domingo, 30 de junho de 2013

Dilma em chamas - Eliane Cantanhêde

O Datafolha confirma para o leitor/eleitor o que oposições, Planalto e Lula já sabiam: a popularidade de Dilma esfarela e a reeleição vai para o beleléu. Uma queda de 27 pontos pode ser mortal.

Não foi por falta de aviso. Dilma entrou mal em 2013, autoconfiante com os recordes nas pesquisas, surda para o baixo crescimento com inflação alta, muda para os políticos e estridente com os auxiliares.

A popularidade já tinha despencado oito pontos antes mesmo das manifestações, pela falta de comando político e de rumo na economia. A explosão social fechou o cerco.

E não houve má vontade da mídia, tão demonizada no poder. Telejornais e jornais resistiram a admitir que a crise batia à porta da presidente, mesmo com o Planalto cercado na quinta-feira aguda. Não foi só o Exército que protegeu Dilma...

Mas o presidencialismo brasileiro é muito concentrador, e os louros e as culpas de tudo e qualquer coisa são sempre do (da) presidente. Dilma ainda pode se recuperar em parte, mas a abstrata reforma política não sensibiliza as massas e ela nunca mais será a mesma.

A perda de mais da metade da popularidade (8 mais 27) deixa o PT em pânico, desequilibra as peças no PMDB e mexe com os cálculos de toda ordem na complexa base aliada.

Do outro lado, reacende a candidatura Eduardo Campos, dá gás a Marina Silva e cria a sensação de "agora vai" na campanha de Aécio Neves, em que as atenções estão no PMDB, que tem faro para o poder.

Dilma ofendeu o vice Temer com a "barbeiragem" da constituinte exclusiva, bateu de frente com o deputado Eduardo Cunha, que manda na bancada, e não tem ideia do efeito arrastão que o PMDB pode ter nos outros partidos aliados.

Mas o mais devastador para Dilma é o efeito em Lula. Calado estava, calado continua. Soltou nota burocrática na sexta-feira e escafedeu-se para Lilongwe e Adis Abeba. Posto a salvo, enquanto Dilma vira cinzas.

Fonte: Folha de S. Paulo

Marina, a evangélica - Merval Pereira

A queda espetacular de popularidade da presidente Dilma registrada na pesquisa Datafolha de ontem - apenas 30% dos consultados consideram seu governo "bom"ou "ótimo", contra 57% na primeira semana deste mês - tem reflexos inevitáveis na corrida presidencial. O PSDB tem uma pesquisa nacional que mostra uma reversão de expectativas, com o segundo turno garantido e os adversários do PT tendo a maioria dos votos, embora a presidente Dilma continue à frente.

Pela pesquisa, a presidente teria hoje 40% dos votos; a ex-senadora Marina Silva, 22%; o senador Aécio Neves, 20%; e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, 5%. Mais uma vez, Marina surge como a grande beneficiária dos movimentos de contestação que ocorrem pelo país, pois, embora tenha sido senadora por 16 anos e fundadora do PT, ela não é percebida pela população como uma política profissional.

Mas Marina tem também um lado evangélico que, segundo estudos recentes, foi decisivo na sua votação na campanha de 2010. O professor Cesar Romero Jacob, diretor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, lançou recentemente o e-book "Religião e Território no Brasil: 1991/2010", da Editora da PUC, trabalho que, ao analisar as transformações no perfil religioso da população brasileira, com o crescimento do número de evangélicos, pode ser útil para o entendimento do cenário eleitoral do ano que vem, considerando a participação crescente de pastores pentecostais na política.

Segundo Romero Jacob, o pluralismo religioso se consolidou no país, com a Igreja Católica perdendo 24 pontos percentuais. O número de católicos cai de 89% da população para 65% em 30 anos. No mesmo período, os fiéis do conjunto de Igrejas Pentecostais passam de 3% da população, em 80, para 13% em 2010. "O Brasil deixou de ser um país de hegemonia católica para ser um país de maioria católica".

Segundo o estudo, no Nordeste, em Minas Gerais e no Sul do Brasil, o percentual de católicos se mantém muito elevado, mas nas áreas de imigração para a fronteira agrícola e mineral do Centro-Oeste e Norte e na periferia das regiões metropolitanas os pentecostais crescem. "De um modo geral, diz Romero Jacob, nas áreas de expansão recente e, sobretudo, num certo caos social, o pentecostalismo se implantou".

Essa seria a razão da participação de Marina Silva em cultos evangélicos para a coleta de assinaturas em apoio à criação do seu partido, a REDE, como seus militantes fizeram ontem na Marcha para Jesus, em São Paulo. Apesar de o livro se ater à questão religiosa, os mapas permitem algumas ilações políticas, uma vez que os pastores têm demonstrado certo controle sobre o eleitorado evangélico pentecostal.

Na política, na época da eleição de 2010, na análise de Romero Jacob, Marina conseguiu atrair os insatisfeitos com a campanha do Serra, os petistas insatisfeitos com os rumos do governo do PT, os evangélicos e até os verdes, que não têm uma expressão tão grande assim do ponto de vista eleitoral. Mas o que parece agora, com dados novos, diz o professor da PUC, quando se analisa o mapa dos pentecostais e não determinados com o mapa da votação da Marina, "mesmo que não sejam exatamente iguais, têm pontos de contato muito nítidos".

Embora Marina tenha construído uma carreira em torno da questão ambiental, isso não significa dizer que os evangélicos não a tenham apoiado fortemente. "É claro que a Marina não é uma evangélica óbvia, ela tem uma sofisticação na fala, no sentido de não estar diretamente ligada à questão religiosa", analisa Romero Jacob, ressaltando que "quem é muito óbvio, como Garotinho e Crivella, tem uma rejeição muito alta exatamente pela mistura da religião com política". Ou, como define, "tem um piso alto, mas um teto baixo".

Em 2010, Marina tinha a agenda verde na mão, mas agregou pouco ao PV. Os 20 milhões de votos não aumentaram a bancada de deputados federais do PV. "Quando se vê Marina indo buscar assinaturas em cultos evangélicos para viabilizar seu partido, isso significa que aí ela se restringe", comenta Romero Jacob.

Entre 22% e 40% se declara evangélica no estado de São Paulo, que tem ¼ do eleitorado, o que dá a Marina robustez eleitoral, "insuficiente para levá-la ao segundo turno, mas suficiente para construir um segundo turno".

Os mapas indicam, segundo Romero Jacob, que a votação da Marina em 2010 foi menos dos verdes e dos eleitores insatisfeitos e mais dos irmãos, sobretudo no Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. "Mesmo que a Marina não tenha feito campanha voltada para as igrejas, as igrejas fizeram campanha para ela".

Os pontos-chaves

1. O PSDB tem pesquisa mostrando que o segundo turno em 2014 é certo

2. O lado evangéllico de Marina foi decisivo para seu desempenho em 2010, segundo o professor Cesar Romero Jacob

3. Essa influência ocorreu sobretudo no Rio, em São Paulo e no Espírito Santo

Fonte: O Globo

Apropriação indébita - Dora Kramer

Quando o presidente do Senado - alvo de processo no Supremo Tribunal Federal por peculato, falsidade ideológica e uso de documentos falsos - posa como um dos principais condutores do processo de ouvidoria das ruas que reclamam, entre outras coisas, por uma trava da corrupção, há uma patente dissonância entre as mensagens e a confiabilidade dos candidatos a mensageiros.

O senador Renan Calheiros, suas suspeitas circunstâncias e a insensibilidade do Senado ao reconduzi-lo à presidência são componentes da bomba que explodiu em forma de exaustão. As excelências seguem tentando ignorar essa evidência; por cinismo ou impossibilidade de questionar institucionalmente um papel cuja legitimidade a Casa conferiu a ele, não importa.

Fato é que Calheiros no papel de arauto das ruas é o retrato resumido e invertido de todos os que agora reagem como se não tivessem nada a ver com a mensagem, tentando fazer bonito sem reconhecer tudo o que fizeram de feio nem se dispor a garantir que daqui para frente tudo vai ser diferente.

O senador é apenas parte do cenário de desfaçatez e apropriação indevida dos reclamos. Nele atua um elenco enorme no Legislativo com seus atos secretos e convivência cordial com processados, investigados e condenados; no Executivo, com catequese ufanista e exuberante ineficiência emoldurada por 39 ministérios.

Esses atores contaram com a passividade da sociedade, que realmente parecia eterna, incurável e contagiosa. Quando a massa resolveu mudar o tom da conversa de maneira contagiante, transformaram-se todos subitamente em porta-bandeiras dos avanços como se não fossem eles mesmos os mestres-salas do atraso.

O Judiciário, a despeito de suas deformações sobre as quais dão notícia privilégios corporativos e maus serviços prestados no dia a dia, merece ressalva na figura do Supremo Tribunal Federal.

Foi o primeiro a perceber que era preciso abrir os ouvidos às demandas da sociedade e por isso foi acusado, pelos mesmos engenheiros de obra feita de agora, de praticar ativismo indevido e usurpar poderes dos Poderes inativos. Demorou, é verdade, mas deu uma resposta efetiva ao não permitir mais protelações na execução da pena do deputado Natan Donadon.

As demais providências - pactos, cancelamentos de reajustes, anúncios de investimentos, endurecimento de leis e um plebiscito sem fio terra - por ora são terrenos vendidos em paraíso imaginário. Produtos de uma hiperatividade de ocasião.

E até que se corrijam falhas, se reconheçam erros cometidos e se firme um compromisso em torno de procedimentos totalmente diferentes, não merecem credibilidade. Tanto soam oportunistas esses valentes soldados de causas até então solenemente ignoradas, que não há disposição de trégua à vista.

O governador Eduardo Campos, de Pernambuco, fez esse alerta. Não atraiu muita atenção e ficou perdido em meio a declarações e reações desencontradas de autoridades que, conforme apontou, ainda atuam no modo analógico enquanto a sociedade já opera "no sistema digital".

É um aviso importante para todas as forças políticas, de governo e de oposição: pegar carona nos movimentos não será suficiente para que nenhuma delas consiga capitalizar eleitoralmente o descontentamento.

Casa de Irene. A presidente Dilma Rousseff recebe amanhã a oposição para discutir o momento. Como gesto, vale o simbolismo. Do ponto de vista objetivo, efeito nenhum, pois o problema do governo não está do lado de fora, mas dentro da própria casa de onde partem as críticas mais ácidas, vicejam aflições represadas e diluem-se os receios de contestação na proporção direta da perda do capital político, hoje dependente do imponderável.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Escolhidos e excluídos - Tereza Cruvinel

Com o legado do lulismo em risco, petistas dizem que o maior erro de Dilma foi a desatenção para com a própria base social e política

"Quem joga os amigos ao mar não contará com eles na tempestade." Essa frase foi dita à presidente Dilma Rousseff, no início de seu governo, em conversa sobre o tratamento que vinha sendo dado a aliados e remanescentes do governo Lula. Mais que os amigos, dizem os petistas no calor da crise, Dilma foi desatenciosa para com a base social e política do próprio lulismo, que garantiu sua eleição. E a tempestade chegou. Na semana passada ela se dedicou a uma maratona de encontros com movimentos sociais – Passe Livre, centrais sindicais e LGBT – e com políticos aliados: presidentes de partidos e líderes que integram o Conselho Político do governo, que ela jamais tinha convocado.

Agora, quer ouvir a oposição, com a qual nunca houve diálogo, ainda que formal. Pessoas do governo procuraram outros segmentos abandonados. Porém, na avaliação de petistas, isso não bastará para quebrar o isolamento criado pelos protestos, mas também por erros políticos e de comunicação, antigos e novos.

Iniciada a tempestade das ruas, o mal-estar já era grande. A bancada do PT engolira suas mágoas enquanto as bancadas dos partidos aliados respondiam ao desprestígio com guerrilhas nas votações deste ano. Na segunda-feira, os governadores e prefeitos chamados ao Planalto se sentiram figurantes na reunião sobre um pacto que não foi discutido nem negociado previamente. A proposta de constituinte exclusiva, ao ser apresentada sem consulta prévia, irritou o Congresso e vitaminou a oposição. Nem sequer o vice-presidente, Michel Temer, constitucionalista, fora informado.

Os meninos do Passe Livre saíram praguejando contra a falta de objetividade. As centrais sindicais amuadas porque não se tratou da agenda delas, que inclui o fim do fator previdenciário e a redução da jornada. Na era Dilma, o latifúndio foi favorecido em relação aos índios e ambientalistas, e segmentos conservadores, como os evangélicos fundamentalistas, fortalecidos diante dos movimentos libertários.

Cobrou-se o silêncio de Lula, mas ele não esteve calado. O que evitou foi declarações pela imprensa. Conversou com líderes de movimentos sociais, os de sua base, e os estimulou a irem para as ruas. "Se querem luta de massas, vamos fazer luta de massas", teria dito antes de embarcar para a África. As centrais, todas elas, marcaram um ato conjunto para o dia 11, que pode ter o formato de protesto ou de greve geral. Isso elas ainda estão definindo, mas será um ato unitário e diferenciado dos protestos "difusos", do qual se aproveitam tantos grupos obscuros, inclusive uma extrema direita renascida. O ato das centrais terá articulação, líderes e propostas. A UNE e UbeS já mostraram a cara.

Julho, tudo indica, continuará movimentado. O Congresso terminou a semana entregando, com a eficiência ditada pelas ruas, uma boa cesta de votações, como a derrubada da PEC 37 e a nova criminalização da corrupção. Mas, tendo no colo a proposta de um plebiscito sobre a reforma política, que terá de viabilizar, embora a preferência nítida seja pelo referendo. Quando, no futuro, os historiadores escreverem sobre o levante junino, qualquer que seja o nome que lhe deem, alinharão muito mais que esses elementos para explicar como ocorreu tão brusca e veloz alteração na conjuntura que ameaça o legado do lulismo e do PT, na economia e no social.

Na verdade, a dilapidação foi lenta e contínua, e teve como corrosivo o descaso com a política e com a base social, sem falar na classe média.

Aulas no plebiscito

Se o plebiscito vingar mesmo, terá uma campanha curta em agosto. Os partidos – por mais que os manifestantes não queiram, eles são os atores da representação democrática – formarão frentes parlamentares para defender diferentes preferências. O tempo de tevê será igual para todos. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) já defende, entretanto, que boa parte dele seja reservada ao TSE, para a veiculação de explicações didáticas sobre temas com o voto distrital e voto proporcional; lista aberta ou lista fechada; financiamento público ou privado de campanhas. A reforma política tem que ir além, mas outros pontos não devem entrar. Caberá ao Congresso entender o recado das ruas e aprovar as mudanças complementares.

Junto e misturado

Só não viu quem não quis que nesses protestos havia mais que indignação política. As forças de segurança já sabem que no Rio, por exemplo, atuaram mercenários do tráfico, em revanche contra as UPPs, que minaram seus negócios. Os donos de vans, do transporte pirata suprimido pelo prefeito Eduardo Paes, mandaram seus vândalos quebrar os ônibus. Outras forças ocultas estão sendo identificadas.

Fonte: Estado de Minas

A passeata de 1968 foi o fim de um ciclo - Elio Gaspari

Na semana passada, enquanto as multidões continuavam nas ruas, ecoou a memória da Passeata dos Cem Mil, de 26 de junho de 1968. A geração daqueles dias, com sua magnífica experiência, atribuiu-se uma capacidade de explicar o presente fazendo paralelos com o que viveu. Assim, além de não se explicar o presente, frequentemente muda-se o passado.

No dia 26 de junho de 1968, aconteceram duas coisas. Às 4h30m da madrugada, o soldado Mario Kozel Filho, de 18 anos, estava na guarita de sentinela do QG do II Exército, no Parque do Ibirapuera, e viu uma caminhonete C-14 vindo em direção ao portão do quartel. Desgovernada, ela parou num muro. O soldado foi ver o que era, e a C-14, com 50 quilos de dinamite, explodiu e matou-o. Horas depois, numa bela tarde do Rio, a passeata saiu pela avenida.

Contavam-se nos dedos as pessoas que gritavam "O povo unido jamais será vencido" dando importância à Vanguarda Popular Revolucionária, que explodira a bomba no Ibirapuera.

Seis meses depois, o governo baixou o AI-5, ninguém foi para a rua, e o Brasil entrou no seu pior período ditatorial. Não foi a passeata que levou a isso. Ela era o fim de um ciclo. A bomba e o interesse do governo em subverter a precária ordem constitucional da época foram o início de outro.

Festejando-se a memória da passeata, varreu-se para baixo do tapete a lembrança de um erro catastrófico. Passaram-se 45 anos, e centenas de pessoas que participaram de atos terroristas maquiaram-se como combatentes da causa democrática. Lutavam contra uma ditadura, em busca de outra, delas.

É o caso de se perguntar: o que é que isso tem a ver com o que está acontecendo no Brasil de hoje? Nada. O professor Pedro Malan já disse que no Brasil não só o futuro é imprevisível, mas também o passado. O sumiço da bomba do Ibirapuera na memória do 26 de junho de 1968 mostra que ele tem razão. Quem queria golpear a democracia? Cada um tem direito a responder como bem entender. O que não se pode é achar que há 45 anos tanto o marechal Costa e Silva como os tripulantes do comboio que levou a bomba ao QG do Ibirapuera quisessem defendê-la.

Tarso Genro deveria devolver os livros

Governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça, Tarso Genro deveria pedir à sua polícia que devolva aos militantes da Federação Anarquista Gaúcha os livros que capturou durante uma diligência feita em sua sede.

Apreender livros não fica bem para um governador que se diz empenhado numa "revolução democrática". A situação piora quando se vê que o chefe da Polícia Civil, delegado Ranolfo Vieira Jr., informou que "é importante dizer que foi apreendida vasta literatura, eu diria assim, a respeito de movimentos anarquistas".

O comissário Genro sabe que a expressão "vasta literatura" vem de outro tempo, quando apreenderam até "O vermelho e o negro", romance de Stendhal. No caso, admita-se que em muitos países do mundo se pensa, como em Porto Alegre, em recolher obras de Noam Chomsky. Em 2002 o professor esteve em Porto Alegre para o Fórum Social Mundial, festejado pelo PT. O comissariado mudou, e Chomsky não acompanhou os novos tempos.

O problema torna-se significativo quando se sabe que na "vasta literatura" estava um volume de "Os anarquistas no Rio Grande do Sul" com histórias e fotos de velhos militantes (todos mortos) do anarquismo local. Ele foi publicado em 1995, informando que os "direitos desta edição" eram da Secretaria de Cultura de Porto Alegre, na gestão do prefeito Tarso Genro. O autor, João Batista Marçal, jamais recebeu um tostão pela obra.

Plebiscito

O senador Francisco Dornelles listou as variáveis que deveriam constar numa consulta plebiscitária séria sobre um novo sistema eleitoral.

Por exemplo:

O voto distrital deve ser puro ou misto? Se for misto, como serão divididas as cadeiras? Quem ordenará uma lista fechada, os mandarins ou os eleitores? Como serão demarcados os distritos?

O voto deve ser obrigatório? As empresas perdem a capacidade de investir em candidatos? E os cidadãos? Poderão doar só para os partidos? Haverá candidatos avulsos? Nesse caso, quem os financiará? E a reeleição?

Numa conta conservadora, a cédula precisaria apresentar pelo menos 20 perguntas.

Isso se o assunto fosse tratado seriamente.

É ou não é?

No início da semana, Jilmar Tatto, secretário de Transportes do prefeito Fernando Haddad, condenou a ideia de se instalar uma CPI na Câmara dos Vereadores para discutir tarifas e serviços de ônibus de São Paulo. Foi claro:

"Sou totalmente contra, porque CPI, geralmente, quando se instala, é para ficar achacando o setor, não é para resolver, tirar dúvidas."

Para quem viu o que aconteceu com a CPI do Banestado na Câmara dos Deputados, ele tem um argumento forte.

Dois dias depois, a bancada petista apoiou a criação da CPI. Tatto desculpou-se por meio de uma nota lida por seu irmão Arselino, como outro (Jair), é vereador e petista.

Eremildo, o idiota, refraseou a condenação:

"Sou totalmente a favor, porque CPI, geralmente, quando se instala, é para ficar achacando o setor, não é para resolver, tirar dúvidas."

Aula de economia

Os repórteres Fernanda Odilla e Filipe Coutinho cavucaram uma cifra que poderia ajudar a doutora Dilma e o ministro Guido Mantega a entender os fenômenos da inflação de serviços e da prodigalidade com que se torra o dinheiro da Viúva.

Em nove pronunciamentos em cadeia nacional feitos até dezembro passado, cada maquiagem da doutora custou R$ 400. Nos três ocorridos entre dezembro de 2012 e março deste ano, cada serviço custou R$ 3.125, uma alta de 681%. Nem quando Yara Iavelberg levou-a para um corte no famoso Jambert o realce custou tanto. Dinheiro público tem um zero a mais.

No seu salão paulista, Celso Kamura, que cuida do visual da companheira em Brasília, cobra R$ 680 por um trato no cabelo e na estampa.

Em 1993 o presidente Bill Clinton pagou US$ 200 por um corte em Los Angeles, enquanto o Congresso tesourava o Orçamento. Deu um bolo danado.

A força do ronco

Antes do ronco da rua, o projeto do governo que destinava dinheiro do pré-sal para a Educação limitava-se a 75% dos lucros que o Tesouro obtivesse com aplicações de recursos. Era coisa de R$ 25,8 bilhões.

Com o ronco, a Câmara dos Deputados fez com que a percentagem incidisse sobre todo o lucro do Tesouro, o que decuplicou o investimento em Educação, para R$ 285 bilhões.

Drª Juliana

Tudo o que está publicado neste espaço é de pouca valia se for comparado com o texto "O dia em que a presidenta Dilma em dez minutos cuspiu no rosto de 370.000 médicos brasileiros", da cirurgiã carioca Juliana Mynssen. O título é um pouco forte, mas é dela e permite achá-lo na rede.

Fonte: Folha de S. Paulo/ O Globo

Pesquisa zera a sucessão - João Bosco Rabello

A queda vertiginosa nos índices de aprovação, que a devolveu ao patamar histórico de votação do PT antes da primeira eleição de Lula, - 30% -, marca o ingresso da presidente Dilma Rousseff numa etapa em que a meta passa a ser salvar o que resta de seu governo.

A reeleição, em pouco mais de 30 dias, deixou de ser uma certeza para transformar-se em meta improvável, segundo avaliações da sua própria base de sustentação.

Estimulante para qualquer candidato que parte do zero, o índice a que desceu a presidente é dramático para quem está no cargo e pretende a reeleição. Não autoriza sequer a previsão de chegada ao segundo turno, o que no seu caso, indica uma velocidade inédita na corrosão de um capital político que, há 60 dias, avalizava a vitória no primeiro turno.

O tempo também conspira contra a capacidade de reação da presidente, cuja consistência depende de movimentos ousados que a indisporiam ainda mais com sua base, onde o descontentamento, principalmente no PT, já virou fogo amigo.

Possibilidade de reação existe, mas poucos acreditam que a presidente a encare pela ruptura que significaria com sua base, sem garantias de êxito. Como reduzir à metade os ministérios, por exemplo.

Passa também pela mudança de rumos da economia, cuja crise atingiu o bolso do eleitor bem antes do que previra a otimista área de marketing que orienta as ações de seu governo.

Como se vê, não é pouco, considerando as circunstâncias políticas desfavoráveis. A pesquisa agora divulgada traz índices que o Planalto já conhecia de suas consultas e responde pelo movimento queremista no PT pelo retorno de Lula.

Esse movimento, que o ex-presidente sugere avalizar com seu silêncio público, se materializado, terá o efeito de liberar os aliados dos compromissos com a reeleição.

Para partidos como o PMDB e o PSD, uma coisa é Dilma, outra, Lula - a primeira sem qualquer historicidade no PT; o segundo, o próprio PT.

E resta ainda a aventura embutida no retorno do ex-presidente, que provavelmente já não ostenta os mesmos índices com que encerrou seus dois mandatos e, portanto, já não seria uma aposta incondicional.

Em outro cenário, bem mais remoto, o PT teria de admitir não concorrer com candidato próprio - e aí o nome mais palatável ao partido seria o inimigo da hora, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Efeito cascata

Também desgastado pelas ruas, o presidente do PT, Rui Falcão, tem sua reeleição ameaçada. O deputado Paulo Teixeira (SP) se lança ao posto na próxima quinta-feira, com apoio do governador Tarso Genro (RS) e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Agenda positiva

O Congresso manterá a agenda positiva na próxima semana. A Câmara deve enterrar o projeto da “cura gay”. No Senado, Renan Ca-lheiros, alvo dos protestos, quer aprovar o passe livre para estudantes nos transportes públicos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Antonio Carlos Jobim - Chega de saudade

Os ombros suportam o mundo – Carlos Drummond de Andrade

Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

sábado, 29 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA – ITV: outro planeta

O Brasil está indo à lona, mas a presidente da República só quer tratar de um assunto: impor ao país um plebiscito sobre reforma política. Chega a ser quase um escárnio ao desejo expresso pelos milhões de brasileiros nas manifestações das três últimas semanas. Plebiscito, nesta altura do campeonato, é coisa de lunáticos ou, mais provavelmente, de gente muito mal intencionada e que não está nem aí para os reais problemas do país. É farsa ou golpe.

Instituto Teotônio Vilela, in “Em outro planeta”28/6/2013

Manchetes dos jornais de hoje

O GLOBO
Donadon se entrega e Brasil tem 1º deputado presidiário
Bolsa: pior semestre desde 2008
Herança maldita para 2015
Projeto ameaça contratos em vigor
Promessa de diálogo

FOLHA DE S. PAULO
Aprovação a Dilma despenca de 57% a 30% em 3 semanas
Deputado é o 1º parlamentar preso na redemocratização
Oito em cada dez pessoas apoiam as manifestações
Bolsa paulista tem pior semestre em quase 5 anos
Economista está entre saqueadores de protesto em SP
Governos não deixarão legado da Copa, diz Paes

O ESTADO DE S. PAULO
Donadon se entrega e é o 1º deputado preso desde 1974
Presidente se cala sobre ‘cura gay’ em reunião com o LGBT
‘Dilma não ouviu a voz das ruas’, diz Marina
Bovespa tem pior semestre desde 2008

ESTADO DE MINAS
Impasse nas estradas
Deputado se entrega e vai para a cadeia

O TEMPO (MG)
Oposição acusa Planalto de mascarar plebiscito
Após ser considerado foragido, deputado Donadon se entrega à Polícia Federal
Dólar fecha em alta de 1,63% e volta a ultrapassar R$ 2,20

CORREIO BRAZILIENSE
Do Congresso para a Papuda
Nas ruas contra os cubanos
Dólar em alta puxa inflação

GAZETA DO POVO (PR)
Chuvas deixam 59 municípios paranaenses em estado de emergência
Alkmin corta gastos. Dilma vai ouvir jovens
Funcionários de parque matam garota de 14 anos

ZERO HORA (RS)
Fracassa acordo para resolver crise da areia
Projeto UFRGS estuda aderir ao Sisu em 2014
Como passar a limpo os gastos da Copa

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Justiça enfraquece a greve dos ônibus
Prisões simbólicas de políticos
Dilma se aproxima
Copa do Mundo não interfere no PIB do país sede, diz pesquisa

O que pensa a mídia - editoriais do jornais de hoje

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Aprovação a Dilma despenca de 57% a 30% em 3 semanas

Popularidade de Dilma cai 27 pontos após protestos

Ricardo Mendonça

SÃO PAULO - Pesquisa Datafolha finalizada ontem mostra que a popularidade da presidente Dilma Rousseff desmoronou.

A avaliação positiva do governo da petista caiu 27 pontos em três semanas.

Hoje, 30% dos brasileiros consideram a gestão Dilma boa ou ótima. Na primeira semana de junho, antes da onda de protestos que irradiou pelo país, a aprovação era de 57%. Em março, seu melhor momento, o índice era mais que o dobro do atual, 65%.

A queda de Dilma é a maior redução de aprovação de um presidente entre uma pesquisa e outra desde o plano econômico do então presidente Fernando Collor de Mello, em 1990, quando a poupança dos brasileiros foi confiscada.

Naquela ocasião, entre março, imediatamente antes da posse, e junho, a queda foi de 35 pontos (71% para 36%).

Em relação a pesquisa anterior, o total de brasileiros que julga a gestão Dilma como ruim ou péssima foi de 9% para 25%. Numa escala de 0 a 10, a nota média da presidente caiu de 7,1 para 5,8.

Neste mês, Dilma perdeu sempre mais de 20 pontos em todas regiões do país e em todos os recortes de idade, renda e escolaridade.

O Datafolha perguntou sobre o desempenho de Dilma frente aos protestos. Para 32%, sua postura foi ótima ou boa; 38% julgaram como regular; outros 26% avaliaram como ruim ou péssima.

Após o início das manifestações, Dilma fez um pronunciamento em cadeia de TV e propôs um pacto aos governantes, que inclui um plebiscito para a reforma política. A pesquisa mostra apoio à ideia.

A deterioração das expectativas em relação a economia também ajuda a explicar a queda da aprovação da presidente. A avaliação positiva da gestão econômica caiu de 49% para 27%.

A expectativa de que a inflação vai aumentar continua em alta. Foi de 51% para 54%. Para 44% o desemprego vai crescer, ante 36% na pesquisa anterior. E para 38%, o poder de compra do salário vai cair --antes eram 27%.

Os atuais 30% de aprovação de Dilma coincidem, dentro da margem de erro, com o pior índice do ex-presidente Lula. Em dezembro de 2005, ano do escândalo do mensalão, ele tinha 28%.

Com Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a pior fase foi em setembro de 1999, com 13%.

Em dois dias, o Datafolha ouviu 4.717 pessoas em 196 municípios. A margem de erro é de 2 pontos para mais ou para menos



Fonte: Folha de S. Paulo

País em protesto - 8 em cada 10 brasileiros apoiam protestos

Segundo Datafolha, apesar de alta aprovação a manifestações, 65% são contra tarifa zero se for preciso parar obras

Pesquisa também mostra que maioria considera que atos trouxeram mais lucro do que prejuízo ao país

SÃO PAULO - Oito em cada dez brasileiros (81%) apoiam as manifestações que tomaram as ruas do país nas últimas semanas, segundo pesquisa Datafolha. Apenas 15% dizem ser contrários aos protestos.

A maioria --65%-- diz acreditar que esses atos trouxeram mais lucros do que prejuízos, enquanto 26% pensam de maneira contrária.

Já a tarifa zero, bandeira principal do Movimento Passe Livre (MPL), teve pouca aceitação: 65% disseram ser contra a adoção dessa medida no transporte público urbano caso a contrapartida para viajar de graça seja a paralisação de obras e serviços.

Nesse quesito, 24% disseram preferir parar obras para arcar com as despesas totais do transporte público.

No dia 19, ao anunciar a revogação do reajuste das tarifas de ônibus, metrô e trens, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT) disseram que isso levaria à redução de investimentos em São Paulo.

Após a série de protestos, a passagem do transporte coletivo paulistano caiu R$ 0,20 --voltando a custar R$ 3.

O MPL, cujas manifestações em São Paulo detonaram outras pelo país, afirma que o financiamento da tarifa zero pode vir de várias alternativas, como o aumento do IPTU --proposta que chegou a ser estudada na capital paulista, nos anos 1990.

A pesquisa Datafolha foi realizada entre anteontem e ontem, com 4.717 entrevistas em 196 municípios brasileiros. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Pouca variação

As opiniões sobre os protestos sofrem pequenas variações dependendo do gênero, faixa etária, preferência partidária, escolaridade e região do entrevistado.

Os que mais se opuseram aos protestos têm mais de 60 anos (23%) e escolaridade fundamental (24%) e renda mensal de até dois salários mínimos (20%).

No recorte partidário, 79% dos simpáticos ao PT se disseram a favor dos protestos, menor do que o apoio dos que preferem o PSDB (88%).

Com relação à tarifa zero, 63% dos ouvidos na região metropolitana de São Paulo se opõem caso haja corte em investimentos, dois pontos percentuais a menos do que a média nacional.

A onda de manifestações pelo Brasil teve início em São Paulo, quando o Movimento Passe Livre começou a organizar os protestos contra o aumento de R$ 0,20 nas tarifas de ônibus e metrô.

A primeira manifestação do MPL ocorreu no último dia 6. Reuniu ao menos 2.000 pessoas e fechou avenidas importantes. Após confronto com a polícia, houve depredação de estações do metrô.

Após a quarta manifestação, marcada pela truculência policial, houve uma onda de apoio aos protestos --que se multiplicaram pelo país.

Fonte: Folha de S. Paulo

‘Dilma não ouviu a voz das ruas’, diz Marina

Possível candidata em 2014, Marina Silva disse, em entrevista ao ‘Estado’, que o discurso da presidente Dilma Rousseff em reação aos protestos foi orientado pelo marketing e não tinha condições de funcionar.

‘Dilma anuncia pauta em vez de construí-la com sociedade’

Na avaliação da ex-senadora Marina Silva (sem partido), que pretende disputar a eleição de 2014 pelo nova sigla Rede Sustentabilidade - em formação - a presidente Dilma Rousseff ainda não ouviu a voz das ruas e erra ao tentar enquadrar os protestos em uma agenda tradicional, a ser resolvida entre Planalto e Congresso. “A força que está aí, em estado de presença e latência, porque vai continuar, não é para ser trata¬da dessa maneira”, disse em entrevista ao Estado.

Para Marina, o primeiro discurso de reação ao protestos, pela TV, foi orientado pelo marketing e não tinha condições de funcionar. A presidente também teria errado, segundo sua análise, no encontro com os governadores, quando falou e não ouviu.

A ex-ministra do Meio Ambiente, que teve 19,6 milhões na eleição presidencial de 2010 e ficou em terceiro lugar, é favorável a uma consulta popular sobre reforma política, desde que a sociedade ajude a formular as perguntas que serão apresentadas aos eleitores.

Ela falou ao Estado na quinta-feira à noite, após participar de um evento organizado pela revista Trip para homenagear pessoas e projetos que estão transformando a sociedade. A ex-senadora fez uma palestra de uma hora e ao final foi aplaudida de pé.

• Como a sra. analisa as reações do governo aos protestos?

Isso que está acontecendo no Brasil é de uma riqueza política, social e cultural tão grande que vamos levar muito tempo ainda para ter uma medida. Subtraindo a meia dúzia que fica querendo fazer baderna, tivemos milhões de pessoas que foram pacificamente às ruas marcar uma posição. E a posição que ficou mais clara é que há uma apartação entre a dita classe política que está aí e esse movimento, que já existia em estado de latência e dava sinais de que estava aí. Eles colheram mais de 1 milhão de assinaturas contra o projeto do Código Florestal, mas disseram que não valia porque era só no virtual; colheram mais de 1 milhão de assinaturas contra Belo Monte e disseram que não valia porque era só no virtual; colheram mais de um milhão de assinaturas contra Renan Calheiros e disseram que não valia porque era só no virtual; e tem outros milhões que nem vou citar. Eu dizia que era só questão de tempo e que uma hora iria transbordar para o presencial. Acabou transbordando. E, ao transbordar, o centro não pode agora ter uma atitude de encapsular a borda.

• O que achou das ações da presidente Dilma?

Era óbvio que a ideia de fazer um discurso orientado pelo marketing não iria funcionar. Depois houve a tentativa de anúncio ancorado pela orientação política partidária dela, no velho estilo de chamar os governadores para anunciar para eles, em vez de conversar, em vez de anunciar para a sociedade e de construir com ela. Fechar a discussão entre Palácio, governadores e Congresso é não levar em consideração o que está sendo dito a todos nós. É o velho estilo de transformar tudo numa mera pauta de reivindicações. Houve um processo de desautorização por parte do PMDB de boa parte das propostas que foram apresentadas pelo governo. A força que está aí, em esta¬do de presença e latência, por¬que vai continuar, não é para ser tratada dessa maneira.

• E qual é a maneira adequada?

Isso nos dá força e energia, se tivermos humildade, coragem e sabedoria, para produzir uma agenda com eles. O que está aí tem a força de uma agenda, na qual a reforma política está dentro, mas também a reforma tributária, o problema da educação, da saúde, da segurança pública. Uma agenda que não é para se fazer para eles, mas sim com eles. Os jovens estão dizendo que querem mais. Mas não é mais do mesmo. Querem mais e melhores serviços públicos, qualidade da representação.

• Como estabelecer essa agenda?

Em primeiro lugar conversando com os diferentes segmentos. É preciso criar os meios para o estabelecimento dessa conversa, porque ela não envolve os setores já organizados.

• Pelo que a sra. diz, a presidente Dilma mais falou do que ouviu.

Com certeza. Ela falou mais do que ouviu e está fechando tudo na relação Palácio e Congresso. Esquece o que está entre Congresso, que tem sido ferrenhamente questionado, e o Palácio.

• E o que está meio?

É essa sociedade que se expressa. Uma agenda que seja capaz de fazer com o que o Brasil não fique à deriva do governo ou do partido de plantão. Quando você tem uma agenda estratégica, não importa se é PT, PSDB ou PMDB, ela acaba sendo encaminhada, porque o termo de referência está vindo da sociedade.

• A sra. é a favor de uma consulta popular sobre a reforma política, como sugeriu a presidente?

Sim, o plebiscito, desde que a gente saiba quem é que vai fazer as perguntas. Elas não podem ser formuladas apenas pelo Palácio e pelo Congresso.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Em outro planeta

O Brasil está indo à lona, mas a presidente da República só quer tratar de um assunto: impor ao país um plebiscito sobre reforma política. Chega a ser quase um escárnio ao desejo expresso pelos milhões de brasileiros nas manifestações das três últimas semanas. Plebiscito, nesta altura do campeonato, é coisa de lunáticos ou, mais provavelmente, de gente muito mal intencionada e que não está nem aí para os reais problemas do país. É farsa ou golpe.

O Brasil está indo à lona, mas a presidente da República só quer tratar de um assunto: impor um plebiscito que cuidará, entre outras coisas, de definir se o país terá voto distrital misto ou puro, em lista fechada ou não. Que planeta Dilma Rousseff pensa que está governando?

Chega a ser surreal que, após a bela manifestação de cidadania demonstrada por milhões de brasileiros nas três últimas semanas, a resposta que o mundo oficial tenha a oferecer seja uma discussão extemporânea e alienada dos reais problemas da nação. Soa quase como escárnio ao desejo expresso pelos cidadãos.
Fica claro que o governo e o PT insistem no plebiscito – que pode chegar a custar R$ 2 bilhões, segundo O Globo – porque querem ludibriar a opinião pública e tentar manobrar as massas. É puro diversionismo para desviar o foco dos reais problemas do país, como destacou ontem a oposição em nota oficial assinada por PSDB, PPS e DEM.

Pior ainda, o plebiscito é uma mal disfarçada tentativa dos petistas de impor mudanças que fortaleçam o partido que detém o poder e cerceiem ainda mais as chances das correntes oposicionistas. Pretendem fazer isso na lei ou na marra, como mostram movimentos recentes de seus líderes.

Anteontem, Dilma disse a sindicalistas que, com seus "pactos” vazios, quer "disputar a voz das ruas”. No mesmo dia, Lula avisou que convocará os movimentos sociais aparelhados nos últimos anos pelo petismo a sair do sofá – ontem mesmo, UNE, UJS e assemelhados começaram a cumprir a ordem, sem muito efeito, porém.

O PT também já ameaça com casuísmos como a redução de prazos para que as mudanças eleitorais tenham validade, hoje de no mínimo um ano. Para tanto, propõe uma emenda constitucional, já que para o partido dos mensaleiros a lei maior do país é apenas um mero detalhe.

De prático, após uma frenética rodada de conversas – em poucos dias nesta semana Dilma teve ter falado com mais gente do que em anos de governo – a presidente disse ontem que encaminhará uma proposta ao Congresso na terça-feira com pontos que pretende ver contemplados no plebiscito. Muito mais adequada, a alternativa do referendo foi rechaçada por ela.

A pauta oficial coincide, surpresa!, com o que prega o PT. Os famigerados financiamento público (o seu, o meu, o nosso dinheiro paga as campanhas dos políticos) e voto em lista fechada (o eleitor vota, mas é o partido que escolhe quem vai ou não se eleger), por exemplo, provavelmente estarão lá. O fim da reeleição certamente não estará.

O mais deplorável disso tudo é ver a agenda real do país paralisada por uma discussão que pode até ser importante, mas é absolutamente secundária neste momento. Imagine a dona de casa lá do rincão, em pânico com a inflação e com a escola ruim do filho, tendo que escolher entre um "sim” e um "não” a esquisitices como voto proporcional, voto distrital, voto distrital misto e entre voto em lista aberta ou lista fechada...

O país está indo ladeira abaixo, mas disso não se ouve patavina da presidente da República. Ontem mesmo, o Banco Central divulgou seus prognósticos para os próximos meses: a inflação de 2013 vai ser maior que a do ano passado e o crescimento, menor que o até agora previsto. Há quem já aposte numa taxa próxima de zero, com possibilidade até de retração do PIB no fim do ano, como mostra Claudia Safatle na edição de hoje do Valor Econômico.

A agenda real do país não inclui apenas a carestia que corrói os salários. Contempla também a melhoria da péssima saúde pública brasileira, para a qual a resposta de Dilma é a importação de médicos. Note-se que, para mostrar que dão conta da complexidade local, os estrangeiros passarão por uma avaliação de três meses – alguém aí falou nos quase dez anos que um médico brasileiro estuda antes de começar a clinicar?

A lista de problemas reais e dificuldades enfrentadas cotidianamente pelos cidadãos é extensa o suficiente para demonstrar que o governo petista está completamente fora de órbita quando impõe ao país, nesta altura do campeonato, um plebiscito sobre reforma política. Isso é coisa de lunáticos ou, mais provavelmente, de gente muito mal intencionada e que não está nem aí para os brasileiros. Ou é farsa ou é golpe.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

Dilma Rousseff decide que não verá final no Maracanã no domingo

Presidente muda de ideia e não estará presente na partida entre Brasil e Espanha

Tânia Monteiro

BRASÍLIA - Depois das manifestações que tomaram as ruas nas últimas semanas, a presidente Dilma Rousseff decidiu não comparecer, neste domingo, ao jogo entre Brasil e Espanha, na final da Copa das Confederações. A ideia inicial de Dilma era estar presente no Maracanã no encerramento do campeonato, apesar de ter recebido uma sonora vaia, em Brasília, na abertura da competição, no estádio Nacional (Mané Garrincha).

Mas, preocupada com o acirramento dos ânimos e aconselhada por auxiliares diretos, a presidente entendeu que seria uma exposição desnecessária ir ao Maracanã onde certamente o público dominante seria hostil à sua presença, repetindo as vaias da abertura da Copa das Confederações, ainda mais no Rio de Janeiro, estado onde os torcedores são ainda mais irreverentes. Em 2007, o seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, também foi vaiado no Maracanã, na abertura dos Jogos Pan-Americanos.

Não havia uma justificativa oficial para a mudança de planos da presidente, apesar de ela estar trabalhando no texto das perguntas para o plebiscito, na elaboração das regras para contratação dos médicos estrangeiros e se preparando para uma reunião ministerial.

No dia seguinte às vaias, em Brasília, na capital federal, os auxiliares diretos da presidente Dilma asseguraram que ela não se intimidaria e estaria presente na final. Mas os planos mudaram com a ampliação dos protestos, principalmente em volta dos estádios, e levaram a presidente a desistir de ir ao Rio de Janeiro para não se submeter a uma nova vaia.

Depois de ficar atônita com as crescentes manifestações, tentando entender o que estava acontecendo, a presidente Dilma passou as duas últimas semanas se reunindo com interlocutores de vários segmentos para preparar uma reação do governo.

A previsão de estar no Maracanã neste domingo, para a final da Copa das Confederações, chegou a entrar na previsão de agenda da presidente Dilma, mas sumiu do sistema de informações. O escalão precursor, que viaja antecipadamente para verificar as condições da cidade a ser visitada pela presidente, nem chegou a ser acionado. Na noite de sexta-feira, a informação oficial era que Dilma não iria ao Rio de Janeiro.

Desde o início a presidente Dilma tinha intenção de comparecer à final da Copa das Confederações. Tanto que, em fevereiro, quando esteve na Nigéria, chegou a desejar boa sorte ao time nigeriano na Copa das Confederações e afirmou: "Asseguro que sua seleção será muito bem recebida no Brasil, em junho, para a Copa das Confederações. Tenho certeza que o presidente Goodluck Jonathan e eu assistiremos juntos à final Brasil e Nigéria no Maracanã".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma teme ser hostilizada no Rio

A agenda oficial de Dilma Rousseff, divulgada na noite de ontem, descarta a participação da presidente na final da Copa das Confederações, entre Brasil e Espanha, amanhã, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Na abertura do torneio, há duas semanas, em Brasília, ela foi vaiada e não proferiu o discurso que havia preparado. A presidente deve convidar a Seleção Brasileira para visitar o Palácio do Planalto na semana que vem.

Ao longo da semana, Dilma Rousseff ainda cogitava ir ao jogo, mas sem discursar e sem que sua imagem aparecesse no telão. Ela foi convidada, pelo comitê organizador da Fifa, para participar da cerimônia de premiação, como todos os presidentes dos países sede, mas ainda não havia decidido se aceitaria. O temor é de ser hostilizada durante a entrega das medalhas aos atletas.

A Secretaria de Comunicação chegou a confirmar a presença de Dilma antes de divulgar a agenda, mas recuou ontem. A avaliação do Planalto é a de que o momento atual é ainda mais desconfortável do que na abertura da Copa das Confederações devido à onda de protestos no país, e que seria difícil evitar constrangimentos.

Oficialmente, a Secretaria de Imprensa da Presidência informou que nunca houve previsão para Dilma ir ao Maracanã, já que, na data, estava prevista anteriormente uma viagem de Estado ao Japão. A viagem foi cancelada na semana passada, depois que os protestos levaram a presidente a avaliar que o momento era inoportuno para passar uma semana inteira fora do Brasil.

"Fair play"

Na abertura da Copa das Confederações, em Brasília, Dilma e o presidente da Fifa, Joseph Blatter foram vaiados quando anunciados no telão para abrir oficialmente os jogos. A presidente mostrou-se contrariada e deixou de fazer o discurso. Blatter chegou a pedir respeito e "fair play" no microfone, mas foi ignorado. No mesmo dia, uma manifestação acontecia ao redor do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, onde foram registrados confrontos com a polícia.

Bandeira arco-íris no Planalto

A presidente Dilma Rousseff recebeu ontem, em seu gabinete no Palácio do Planalto, representantes de movimentos da juventude e LGBT. Questionadas sobre o projeto de cura gay que tramita na Câmara, as ministras Eleonora Menicucci (Políticas para a Mulher) e Maria do Rosário (Direitos Humanos) limitaram-se a dizer que a presidente é contra qualquer tipo de discriminação. Na Câmara, líderes de partidos contrários ao projeto que autoriza psicólogos a tentar mudar a orientação sexual de indivíduos assinaram requerimento de urgência para que a proposta seja votada — e derrubada — rapidamente, para atender as demandas das ruas. Pelo Twitter, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) criticou a presidente. "Não há explicação para o desprezo e a desconsideração da presidente Dilma com o segmento evangélico", escreveu. No encontro com a juventude, pela manhã, Dilma disse para os estudantes que o substitutivo que destina 25% dos royalties para a saúde é "uma boa solução". (JB)

Lula longe dos estádios

Um dos maiores defensores da candidatura do Brasil como país sede da Copa do Mundo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem evitado aparições públicas desde o início dos protestos no país e não esteve em nenhum dos jogos realizados até agora pela Copa das Confederações. Amanhã, quando o Brasil enfrenta a Espanha na final do torneio, Lula nem sequer estará no país. Ele participará de um encontro sobre a fome na Etiópia.

O evento do qual participará na África é organizado pelo Instituto Lula, em parceria com a União Africana e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). O ex-presidente fará hoje o discurso de abertura.

Durante os protestos, que se intensificaram ao longo das últimas duas semanas, Lula fez uma única declaração sobre os atos, por meio de nota publicada em uma rede social. "Ninguém em sã consciência pode ser contra manifestações da sociedade civil, porque a democracia não é um pacto de silêncio, mas sim a sociedade em movimentação em busca de novas conquistas", disse.

Protestos continuam no país

A sexta-feira teve protestos menores e mais pacíficos pelo Brasil. A exceção foi Natal, onde pelo menos 10 mil manifestantes participaram do maior ato do dia. Mesmo após a redução de R$ 0,10 no preço do bilhete de ônibus na cidade, que voltou a custar R$ 2,20, o movimento #RevoltadoBusão pediu melhorias no transporte público e o passe livre estudantil. Não houve repressão policial violenta, mas oito pessoas foram presas por porte de bombas caseiras e pelo menos outras 13 por atos de vandalismo. O grupo passou pelas principais ruas da cidade, durante toda a tarde e início da noite, mas não houve confrontos. Durante parte da tarde, o perfil da Polícia Militar do estado foi hackeado e recebeu postagens com referências ao grupo Anonymous.

Em Campinas (SP), manifestantes tentaram protocolar uma pizza na Câmara dos Vereadores da cidade, pois não conseguiram apoio dos parlamentares para a criação de uma CPI do Transporte. Nove pessoas se acorrentaram ao prédio e solicitaram a presença do presidente da Casa, mas desistiram antes de serem atendidas.

Na Grande São Paulo, um pequeno grupo tentou invadir a prefeitura de Guarulhos, no início da noite, mas foi contido pela guarda municipal com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. No mesmo horário, todas as faixas da Avenida Paulista, no centro, voltaram a ser ocupadas por manifestantes. A Via Dutra, estrada que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, e a rodovia estadual SP-332 foram obstruídas por protestantes, ao longo do dia. Em Cosmópolis, cabines de cobrança de pedágio foram incendiadas e cinco pessoas presas. Também houve manifestações em Guarujá, prejudicando o acesso ao porto de Santos.

No Rio de Janeiro, a diversidade de solicitações marcou o dia. Profissionais da área de saúde foram às ruas contra o Ato Médico; cerca de 1 mil militantes LGBT pediram o arquivamento do projeto da "cura gay", em tramitação na Câmara Federal e, à tarde, 700 taxistas saíram em carreata, causando grande lentidão no trânsito, contra a medida judicial que exige procedimentos licitatórios para a concessão de novas linhas de táxi.

No início da noite, em Vitória, 800 estudantes saíram da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para uma passeata pelas ruas da cidade, ganhando a adesão de outras pessoas. Ao todo, cerca de 5 mil pessoas marcharam pela capital capixaba. Até o fechamento desta edição, não havia registro de vandalismo. Em Cuiabá, mais de 1 mil pessoas marcharam pelas ruas de forma pacífica.

Em Juiz de Fora(MG), no interior do estado, cerca de 80 manifestantes mantiveram ontem a ocupação da Assembleia Municipal, iniciada na quinta-feira, e prometem não sair do local até que haja redução da passagem de ônibus e do salário dos vereadores. Em Curvelo, no interior do estado, foi enterrado Douglas Henrique Souza, de 21 anos, morto na quarta-feira após cair de um viaduto, durante protesto em Belo Horizonte.

Em Santa Maria (RS), a Câmara dos Vereadores também continua ocupada por manifestantes. Desde a última terça-feira, familiares de vítimas do incêndio na boate Kiss estão no local, para pedir o fim da CPI que apura as responsabilidades do poder público na tragédia. Isso porque há um suposto acordo tramado entre os vereadores para eximir de responsabilidades o prefeito, Cezar Schirmer (PMDB).

Em Altamira, no Pará, cerca de 1 mil pessoas pediram o cumprimento das contrapartidas socioambientais por parte da empresa Norte Energia, responsável pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. A obra mais cara da segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previa uma série de compensações que reduziriam os impactos da construção, mas até agora nenhum prazo foi respeitado.

Fonte: Correio Braziliense

Manifestações não inspiram oposição

Partidos contrários ao governo se mostram acuados com a dimensão dos protestos e dizem que as legendas não devem se capitalizar com as ações populares

Bruna Serra

Ainda que a maior vitrine das manifestações que tomaram o Brasil seja o governo em exercício - com contestações mais imediatas ao PT da presidente Dilma Rousseff (PT) -, a oposição tem demonstrado dificuldades em catalisar os anseios populares. Desde que o movimento foi iniciado, há aproximadamente 15 dias, os partidos que são contrários à administração petista se posicionam apenas por meio de notas públicas, deixando transparecer que estão acuados com a dimensão dos protestos.

Na próxima semana, as lideranças de Democratas, PSDB e PPS devem se encontrar com a presidente para que seja acordada uma agenda de modo a atender novas demandas dos manifestantes. O ex-íder do PSDB na Câmara Federal, o deputado Bruno Araújo, defende o bloco oposicionista afirmando que não é possível nenhum partido político capitalizar com os movimentos. Para o tucano, quem não tiver a compreensão desse momento terá dificuldades para permanecer na vida pública.

"Do ponto de vista de oposição está claro que esses importantes movimentos encerram um ciclo de cultura de passividade. Eles contestam um sistema político como um todo, mas gera um passivo muito maior para quem preside o status quo do poder hoje que é o PT, que é levado a falar e gera um desgaste maior dentro da contestação do todo do sistema", avalia.

Sintonia

Araújo ataca o governo afirmando que todas as demandas da população atendidas até agora devem ser computadas na conta do Congresso Nacional. De acordo com o parlamentar, o cenário para 2014 ficou ainda mais nublado.

"Um viés importante de troca de começa a se confirmar. Um viés de alta para um eventual alternância de poder para 2014", provocou. A disposição do bloco oposicionista em relação ao encontro da próxima semana é jogar no colo do governo o peso de sua base aliada. "As oposições querem saber da presidente porque ela não orienta a base a derrubar o veto à emenda 29, por exemplo, que retirou dezenas de bilhões da saúde."

Tentando demonstrar sintonia com a pauta das ruas, o PPS usou seu horário político nacional para abordar as reivindicações. Presidente nacional do partido, o deputado federal Roberto Freire está apostando na força dos manifestantes para derrubar ainda mais a popularidade da presidente. "O que pode acontecer em 2014 já aconteceu agora, com o governo sendo contestado. A próxima pesquisa deve indicar uma queda maior na avaliação da presidente e do governo. A oposição está se articulando, se afirmando e vai ter uma participação em 2014", assegurou o oposicionista.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Presidente deu ‘banana’ para as centrais, diz sindicalista

Líderes da Força Sindical criticaram ontem a presidente Dilma Rousseff, que foi acusada de ignorar as demandas da classe trabalhadora. A Força e outras centrais sindicais se reuniram com a presidente na quarta-feira para levar uma pauta com reivindicações da categoria, mas parte dos presentes reclamou que Dilma os ouviu a contragosto.Os ataques a Dilma foram feitos durante plenária realizada ontem,em São Paulo,para organizar a greve marcada para 11 de julho, em ato batizado como Dia Nacional de Lutas.

“Na quarta, Dilma falou por 40 minutos e, com muita raiva, deixou que a gente falasse. Quando terminou, se levantou e foi embora, sem nenhuma decisão concreta”, disse o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT-SP). “Dilma deu banana para as forças sindicais. Ela não tem compromisso com os sindicalistas”, disse Valdir de Souza Pestana, presidente da Federação dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Estado de São Paulo.

As centrais sindicais decidiram no começo da semana promover uma série de paralisações em todo o País como forma de protestar contra o que consideram uma falta de atenção de Dilma à pauta trabalhista. A categoria também reclama dos poucos encontros que a presidente fez com as lideranças. Desde que assumiu, Dilma esteve duas vezes com representantes das centrais.

Em nota, a Força anunciou que portuários, metalúrgicos, trabalhadores da construção pesada e civil e o setor de transportes vão parar no dia 11 de julho.

Ato. “Será um protesto contra a falta de atendimento de nossas reivindicações. Três anos depois de a presidente ser eleita, nada da pauta trabalhista foi cumprido”, disse Paulinho. O ato terá apoio de outras centrais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central Sindical e Popular (CSP- Conlutas) e a União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Paulinho disse ter se encontrado com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB),para falar sobre a greve. Ele disse ao governador que as manifestações serão pacíficas. “Não terá baderna”, garantiu o presidente da Força Sindical.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Não caiu a ficha - Cristovam Buarque

As surpreendentes mobilizações dos últimos dias podem ser explicadas em dez letras: "Caiu a ficha." Não se sabe exatamente o que levou a ficha a cair neste exato momento, mas todos os ingredientes já estavam dados. A maior surpresa foi a surpresa. Caiu a ficha de que o Brasil ficou rico sem caminhar para a justiça: chegou a sexta potência econômica, mas continua um dos últimos na ordem da educação mundial. Também caiu a ficha de que sem educação não há futuro, e de que, por isso, 13 anos depois de criada, a Bolsa Família continua necessária, sem abolir sua necessidade.

Caiu a ficha de que em 20 anos de governos socialdemocratas e dez anos do PT no poder ampliamos o consumo privado, mas mantivemos a mesma tragédia nos serviços sociais, nos hospitais públicos e nas escolas públicas. Caiu a ficha de que o aumento no número de automóveis em nada melhora o transporte, ao contrário, piora o tempo de deslocamento e endividamento das famílias. Caiu a ficha de que o PIB não está crescendo e se crescesse não melhoraria o bem-estar e a qualidade de vida. Caiu a ficha de que, no lugar de metrópoles que nos orgulhem, temos "monstrópoles" que nos assustam.

Caiu a ficha do repetido sentimento de que a corrupção não apenas é endêmica, ela é aceita; e os corruptos, quando identificados, não são julgados; e se julgados não são presos; e se presos não devolvem o roubo. E de que os políticos no poder desprezam as repetidas manifestações de vontade popular.

Caiu a ficha de que o povo paga a construção de estádios, mas não pode assistir aos jogos. E de que a Copa não vai trazer benefícios na infraestrutura urbana das cidades-sede, como foi prometido. Aos que viajam ao exterior, caiu a ficha da péssima qualidade de nossas estradas, aeroportos e transporte público.

Caiu a ficha de que somos um país em guerra civil, onde 100 mil morrem por ano por assassinato direto ou indireto no trânsito.

Caiu a ficha também de que as mobilizações não precisam mais de partidos que organizem, de jornais que anunciem, de carros de som que conduzam, porque o povo tem o poder de se autoconvocar por meio das mídias sociais. A praça hoje é do tamanho da rede de internet, e é possível sair das ruas sem parar as manifestações e voltar a marchar a qualquer momento. Na prática, caiu a ficha de que é fácil fazer guerrilha-cibernética: cada pessoa é capaz de mobilizar milhares de outras de um dia para o outro em qualquer cidade do país.

Mas, entre os dirigentes nacionais, ainda não caiu a ficha de que mais de dois milhões de pessoas nas ruas não se contentam com menos do que uma revolução. Mais de dois milhões não param por apenas 20 centavos nas passagens de ônibus. Eles já ouvem as ruas, mas ainda não entendam o idioma da indignação. Nem caiu a ficha de que só manifestações não bastam. É preciso fazer uma revolução na estrutura, nos métodos e nas organizações da política no Brasil: definir como eleger os políticos, como eles agirão, como fiscalizá-los e puni-los.

Cristovam Buarque, senador(PDT-DF)

Fonte: O Globo

Indignação furiosa - Luiz Eduardo Soares

A classe média descobriu a brutalidade policial, que os pobres e negros nunca ignoraram. Polícia tornou-se um dos temas chave nas ruas

A sociedade brasileira tomou as ruas e sequestrou para si o título que lhe custara bilhões de reais e, por decisões autocráticas, a excluíra: o grande evento. Centenas de milhares de pessoas deslocaram o campo de futebol para o meio da rua e vestiram a camisa do país, assumindo inaudito protagonismo histórico. Resta ao intérprete calçar as sandálias da humildade e admitir sua ignorância e perplexidade ante o fenômeno radicalmente novo. O interesse público fora confiscado pela tecnocracia, aliada a empreiteiras e subserviente à tutela arrogante (e voraz) da Fifa. Os chamados "grandes eventos" serviram de justificativa para lucros extraordinários e para a festa da especulação imobiliária, sob a retórica do legado social, enquanto a mobilidade urbana tornava-se, crescentemente, uma contradição em termos. A massa rompeu expectativas e a tradição de apatia, inventando um movimento que será, por suas lições e efeitos, o verdadeiro legado às gerações futuras. A narrativa passou a ser escrita, nas ruas e nas redes virtuais, por milhões de mãos e vozes, desejos e protestos, inscrevendo seus autores na cena global, em diálogo com outras praças, outras multidões, outras lutas. A sociedade virou o jogo.

Aplicar velhos esquemas cognitivos serve apenas para exorcizar o novo, domesticar a diferença e mascarar a insegurança intelectual, confirmando velhas crenças e categorias. O momento exige humildade do intérprete e o reconhecimento de que também as categorias tradicionais com que opera estão em xeque, desestabilizadas pela potência disruptiva e criadora do movimento social. Além disso, é necessário reconhecer que a disputa central agora é pelos significados do que está acontecendo, porque do consenso que se construir sobre o sentido dependerá o desdobramento do processo político. Projetando-se os modelos cognitivos convencionais sobre o que é radicalmente diferente, só se vê o que o movimento não é: "não organizado, sem liderança ou centro, desprovido de ideologia e de objetivos, irracional etc." Entretanto, ele existe. Como descrever sua positividade? Comecemos por ecoar sua polifonia.

A terra treme porque o país avançou, e as desigualdades, embora ainda imensas, reduziram-se significativamente. As manifestações não são sintoma de declínio, mas afirmação de força e fé no futuro, ainda que pelo avesso, isto é, sob a forma de protesto indignado contra o que, contrastando com os avanços – e mesmo tendo sido por décadas naturalizado – agora tornou-se inaceitável. O pensador francês do século 19 Tocqueville nos ensinou que a miséria e a vulnerabilidade social só conduzem à reiteração da impotência. Rebelam-se os que têm a perder, conquistaram avanços, sentem-se potentes e sob ameaça. A sociedade brasileira aprendeu a valorizar a cidadania e despertou da inércia.

Os atores reunidos nas ruas, na maioria jovens, são os mais diversos, têm diferentes origens sociais, falam todas as línguas ideológicas e vocalizam as mais variadas denúncias e reivindicações. Seria artificial e contrário ao espírito das manifestações submeter o coro de contrários a uma univocidade ortopédica.

Entretanto, uma certeza é consensual: a representação política ruiu. Não é de hoje, mas somente agora o escárnio das esquinas, a repulsa ao mundo político que se limitava às conversas cotidianas ganhou corpo e visibilidade, tanto quanto ganharam visibilidade e reconhecimento milhões de cidadãos antes unidos pelo ressentimento, sentindo-se diariamente desrespeitados pelas autoridades, pelas instituições, pelo transporte público, pelas condições da saúde e da educação. 

O colapso da representação vinha sendo coberto pela competência do executivo federal, por políticas públicas exitosas, pelo carisma de Lula. Na atual conjuntura, o executivo não é mais escudo protetor para a ilegitimidade do Parlamento, em razão de inúmeros tropeços: repique inflacionário, retrocesso na proteção ao meio ambiente, passividade ante assassinato de indígenas, alianças com impostores venais que tornaram "governabilidade" sinônimo de vale tudo, passividade ante chantagens obscurantistas e regressivas de religiosos fundamentalistas, e tantas hesitações e contradições de um governo claudicante, que recorre ao BNDES para selecionar vencedores, não tem capacidade de investimento, convive com uma infraestrutura sucateada, é insensível ao desafio da competitividade industrial e mantém-se fiel a um modelo econômico insustentável, voltado para o consumo e a proliferação epidêmica de automóveis. Observe-se que nesta lista de problemas há munição ampla o suficiente para atingir a todos, à direita e à esquerda. O colapso da representação política significa o divórcio entre o Estado e a sociedade.

Um fator determinante foi a cooptação do PT e de um grande número de sindicatos e movimentos sociais por parte do governo federal. A história é pródiga em exemplos de desastres provocados pela superposição entre Estado, governo e partido. Resultado: o PT perdeu a rua, e a UNE, devorada pelo aparelhismo do PCdoB, foi a grande ausente. Erro dramático do PT e do governo federal: no começo, um mar de rosas, ruas vazias, aplausos das categorias, paz para governar. Agora, o vazio, a impotência, a impossibilidade para liderar, dirigir e até mesmo disputar. E o país diante da necessidade de reinventar a política.

E a violência nas ruas?

Imaginemos a seguinte descrição do despertar da sociedade brasileira:

O paciente coletivo respirava por instrumentos na UTI. Graças às melhorias socioeconômicas das últimas duas décadas, recuperou a consciência e os movimentos do corpo, ergueu-se, descobriu que sua casa fora ocupada por políticos venais interessados na reprodução de seus mandatos, cúmplices de empreiteiras e do capital financeiro vinculado à especulação imobiliária, vândalos oficiais a serviço do modelo automotivo de desenvolvimento insustentável, arruaceiros do interesse público, baderneiros bem-comportados de paletó e gravata, desordeiros de colarinho branco. Furioso, o paciente, agora impaciente, espana os parasitas com o vigor redescoberto.

Creio que esse relato traduza o sentimento que flui nas manifestações. O que parecia ser ordem, antes da onda de protestos, correspondia a transgressões continuadas à Constituição e aos princípios mais elementares da moralidade pública.

Consultemos, agora, imaginariamente, os sentimentos e as percepções difusas dos jovens mais pobres que têm convivido, diariamente, com a brutalidade policial. Tomo como exemplo acontecimentos desta semana, no complexo de favelas cariocas da Maré: policiais do Bope invadiram residências (derrubando portas e sem mandado judicial), quebraram utensílios domésticos, humilharam, agrediram e ameaçaram moradores dentro de suas casas. Na operação, morreram 10 pessoas: um policial, sete considerados suspeitos de participação no tráfico de drogas e dois oficialmente tidos por inocentes. Contemplemos por um instante outros fatos recorrentes no Rio e em vários outros Estados: chacinas são perpetradas por policiais, milicianos tiranizam comunidades, armas e drogas são apreendidas a ferro e fogo, em incursões bélicas que ferem e matam inocentes, mas são devolvidas em seguida, mediante negociações com traficantes locais ou facções rivais, à luz do dia, diante da comunidade. As autoridades prometem investigar com rigor – e não alteram os protocolos da ação policial. O Ministério Público é responsável pelo controle externo da atividade policial, mas tem sido omisso, com plena anuência da Justiça – ressalvadas as honrosas exceções, entre elas a saudosa juíza Patrícia Acioli, assassinada com 21 tiros por policiais. Quantos profissionais das polícias, envolvidos em chacinas, no rastro dos ataques do PCC em São Paulo, em 2006, foram punidos? 

Quantos foram investigados e punidos no Rio, onde 9.231 mortes foram provocadas por ações policiais entre 2003 e 2012? Esses dados deveriam levar-nos a compreender a fonte da indignação furiosa de quem depreda – deixo de lado, evidentemente, os criminosos que se aproveitam da situação. Não se trata de justificar a violência, mas de entender suas raízes e, sobretudo, de explicar por que a massa considera hipócrita o foco da mídia na ação dos assim chamados "vândalos". Antes das manifestações, não havia ordem e normalidade, mas vandalismo continuado, praticado por aparelhos do Estado contra muitos, nas periferias, Brasil afora. Falta equidade no tratamento por parte do Estado e da mídia. A ordem tida como natural antes da eclosão das manifestações não era menos destrutiva do que a desordem promovida por alguns manifestantes. Esse é o ponto – o qual, insisto, não justifica a violência, mas a torna inteligível.

A violência cometida nas ruas por grupos sempre atuantes, embora francamente minoritários, têm sido o maior obstáculo ao sucesso do movimento. Quem pratica saques e quebra-quebras põe-se como inimigo da massa que se manifesta nas ruas e contribui para a estigmatização do movimento e seu esvaziamento. Essa prática coloca para qualquer polícia, mesmo a melhor do mundo e a mais democrática, um desafio trágico, um problema insolúvel. Uma polícia para a democracia tem o dever de garantir direitos. É este seu mandato constitucional. Há os direitos dos cidadãos à livre manifestação e também aqueles que estão sendo violados por quem age com violência destrutiva. Está em jogo o interesse público seja na plena liberdade do movimento, seja na proteção ao patrimônio público. Quando manifestantes depredam, criam um dilema incontornável para o poder público e a polícia – e por isso o fazem: projetam seu ódio e buscam um cadáver, geram as condições para o surgimento do mártir, diante do qual as manifestações seriam empurradas para o abismo das retaliações recíprocas intermináveis. O que deve fazer uma polícia comprometida com a legalidade constitucional? Reduzir danos, atuar no limite superior da tolerância e inferior do uso da força, buscar o diálogo, apostar na compreensão da imensa maioria sobre os impasses. O que uma polícia que serve à cidadania, cumprindo o mandato constitucional democrático, não deve fazer? 

Aquilo que tem sido a rotina no Rio e tem ocorrido em outras cidades e Estados: investir na vingança, provocar manifestantes, prender discricionariamente, agredir indivíduos desarmados e isolados, acuar grupos em vez de suscitar condições para que dispersem, atacar arbitrariamente, ostentar o sorriso de escárnio como bandeira de seu ressentimento, reafirmando pela prepotência a profundidade de sua própria insegurança e de seu descompromisso com a legalidade. Tampouco deve usar armas menos letais como se fossem não letais. Pior: como se fossem brinquedos inofensivos de uso ilimitado. De sua parte, cabe ao movimento, mesmo mantendo-se descentralizado e apartidário, organizar-se minimamente para inibir as práticas que, de fato, tentam desqualificá-lo, politicamente.

Duas questões me parecem decisivas:

(1) A classe média descobriu a brutalidade policial, que os pobres e negros nunca ignoraram. Polícia tornou-se um dos temas chave, nas ruas. Por que a presidente omitiu o debate em torno da mudança do modelo policial, que envolve a desmilitarização, e que vem sendo adiada desde a transição democrática? É urgente estender a transição à segurança pública. O silêncio oficial tem sido cúmplice de milhares de execuções extrajudiciais, de torturas, violações cotidianas, inclusive contra os próprios policiais. Até quando reinará a negligência? Nada mais desconectado das ruas e da realidade do que a proposta patética das oposições: "mais verbas para a segurança pública". Como alimentar essa máquina de morte, essa fonte de violações? Nenhum centavo deveria ser concedido antes que se refundassem as polícias.

(2) A proposta presidencial sobre reforma política sem dúvida dialoga com o eixo dos protestos, isto é, focaliza o colapso da representação. Entretanto, só fará sentido se mostrar-se capaz de quebrar os mecanismos em curso. Isso não guarda relação clara para a maioria dos manifestantes com sistema eleitoral – distrital, simples ou misto, ou proporcional –, voto em lista, financiamento de campanha etc. O que poderia conversar com as ruas seria uma proposição radical, que sepultasse a representação política como carreira e negócio. 

Eis um exemplo: para o parlamento, eleições a cada dois anos com apenas uma reeleição, candidaturas avulsas da sociedade seriam possíveis, salários dos deputados seriam iguais aos dos professores, cada um teria três assessores, nada de carro oficial, verba de gabinete ou aposentadoria por oito anos de trabalho, dinheiro para campanha apenas aquele doado por cidadãos (tendo 500 reais como teto – sobre os recursos deveria haver plena transparência com informação em tempo real via internet), nada de tempo na TV, que virou moeda (utilize a internet quem quiser e puder mobilizar sua rede). Eleitos seriam os mais votados, sem os coeficientes partidários e as coligações. Para o Senado, não haveria suplente, os mandatos seriam de quatro anos sem reeleição e as condições seriam as mesmas dos deputados. Para o executivo, apenas um mandato de cinco anos e regras específicas. Enfim, uma transformação realmente profunda poderia sensibilizar a maioria da sociedade e reconectá-la à representação.

Luiz Eduardo Soares, sociólogo e professor da Uerj

Fonte: Zero Hora (RS)