quarta-feira, 29 de maio de 2024

Luiz Carlos Azedo - Só os Estados Unidos podem conter Netanyahu

Correio Braziliense

O caminho da paz não é a limpeza étnica em Gaza e o apartheid na Cisjordânia, continua sendo a solução de dois Estados: Palestina e o Israel

Israel é um Estado como outro qualquer, estabelecido e reconhecido internacionalmente. Por isso mesmo, o mau comportamento de Benjamin Netanyahu, seu primeiro-ministro acusado de genocídio, não deslegitima sua existência, como também o comportamento de governantes desse naipe não deslegitimaria a existência de seus países, como a Coreia do Norte. Entretanto, quando Netanyahu viola o direito internacional, Israel deve ser cobrado por isso. Um dia, seus governantes acabarão punidos, internacionalmente e pelos próprios israelenses. Vamos ser claros: o que está acontecendo em Gaza, com a desmedida retaliação aos ataques do Hamas, é crime de guerra, desrespeito aos direitos humanos e limpeza étnica.

Bruno Carazza - Chambriard anuncia que a Petrobras voltou

Valor Econômico

Nova presidente da Petrobras apresenta credenciais que justificaram sua escolha por Lula

A primeira entrevista de Magda Chambriard, nova presidente da Petrobras, fecha o ciclo de transição da companhia de uma gestão mais inclinada aos interesses do mercado, ao estilo Paulo Guedes, para a administração petista, comprometida com objetivos estatais mais amplos.

Transcorrido um terço deste novo mandato de Lula, a Petrobras alterou sua política de preços de combustíveis, desatrelando-os das cotações internacionais do petróleo, e lançou um novo plano de investimentos, retomando a ênfase em refino, transporte e comercialização, áreas que haviam sido a relegadas a segundo plano no governo Bolsonaro.

Assis Moreira - Desemprego no Brasil continuará a cair, projeta OIT

Valor Econômico

Haverá ligeira baixa do desemprego mundial neste ano, mas preocupação persiste sobre desigualdades

A taxa de desemprego no Brasil continuará em queda neste ano e em 2025, mas ainda ficará acima da média global, pelas projeções da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A estimativa da organização global que estabelece normas em vista de emprego e renda decentes é de a taxa de desemprego diminuir no Brasil para 7,8% neste ano e para 7,6% no ano que vem, comparado a 8,0% no ano passado e 13,7% em 2020 na crise de covid-19.

Projeções sobre o Produto interno Bruto (PIB) do país pelo Banco Mundial apontam alta de 1,7% neste ano e de 2,2% no ano que vem.

Lu Aiko Otta - Infraestrutura e Haddad contra os fantasminhas

Valor Econômico

Presidente da Abdib vê maluquice na avaliação que seus colegas da Faria Lima fazem do atual quadro econômico do país

Banqueiro por duas décadas, período no qual presidiu o Fator, e agora à frente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini vê maluquice na avaliação que seus colegas da Faria Lima fazem do atual quadro econômico. Sua visão é diferente.

Os projetos de transição energética, assim como os das áreas de saneamento, rodovias e ferrovias, estão começando a puxar a indústria, afirmou o executivo.

Setores como construção civil e fabricação de equipamentos de transmissão de energia estão “por aqui”, disse ele, colocando a mão acima da cabeça. “É um movimento forte”, assegurou. “Queremos transmitir o que de fato a realidade está mostrando.”

Martin Wolf - Do ‘baby boom’ à falta de bebês

Valor Econômico

Precisamos responder à altura a essas mudanças demográficas profundas que, gostemos ou não, vêm transformando o mundo

As pessoas estão vivendo mais do que nunca. Isso cria tanto oportunidades quanto desafios, como ressaltei recentemente. O adiamento da morte, porém, é apenas uma parte da história demográfica atual. A outra é o declínio dos nascimentos. A combinação de ambas vem criando desafios enormes para o mundo que habitamos.

A ideia de uma “transição demográfica” tem quase um século. As sociedades humanas costumavam ter populações mais ou menos estáveis, nas quais a alta mortalidade era compensada pela alta fertilidade. Na Inglaterra e no País de Gales dos séculos XVIII e XIX, as taxas de mortalidade passaram a ter forte queda. Mas as de fertilidade, não. O resultado foi uma explosão populacional até que, enfim, as taxas de fertilidade também desabaram.

Vinicius Torres Freire - Reforma da Previdência, o retorno

Folha de S. Paulo

Reajuste do salário mínimo e alta de despesas em saúde e educação vão apertar contas do governo

A conversa pública sobre uma nova reforma da Previdência está de volta, faz um mês por aí. Quando não se trata de alterar outra vez a maneira de calcular aposentadorias em geral, se diz que será preciso evitar que o valor do piso dos benefícios do INSS acompanhe o valor do salário mínimo.

Além disso, sugere-se que sejam modificadas as normas da Previdência dos militares, que a idade de aposentadoria das mulheres seja equiparada à dos homens, que a aposentadoria rural do INSS se torne um benefício assistencial, como o BPC —na prática, a aposentadoria rural é um BPC disfarçado. Etc.

Wilson Gomes - Fé é cega, faca amolada

Folha de S. Paulo

Tudo é tragado pelo redemoinho da partidarização e da radicalização 

O debate público brasileiro anda tão encharcado de gasolina que o mínimo atrito de ideias, coisa normalíssima na esfera pública democrática, gera um incêndio de grandes proporções.

A inevitável busca por cliques das versões online dos jornais, em perene crise financeira, e o paywall que nos títulos das reportagens entrega razões para a fúria, mas não os fatos ou argumentos que se situam depois deles; os grandes reservatórios de raiva e ressentimento político que se acumularam desde 2013 neste país e levaram grupos a afiar facas e preparar porretes para quando fosse a sua vez de bater; a transformação digital da discussão política, que converteu interlocutores que acreditavam em divergir com civilidade em militantes e militantes em guerreiros; a extrema tribalização da vida pública, com o aumento dos incentivos que cada grupo oferece para a radicalização e a intolerância —tudo isso contribuiu decisivamente para esse novo modo de debater política à base da "fé cega, faca amolada".

Aldo Fornazieri -Tragédia e indiferença

CartaCapital

Os brasileiros se mostraram solidários para com o sofrimento dos gaúchos, mas não se mostraram dispostos a lutar por mudanças que mitiguem o aquecimento global e a crise ambiental

As múltiplas tragédias que atingem o Rio Grande do Sul desencadearam uma imensa onda de solidariedade por todo o País. Instituições públicas, privadas e da sociedade civil, empresas e trabalhadores, empregadores e empregados, militares e civis, lojas e faculdades, hospitais e escolas, pobres e ricos, milhões de brasileiros se mobilizaram para doar e arrecadar doações. Milhares se voluntariaram para socorrer as vítimas e fazer resgates de todo tipo.

Tudo isso constituiu um movimento de natureza moral muito positivo. Os sentimentos de humanidade, de compaixão, de solidariedade foram e têm sido exercidos em grau muito significativo. O desejável é que este movimento continue em relação a essa tragédia e a novos eventos, sejam eles provocados por catástrofes naturais ou derivados das mazelas sociais.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - "Green Paper" da mineração para atenuar dependências externas e ameaças climáticas

Sobre o rescaldo da calamidade no Rio Grande do Sul, em plena discussão acerca da descarbonização do sistema produtivo, da  introdução da energia verde, e preparando-se para a Conferência do Clima, ano que vem, em Belém; no Brasil, retoma-se, concomitante a busca pela auto suficiência em combustíveis fósseis (petróleo, gás natural, carvão), e estimula-se a exploração e a exportação de minerais, sobretudo extraídos na Amazônia, 

As exportações minerais representam na balança comercial brasileira 12% do total.  A China é o grande sorvedouro dessas compras, inclusive de minerais estratégicos e críticos, aqueles que desempenham um papel vital na segurança nacional e na capacitação para competir globalmente. O acesso confiável a matéria prima mineral é fundamental para manter a soberania, a competitividade e até a segurança alimentar, livrando o país da dependência excessiva de um pequeno número de fornecedores globais instáveis.

Poesia | A Obra mais linda do mundo, de Charles Chaplin.

 

Música | Xande Canta Caetano - Gente

 

terça-feira, 28 de maio de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

São Paulo mostra a Brasília como fazer ajuste de gastos

O Globo

Enquanto governo Lula evita até falar em reduzir despesas, Tarcísio estabelece plano para gestão eficiente

O plano do governo de São Paulo ainda é incipiente, mas o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já merece crédito pela determinação em buscar maior eficiência nos gastos e na gestão pública. O contraste com as ações do governo federal não poderia ser maior. Em Brasília, muito se fala sobre monitoramento e avaliação de políticas públicas. De concreto, porém, nada acontece. Em São Paulo, Tarcísio ordenou a revisão de incentivos fiscais, contratos, despesas correntes, políticas de pessoal e a reestruturação das agências reguladoras. Como o plano ainda está em estágio embrionário e depende do Legislativo, é impossível prever se terá sucesso. É inegável, de todo modo, que é uma decisão sensata.

A máquina estatal brasileira, nos três níveis de governo, é pródiga em ineficiência. Incentivos fiscais são concedidos sem nenhum acompanhamento dos resultados. Quando dão errado, o desperdício continua, com variações da justificativa “sempre fizemos assim”. Algumas áreas do governo têm mais funcionários que o necessário, enquanto outras sofrem com escassez crônica. Agências reguladoras são capturadas por interesses políticos ou pelas empresas que deveriam vigiar. O resultado é uma burocracia cara, que entrega pouco ao contribuinte.

Manuel Castells - Ruptura - A crise da democracia liberal*

1. A crise de legitimidade política: Não nos representam Era uma vez a democracia

* Primeiro capítulo (parte) do livro. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2018

Democracia, escreveu faz tempo Robert Escarpit, é quando batem na sua porta às cinco da manhã e você supõe que é o leiteiro. Nós que vivemos o franquismo sabemos o valor dessa visão minimalista de democracia, que ainda não foi alcançada na maior parte do planeta. Contudo, após milênios de construção de instituições às quais possamos delegar o poder soberano que, teoricamente, nós cidadãos detemos, aspiramos a algo mais. E de fato é isso que o modelo de democracia liberal nos propõe. A saber: respeito aos direitos básicos das pessoas e aos direitos políticos dos cidadãos, incluídas as liberdades de associação, reunião e expressão, mediante o império da lei protegida pelos tribunais; separação de poderes entre Executivo, Legislativo e Judiciário; eleição livre, periódica e contrastada dos que ocupam os cargos decisórios em cada um dos poderes; submissão do Estado, e de todos os seus aparelhos, àqueles que receberam a delegação do poder dos cidadãos; possibilidade de rever e atualizar a Constituição na qual se plasmam os princípios das instituições democráticas. E, claro, exclusão dos poderes econômicos ou ideológicos na condução dos assuntos públicos mediante sua influência oculta sobre o sistema político. 

Miguel Caballero * - Quando a água baixar

O Globo

Não haverá evolução sem inclusão das práticas de preservação nas prioridades de governos e legisladores

As enchentes no Rio Grande do Sul ficarão marcadas no Brasil também como o episódio em que os eventos climáticos extremos saltaram dos estudos de ambientalistas para bater às portas de centenas de milhares de pessoas. Temos visto, desde então, boa disposição dos governos federal e estadual de trabalhar em conjunto na emergência, uma bonita onda de solidariedade dos brasileiros e as comoventes histórias de superação de quem perdeu tudo. A reconstrução do estado levará anos, e é ainda incerto o que será de várias cidades mais afetadas. Mas, é da natureza humana, em breve o estágio de mobilização nacional passará.

O desafio é que a agenda de prevenção aos efeitos da crise do clima mantenha protagonismo quando a água baixar. Numa época em que as redes sociais são o campo de batalha na guerra diária do debate público, é tão inútil quanto sem sentido a pretensão de evitar a politização das questões ambientais. É desejável justamente o contrário, que elas tenham mais peso na política e que não se restrinjam a debates acadêmicos, a setores da gestão pública ou a cartilhas mais modernas de ESG em empresas privadas.

Míriam Leitão - Difícil debate do déficit

O Globo

O país precisa discutir o que fazer com um Orçamento engessado a um grau que não tem paralelo no mundo

Há um aumento da preocupação fiscal no Brasil, mas isso não está refletido nos números colhidos pelo Banco Central junto ao mercado financeiro nas projeções das contas públicas. O Brasil tem um problema fiscal, mas o curioso é que o mercado tem hoje o mesmo cenário que tinha há um mês para o déficit público deste ano e dos próximos. Algumas sombras pairam sobre as contas públicas. A rigidez do Orçamento é uma delas. As vinculações das despesas de saúde e educação, a indexação dos benefícios previdenciários vão provocar o fim do arcabouço fiscal. Mas dentro do governo o debate está longe de estar amadurecido porque isso atinge bandeiras caras ao PT.

Pedro Doria - Aquela voz suspirada no ouvido

O Globo

O conflito aberto entre a OpenAI e a atriz Scarlett Johansson pode abrir precedentes e definir muito da relação entre nós, humanos, e a inteligência artificial. Uma semana após o anúncio do ChatGPT 4o, Johansson denunciou a empresa por usar uma voz tão “sinistramente similar” à dela que seus amigos mais próximos e a imprensa ficaram em dúvida se não havia um acordo de cessão de direitos. Ocorre que Sam Altman, o CEO da OpenAI, havia mesmo tentado contratá-la para licenciar sua voz. Tentou primeiro num encontro pessoal há meses e, depois de ouvir o “não”, insistiu poucos dias antes de fazer o anúncio da nova versão. Scarlett é a atriz que dá voz a Samantha, a IA do filme “Ela”, do diretor Spike Jonze.

Luiz Carlos Azedo - Negócio milionário por trás da morte de Marielle

Correio Braziliense

"A economia informal que se forma nos loteamentos ilegais paga pedágio para as milicias, que ocupam o espaço deixado pelo poder público", lembra o jornalista

O vídeo da delação de Ronnie Lessa, um dos assassinos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, exibido pelo Fantástico (Rede Globo) no domingo, revela a existência de negócios milionários dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão por trás dessas execuções. A vereadora atrapalhava a venda de terrenos e imóveis em loteamentos ilegais na região de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de janeiro, que poderiam render milhões de dólares. "Era muito dinheiro", disse o ex-policial militar, ligado ao chamado Escritório do Crime.

Na sua delação premiada à Polícia Federal (PF), Lessa disse que o crime foi encomendado por Domingos, ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), e seu irmão, o deputado federal Chiquinho, sob promessa de que receberia um loteamento clandestino que poderia render até R$ 20 milhões, e passaria a ser um chefe de milícia.

"Na verdade, não fui contratado para matar Marielle, como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para uma sociedade", disse. Segundo Lessa, houve três reuniões para discutir a execução de Marielle.

Arnaldo Lima - Vinculação do salário mínimo à Previdência é cláusula pétrea

Valor Econômico

Qualquer reforma fiscal que estabilize a dívida passa por aperfeiçoamentos contínuos da legislação previdenciária

É elogiável a disposição da ministra do Planejamento, Simone Tebet, em iniciar uma agenda de discussão sobre o aperfeiçoamento da qualidade do gasto público que reduza a rigidez orçamentária e impeça a trajetória explosiva do gasto obrigatório. Sem reformas estruturantes, qualquer regra fiscal que foque somente nas despesas discricionárias, como o teto dos gastos ou o arcabouço fiscal, terá efetividade limitada para se tornar uma âncora fiscal sustentável e permitir que tenhamos uma taxa de juros real compatível com o nosso desejo de nos tornarmos um país desenvolvido.

Porém, a ministra caiu em uma armadilha ao declarar que está estudando a desvinculação do piso previdenciário do salário mínimo, o que rememorou a célebre frase de H. L. Mencken: “Para todo problema complexo, existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada”. Além de não ser nova, essa proposta teria sérias dificuldades para superar as resistências do próprio Poder Executivo, pois a grande maioria dos servidores da Advocacia Geral da União (AGU) e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) entende que a vinculação é cláusula pétrea, ou seja, é um direito constitucional que não pode ser alterado.

Gideon Rachman - EUA quebram regras internacionais enquanto defendem mundo livre

Financial Times / Valor Econômico

No mundo atual, os EUA estão mais uma vez fazendo concessões desconfortáveis como parte de uma luta maior contra as principais potências autoritárias

Como princípio organizador da política externa ocidental, a “ordem internacional baseada em regras” (OIBR) há muito tem sofrido de falhas desastrosas. A frase não significa nada para uma pessoa normal. Dessa forma, trata-se de um conceito nada inspirador. As pessoas podem ir à guerra para defender a liberdade ou a pátria-mãe. Ninguém vai lutar e morrer pela OIBR.

Ainda assim, algumas autoridades ocidentais de alto escalão parecem apaixonadas pelo conceito. Antony Blinken, o secretário de Estado dos Estados Unidos, gosta de fazer apelos à OIBR quando visita a China. Rishi Sunak, premiê britânico, a colocou no cerne da política externa do Reino Unido. Seu provável sucessor, Keir Starmer, um ex-advogado, terá o mesmo compromisso com a ideia.

Quando critica a agressão russa, Blinken argumenta que os EUA defendem um mundo baseado em regras, e não no poder bruto. É uma ideia atraente. Mas as regras são feitas para serem coerentes. E as próprias ações dos EUA vêm enfraquecendo partes vitais da ordem baseada em regras.

Pedro Cafardo - Gastos catastróficos e dívidas põem idosos em apuros

Valor Econômico

Como é possível um reajuste de um plano de saúde mais de cinco vezes acima da inflação?

Francisco e Amélia estão em apuros. Na semana passada, o casal recebeu o boleto do plano de saúde com uma surpresa de tirar o sono: a mensalidade aumentou 22%. Ambos têm mais de 70 anos e acompanham os telejornais que, quase diariamente, falam em uma inflação anual na casa dos 3% a 4%. Como é possível um reajuste de um plano de saúde mais de cinco vezes acima da inflação?

Francisco trabalhou no comércio por 40 anos e encerrou a carreira em 2021 como gerente. Sempre teve um salário razoável, com carteira assinada, contribuiu para a Previdência e aposentou-se com benefício integral. Em meados de 2021, quando começou a receber a aposentadoria, o valor era de R$ 6.433,57 mensais. Hoje está em R$ 7.786,02, com reajuste de 21% em três anos, que mais ou menos acompanhou a inflação oficial (IPCA) do período.

Marcus Cremonese - Quando a verdade vale mais que um salário ou posição

Com o avanço gradual e cada vez mais intenso das mudanças climáticas, água e fogo vêm gerando tragédias. Tragédias que, como temos visto, vêm se tornando campos férteis para a semeadura de mentiras.

Enquanto o Rio Grande do Sul enfrenta as consequências das enchentes deste mês, os australianos começam a se preparar, ainda em junho, para a estação de fogo nas florestas, evento que ocorre todo ano entre novembro e janeiro do ano seguinte.

Os fogos nas matas da Austrália acontecem há milhões de anos e contribuíram até mesmo para criar características próprias da fauna e da flora deste continente. Os incêndios mais destrutivos são precedidos por altas temperaturas, baixa umidade relativa do ar e ventos fortes. Estes três fatores encontram seu "prato-feito" nas florestas de eucaliptos – a maior parte do ano extremamente secas e sempre impregnadas de seu óleo natural.

Cláudio Carraly* - O Orgulho da ignorância na sociedade contemporânea

A presença da ignorância na condição humana é um fenômeno complexo e multifacetado, revelando-se de maneiras intrigantes e diversas ao longo da história. Este ensaio se propõe a explorar e aprofundar a compreensão dos fatores subjacentes a esse, indo além da mera análise dos desafios cognitivos e vieses culturais que podem contribuir para sua perpetuação, além disso, busca-se examinar fenômenos contemporâneos que têm impactado a disseminação coletiva dessa ignorância, como a crescente confiança dos ignorantes em suas próprias convicções, baseadas tão somente em sua própria opinião ou daqueles que fazem parte do seu grupo de contato.  

Carlos Andreazza -Corregedor-universal do jornalismo

O Estado de S. Paulo

Nota intimidadora do ministro, que não gostou de reportagem sobre o TSE, veio após STF declarar inconstitucional o assédio judicial a jornalistas

Alexandre de Moraes, gestor de inquéritos onipresentes e infinitos, também, claro, corregedor-universal do jornalismo, enviou nota ao UOL para lhe acusar de ser falsa uma reportagem. Não indica quais seriam as mentiras. Não precisa.

Trata-se de um de nossos salvadores. Pode tudo – os colegas togados, formalmente, e nós mesmos, imprensa, o legitimaram. Vige sobre este 8 de janeiro permanente. Líder do estado de vigília contra o golpe. Donde crava: “fake news e notícias fraudulentas não ficam restritas apenas às redes sociais”. Não está errado.

O que crava sendo o mesmo que tem cravado o que será fake news e notícias fraudulentas.

Em defesa sempre da democracia, autorizado, pois, à aplicação de autoritarismos, escreveu: “Sob o manto do sigilo de fonte, a jornalista inventou fatos e versões”.

Hélio Schwartsman - O calor cozinha nossos miolos?

Folha de S. Paulo

Estudos mostram que aumento da temperatura piora performance cognitiva, e isso é fonte de desigualdades

O clima tropical "amoleceu" os brasileiros, como sugeriu Albert Einstein em seus politicamente incorretos diários de viagem? O pai da Teoria da Relatividade foi aqui um gênio presciente ou apenas preconceituoso?

A viagem de Einstein à América do Sul ocorreu em 1925. À época não havia estudos rigorosos que pudessem amparar suas observações sobre os efeitos do clima na inteligência, de modo que o físico alemão apenas ecoava o determinismo geográfico de tons racistas que era moeda corrente à época.

Dora Kramer - Faz de conta

Folha de S. Paulo

Na chamada pré-campanha, políticos e Justiça vivem na ilegalidade consentida

Paulo Vanzolini conta em um de seus memoráveis sambas que, na praça Clóvis paulistana (posta abaixo nos idos dos anos 1970 para dar passagem ao metrô), um dia a carteira dele foi batida. "Tinha 25 cruzeiros e o teu retrato", relata. E, em mágoa de amor, conclui: "25, francamente achei barato pra me livrar do meu atraso de vida".

É o que ocorre com os infratores da regra da chamada pré-campanha eleitoral, cuja penalidade máxima é uma multa de R$ 25 mil para quem pedir votos para si ou para apadrinhados. Sai quase de graça a infração para quem deseja se livrar do atraso de vida que a lei impõe no período antecedente ao início oficial da corrida eleitoral, neste ano marcada para 16 de agosto.

Alvaro Costa e Silva - O negócio dos clãs

Folha de S. Paulo

Ambos construíram um patrimônio financeiro com a compra de imóveis e a ajuda de milicianos

Em seu livro "O Negócio do Jair", Juliana Dal Piva mostra como Bolsonaro usou a política —nomeação de funcionários-fantasmas, apropriação de seus salários e avanço sem freios em recursos públicos— para construir um patrimônio financeiro que lhe permitiu a compra, em dinheiro vivo, de pelo menos 151 imóveis. O esquema de corrupção, capitaneado pelo ex-presidente desde os tempos em que se elegeu vereador "contra o sistema", envolveu centenas de pessoas: os filhos, a ex-primeira-dama, ex-mulheres, parentes, amigos e os imprescindíveis milicianos. Quando Juliana publicou sua reportagem, em 2022, o escândalo das joias árabes e do esconderijo de presentes ainda não havia sido revelado.

Joel Pinheiro da Fonseca – A universidade é de esquerda?

Folha de S. Paulo

Instituições falham em se comunicar com população e mostrar sua relevância

Um dos sintomas mais miseráveis da polarização que vivemos é a tentativa, por parte de ambos os lados dela, de empurrar quem não está 100% com eles para o lado contrário da disputa política. Este é o ponto em que a adesão política passa a funcionar como uma religião exclusivista. Não é mais uma proposta de transformação do mundo, que precisa buscar novos defensores para que seja implementada na democracia, e sim uma maneira do indivíduo se sentir moralmente superior, levando-o, portanto, a excluir de seu círculo quem não pertence ao grupo dos puros.

Poesia | Amor é fogo que arde sem se ver, de Luís Vaz de Camões

 

Música | Mariana Aydar e Dió de Araújo - Onde está você

 

segunda-feira, 27 de maio de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Analfabetismo em queda abre novas perspectivas ao país

O Globo

Apesar do avanço mais lento que o desejável, Brasil tem obtido êxito no combate à chaga secular

O analfabetismo, que há séculos envergonha o Brasil, tem sido enfrentado com êxito, revelam dados do Censo de 2022. Em relação a 2010, a parcela de analfabetos na população com mais de 15 anos caiu 2,6 pontos percentuais, de 9,6% para 7%. É verdade que, em números absolutos, ainda há 11,4 milhões de brasileiros que não sabem ler nem escrever. Mas a situação já foi bem pior — e tem melhorado.

“Em 1930, apenas 21% dos brasileiros estavam alfabetizados, enquanto na Argentina esse número já era 63%”, diz Claudia Costin, ex-diretora global de educação do Banco Mundial. Em 1940, menos da metade da população era alfabetizada. Apenas depois da redemocratização, a educação passou a ser encarada com a devida importância, e a partir daí o progresso tem sido contínuo, ainda que mais lento que o desejável. Para Costin, o Brasil ainda paga um preço alto pela demora em universalizar o acesso à educação primária.

Fernando Gabeira - La Niña, a garota que vem do mar

O Globo

Se há algo que pode nos unir para além das divergências políticas, é a sobrevivência diante do caos climático

Preciso avisar com ligeira antecedência, mas ela deve chegar a partir de julho. La Niña vem para derrubar momentaneamente o domínio patriarcal de El Niño.

Ambos são filhos dos ventos alísios que sopram com constância, mas às vezes são mais lentos ou mais rápidos. Quando são lentos, não conseguem levar as águas quentes para o lado asiático do Oceano Pacífico. Quando são mais rápidos, acabam esfriando a costa peruana.

Os pescadores peruanos chamam o primeiro fenômeno de El Niño porque aparece por volta do Natal. La Niña chega aqui entre julho e setembro e, às vezes, dura dois anos. Por que essa preocupação com avisar? Na verdade, é um hábito antigo.

Preto Zezé - Desradicalizar é necessário

O Globo

Precisamos encontrar um lugar na política onde todos possam ser ouvidos, fazer um pacto com informações baseadas em evidências e fatos

O cenário social e político brasileiro está radicalizado, com disputas nas ruas e nas redes sociais entre narrativas que refletem conveniências políticas e ideológicas. No meio disso, existe uma crise social sem precedentes, herança de uma sociedade baseada em escravidão, destruição de ecossistemas e submissão de povos originários.

A fatura chega a áreas urbanas superlotadas, onde mais de 20 milhões de brasileiros vivem em favelas, enfrentando adversidades sociais, insegurança e falta de direitos básicos. Estive no Rio Grande do Sul, observando de perto a realidade e o trabalho da sociedade civil na tragédia. Agentes públicos como policiais e bombeiros, que perderam suas casas, estão alojados em casas de parentes e trabalhando desde o primeiro dia, quando as águas invadiram o estado. A situação é preocupante.

Demétrio Magnoli -Três objetivos decorativos

O Globo

Ninguém escutou do vice uma única palavra de contestação à flexibilização do arcabouço fiscal

Lula bateu Bolsonaro por margem mínima. O triunfo deveu-se às alianças com o centro democrático firmadas no início da corrida eleitoral (Geraldo Alckmin) e depois do primeiro turno (Simone Tebet e Marina Silva). As três lideranças ingressaram no governo carregando as expectativas do eleitorado que decidiu a disputa. O tempo mostrou, contudo, que elas não passam de objetos decorativos.

Marina figura como outdoor da vertente ambiental da política externa lulista. Seu ministério só consegue realizar um programa mínimo, expresso na redução do desflorestamento na Amazônia. Adaptação às mudanças climáticas? Transição energética? No primeiro item, a ministra oferece apenas diagnósticos acadêmicos. No segundo, um equívoco conceitual paralisante.

Rachel Maia - O que move os seguidores nas redes sociais?

O Globo

Gerar engajamento promovendo informações relevantes é um caminho potente para criarmos uma rede rumo à transformação necessária

As redes sociais, nós sabemos, representam um meio de comunicação importantíssimo hoje. Com elas, podemos nos relacionar com familiares, amigos, colegas de trabalho e até com quem não conhecemos pessoalmente, mas que, de alguma forma, admiramos ou nos admira. O poder dessas redes é inquestionável, servindo tanto para promover ações positivas quanto para disseminar, por exemplo, notícias falsas (fake news).

Marcus André Melo - Corrupção honesta

Folha de S. Paulo

Tammany Hall é o Brasil: foi derrotado nos EUA, mas aqui estamos perdendo a luta

Tammany Hall é o símbolo de máquina política corrupta, tendo inspirado filmes e livros. Tratava-se de uma organização que dominou o Partido Democrata em Nova York por 40 anos. Um dos seus líderes, George Plunkitt, fez uma distinção que ilumina a análise da corrupção entre nós.

Contra aqueles que denunciavam seu enriquecimento ilícito, afirmava que não viam a "diferença entre corrupção honesta (honest graft) e corrupção desonesta e, consequentemente, confundem tudo. Existe uma grande diferença entre saqueadores políticos e políticos que fazem fortuna com a política mantendo os olhos bem abertos. O saqueador entra sozinho, sem considerar sua organização ou sua cidade. O político zela pelos seus próprios interesses, pelos interesses do partido e pelos interesses da cidade, tudo ao mesmo tempo".

Ruy Castro - Prefeito perfeito

Folha de S. Paulo

Todos admiramos Graciliano Ramos como escritor. Mas é que ainda não o conhecíamos como prefeito

Em 1931, os relatórios de um ex-prefeito de Palmeira dos Índios, em Alagoas, circularam sabe-se lá como pelo Rio. Prestações de contas, mesmo de um prefeito corajoso, honesto e trabalhador, não são literatura. São prestações de contas. Mas, ao caírem aos olhos do poeta e editor Augusto Frederico Schmidt, este pensou: "Quem escreve desse jeito deve ter um romance na gaveta". Mandou carta ao ex-prefeito e este confirmou: sim, tinha um romance, vou lhe enviar o manuscrito.

Semanas depois, chovendo no Rio, Schmidt foi pegá-lo no correio. Enfiou-o no bolso da capa, voltou para a editora, pendurou a capa no armário e foi fazer qualquer coisa. Como não chovesse pelos meses seguintes, não voltou a usar a capa e se esqueceu onde guardara o pacote, achou que o perdera. Em 1932, foi ao armário e lá estava. Leu, maravilhou-se e escreveu ao autor propondo publicação. E assim, por intermédio de "Caetés", título do romance, em 1933 o Brasil conheceu Graciliano Ramos.

Camila Rocha - Tarcísio e Nunes querem educação para ditadura

Folha de S. Paulo

Em vez de ordem e progresso, futuro com escolas militarizadas promete retrocesso

Imagine que a escola de seu filho mudou. Agora, ele precisa manter os cabelos raspados para ir à aula. Conflitos rotineiros são resolvidos por policiais que usam spray de pimenta, ameaçam bater nos alunos e levam jovens à delegacia para serem fichados. Colegas com deficiência ou dificuldade de aprendizado se sentem pressionados a abandonar a escola. Atividades como colocar fantasias para um festival de inglês, ou falar sobre racismo e violência policial, passam a ser vistas com desconfiança ou são censuradas. O medo e a insegurança crescem na comunidade escolar. Você tenta mudar seu filho de escola, mas é inútil, pois agora todas as escolas da sua região são "cívico-militares": educam crianças e jovens para viver em uma ditadura.

Sergio Lamucci - O peso das vinculações de despesas no problema fiscal do país

Valor Econômico

O grande desequilíbrio das contas públicas está no lado do gasto, mas enfrentar o problema com determinação não está na agenda do governo

Com menos de um ano de vigência, o novo arcabouço fiscal já tem a credibilidade arranhada. O governo afrouxou em abril a meta de resultado primário (exclui gastos com juros) de 2025 e dos anos seguintes, e o ajuste das contas públicas depende muito de um aumento forte e incerto de receitas, visto com ceticismo por muitos analistas. O grande desequilíbrio fiscal do país está no lado do gasto, mas enfrentar o problema com determinação não está na agenda do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenham falado nas últimas semanas sobre a necessidade de se discutir a vinculação de despesas.

Bruno Carazza - Cadê o Cade que estava aqui?

Valor Econômico

Instrumentalização política e fragilidade institucional colocam órgão de defesa da concorrência à deriva

Nos meus tempos de criança no interior de Minas, creme dental era chamado de dentifrício - e isso rendeu muita gozação de meus amigos quando me mudei para Belo Horizonte para fazer faculdade. (Décadas depois, num supermercado na região do Douro, em Portugal, vi numa gôndola que lá eles também usam a palavra dentifrício; estranha conexão linguística entre povos da montanha dos dois lados do Atlântico.)

Na mesma época em que riam do meu modo de falar, nos anos 1990 muita gente se referia a creme dental simplesmente como Kolynos - exemplo clássico de metonímia, em que a liderança da marca é tão forte que o consumidor se refere a ela como sinônimo para o próprio produto. Mas em 1995 a Colgate, a segunda colocada do mercado, comprou a Kolynos, gerando uma concentração de 78% no mercado de cremes dentais.

Maria Cristina Fernandes - Câmeras policiais antecipam embate de 2026

Valor Econômico

Depois do edital paulista, governo federal lança diretrizes para câmeras corporais

O edital para a compra de novas câmeras para os uniformes da Polícia Militar de São Paulo reúne dois temas do embate antecipado da corrida sucessória de 2026, a segurança pública e a eficiência administrativa. Depois de polemizar em torno do programa durante a campanha eleitoral e ao longo do primeiro ano de sua gestão, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, espera convencer que as novas câmeras, além de estarem em linha com o enxugamento de gastos pretendido, são também mais eficientes. O edital enfrenta forte resistência de entidades civis que apontam enfraquecimento do controle da atividade policial.