quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Roberto DaMatta: Ano novo?

O Globo

O ano passou de 21 para 22, mas não conseguimos controlar as velhas, triviais e vergonhosas roubalheiras, o machismo, o feminicídio e a violência miliciana e policial. Ademais, aumentamos a taxa de racismo estrutural e estruturante, do “você sabe com quem está falando?” e, para completar, voltou a inflação, em paralelo a uma polarização que, demandando a exclusão do outro, é, em todo tempo e lugar, o timbre do reacionarismo fascista.

O calendário muda, mas o estilo aristocrático e elitista, antirrepublicano e autoritário, claro na Presidência e em todo lugar, permanece atrapalhando nossas vidas.

Num chavão, o “ano novo” realiza sua costumeira malandragem de mudar não mudando. Continuamos a pensar o tempo como calendário, imaginando que, quanto mais velhos, mais “adiantados” ficamos, quando, na verdade, o Brasil de hoje é uma infâmia de atrasos. É um país a caminho do suicídio moral.

Como falar num novo ano se o acontecimento básico deste tempo começa com uma campanha eleitoral que repete a anterior, negando o devir histórico?

É abominável ver a repetição da “luta” Lula-Bolsonaro, que, neste “novo ano” de 22, estão muito mais parecidos com criadores de autolorotas negacionistas — esse conceito dominante de um ano novo nascido velho. São nossos mais ávidos postulantes a “supremos magistrados da nação” — uma nação que precisa de muita água benta (e sanitária) para livrar-se de sua danação e que corre o risco de repetir-se no seu rito democrático mais importante. Reprisará na eleição sua sina de conjugar, segundo o oportunismo, burocracia-legal-processualística, compadrio regado a mandonismo elitista e carisma para dar e vender.

Luiz Carlos Azedo: Lula e Bolsonaro estreitam a possibilidade de 3ª via

Correio Braziliense

A unificação das forças de centro dependeria de um acordo entre seus candidatos ou de um deles atrair os eleitores dos demais, ou de um outro fato novo na política

A nove meses das eleições presidenciais, o favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a resiliência da base eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, favorecido pelo exercício do poder, dominam o cenário pré-eleitoral. O campo da chamada terceira via existe no eleitorado, mas, até agora, não encontrou um candidato capaz de fulanizá-lo, como é da nossa tradição. Essa fragmentação reproduz o cenário do segundo turno de 2018, a não ser que surja algum fato novo.

A unificação das forças de centro dependeria de um acordo entre seus candidatos — Ciro Gomes (PDT), Sergio Moro (Podemos), João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira (Cidadania) — ou de um deles atrair os eleitores dos demais. Sem isso, nada garante que Lula ou Bolsonaro possam ser deslocados do segundo turno. A polarização direita x esquerda é mais desejada por Bolsonaro. Lula se movimenta para atrair lideranças de centro e bloquear a chamada terceira via.

Há várias explicações para as dificuldades das forças de centro. Aproveito o Bicentenário da Independência para destacar uma delas: a trajetória das ideias liberais no Brasil. Quando D. Pedro I introduziu o direito à propriedade privada, na Constituição outorgada de 1824, esse instituto da ordem burguesa serviria de blindagem para o regime escravocrata, até a Abolição, em 1888. Enquanto o liberalismo na Europa ocorria num contexto de trabalho livre e de igualdade perante a lei, aqui no Brasil a ordem escravocrata predominante restringia seus benefícios, os “direitos iguais”, aos homens livres.

Bernardo Mello Franco: Curtindo as férias adoidado

O Globo

Há momentos que são capazes de resumir um mandato presidencial. O Brasil assistiu a um deles nos últimos dias de 2021. A Bahia registrou as piores enchentes em mais de três décadas. Enquanto o estado submergia, Jair Bolsonaro foi curtir férias no litoral catarinense.

A catástrofe deixou 26 mortos, 518 feridos e 93 mil desabrigados. Derrubou pontes, interditou rodovias, destruiu estoques de vacinas e medicamentos. Na semana passada, o presidente foi questionado sobre a longa estadia na praia. “Espero não ter que retornar antes”, respondeu.

Bolsonaro se esbaldou. Dançou funk, passeou de jet ski, visitou um parque de diversões. Antes do Natal, já havia passado seis dias no Guarujá. Fez um bate-volta em Brasília e retornou ao ócio remunerado em São Francisco do Sul.

No dia 31, o presidente convocou cadeia de rádio e TV para um pronunciamento à nação. Em seis minutos e meio de falatório, só dedicou duas frases aos “nossos irmãos da Bahia”.

Visitar locais de grandes tragédias é obrigação básica de qualquer governante. A presença da autoridade não devolve vidas perdidas, mas indica que os sobreviventes não estão sozinhos. É uma demonstração de respeito e empatia — duas mercadorias em falta no Planalto.

Elio Gaspari: Sem teatro, o FBI já pegou 700

O Globo

A Polícia Federal americana pescou os lambaris, falta o peixe gordo

Amanhã completa-se um ano da insurreição trumpista que pretendia melar o resultado da eleição de Joe Biden. Cinco dias depois da invasão do Capitólio, Steven M. D’Antuono, chefe do escritório de Washington do Federal Bureau of Investigation (FBI), avisou: “Nossos agentes vão bater na tua porta”. Até agora, bateram numas mil portas e prenderam ou indiciaram 724 pessoas de 45 estados americanos. Abriram 170 investigações e partiram da análise de 100 mil peças de comunicação digital. Sem lavajatismo, quase todo dia havia alguém sendo interrogado. O sujeito dizia que esteve no Capitólio por dez minutos, e o FBI mostrava, com vídeos, que ele esteve lá das 14h45 até por volta das 15h05, com um amigo que agarrou um policial e empurrou uma porta. Outro achou que passara despercebido, e o FBI bateu à sua porta em outubro, mostrando-lhe que esteve no Capitólio por pelo menos 17 minutos. Outros, que posaram ao lado de estátuas ou quadros, foram logo achados. Um discreto desordeiro que passou despercebido articulou um ataque a uma prisão. Seu cúmplice era um agente disfarçado.

Os agentes procuraram agulhas no palheiro, mas nunca dispuseram de tantos meios para achá-las. Exibicionistas incriminaram-se nas redes sociais. Além disso, o FBI rastreou os celulares que estavam ligados no Capitólio e na vizinhança durante as horas dos distúrbios. A isso somaram-se as câmeras dos policiais e pistas oferecidas por centenas de pessoas.

Bruno Boghossian: A serviço do presidente

Folha de S. Paulo

Audiência pública organizada às pressas serviu para mascarar sabotagem do presidente

O Ministério da Saúde mobilizou a máquina do governo para satisfazer os caprichos de Jair Bolsonaro. Na reta final de 2021, a pasta abriu uma consulta pública com perguntas feitas sob medida para confundir os pais e dificultar a vacinação de crianças contra a Covid. Nesta terça-feira (4), organizou uma audiência pública para espalhar desinformação sobre os imunizantes.

A operação foi montada a jato. Em 16 de dezembro, o corpo técnico da Anvisa autorizou o uso da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Naquela mesma noite, Bolsonaro atacou publicamente a decisão da agência: levantou riscos do imunizante e disse que divulgaria os nomes dos responsáveis pela análise. Dois dias depois, o Ministério da Saúde anunciou a tal consulta pública.

Hélio Schwartsman: Tempos sombrios na ciência

Folha de S. Paulo

Vivemos tempos epistemologicamente complicados

Paul Feyerabend é o Bakunin da filosofia da ciência. Se, nos anos 50, ele ainda era um bem-comportado discípulo de Karl Popper, nos 70 já defendia o anarquismo epistemológico. A palavra "anarquismo" aqui não é força de expressão. Para Feyerabend, não existem regras que caracterizem o método científico. Não há diferenças objetivas entre ciência, astrologia e entusiastas da dança da chuva. O que temos são só discursos com diferentes capacidades de impor-se. Para Feyerabend, a melhor forma de assegurar o avanço das ciências é deixar que elas interajam livremente com esses outros discursos, num deliciosamente anárquico vale-tudo.

É raro ver as ideias de Feyerabend saírem do ambiente de discussões puramente teóricas em departamentos de filosofia, mas, de vez em quando, isso ocorre. Vem ocorrendo nos últimos meses na politicamente correta Nova Zelândia. Uma comissão do governo propôs que o "matauranga maori", o conhecimento tradicional maori, fosse incluído no currículo escolar em pé de igualdade com a ciência "ocidental".

Mariliz Pereira Jorge: Este Brasil me obriga a beber

Folha de S. Paulo

Não será neste ano que conseguirei adotar o 'Dry January'

Uma moda que começa a ganhar o mundo, mas ainda não chegou por estas bandas, é a do "Dry January", ou janeiro seco. A ideia é cortar o álcool durante todo o mês. Eu havia lido sobre o assunto em veículos estrangeiros, mas este ano vi as reportagens se multiplicarem por aqui e o assunto aparecer, mesmo que timidamente, nas redes sociais. Talvez falte o incentivo financeiro para que influenciadores abracem a causa como fizeram com o "segunda sem carne", que irritou os pecuaristas. Mas isso é outro assunto.

Ao que consta, o "Dry January" começou em 2011, por meio de uma iniciativa individual. A britânica Emily Robinson se preparava para uma meia maratona e decidiu cortar a bebida alcoólica. O seu relato sobre os benefícios daquele período ganhou notoriedade por meio da ONG Alchool Change UK, que passou a promover uma campanha com o apoio do Departamento de Saúde Pública do Reino Unido.

Mais recentemente, virou moda nos Estados Unidos, onde 15% dos americanos afirmaram em pesquisa da YouGov que planejavam ficar sem beber no primeiro mês de 2022. É uma maneira saudável de começar o ano, uma espécie de detox coletivo depois de tantos exageros no Natal e Réveillon, sem falar dos quase dois anos da pandemia, que elevou o consumo de álcool no mundo todo.

José Nêumanne*: Bolsonaro e Lula no país dos absurdos

O Estado de S. Paulo.

Favoritos à reeleição aproveitam-se de erros crassos dos constituintes de 1988 e da ditadura dos partidos

Se as pesquisas de opinião estiverem fazendo previsões minimamente razoáveis, é muito provável que a disputa pela Presidência da República levará ao segundo turno a inevitável reeleição do petista Lula da Silva, condenado por corrupção nas instâncias iniciais do Judiciário, ou de seu inimigo preferencial, o capitão-terrorista Jair Bolsonaro. Ambos são caudatários da crença fanática de seguidores e da composição conveniente dos tribunais superiores, que jogaram no lixo inúmeras evidências da existência de uma prática sistêmica da corrupção das gestões sob comando de um partido soit-disant de trabalhadores. E de prosélitos que desconhecem o sentido dicionarizado da palavra mito (mentira) e não dão a mínima para promessas de campanha nunca realizadas pelo outro, como, por exemplo, o fim da reeleição.

Fernando Exman: Teto de gastos, vítima da polarização eleitoral

Valor Econômico

Âncora fiscal é alvo de ataques de aliados de Bolsonaro e Lula

A polarizada campanha eleitoral ainda nem pegou tração neste início de 2022 e já produziu uma potencial vítima colateral. O teto de gastos. A âncora fiscal lançada ao mar revolto em 2016, para reduzir as turbulências no mercado provocadas pela irresponsabilidade fiscal que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, tornou-se alvo de críticas dos grupos políticos que cercam os dois pré-candidatos que lideram as pesquisas - o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Uma parte da história é conhecida.

Instituído com a promulgação da Emenda Constitucional 95, proposta enviada pelo ex-presidente Michel Temer ao Legislativo com o objetivo de equilibrar as contas públicas, o teto de gastos já era visto naquela época como um rígido mecanismo de controle de despesas. O instrumento foi concebido para limitar por 20 anos os gastos públicos federais, que só poderiam crescer conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Estabeleceu-se que a inflação considerada para o cálculo seria a acumulada em 12 meses, até junho do ano anterior. E tal regime valeria para os orçamentos fiscal e da seguridade social, para todos os órgãos e todos os Poderes da República.

Daniel Rittner: Cinco eleições de 2022 para ficar muito atento

Valor Econômico

Pleitos de Hungria, EUA, França, Colômbia e China merecem ser acompanhados com especial atenção

Não é apenas por aqui, onde quase 150 milhões de brasileiros vão às urnas daqui a nove meses, que o futuro será jogado em 2022. Portugal, Filipinas, Coreia do Sul, Austrália, Suécia e Costa Rica terão eleições neste ano. Em cinco países, contudo, as próximas votações merecem ser acompanhadas com especial atenção. Seja pelas implicações para a democracia, seja pela densidade da relação política e econômica-comercial com o Brasil. Vamos a elas.

1) Hungria: abril ou maio. Enquanto antibolsonaristas não conseguem entrar em acordo nem mesmo sobre o dia certo de ir às ruas, a oposição húngara se uniu em uma candidatura única contra o extremista Viktor Orbán.

No poder desde 2010, o primeiro-ministro defende um “Estado iliberal” e já gabaritou a prova da direita radical: discurso anti-imigração, ataques à comunidade LGBT, controle da mídia, ampliação do tribunal constitucional e nomeação de novos juízes fiéis ao Executivo, transferência de universidades estatais para fundações ligadas a aliados de Orbán, mudança dos distritos eleitorais para favorecer o Fidesz (seu partido). Em vez de prender adversários e dissidentes, como outros autocratas, captura as instituições - característica dos golpes “cupim”, que corroem a democracia por dentro, não com tanques ou explosões.

Tiago Cavalcanti*: Por que as pessoas seguem na pobreza?

Valor Econômico

É importante desmontar as “armadilhas da pobreza”, evitando a dependência crônica das políticas públicas

Em artigo de 2007 publicado no Journal of Economic Perspectives, Abhijit Banerjee e Esther Duflo, vencedores do prêmio Nobel de Economia de 2019, investigaram de forma detalhada a vida de pessoas que vivem na extrema pobreza em um conjunto de 13 países.

Verificou-se serem indivíduos que vivem em famílias numerosas, gastando de 56 a 75% da renda com alimentação. Cerca de 10% dos gastos dessas famílias são com ritos sociais, a exemplo de casamentos e velórios, enquanto, em média, 10% dos gastos são com álcool ou cigarro. Tais famílias quase não investem em educação e dependem do Estado ou de organizações não governamentais para receberem algum tipo de investimento em capital humano.

Os adultos vivendo na extrema pobreza na grande maioria trabalham por conta própria ou são pequenos empreendedores operando em baixa escala e com quase nenhum ativo produtivo, a exemplo de terras e máquinas. São pessoas com pouca especialização, exercendo mais de uma atividade e com acesso restrito ao crédito.

De fato, um dos principais problemas em desenvolvimento econômico é entender a razão pela qual grande contingente de indivíduos permanecem em situações de extrema pobreza e em atividades de baixíssimo rendimento. Quais são as principais restrições e barreiras que evitam que essas pessoas saiam da pobreza? Entender isso é importante para definir políticas efetivas que possam melhorar a vida de quase 1 bilhão de habitantes do planeta. Principalmente, quando o orçamento dos governos para gastos sociais é limitado.

Memória 2 | Agosto de 2007: Declaração Final da Conferência Caio Prado Jr.{1}

Digo adeus à ilusão/ mas não ao mundo. /Mas não à vida, meu reduto e meu reino. / Do salário injusto, / da punição injusta, / da humilhação, da tortura, /do terror, / retiramos algo e com ele construímos um artefato/ um poema/ uma bandeira (Agosto de 1964, Ferreira Gullar)

A Conferência Caio Prado Jr reconhece que a atual situação brasileira está a exigir que se procure defender e introduzir valores e comportamentos, particularmente de sentido ético, capazes de provocar uma revolução na cultura política do país, na forma de exercer mandatos, na forma de ser governo e na forma deste se relacionar com a sociedade civil, e no trato correto da coisa pública. Que atue a partir de doutrinas e ideais democráticos e humanistas, e identificados com as lutas pela equidade social e de gênero, pela defesa do meio ambiente, pluralidade étnica e religiosa, diversidade sexual, paz mundial e convivência pacífica entre países e povos, não interferência de um país em questões internas de outros, e contra a exclusão, as desigualdades e todas as formas de discriminação social.

É que, apesar dos diversificados esforços de partidos, correntes e personalidades, existe no país um espaço público incomodamente vazio. Daí a CCPJ propor que se trabalhe para ocupá-lo com uma esquerda democrática, republicana, identificada com a contemporaneidade, radicalmente reformista, compromissada particularmente com os social, econômica e politicamente excluídos e que esteja ancorada no regime de liberdades sancionado pela Constituição de 1988.

Por isso, a fim de corresponder ao anseio por uma cidadania plena de direitos e responsabilidades, apoia a necessidade de se discutir a centralidade e universalidade da questão democrática e suas consequências para qualquer agenda política no Brasil, tendo em vista que todo nosso sistema de relações sociais é profundamente viciado por padrões autoritários, desde a família, a escola, as empresas, a própria administração pública e a atividade política, e constata que sem projeto e métodos claros e transparentes, o campo da esquerda pode chegar ao poder, mas não consegue promover a mudança, isto é, ser esquerda no poder.

Dentro dessa perspectiva, propõe que se construa uma força política que tenha condições de contribuir para modernizar o conjunto da esquerda, de resto necessariamente plural, e, mais ainda, de incidir positivamente sobre todo o sistema político. Desta forma, pretende concorrer para que a extrema e contraditória diversidade de interesses e opiniões, que nasce naturalmente num país tão complexo como o nosso, tenha como um dos seus canais privilegiados de expressão a “forma partido”, sem nenhum prejuízo do amplo e rico tecido de organizações que deve caracterizar toda sociedade dotada de vida cívica democrática.

Memória | Janeiro 1992: Manifesto de fundação do PPS*

"Aos seres humanos que, por nascimento ou opção, habitam terras brasileiras, o PPS dedica seus 70 anos de lutas, e todas as lutas futuras"

Há uma crise, no mundo e no Brasil, e todos podemos senti-la. Uma crise que solapa a esperança, que chega ao fundo dos corações, gerando frustrações, descrença e cinismo. Frente aos desafios destes novos tempos, seu compromisso de luta por uma sociedade mais justa e mais humana, o X Congresso do PCB oferece à sociedade brasileira um novo instrumento de luta, o Partido Popular Socialista - PPS.

Um Partido que, desde sua formação, é plural, aberto à participação de todos os que acreditam que é possível, a todos os seres humanos, viverem iguais e livres. Um Partido que, num mundo de mudanças, assume o compromisso central com a vida, entendendo-a como indissociável da natureza e da cultura. Um Partido, que quer contribuir para a construção de uma nova ética, em que o ser humano, sem nenhuma discriminação, seja protagonista e beneficiário das transformações sociais.

Um Partido novo, democrático, socialista, que se inspire na herança humanista, libertária e solidária dos movimentos sociais e das lutas dos trabalhadores em nosso país e em todo o mundo, prolongando hoje a luta que travamos desde 1922. Um Partido que não use o povo, mas seja um instrumento para que cada cidadão seja sujeito de sua própria história. Um Partido socialista, humanista e libertário, que tenha como prática a radicalidade democrática, que permita a cada ser humano exercer sua plena cidadania, na área em que reside e no planeta em que habita.

O que pensa a mídia: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Eleições, cidadania e ‘fake news’

O Estado de S. Paulo.

É notável o esforço da Justiça Eleitoral para enfrentar as ‘fake news’, mas são também evidentes as limitações de sua atuação. Cenário exige uma cidadania ainda mais responsável

Desde 2017, a Justiça Eleitoral promove iniciativas de combate às fake news sobre o processo eleitoral, de forma a reduzir os danos da desinformação sobre o livre exercício dos direitos políticos. No período, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realizou diversas campanhas informativas sobre as urnas eletrônicas.

De toda forma, por mais que se reconheça o esforço da Justiça Eleitoral no enfrentamento das fake news, são também evidentes as limitações de sua atuação. Criada pelo presidente do

TSE, ministro Luís Roberto Barroso, com o objetivo de aprimorar a fiscalização e auditoria do processo eleitoral, a Comissão de Fiscalização e Transparência das Eleições mostrou ser, no ano passado, insuficiente para alterar de forma substancial a dinâmica de notícias falsas nas redes sociais, mesmo em relação ao sistema eletrônico de votação. O trabalho da comissão foi e continua sendo importantíssimo, mas é inegavelmente limitado.

Outra importante medida de combate à desinformação foi a desmonetização de canais e páginas que propagam fake news, implementada em 2021 pelo então corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Luis Felipe Salomão. No entanto, a iniciativa não alcança, por exemplo, os aplicativos de mensagem Whatsapp e Telegram, por onde se difunde muita desinformação.

O cenário atual é desafiador. Não há mais espaço para o otimismo visto anos atrás, por ocasião de algumas medidas da Justiça Eleitoral no combate à desinformação nas redes sociais. Em 2018, após a instalação de grupos de trabalho e comitês sobre o tema, o então presidente do TSE, ministro Luiz Fux, anunciou que a Justiça eleitoral seria capaz de “remover imediatamente” as notícias falsas que se espalhassem pelo País. Segundo a promessa de Fux, a ação do TSE seria tão efetiva que “falar que pode haver fake news já é uma fake news”.

Poesia | Ferreira Gullar: Traduzir-se

Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.


Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.


Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.


Uma parte de mim

almoça e janta:

outra parte

se espanta.


Uma parte de mim

é permanente:

outra parte

se sabe de repente.


Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.


Traduzir uma parte

na outra parte

- que é uma questão

de vida ou morte -

será arte?

Música | Nara Leão: Um Chorinho chamado Odeon

 

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Luiz Carlos Azedo: No Bicentenário, o Brasil volta à encruzilhada do destino

Correio Braziliense

A chave da política brasileira é a conciliação, mas nossa história social é cruenta. A miscigenação é que consolidou a ideia de um só povo e uma só nação

Uma nação é formada, historicamente, de território, população, Estado, idioma e identidade comum, para a qual a literatura é sua referência mais importante. Não à toa, Machado de Assis é um totem da nossa cultura. Entretanto, há aqueles que imaginam que tudo aqui está fora do lugar. O debate proposto, em 1920, por Oliveira Viana, sobre as nossas instituições republicanas, 100 anos depois, está vivíssimo. Seu Populações Meridionais do Brasil arrancou aplausos unânimes na época, com exceção de Astrojildo Pereira — que defendia a industrialização e condenou suas teses racistas —, um intelectual de origem anarquista, que viria a fundar o Partido Comunista, em março de 1922.

O Centenário da Independência foi um ano do balacobaco. Desnudou mudanças em curso no mundo e no Brasil, balançou os alicerces da Primeira República. O otimismo da belle époque fora substituído pelo trauma da I Guerra Mundial (1914-1918), o comunismo rondava o mundo após a Revolução Russa de 1917. Ambições civilizatórias levaram o presidente Epitácio Pessoa a mudar a face da capital federal para celebrar a data e sediar a Exposição Universal do Rio de Janeiro. Em São Paulo, houve a polêmica Semana de Arte Moderna.

Que país era esse? Com suas greves nas principais cidades, os sindicatos ganharam força. O povo queria melhores condições de vida e de trabalho. A economia da Primeira República (1889-1930), regida pela Constituição de 1891, estava mal das pernas. E lideranças militares, que não reconheciam a derrota do candidato oposicionista Nilo Peçanha nas eleições presidenciais de março, queriam impedir que Artur Bernardes assumisse a Presidência da República, em novembro.

Carlos Andreazza: Otimismo

O Globo

Entramos o Ano-Novo com muitos doentes num país doente. O Brasil está débil, infecção que antecede à peste. E há a peste. A peste insiste. Também há o vírus influenza. Como não testamos a população, ficamos todos sob uma massa disforme de perturbação, ameaçados, amassados, entre sintomas — ao mesmo tempo aquela vontade de nos lançarmos às ruas, aos beijos, aos suores de um verão em que talvez haja carnaval. Talvez. (Avante, Império Serrano!)

Estamos cansados. Queremos acreditar e ir, sem máscaras. Terá passado? Vai passar? O mal-estar, contudo. A esperança desafiada pelo medo. Ou haverá quem não saiba, agora, de ao menos um que vai contaminado? Não é bom.

É baixo o astral. Mas será o último ano de Bolsonaro — dizem. Será? Não tenho essa certeza, em que vejo algum salto alto. E ainda que sim: serão muitos os meses — e muitos os dispostos à forra — até esse fim. Muitos os ressentidos, a serem muitos os estragos.

Até esse fim, sendo esse o fim, teremos essa briga de rua — essa pegada miliciana nas relações sociais — concretizada, executada, com cidadãos se espancando por filiações político-partidárias?

É chão que deveria nos preocupar. A beligerância é instituição estabelecida. O nosso horizonte ainda é um queiroga. E o bolsonarismo veio para ficar, mesmo sem Bolsonaro. O bolsonarismo é a materialização do espírito do tempo violento que empurra ao conflito, ao confronto, mesmo os não bolsonaristas; que aguça a mentalidade autocrática mesmo nos democratas.

Míriam Leitão: A incerteza provocada

O Globo

Todos os anos são imprevisíveis à sua maneira, mas este ano é imprevisível de todas as maneiras. A pandemia ainda não terminou, a nova onda de contaminação pela ômicron suspendeu a temporada de cruzeiros pelo litoral brasileiro e está ameaçando a realização do carnaval. Se o carnaval para os foliões é festa, para a economia é aumento do nível de atividade. Tudo isso aumenta a incerteza sobre a retomada do setor de serviços. Ano eleitoral sempre é o momento em que os governos aumentam os gastos, mas, neste caso, os gestores públicos estão vivendo um surto extemporâneo de ilusão monetária, a inflação elevou a arrecadação e eles acham que está sobrando dinheiro e começam a gastar por conta.

Cristina Serra: A Lei de Cotas e a democracia

Folha de S. Paulo

Agora é preciso aproveitar a chance para aperfeiçoar essa lei

Apesar do pendor exibicionista do presidente, seja no ócio, seja em leito de hospital, há temas mais relevantes a serem discutidos neste país. No ano do bicentenário da Independência, vamos nos defrontar com dois momentos cruciais para definir o que queremos ser. Um deles será a eleição. O outro, a discussão, no Congresso, sobre a Lei de Cotas, que deverá ser revisada agora que completa dez anos de vigência.

Lei de Cotas resultou de ampla mobilização do movimento negro e trouxe avanços para toda a sociedade, ainda que insuficientes diante da extrema desigualdade entre nós. Em ligeiro histórico, é importante lembrar a iniciativa da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e a adoção de cotas na UERJ.

Em âmbito federal, a Universidade de Brasília foi pioneira e acabou amplificando o debate ao ter sua política afirmativa questionada no STF pelo DEM. Na época, o relator do caso, Ricardo Lewandowski, fez audiências públicas, em que foram debatidos desde a herança de violência da escravização de seres humanos, durante mais de 300 anos, até o desempenho dos alunos cotistas.

Alvaro Costa e Silva: Cercadinho asfixiante

Folha de S. Paulo

Pronunciamento de Ano Novo foi um trailer da campanha: só mentiras

Mala que é mala não perde viagem. O eleito para o cargo de presidente da República escolheu a noite de Ano-Novo para fazer um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão. Em mais uma homenagem ao seu herói Brilhante Ustra, foram seis minutos de tortura. Aposto que nem a claque de esparros e lambe-botas Marcelo Queiroga, o ministro da Saúde, à frente— aguentou ouvir 30 segundos da ladainha. Não é que Bolsonaro não saiba ler no teleprompter; o que ele não sabe é ler.

Como há quem ainda se espante com as ações e as falas do ocupante do Planalto e até aqueles que à época da eleição nem imaginavam que ele seria o pior presidente da história do país, houve quem esperasse uma palavra breve e protocolar sobre fé, esperança e bom senso —não mais que dois minutos que terminassem num discreto sorriso—, uma mensagem de força aos brasileiros depois do terrível ano de 2021. Qual nada.

Joel Pinheiro da Fonseca: Que Lula é esse?

Folha de S. Paulo

Neste momento, todas as pesquisas indicam que Lula é o franco favorito nas eleições. O que é mais difícil de se responder é a indagação seguinte: qual Lula?

Com a prioridade máxima (e correta) de tirar Bolsonaro, muitos eleitores moderados têm dado vazão ampla aos seus sonhos do que significaria a volta de Lula. A ideia de que o Lula em quem votarão é o moderado do primeiro mandato, o democrata pragmático que prima pela responsabilidade fiscal, que quer distribuir renda sem comprometer a ordem macroeconômica e o crescimento de longo prazo.

O amigo dos pobres mas também do mercado, o líder otimista que projeta um Brasil melhor ao mundo e que, longe da luta de classes, quer que todos ganhem e está disposto a ser mais uma vez assessorado por economistas "neoliberais".

O próprio Lula faz questão de acenar nessa direção quando, por exemplo, se aproxima de Geraldo Alckmin e discute tê-lo por vice, e garante a empresários que as portas de seu governo estarão abertas a eles. Ele também mantém uma distância enorme de Dilma; parece até que vivem em realidades paralelas.

Pedro Cafardo: Um ano para incendiar corações e mentes

Valor Econômico

Eleitor terá de votar neste ano no modelo econômico que prefere para o Brasil nesta década

Ficou para trás o sofrido 2021, ano que a humanidade deveria esquecer, mas que jamais esquecerá. Assim, no Brasil, é hora de começar a organizar um pouco as ideias para o novo ano, quando a campanha eleitoral vai incendiar corações e mentes.

Mais do que na esquerda, no centro ou na direita, o eleitor terá de votar neste ano no modelo econômico que prefere para o Brasil nesta terceira década do século XXI. Claro que ao digitar seu voto o cidadão terá de levar em conta qualidades e defeitos do candidato e de seu grupo em diferentes áreas. Mas na da economia haverá basicamente duas opções nos programas de governo, embora com ênfases variáveis.

Não é preciso ser economista para entender as diferenças. Um contingente razoável de postulantes à Presidência manterá a defesa do pensamento ortodoxo neoliberal, teoricamente adotado sem sucesso no atual governo, dominante na condução das políticas econômicas globais a partir dos anos 1980 e que está sendo contestado em toda parte. Outro contingente, dos chamados progressistas ou heterodoxos, vai apostar em teses que podem ser chamadas de desenvolvimentistas.

Murillo Camarotto: Brasil, última temporada

Valor Econômico

Urge para o Brasil pegar o bonde da nova agenda global

Na abertura da Semana de Arte Moderna, 100 anos atrás, o diplomata Graça Aranha alertou, irônico, para a “aglomeração de horrores” que seria apresentada ao público naqueles dias de festival. Em plena era do streaming, um punhado de coincidências com o cenário de 1922 marca o ano em que o Brasil decidirá qual rumo seguir no terceiro século de sua independência.

Impensável até recentemente, um “duelo final” entre Bolsonaro e Lula não apenas se materializou como ganhou a intrigante participação de Sérgio Moro. Se nada sair do roteiro, o embate entre os três protagonistas da política nacional na última década também poderia ser anunciado por Graça Aranha.

Com intensidades distintas, pandemia, crise política, militarismo e dificuldades na economia também ornavam a cena brasileira em 1922, quando foi celebrado o primeiro centenário da independência. O intervalo entre aquela festa e a Proclamação da República, 33 anos antes, coincide agora com o tempo decorrido desde a primeira eleição direta após o fim do governo autoritário.

Luiz Gonzaga Belluzzo*: Olhe para cima, para baixo e para frente*

Valor Econômico

Risco de usar métodos das ciências naturais na economia é chegar a resultados determinados por suposições a priori

 “A matéria nunca fica em repouso, está constantemente se movendo e se desenvolvendo e, neste desenvolvimento, muda de uma forma de movimento para outra e mais outra, cada uma mais complexa e harmoniosa que a última. A vida aparece, assim, como uma forma particularmente muito complicada do movimento da matéria, surgindo como uma nova propriedade em um estágio mais avançado no desenvolvimento geral da matéria”.

No livro “Reason in Revolt: Dialectical Philosophy and Modern Science”, os filósofos Ted Grant e Adam Woods estudam, nos vários campos da ciência, as possibilidades enriquecedoras da dialética em contraposição aos empobrecimentos das concepções positivistas. O trecho citado cuida das várias hipóteses sobre a origem da vida no planeta Terra.

Os autores explicam que, desde sempre, homens e mulheres estavam cientes de fenômenos como terremotos e erupções vulcânicas que revelaram tremendas forças reprimidas sob a superfície da Terra. Até recentemente, tais fenômenos foram atribuídos à intervenção dos deuses. Poseidon-Netuno era o “agitador de terra”, enquanto Vulcano Hefáistos, o ferreiro dos deuses, vivia nas entranhas da terra, e fez com que vulcões entrassem em erupção com 12 golpes de martelo. Os primeiros geólogos dos séculos XVIII e XIX foram aristocratas e clérigos, que acreditavam, como o Bispo Usher, que o mundo havia sido criado por Deus em 23 de outubro de 4004 A.C.

Pedro Fernando Nery: Direito à renda básica

O Estado de S. Paulo.

Benefício ganha paridade de armas com outras políticas com as quais disputa recursos

“Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma renda básica familiar”. No final do ano, este novo trecho foi inserido no art. 6.º da Constituição – o artigo dos direitos sociais. O Brasil seria, assim, pioneiro em assegurar no texto constitucional o direito à renda básica.

É comum em outros países a garantia, na Constituição, de benefícios como aposentadoria, pensão, seguro-desemprego. Mas benefícios da “proteção social não contributiva” não costumam gozar deste mesmo status – mesmo onde eles são robustos. Talvez seja tendência do século 21: a Suíça chegou a deliberar sobre a mudança em 2016. A proposta aqui foi do MDB do Senado, aprovada na PEC dos Precatórios.

O que é uma renda básica? Há dois usos para este termo. Um é o de renda básica universal (como na “renda básica de cidadania”, de Suplicy): neste caso, um benefício a ser pago a qualquer um. Básica tem a acepção de ser para todos. Outro uso é o de renda básica garantida: um benefício a ser pago a todos que precisam. Básica aqui tem a acepção de não exigir contrapartidas ou contribuições – nosso caso.

Eliane Cantanhêde: Eleição também é feita do ‘imponderável’

O Estado de S. Paulo.

Bolsonaro faz lembrar que a história é feita também do ‘imponderável’ e golpes de sorte ou azar

A nova crise, a nova hospitalização e a possível nova cirurgia do presidente Jair Bolsonaro são um alerta: a eleição não está decidida e muita água ainda vai rolar embaixo da ponte até outubro, desde puros golpes de sorte a ataques sórdidos, sem descartar o “imponderável”, tão presente na história brasileira.

O próprio Bolsonaro é um exemplo de que o “imponderável” pode alterar o rumo de uma eleição, depois de sofrer em 2018 uma facada que, na mesma intensidade, ameaçou sua vida e sedimentou sua vitória.

José Sarney virou presidente porque Tancredo Neves morreu. Fernando Collor criou a ficção do “caçador de marajás” e foi o primeiro presidente eleito depois da ditadura militar. Itamar Franco jamais seria presidente pelas urnas, mas apostou certo ao virar vice de Collor e foi o homem certo na hora certa.

Paulo Hartung*: Agir pelo clima gera oportunidades

O Estado de S. Paulo.

Novamente a História nos permite gerar oportunidade para a juventude brasileira ao mesmo tempo que ajudamos a mudar a história mundial

As mudanças climáticas impõem um cenário urgente, tirando da acomodação todas as gerações que ocupam o planeta hoje. Está claro que não podemos mais nos furtar de agir. A COP-26 trouxe o tão ansiado consenso sobre o artigo 6 do Acordo de Paris, dando início ao processo de criação do mercado global de créditos de carbono.

Não podemos tirar do horizonte que o ponto de partida de todo este esforço mundial na criação de um mercado de carbono tem foco no cuidado com a vida humana, em especial a das próximas gerações.

Mas é fato que o artigo 6 impulsiona um modelo em que a redução de emissões de CO2 não dependerá apenas da consciência de poder público. Estamos iniciando uma nova era, com estímulo e recompensa para quem está do lado certo.

Mesmo em desenvolvimento, este novo negócio já está mostrando o seu enorme potencial e influenciando o preço do carbono em mercados voluntários em operação. A descarbonização como ferramenta econômica começa a redesenhar a civilização, com traços fortes de sustentabilidade e pujança.

Agora, o desafio é regular o que foi pactuado. Uma janela de oportunidades escancarada para o Brasil. O País precisa se preparar para participar ativamente desta nova economia mundial. Já deixamos tantas outras chances de prosperar escorrerem entre nossos dedos, não podemos vacilar novamente.

Felipe Salto: Meu voto para 2022 é o fim do governo Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Um orçamento transparente e coeso, fruto de planejamento e avaliação de políticas públicas, é necessário para forjar o futuro

Este é um período de renovar ideias e de comprometerse com mudanças para o ano que se inicia. Costumamos fazer votos por mais saúde, paz e felicidade. Vaticinamos, uns aos outros, bons agouros. Desta vez, no entanto, não há voto mais importante do que desejar o fim do governo Bolsonaro. Nada avançará na presença deste horror, em que reinam o obscurantismo, a falta de empatia, a indiferença em relação ao sofrimento do próximo e o amadorismo.

Infelizmente, 2022 será um novo ano perdido. Na economia, projeta-se crescimento baixo, talvez parcialmente compensado por despesas avalizadas pelo rombo no teto de gastos (Emenda Constitucional n.º 95). O desemprego seguirá elevado e o número de pessoas vivendo em condição de pobreza ou de extrema pobreza será alto. A inflação elevada corroeu a renda dos mais pobres e, mesmo desacelerando, em 2022, imporá novo fardo ao orçamento das famílias.