quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Eugênio Bucci - Arrogantes príncipes principiantes

O Estado de S. Paulo 

Na empáfia rude, inculta e sádica dos principiantes se concentra um dos males mais corrosivos da ‘polarização’ que nos cindiu 


Na quinta-feira passada, durante uma sustentação oral no Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado Hery Waldir Kattwinkel escorregou numa gafe traumática e, não obstante, hilária: confundiu o livro O Príncipe, do italiano Nicolau Maquiavel, publicado no século XVI, com o best-seller do século 20 O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry. Foi uma passagem ligeira, coisa de poucos segundos, quase um lapso de oratória. Lá pelas tantas, ele citou, veja você, “O Pequeno Príncipe de Maquiavel”. Suma batatada. O próprio ministro Alexandre de Moraes, que, além de magistrado, é professor de Direito, cuidou de repreendê-lo, mal escondendo um ar de divertimento de foro íntimo. A partir daí, em poucos minutos, o orador de toga lustrosa virou chacota nacional. 

O causídico bem que poderia ter passado sem essa. Teria sido melhor para si e para seu cliente, o produtor rural Thiago de Assis Mathar, que terminou o dia condenado por cinco crimes, entre eles golpe de Estado e associação criminosa armada. Tomou 14 anos de prisão, tornando-se responsável por tudo aquilo que depredou. 

Roberto Macedo - A queda dos investimentos públicos nos municípios

O Estado de S. Paulo 

Esses investimentos foram prejudicados pela imposição constitucional de limites mínimos para despesas com saúde e educação, mas sem provisão de recursos adicionais 


Continuo a minha habitual pregação de que o Brasil precisa enfrentar o baixo crescimento econômico, caminho pelo qual enveredou desde a década de 1980. Lembro novamente que a partir de então a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) despencou para um valor médio de 2,4% ao ano. Na década anterior, a de 1970, essa taxa havia sido de 8,8% (!), próxima de taxas da China no período em que esta crescia fortemente, o que deixou de acontecer no período recente. 

Aqui, desde 1980, salvo curtos períodos excepcionais, o PIB está em estagnação, que meu dicionário define como um período de crescimento abaixo do potencial. Recentemente, surgiu outro grave impacto dessa estagnação. A Folha de S.Paulo do dia 4/9 veio com a matéria Mais escolarizados caem na informalidade e veem renda desabar. Isso decorre da fragilidade do crescimento em sua demanda de mão de obra.

Vinicius Torres Freire - Banco Central cobra controle de gastos de Lula e Haddad

Folha de S. Paulo 

Decisão sobre Selic não teve novidade, mas comunicado volta a cobrar com força meta de redução de déficit 

Banco Central voltou a cobrar a redução do déficit das contas do governo Lula. É óbvio que o faça, mas havia deixado essa conversa de fora do comunicado da reunião do Copom de 2 de agosto, quando enfim baixara a Selic de 13,75% ao ano para 13,25%. 

No comunicado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) encerrada nesta quarta-feira, a cobrança foi incisiva. Sem cumprimento de "metas fiscais já estabelecidas", as expectativas de inflação, diz o BC, não baixam. Se não baixam, a Selic vai cair devagar ou não vai cair o bastante. 

Bruno Boghossian - Congresso se aventura no terreno do retrocesso para enfrentar STF

Folha de S. Paulo 

Blitz reacionária na Câmara e no Senado mostra que parlamentares não têm nada de conservadores 


As bancadas conservadoras do Congresso são produtos de uma atividade permanente de lobby, do poder econômico de setores organizados, de uma propaganda baseada no pânico moral e, no fim das contas, de uma vontade expressa nas urnas. 

Sob influência de diversos fatores, o eleitor resolveu mandar para Brasília mais do que um punhado de parlamentares que fizeram campanha sob a bandeira de uma tal defesa da família. Colocou nas cadeiras da Câmara e do Senado políticos ligados ao agronegócio em número suficiente para proteger os interesses de grandes produtores.

Maria Hermínia Tavares - Na ONU, o Brasil volta a si

Folha de S. Paulo 


Lula reiterou posições clássicas da nossa diplomacia e elencou prioridades novas. 

Quem se der ao trabalho de comparar o discurso do presidente Lula na abertura da Assembleia-Geral da ONU, na terça-feira (19), com o pronunciamento de Jair Bolsonaro na mesma tribuna quatro anos atrás, será recompensado com uma tripla dose de alívio. Pela voz do seu chefe de governo, o Brasil voltou à antiga forma: falou bem, foi digno e ambicioso na justa medida. 

 
Aquela reunião anual não é foro para decisões. É um ritual em que, por se fazer representar à altura do evento, os seus 193 estados-membros reafirmam a adesão ao multilateralismo; compartilham a sua visão do estado do mundo; explicam as suas escolhas em política externa e marcam posição diante das decisões coletivas a tomar.

Ruy Castro - Tinha de ser

Folha de S. Paulo 

'Elis & Tom: Só Tinha de Ser com Você' pode ser o melhor documentário já produzido no Brasil


"Elis & Tom", o LP gravado em Los Angeles em 1974, fará 50 anos em 2024. É muito tempo. Em 1974, um disco feito 50 anos antes, em 1924, parecia ter saído da tumba de Tutancâmon. Já "Elis & Tom" soa hoje como se tivesse sido produzido ontem, pela grandeza de Elis Regina e Tom Jobim, a intérprete, o criador, as canções, os arranjos, os músicos, até a quase sensualidade. Como fomos capazes de produzir tanta beleza? 

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Corte é necessário para o governo cumprir meta fiscal 

O Globo 

Reajuste obrigatório em despesas de Previdência, saúde e educação impõe contenção noutras áreas 

Para cumprir a promessa de equilibrar as contas do governo em 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não terá como escapar do corte de gastos. A previsão de aumento na receita propalada pelo governo não é apenas incerta. Mesmo que se realize, será insuficiente. Não é difícil entender o motivo: algo como 60% das despesas do governo em 2024 certamente subirão acima do limite de 2,5% além da inflação, o máximo permitido pelo arcabouço fiscal recém-aprovado. 

A alta será resultado de duas medidas do próprio governo. Primeira: o aumento real do salário mínimo. Com as regras recém-aprovadas no Congresso, o novo mínimo inflará os gastos da Previdência e o reajuste dos servidores públicos. Segunda: o governo acabou com o antigo teto de gastos sem tomar cuidado com despesas constitucionalmente vinculadas à arrecadação. Em consequência, a correção do gasto obrigatório em saúde e educação deixa de ser feita pela inflação e volta a ser indexada pela receita do ano corrente. 

Cálculos de economistas da UFRJ publicados pelo GLOBO estimam que, em 2024, a despesa com saúde subirá 25,8% além da inflação, e a com educação 5%. Ao todo, a parcela engessada do Orçamento crescerá 7,2% em termos reais. Com base nessa projeção, o desafio diante do presidente é cortar despesas da fatia do Orçamento em que há margem para manobra, como custeio da máquina pública, gasto com pessoal ou investimento. O corte necessário é da ordem de 5,5% do Orçamento, segundo os economistas. 

Poesia | Procura-se um amigo - Poema de Vinicius de Moraes

 

Música | Chico Buarque: Paratodos

 

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Vera Magalhães - Haddad, Marina e a vanguarda possível

O Globo 


Do ministro da Fazenda depende o sucesso eleitoral do governo, e da titular do Meio Ambiente, o prestígio internacional do presidente 


Fernando Haddad e Marina Silva foram ministros nos governos Lula 1 e 2. Percorreram itinerários bem diferentes em termos de batalhas vencidas, perdidas e de aval que receberam do presidente. Isso ditou o afastamento dela e a aproximação cada vez maior dele em relação a Lula, a ponto de substituí-lo como candidato em 2018. De volta para o terceiro ato do petista na Presidência, representam, mesmo com essa bagagem, a vanguarda possível de um governo que ainda tem o cacoete do retrovisor. 


O bem lapidado discurso de Lula na ONU e a presença de destaque do ministro da Fazenda e da titular do Meio Ambiente a seu lado em Nova York atestam a centralidade que têm hoje no arranjo do governo, de novo de formas bem distintas.