segunda-feira, 14 de junho de 2010

Reflexão do dia – Geraldo Alckmin

Tenho andado pelos quatro cantos de São Paulo trabalhando, ouvindo as pessoas, vendo as obras e as conquistas de um estado que o PSDB sempre fez avançar.

Alguns não querem entender isso. Preferem fazer intriga, desrespeitar a lei, antecipar a campanha, zombar da Justiça e das instituições. Mas nós temos pouco tempo para bate-boca, para responder a ódios e ofensas, para nos preocuparmos com inferências tolas e chavões marqueteiros.


(Geraldo Alckmin, candidato ao governo de S. Paulo, hoje em O Globo)

O efeito Marina:: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Na sucessão presidencial que se avizinha temos conhecido apenas dois tempos: o do passado e o do presente, pois o do futuro, a valer a retórica dominante, que não parece temer a ira dos deuses, deve ser contínuo a este que temos aí, sujeito, é claro, a aperfeiçoamentos. No presente já se poderia contar com a solução feliz de impasses históricos que antes dramatizavam a política brasileira: o mundo agrário, um velho celeiro de conflitos, estaria domesticado pela emergência do agronegócio e da difusão das relações capitalistas no campo; e, por toda parte, a lógica dos conflitos se confinaria ao terreno da simples disputa por interesses. Dessa forma, combater as desigualdades sociais não mais importaria em trazer à cena o tema da exploração, ressalvadas as questões-limite como a do trabalho escravo. No mais, essa seria uma questão a ser remetida para o terreno das políticas públicas.

A própria história, herança maldita com que deveríamos romper, passa a ser reinterpretada sob outros filtros, concedendo-se vida nova a instituições e valores comprometidos com fins e práticas autoritárias, e assim apronta-se mais uma floração para o sindicalismo corporativo, que, ao longo das nossas décadas de modernização autoritária, tutelou a vida associativa dos trabalhadores. A questão nacional, que mobilizou a sociedade nos anos 1950/60, perde capacidade de universalização, apropriada como está pelo Estado e pela fração do empresariado a ele vinculado. Nessa versão, tanto o Estado Novo de 1937 como o regime militar de 1964-1985 passam a ser percebidos acriticamente, pelo tipo de reflexão panglossiana que ora nos conduz, como momentos necessários para a realização apoteótica dos fins de grandeza a que o país estaria, desde sempre, predestinado.

Com esses tempos empatados - o de um presente que não quer ir além de uma reiteração em roupa nova do passado -, o tempo do futuro, afinal, fez sua aparição nessa sucessão presidencial, embora ainda de modo tímido e reverencial com o discurso dominante, por meio da fala com que a senadora Marina Silva lançou-se como candidata pelo PV. Com palavras que introduziram um alento de ar fresco nesse início de campanha, foi ao cerne do problema atual da democracia brasileira, sob risco iminente de converter a cidadania dos seus seres subalternos em uma vasta clientela: "Saímos da cesta básica, fomos para um bom programa de transferência de renda. Agora vamos para um bom programa, que mobilize a sociedade brasileira. Junto com essa política terá que vir também um novo tipo de Estado. Sair da ideia de um Estado provedor, que faz as coisas para as pessoas, para um Estado mobilizador, que faz as coisas com as pessoas. Não é fazer para os pobres, mas com os pobres."

Tal novo tipo de Estado deve resultar da sua ampliação para admitir ao estatuto da plena cidadania - direitos civis, políticos e sociais - àqueles até então destituídos dela, em um movimento de baixo para cima, a partir da auto-organização da vida social, e não do modo assimétrico como vem ocorrendo. Para esse fim, ele deve se revestir de um papel pedagógico que tenha como norte estimular a emergência de lideranças extraídas da vida popular sem estarem sujeitas aos mecanismos da clientela e da cooptação. Assumir a mobilização como missão, na forma, aliás, do que tentou o segundo Vargas dos anos 1950-54, quando em nome de suas lutas em favor da questão nacional, abdicou das formas repressivas de controle sobre as associações dos trabalhadores, por ele mesmo impostas à época do Estado Novo, a fim de encontrar nelas sustentação política.

Essa lúcida intervenção da candidata Marina não merece ser vista meramente da perspectiva do cálculo eleitoral, mas do seu valor intrínseco. Marina, com seus escassos recursos de campanha e exíguo tempo de televisão no horário gratuito da campanha eleitoral, não parece, fora mudanças de todo imprevistas, se constituir em uma candidata competitiva. Importa muito, no caso, fazer do seu diagnóstico e da política que dele decorre um ponto de relevo estratégico na agenda dos debates presidenciais, instalando a política no centro da matéria da sucessão, deixando para trás as obscuras e bizantinas discussões de como se deve operar, segundo o cânon da tecnocracia, a macroeconomia brasileira, inclusive porque nem o mais experimentado navegador domina por antecipação qual o regime dos ventos de amanhã de manhã.

Outra importante contribuição importante da candidatura Marina para a campanha eleitoral reside no seu viés internacionalista, implicitamente contido em suas posições em defesa do meio ambiente, bem público de todos os homens. Pois, nessa hora de pensar o futuro do país, já não é sem tempo por sob a luz da crítica algumas tendências em curso que o concebem em chave grão-burguesa, fechado em sua lógica interna e animado por uma ideologiade grandeza nacional.


Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iuperj e ex-presidente da Anpocs

Lula ganhou:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

A primeira fase da sucessão de Lula acabou no último fim de semana com a indicação de José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva para candidatos do PSDB, do PT, do PV e demais partidos coligados. A segunda e última fase deverá ter seu desfecho no dia 3 de outubro, data da eleição. Quem ganhou a primeira? Dilma, claro. Quero dizer: Lula.

Que presidente da República seria tão atrevido a ponto de antecipar a escolha de seu candidato em mais de um ano e afrontar a lei durante todo esse período fazendo propaganda direta ou indireta dele? Não foi apenas a popularidade recorde de Lula que o levou a se comportar assim. Foi também sua formação.

Como líder sindical, aprendeu a tirar vantagem em tudo, mesmo em negociações destinadas ao fracasso. Aprendeu a correr riscos. E a ganhar ou perder mandando às favas todos os escrúpulos. Como único patrocinador da candidatura de Dilma, ele decidiu testar os limites da Justiça Eleitoral.

Ou ele saía cedo por aí, com Dilma debaixo do braço, apresentando-a como a mãe das principais realizações do seu governo, executiva exemplar e apta a dar continuidade à sua obra, ou não teria chances de emplacá-la como candidata — nem fora dos partidos nem dentro. Pagou para ver se a Justiça barraria seus passos. A Justiça comeu mosca.

Lorota a história de que Lula não dispunha de outros nomes para sucedê-lo depois da queda de José Dirceu da Casa Civil e de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda. Patrus Ananias, por exemplo, foi o ministro do Bolsa Família. É mineiro como Dilma. E tem votos. Assim como Tarso Genro, Marta Suplicy e Aloizio Mercadante.

Mas Lula preferiu Dilma, uma petista recente sem experiência eleitoral. Primeiro porque ela é mulher — e tal condição poderá ser vista com simpatia pelos brasileiros. Segundo porque Dilma demonstrou irrestrita fidelidade a ele. E terceiro porque se ela vencer, Deus e o mundo atribuirão a vitória a Lula, unicamente a ele.

Se Dilma perder... Bem, a culpa será dela. E uma derrota facilitaria o retorno de Lula daqui a quatro anos. Hoje, parece improvável que perca. É o que admitem (em segredo) oito entre cada 10 políticos de todos os partidos. Jamais um candidato a presidente contou com cabo eleitoral tão forte e disposto e com uma conjuntura tão favorável. Em conversa com amigos, Lula confidencia coisas do tipo: “Quero somente ver se o Serra tem sangue de barata. Só se tiver para não reagir às provocações que lhe farei”. Ou então: “Eu me empenharei em eleger Dilma de uma forma como nunca fiz nem para mim mesmo”. Ou ainda: “Eleger Dilma é uma questão de honra para mim”.

O grau de felicidade dos brasileiros está em alta. Lula tem sido feliz na venda da ideia de que é o único inventor do País da bonança. Entre 2002 e este ano, o salário mínimo pulou de US$ 80 para US$ 280, o Produto Interno Bruto (PIB) foi de US$ 500 bilhões para US$ 1 trilhão, e 30 milhões de pobres ascenderam à classe média.

Somente um imprevisto, um clamoroso erro ou sucessivos erros de pequeno e médio porte serão capazes de imprimir um novo rumo a uma eleição com toda a pinta de que acabou antes de começar para valer. Erros podem ser evitados poupando-se Dilma de protagonizar situações que escapem ao controle dos seus atentos guias.

Nada de se expor em debates — pelo menos até que se distancie de Serra nas pesquisas de intenção de voto. Caso isso ocorra, comparecer a debates para quê? Nada de entrevistas a não ser para veículos confiáveis e jornalistas preocupados antes de tudo com fontes de informações a serem abertas no próximo governo.

O mais recomendável seria que Dilma se reservasse para brilhar nos comerciais e programas de propaganda eleitoral de campanha. Ainda assim como uma espécie de segundo sol. Se ela se limitar a exaltar Lula e a ser exaltada por ele, e defender vagas ideias consensuais, só perderá se o destino lhe for ingrato. Presidência é destino.

O contexto e o problema :: Alberto Aggio

DEU EM GRAMSCI E O BRASIL

As próximas eleições já se mostram em delineamentos bastante claros. O futuro do pais se joga, como todos sabem, entre as candidaturas de Dilma, pelo PT, e Serra, pelo PSDB. Imposta por Lula, a candidatura de Dilma é a expressão do continuísmo. Dilma parece encarnar o papel da conservação e não o da mudança. Em discurso que fez recentemente em Nova York enfatizou que na economia não se mexe. E fala isso em relação a uma economia que cresce pouco em relação à média mundial: em 2009, a participação da economia brasileira no produto mundial era de 2,79%, menos do que os 2,81% de 2002, o último ano de FHC. O crescimento anual sob Lula foi de 3,6%, mesmo percentual que o Brasil apresentava na economia mundial no final dos anos 80. Dilma e a maior parte dos seus apoiadores parecem não querer levar esses dados em consideração.

Analistas apontam, quase consensualmente, continuidade entre FHC e Lula no que se refere aos fundamentos da política econômica. Lula pouco alterou a orientação da economia. No plano econômico, Lula mostrou-se um astucioso conservador. A manutenção da estabilidade econômica, como se sabe, garantiu a possibilidade de aprofundar diversas das políticas sociais que passaram a ser a pedra de toque de seus governos.

Em outro plano de continuidade, o enfrentamento da questão social via políticas focalizadas também cria outro laço entre FHC e Lula. Mas o país não vivenciou o tão esperado “espetáculo do crescimento”. Desafortunadamente, Dilma parece querer repetir a dose.

Ocorre que o contexto mudou vertiginosamente. A crise que explodiu em 2008 e jogou as principais economias do mundo no chão não foi apenas financeira. Expressa um desequilíbrio enorme na economia real. O adensamento da esfera produtiva do mundo na Ásia deslocou também para lá os veios da riqueza mundial. A crise de 2008 veio mostrar que uma economia de serviços e sustentada no consumo não produz e, portanto, não reserva riqueza para seus povos. EUA e Europa foram, por isso, os mais atingidos.

O Brasil conseguiu surfar nos bons e maus momentos da economia globalizada. Acreditou, nos anos FHC, que uma inserção que abrisse nosso mercado e privatizasse boa parte do patrimônio público geraria crescimento in continuum, mas não foi o que aconteceu, e não só em razão das crises.

Hoje, com Lula, acredita-se que exportar commodities e elevar o consumo, alargando o espaço das importações, com um câmbio voltado para essa estratégia, pode garantir um crescimento sustentável. Isso não se comprova. Ainda assim Dilma parece imaginar que a popularidade de Lula lhe dará tanto a eleição como todas as benesses da economia globalizada.

O que parece estar claro é que a crise produziu uma clivagem na globalização. Entramos numa segunda fase desse grande processo, e as revisões já se encontram em andamento. É ilusório imaginar que a questão possa ser colocada politicamente como um dilema entre “mais ou menos Estado”. É a economia real que necessita ser repensada. E, se o fazemos em relação ao Brasil, talvez uma espécie de “inserção negativa” na globalização nesse momento nos ajudasse a repensar sua economia real, para além dos sonhos de consumo. Essa questão deveria invadir o debate eleitoral com a urgência, amplas dimensões e consequências que daí podem advir.


Alberto Aggio é professor titular de História da Unesp/Franca.

Verdades e mentiras:: Moacyr Goes

DEU EM O DIA (RJ)

Rio - “A mentira faz amigos e a verdade faz adversários”. Essa frase, atribuída ao dramaturgo romano Terêncio, que viveu antes de Cristo, produz um desconforto grande por conta de sua permanência.

A frase me veio à cabeça por conta de dois fatos importantes na corrida eleitoral que podem nortear para o bom lado o debate e as referências sobre os discursos dos candidatos. Vivemos momento de meias verdades convenientes, falsificação da realidade por meio de propaganda desmedida e biografias ficcionais. Pouco importa ater-se à verdade, se amigos e votos podem ser conquistados a despeito dela.

Um dos fatos foi a fala de José Serra sobre a cumplicidade do governo da Bolívia com o tráfico de drogas. Poucas vezes ouvimos alguém botar o dedo nessa ferida sem meias palavras e sem receio de dar nomes aos bois.

Muita gente achou-a desmedida e pouco diplomática, mas é difícil refutar essa verdade. E é importante enfrentá-la, pois dela depende a vida de muitos que estão sendo destruídos pelas drogas.

Outro fato marcante foi Marina Silva dizer claramente que não abrirá mão de suas convicções apenas para ganhar votos. Ela declarou-se contra o aborto, a descriminação das drogas e o uso da palavra casamento para a união civil de gays.

Podemos discordar dela, mas sua coragem de proferir o que pensa é reconfortante e qualificador do debate. Muitos tentam desqualificá-la rotulado-a de atrasada e adjetivando o fato de ser evangélica. É o método de aniquilar o outro, ao invés do confronto de argumentos.

Pode-se perder uma eleição, mas não a vergonha. Contra dossiês, panfletos apócrifos (como os utilizados contra Fernando Gabeira na eleição municipal) e poder das máquinas só a lei, a verdade e a retidão. E fé na crença de que a maioria acredita nesses valores.


Diretor de teatro e cineasta
(artigo publicado ontem, 13/6/2010)

Corruptos :: Almir Pazzianotto Pinto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pressionado pela opinião pública, o Congresso Nacional aprovou a Lei da Ficha Limpa. O projeto não foi da iniciativa de deputado, senador ou do presidente da República, desinteressados diante do problema. Resultou de mobilização popular, concretizada mediante a coleta das assinaturas de mais de 1 milhão de eleitores, conforme prescreve o artigo 61, § 2.º, da Constituição.

Já o texto concluído, emenda de algibeira, introduzida na 25.ª hora, impediu o povo de se livrar de políticos corruptos, os quais disputarão as eleições deste ano, com chances de recondução que lhes garanta a impunidade.

O esforço de moralização não alcança, porém, setor nebuloso da vida nacional. Falo do movimento sindical, alvo de denúncias, com relação às quais o presidente da República procede à semelhança dos macaquinhos chineses: não ouve, não fala, não vê.

Em 28 de agosto de 1970 o Diário do Congresso Nacional publicou relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) constituída para apurar denúncias de infiltração de organizações estrangeiras no sindicalismo nacional, formulada pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo da Guanabara e Rio de Janeiro. A CPI, cujos trabalhos foram abertos em setembro de 1967, teve como presidente o deputado Ney Ferreira e como relator o deputado Arlindo Kunzler. Prestaram depoimentos os ministros Arnaldo Sussekind e Ary Campista, ambos do Tribunal Superior do Trabalho; Jarbas Passarinho, ministro do Trabalho; o general Moacir Gaya, delegado regional do Trabalho de São Paulo; Herbert Backer, adido trabalhista da embaixada americana; representantes de entidades internacionais e expoentes do sindicalismo pelego.

Do Ministério do Trabalho foram requisitadas cópias do que havia apurado sobre as acusações de interferência estrangeira e do Banco Central, "extratos bancários de entidades e pessoas relacionadas com os objetivos da CPI".

As associações sindicais têm sido objeto de desejo de todos os governos, desde que Getúlio Vargas as converteu em instrumentos de controle das classes patronais e trabalhadoras. Após a 2.ª Guerra Mundial, ao longo da guerra fria, a União Soviética procurou utilizá-las, infiltrando-lhes agentes do Partido Comunista. Eliezer Pacheco, no livro O Partido Comunista Brasileiro - 1922/1964, relata como o velho Partidão, na década de 1950, abandonou a tática do isolamento - adotada pelo temor da convivência com dirigentes desonestos - para, aliando-se ao PTB, assumir a defesa da unicidade sindical, da manutenção do Imposto Sindical e da atuação dos sindicatos na esfera política.

Em 1964 o Alto Comando Revolucionário cassou os dirigentes sindicais comunistas e trabalhistas, substituindo-os por interventores nomeados, a exemplo de Joaquim dos Santos Andrade, o "Joaquinzão".

A CPI desnudou o sindicalismo sobrevivente a 1964, e o longo relatório oferece excelente panorama de como os dirigentes se deixavam seduzir por pagamentos e viagens custeadas por entidades internacionais obscuras.

Não é o caso, entretanto, de submeter à revisão as conclusões da CPI. Quem tiver a intenção de conhecê-las consultará o Diário do Congresso Nacional. Destaco duas outras recomendações finais: 1) A proibição de atividades políticas, no Brasil, por entidades estrangeiras; e 2) que se procedesse à radical mudança do sistema sindical, "com vistas à maior participação do operário brasileiro nas atividades e benefícios do seu sindicato".

Decorridos 40 anos, desde que a Câmara dos Deputados investigou os porões do sindicalismo, qual o panorama? Parte da resposta encontra-se em matérias publicadas no jornal O Estado de S. Paulo sobre a transformação do movimento operário em comércio lucrativo, em que a moeda de troca é a fundação de associações fantasmas e são frequentes violentas disputas de territórios.

Que a Constituição federal de 1988 converteu o sindicalismo em empresa lucrativa e sem riscos, isso nem os mais cínicos dos dirigentes conseguem negar. Anteriormente, as entidades congregavam pequena quantidade de associados e sobreviviam graças ao Imposto Sindical. Sobre a baixa representatividade, concluiu a CPI: "O levantamento efetuado comprovou que apenas 20% dos operários são sindicalizados, concluindo-se daí que 20% são mantidos por 100%." Atualmente, a média talvez não chegue a 15%, mas os diretores têm excelente padrão de vida, sustentado com bilhões de reais arrecadados pela Contribuição Sindical e variada cesta de cotas cobradas, à força, de trabalhadores que exercem a garantia constitucional de não se associar.

Àqueles que se surpreendem com a notícia de que as centrais sindicais combaterão a candidatura de José Serra à Presidência da República, lembro que jamais as organizações sindicais assumiram posição ostensiva e firme contra o governo. Durante o regime militar aliaram-se à Arena e repudiaram o MDB.

O saneamento da vida pública pode se iniciar com a Lei da Ficha Limpa. A depuração da vida sindical, com o fim da Contribuição Sindical e de arrecadações que não tenham a marca da voluntariedade.

O presidente Lula, à época em que dirigia o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, combatia o peleguismo. Hoje a postura é outra. Em vez de combatê-lo, passou a subsidiá-lo.

Sugiro aos historiadores do movimento sindical que examinem o relatório daquela CPI. A conclusão será melancólica. Em 40 anos a estrutura sindical piorou e a partir da Constituição de 1988 ficou a salvo de controle, em nome de hipotética liberdade sindical, convertida em libertinagem.


Advogado, ex-Ministro do Trabalho e ex-Presidente do Tribunal Superior do Trabalho

Lula sabe que Dilma está longe de empolgar:: VALDO CRUZ

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em discurso, presidente reforça a ideia de que vai grudar sua imagem na candidata do PT durante a campanha

O discurso de Dilma foi longo, ainda num tom monocórdico, deixando a militância sonolenta


BRASÍLIA - "Eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula." A frase do presidente Lula talvez seja a que melhor sintetize o clima da convenção petista que oficializou a ex-ministra candidata.Num encontro previsível, com uma militância comportada e ensaiada, o roteiro buscou fazer de Dilma a personagem principal do evento, mas quem roubou a cena foi o presidente.

Numa fala de improviso, Lula disse que o "bicho vai pegar", para delírio da plateia. Longe do palco, sentado entre os militantes, Gilberto Carvalho, seu chefe de gabinete, traduziu a fala do chefe."Ele vai entrar pesado na campanha depois da Copa do Mundo. Vai estar à disposição da equipe de Dilma à noite e nos finais de semana. Não vai descansar."

Em outras palavras, Lula vai grudar sua imagem mais do que nunca em Dilma. Tanto que o eleitor realmente pode votar na petista pensando estar dando ao presidente um terceiro mandato.Quem acompanhou a convenção entenderá bem as razões de Lula. Além do seu desejo de fazer o sucessor, ele sabe que sua criatura, mesmo tendo melhorado muito, está longe de empolgar.

Seu discurso foi longo, ainda num tom monocórdico, deixando a militância sonolenta. Não só ela, mas toda a mesa do evento.

Enquanto Dilma discursava, Lula conversava com sua mulher, Marisa Letícia. Chegou até a bocejar. O peemedebista Michel Temer, seu vice, estava com o olhar perdido. A seu lado, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, buscava amigos na plateia.

Com certeza, viu colegas como José Dirceu e os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) aproveitarem o momento para tirar fotos com militantes.

Eles sabiam que tudo seguia um roteiro feito para ser filmado e mostrado nos programas de TV. O tom enfadonho de Dilma ganhará ares de entusiasmo graças a uma boa edição.

A militância comportada vai parecer a dos velhos tempos do PT. Treinada antes do evento, seguiu os comandos dos animadores para produzir imagens para a equipe de marketing.

Uma militância, por sinal, formada na maior parte por mulheres. Grupo em que Dilma não tem desempenho satisfatório nas pesquisas.

Política externa ou incenso pessoal :: Paulo Brossard

DEU NO ZERO HORA (RS)

Confesso minha perplexidade ante a insistência com que o presidente Luiz Inácio vem dando ênfase ao aspecto externo de seu governo, permitindo-se estanciar lá e cá, ao seu arbítrio.

Não faz muito, lembrei que ele fora recebido com simpatia por outros chefes de Estado e mantenho a observação, decorresse ela de suas qualidades pessoais ou da circunstância de tratar-se de um líder sindical que, pelo voto, chegou à chefia do governo e do Estado, ou de ambas. Faz algum tempo, porém, ele vem carregando no que se poderia chamar de vertente chavista-bolivariana de sua política internacional, sem vantagens para o nosso país, para dizer o menos, pois essa orientação vem resultando em desaires sucessivos. Começou com a pantomima de Honduras, ostensivamente patrocinada pelo hermano venezuelano, que chegou a não esconder sua ciência e ingerência na esquisita operação de esbulho da embaixada brasileira em Tegucigalpa; depois foi a mancebia diplomática com o Irã, subitamente ornamentada com as galas da primazia, como se fosse histórica a fraternidade entre o Irã e o Brasil, assim como as imaginárias similitudes entre eles, quando, em verdade, nenhum traço existia a justificar a amigação repentina e insólita; digo insólita porque nem a história, nem a língua nem a economia, nem a religião, nem os conceitos sociais e seus hábitos conviveriam de modo a abonar a surpreendente invenção; o resultado hoje está estampado aos olhos do mundo; o voto contrário do Brasil no Conselho de Segurança da ONU contou apenas com a solidariedade da Turquia... Não seria de esquecer ou de menosprezar o périplo diplomático encetado pelo presidente a oferecer préstimos não solicitados, ainda que, nas versões da publicidade interna, fossem êxitos tais, que estariam a recomendar seu afortunado agente a cargos e funções na ONU.

O certo é que, ou por iniciativa própria, ou por indução de assessores credenciados, o presidente da República tem ingressado a desoras no mundo da diplomacia com desembaraço e até mediante processos pouco ou nada canônicos; a notícia da decisão do Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, levou o honrado presidente a assentar que ela se deveria a “birra dos donos do Conselho”.

O presidente não é um oficial da carrière e, por isso, não se lhe poderá exigir familiaridade com o abc de seus estilos, mas sendo, como é, o titular abstrato da política externa da nação, se lhe não permitem fazer declarações pouco compatíveis com as regras diplomáticas; outrossim, a política externa se integra no patrimônio impessoal da nacionalidade, que transcende a individualidades mesmo eminentes. A demonstrar esse fato que se insere nos alicerces nacionais, lembro que quando a Inglaterra se apossou das Ilhas Malvinas, ao tempo da Regência, durante a minoridade de Pedro II, a despeito das precariedades e deficiências de toda ordem, no tocante aos serviços de estrangeiros, como então se dizia, não hesitou o Brasil em significar ao governo de sua majestade britânica sua repulsa ao ato do império, então em plena ascensão, em defesa do direito da Argentina. Quando isso aconteceu, o Itamaraty estava longe de vir a ser o que seria e até hoje o precedente tem sido mantido religiosamente pelo nosso país. Lembro o fato, antigo e mais que centenário, para mostrar que nem tudo o presidente pode fazer, a seu arbítrio, envolvendo o patrimônio indisponível da nação.

Enfim, sem pretender devassar os arcanos do pensamento presidencial, ou de quem se arvore em enunciar o que seria a política externa da nação, quando se cuida da glorificação pessoal do chefe do governo, pelos mais variados processos publicitários, corre-se o risco de tornar o elogio pessoal ao chefe com a impessoal política externa da nação. E as faladas pretensões presidenciais, e faladas oficiosamente, são disso sinal inequívoco de que o risco não é hipotético.

*Jurista, ministro aposentado do STF

João Nogueira - Espelho

Alckmin ataca quem 'zomba da Justiça'

DEU EM O GLOBO

No lançamento oficial de sua candidatura ao governo paulista, tucano alfineta PT e condena campanha antecipada

Gilberto Scofield Jr.

SÃO PAULO. Numa convenção estadual cujo único momento excitante foi um tumulto envolvendo o vereador Ricardo Montoro e o ex-secretário Andrea Matarazzo - barrados pelos seguranças da área reservada a autoridades -, o PSDB de São Paulo fez ontem o lançamento oficial da candidatura de Geraldo Alckmin para o governo paulista. A chapa de sete partidos inclui os nomes de Guilherme Afif Domingos (DEM) para vice-governador e os do ex-governador Orestes Quércia (PMDB) e do ex-secretário da Casa Civil Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) para o Senado.

Ainda que todos esperassem que o candidato tucano à Presidência, José Serra, mantivesse o tom agressivo de seu discurso de anteontem, quando foi anunciado o candidato oficial do PSDB à Presidência, coube à Alckmin espetar o PT e sua candidata, Dilma Rousseff. Sem fazer qualquer menção a nomes, Alckmin afirmou que o país precisa de um presidente que não seja "carona" e tenha "experiência e densidade administrativa".

Ao mesmo tempo, criticou aqueles que "preferem fazer intriga, desrespeitar a lei e antecipar campanha", numa alusão ao PT. O presidente Lula já foi multado cinco vezes neste ano pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por propaganda eleitoral antecipada. Dilma Rousseff foi multada duas vezes.

- Vamos levar Serra à Presidência porque ele anda com as próprias pernas. O Brasil exige um presidente com história, com prática, com experiência, com currículo verdadeiro, com história política comprovada, com densidade administrativa. Meus amigos, quem quer dirigir o Brasil não pode andar na garupa. Porque quem pega carona e vai na garupa não guia, não breca, não acelera, não conduz. José Serra será nosso comandante. E vai ser eleito não por ser ajudante, mas por ser titular de suas próprias competências - disse Alckmin, prometendo ser um "soldado de Serra em São Paulo".

Após relatar os feitos do PSDB em 16 anos à frente do governo paulista ("Cada tucano que assume o governo inova, amplia, avança. Esse é o segredo dos nossos governos", afirmou), o candidato do PSDB ao governo de São Paulo soltou suas farpas para o governo petista, acusado de preferir as intrigas e antecipar ilegalmente a campanha:

- Tenho andado pelos quatro cantos de São Paulo trabalhando, ouvindo as pessoas, vendo as obras e as conquistas de um estado que o PSDB sempre fez avançar. Alguns não querem entender isso. Preferem fazer intriga, desrespeitar a lei, antecipar a campanha, zombar da Justiça e das instituições. Mas nós temos pouco tempo para bate-boca, para responder a ódios e ofensas, para nos preocuparmos com inferências tolas e chavões marqueteiros - disse Alckmin.

Mais tarde, em entrevista aos jornalistas, o candidato tucano afirmou que espera que atual corrida eleitoral seja "de bom nível" e que o foco seja a discussão de programas, "sem dossiês, sem aloprados".

O candidato do PSDB a presidente da República, José Serra, também compareceu à convenção estadual do PSDB. Mas, ao contrário dos ataques aos adversários que fez na convenção nacional em Salvador um dia antes, desta vez o ele optou por um discurso mais voltado para a militância local do emaranhado de partidos que sustentam a campanha tucana no estado.

Em defesa da união dentro do PSDB

Serra buscou passar uma imagem de que o PSDB não é um partido dividido, elogiou Alckmin e, ao se referir a prefeitos do estado, disse que seu governo buscou trabalhar com todos os partidos sem discriminações:

- Temos todos os discursos de prefeitos de várias cidades de São Paulo falando da cooperação do governo estadual, inclusive do PT. Atendemos a todos os prefeitos, sem discriminação, não para fazer cooptação política - afirmou Serra, para logo avisar, antes que algum prefeito pudesse se assustar com alguma gravação menos discreta, que os discursos não serão usados na campanha.

O presidente estadual do PSDB, Mendes Thame, fez ironia com o PT ao descrever as qualidades de Alckmin:

- Em todos os cargos, Alckmin capitalizou e enriqueceu seu patrimônio moral, seu patrimônio ético e construiu um portfólio de realizações concretas para melhorar a vida dos paulistas.

Serra: “Comigo, o povo brasileiro não terá surpresas”

DEU NO ZERO HORA (RS)

Na sua intervenção pública mais contundente, o candidato tucano à Presidência da República, José Serra, fez no sábado, na convenção nacional, um forte discurso de oposição. Atacou o apadrinhamento, o aparelhamento do Estado e os políticos “neocorruptos”.

Sem falar explicitamente o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Serra comparou as suas “crenças” com as práticas de oito anos de PT no poder, disse que os chefes de governo não podem acreditar que personificam o Estado e, citando Luís XIV, acrescentou:

– Nas democracias e no Brasil, não há lugar para luíses”.

O tucano repetiu a biografia apresentada na pré-convenção, em Brasília, em abril passado, falou do político de origem pobre e que estudou em escola pública, e concluiu:

– Não comecei ontem, não caí de paraquedas. Comigo, o povo brasileiro não terá surpresas.

Ao tratar dos sindicatos que foram cooptados pelo governo Lula com a legalização das centrais e da farta distribuição do imposto sindical pago pelos trabalhadores, Serra criticou as “organizações pelegas sustentadas com dinheiro público” e defendeu a liberdade de imprensa e de organização social – que não devem, afirmou, ser “intimidadas, pressionadas e patrulhadas pelos governos e partidos”.

Ao criticar duramente o governo Lula, reforçando o papel de adversário da atual gestão petista, o tucano fez uma inflexão em relação à posição de cautela que vinha adotando em toda a fase de pré-campanha e durante os mais de três anos que comandou o Palácio dos Bandeirantes.

– Quem justifica deslizes morais dizendo que está fazendo o mesmo que os outros fizeram ou que foi levado a isso pelas circunstâncias merece o repúdio da sociedade. São os neocorruptos – declarou o candidato, em discurso de mais de 40 minutos para uma plateia de cerca de 5 mil pessoas.

Após os ataques a adversários, Serra enumerou algumas de suas propostas, como a criação de 1 milhão de vagas em escolas técnicas e de 150 ambulatórios médicos de especialidade em dois anos.

Serra convoca militantes

DEU NO ESTADO DE MINAS

Ullisses Campbell

São Paulo – O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, disse ontem que enfrentará a eleição mais difícil da sua carreira e pediu ajuda à militância, prefeitos, deputados e vereadores para chegar ao Palácio do Planalto. Ele reconheceu que Dilma Rousseff (PT) é uma adversária de peso, durante a convenção estadual do PSDB que reuniu cerca de 10 mil pessoas e homologou a candidatura do tucano Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo. “Para mim, a campanha mais fácil que fiz foi para senador, porque colei no Mário Covas. Mas, este ano, a campanha aparece difícil. Vou ter de trabalhar, fazer campanha, senão fico para trás”, reconheceu.

“Queria me dirigir aos prefeitos de todo o Brasil, fundamentais nessas eleições. (...) No meu governo, atendi bem a todos os prefeitos”, disse. Ele fez um discurso breve para não ofuscar Alckmin, personagem principal do dia, e não teceu qualquer crítica a Dilma ou mesmo ao governo Lula, como vinha fazendo em ocasiões anteriores.

Ao pedir empenho dos militantes do PSDB para atuarem em sua campanha, Serra lembrou do personagem mais famoso de Charles Chaplin. “O militante, que é sobre quem cai a bomba, é nosso Carlitos, como no filme O Grande Ditador, em que o marechal olha para o general, que olha para o coronel, que olha para o sargento, que olha para o Carlitos”, ressaltou. O candidato foi bastante aplaudido.

A função de alfinetar Dilma ficou a cargo de Alckmin e Orestes Quércia (PMDB), ex-governador de São Paulo e crítico da aliança nacional de seu partido com o PT. “Quem apoia Dilma dentro do PMDB não lutou pela democracia em 1974”, afirmou. Completou o discurso dizendo que a pré-candidata do PT não tem experiência política para governar o país.

Alckmin bateu na mesma tecla: “O Brasil exige um presidente com história, com prática, com experiência, com currículo verdadeiro, com história política comprovada e densidade administrativa”. Para exaltar a candidatura de Serra, Alckmin não economizou nos predicativos.
Garantiu que “o candidato é sério, honesto, competente, tem prática, experiência e conhecimento verdadeiro”. “Quem governa o Brasil não pode sentar na garupa. Quem anda na garupa não guia, não breca, não conduz”, afirmou, referindo-se a Dilma e Lula. E emendou: “José Serra será nosso comandante. E vai ser eleito não por ser ajudante, mas sim por ser titular de suas próprias competências”.

Uma ausência sentida na convenção foi a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que está viajando pelo exterior.

PDT adere ao PSDB e abandona PMDB

DEU NO ESTADO DE MINAS

Hélio Costa perde mais um aliado na luta pelo Palácio da Liberdade. Pedetistas decidem subir no palanque com o governador Antonio Anastasia, mas pedirão voto para DilmaEzequiel Fagundes

O senador Hélio Costa, pré-candidato da aliança PMDB-PT ao governo de Minas, perdeu outro aliado. Depois da debandada do PR, PRB e PSB, foi a vez do PDT definir que vai apoiar a pré-candidatura à reeleição do governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB). O partido, que chegou a ameaçar lançar candidatura do deputado Zezé Perrella ao Palácio da Liberdade, recuou e decidiu que vai permanecer alinhado com os tucanos.

Comandante da legenda no estado, o secretário de Estado Extraordinário para Assuntos de Reforma Agrária, Manoel Costa, declarou ontem que a participação trabalhista no primeiro escalão do governo estadual foi decisiva. “Já está tudo definido. O PDT vai apoiar o governador Anastasia e isso é natural, porque estamos juntos desde o início”, explicou.

Apesar de já ter fechado questão, Manoel diz que a decisão oficial só será anunciada no dia 28, durante a convenção estadual do partido. Mesmo dizendo-se satisfeito com o espaço conquistado no governo, o dirigente declarou que “há um sentimento de ampliação” entre os colaboradores da legenda. Sendo assim, segundo ele, o partido pretende reivindicar o controle da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese). “É uma secretaria que tem o perfil do nosso eleitorado”, disse.

Como o PDT já fechou apoio à presidenciável Dilma Rousseff (PT), em convenção realizada anteontem, com a participação do ministro do Trabalho Carlos, Lupi (PDT), ao lado da candidata petista, o dirigente mineiro não vê problema algum em incentivar o voto “Dilmasia” no estado. “Em 2006, nós apoiamos o Lulécio (voto em Lula e Aécio). Então qual é problema de apoiarmos agora o Dilmasia. Em Minas, a política é mais complexa”, explicou.

Ao compor com PSDB, o PDT dificilmente terá destaque na chapa majoritária, apesar de Perrella já ter anunciado publicamente que pretendia concorrer ao Senado. A vaga de vice vem sendo disputada pelo presidente da Assembleia Legislativa, Alberto Pinto Coelho (PP), e pelo deputado federal Carlos Melles (DEM). Para o Senado, a coligação já tem como pré-candidatos o ex-governador Aécio Neves (PSDB) e o ex-presidente da República Itamar Franco (PPS).

Imbróglio Mesmo com os apelos de Hélio Costa, a coligação da aliança está sofrendo uma derrota atrás da outra. Além da debandada dos partidos considerados aliados, o peemedebista começa a semana tendo que encarar um compromisso complicado: convencer o ex-ministro Patrus Ananias (PT) a aceitar o convite de ser vice na chapa da aliança.

Amanhã, peemedebistas e petistas vão se reunir com Costa e o ex-prefeito Fernando Pimentel, esse último preterido na disputa pelo governo, para discutir uma saída para o imbróglio do vice. Como militantes têm sustentado que a chance de Patrus aceitar a missão é pequena, o grupo deve apresentar o ex-ministro Nilmário Miranda como opção. Na avaliação de petistas, como Nilmário faz parte do mesmo grupo de Patrus, ele teria condições de tentar unificar os descontentes do partido com a imposição da candidatura de Costa.

Balanço prévio mostra que PSDB tem 17 cabeças de chapa, PMDB, 15, e PT, 11

DEU NO VALOR ECONÔMICO

César Felício, de Belo Horizonte

O balanço prévio das convenções até agora realizadas mostra que o PT repete a sina do PSDB na aliança com o PMDB. Em com paração com 2006 saíram de 17 para 11 os palanques próprios dos petistas. Na aliança com os pemedebistas em 2002, os tucanos também cederam espaço pela chapa formada por José Serra e Rita Camata e se limitaram a 11 palanques próprios. Este ano PSDB terá 17 candidatos a governador, o PMDB, 15 e o PT, 11. Em oito Estados haverá embate direto entre petistas e pemedebistas, entre eles o Pará e a Bahia, onde o PMDB se recusou a apoiar a reeleição respectivamente dos petistas Ana Júlia Carepa e Jaques Wagner. A aliança local entre os dois partidos deve ocorrer em 12 Estados.

O PMDB deve se aliar ao PSDB em cinco Estados, apoiando tucanos para o governo estadual em São Paulo, Roraima e Amapá. O PMDB comanda a aliança oposicionista à candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, em Pernambuco e Mato Grosso do Sul.

Os pemedebistas só apoiam petistas no Distrito Federal e Sergipe. Já o PT foi forçado a apoiar o PMDB no Maranhão e em Minas Gerais e fez a aliança sem grandes contestações regionais no Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso e Paraíba. Petistas e pemedebistas apoiam outros partidos no Ceará, Piauí, Alagoas e Espírito Santo. No Rio Grande do Norte, o PMDB não fez coligação formal para poder se dividir sem constrangimentos: o líder do partido na Câmara, Henrique Alves, apoia o candidato do PT, o governador Iberê Ferreira (PSB). O senador Garibaldi Alves Filho apoia para o governo a senadora Rosalba Ciarlini (DEM).

Em 2006, PMDB e PSDB estavam empatados em candidaturas próprias: 16 cada um, enquanto o PT tinha uma a mais. A distância entre os três partidos é ainda maior em comparação com a eleição de 2002, ocasião em que o PT lançou candidato em 23 Estados. Naquele momento, coligado com o PSDB, o e PMDB lançou candidatos em 15 Estados e o PSDB, 11.

Nos demais partidos, o DEM e o PPS mantiveram um padrão centralizado de alianças, evitando coligações com os partidos governistas, e o PSB e o PDT fizeram o mesmo em relação a coligações com oposicionistas. Os integrantes do DEM se coligaram ao PSDB em 17 Estados. A exceção notável, por ora, é o Pará, em que a governadora Ana Júlia (PT) cedeu espaço em sua chapa para que o DEM lance Valéria Franco ao Senado. Na chapa do candidato tucano, Simão Jatene, o PSDB não aceitou abrir mão da candidatura ao Senado de Flexa Ribeiro. Ainda há dúvidas sobre qual será a reação da direção nacional do DEM, que havia proibido coligações com o PT.

O PSB foi recompensado pela degola do candidato próprio à Presidência, o deputado Ciro Gomes. Terá o apoio do PT e do PMDB no Ceará, Piauí, Espírito Santo e apenas dos petistas no Amapá e Rio Grande do Norte. Contudo, o partido dará o palanque ao candidato tucano à presidência, José Serra, na Paraíba.

Sem candidato a presidente, o PP está feudalizado entre os governadores. Em 14 dos 27 Estados o partido está aliado ao governador atual. Com total controle sobre o PTB, o ex-deputado federal e presidente nacional da sigla Roberto Jefferson conseguiu fechar acordos com o PSDB em apenas sete Estados.

O quadro das candidaturas estaduais está longe da consolidação. Os cenários mais nebulosos estão no Ceará e no Paraná. No Ceará, o rompimento entre o senador Tasso Jereissati (PSDB) e o governador Cid Gomes (PSB) poderá finalmente produzir uma candidatura de oposição local. Até o momento, descontando os candidatos de partidos nanicos, Cid é o único postulante. Tasso poderá organizar uma aliança envolvendo o PSDB, DEM, PPS e o PTB. Cotado para ser vice de Serra, Tasso a princípio é candidato à reeleição no Ceará, enfrentando José Pimentel (PT) e Eunício Oliveira (PMDB).

No Paraná, o senador Osmar Dias (PDT) adiou a decisão sobre qual cargo disputará este ano. Osmar tanto pode ser o candidato de uma aliança com o PT, como pode ser candidato à reeleição na chapa do PSDB. O quadro tornou-se complexo para os aliados de Dilma após a desincompatibilização do ex-governador Roberto Requião (PMDB). Requião perdeu o controle da sigla e o novo governador, Orlando Pessuti, decidiu disputar a reeleição, dividindo o palanque situacionista. Se Dias fechar um acordo com os tucanos, o PT tende a improvisar uma candidatura própria.

A falta de um vice na chapa não é um problema apenas para Serra. O cargo também está vago nas chapas do governador Antonio Anastasia (PSDB) em Minas Gerais e na de seu rival, o senador Hélio Costa (PMDB). É a mesma situação do candidato do PT ao governo paulista, Aloizio Mercadante.

Em Santa Catarina, nenhum dos possíveis candidatos conseguiu fechar alianças significativas, produzindo um cenário pulverizado. Caso as negociações de última hora fracassem, será o único Estado em que cinco candidaturas competitivas foram lançadas, dividindo tanto o palanque de Dilma Rousseff quanto o de Serra. Para tentar evitar esse cenário, todos os partidos no Estado marcaram suas convenções para o fim do prazo de definição das candidaturas, no dia 30 de junho.

No Distrito Federal, o colapso do governo Arruda fez com que DEM e PSDB não conseguissem consolidar um novo candidato e nem fecharam ainda um acordo eleitoral com o primeiro colocado nas pesquisas, o ex-governador Joaquim Roriz (PSC).

Folha e UOL sabatinam Marina e Serra

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Leitores podem enviar pela internet perguntas aos entrevistados; Dilma cancelou participação alegando viagem

As inscrições para o evento estão abertas aos assinantes do jornal e do portal por e-mail e telefone até sexta-feira

SÃO PAULO - Em parceria com o portal UOL, a Folha promove nos dias 16 e 21 de junho, sabatinas com os candidatos à Presidência da República José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). Dilma Rousseff (PT) cancelou sua participação.

Uma inovação será a participação dos internautas, que podem enviar perguntas em vídeo aos pré-candidatos, pelo site uol.com/sabatina ou em folha.com.br/poder. Algumas dessas perguntas serão exibidas durante as sabatinas e respondidas pelos dois candidatos.

A primeira pré-candidata a ser sabatinada é Marina Silva, nesta quarta-feira, dia 16. No dia 21, segunda-feira, será a vez de José Serra.

Dilma Rousseff (PT) seria sabatinada no dia 17 (quinta-feira), mas cancelou a participação. A razão apresentada por Dilma foi o agendamento de uma viagem internacional. Ela visitará França, Espanha e Portugal, de amanhã a 20 de junho.

A ordem em que os pré-candidatos serão sabatinados foi decidida por sorteio, com a presença de representantes das três campanhas.

Todas as sabatinas acontecerão às 11h.

Inscrições

Os entrevistadores serão Fernando Rodrigues, colunista da Folha e do UOL, Renata Lo Prete, editora do Painel, Vera Magalhães, editora do caderno Poder, e Rodrigo Flores, gerente geral de Notícias do UOL.

As inscrições para os eventos, que serão no Teatro Folha, em São Paulo (av. Higienópolis, 618, 2º andar), estão abertas aos assinantes do jornal e do UOL.

Os interessados em participar podem se inscrever pelo e-mail eventofolha@grupofolha.com.br, ou pelo telefone 0/xx/11/3224-3473, das 14h às 19h, de segunda-feira a sexta-feira.

Para que os assinantes da Folha se inscrevam, é preciso informar nome completo, código de assinante, telefone, RG e a sabatina a que deseja comparecer. Assinantes do UOL devem informar nome completo, e-mail e CPF.

Lançado pelo PSDB, Alckmin bate em Dilma

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Na convenção dos tucanos de São Paulo, ex-governador se define como "soldado de Serra", faz críticas à petista e pede campanha "sem dossiês"

Adriana Carranca e Roberto Almeida

Alinhados. ‘Serra será nosso comandante’, diz Alckmin, ao lado de Goldman e do presidenciável Seguindo a estratégia adotada pelo presidenciável tucano José Serra, que subiu o tom contra o PT no discurso de lançamento da sua candidatura, o PSDB aproveitou ontem o lançamento de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo para desferir uma nova leva de duros ataques à sigla adversária.

"Espero que seja uma campanha de bom nível, com propostas, programas, sem dossiê e sem aloprados", declarou Alckmin, em referência às denúncias que envolveram as cúpulas das campanhas petistas de 2006 e 2010.

No discurso de lançamento de sua candidatura ao Palácio dos Bandeirantes, Alckmin afirmou que o Brasil "não pode andar na garupa". Em clara referência à principal adversária de Serra à Presidência, Dilma Rousseff (PT), o tucano deu a entender que ela "pegou carona" na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que Serra será eleito "não por ser ajudante, mas titular de suas competências".

"Quem pega carona e vai na garupa não guia, não breca, não acelera, não conduz", declarou, ao ler o texto preparado para seu discurso, de 25 minutos, em que não deixou margens para improvisos. "José Serra será nosso comandante", afirmou, colocando-se como "soldado de Serra". Disse que o Brasil precisa de um presidente "com currículo verdadeiro, com história política comprovada, com densidade administrativa".

Experiência. Ao lado de Alckmin, Serra dessa vez não citou o PT ou o governo Lula. Num discurso alinhado com o do candidato a governador, preferiu reforçar repetidas vezes a "experiência administrativa" de Alckmin. Embora tenha defendido a "renovação para a população brasileira" na esfera federal, disse que no âmbito estadual a continuidade não seria negativa. "Tem continuidade? Tem sim.

Mas, não continuísmo", disse Serra. Segundo ele, a continuidade do governo PSDB em São Paulo seria "com honestidade e seriedade na administração financeira".

Apesar de todas as provocações, Alckmin disse, ao mesmo tempo, que "não tem tempo para bate-boca". "(Os adversários) preferem fazer intriga, desrespeitar a lei, antecipar a campanha, zombar da Justiça e das instituições. Mas nós temos pouco tempo para bate-boca, para responder a ódios e ofensas, para nos preocuparmos com inferências tolas e chavões marqueteiros", alfinetou.

Para Alckmin, as eleições deste ano estão "melhores" para os tucanos do que em 2006, porque Lula não é candidato. Ele fez questão de reforçar: "Lula não é candidato, está certo? Ele não está na campanha este ano."

Alckmin terá como vice o secretário Guilherme Afif Domingos (DEM). Para o Senado, contará com o ex-governador Orestes Quércia (PMDB) e o ex-chefe da Casa Civil de Serra, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB). A convenção custou, pelas contas do PSDB, R$ 180 mil, gastos na montagem da estrutura no estacionamento da Assembleia Legislativa.

Greve de fome ganha reforço

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O deputado Domingos Dutra ganhou apoio no protesto contra imposição da cúpula do PT de apoiar Roseana Sarney. Manoel da Conceição, fundador do PT, aderiu à greve de fome

De militantes a lobistas

Ana Paula Scinocca

Brasília - A convenção que lançou Dilma Rousseff como candidata à Presidência foi marcada por homenagem às mulheres. Num telão, imagens de personalidades importantes da história brasileira eram exibidas, enquanto a apresentadora do evento, a atriz Tássia Camargo, narrava fatos de suas vidas. Quando a Princesa Isabel apareceu na tela, vaias dos militantes. Já Maria da Penha, que dá nome à lei que prevê aumento no rigor das punições das agressões contra a mulher no âmbito doméstico e familiar, foi muito aplaudida.

O encontro organizado pelo PT para oficializar a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência reuniu 1.800 pessoas em Brasília, entre as quais mulheres como a feminista Rose Marie Muraro e a própria Maria da Penha. Usando um casaqueto vermelho, Dilma subiu ao palco da festa sob aplausos entusiasmados da plateia. Mas o papel de estrela do evento foi mesmo de Lula.

Sem a mãe, que ficou em casa, em Brasília, e a filha, que, grávida, não veio de Porto Alegre, Dilma discursou por 50 minutos, mas não empolgou. Lula falou antes, por 30 minutos, e, como previa o script, não economizou elogios à ex-ministra.

Assim como Dilma, Lula e a primeira-dama Marisa foram ao evento de blusa vermelha. No encerramento, em tom festivo, um mar de bandeiras lilás tomou conta da convenção.

Das autoridades presentes e com lugar cativo no palco, o vice-presidente José Alencar foi o mais festejado. Aos que não tinham lugar no palco, o PT reservou uma espécie de cercadinho VIP. Dentro do salão do Unique Palace, além de políticos e militantes, chamava atenção um grupo de lobistas que costuma circular pelo Congresso. Quem também tentou fazer barulho foram petistas do Maranhão.

Dois dias depois de o PT nacional ter anulado o encontro estadual do partido - a ideia do PT maranhense era apoiar Flavio Dino (PCdoB) - e obrigar a legenda a apoiar Roseana Sarney (PMDB), dirigentes distribuíam um manifesto. No texto, criticam Sarney - aplaudido no palco -e explicam as razões de sua greve de fome, que preocupa o PT.

Presente, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, foi citada por Dilma. Mas a candidata a chamou de Roseane. No final, os próprios petistas resumiram a festa: "Já tivemos convenções melhores".

Em convenção, PT vaia Princesa Isabel e aplaude Sarney

Ana Paula Scinocca - Agência Estado

Numa convenção marcada por homenagem às mulheres, a Princesa Isabel, que assinou a abolição da escravatura, foi vaiada hoje por militantes petistas. Já o adversário histórico do PT, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ganhou espaço vip no palco e aplausos. O encontro organizado pelo PT para oficializar a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência reuniu 1.800 pessoas em Brasília, entre as quais mulheres como a feminista Rose Marie Muraro e Maria da Penha. Vítima de violência doméstica, Maria da Penha dá nome à lei sancionada pelo presidente Lula e que prevê aumento no rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou familiar.

Usando um casaquinho vermelho - cor do PT -, Dilma subiu ao palco da festa preparada para ela sob aplausos entusiasmados da plateia. Mas o papel de estrela do evento foi mesmo de Lula. Sem a companhia da mãe, que ficou em casa, em Brasília, e da filha, que mora em Porto Alegre e está grávida, Dilma discursou por 50 minutos, mas não empolgou. Lula falou antes e menos que Dilma - cerca de 30 minutos -, e, como previa o script, não economizou nos elogios à sua ex-ministra.

Assim como Dilma, Lula e a primeira-dama, Marisa, compareceram ao evento de blusa vermelha. Previsível, o vermelho foi a cor predominante da festa. No encerramento, em tom festivo, um mar de bandeiras de cor lilás tomou conta da convenção numa homenagem às mulheres.

PT do Maranhão - Das autoridades presentes e com lugar cativo no palco, o vice-presidente José Alencar foi o mais festejado por todos. Aos que não foram contemplados com um lugar no palco, o PT reservou uma espécie de cercadinho vip. Dentro do salão do Unique Palace, além de políticos e militantes, chamava atenção um grupo de lobistas que costuma circular pelo Congresso.

Quem também tentou fazer barulho foram petistas do Maranhão. Dois dias depois de o PT nacional ter anulado o encontro estadual do partido - a ideia do PT maranhense era apoiar Flavio Dino (PC do B) - e obrigar a legenda a apoiar Roseana Sarney (PMDB), dirigentes distribuíam manifesto. No texto, criticam Sarney - aplaudido no palco - e explicavam as razões de estarem em greve de fome, o que preocupa o PT.

Hoje, além do deputado Domingos Dutra (MA), quem aderiu ao movimento foi um dos mais velhos fundadores do PT, Manoel da Conceição, de 75 anos. Presente, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, foi citada por Dilma. Mas erroneamente, a candidata a chamou de Roseane. Ao final do evento, os próprios petistas resumiram a festa: "Já tivemos convenções melhores."

Lula: oposição faz 'jogo rasteiro' com dossiês

DEU EM O GLOBO

Candidata oficial, Dilma prega "continuidade da mudança"

Ao discursar ontem na convenção do PT que oficializou a candidatura à Presidência de Dilma Rousseff, o presidente Lula atacou a oposição e disse esperar que seus adversários "não façam jogo rasteiro, inventando dossiês todo dia". A cúpula do PSDB vem cobrando explicações do PT sobre a elaboração de um dossiê contra seu candidato à Presidência, José Serra. Dirigentes tucanos chegaram a classificar o episódio como uma quebra do estado de direito. Na festa petista, cujo lema foi "a continuidade da mudança", Dilma acabou ofuscada pela desenvoltura do presidente no palanque e, em seu discurso, citou o nome de Lula mais de vinte vezes. Militantes do movimento de mulheres vaiaram o trecho de um dos jingles do PT, que chama Dilma de "coroa", e também exigiram que a candidata fosse chamada de presidenta.

A "continuidade da mudança"

Ao oficializar a candidatura ao Planalto, Dilma destaca seu vínculo com Lula

Leila Suwwan, Luiza Damé, Diana Fernandes e Gerson Camarotti

Com o peso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no palco, no jingle e nos discursos, o PT homologou ontem a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República na coligação batizada de "Para o Brasil seguir mudando", com Michel Temer, do PMDB, para a vice e o apoio de mais quatro partidos: PDT, PSB, PCdoB e PR. O PRB deve formalizar a aliança no próximo dia 26. A festa petista estampou o lema da "continuidade da mudança", além de esbanjar euforia, otimismo e ataques aos adversários tucanos. A presidenciável anunciou que "chegou a hora de uma mulher comandar o país". Lula, empolgado, disse que a chance de vitória é "quase absoluta".

A convenção do PT, que teve como tema a mulher, homenageou heroínas do passado e personalidades atuais - conferindo à campanha de Dilma um status de "marco histórico".

- Não é por acaso que, depois desse grande homem, o nosso Brasil possa ser governado por uma mulher. Por uma mulher que vai continuar o Brasil de Lula, mas que fará um Brasil de Lula com alma e coração de mulher. Lula mudou o Brasil e o Brasil quer seguir mudando. A continuidade que o Brasil deseja é a continuidade da mudança - disse Dilma, maquiada e bem penteada, de blazer vermelho e pérolas.

Quando os principais convidados estavam na mesa, Dilma desceu sozinha uma escadaria sob holofotes até o palco. Leu um discurso de 50 minutos e citou Lula mais de 20 vezes. Em poucos momentos, empolgou a plateia, que antes vibrou com Lula no palco.

O presidente alertou que "não existe eleição fácil", e estimulou a militância a trabalhar 24 horas por dia:

- Estou convencido de que as possibilidades de ganhar as eleições são totais, eu diria quase que absolutas. Mas, eleição e mineração, a gente só conhece o resultado depois da apuração.

A estreia do jingle da campanha

Para mostrar a ligação entre os dois, Lula frisou que votar em Dilma significa votar em Lula, nome que estará ausente das "cédulas" eleitorais após cinco corridas presidenciais.

- Vai haver um vazio naquela cédula e, para que esse vazio seja preenchido, mudei de nome e vou colocar Dilma na cédula. E aí as pessoas vão votar - apostou Lula.

O auditório do Unique Palace, um espaço de festa para casamentos e shows, estava lotado com cerca de 1.500 militantes. A festa seguiu o roteiro idealizado pelo marqueteiro João Santana, que estreou o jingle: "Lula tá com ela, eu também tô". O presidente foi o astro do evento, no qual também discursaram o presidente do PT, José Eduardo Dutra, com forte ataques aos tucanos, e Michel Temer, em curta participação de cinco minutos.

- Durante o governo do presidente Lula, começamos a construir um novo Brasil. Esta é a obra que quero continuar. Com a clara consciência de que continuar não é repetir. É avançar - ressaltou Dilma.

Sobre a coalizão feita com sacrifícios de candidaturas petistas nos estados, ela ponderou:

- Da mesma forma que foi preciso somar forças para conquistar a democracia no passado, é preciso somar forças hoje para alargar ainda mais o caminho aberto pelo presidente Lula.

A coalizão foi prestigiada por líderes partidários, incluindo o presidente do Senado, José Sarney (PMDB). O vice-presidente do PP, Mário Negromonte, foi chamado no meio da convenção, apesar de a sigla permanecer indefinida e assediada pelos tucanos. Estavam presentes sete governadores e diversos ministros, deputados e senadores.

Dilma apresentou uma longa lista de intenções, todas propostas já anunciadas na pré-campanha. E tentou demonstrar ser uma política hábil, apesar de estreante nas urnas.

- Sei como buscar união de forças e não a divisão estéril. Sei como estimular o debate político sério e não o envenenamento que não serve a ninguém - acrescentou a candidata.

Aos tucanos, ela fez críticas veladas. Afirmou que governos anteriores excluíram dois terços da população, que consideravam ser um "estorvo". Ao discursar, Lula contou o tempo que resta até a eleição: três meses e 20 dias. Em tom de despedida, anunciou que desce a rampa do Planalto daqui a seis meses e 18 dias:

- No dia 1º de janeiro, depois de passar a faixa para a companheira Dilma, eu, o Zé Alencar e as duas Marisas desceremos a rampa do Palácio, por onde subimos, de cabeça erguida, com o sentimento de dever cumprido.

COMENTÁRIO DE FERREIRA GULLAR SOBRE LULA

Depois, os absolveu e, recentemente, afirmou que o mensalão foi fruto de uma conspiração contra seu governo. Não houve. A coragem de fazer tal afirmação, quando a denúncia daquelas falcatruas foi feita pelo procurador-geral da República e aceita pelo Supremo Tribunal Federal, é quase inconcebível em alguém que ocupa a Presidência da República. Mas esse é o Lula que, após assumir o governo, afirmou nunca ter sido de esquerda e, enquanto abre o cofre do BNDES à grandes empresas, alia-se ao antiamericanismo de Chávez e Ahmadinejad e abraça-se a Bush, a Fidel e Sarkozy. Dá seu apoio às eleições corruptas do Irã e se nega a reconhecer o presidente legitimamente eleito de Honduras.


(Do artigo a cara do cara- Folha de S. Paulo, 28/3/2010)

A recuperação americana em xeque:: Luiz Carlos Mendonça de Barros

DEU NO VALOR ECONÔMICO

A crise na zona do euro está lançando dúvidas sobre a recuperação econômica nos Estados Unidos. Como sempre acontece nestes momentos de instabilidade é preciso separar os verdadeiros receios das paranoias criadas por análises mais superficiais. Neste nosso encontro mensal vou tentar fazer esse difícil exercício.

Uma primeira observação se impõe: a crise no espaço comum europeu é muito séria e pode contaminar a economia mundial. Estamos diante do primeiro grande teste do arranjo político e econômico que foi construído ao longo de décadas. Problemas que vinham sendo deixados de lado pelo sucesso de duas décadas de funcionamento do Tratado de Maastrich afloraram no meio do desequilíbrio fiscal criado pelo que se convencionou chamar de crise do subprime.

O aumento expressivo dos gastos públicos para evitar uma grande depressão econômica levou a um crescimento explosivo do endividamento dos países da zona do euro. E os elos mais fracos - como Grécia e Portugal - romperam-se sob o peso de uma dívida pública vista como insustentável pelos investidores.

Foi então que se tornou claro que o arranjo regulatório existente não era suficiente para lidar com esse desequilíbrio. A crise de confiança que se instalou foi agravada pelo verdadeiro bate-cabeças ocorrido entre os principais líderes europeus. Quando - finalmente - se chegou a um arranjo de emergência, com a mobilização de cerca de US$ 1 trilhão, o pânico já estava instalado nos mercados financeiros.

Em um segundo momento, os investidores perceberam que são os bancos europeus os grandes detentores de títulos emitidos pelos países chamados de Piigs (sigla em inglês para Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Com isso a crise ganhou também as cores de uma nova pressão sobre o sistema bancário europeu. As transações interbancárias voltaram ao estágio de dois anos atrás, com o chamado risco de contraparte inibindo o funcionamento normal dos bancos. Mesmo com a volta do Banco Central Europeu (BCE) como financiador de última instância das instituições vistas como frágeis, o sistema bancário perdeu grande parte de sua funcionalidade.

Sabemos que toda a recidiva - seja ela na saúde de uma pessoa ou da economia de um país - apresenta mais riscos do que a doença original. É o que está acontecendo na Europa e pode ocorrer nos Estados Unidos se a crise europeia não for estancada. Afinal, o endividamento público nos Estados Unidos também passou dos limites.

Quando a crise do subprime contaminou as economias no mundo todo, os governos usaram a receita básica deixada pelo grande Keynes. Os bancos centrais afrouxaram as condições monetárias e os governos realizaram uma expansão fiscal sem precedentes. Até recentemente ela funcionou com grande eficiência e o crescimento econômico voltou em praticamente todos o mundo.

Nos Estados Unidos, os números conhecidos apontam para uma expansão da ordem de 3,5% nesta primeira metade do ano. A massa salarial está crescendo a uma taxa superior a 4% ao ano, trazendo certo alento para a atividade econômica. Mesmo o segmento das pequenas e médias empresas, que vinha apresentando um comportamento pífio quando comparado ao das grandes corporações, vem dando sinais de vida novamente.

Mas essa recuperação ainda é muito tênue e, como reconheceu o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano) recentemente, abaixo das expectativas. Tomando como base as recessões anteriores, o PIB americano deveria estar crescendo a uma taxa duas vezes superior à verificada nesta primeira metade de 2010. O desemprego, de ainda quase 10% da população ativa, é outro sinal evidente dessa fragilidade.

Por isso a cautela com que os analistas estão olhando para a maior economia do mundo. Se os efeitos de um agravamento maior da crise europeia cruzarem o Atlântico e interromperem a recuperação nos Estados Unidos a economia mundial pode sofrer um novo baque. Para que isso não ocorra será necessário que a renda do trabalho continue a crescer nos próximos meses a uma taxa próxima à atual.

Na sua última aparição pública Ben Bernanke nos informa que o Fed estará atento à crise europeia e que tomará as medidas necessárias para preservar a recuperação da economia. Mas quais serão essas medidas se os juros estão próximos de zero e o déficit fiscal americano atual é de dois dígitos? Uma tentativa de repetir o pacote de estímulos fiscais de 2009 pode detonar uma crise de confiança também nos Estados Unidos.

Outra questão que precisa ser acompanhada é o possível aumento do protecionismo nos países mais atingidos por uma eventual retomada da recessão econômica. Um dos mecanismos de compensação nos países europeus que buscam uma redução do déficit público tem sido a desvalorização agressiva do euro. Com isso, países exportadores como a Alemanha, França e Itália podem contrabalançar os efeitos recessivos de gastos públicos menores.

Mas o outro lado da desvalorização do euro é a perda de competitividade das exportações americanas. Caso a recuperação americana seja ameaçada, como vai reagir Washington, principalmente com as disputadas eleições de novembro se aproximando?

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. Escreve mensalmente às segundas-feiras.

O QUE PENSA A MÍDIA

EDITORIAIS DOS PRINCIPAIS JORNAIS DO BRASIL
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Fim de jogo - as doze facadas :: Graziela Melo

Não eram gritos. Pareciam mais berros sinistros, desesperados e angustiantes, estridentes, que transpassavam o silêncio da noite e se alojavam nos buracos dos ouvidos dormidos.

A essa hora da madrugada de sábado, o garçon atemorizado se trancara na cosinha quente, sem ar, com medo do cliente-torcedor fanático, violento, truculento que depois da sexta cachaça ameaçava o parceiro e adversário de time, com uma peixeira afiada em punho, brandindo com ela no ar, recortando os arredores.

Cheio de terror, o adversário-parceiro, mãos para cima, pedia, clamava: "calma, compadre, calma, compadre!!!" Mas, a camisa aberta ao meio, barriga de fora, era um convite quase impositivo para a ponta da faca afiada que, impaciente, rodopiava no ar ,para cima e para baixo.

A tentativa de fuga foi frustrada pela primeira investida penetrante que dividiu o estômago em dois, mutilou o fígado e espicaçou o intestino, transformando-o em um quase sarapatel de gente.

Se seguiram mais onze perfurações furiosas que ultrapassaram o abdomen e chegaram às costas por entre costelas.

Os gritos silenciaram. O volume do corpo desabou no chão sobre a poça de sangue que o compadre fizera jorrar e fugira em seguida no cambaleio de suas sete cachaças. Já não respirava. Curiosos se postaram em volta.

- Mas o que foi isso???

- Foi o jogo de ontem. Acabou aqui.



(Graziela Melo, poetisa e autora do livro Crônica, contos e poemas)

Modinha - Heitor Villa-Lobos Kolosko-Dimow Duo

Poema quase Explicação:: Moacir Félix

Luzes cortam a noite básica
e desenham o mundo em que vivemos.
As estátuas de mármore então brotam
dos lábios e das mãos dos que pararam
e verticalmente apenas olham.

E as estrelas derramam pedra e cal
construindo em cada olhar muralhas
onde fonte magra pinga sol e lua,
- e o relógio é um deus cantando as horas
horas de pedra e cal.

Simplificado como uma lágrima
tu cruzaste a ponte em meninos mortos,
e se teus dedos - já cimento, se crisparam,
teus olhos se encheram de relâmpagos
afiados para os homens de olhos de pedra e cal.

Não mais o refletido caminhar
de teus passos na noite iluminada,
mas descer com os olhos a ladeira
e deixá-los no cárcere sem portas
onde os ratos e os anjos se devoram.

Impassível como um tronco de árvore, onde
os homens gravam a canivete o que calaram.

domingo, 13 de junho de 2010

Reflexão do dia – José Serra


"Acredito que a democracia é o único caminho para que as pessoas em geral, e os trabalhadores em particular, possam lutar para melhorar de vida. Não é com o menosprezo ao Estado de Direito e às liberdades que vamos obter mais justiça social duradoura. Não há justiça sem democracia, assim como não há democracia sem justiça.

Acredito na liberdade de imprensa, que não deve ser intimidada, pressionada pelo governo, ou patrulhada por partidos e movimentos organizados que só representam a si próprios, financiados pelo aparelho estatal. Não aceito patrulha de ideias -- nem azul, nem vermelha. A sociedade é multicolorida, multifacetada, plural. E assim deve ser.

Acredito na liberdade de organização social, que trabalhadores e setores da sociedade se agrupem para defender interesses legítimos, não para que suas entidades sirvam como correia de transmissão de esquemas de Poder.

Organizações pelegas e sustentadas com dinheiro público devem ser vistas como de fato são: anomalias.

Acredito que o Estado deve subordinar-se à sociedade, e não ao governante da hora, ou a um partido. O tempo dos chefes de governo que acreditavam personificar o Estado ficou pra trás há mais de 300 anos. Luis XIV achava que o estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para luíses assim.

Acredito que a oposição deve ser considerada como competidora, adversária, e não como inimiga da pátria. E, num regime democrático, jamais deve ser intimidada e sofrer tentativa de aniquilação pelo uso maciço do aparelho e das finanças do Estado.

Acredito nos direitos humanos, dentro do Brasil e no mundo. Não devemos elogiar continuamente ditadores em todos os cantos do planeta, só porque são aliados eventuais do partido de governo. Não concordo com a repressão violenta das ideias, a tortura, o encarceramento por ideologia, o esmagamento de quem pensa diferente. "
(José Serra, em discurso, na Convenção Nacional do PSDB, ontem, Salvador/Bahia)

O pragmatismo do voto:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Cresce entre os estudiosos a sensação de que a distribuição geográfica do voto nas últimas eleições tem se dado mais por motivos pragmáticos do que ideológicos.

Mesmo com o presidente Lula sendo o mais popular dos presidentes a tentar eleger sua sucessora, o país continua praticamente dividido, como demonstram as pesquisas de opinião, que, sem exceção, colocam os dois candidatos em um empate literal, como foi o caso de Ibope e Datafolha — Dilma e Serra com 37% — ou técnico, como apontam Vox Populi e Sensus, dando ligeira vantagem a Dilma, na margem de erro.

O país tem se dividido desde 2006, quando no primeiro turno o candidato tucano, Geraldo Alckmin, recebeu surpreendentes 42% dos votos, enquanto Lula foi para o segundo turno com 48%.

Como apontam dois estudos recentes, um do cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, já abordado aqui na coluna, e outro do próprio Ibope, os programas assistenciais do governo não justificam por si só a votação na candidata da situação.

Romero Jacob costuma dizer que os eleitores têm votado “com a bolsa e com o bolso”, chamando a atenção para o fato de que as questões econômicas têm influenciado o voto também contra o governo.

Um exemplo clássico é a votação no Sul do país, que tem sido recorrentemente contra o governo, muito devido a questões ligadas à safra agrícola e aos prejuízos que a valorização do real vem causando às exportações.

Mesmo os pequenos agricultores, acostumados a votar com a esquerda desde os tempos de Leonel Brizola, estariam agora ligados à cadeia produtiva do agronegócio, sofrendo os danos da valorização do real.

É claro que características políticas regionais também influenciam o voto, como a disputa entre o PMDB e o PT no Rio Grande do Sul, impossível de ser superada por acordos de cúpula nacional.

Embora existam estudos, como o de Jairo Nicolau, do Iuperj, demonstrando que Lula vence as eleições em todas as regiões mais atingidas pelos programas assistencialistas, especialmente o Bolsa Família, está claro que por si só esses programas não são suficientes para definir a vitória.

O candidato tucano, José Serra, por exemplo, vence a candidata oficial mesmo entre os eleitores beneficiados pelos programas assistenciais do governo nas regiões Sul e Sudeste.

A vantagem dos tucanos nessas duas regiões se sobrepõe aos efeitos do assistencialismo do governo.

Já nas regiões Norte/Nordeste/ Centro-Oeste, a candidata Dilma Rousseff tem praticamente a metade dos votos dos beneficiados pelo Bolsa Família, e vence com larga margem a disputa presidencial, mesmo nos setores não atingidos pelo assistencialismo governamental.

Nessas três regiões somadas, ela vence Serra por 45% a 28%, sendo a preferida em todas as camadas de renda e escolaridade, o que indica que não são apenas os programas assistencialistas que levam o eleitorado dessas regiões a apoiar o governo.

Da mesma maneira, no Sul e no Sudeste, é Serra quem vence em todos os estratos eleitorais.

Essa divisão regional, e a polarização entre PT e PSDB que está ficando clara nesta eleição, faz com que os coordenadores das candidaturas comecem a traçar um quadro levando em conta que existem estados “tucanos” e estados “petistas”.

O ex-deputado Ronaldo Cesar Coelho, da coordenação da candidatura tucana, trabalha com a ideia de que o Brasil está se dividindo como os Estados Unidos, que tem estados republicanos e estados que votam nos democratas.

É por isso, por exemplo, que o ex-prefeito Cesar Maia, candidato ao Senado pelo DEM e um estudioso de pesquisas, acredita que a eleição será decidida nos estados de Minas e Rio.

Segundo seu cálculo, Serra vencerá em São Paulo e nos estados do Sul, que representam 37% do eleitorado.

Dilma vencerá no Nordeste e no Norte, que representam 35% do eleitorado. Como no Centro-Oeste o equilíbrio é grande, a decisão ficaria para os 20% do eleitorado representado por Rio e Minas.

Esses dois estados, por sinal, são difíceis de serem definidos como estados “petistas” ou “tucanos”. Minas é governado por Aécio Neves há oito anos, mas Lula ganhou a eleição presidencial de 2002 e de 2006 por uma diferença de um milhão de votos.

O Rio de Janeiro tem no governador Sérgio Cabral, do PMDB, o favorito para o governo, e ele apoia a candidatura de Dilma devido à sua ligação com o presidente Lula.

Mas a disputa pelos royalties do petróleo pode afastá-lo da candidatura oficial. Ele e o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, decidiram não ir à convenção do PMDB que oficializará o apoio à candidata do PT. Decisão que não deve interferir no resultado final, mas indica uma situação de desconforto na relação.

Se Minas se transformar em um estado realmente tucano, dando a vitória a José Serra, terá papel decisivo no resultado final. Mas há uma desconfiança de que a prioridade de Aécio Neves seja eleger Antonio Anastasia para o governo, e com isso a chapa “Dilmasia” ganharia vida própria.

Há também aparente resistência de Alckmin a se empenhar na campanha presidencial.

Apenas em uma ocasião, em 2002, o candidato petista venceu a eleição presidencial em São Paulo. Na eleição de 2006, mesmo perdendo para Lula, Alckmim venceu a eleição por quase 4 milhões de votos de diferença.

Nas eleições de 1994 e 1998, FH derrotou Lula em São Paulo por diferenças que chegaram a 5 milhões de votos. Por isso, Serra fazia planos de vencer este ano em São Paulo por um vantagem de 6 milhões de votos para, juntamente com Minas, garantir uma diferença que lhe assegurasse a vitória. Mas precisará primeiro conseguir a unidade partidária.

Há ainda o fator Marina Silva, que aparece nas pesquisas com cerca de 10% dos votos.

Se conseguir chegar a 15% mobilizando os jovens, provavelmente impedirá que a eleição se decida no primeiro turno e ganhará um cacife eleitoral para fazer um acordo programático com um dos dois candidatos finalistas.

No entanto, a candidata do PV pode ficar emparedada com a polarização entre PT e PSDB, e o fato de que há nesta eleição uma leva de eleitores especiais — as cerca de 100 milhões de pessoas de uma classe média conservadora, milhões delas incorporadas recentemente ao mercado de consumo, sem grandes preocupações com o meio ambiente — que pode decidir o resultado.

Bolívia, problema real :: Sergio Fausto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A seu modo, José Serra apontou para um problema real ao declarar que o governo da Bolívia faz "corpo mole" no combate ao tráfico de cocaína.

Dados do United Nations Office on Drugs and Crimes, para a Bolívia, mostram que a área plantada com folhas de coca tem aumentado sistematicamente desde 2001, passando de 21 mil hectares naquele ano para 30 mil hectares em 2008, um crescimento de 43%. Para o ano de 2009, a Drug Enforcement Administration (DEA), órgão do governo americano, informa que a área plantada teria alcançado 35 mil hectares. Trata-se de área muito superior aos 12 mil hectares permitidos por uma lei de 1988, mesmo quando acrescida dos 3.200 hectares adicionais autorizados para a região do Chapare, no Departamento de Cochabamba, em 2004. O mesmo órgão das Nações Unidas estima que a capacidade de produção de folha de coca, assim como de cocaína, elevou-se em quase 100%, ou seja, praticamente dobrou entre 2001 e 2008. A tendência antecede a posse de Evo Morales, mas se acelerou depois dela, apesar da erradicação anual de 6 mil hectares de plantações de coca, segundo dados da Fuerza Especial de Lucha contra el Narcotráfico, órgão do governo boliviano.

O país vizinho responde por cerca de 30% das quase 100 mil toneladas da droga que ingressam no Brasil anualmente.

"Coca, sim; cocaína, não" é o lema da política de Evo Morales em relação ao tema. Se a cocaína merece combate, o cultivo da folha de coca para usos lícitos recebe apoio do governo boliviano. Para tanto se invoca a sua importância cultural (trata-se de tradição dos povos do altiplano, considerada pela nova Constituição um patrimônio cultural da Bolívia) e social (é cultivada por pequenos agricultores). A questão tem também dimensão política. Não apenas por serem os "cocaleros" berço político e base de apoio de Morales, até hoje presidente honorário da federação dos plantadores de coca da região do Chapare, mas também porque a folha funciona como símbolo poderoso. Ela faz o elo entre a tradição anterior à conquista espanhola e o projeto contemporâneo de obtenção da verdadeira independência. É elemento essencial de um discurso político que busca no passado pré-colombiano as origens étnicas que permitiriam a refundação da Bolívia como Estado pluriétnico de maioria indígena. O antagonismo principal não é mais com a Coroa espanhola, mas com os EUA, identificados com a criminalização da folha de coca, no plano internacional, e com as ações de erradicação do seu cultivo nos anos 1990, foco de tensões políticas e sociais em meio às quais Morales se projetou da cena sindical para a cena nacional com liderança política.

Em termos práticos, Morales substituiu a política de erradicação - que reduziu drasticamente a área plantada, sem, contudo, estruturar alternativas economicamente viáveis ao cultivo da folha de coca - por uma política de negociação com associações de "cocaleros", que se revelou permissiva em relação à expansão da área plantada. Ao mesmo tempo, seu governo e seu partido, majoritário agora nas duas Casas do Congresso, movimentam-se para ampliar o limite legal para o cultivo de coca. No final de 2008, alegando que os EUA fomentavam movimentos "separatistas" nos Departamentos com governos de oposição, Morales determinou a expulsão dos agentes da DEA, que colaborava com serviços de inteligência no combate ao narcotráfico. À colaboração preferiu, por razões políticas, o confronto.

O crescimento da área plantada encontra justificativa num pretendido aumento futuro da utilização lícita da folha de coca para produção de manufaturados (licores, chás, sabões, remédios, etc.), não apenas para consumo interno, mas também para exportação (de manufaturados e da folha in natura). Daí a solicitação do governo boliviano para que a ONU distinga claramente a cocaína da folha de coca e seus derivados lícitos. De qualquer forma, a viabilidade da industrialização em larga escala da folha de coca é vista com ceticismo por analistas independentes.

Simpatias políticas à parte, a pergunta que se coloca é se é possível combater o tráfico de cocaína com complacência quanto ao aumento do cultivo da folha de coca em volumes muito superiores à sua absorção para fins lícitos e sem a colaboração da DEA, para a qual a União Europeia, mais bem vista que os EUA na Bolívia, não oferece substituto à altura. A resposta deve considerar a lucratividade do tráfico de drogas e o poder do crime organizado, fatores bem mais reais e concretos do que os desejos de industrializar a Bolívia manufaturando produtos à base de coca.

Trata-se de um problema a que o Brasil não pode ficar indiferente, em vista da facilidade de ingresso da cocaína pela imensa fronteira seca que temos com a Bolívia e dos danos que a cocaína e o crack produzem na sociedade brasileira. Acerta o governo ao firmar acordo que facilita cooperação entre a Polícia Federal e as autoridades bolivianas. Medida importante, mas tímida diante do problema. Decisivo seria dar prioridade ao controle de fronteiras, com a extensão do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), que não cobre a fronteira com a Bolívia. Sem dúvida, mais importante para a segurança do País do que ter aviões-caça de última geração. Por fim, cabe à diplomacia brasileira, em nome do interesse nacional, por meios e modos adequados às relações entre países amigos, pôr em questão a política de Evo Morales para um tema que transcende em muito as fronteiras da Bolívia.

Se a declaração de Serra foi "irresponsável", como buscaram caracterizá-la membros do governo e sua candidata, o que dizer da visita do presidente brasileiro à região do Chapare, em novembro de 2009, às vésperas das eleições gerais bolivianas, quando Lula subiu em palanque de Evo Morales ostentando um colar com folhas de coca?

Diretor Executivo do IFHC, é membro do GACINT-USP.