domingo, 22 de abril de 2012

Dois homens e um destino:: Celso Ming


Hoje, 40 milhões de eleitores da França abrem o processo de escolha do presidente do país para o período 2012-2017.

São dez os candidatos, mas somente dois chegarão ao segundo turno, marcado para o dia 6 de maio. O conservador Nicolas Sarkozy, em busca da reeleição, e o socialista François Hollande têm condições práticas de chegar lá. As pesquisas dão a vitória por folgada margem a Hollande no segundo turno, mas, entre a sela e o chão - escreveu Graham Greene -, muita coisa pode acontecer.

Sarkozy, o atual presidente, tem contra si o passivo da crise, especialmente a dívida da França que saltou dos 64% do PIB em 2007 para os atuais 83% do PIB; mais o rebaixamento da qualidade e forte ameaça de rejeição dos títulos do Tesouro da França, o que dificulta a rolagem dessa dívida; uma economia estagnada; indústria sob grave esvaziamento; e desemprego no recorde dos 10% da população ativa. (Veja, no Confira, a ficha da França.)

O projeto para sair desta crise do sempre elétrico Sarkozy não vai muito além da meia solução que está sendo montada pelos atuais líderes do bloco do euro, com a diferença de que, nas últimas semanas, Sarkozy vem reivindicando passo importante em direção à heterodoxia monetária. Apesar do claro veto alemão, quer que o Banco Central Europeu (BCE) passe a usar suas impressoras de euros para financiar Estados superendividados, como a própria a França.

A campanha de Hollande é de hostilidade a tudo o que está aí, mas é gritante a falta de proposta sobre o que colocar no lugar. Resume-se a dizer não à austeridade orçamentária; a culpar o sistema financeiro e os excessivamente folgados bancos, responsáveis pelas lambanças; e a cobrar mais impostos dos mais ricos, para garantir mais recursos a projetos destinados a tirar a economia da entalada e criar mais empregos.

O problema é que, por mais esfolados que os ricos venham a ser pelo Fisco francês, o aumento da arrecadação será insuficiente para reequilibrar as finanças públicas e acelerar a economia. E, por sua vez, desancar o mercado financeiro não ajuda a recapitalizar as instituições financeiras, cujo patrimônio está ameaçado.

Além disso, a atual crise resulta das excessivas despesas e do excessivo endividamento do Estado - problemas que Hollande parece disposto a acentuar ainda mais.

Mas no talo da fruta estão as contradições das atuais propostas macropolíticas da social-democracia. A ideia de fortalecer o Estado para aumentar a capacidade de fazer políticas esbarra no processo de globalização crescente e na perda da soberania orçamentária e política que o fortalecimento do euro está exigindo.

Os ideais da internacional socialista e da união dos trabalhadores de todo o mundo, por sua vez, esbarram na necessidade de criar empregos para os franceses e na crescente hostilidade da população contra os imigrantes e as minorias étnicas.

Em todo o caso, uma coisa é discursar no palanque e outra, bem diferente, governar. E, nessa tarefa, nem Sarkozy nem Hollande prometem coisas substancialmente diferentes.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Embate entre esquerda e direita volta à França com duelo Sarkozy-Hollande


Na disputa pela liderança no primeiro turno, presidente e candidato socialista representam visões de mundo antagônicas

Andrei Netto


Jeannette B.T., de 67 anos, deixava a estação de metrô Convention, em um bairro de classe média no sul de Paris, na quinta-feira, quando foi abordada por um universitário de 24 anos que lhe oferecia um panfleto do Partido Socialista (PS). "Só os estúpidos votam em François Hollande", respondeu a senhora, recusando a oferta com gentileza parisiense.
"Tenho tanto medo de ele ser eleito que não vou ver os resultados. Será uma catástrofe para a França", acrescentou. Sem se intimidar, o jovem respondeu: "Em matéria de catástrofe, será difícil superar Nicolas Sarkozy, madame. Eu farei parte dos estúpidos que tentarão outro caminho".


É nesse clima de medo, esperança e rivalidade entre direita e esquerda que 43 milhões de eleitores vão às urnas hoje, no primeiro turno das eleições presidenciais na França. Nunca, desde os enfrentamentos entre François Mitterrand e Jacques Chirac, nos anos 80, e da queda do Muro de Berlim, os franceses foram chamados a arbitrar discursos tão antagônicos quanto os de Hollande e Sarkozy, um clássico entre progressistas e conservadores.

O clima de maniqueísmo que paira em Paris tem como pano de fundo a crise das dívidas na Europa, iniciada em 2009. Quinta maior potência mundial e segunda da zona do euro, atrás da Alemanha, a França sofreu no mês de janeiro o rebaixamento de sua dívida pública -até então avaliada como AAA, a nota mais elevada possível - pela agência de rating Standard & Poor"s.

Desde então, teme-se que o país seja envolvido pelo turbilhão que já arrastou Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália e ameaça implodir a zona do euro.

As razões para o medo são concretas. A França registra déficit público de 5,2%, sua dívida pública chega a 87% do Produto Interno Bruto (PIB), seu crescimento é raquítico, de 0,2% no quarto trimestre de 2011, e sua taxa de desemprego chega a 9,8% da população ativa e a 25% entre jovens. Mesmo apresentando essa credenciais, Sarkozy apresenta-se na campanha de 2012 com uma plataforma com base na austeridade fiscal e como o único fiador da estabilidade contra o caos. "Uma vitória de Hollande colocaria a França de joelhos", alertou o chefe de Estado.

Hollande adota o discurso da "esperança" e aposta na receita contrária para tirar o país do buraco: controle das contas sim, mas com prioridade ao crescimento. Com um forte discurso de esquerda, propõe taxar em 75% os salários anuais superiores a € 1 milhão, contratar 60 mil professores - quando seu oponente reduz o funcionalismo - e a reestabelecer a aposentadoria aos 60 anos para quem tinha direito adquirido. "Cada geração tem uma responsabilidade. A hora é agora de vocês tomarem a decisão de mudar", afirmou na sexta-feira.

O surpreendente é que, mesmo com essa plataforma, o socialista obteve o elogio do jornal britânico Financial Times. "É encorajador que um número crescente de políticos, incluindo Hollande, defenda uma estratégia de crescimento para a Europa", disse a publicação, em editorial que criticava Sarkozy.

Maniqueísmo. O antagonismo segue em todas as áreas. Se o atual governo era conhecido pela isenção fiscal às grandes fortunas, o socialista propõe taxá-las para aliviar a carga sobre a base da pirâmide. Se Sarkozy promete reduzir em 50% a imigração ilegal, Hollande defende a regularização de parte dos estrangeiros ilegais.

"A opinião pública vê grandes diferenças nas propostas de ambos", diz o cientista político Émmanuel Rivière, do instituto TNS-Sofres. "Há uma fronteira direita-esquerda que se aplica a quase todos os temas: economia, emprego, Estado, imigração, homossexualismo."

Nessa disputa de conceitos, quem chega com curta vantagem é Hollande. Se os prognósticos dos institutos de pesquisa estiverem corretos, o candidato socialista deve obter entre 27% e 30% dos votos, contra 25% a 27% de Sarkozy.

As explicações para o eventual fracasso eleitoral de um presidente respeitado no exterior, como Sarkozy, passam por sua personalidade. Centralizador, ele rompeu com a liturgia do cargo de presidente em 2007 e enfraqueceu o premiê, François Fillon. Expôs-se na política e na vida pessoal, com um estilo "novo rico" rejeitado pelos franceses.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Mudança na caderneta atingirá casa própria e Fundo de Garantia.


Alteração no FGTS e na casa própria

Projeto do governo que muda o ganho da poupança atingirá o crédito imobiliário e os depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, com o fim da TR


Vicente Nunes


A determinação da presidente Dilma Rousseff de mexer nos rendimentos da caderneta de poupança para facilitar a queda da taxa básica de juros (Selic) dos atuais 9% para até 8% nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) implicará mudanças em outros pontos sensíveis: o financiamento da casa própria e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

As razões são claras. O crédito imobiliário para a classe média é bancado exclusivamente pelos depósitos na caderneta. De cada R$ 100 aplicados na mais tradicional modalidade de investimentos do país, no mínimo, R$ 65 devem ser obrigatoriamente destinados à casa própria. Além disso, as prestações são atualizadas pela Taxa Referencial (TR), que também corrige os recursos da poupança. Pelos dois projetos preparados pelo Ministério da Fazenda, para alterar o ganho da caderneta, a TR será extinta. É aí que entra o FGTS. Por lei, o dinheiro dos trabalhadores é remunerado em 3% ao ano mais a TR. A tendência é de que os depósitos feitos pelas empresas passem a ter somente a taxa fixa, compatível, no entender de técnicos da equipe econômica, com a nova realidade de juros no país.

"Todos terão de dar a sua cota de sacrifício, pois se ganhará de outro lado, com a diminuição dos juros dos empréstimos e financiamentos", diz um assessor do Palácio do Planalto. "Não se pode esquecer que a possível diminuição do rendimento da caderneta e do FGTS será depois da vírgula. Já nos juros do crédito, o impacto é bem maior. Assim, a economia com as prestações cobrirá qualquer perda de rentabilidade", acrescenta. Ele lembra que será esse o discurso difundido pelo governo para convencer a população de que está "fazendo o melhor para o país" e não um confisco da poupança, como houve em 1990, no governo Collor.

O Palácio do Planalto acredita que terá boas notícias a dar à classe média, que tanto preserva o patrimônio na poupança e recorre aos financiamentos habitacionais. Se a remuneração da caderneta diminuir um pouco e a TR for extinta, os juros cobrados no crédito imobiliário também poderão cair. "É com essa realidade que estamos trabalhando", afirma um técnico do Ministério da Fazenda. A seu ver, tudo está apontando para o governo pôr fim ao entulho que ainda resta no mercado financeiro, ou seja, a indexação decorrente dos tempos de hiperinflação. "A TR é um deles", acrescenta.

Distorção

Para o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central, as mudanças propostas pelo governo são bem-vindas. Mas para que realmente a população tire proveito delas é preciso que, efetivamente, a taxa básica caia e permaneça em um patamar baixo por um longo período. E isso exige um controle efetivo da inflação. "Se os ganhos da caderneta forem realmente atrelados à Selic, como estão dizendo, em um momento de elevação dessa taxa os ganhos da poupança vão aumentar assim como as prestações da casa própria", ressalta.

Na sua avaliação, o debate sobre mudanças na estrutura de um sistema financeiro criado para conviver com uma inflação alta é importantíssimo. Mas, a seu ver, o governo deveria propor as alterações somente a partir do segundo semestre, quando, efetivamente, os consumidores terão a exata noção se o prometido corte de juros pelos bancos públicos e privados é para valer. "Com a fraqueza atual da economia, a procura por crédito está contida. À medida que a atividade for ganhando força, a demanda por empréstimos e financiamentos se fortalecerá. É aí que poderemos ver se o anunciado barateamento do crédito foi real ou se não passou de uma campanha de marketing", destaca.

O economista vai além. "Ainda há um longo caminho para que os juros do crédito no Brasil sejam comparados aos de países civilizados. Os bancos precisam reduzir muito o spread (diferença entre o que pagam aos investidores e o que cobram dos devedores", diz. No Brasil, o spread médio é de 30 pontos percentuais contra cinco pontos nas nações que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as nações mais desenvolvidas do planeta.

Minutas prontas

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, preparou duas minutas de medidas provisórias para apresentar à presidente Dilma Rousseff, propondo mudanças na remuneração da caderneta da poupança. No primeiro, os investidores terão remuneração equivalente a 80% da taxa básica de juros (Selic), que está em 9% ao ano. No segundo, serão criadas de seis a nove faixas de rentabilidade para os depósitos. Ainda nesta semana, Mantega se encontrará com Dilma para discutir o assunto.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Poupança e fundos perdidos:: Vinicius Torres Freire


"Canetada" deve dar jeito em problemas que o juro tabelado da poupança pode causar com a queda da Selic

Suponha-se que a taxa básica de juros, a Selic, vá abaixo dos 9% para onde desceu na semana passada.

Suponha-se que, tomados de súbita e aguda consciência financeira, os investidores de fundos de renda fixa decidam migrar em massa para a caderneta de poupança, que rende pouco, mas paga mais do que alguns fundos com taxas de administração extorsivas.

Suponha-se que tais coisas ocorram antes que o governo enfim apresente um plano organizado de alterar o rendimento das cadernetas. E daí?

O pessoal do governo, do Banco Central à Fazenda, diz nas internas que se dá um jeito: baixa-se uma resolução que autorize os bancos, gestores dos fundos, a aplicar o dinheiro dos depósitos da caderneta de poupança em títulos do governo. Ou seja, se houver crise, não há crise.

A história da mudança no rendimento das cadernetas ressuscitou com a nova baixa da Selic e com a perspectiva de que a taxa básica da economia talvez não fique estacionada nos 9% ou 8,75%, como era o "entendimento" da maior parte do pessoal do mercado até o começo deste mês. Na sexta-feira, nos negócios com juros futuros apostava-se em reduções adicionais da Selic. O pessoal se guiava pelas mais recentes declarações sibilinas do BC.

Qual a relação dos juros básicos com a poupança? Os fundos de investimento mais comuns (quase todos, aliás) emprestam dinheiro ao governo, e dele recebem os juros que pagam a seus investidores. A taxa de juros básica é mais ou menos aquela que o governo paga a seus credores. Logo, se cai a taxa básica, cai o rendimento dos fundos que aplicam em títulos do governo.

A poupança tem juros tabelados, não paga taxa de administração e não paga IR. Portanto, dados um certo nível da Selic e o custo da taxa de administração, o rendimento de um fundo pode perder da poupança. Alguns já perdem.

Se o dinheiro migra em massa para a poupança, no limite falta crédito para o governo (hipótese remota, mas há o risco de distorção no mercado, de qualquer modo). Isto é, o dinheiro que seria emprestado ao governo iria para a caderneta.

Os bancos poderiam ter problemas -isso é o que parece estar pegando mais. Haveria sobra de dinheiro para empréstimos imobiliários (para onde, por lei, tem de ir a maior parte dos depósitos das cadernetas). Faltaria para outras demandas. A rentabilidade de bancos cairia. Poderia haver sustos.

Permitir que os bancos apliquem fundos depositados na poupança em títulos públicos resolveria esses problemas, pontualmente. Mas os juros da caderneta ainda seriam uma espécie de piso para ao menos certas taxas no país, como a do financiamento de imóveis. Não dá.

De qualquer modo, o governo não acredita em migração em massa. Confia na negligência e no desconhecimento financeiros do grosso da população. Além do mais, quer dar outro calor na banca. Antes de mexer no rendimento da poupança, espera ver os bancos reduzindo taxas de administração excessivas cobradas em certos fundos.

Para refrescar a memória: no ano passado, a poupança rendeu menos de 1% em termos reais (além da inflação). Houve ano ainda pior neste século. Em certos fundos, pois, o seu dinheiro pode estar sendo até mesmo corroído pela inflação.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

No alvo!:: Amir Khair


O governo acertou em cheio ao erigir como prioridade o ataque às altas taxas de juros cobradas pelos bancos. Acertou também na estratégia de dar o exemplo, fazendo suas instituições financeiras rebaixarem expressivamente suas taxas, com ampla divulgação pela mídia. Avalio que finalmente foi dado importante passo para balizar a taxa de juro da economia capitaneado pelas instituições oficiais.

Parabéns à presidente Dilma Rousseff, que identificou o principal freio à economia e ousou enfrentar o poderio dos bancos. A redução do juro abre espaço decisivo para o crescimento.

Análises do mercado financeiro, no entanto, repetem velho argumento usado quando foi adotada estratégia semelhante na crise de 2008, que é a perda de lucro e aumento da inadimplência do Banco do Brasil e da Caixa por rebaixarem suas taxas de juros. Na realidade ocorreu o inverso. A estratégia vitoriosa foi a troca de margem alta (spread) e baixo volume de crédito por margem menor e ampliação do mercado de clientes. Além dos ganhos de escala há a possibilidade da oferta de outros produtos aos novos clientes. Essa estratégia poderá novamente dar certo, mas o que importa não é tanto o maior ou menor lucro bancário e sim um sistema racional, mais competitivo e em linha com o crescimento do País.

Nesse sentido é fundamental a campanha de divulgação do rebaixamento das taxas de juros para a ampliação da clientela. Os bancos privados temendo a perda de clientes anunciaram a redução nas taxas, seguindo a decisão do Banco do Brasil e da Caixa.

Resta ver como se dará na prática essa redução nos bancos privados. Se não for para valer, vão tomar na cabeça. No entanto, para atingir o objetivo da redução, o governo deve acionar outras medidas, pois esses bancos começaram mal ao apresentar 22 medidas que não mexiam em nada no exagerado spread bancário e afirmar que a bola estava com o governo. De fato, a bola foi para o governo que fez o ataque e marcou o gol. Não deve ser desprezada a vigorosa atuação dos clientes, que vão à luta para reduzir seus custos bancários.

Ao governo parece claro que não é qualquer redução dos juros nos bancos privados que vai resolver, mas sim forçá-los à prática de taxas de juros civilizadas. Para isso tem poderosas armas e a presidente já falou que vai acompanhar pessoalmente esse processo.

Armas. A mais importante das armas é a queda da Selic. A mina de ouro das aplicações em títulos do governo vai minguando à medida em que a Selic cai. Todos os títulos governamentais vão tendo rentabilidade menor, pois se balizam na Selic e, assim, empurram os bancos para aumentar a oferta de crédito. Aí é mais difícil a prática de taxas elevadas, pois a concorrência tende a se acirrar dificultando tentativas de cartelização.

Resta ver se o governo continuará a reduzir a Selic ou se vai parar neste ano nos 9% para evitar possíveis problemas com a caderneta de poupança em ano eleitoral. Creio que deveria ir adiante, pois ainda há espaço para redução sem risco de deslocamento de aplicações em títulos para a caderneta. As elevadas taxas de administração cobradas pelos bancos tendem a ser reduzidas e esse espaço pode acomodar a redução da Selic. Outra possibilidade é a redução da tributação sobre os ganhos em títulos públicos ou ainda, o que prefiro, efetuar a rolagem com emissão monetária. Enfim, existem alternativas a serem usadas em prol da redução da Selic com expressivos ganhos fiscais ao governo federal na rolagem da sua dívida mobiliária e na redução do carregamento das reservas internacionais.

Essa é a mais poderosa economia nas despesas, que poderia ser usada para forte ampliação dos programas sociais e dos investimentos em infraestrutura, bem como na desoneração tributária para a sociedade. Os recursos são expressivos: em 2011, o governo federal torrou R$ 181 bilhões com juros e mais de R$ 100 bilhões com o carregamento das reservas internacionais. Neste ano, pode torrar mais, pois a dívida e as reservas são maiores. Não faltam, pois recursos para ativar a economia. O importante é não desperdiçá-los com juros.

Outra arma poderosa é o estabelecimento de regra de depósito compulsório dos bancos no Banco Central (BC) de acordo com a taxa de juro praticada pelo banco. O depósito compulsório é formado por porcentuais dos depósitos à vista e a prazo do banco. Na nova regra, o porcentual seria tanto menor quanto menor fosse a taxa de juro praticada pelo banco. Como Banco do Brasil e Caixa operam com taxas menores que os bancos privados, teriam aumento do volume de recursos para ampliação do crédito, o que está em linha com a estratégia de ganhar maior participação no mercado.

Sugestões. Indo adiante, o governo poderia efetivar duas medidas de forte efeito sobre a economia. A primeira é a redução das tarifas bancárias. Elas constituem poderosa bomba de sucção de dinheiro das pessoas e empresas para os bancos. Os serviços bancários têm custos e devem ser remunerados, mas o que se vê no País é um exagero. Além de serviços precários, com recordes de reclamações dos clientes, o montante dessas tarifas chega a superar todo o custo administrativo dos bancos. Ocorreu padronização desses serviços em abril de 2008, mas nada avançou em matéria de redução dessas tarifas. Está na hora de fazê-la, ampliando assim os recursos em poder das pessoas e das empresas, o que permite maior consumo e poupança.

A segunda sugestão traz forte impacto nas contas públicas e no câmbio. Trata-se de ampliar a liquidez da economia, ou seja, emitir moeda. Explicando: para cobrir o déficit nas contas do governo federal, a compra de dólares pelo BC para ampliar as reservas internacionais (operações compromissadas) e o aporte de recursos para o BNDES, o Tesouro emite títulos da dívida e, bem menos, ocorre a complementação com a emissão de moeda pelo BC. A emissão líquida de títulos em 2011 atingiu R$ 179 bilhões (!), pois a dívida mobiliária interna federal cresceu de R$ 1.604 bilhão para R$ 1.783 bilhão no ano. A sugestão é emitir moeda em vez de engrossar a dívida com títulos que oneram juros. A crítica é que isso gera inflação. Não creio, pois o fio condutor da inflação é externo e os preços internacionais estão estagnados ou em queda, induzindo as empresas a conterem seus preços.

A oportunidade para isso é agora, pois além da redução expressiva da despesa com juros, tem efeito decisivo sobre o câmbio, o que influi poderosamente na competitividade das empresas. Os países desenvolvidos vêm usando essa estratégia para ampliar exportações e não registraram inflação, mesmo com juros praticamente nulos. O excesso de liquidez criado pelas economias desenvolvidas só pode ser combatido com eficácia usando a mesma estratégia, que é emitir moeda, ampliando a base monetária. Liquidez se combate com liquidez. É bom mirar nesses novos alvos, pois o Brasil tem potencial para crescer bem mais e de forma saudável.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Campeão escolhido:: Míriam Leitão


O grupo que é exemplo da política do BNDES de formar campeões nacionais mantém mais emprego nos Estados Unidos do que no Brasil e deu prejuízo em três dos últimos cinco anos. O presidente do JBS, Joesley Batista, explica que as vantagens da globalização de grupos nacionais vão do prestígio à abertura de mercado. A companhia já fechou quatro das cinco empresas que comprou na Argentina.

O banco colocou uma montanha de recursos em frigoríficos. Fez isso de duas formas: emprestando dinheiro subsidiado, via BNDES, e virando sócio das empresas, por meio do BNDESPar. Desde 2005, o BNDESPar investiu quase R$ 12 bilhões em três frigoríficos - JBS, Marfrig e BRF - na compra de ativos, subscrição de ações e aquisição de debêntures. O JBS, escolhido para ser o campeão nacional, ficou com a maior parte, R$ 8,1 bi. Em empréstimos, a empresa recebeu mais R$ 2,5 bi. Os números mostram como o BNDES incentivou a compra de uns por outros e aumentou a concentração no setor.

Em uma controversa operação, o dinheiro público foi usado para comprar 99,9% de debêntures lançadas pelo JBS para financiar a compra da Pilgrim"s Pride, nos Estados Unidos. A exigência feita pelo banco foi que a empresa abrisse capital no mercado americano. Veio a crise, e ela não cumpriu o prometido. O banco então converteu as debêntures em ações, e hoje é dono de 31% do JBS que, no ano passado, deu prejuízo exatamente pela compra da Pilgrim"s Pride. O Estado é o segundo maior sócio, depois da família Batista, que tem 44,6%:

- Uma coisa eu posso garantir a você, o BNDES nunca colocou dinheiro no JBS para salvar a empresa, ao contrário do que aconteceu com Aracruz, Sadia e outras na crise de 2008. O prejuízo é parte do processo de consolidação. Somos especializados em comprar empresas deficitárias, que administradas por nós dão lucro. No primeiro momento, o resultado é negativo mesmo - disse Joesley.

Em março de 2007, quando a empresa abriu capital, a ação valia R$ 7,9. Na sexta-feira, valia R$ 7,6. O banco aumentou sua participação no momento em que o grupo adquiria mais ativos, como o frigorífico Bertin, e expandia para novas áreas. No mesmo período, as ações caíram. Chegaram a valer R$ 3,5 em outubro do ano passado. Joesley Batista acha natural que o banco público seja um dos donos da sua empresa:

- O BNDES é meu sócio há três anos e é sócio da Weg há 30 anos.

Os dados do JBS mostram uma evolução explosiva dos ativos e um crescimento grande da dívida. Pelos dados da Economática, a empresa tem uma dívida líquida sobre patrimônio líquido de 65%. A dívida bruta sobre patrimônio líquido é de 95%. Em 2011, houve prejuízo de US$ 496 milhões com a unidade de frango nos Estados Unidos, e foi justamente isso deixou o grupo no vermelho no ano.

Nos EUA, o JBS é uma potência. Segundo ele, lá o grupo tem um milhão de cabeças de gado em confinamento. Este ano, engordará 2,2 milhões de cabeças. Compra 1.300 carretas de milho por dia, é o maior comprador de milho americano. Tem 70 mil empregados, 10 mil a mais do que no Brasil. Abate oito milhões de frango por dia:

- Quando o Mauro, embaixador brasileiro, pede uma audiência com o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, ele atende porque a nossa empresa é o que é na economia americana. De lá, eu consigo alcançar mercados que não recebem carne brasileira. Foi porque estamos nos Estados Unidos é que começamos a exigir a elevação do preço para a nossa carne.

Ele diz que a empresa aprende na comparação entre as duas economias:

- Lá, para abater 6.000 cabeças eu preciso de três mil funcionários; aqui, preciso de seis mil. A produtividade lá é o dobro. A nossa indústria é muito primitiva. Lá, eu tenho cinco advogados; aqui, tenho 50. Lá, eu tenho 37 causas, aqui eu tenho sete mil.

Há outras diferenças gritantes. Aqui, como contei na coluna de ontem, que pode ser lida no meu blog, a empresa tem sido acusada de comprar carne de produtores que cometem crimes ambientais. Há até um caso de compra de gado de fazenda acusada de trabalho escravo:

- Nos Estados Unidos existe o conceito do "Animal Welfare". Lá eles mandaram fechar outro dia um frigorífico por causa da acusação de maltratar uma vaca.

Além do Brasil e Estados Unidos, a empresa está na Austrália, México, Uruguai, Paraguai e Argentina, e tem escritórios em todos os continentes. A ida para a Argentina não deu certo. Eles compraram cinco empresas e já se desfizeram de quatro:

- A Argentina enfrenta problemas. Seu rebanho diminuiu em dez milhões de cabeças nos últimos anos.

A empresa está entrando em outras áreas. Este ano vai inaugurar a Eldorado, na área de celulose, para a qual ganhou novo empréstimo do BNDES: R$ 2,7 bi.

- Normalmente, o grupo não constrói empresas, mas compra ativos com problemas e melhora a gestão. A Eldorado está sendo uma experiência de vida - diz Joesley.

O JBS tem um banco, o Original, que recebeu R$ 850 milhões do Fundo Garantidor de Crédito para absorver o Banco Matone. Coincidentemente, logo depois, o banco fez uma aposta pesada na queda da taxa de juros. Foi naquele primeiro corte, em agosto de 2011, que surpreendeu o mercado. Mas não o Banco Original. Ele ganhou muito dinheiro na queda das taxas e deu lucro de R$ 158 milhões no ano. A CVM investigou e não encontrou sinal de informação privilegiada. Joesley credita o acerto à capacidade de análise da equipe.

FONTE: O GLOBO

Beleza não tem época:: Ferreira Gullar


Há nessas gravuras algo que tanto lembra cartas de baralho quanto símbolos heráldicos

A gravura é uma das mais significativas expressões das artes plásticas brasileiras modernas.

É também hoje um dos pontos mais críticos desse campo de criação, precisamente pelo que mais caracterizadamente a qualifica: seu caráter eminentemente artesanal, ou seja, situa-se no polo oposto à arte conceitual -tida como a mais avançada das tendências artísticas.

Para quem acredita nisso, a gravura será uma expressão obsoleta, fora de época. Só que beleza não tem época.

Não obstante, convém observar que a gravura se afirmou como expressão autônoma no momento em que, na Europa, ao final do século 19, o desenvolvimento industrial chegou ao auge, com a produção crescente de máquinas e equipamentos, inclusive com a invenção da fotografia.

Embora alguns pintores da época tenham se valido da fotografia para imprimir maior realismo a suas telas, logo o inevitável aconteceu: a linguagem realista da arte entrou em crise, e uma das consequências foi que a gravura deixou de ser simples meio de reprodução gráfica para se tornar linguagem criadora, autônoma.

Exemplo disso são as obras de Edvard Munch e dos expressionistas alemães, como Kirchner e Rottluff. Um deles, Alfred Kubin, foi professor de um jovem brasileiro chamado Oswaldo Goeldi, que se tornaria um dos mestres da moderna gravura no Brasil, juntamente com Lívio Abramo.

Assim se inicia a fase de ouro de nossa gravura moderna, em que se destacariam os nomes de Marcelo Grassmann, Darel Valença, Anna Letycia, Rubem Grillo -que nos honra como ilustrador desta coluna- e Gilvan Samico, que é, na verdade, o assunto desta crônica.

Conheço Samico há muitos anos, desde a época em que era um jovem artista de Pernambuco, onde reside até hoje. Aliás, reside num casarão do século 17, onde teria morado João Fernandes Vieira, o líder da luta pela expulsão dos holandeses.

Mas, segundo Samico, trata-se de "um herói sem nenhum caráter, pior do que Macunaíma". Sucede que, se sei disso, é porque acabo de ler um belo livro sobre sua obra, recentemente lançado pela editora Bem-Te-Vi e escrito por Weydson Barros Leal, poeta e crítico de arte também pernambucano.

Samico, no começo, estudou no Rio com Oswaldo Goeldi, por um mês apenas. Depois estudou com Lívio Abramo em São Paulo, com quem aprimorou a técnica de gravar, tanto no linóleo quanto na madeira. Lívio o aconselhava a usar qualquer madeira, inclusive as das caixas de frutas que eram jogadas nas ruas.

Talvez porque o que importava, então, era conquistar o domínio técnico da goiva e vencer as carências de uma placa de madeira pouco nobre. Com isso, Samico aprendeu que a melhor madeira é a de cada um, mas também que a "madeira de topo", por sua dureza, permite com maior precisão definir a linha gravada. E isso é fundamental em sua arte, caracterizada pela limpidez e pela precisão.

Limpidez e precisão no executar, em definir as figuras, estruturar a composição e escolher com apuro as cores. Sim, porque, no mais, a arte de Samico é sonho, delírio e poesia.

Rara e surpreendente conjugação de opostos: se no começo suas gravuras nos mostravam cenas mágicas, em que a figura humana, os bichos e as plantas se integravam, isso mudou; essas cenas foram substituídas por composições geométricas rigorosas, dentro das quais, com o mesmo rigor formal, surgem imagens inesperadas -que tanto podem ser serpentes, como répteis, como aves- que parecem enigmas, cenas simbólicas ou lendárias que dispensam decifração.

E, não obstante, queremos decifrá-las, ou melhor, de fato não o queremos, porque necessitamos de preservar-lhes o enigma, o encantamento. Há nessas gravuras de grande tamanho algo que tanto lembra cartas de baralho (um baralho mágico) quanto símbolos heráldicos.

Não gostaria de encerrar este comentário sobre a arte de Gilvan Samico sem assinalar um traço especial que distingue a sua gravura da dos demais gravadores brasileiros. É que nela a lição dos mestres modernistas se funde à linguagem popular da gravura de cordel -herança portuguesa que sobreviveu na cultura popular nordestina-, incutindo-lhe a significação e a beleza da grande arte.

FONTE: ILUSTRADA/FOLHA DE S. PAULO

Desassossego:: Fernando Pessoa


Pobres-diabos sempre com fome — ou com fome de almoço, ou com fome de celebridade, ou com fome das sobremesas da vida. Quem os ouve, e os não conhece, julga estar escutando os mestres de Napoleão e os instrutores de Shakespeare.

Tenho a náusea física da humanidade vulgar, que é, aliás, a única que há. E capricho, às vezes, em aprofundar essa náusea, como se pode provocar um vômito para aliviar a vontade de vomitar.

Um dos meus passeios prediletos, nas manhãs em que temo a banalidade do dia que vai seguir como quem teme a cadeia, é o de seguir lentamente pelas ruas fora, antes da abertura das lojas e dos armazéns, e ouvir os farrapos de frases que os outros de raparigas, de rapazes, e de uns com outras, deixam cair, como esmolas da ironia, na escola invisível da minha meditação aberta.

Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se o não ficarem ali ?

PESSOA, Fernando (Lisboa, 13 de Junho de 1888Lisboa, 30 de Novembro de 1935), foi um poeta e escritor português). Livro do Desassossego, p. 57,61,63. Editora Brasiliense, São Paulo, 1986

sábado, 21 de abril de 2012

OPINIÃO DO DIA: Alberto Goldman: A brasilianista Hillary Clinton

“Quem é mais engraçado, o José Simão ou a Hillary Clinton que disse que a Dilma Rousseff está estabelecendo um "padrão mundial" na questão de transparência e luta contra a corrupção? Isso confirma o que sempre se diz, que os americanos não sabem sequer qual é a capital do Brasil. Quanto mais o que se passa aqui. “

GOLDMAN, Alberto, ex-governador de S.Paulo, no seu blog, 20/4/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
 Acuada por CPI, Delta sai da reforma do Maracanã
Argentina pede socorro à Petrobras
Falta vaga para aviões no Rio+20
Transição para a economia verde
 CPI do Ecad sugere 21 indiciamentos

 FOLHA DE S. PAULO 
Novo presidente do STF intervém para conter crise
 FMI terá US$ 430 bilhões para barreira anticrise
Dilma agora vai pressionar banco e cortar taxa de fundo
Delta decide sair de consórcio da obra no Maracanã

 O ESTADO DE S. PAULO 
Juro, câmbio e impostos são 'amarras' do País, diz Dilma
STF reage a acusação de manipulação de julgamentos
Pagot afirma que assessores do Planalto tentaram derrubá-lo
Governo volta a negar anistia a desmatador

 CORREIO BRAZILIENSE 
Fazenda tem dois projetos para mudar a poupança
CPI pode quebrar sigilo de toda a turma do bicheiro

 ESTADO DE MINAS 
Oposição quer CPI dividida
Mantega já tem propostas para mudar rendimento

 ZERO HORA (RS) 
Redução do juro acelera debate sobre regras da poupança

 JORNAL DO COMMERCIO (PE) 
Metade dos contribuintes não declarou o IR
Mais fraudes
Ministro do STF chama ex-presidente da Corte de "brega e desleal"

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Acuada por CPI, Delta sai da reforma do Maracanã


No Ceará, empreiteira é acusada de pagar mensalão a diretores do Dnit

Alvo da CPI do Congresso e investida pela Polícia Federal sob suspeita de financiar parte do esquema criminoso do bicheiro Carlinhos Cachoeira, a Delta Construções vai sair do Consórcio Maracanã 2014, que reforma o estádio para a Copa do Mundo. A decisão foi da Andrade Gutierrez e da Odebrecht, integrantes do Consórcio. Elas devem comprar os 30% da Delta, que deixou de fazer repasses para a obra na última semana. O governo do Rio ainda não foi informado oficialmente da decisão. O Ministério Público Federal no Ceará acusa a Delta de pagar um mensalão a servidores e diretores do Dnit no estado. No Congresso, a CPI do Cachoeira teve a assinatura de 72 dos 81 senadores e 396 dos 513 deputados.

Delta sai do jogo

Alvo da CPI do Cachoeira, empreiteira fica sem crédito e deixa consórcio de obras do Maracanã

Maiá Menezes

TENTÁCULOS DA CONTRAVENÇÃO

Empreiteira número 1 do PAC e investigada na CPI que apura atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira, a Delta Construções vai sair do Consórcio Maracanã Rio 2014, que faz a reforma do estádio. A decisão foi tomada pela Andrade Gutierrez e pela Odebrecht, que integram o consórcio. Elas devem comprar a parte da Delta, que deixou, na última semana, de fazer aportes de recursos para a obra, e até 1 de maio deve sair do grupo. Citada no inquérito da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, a Delta recebeu do governo do estado do Rio, no ano passado, R$ 1,4 bilhão para todas as obras no estado. A empreiteira, que detém 30% do consórcio, não comentou a decisão. A Odebrecht tem 49% e a Andrade Gutierrez, 21%.

- Não tivemos comunicação oficial, mas parece que sim. Também ouvimos isso. Em tese, as construtoras que fazem parte do consórcio devem assumir o lugar da Delta - disse o chefe da Casa Civil do governo do estado, Regis Fitchner.

Metade das obras concluída

Anteontem, o consórcio afirmou que as obras do Maracanã estão próximas de 50% de conclusão. Em nota, as empresas informaram que já tinham finalizado a montagem das estruturas pré-fabricadas do primeiro módulo da arquibancada intermediária. Ainda este mês, estão previstos o início a instalação dos degraus da arquibancada no primeiro módulo para compor a arquibancada intermediária. A previsão é que, até o fim de julho, sejam dispostos todos os módulos e fechado o perímetro das arquibancadas. Atualmente, 5.200 trabalhadores estão atuando no canteiro de obras. O campo será palco de sete partidas da Copa do Mundo, incluindo a final no dia 13 de julho de 2014.

O prazo para a conclusão das obras do Maracanã é 28 de fevereiro de 2013, a tempo de receber jogos da Copa das Confederações. A Fifa quer que todas as arenas que receberão jogos do torneio (de 15 a 30 de junho do ano que vem) estejam prontas até fevereiro de 2013. Há um mês, a secretária estadual de Esporte e Lazer do Rio, Marcia Lins, disse que a entrega do estádio estava "mais do que garantida" para a data.

A reforma do Maracanã, iniciada em setembro de 2010, foi orçada em R$ 700 milhões. No entanto, em junho do ano passado, teve seu custo elevado para R$ 931 milhões, a partir do compromisso de construir a cobertura do estádio. Contudo, ele foi reduzido para R$ 859 milhões após o Tribunal de Contas da União identificar sobrepreço no orçamento.

Relatório do TCU de fevereiro do ano passado apontava "graves irregularidades" no processo de licitação para as obras do Maracanã. No documento, os auditores do TCU chegam a dizer que a planilha orçamentária da novo estádio "beirava a mera peça de ficção". Fechado desde setembro de 2010, o Maracanã teve o projeto de sua reforma orçado em R$ 705 milhões. Os R$ 305 milhões complementares ao empréstimo do BNDES virão dos recursos do tesouro estadual.

O projeto básico para a obra foi feito pela Emop. O consórcio venceu a licitação. Segundo o TCU, o projeto básico e o orçamento apresentados no edital de licitação abrem caminho para que a obra fique muito mais cara do que o previsto. No relatório, o ministro Valmir Campelo destaca que a planilha orçamentária indica 2.950 itens, alguns deles em repetição, numa clara indicação que trata-se de uma planilha "guarda-chuvas", prática que dá margem para diversas revisões contratuais e, portanto, com grande capacidade de ter inflado o seu custo final. Com cerca de 300 contratos no setor de construções em 23 estados do país e no Distrito Federal, a Delta cresceu 533% apenas no governo Sérgio Cabral (PMDB), no Rio, segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios (Siafem). Em 2007, a empresa teve empenhos de R$ 67,2 milhões, enquanto, em 2010, ano em que Cabral foi reeleito, o montante chegou a R$ 554,8 milhões, sendo R$ 127,3 milhões (22%) sem licitação.

Sem contar com os recursos investidos nas obras do Maracanã em que a Delta faz parte do consórcio, em 2011 a construtora recebeu do governo Cabral R$ 358,5 milhões, sendo R$ 72,7 milhões (20%) sem passar por concorrência pública, segundo o Siafem. Este ano, já são R$ 138,4 milhões empenhados. Os valores do Siafem não incluem, no entanto, as obras do Maracanã, onde a Delta faz parte do consórcio com outras empresas. O projeto foi orçado em R$ 859,9 milhões. Relatório do TCU apontou indícios de graves irregularidades no processo de licitação no estádio para a Copa do Mundo de 2014.

Ontem, o governo do estado apresentou os primeiros resultados de uma inspeção feita nos contratos da Delta. No primeiro mandato de Sérgio Cabral, foram pagos mais de R$ 1 bilhão à construtora. Mas o governo argumenta que os gastos são equivalentes aos da gestão anterior.

Colaborou Emanuel Alencar

FONTE: O GLOBO

Polícia Federal diz que empreiteira pagou 'mensalão' a servidores do Dnit no Ceará


MP propôs ontem ação contra Delta e servidores do Dnit por formação de quadrilha

Maiá Menezes

Alvo central das investigações que levaram à CPI do Cachoeira, concentradas na Região Centro-Oeste, a Delta Construções usou no Ceará método semelhante ao apontado pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. Os processos resultantes de outra operação da PF, a Mão Dupla, realizada em 2010, reforçam o modo de funcionamento da empreiteira número 1 do PAC. Escutas autorizadas pela Justiça mostram que a construtora pagou "mensalão" a servidores e diretores do Dnit no Ceará. De acordo com processo cível em tramitação na 1 Vara Federal do estado, as instalações do Dnit no estado eram usadas como uma espécie de escritório que atendia a interesses privados da construtora.

A investigação, que levou à prisão temporária dos envolvidos, originou ainda um processo criminal, na 11 Vara Criminal Federal do Ceará, que corre sob segredo de Justiça. Ontem, o Ministério Público Federal propôs ação penal contra os servidores do Dnit e contra a Delta por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa.

Com base em interceptações telefônicas, a investigação sustenta que "o espaço público no interior da sede do Dnit no Ceará servia a interesses privados, visto que dentro da instituição havia recintos privativos dos empreiteiros contratantes com a autarquia federal, espaço esse vedado aos servidores do órgão que não compactuassem com o conluio do esquema ilícito".

De acordo com o inquérito, havia ainda uma "caixinha" dentro do Dnit. Diálogos, não divulgados no inquérito, mas citados como anexo ao volume entregue à Justiça, mostram "o pagamento de propina efetivado pela Construtora Delta em favor de Joaquim Guedes Martins Neto". Joaquim, que chegou a ser preso na Operação Mão Dupla, era superintendente do Dnit no Ceará.

Na casa de Joaquim, foram apreendidos R$ 82.530. A PF apreendeu ainda anotações que indicam vantagens pagas a outros servidores e até compra de bens oferecidos como propina. O processo afirma textualmente que "o superintendente do Dnit recebia propinas e uma espécie de mensalão, que eram contabilizadas pelas empresas contratadas como "despesas operacionais" ".

A Controladoria Geral da União (CGU) identificou ainda que Joaquim Guedes Martins Neto, então superintendente do Dnit no Ceará, tinha "rendimento incompatível com a renda auferida pelo agente público", durante o ano de 2008.

O inquérito mostra que foram constatadas "gravíssimas irregularidades" nas licitações, superfaturamento de obras, desvio de verbas e pagamentos indevidos em projetos realizados pelo Dnit no Ceará. A Delta informou que está utilizando "todos os recursos judiciais para demonstrar que não houve nenhuma conduta criminosa". O Dnit informou apenas que "as informações solicitadas pelo GLOBO estão sendo levantadas nas áreas técnicas".

FONTE: O GLOBO

Dilma já traça estratégia de defesa do governo


Em público, diz que não interfere em CPI

Gustavo Miranda

BRASÍLIA. Publicamente, a presidente Dilma Rousseff declarou que não vai se intrometer nos trabalhos da CPI do Cachoeira, mas nos bastidores está se preparando para enfrentar as investigações no Congresso, especialmente depois que cresceram as denúncias envolvendo a construtora Delta. Enquanto os líderes governistas no Congresso se revelam aflitos com a falta de orientação do Planalto para o trabalho na CPI, Dilma começou a traçar a estratégia de defesa do governo.

No fim da tarde de quarta-feira, Dilma fez uma reunião com ministros e assessores para discutir contratos da Delta - empreiteira com grande volume de obras no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - com o governo federal e articular a linha de defesa na CPI. Ontem, ela defendeu a apuração de todas as denúncias e disse que o governo respeita o Congresso.

- A CPI é algo afeto ao Congresso. O governo federal terá uma posição absolutamente de respeito ao Congresso - disse.- Vocês acreditam mesmo que eu vou me manifestar sobre as questões de um outro poder? Além das minhas múltiplas atividades, que tenho que lidar todo dia, vou me manifestar na questão de outro poder? Acho que todas as coisas têm que ser apuradas, mas não me manifesto sobre a CPI - disse, ao ser questionada sobre a CPI.

Até ontem, Dilma ainda não tinha se posicionado publicamente sobre o escândalo de Cachoeira. Dilma falou sobre o caso após a cerimônia de graduação de 108 diplomatas, que passam a integrar o corpo diplomático, no Palácio Itamaraty.

A portas fechadas, porém, o assunto tem sido tratado no Palácio do Planalto. Da reunião de quarta-feira, participaram os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Paulo Sérgio Passos (Transportes) e Luís Inácio Adams (Advocacia Geral da União). Dilma quis saber se as demissões na cúpula do Ministérios dos Transportes e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) beneficiaram de alguma forma o esquema do bicheiro.

Sem uma orientação clara do Planalto sobre como agir na CPI, líderes aliados temem que Dilma acabe nas mãos do PMDB novamente.

FONTE: O GLOBO

Governo quer proibir novos contratos com Delta, principal empresa do PAC


Empreiteira é suspeita de envolvimento no esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos

Fábio Fabrini

BRASÍLIA - O governo federal estuda proibir a Delta Construções, principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de firmar contratos com a União. Os ministros da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, determinaram ontem a abertura de processo para declarar inidônea a construtora, que faturou, só no ano passado, mais de R$ 884,4 milhões com obras federais.

O governo explica que a decisão se baseia nas numerosas denúncias veiculadas recentemente no âmbito da Operação Monte Carlo da Polícia Federal, "com indícios veementes de tráfico de influência", e em informações da Operação Mão Dupla, que apontam o pagamento de propina e outras vantagens pela Delta a servidores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no Ceará. A denúncia contra funcionários da autarquia e da empreiteira foi enviada nesta sexta-feira, 20, à Justiça pelo Ministério Público Federal no Estado.

As revelações da Operação Monte Carlo deram origem à CPI do Cachoeira, criada na quinta-feira, 19, pelo Congresso Nacional. A investigação vai apurar elos do contraventor com políticos e também com a Delta.

A eventual declaração de inidoneidade criaria uma espécie de blindagem para o Planalto, que se afastaria da Delta, alvo da CPI.

Contratos cancelados. A CGU informa que a Delta terá direito a ampla defesa e ao contraditório no processo de inidoneidade. Caso receba a sanção, além de proibida de tocar novas obras para o governo, poderá perder contratos já em execução.

A possibilidade de rescisão será, contudo, avaliada caso a caso, levando-se em conta estágio dos serviços e se a interrupção não prejudicaria o interesse público.

Nos últimos dias, Estados têm anunciado ações para investigar a Delta. Em Minas Gerais, por exemplo, o Ministério Público fará um "pente-fino" em todos os contratos públicos da construtora.

A decisão do governo federal só veio depois do escândalo desencadeado pela Operação Monte Carlo, que revelou indícios de envolvimento da empreiteira com a organização do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e escancarou suas relações com políticos.

A Controladoria-Geral da União e demais órgãos de controle do governo federal, porém, têm informações de supostas irregularidades cometidas pela empresa há anos.

Como o Estado mostrou no último sábado, desde 2007 a CGU identificou problemas em ao menos 60 obras tocadas pela Delta no Dnit, seu principal cliente. O valor dos contratos com falhas alcança R$ 632 milhões.

Fraudes. A Operação Mão Dupla, por sua vez, foi desencadeada pela Polícia Federal em agosto de 2010 e teve o apoio da própria Controladoria.

A PF identificou um esquema de fraudes em licitações, superfaturamento e pagamentos indevidos a empreiteiras. A principal delas seria a Delta.

Segundo as investigações da Polícia Federal, servidores da autarquia facilitavam o desvio de verbas, fraudando medições de serviços não executados e alterando quantitativos.

O então superintendente do Dnit no Estado, Joaquim Guedes Neto, chegou a ser preso por envolvimento no esquema, que teria desviado R$ 5 milhões em quatro obras, segundo estimativa inicial da PF.

De acordo com o Ministério Público Federal no Ceará, na ação penal há registro de crimes praticados por funcionários do Dnit e de construtoras, entre elas a Delta. Os envolvidos vão responder por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Pagot afirma que assessores do Planalto tentaram derrubá-lo


O ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot suspeita que assessores do Palácio no Planalto aturaram para derrubá-lo durante a crise no Ministério dos Transportes, relata o repórter Fábio Fabrini. Pagot disse ter sido informado de que assessores repassaram à imprensa dados da reunião sigilosa com a presidente Dilma Rousseff em junho de 2011. O ex-diretor alega que, no Dnit, afetou interesses da Delta Construções, o que teria gerado a retaliação do grupo de Carlos Cachoeira

Ex-diretor do Dnit, Pagot acusa assessores do Planalto de complô

Segundo ele, subchefe da Secretaria de Relações Institucionais e porta-voz da Presidência atuaram para derrubá-lo

BRASÍLIA - Afastado do cargo na esteira da "faxina" no Ministério dos Transportes, o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot lançou ontem a suspeita de que assessores do Palácio do Planalto atuaram para derrubá-lo durante a crise na pasta, deixando vazar informações de interesse da organização do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Em entrevista ao Estado, Pagot afirma que o subchefe de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais, Olavo Noleto, e o porta-voz da Presidência e do Palácio no Planalto, Thomas Traumann, repassaram dados de reunião sigilosa da presidente Dilma Rousseff com a cúpula dos Transportes, em 5 de junho de 2011, cujos detalhes e frases foram reproduzidos pela revista Veja.

Pagot alega que, como diretorgeral do Dnit, afetou interesses da Delta Construções, o que teria motivado retaliação do grupo de Cachoeira. Ele cita, por exemplo, processo administrativo aberto contra a empreiteira no Dnit por irregularidades em obra da BR-116 no Ceará. O inquérito da Operação Monte Carlo da Polícia Federal, que motivou a criação da CPI do Cachoeira no Congresso, indica que Noleto tem ligações com o grupo do contraventor, acusado de comandar uma rede de jogos ilegais no País. Cachoeira está preso desde 29 de fevereiro. Noleto admite ter conversado com Wladimir Garcez, ex-presidente da Câmara de Goiânia e apontado como um dos principais aliados de Cachoeira, o qual teria conhecido entre 2001 e 2002, quando trabalhava na Prefeitura de Goiânia.

Faxina. A reportagem da Veja desencadeou a chamada faxina no Ministério dos Transportes, com o afastamento e exoneração da cúpula da pasta devido a uma série de denúncias de corrupção. Pagot e demais dirigentes da área deixaram os respectivos cargos. Quase um ano depois, grampos da Polícia Federal, obtidos na Operação Monte Carlo, mostram Cachoeira e o ex-diretor da Delta Construções Cláudio Abreu conversando sobre o vazamento das informações ao jornalista Policarpo Júnior, da Veja. "Enfiei t udo no r... do Pagot", declarou Cachoeira, em grampo que consta no inquérito da PF. "Se vazaram (informações detalhadas da reunião para a revista), tinha duas pessoas que tinham trânsito com o Policarpo. Uma se chamava Thomas Traumann, que tinha trabalhado junto (com o jornalista)na Veja e trocava in- formações. A outra pessoa era Olavo Noleto, que circulava com desenvoltura e participou dessa reunião", afirmou Pagot.

O ex-diretor se disse surpreso com a divulgação das recentes gravações, que revelaram uma "negociata" para derrubá-lo. Questionado sobre as razões dos assessores do Planalto para tirá-lo do Dnit, foi evasivo: "O por- quê (dos vazamentos) não sei: se fizeram isso de caso pensado, se fizeram sob o comando do gover-no, se estavam fazendo como aloprados do PT, não sei", afirmou, ponderando não ter provas. Pagot disse que Noleto, que é de Goiás, seria amigo de Cachoeira e Abreu, frequentando festas na casa do ex-diretor da empreiteira. "Essa figura (Noleto) é uma figura singela, um gordinho amigo, mas é tido nos bastidores como "pau de dar em doido", "pau para toda obra". É um cara partidário e que está sempre a fim de fazer alguma esparrela. Lembra do caso dos aloprados? Sempre tem um cara do PT a fim de fazer alguma sacanagem", comentou. Assim que apareceu nas gravações da Monte Carlo, Noleto alegou que negociou com o ex-vereador Wladimir Garcez apoio do senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM) à candidatura da presidente Dilma em 2010, o que não se concretizou. Pagot afirmou que as investigações da Polícia Federal e da CPI do Cachoeira vão revelar sob encomenda de quem agiram Cachoeira e Abreu. E, também, se houve ordem do Planalto na suposta operação para prejudicá-lo. Segundo ele, o governo se pautou por uma reportagem "mentirosa" ao desencadear a "faxina" nos Transportes. "O Planalto se aproveitou para exonerar o PR e o Pagot. Fui leal ao governo", reclama. / F.F.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Alas petistas disputam relatoria e emperram CPI do Cachoeira


Eugênia Lopes, João Domingos

BRASÍLIA - A luta das correntes do PT para controlar o mais importante cargo da CPI do Cachoeira emperrou a escolha do relator. Dois grupos brigam pelo cargo: o do ex-líder Cândido Vaccarezza (SP) e o dos deputados Odair Cunha (MG) e Paulo Teixeira (SP). O presidente da CPI já está escolhido. Será o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). O favorito para a relatoria da CPI é Odair Cunha. Além do respaldo de líderes do governo, Arlindo Chinaglia (SP), e do PT, Jilmar Tatto (SP), e da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, Cunha conta com a simpatia da presidente Dilma Rousseff.

Diferente de Vaccarezza, que teria tido o nome vetado por Dilma, a quem serviu como líder até março. Mas Vaccarezza tem apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do presidente nacional do PT, Rui Falcão, e do ex-ministro José Dirceu. Diante do impasse, Jilmar Tatto tentará nas próximas 48 horas chegar a um consenso. A primeira reunião da CPI está marcada para quarta-feira. Vaccarezza enfrenta a maior resistência, por seu estilo “bateu levou”, visto por alguns petistas como nocivo aos trabalhos da CPI. Há ainda o temor de que ele esteja magoado com a forma como foi demitido da liderança do governo e vingue-se na CPI.

Mensaleiros e fichas-sujas. Assinaram a criação da CPI 72 senadores e 396 deputados. Chama a atenção a ausência de Valdemar da Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT), réus do mensalão. O deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho de outro réu, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, também não assinou. Assim como a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), que sofreu processo de cassação por ter recebido dinheiro de Durval Barbosa, operador do “mensalão do DEM” – escândalo que derrubou o então governador José Roberto Arruda.

Colaborou Eduardo Bresciani

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

CPI não teve o apoio de 21% dos congressistas


Presidente da Câmara, Marco Maia (PT), e líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT), não assinaram o pedido

Maia argumenta que adesão à CPI não é compatível com a sua função, mas afirma que defende a investigação

Gabriela Guerreiro

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e o líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), não assinaram pedido da CPI do caso Cachoeira, criada anteontem pelo Congresso Nacional.

No total, apenas 21% dos congressistas -117 de 513 deputados e 9 de 81 senadores- não apoiaram a comissão.

Entre os deputados estão Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP), réus do mensalão, e Zeca Dirceu (PT-PR), filho de outro réu, o ex-ministro José Dirceu.

O petista também prestou consultoria à empresa Delta -citada pela Polícia Federal como ligada ao empresário Carlinhos Cachoeira.

Maia disse que não considera a adesão à CPI "compatível" à função que ocupa. Apesar de não ter apoiado formalmente a abertura de investigações, ele defendeu que a comissão quebre os sigilos de todos os que tiveram contato com Cachoeira. "Eu começaria quebrando o sigilo bancário, fiscal, telefônico de todos aqueles que tiveram qualquer tipo de contato com o Cachoeira, mas quem vai tomar a decisão é o relator."

Chinaglia não foi encontrado na noite de ontem.

Quatro deputados suspeitos de envolvimento com Cachoeira assinaram o pedido: Sandes Júnior (PP-GO), Rubens Otoni (PT-GO), Stepan Nercessian (PPS-RJ) e Carlos Alberto Lereia (PSDB-GO).

Já o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), que corre o risco de perder o mandato por sua relação com Cachoeira, não apoiou a comissão.

A comissão também não teve a adesão dos deputados Sérgio Morais (PTB-RS) e Jaqueline Roriz (PMN-DF). Morais ficou conhecido por afirmar que se "lixava" para a opinião pública, e Roriz escapou de processo de cassação depois de aparecer em vídeo recebendo dinheiro de Durval Barbosa, delator do mensalão do DEM.

O PT vai indicar até terça o nome do deputado que vai ocupar a relatoria da CPI.

A presidente Dilma Rousseff falou ontem sobre a CPI: "A CPI é algo afeto ao Congresso. O governo federal terá uma posição absolutamente de respeito ao Congresso nessa área".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Oposição quer fatiar a CPI do Cachoeira

Adversários do Planalto defendem que a investigação seja dividida em sub-relatorias, para evitar a concentração de poder nos governistas
Paulo de Tarso Lyra, Erich Decat
Antes mesmo da instalação oficial da CPI mista que investigará as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados, governo e oposição já estão em clima de confronto quanto ao andamento dos trabalhos. O líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), quer propor a criação de sub-relatorias para facilitar os trabalhos de investigação, já que a comissão nasce com um escopo amplo de envolvidos. Além disso, a medida, se adotada, evitará um poder excessivo concentrado nas mãos do relator — um petista que será anunciado na próxima terça-feira."Mas é importante que os relatores e sub-relatores trabalhem em conjunto", defendeu ao Correio o líder do PSDB na Câmara, Bruno Aguiar(PE).
Possível integrante da CPI, o senador Jorge Viana (PT-AC) discorda da proposta feita por Bruno Araújo.Na opinião do petista, a ideia de implementar sub-relatorias poderá atrapalhar os trabalhos da comissão, pois criará um clima de disputa entre governo e oposição. "Se isso ( a divisão ) acontecer, será um desastre. Essa CPI não pode ser um acerto de contas", defendeu Viana.
Escalado como suplente da CPI na vaga destinada ao bloco de oposição do Senado, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) acredita que a divisão do trabalho por vários parlamentares ajuda nas investigações e evita que a maioria governista transforme os trabalhos em uma farsa política. "Como não acredito que vão dar algum espaço para a oposição, não podemos deixar tudo nas mãos apenas de governistas, porque, senão, a CPI não vai dar em nada", ressaltou o parlamentar pernambucano.
Para o deputado MiroTeixeira (PDT-RJ), a proposta não significa, de antemão, que os trabalhos da comissão serão prejudicados. Miro puxou na memória para exemplificar que o expediente, adotado durante a CPI que levou ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor, surtiu efeito. Curiosamente, Collor é um dos senadores que farão parte desta CPIdoCachoeira."Mas se alguém está pensando que, ao ter uma sub-relatoria, passará a ser dono de um pedaço da CPI, está enganado", alertou Miro.
Mensalão
O expediente de fatiar os trabalhos de investigação também foi adotado na CPI dos Correios, de 2005, que investigou o escândalo do mensalão e subsidiou o indiciamento de 40 réus pelo Supremo Tribunal Federal. Foram cinco sub-relatorias: Fundos de Pensão, sob responsabilidade do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA); Normas de Combates à Corrupção, sob responsabilidade do deputado Ônix Lorenzoni (DEM-RS); Instituto de Resseguros do Brasil(IRB), conduzida pelo ex-deputado Carlos Williams (MG); Movimentaç ã o Financeira , com Gustavo Fruet (hoje no PDT, na época no PSDB-PR); e Contratos, elaborada pelo atualministro da Justiça, então deputado pelo PT paulista, José Eduardo Cardozo (SP).
Todos esses trabalhos foram anexados ao texto final elaborado pelo relator Osmar Serra gio ( PMDB - PR ) . Para o deputado ACM Neto, atual líder do partido na Câmara, não existe nenhum problema que a fórmula seja repetida nesta CPI.Mas ele prefere ser prudente para não antecipar esse tipo de disputa enquanto o nome do relator não for definido. "A CPI ainda precisa ser instalada. A partir daí vamos conversar com os demai s integrantes do bloco para definirmos nossa linha de atuação", disse ele.
Longe da polêmica, o líder do PMDB na Câmara , Henrique Eduardo Alves (RN), afirma que o objetivo do seu partido é investigar todas as suspeitas levantadas nas Operações Vegas e Monte Carlo, realizadas pela Polícia Federal. Ele nega que a escolha dos dois deputados peemedebistas para a CPI tenha o objet ivo de prejudicar os governos estaduais. Henrique escolheu a deputada Íris Araújo (GO) e Luiz Pitiman (DF). "Pitiman é um empresário que iniciou a carreira política e Íris é vice-presidente nacional do PMDB", ressaltou. "O PMDB não quer politizar nada. Não vai atacar ninguém gratuitamente, mas também não vamos blindar ninguém", assegurou.

Próximos passos

» Os partidos têm até terça-feira para indicar os nomes que vão compor a CPI. Ao todo, serão 32 cadeiras divididas entre 16 deputados e 16 senadores, com igual número de suplentes.

» Em razão da proporcionalidade do tamanho das bancadas, 25 cadeiras ficaram com integrantes da base aliada. O restante, com a oposição.

» Após a indicação dos nomes, o parlamentar mais velho do colegiado tem até 48 horas para convocar uma sessão em que serão escolhidos o presidente e o vice. Apesar dessa formalidade, o comando da CPI ficará com o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). O nome do vice será indicado pela bancada do PT da Câmara, único partido que até o momento não apresentou nenhum nome para a comissão.

» Na primeira sessão, o presidente escolherá o nome do relator, também acordado anteriormente com o PT da Câmara. Na mesma audiência será definido o cronograma inicial das atividades.

» O prazo de duração da CPI é de 180 dias, podendo ser postergado por igual período. O custo estimado para a realização das atividades é de R$ 200 mil.

Pendências na indicação dos integrantes

Câmara

PT

Deve decidir em reunião de bancada na próxima terça-feira o 
nome do relator, os três titulares e os três suplentes.
PMDB

Deputado Édio Lopes (RR) foi indicado ontem para ocupar 
a segunda vaga de suplente do partido
PP

Deputado Gladson Cameli (AC) foi escolhido ontem 
para vaga de titular. Suplente indefinido.

Senado

Bloco da Maioria (PMDB/PP/PSC/PMN/PV)
Falta a indicação dos cinco suplentes. 
Bloco de apoio ao governo (PT/PDT/PSB/PCdoB/PRB)
Falta a indicação de três suplentes
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

CPI pode quebrar sigilo de toda a turma do bicheiro


Em defesa da quebra dos sigilos

Presidente da Câmara cobra a abertura dos dados bancários, fiscais e telefônicos de quem teve contato com Cachoeira

Júnia Gama, Erich Decat

A quatro dias da instalação da CPI mista que irá investigar as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com parlamentar es , autoridades e empresas públicas e privadas nas operações Vegas e Monte Carlo, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), defendeu a quebra do sigilo de qualquer pessoa que tenha tido contato com o contraventor. "Cabe ao relator estabelecer o ritmo das investigações e por onde vai começar. Eu começar ia quebrando o sigilo bancário, fiscal e telefônico de todos aqueles que tiver am qualquer tipo de contato com o Cachoeira", afirmou Maia.

Segundo o presidente da Câmara, a intenção seria acabar com o "poder paralelo" que teria se instalado a par tir das conexões entre empresas e políticos com Cachoeira. Maia ironizou a extensão dos contatos do bicheir o. "Eu inclusiv e fiz um comentário de que as empresas de comunicação e telefonia devem estar atrás do Cachoeir a para saber como ele colocou tanto contato naquele celular" disse. Na próxima terça-feira, os partidos deverão apresentar os nomes dos integrantes que irão compor a CPI. O PT ainda mantém as indicações em sigilo e lideranças da legenda negam que esteja havendo inter ferência do Palácio do P lanalto ou do ex-pr esidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Essa questão de que há interferên cia de A, B ou C para turbinar ou abafar a CPI faz par te da imaginação de alguns", disse Maia. Ontem, o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), afirmou que já escolheu os nomes da cota petista e r eforçou que não há interferências par a que as investigações poupem o governo . " Eu sei exatamente o que faremos na CPI. Os nomes que vamos indicar, o plano de trabalho", disse.

Relatoria

Na próxima semana, o presidente e o relator da CP I serão anunciados. O senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) já foi indicado por seu par tido par a encabeçar os trabalhos . Na Câmara, um acor do entre as duas maior es bancadas definiu que o PT ficará com a relatoria, mas o clima de disputa para a indicação do deputado que ocupará o cargo vai se estender até a próxima terça-feira, quando a bancada do partido se reunirá para tentar chegar a um acordo . Os nomes mais cotados hoje são os do ex-líder do governo Cândido Vaccarezza (PT ) e o do ex-líder do PT Paulo Teixeir a (SP). Ambos em lados opostos também na composição de força dentro da bancada.

Os nomes dos deputados Ricar do Berzoini (SP) e Odair Cunha (MG) também transitam nas bolsas de apostas . O primeiro, no entanto, enfrenta o problema de ser presidente da principal comissão da Câmara, a CCJ. Paulo Teixeir a confirma o desejo de assumir o posto de relator, função estratégica uma vez que o texto preparado por ele poderá culminar até em pedido de cassação de mandatos de colegas . " Quando fui sondado , disse que poderia", ressaltou o parlamentar.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Cármen Lúcia: ‘Nosso dever é julgar o mensalão. E o resultado é do eleitor’


ENTREVISTA

Cármen Lúcia Antunes Rocha, ministra do STF e a primeira mulher a presidir o TSE

Para ministra, julgar processo em época de campanha é viável: ‘Nenhum dos 2 tribunais tem de se condicionar

Mariângela Gallucci

BRASÍLIA - Primeira mulher a presidir o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha disse que não haverá problemas se o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar o processo do mensalão em agosto, em plena campanha eleitoral. “Nosso dever é julgar. O resultado do julgamento é do eleitor”, disse ela, que é ministra do STF e vai participar do julgamento do mensalão.

Como presidente do TSE, o que a senhora pretende fazer para combater o abuso de poder político e econômico em campanhas?

Pretendo dar toda prioridade a processos que se refiram às eleições e que ainda não foram julgados. Estou trabalhando para a gente instalar o processo eleitoral eletrônico, para dar maior celeridade, para que processos, impugnações e questionamentos sejam resolvidos o mais depressa possível. Porque aí os resultados das eleições serão aqueles que deverão prevalecer. E esses abusos, se vierem a acontecer, que sejam cortados de imediato.

● Qual o impacto nas eleições com a entrada em vigor, este ano, da Lei da Ficha Limpa?

É preciso agora que o cidadão saiba que ele é que é o autor da lei e, portanto, vote limpo. Se votar sem se deixar influenciar por informações equivocadas, por desconsiderar pessoas que descumpriram exigências da Lei da Ficha Limpa, ele é que fará real-mente c om que haja a grande mudança. É o cidadão que faz a eleição ser limpa. Depois da Lei da Ficha Limpa, o voto limpo.

Como controlar a participação dos atuais ocupantes de cargos públicos (presidente e ministros) na campanha deste ano?

Vejo os atuais governantes pelo menos declarando que eles vão ser muito imparciais. Eles sa- bem que a eleição é municipal e que é preciso que se tenha todo o cuidado. Espero que eles realmente tenham esse cuidado.

O presidente da OAB, Ophir Cavalcante, disse que a origem da corrupção está no financiamento privado de campanhas. A senhora concorda?

Acho que tem desvio, sim, no financiamento, com os chamados financiamentos privados. Talvez um dos caminhos seja o financiamento ser mais restrito, especialmente de empresas.

O ministro Ricardo Lewandowski disse ao Estado que vai começar a julgar o mensalão em agosto. A senhora acha adequado? O julgamento não poderia contaminar a eleição, ou vice-versa?

Nenhum dos dois tribunais tem de se condicionar. O que é urgente num tribunal não pode ser desconsiderado por causa das atividades no outro. Acredito que o eleitor seja capaz de fazer a crítica, a separação e a união do que ele precisar. O certo é que o nosso dever é julgar. O resultado do julgamento, qualquer que seja ele, é do eleitor, é do cidadão.

FONTE:  O ESTADO DE S. PAULO