O Estado de S. Paulo
Na empáfia rude, inculta e sádica dos principiantes se concentra um dos males mais corrosivos da ‘polarização’ que nos cindiu
Na quinta-feira passada, durante uma sustentação oral no Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado Hery Waldir Kattwinkel escorregou numa gafe traumática e, não obstante, hilária: confundiu o livro O Príncipe, do italiano Nicolau Maquiavel, publicado no século XVI, com o best-seller do século 20 O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry. Foi uma passagem ligeira, coisa de poucos segundos, quase um lapso de oratória. Lá pelas tantas, ele citou, veja você, “O Pequeno Príncipe de Maquiavel”. Suma batatada. O próprio ministro Alexandre de Moraes, que, além de magistrado, é professor de Direito, cuidou de repreendê-lo, mal escondendo um ar de divertimento de foro íntimo. A partir daí, em poucos minutos, o orador de toga lustrosa virou chacota nacional.
O causídico bem que poderia ter passado sem essa. Teria sido melhor para si e para seu cliente, o produtor rural Thiago de Assis Mathar, que terminou o dia condenado por cinco crimes, entre eles golpe de Estado e associação criminosa armada. Tomou 14 anos de prisão, tornando-se responsável por tudo aquilo que depredou.