. Na política, apoiam as posições e grupos independentes de partidos. Nos costumes, não é que sejam contra a “agenda progressista” (raça, gênero etc.), mas acham que o Estado não tem que se meter nisso e deixar que cada um resolva como quiser o seu modo de vida. Ou seja, são contra a imposição daquela agenda, ou por lei (cotas, por exemplo, que consideram injustas) ou por pressão das elites e formadores de opinião. Mas, frequentemente, são favoráveis a agendas como a liberação da maconha.

Daniela Lima: Com o Supremo, com tudo

- Folha de S. Paulo

Impressiona a incapacidade da Justiça de se entender como parte do sistema em crise

Ok que a Justiça precisa ser cega para ser imparcial, mas deveria parar por aí. Chega a impressionar a incapacidade do Judiciário brasileiro de entender que faz parte do sistema que vive uma crise de legitimidade no país.

Há dificuldade entre ministros de cortes superiores, juízes e também entre membros do Ministério Público de compreender que estão, todos eles, inseridos até a alma na estrutura contestada por parte significativa do eleitorado.

O sintoma mais visível dessa cegueira deliberada é a letargia de ministros que compõem o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de responder à altura os ataques que o tribunal, como instituição, vem sofrendo diuturnamente.

Diante das centenas de questionamentos sobre a lisura da eleição, das urnas, e também diante das fake news, tudo o que os guardiões da Constituição produziram foi bravata, ironia e inação.

O líder das pesquisas repetiu pela enésima vez em setembro que o sufrágio no Brasil não é seguro. "Tem gente que acredita em SaciPererê", respondeu Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal. Sim, ministro. Ao que parece, muita gente.

Luiz Fux, que presidiu o TSE até agosto, chegou a dizer que as eleições poderiam ser anuladas se influenciadas por notícias falsas. E agora?

Rosa Weber, que assumiu a corte depois dele, se limitou a proferir meia dúzia de declarações protocolares.

No dia do primeiro turno, diante da proliferação de vídeos (montagens, depois se comprovou) e suspeitas lançadas por candidatos, um ministro do TSE se limitou a dizer que é com "isso aí que a gente vai ser obrigado a lidar".

Foi preciso que Weber, que ainda tem a imagem pessoal preservada, recebesse uma ameaça para deflagrar um arremedo de reação. A mensagem ofensiva foi revelada pela repórter Thais Arbex, no Painel desta Folha, na segunda-feira (15).

Roberto Dias: Uma nova conversa

- Folha de S. Paulo

Mentiras óbvias sobre Bolsonaro e Haddad enganam muita gente

Não, Jair Bolsonaro não foi eleito o político mais honesto do mundo. Tampouco propôs nova imagem de Nossa Senhora. Nem Fernando Haddad quis legalizar a pedofilia. Mentiras óbvias como essas enganam muita gente; imagine então as menos evidentes, como a lista fictícia de ministros pop do petista.

O submundo do WhatsApp é o grande fenômeno desta campanha. Seu efeito parece ainda mais perverso do que o do Facebook nos EUA.

Marqueteiros e líderes partidários repetem que a TV é decisiva porque isso lhes dá poder. Quem caiu nesse conto perdeu o bonde. Os brasileiros passam mais horas em redes sociais do que a média mundial. As mensagens no celular multiplicam-se por pirâmide que não surgiu do nada.

Está claro que o bolsonarismo grama nesse pântano há mais tempo. O petismo aprende tardiamente.

Quem até outro dia falava que a imprensa distorce tudo agora suplica aos eleitores que se informem pelo jornalismo profissional. Quem aponta o dedo para a mídia tradicional e diz que ela “normalizou” Bolsonaro não está entendendo nada.

Bruno Boghossian: Bote salva-vidas

- Folha de S. Paulo

Valdemar, Kassab e companhia preparam entrada na base aliada do presidenciável

No grande naufrágio partidário de 2018, os primeiros da fila para o bote salva-vidas são Roberto Jefferson, Pastor Everaldo, Valdemar Costa Neto e Gilberto Kassab. Os caciques do centrão, que sustentaram governos de todas as cores, decidiram se alinhar a Jair Bolsonaro (PSL) em busca de sobrevivência.

O PSD não é de esquerda, nem de direita, nem de centro (como definiu Kassab ao criar a legenda), mas já está afinado com o radicalismo de Bolsonaro. O fundador da sigla disse nesta quarta (17) que, se o candidato do PSL for eleito, “evidentemente” apoiará seu governo no Congresso.

A condição é que as pautas tenham convergência com as crenças do PSD, mas a adaptação não será muito difícil. Kassab foi ministro de Dilma Rousseff, pediu demissão para apoiar o impeachment e, em menos de um mês, pegou as chaves de outro ministério com Michel Temer.

O PR não quis apoiar Bolsonaro no primeiro turno, mas agora planeja um consórcio com o presidenciável. Caso sua eleição se confirme, o partido de Valdemar estará na base governista e lançará ao comando da Câmara o deputado Capitão Augusto, um policial que diz que o regime militar não foi uma ditadura.

“Houve alternância no poder, o Congresso manteve-se aberto, o Judiciário manteve-se aberto e até a imprensa tinha liberdade”, disse, em 2015. Quatro mentiras, se considerarmos que a ditadura aposentou ministros do STF e tutelou o tribunal.

O time pró-Bolsonaro tem ainda a companhia do PTB de Roberto Jefferson, do PSC do Pastor Everaldo e de outros partidos que acreditam farejar vitória no campo do PSL.

Vinicius Torres Freire: Bolsonaro tem de entregar o ouro

- Folha de S. Paulo

Enquete mostra motivos de o mercado acreditar em planos ainda vagos de reforma liberal

Quanto trata de Previdência, Jair Bolsonaro reafirma a tese dos "direitos adquiridos", em geral um argumento de sindicatos, corporações e de certa esquerda. Seus planos de reforma previdenciária vivem em uma zona crepuscular que vai desde mudança quase nenhuma até mirabolâncias ou ambições no momento inviáveis.

No entanto, o mercado se move. Os negociantes de dinheiro declaram voto em Bolsonaro e votam também nos preços da moeda brasileira e dos títulos da dívida pública, que sobem. Na praça financeira, é o que interessa.

Ainda que existam planos infalíveis em elaboração, não há diretrizes firmes, prioridades e sequenciamento de mudanças econômicas, porém.

Além do mais, algumas conversas do universo bolsonarista não são liberais, mas libertinas.

O atropelo de boas normas ambientais ou sanitárias e de mínimos trabalhistas tende a ser um tiro pela culatra. Feitos a ferro e fogo, produtos agropecuários ou extrativistas podem ser objeto de barreiras comerciais ou civilizatórias, no exterior.

Restrições a investimentos estrangeiros, mesmo que venham da China, podem pegar mal e deixar gente lá fora com o pé atrás —e fora daqui. Mesmo pelos piores motivos, não são boas ideias.

Como então o pessoal elabora os motivos de seu otimismo com uma reforma liberal? Este jornalista fez uma enquete.

Primeiro, o que mais se ouve é que Bolsonaro tem uma equipe grande trabalhando no programa de reformas, um governo já em obras.

Maria Cristina Fernandes: Uma resistência que vagueia sem retrovisor

- Valor Econômico

Toalha dos Ferreira Gomes respingou em JK e Lacerda

A desistência do PT em formar uma frente democrática é o reconhecimento, tardio, de que não há líderes a mover o eleitor. Sua necessidade, porém deriva menos da busca de votos do que na reafirmação de resistência à ordem que está por vir. As dificuldades em formá-la sinalizam os percalços políticos futuros de lideranças que vagueiam sem retrovisor.

Os irmãos Ferreira Gomes parecem decididos a disputar com o PT a hegemonia da esquerda. Mas a toalha arremessada respingou nos túmulos de Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek e se depositou sobre os escombros do PSDB.

O líder udenista apoiou o golpe de 1964 na expectativa de que a ordem democrática seria restabelecida no ano seguinte com a manutenção das eleições diretas para presidente da República. O líder do PSD, Juscelino Kubitschek, não apoiou a quartelada, mas tinha expectativas semelhantes e seguiu a orientação partidária na votação do colégio eleitoral que empossou o marechal Castelo Branco no cargo.

JK liderava a disputa presidencial. Foi cassado em junho de 1964, dois meses depois da eleição do marechal. Lacerda vinha em segundo na disputa e aplaudiu a cassação antes de assistir ao cancelamento das eleições de 1965. Articulou com um Juscelino no exílio uma frente de oposição, mas acabou preso com o AI-5.

Cid Gomes não para de se retratar e seu irmão ainda pode desembarcar num palanque eletrônico destinado a evitar a vitória de Jair Bolsonaro. Mas dificilmente reverterá o estrago provocado na campanha de Fernando Haddad pelo vídeo em que o irmão de Ciro Gomes dá como certa a derrota petista. São adeptos de primeira hora do #EleNão, mas custarão a desfazer a percepção de que já deram início à disputa por 2022.

A mesma lógica guiou o PSDB em 2016 ao encabeçar o impeachment de Dilma Rousseff. Os tucanos deram 2018 por garantido, enquanto os instintos de ódio represados foram atraídos por Bolsonaro e cevados na longa noite do governo Michel Temer. A maioria que apoiou a derrubada da ex-presidente recebeu, em retribuição, um governo que aprofundou o desencanto e fez do PSDB um sócio do PT na ascensão do bolsonarismo.

Ribamar Oliveira: Rombo da Previdência dos militares cresce

- Valor Econômico

Os Estados Unidos e o Reino Unido já fizeram mudanças

O candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, afirmou que pretende iniciar a reforma dos regimes previdenciários lutando contra o que considera privilégios dos servidores públicos. Mas parece que eles só se referia aos civis. Para os militares, o candidato informou, em entrevista ao SBT na noite de terça-feira, que pode propor "alguma mudança", lembrando que eles não poderiam ser igualados a quem tem direitos trabalhistas diferentes, como FGTS, hora extra, direito a greve e repouso remunerado.

Os números sugerem uma leitura diferente daquela feita pelo candidato do PSL, que é capitão reformado do Exército. Basta ler a mensagem do presidente Michel Temer ao Congresso Nacional que acompanha a proposta orçamentária para 2019. Lá está dito que o déficit nominal com os militares inativos e os seus pensionistas está crescendo, em termos nominais, enquanto o "buraco" do regime próprio dos servidores civis da União (RPPS) projetado para o próximo ano está caindo, na comparação com o previsto para 2018.

O déficit com militares inativos e seus pensionistas em 2019 está projetado em R$ 43,3 bilhões, contra R$ 42,6 bilhões previstos para este ano. No caso do RPPS, o "rombo" passará de R$ 45,4 bilhões neste ano para R$ 44,3 bilhões em 2019. Um é quase igual ao outro, embora o número de servidores civis aposentados e seus pensionistas seja bem superior ao de militares inativos e seus pensionistas.

Em 2016, último dado disponível, havia 683.560 aposentados e pensionistas do RPPS e 378.870 militares inativos e pensionistas. A receita obtida com as contribuições dos civis ativos foi de R$ 30,69 bilhões, enquanto que as contribuições dos militares para as suas pensões ficaram em R$ 2,93 bilhões.

Luiz Carlos Azedo: A agenda de Bolsonaro

- Correio Braziliense

“A narrativa do golpe adotada pelo PT funcionou para coesionar a legenda e atrair a esquerda tradicional, além de desgastar o governo Temer e seus aliados, mas não contra Bolsonaro”

Cabezas cortadas, um clássico do cinema novo, é uma produção hispânico-brasileira de 1970, dirigida por Glauber Rocha, cujo título faz alusão a uma estátua grega. Filmado na Espanha, foi lançado em Barcelona, quando o diretor ainda estava exilado na Europa. No filme, a ditadura de Franco e o regime militar brasileiro são tratados de forma alegórica. No rastro do sucesso de O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro e O Leão de Sete Cabeças, Glauber fez um filme sobre um déspota em delírio, que morava sozinho num castelo e acreditava falar ao telefone com pessoas importantes para seu governo ou vida pessoal. No imaginário, resolve problemas civis, dá ordens, conversa sobre questões particulares.

Cenas de opressão aos índios, aos trabalhadores, aos negros e aos estudantes retratam o que teria sido a volta ao poder de Diaz II, em Eldorado. O país imaginário representa, no filme, o que seria a continuação da história contada em Terra em Transe, cujo contexto é a crise do governo Jango e golpe militar de 1964. A colonização, a escravidão e outros elementos recorrentes nos países da América Latina são trazidos de volta, como se a história estivesse voltando para trás. Ao contrário de Terra em Transe, porém, a história não tem uma sequência cronológica, é uma viagem fragmentada e incoerente ao passado, que somente ganha sentido na interpretação de cada expectador.

A estrela do filme é o espanhol Francisco Raba, que interpreta o déspota louco Diaz II, e se torna o grande destaque do filme. Todas as suas aparições na tela, da cena inicial, no castelo, aos longos momentos de delírio, são antológicas, do ponto de vista da interpretação e da direção, mas o filme acaba se descolando da realidade, mesmo se comparado às duas ditaduras da época. É uma obra de ficção. A analogia com o momento atual faz todo o sentido. Jair Bolsonaro (PSL) está sendo tratado pelos adversários como se fosse um ser delirante.

Haddad passou todo o primeiro turno ignorando Bolsonaro, seu inimigo principal era o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Além disso, fez tudo o que podia para confundir sua imagem com a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Curitiba. Acabou abduzido pelo carismático líder petista, herdando toda a sua rejeição e a do PT. Quem erra na escolha do adversário, geralmente, perde a eleição. Agora, corre atrás do prejuízo, para descontruir a imagem de mocinho adquirida por Bolsonaro ao longo da campanha, principalmente depois que levou a facada em Juiz de Fora. Dispensável falar que Haddad, depois de tantas visitas a Lula, se esforça para reposicionar a sua antiga imagem de “bom moço”.

Ricardo Noblat: Torcida contra Doria

- Blog do Noblat | Veja

E a favor de França

Entre deputados e senadores que frequentaram Brasília nas últimas 48 horas, há uma forte torcida suprapartidária para que João Doria, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, seja derrotado por Márcio França (PSB).

Políticos em geral desprezam os que julgam traidores. E Doria é visto por muitos como um traidor de Geraldo Alckmin, que o acolheu no PSDB e o ajudou a se eleger prefeito de São Paulo.

Caso Marielle Franco ficará para Bolsonaro resolver
A ideologização do crime

Michel Temer pretendia passar a faixa presidencial ao seu sucessor com o caso do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) esclarecido: quem matou, quem mandou matar e por que. Mas isso parece cada vez mais distante.

O provável é que o desfecho do caso fique para a próxima administração – ao que tudo indica a de Jair Bolsonaro (PSL). Há muitos indícios e até provas de como tudo ocorreu, menos uma confissão. É aqui que mora o perigo.

Generais da reserva que assessoram Bolsonaro enxergam a morte de Marielle por outro ângulo. Admitem que foram milicianos que a mataram, sim, mas por conta da quebra de um suposto acordo tácito que haveria entre eles e o PSOL.

O acordo: o partido poderia correr atrás de votos em áreas controladas pelas milícias, mas não atrapalhar depois os seus negócios. Marielle tornou-se um incômodo com sua pregação em defesa dos favelados e, por isso, acabou eliminada.

Ascânio Seleme: Olhe bem para o Rio

- O Globo

Com a eleição presidencial praticamente decidida a favor de Jair Bolsonaro, convém o eleitor olhar para o que está ocorrendo em seu estado. No Rio, a chance de termos Wilson Witzel no Palácio Guanabara é enorme. Recém-chegado no processo político, ele se apresenta como o novo, o homem de fora da caixa, o antissistema. E se traveste também como a versão local do capitão-candidato.

Witzel tem o apoio do prefeito Marcelo Crivella e de seu partido. O PRB anunciou sua adesão à candidatura do ex-juiz na sexta-feira passada. O prefeito do Rio e toda a igreja do seu tio bispo Macedo apoiam também Bolsonaro para presidente. Teremos, então, se Witzel ganhar a eleição no domingo, 28, um alinhamento singular entre as três esferas de poder.

Você acha que este alinhamento seria bom para o Rio? Não sei. Mas vale a pena fazer algumas observações do que pode significar este alinhamento para lá de programático e ideológico. O que viveremos no Rio com Witzel governador será um grande arranjo administrativo em que estarão de mãos dadas três líderes conservadores, de conceitos morais e comportamentais ultrapassados pela história.

Mais do que isso, a conjunção desses três governantes pode resultar na construção de um estado em permanente beligerância. Se a proposta de Witzel de abater bandido armado soa como música nos ouvidos de Bolsonaro, a sua implantação poderia resultar num aumento dramático de tiroteios e voos de balas perdidas, sobretudo na Região Metropolitana.

Apesar de o candidato a presidente negar apoio formal ao ex-juiz, a proposta dos dois para a área de segurança é parecida. Querem colocar em prática uma lei do Velho Oeste americano, a de atirar primeiro e perguntar depois. Não sei como o leitor vê isso, mas está claro que o eleitor quer melhorar muito a sua segurança e já votou no primeiro turno a favor de medidas drásticas para conter a criminalidade. Ocorre que há uma diferença enorme entre o que prega um candidato e o que ele pode efetivamente fazer em razão dos inúmeros embaraços legais e constitucionais.

O leitor pode dizer que um alinhamento automático, por afinidade política e ideológica, resultará em benefícios para o estado. Pode ser. Mas isso não significa que desalinhamento signifique prejuízos para os interesses estaduais. A história mostra que, havendo ou não afinidade política, os interesses do Rio podem ser protegidos por entendimento superior ao da pauta partidária.

Bernardo Mello Franco: O duelo das más companhias

- O Globo

Paes e Witzel foram ao debate com o mesmo objetivo: mostrar que o outro andava em más companhias. O duelo poderia terminar empatado, porque os dois tinham razão

Eduardo Paes e Wilson Witzel chegaram ao debate de ontem com o mesmo objetivo. Um queria mostrar que o outro andava em más companhias. O duelo poderia terminar empatado, porque os dois tinham razão.

Witzel lembrou que Paes era unha e carne com Sérgio Cabral, condenado a penas que somam mais de 183 anos de prisão. Chegou a participar do jantar que terminou na animada farra dos guardanapos, em Paris. “Você é o candidato do Cabral. O Cabral tá pedindo voto pra você na penitenciária”, provocou o ex-juiz.

Paes lembrou que Witzel compete pelo PSC, o partido do Pastor Everaldo. Pau-mandado de Eduardo Cunha, ele também foi acusado de receber propina para tabelar com Aécio Neves nos debates de 2014. “Traz o Pastor Everaldo para um evento”, desafiou o ex-prefeito.

Em outro round, Witzel cobrou Paes pela condenação de Alexandre Pinto, seu ex-secretário de Obras. Na semana passada, ele foi sentenciado a 23 anos de prisão por embolsar dinheiro de empreiteiras.

O ex-prefeito questionou o rival pela proximidade com Mário Peixoto, um dos maiores fornecedores do estado na era Cabral. O empresário foi acusado de pagar um mensalão de R$ 200 mil a conselheiros do TCE.

Zeina Latif: De quem será a fatura?

- O Estado de S.Paulo

A renovação política no Congresso Nacional poderá atrasar o ajuste fiscal

Nos últimos anos, muitos governadores evitaram o necessário ajuste das contas públicas, devido ao calendário eleitoral. Para alguns o cálculo deu errado e a resposta veio das urnas. É o caso de Minas Gerais, que nem sequer consegue pagar pontualmente a folha do funcionalismo, e tem o atual governador fora da disputa do segundo turno. Do outro lado, não parece coincidência que governadores que tiveram gestão mais responsável foram premiados com a reeleição já no primeiro turno, como Camilo Santana (PT), do Ceará, e Renan Filho (PMDB), de Alagoas. O mesmo poderia ter ocorrido no Espírito Santo, não fosse a desistência de Paulo Hartung (PMDB) de disputar a reeleição.

A situação financeira dos Estados é grave. Muitos não estão cumprindo o limite legal de comprometer até 60% da receita corrente líquida com a folha na soma dos três Poderes, quando se inclui os gastos com terceirizados e o imposto de renda sobre a folha. Informações preliminares apontam que o número de Estados nessa situação aumentou sensivelmente em 2017.

Se os números falam alto, a realidade grita. É visível o colapso dos serviços públicos, com muitos Estados enfrentando dificuldades para prover serviços básicos e honrar compromissos.

Há Estados em situação crítica, como o Rio de Janeiro, que está em regime de recuperação fiscal, suspendendo o pagamento da dívida ao Tesouro em troca de medidas de ajuste fiscal. O governador Pezão conseguiu algumas vitórias, mas luta praticamente sozinho. Exemplo disso foi a decisão do Legislativo de aprovar um aumento para servidores do Judiciário.

O Rio Grande do Sul está na fila de um acordo com a União e Minas Gerais poderá entrar, sendo que ambos conseguiram liminares no STF para suspender o pagamento da dívida ao Tesouro. Contratos foram rasgados.

Os militares e a política: Editorial | O Estado de S. Paulo

Nas eleições deste ano, notou-se uma presença acentuada de militares reformados concorrendo a cargos políticos, na esfera estadual e na federal, no Legislativo e no Executivo. O destaque tem sido o capitão reformado Jair Bolsonaro, candidato pelo PSL, com sua expressiva votação no primeiro turno. Ainda que esteja há muito tempo fora das Forças Armadas - deixou o Exército em 1988, ano em que foi eleito vereador do município do Rio de Janeiro, e desde 1991 ocupa ininterruptamente uma cadeira na Câmara dos Deputados -, Bolsonaro construiu e mantém sua identidade política vinculada à sua passagem no Exército.

Ao mesmo tempo que há maior participação de ex-militares na vida político-partidária, deve-se reconhecer que as Forças Armadas têm se mantido exemplarmente isentas nas questões eleitorais, numa demonstração de arraigada maturidade institucional. Não se viu, por exemplo, nenhuma ação político-partidária oriunda de quartéis ou algum movimento organizado por militares da ativa.

O alto-comando militar foi, a todo momento, muito enfático na isenção das Forças Armadas em questões políticas. Antes do primeiro turno, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, fez uma firme defesa do papel institucional das Forças Armadas, em entrevista ao Estado. “Nós somos instituição de Estado que serve ao povo. Não se trata de prestar continência para A ou B. Mas, sim, de cumprir as prerrogativas estabelecidas a quem é eleito presidente”, disse Villas Bôas.

Quando questionado se Jair Bolsonaro era o candidato das Forças Armadas, o comandante do Exército não titubeou: “Não é candidato das Forças. As Forças Armadas são instituições de Estado, de caráter apolítico e apartidário”.

Mais recentemente, em conversa com Eliane Cantanhêde, colunista do Estado, o comandante da Marinha, o almirante de esquadra Eduardo Leal, frisou a distância entre o papel institucional das Forças Armadas e as questões eleitorais. “O candidato ‘x’ ou ‘y’ pode ter muitos eleitores nas Forças Armadas, mas as Forças Armadas não têm candidato. Repito: as Forças Armadas, particularmente a Marinha do Brasil, não têm candidato. Não há nenhuma atividade, nenhuma campanha interna, nenhuma ação que possa nos associar a um dos dois candidatos. Estamos, institucionalmente, neutros”, disse Leal.

Frente esvaziada: Editorial | Folha de S. Paulo

Estratégia eleitoral do PT praticamente inviabiliza uma aliança ampla no segundo turno

A meros dez dias da votação decisiva, parece rumar a um fiasco a pretensão propagada pelo presidenciável Fernando Haddad (PT) de liderar uma frente suprapartidária, unida em defesa da democracia, contra Jair Bolsonaro (PSL).

As dificuldades para tal concertação foram expostas de forma pública e franca pelo senador eleito Cid Gomes (PDT-CE) —cujo irmão, Ciro Gomes, terceiro colocado no primeiro turno, é naturalmente o aliado prioritário para o PT.

“Tem que fazer mea-culpa, tem que pedir desculpa, tem que ter humildade e reconhecer que fizeram muita besteira”, cobrou o político cearense de uma plateia petista, sabendo que não será atendido. “Vão perder feio.”

Ex-ministros de governos petistas, os Gomes declararam, como seria previsível, voto em Haddad. Entretanto deixaram claro que seu engajamento não irá muito além disso. As demais lideranças relevantes mostram ainda mais frieza.

Há exemplos no Brasil e no mundo de união entre forças políticas heterogêneas para derrotar uma candidatura vista como um mal maior —e Bolsonaro, dado seu histórico de declarações em favor da ditadura militar e hostis ao meio político, poderia, em tese ao menos, desencadear tal fenômeno.

Entretanto a forma como o PT conduziu toda sua campanha praticamente inviabiliza uma aliança de amplo espectro. Mais que a eleger um chefe de governo, a estratégia do partido se prestou a sustentar sua versão para o impeachment de Dilma Rousseff, a ruína econômica e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Limites no combate à criminalidade: Editorial | O Globo

Para que não cresça a impunidade, não se deve entender que policial sempre atuará em legítima defesa

Seja qual for o resultado da eleição, constará das análises finais que um ímã de atração de votos do candidato Jair Bolsonaro (PSL) tem sido ele saber conectar-se à modulação da onda conservadora que atinge o país e atender, com seu discurso, que não é de hoje, aos compreensíveis anseios da população por mais segurança.

O candidato parece corresponder ao que eleitores esperam dele neste campo, mas isso não significa que propostas duras que têm feito são as melhores.

Mesmo que seja indiscutível a necessidade de haver mudanças de legislação para preencher vazios legais que geram perigosa sensação de impunidade entre criminosos. E, como se sabe, a ausência de medo da lei e da repressão do poder público é forte incentivo ao crime continuado, na sociedade como um todo.

Um exemplo de proposta que escapa aos limites da sensatez é a do “excludente de ilicitude”, figura jurídica que Bolsonaro defende que seja aplicada a atos de violência praticados por policiais. Em caso de morte, em vez de o policial responder a processos que averiguarão se ele cometeu homicídio sem justificativa plausível, estará sempre pré-estabelecido que agiu em legítima defesa. Não haverá qualquer investigação. Existe projeto com este objetivo, de autoria do próprio Bolsonaro, em tramitação na Câmara.

Brasil está pouco preparado para a economia do futuro: Editorial | Valor Econômico

O mundo está entrando na quarta revolução industrial e o Brasil, que já não andava bem antes, está ficando ainda mais para trás, revela o Relatório de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial. O país caiu três posições em relação ao índice anterior, mas o novo estabelece mais critérios que possibilitam vislumbrar os fatores determinantes necessários para triunfar na nova fase da economia. O Brasil está no pelotão dos últimos 11 dos 140 países analisados, na 129ª posição, ao lado da Grécia (135) e Venezuela (140) entre os mais preparados para o futuro.

O relatório de 2018 deu ênfase ao capital humano e inovação, agilidade e resistência para medir o caminho futuro da competitividade das nações. Novos conceitos foram introduzidos para medir essas qualidades, como cultura empresarial, incorporação de ideias desestabilizadoras pelas empresas, pensamento crítico, meritocracia etc, ao lado dos componentes mais tradicionais, como estabilidade macroeconômica e infraestrutura.

As condições desfavoráveis ao Brasil são comuns à maioria das nações, o que não é um consolo. O relatório indica que há alta correlação entre competitividade e nível de renda. Países ricos são os 20 mais competitivos e só três que não têm esta característica aparecem entre os 40 melhores - Malásia, China e Tailândia.

Mas políticas domésticas brasileiras o derrubam no ranking, em especial as que se relacionam ao grau de abertura da economia. As economias mais abertas, diz o relatório, "são mais inovadoras e seus mercados, mais competitivos". O Brasil está na 117ª posição no mercado de produtos, devido a taxas e subsídios distorcivos (só 8 países estão atrás dele neste quesito), barreiras não tarifárias (só 4 têm mais delas que o Brasil) e altas tarifas de importação (125º lugar). A conclusão é que há pouca competição no país.

FHC diz que ‘porta’ com candidato do PT está ‘enferrujada’

Marcelo Osakabe e Daniel Weterman | O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que uma possível “porta” de diálogo com o petista Fernando Haddad está “enferrujada”. “Acho que a fechadura enguiçou”, afirmou FHC. Segundo o ex-presidente, os eleitores “não levam mais em conta a orientação dos partidos”.

“A frente democrática é uma expressão que havia no passado. Acho que os partidos, as instituições, os sindicatos, estão um pouco escorregadios porque a sociedade mudou. Vocês acham que as pessoas vão olhar para alguma frente?”, questionou o tucano, em referência à tentativa do PT de formar uma coalizão de partidos em apoio a Haddad. FHC recebeu ontem o prêmio Professor Emérito – Troféu Guerreiro da Educação Ruy Mesquita, concedido pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) em parceria com o Estado.

Questionado se ajudaria Jair Bolsonaro (PSL), disse que “ele não estende a mão a ninguém”.

Ao saber das declarações de FHC, Haddad disse que o tucano não o apoiou como gostaria. “Quando ele falou que tinha uma porta, eu ouvi isso com alguma esperança. Só soube que ela estava enferrujada hoje (ontem), então ele está aos poucos contando toda a história”, disse. “A vida é assim. A história às vezes cobra os nossos posicionamentos. Nem sempre avisa.”

Moro. Em entrevista ao SBT, Haddad fez acenos ao eleitorado de centro que não manifestou apoio a ele. O petista fez elogios ao juiz federal Sérgio Moro e a FHC, ao mesmo tempo que não deixou de criticar a presidente cassada Dilma Rousseff.

Rede e PPS se reúnem para viabilizar fusão dos dois partidos

União é vista como única saída para o partido de Marina Silva, que não atingiu cláusula de barreira nas eleições; regra eleitoral, no entanto, pode inviabilizar acordo

Mariana Haubert | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - A Rede e o PPS iniciaram nesta semana reuniões conjuntas entre as siglas para organizar a fusão dos dois partidos. Grupos designados por cada legenda se encontraram nesta quarta-feira, 17, em Brasília, e começaram a mapear a situação nos Estados para traçar um plano definitivo.

Conforme apurou o Estadão/Broadcast, os cenários estaduais são relativamente favoráveis para viabilizar a união. Os comandos locais serão distribuídos entre as principais lideranças de acordo com a força de cada uma nas regiões e o objetivo é contemplar os dois partidos igualitariamente para não gerar conflitos logo de início.

A ideia é que as siglas se unam até o fim do ano, ainda que informalmente, já que uma regra impede a fusão ou incorporação de partidos com menos de cinco anos, caso da Rede Sustentabilidade, criada em 2015. Por isso o partido ingressará ainda nesta semana com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para questionar a constitucionalidade da regra.

Integrantes do partido, no entanto, avaliam que a possibilidade do Supremo dar uma decisão favorável à Rede é improvável. A mudança foi estabelecida pela minirreforma eleitoral de 2015 e já foi questionada na Justiça pelo Pros, que não obteve sucesso. Se o Supremo mantiver a regra, os dois partidos devem formalizar uma coligação política até 2020, quando finalmente a fusão poderá ser autorizada.

A fusão entre os dois partidos é vista como a única saída para a recém-criada Rede Sustentabilidade, idealizada por Marina Silva. Ela concorreu à Presidência da República neste ano mas foi derrotada, em sua pior performance nas três vezes em que concorreu ao cargo. Ela obteve apenas 1% dos votos válidos e acabou ficando em 8º lugar.

Teresa Cristina - O Sol nascerá

Mário Quintana: A canção da vida

A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:
Como eu sou bela
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Opinião do dia: José Arthur Giannotti

• Há outras razões para o voto nos extremos?

Há. O eleitor vive num mundo violento e acha que só a violência resolve. Para acabar com a violência, ele acha que é bandido na cadeia ou morto. Isso não funciona no mundo real. Você só resolve isso criando instituições democráticas. Você tem de criar empregos, tem de esclarecer como será a reforma da Previdência e acabar com vantagens.

--------------
José Arthur Giannotti é professor de filosofia, em entrevista: ‘Forças ocultas vão ter de se moderar’, Folha de S. Paulo, 16/10/2018

*Almir Pazzianotto Pinto: O pecado da omissão

- O Estado de S.Paulo

O segundo turno deverá determinar o fim do PT como força política

No formoso Sermão da Primeira Dominga do Advento, pregado na Capela Real em Lisboa, no ano de 1650, advertiu o padre Antonio Vieira: “A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se conhece; e o que mais facilmente se comete e dificultosamente se conhece raramente se emenda”.

A frase do santo jesuíta, a mais poderosa inteligência de Portugal de todos os tempos, deve servir de alerta a quem decidiu conservar-se omisso e indiferente às eleições do próximo dia 28, quando estará em jogo o futuro da democracia brasileira. Frente a frente, submetendo-se ao escrutínio de 147 milhões de eleitores chamados a decidir o futuro da República, estarão o deputado federal Jair Bolsonaro, oficial da reserva do Exército, e Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, advogado, porta-voz e alter ego de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidiário de Curitiba.

O aparentemente impossível aconteceu. No primeiro turno Bolsonaro quase alcançou maioria absoluta; Fernando Haddad, na última semana correndo por fora, conseguiu a segunda colocação. Alguns dos supostos favoritos, como Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Marina Silva, foram avisados de que pertencem ao passado e devem abandonar antigos projetos de exercer a suprema magistratura da Nação.

Aos eleitores, antes de se decidirem, compete examinar o currículo dos dois finalistas e o histórico dos respectivos partidos. Jair Bolsonaro candidatou-se pelo Partido Social Liberal (PSL), em aliança com o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), ao qual coube indicar o candidato à Vice-Presidência, Hamilton Mourão, general da reserva. Fernando Haddad, apesar de relativamente jovem, tem longo passado como militante do Partido dos Trabalhadores (PT). Sua candidata à Vice-Presidência é Manuela d’Ávila, filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), fundado em fevereiro de 1962 por João Amazonas, Diógenes Arruda, Pedro Pomar, Maurício Grabois. Desligando-se voluntariamente, ou afastados compulsoriamente, alguns dissidentes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) criaram o PCdoB com o objetivo de “promover a derrubada do sistema capitalista e, através da revolução proletária, realizar a passagem para o socialismo”, conforme se lê no Dicionário Histórico Geográfico Brasileiro Pós-1930 (Ed. FGV-Cepdoc, 2.ª edição, 2001, vol. IV, pág. 4.280). Quem duvidar consulte o livro Combate nas Trevas - A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada, de Jacob Gorender (Ed. Ática, 1987).

Vera Magalhães: Hora de segurar a bola

- O Estado de S.Paulo

No comando da campanha de Jair Bolsonaro prevalece a avaliação de que ele não deveria ir a nenhum debate no segundo turno, nem mesmo o da TV Globo. A principal alegação é clínica, e foi manifestada em termos um tanto escatológicos pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Nesse campo, a palavra final deverá vir de nova avaliação da equipe médica que cuida do candidato.

Mas a razão primordial pela qual aliados defendem que ele não vá aos programas televisivos é mesmo de natureza estratégica, como o próprio Bolsonaro admitiu em uma fala recente. Como um time que vai vencendo a partida decisiva por boa margem de gols, esses apoiadores acham que a campanha deve ser de manutenção nesses 11 dias que restam até o segundo turno.

Aparições nas redes sociais, eventuais entrevistas, tuítes e um programa eleitoral simples e direto seriam a receita para confirmar a vitória apontada pelas pesquisas.

Para se contrapor às acusações de que estaria fugindo da discussão de ideias, a campanha deve intensificar um recurso que começou a ser usado no horário eleitoral: a comparação entre propostas de Bolsonaro e de Haddad (obviamente, a partir do crivo da própria campanha).

No mais, serão explorados ao máximo os reveses da campanha petista, como a canelada que foi dada no PT pelo senador eleito Cid Gomes. A avaliação é de que isso mantém os apoiadores mobilizados nas redes sociais e no WhatsApp, as duas principais arenas em que o bolsonarismo “debateu” nesta campanha peculiar.

Monica De Bolle*: O caminho da prosperidade?

- O Estado de S.Paulo

O plano de Bolsonaro foi feito em power point, não com texto articulado e dados para substanciar propostas

Em 2015, tivemos A Ponte para o Futuro, o plano de governo elaborado pelo então PMDB antes do impeachment de Dilma Rousseff. O documento até que era bom: falava na necessidade de conter gastos, na reforma da Previdência, nas reformas microeconômicas, pincelava algo sobre a reforma tributária, e até fazia acenos ao mundo com diretrizes para a abertura da economia brasileira. Como sabemos hoje, a ponte caiu no meio do caminho e o futuro resvalou para a desilusão e a raiva.

Há quase 20 anos, tivemos um voto indignado no Brasil que elegeu o PT – era a época do “temos de acabar com tudo isso o que está aí”. E por algum tempo, foi possível imaginar que o Brasil tivesse no “caminho para a prosperidade”. Mas, no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho. A pedra não foi fruto do acaso, mas moldada pelo PT e pelos demais partidos responsáveis pela inaudita corrupção que destruiu o Brasil e a civilidade dos brasileiros.

Agora, novamente nos oferecem O Caminho da Prosperidade, o plano de governo do candidato que lidera com margem ampla as pesquisas de intenção de voto. Eu li o plano de Bolsonaro, plano elaborado em power point, não em forma de documento com texto articulado e dados para substanciar propostas. Eis que logo na primeira página dei de cara com uma citação bíblica: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, João 8: 32. Trata-se da primeira vez que vejo a Bíblia citada em um plano de governo, o que não deixa de ser desconcertante. Mas, o que esperar de um candidato cujo mote da campanha é “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”? Quem tem a primazia, o Brasil ou Deus? Pode parecer picuinha semântica, mas não é. Afinal, estamos escolhendo o governante do País, não o líder de uma seita ou igreja. Achei que tivéssemos nos libertado disso quando Lula foi afastado da política.

Fábio Alves: A Previdência de Bolsonaro

- O Estado de S.Paulo

A dúvida é se a proposta de Bolsonaro para a Previdência será dura ou mais aguada

A proposta de reforma da Previdência a ser enviada ao Congresso por Jair Bolsonaro, caso as pesquisas de intenção de voto confirmem sua ampla liderança e ratifiquem a sua vitória na eleição presidencial, poderá frustrar a imagem de reformista que o candidato do PSL tem entre os investidores que lhe bancaram o apoio praticamente unânime.

As mais recentes declarações de Bolsonaro e seus principais auxiliares, como o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), já “nomeado” ministro-chefe da Casa Civil num eventual governo dele, foram na direção de mudanças bem mais graduais e aguadas na Previdência Social em comparação, por exemplo, com o projeto original de reforma enviado por Michel Temer em dezembro de 2016.

Por essas declarações, a idade mínima de aposentadoria, que na versão final do projeto do governo Temer ficou em 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, deve ser mais baixa na reforma que Bolsonaro tentará aprovar no Congresso. É provável que seja mantida a diferenciação na idade de aposentadoria entre homens e mulheres.

Com o histórico de votações de Bolsonaro em 27 anos como parlamentar, como esperar mudanças significativas que afetem os benefícios de militares? É bom lembrar que a bancada no Congresso de representantes dessa corporação aumentou.

Vale destacar que é preciso dar um desconto, neste momento, no discurso de Bolsonaro e de seus auxiliares sobre a reforma da Previdência, pois dificilmente antes da votação do segundo turno um candidato anteciparia uma proposta muito dura de um tema bastante impopular entre os eleitores para não pôr em risco sua vitória.

Merval Pereira: O verdadeiro problema

- O Globo

Lula não é Mandela, embora muitos, no Brasil e no exterior, alimentem essa lenda, por desconhecimento ou má-fé política

O maior problema para o PT não é não ter conseguido formar a tal “frente democrática”; pode até ser que consiga, mas o tempo está curto, e os fatos estão atropelando a estratégia.

O maior problema é não entender que, mesmo se Fernando Henrique, Ciro Gomes, Marina, Joaquim Barbosa e outros que tais cerrassem fileiras em torno de Haddad, provavelmente nada aconteceria, pois os eleitores já foram para onde queriam ir, independentemente da cúpula de seus partidos.

Gestos dramáticos como uma união suprapartidária, ou os eternos abaixo-assinados com milhares de assinaturas de intelectuais, juízes, artistas, professores, simplesmente atingem os convertidos, não mudam o voto de ninguém. E, se juntarem todos esses, é capaz de prejudicar mais ainda a candidatura de Haddad, seria música para os ouvidos de Bolsonaro.

Dirá que são todos farinha do mesmo saco, que a social-democracia levou o país para o buraco, que PT e PSDB sempre estiveram juntos, mesmo quando brigavam. É isso que a grande maioria de seus eleitores pensa, e a união de todos esses contra Bolsonaro só confirmará que é ele o candidato antissistema, que a maioria dos eleitores quer desmontar, mesmo que o que seja colocado no lugar seja uma incógnita, com altos riscos.

Preferem um possível erro novo do que insistir no erro velho, que detectaram muito antes das pesquisas eleitorais. Assim aconteceu com Lula em 2002. Desde 2013 esse sentimento estava latente nas classes média e alta, e se espalhou para as classes populares devido à eclosão da violência e da falta de serviços públicos que atendam razoavelmente às necessidades do dia a dia do cidadão comum. E à controvérsia de valores morais, identificada por muitos como uma marca esquerdista.

Bernardo Mello Franco: Cid Gomes chutou o pau do circo petista

- O Globo

O irmão de Ciro detonou o PT no momento em que Haddad lutava para manter o ânimo. O discurso virou arma para a campanha de Bolsonaro

Quem tem os irmãos Gomes como aliados não precisa de adversários. Na semana passada, Ciro esnobou um convite para coordenar o comitê petista no segundo turno. Declarou “apoio crítico”, fez as malas e se mandou para a Europa. Na segunda-feira, Cid subiu num palanque da campanha de Fernando Haddad. Esculhambou a plateia, atacou o PT e afirmou que o partido vai “perder feio”.

Cid disse verdades que os petistas teimam em não admitir. A sigla deveria ter humildade, pedir desculpas e reconhecer que fez “muita besteira”. A cobrança está correta, o problema foi o resto. Ao proclamar que Haddad será derrotado, o senador eleito deu um presente inesperado a Jair Bolsonaro. Ontem à noite, o capitão exibiu o discurso em seu programa eleitoral na TV.

O irmão de Ciro chutou o pau do circo no momento em que os petistas lutavam para manter o ânimo. A campanha já estava abatida com a desvantagem nas pesquisas. Agora terá que explicar por que nem os aliados acreditam mais numa virada.

Míriam Leitão: Os fios amarram Haddad e o PT

- O Globo

PT é vítima de mentiras nesta campanha eleitoral, mas o maior problema do partido são as verdades que não tem coragem de encarar

São muitos os fios nos quais o PT foi se aprisionando. A candidatura de Fernando Haddad, desde o início, tem tido dificuldade de rompê-los. O evento no Ceará é só a cena pública da incapacidade de o partido olhar com sinceridade para a corrupção que houve nos governos petistas e para o desastre econômico provocado pela adoção das suas teses. Nos dois casos, o PT preferiu a narrativa. Ela reconforta porque parte da ideia de que o inferno são os outros, mas é falsa, como várias das narrativas nesta campanha.

Agora, Fernando Haddad está indo em câmera lenta para algum ponto no centro, mas sem conseguir sucesso em formar a frente ampla. Vai devagar demais para a urgência da hora, porque os fios do núcleo duro do PT amarraram seus gestos e adiam suas palavras. O “assim você vai perder a eleição”, dito pelo ex-governador Cid Gomes, naquele jeito Gomes de ser, é o aviso sincero do desfecho mais provável deste processo eleitoral.

Haddad disse recentemente que os diretores da Petrobras foram deixados “soltos” e isso teria que ser enfrentado num futuro governo do PT. É um avanço em relação à resposta que vinha dando de que há corrupção na Petrobras desde o governo militar, o que é uma forma de fugir da pergunta. Mais do que soltos, os diretores viraram senhores de um compartimento estanque e autossuficiente, com divisões de compra, assessorias, centros jurídicos, tudo separado, como se fosse uma companhia à parte. Eram “babies petrobras”, como explica um dirigente. Eles ficaram soltos, no território de cada um, com muitos poderes internos e blindados contra um olhar externo e até de outra área da própria empresa. Essa governança que favorecia a corrupção já foi desmontada, felizmente.

Elio Gaspari: Caveira!

- O Globo

Comparar Jair Bolsonaro a Donald Trump pode ser até chique, mas é o mesmo que viver na Barra da Tijuca pensando que se está em Miami. A alma da retórica do capitão está bem mais longe, nas Filipinas. Seu presidente chama-se Rodrigo Duterte, prometeu reformas econômicas e celebrizou-se pela política de combate à criminalidade, sobretudo ao tráfico de drogas.

Visitando o quartel do Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio, Bolsonaro disse à tropa que “podem ter certeza, chegando (à Presidência), teremos um dos nossos lá em Brasília”. Em seguida, deu o grito de guerra da corporação: “Caveira!”

Comparado com Duterte, Bolsonaro é uma freira, pois o presidente filipino vai além: “Hitler matou três milhões de judeus. Temos três milhões de viciados, eu gostaria de matá-los.” Está cumprindo. Em dois anos de governo, morreram 4.500 pessoas, segundo as estatísticas oficiais, e 12 mil, segundo organizações da sociedade civil.

Como Bolsonaro e Donald Trump, Duterte manipula sua incontinência verbal. Põe na roda a mãe de quem lhe desagrada, do Papa ao presidente Barack Obama. Quando uma missionária australiana foi morta e estuprada, ele disse que lastimava o crime porque ela “era tão bonita, foi um desperdício”. Em alguns casos, desculpou-se.

Aos 75 anos, tem o cabelo curto e negro de tintura, gosta de andar de motocicleta, teve um divórcio agreste, propala sua virilidade e as virtudes da pílula azul. Ele diz que “meu único pecado são os assassinatos extrajudiciais”.

Roberto DaMatta: O mal-estar eleitoral

- O Globo

É normal que o período eleitoral apaixone. Não é, porém, normal que se transforme numa batalha bíblica entre anjos e demônios

Sendo seres rigorosamente da casa e “de família”, todos temos, além de um nome a zelar, uma enorme ambivalência pela “política”, sobretudo quando ela não pode mais esconder o meio-termo e exige voto e escolha. Criados para aceitar, fingir e não reclamar do que temos e somos (pois há gente pior que nós...), temos um desconforto amigável com os confrontos eleitorais.

Com seu exagero ianque, o professor Moneygrand me assegura que o sistema político brasileiro foi desenhado para não escolher e que, para nós, brasileiros, o inferno é ser obrigado a tomar partido. Neste sentido, diz ele, somos sem querer o país no futuro, já que, na sua percepção, uma “ética da dúvida” será dominante neste planeta canibalizado pelo consumismo...

Não seria um paradoxo sermos apaixonados pela “política” — esse domínio no qual o público e não previsto se manifesta abertamente —quando somos criados para sermos obedientes e honestos em casa, mas treinados par esconder, mentir e ocultar na rua?

Quando foi que o falar (mal) dos outros deixou de ser o assunto mais importante do Brasil? Americanos falam de coisas; nós, de pessoas, aprendi numa América mais para Alexis de Tocqueville do que para Joseph McCarthy.

De fato, em casa tudo nos é atribuído: somos pais, filhos, irmãos, sobrinhos, netos, cunhados... Nela, nada é escolhido, e o comportamento segue a velha e inconsciente hierarquia inibidora do nosso lado público, cidadão e individualista que surge com os amigos que escolhemos no mundo público quando (altamente culpados) estamos livres dos controles da nossa poderosa rede de carne e de sangue.

Em casa somos “educados” e, sobretudo, obedientes — quase reacionários, diz meu amigo Levy... Mas na “rua” assustamos (e escandalizamos) quando nossos “responsáveis” descobrem como um latejar de liberdade combinado a um grama de igualdade nos torna “moleques de rua” e “revolucionários”, desafiando não apenas “tudo isso que aí está” (o que é fácil de dizer e até hoje impossível de fazer), mas igualmente os sofridos corações maternos...

Criados para não discordar, a polarização eleitoral causa mal-estar quando legitima diabolizar adversários políticos mesmo quando eles são da nossa família. A repressão do dissenso em casa revela uma negação absurda da realidade na rua. Ela legitima classificar genitores, professores e amigos como nazistas e como apoiadores do fim do mundo —caso “ele” ou o “outro” seja eleito.

É normal que o período eleitoral apaixone. Não é, porém, normal que se transforme numa batalha bíblica entre anjos e demônios.

Hélio Schwartsman: Guia de voto para os indecisos

- Folha de S. Paulo

Caminhos possíveis para quem não quer nem Bolsonaro nem Haddad

Como deve votar o eleitor que não quer nem Bolsonaro nem Haddad? O dilema pode assaltar mais de 66 milhões de brasileiros que ou votaram em outros candidatos ou não compareceram ou anularam/branquearam seus sufrágios.

A pedidos, esboço um pequeno guia de opções. Pela cartilha democrática, o segundo turno não é o momento de manifestar preferências, mas de tentar exercer o poder de veto. Assim, o mais sensato —e também o mais recomendado para quem acredita no poder das escolhas sociais— é que o eleitor reprima suas reações mais viscerais e vote no candidato que considerar menos ruim.

Para um contingente não desprezível de cidadãos, contudo, ambos os concorrentes são igualmente péssimos. Convenha-se que é fácil encontrar argumentos para não votar seja em Bolsonaro, seja no PT. Para esses eleitores, resta a opção entre abstenção (a multa é irrisória), justificativa (é preciso sair do município de domicílio eleitoral) e o votobranco/nulo.

Uma confusão frequente é afirmar que o branco/nulo beneficia o candidato que está na frente. Isso vale apenas para o turno inicial e só se houver uma chance de o primeiro colocado vencer logo de cara. Como nulos e brancos não são considerados votos válidos, eles reduzem o limiar de sufrágios que o postulante precisa atingir para vencer já no primeiro turno. No segundo turno, um nulo é apenas um nulo. Seu autor até pode ser acusado de omissão, mas não de favorecimento.

Para os espíritos mais hamletianos, que não conseguem mesmo decidir-se, minha sugestão é que esperem até o final. Sempre há a possibilidade de algum candidato dizer ou fazer algo que elimine de vez todas as dúvidas. Convém também ficar de olho nas pesquisas. Se elas apontarem para um quadro irreversível, a escolha pode ficar menos pesada. O que é certo é que o eleitor deve satisfações apenas à própria consciência, o que é o milagre e o perigo da democracia.