quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Maria Hermínia Tavares - Na ONU, o Brasil volta a si

Folha de S. Paulo 


Lula reiterou posições clássicas da nossa diplomacia e elencou prioridades novas. 

Quem se der ao trabalho de comparar o discurso do presidente Lula na abertura da Assembleia-Geral da ONU, na terça-feira (19), com o pronunciamento de Jair Bolsonaro na mesma tribuna quatro anos atrás, será recompensado com uma tripla dose de alívio. Pela voz do seu chefe de governo, o Brasil voltou à antiga forma: falou bem, foi digno e ambicioso na justa medida. 

 
Aquela reunião anual não é foro para decisões. É um ritual em que, por se fazer representar à altura do evento, os seus 193 estados-membros reafirmam a adesão ao multilateralismo; compartilham a sua visão do estado do mundo; explicam as suas escolhas em política externa e marcam posição diante das decisões coletivas a tomar.

 


Nos 21 minutos em que se fez ouvir, o líder brasileiro falou dos princípios que orientam a ação internacional do país; das prioridades que deveriam nortear as nações ali reunidas; das urgentes reformas institucionais para ressuscitar as organizações do sistema ONU à beira da irrelevância. 


Lula reiterou posições clássicas da diplomacia brasileira –mas também elencou prioridades novas. De um lado, tratou de temas que de há muito configuram a identidade internacional do país: defesa da democracia; busca de soluções pacíficas para os conflitos; demanda por reforma das organizações multilaterais a fim de dar mais voz aos países intermediários –em especial por meio da ampliação de seu espaço no Conselho de Segurança e nos órgãos de governança econômica do FMI e do Banco Mundial. 


De outro lado, deu promissora importância à agenda ambiental e à maneira como ela deveria se entrelaçar com a meta maior de redução das desigualdades. Assim, reafirmou a disposição de cumprir, no prazo estipulado (2030), os 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) definidos pela ONU e que dão corpo à convergência daqueles dois objetivos. Sem esquecer da reativação do Tratado de Cooperação Amazônica e da interlocução entre os países com extenso patrimônio florestal. 


Para atestar os compromissos do seu governo com a agenda ambiental, falou do Plano de Transformação Ecológica, fruto da cooperação entre os Ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente –e destinado a mudar o rumo das políticas de desenvolvimento. Invocou o princípio das responsabilidades comuns e diferenciadas na proteção do planeta, cobrando das nações ricas o financiamento das políticas ambientais das mais pobres. 


O ambicioso pronunciamento é uma carta de princípios que ultrapassa o que o país pode fazer de fato. 


Trunfo para valer só na agenda ambiental. É aí que se poderá ancorar um protagonismo que vá além da oratória. 

 

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