terça-feira, 17 de março de 2015

Luiz Carlos Azedo - Perdida num labirinto

• Como se não bastassem os problemas da economia e o esgarçamento das relações com o Congresso, Dilma não consegue se descolar do escândalo da Petrobras e do desgaste de seu partido

- Correio Braziliense

O labirinto de Creta era um jardim de sebes plantadas deliberadamente para confundir quem nele entrasse, dificultando a saída. Na mitologia grega, teria sido construído por Dédalo, um famoso arquiteto, para alojar o Minotauro — metade homem, metade touro —, a quem eram oferecidos jovens, que morriam devorados. O herói ateniense Teseu conseguiu derrotá-lo e sair do labirinto graças ao novelo que lhe foi dado por Ariadne, princesa de Creta, cujo fio foi desenrolando ao longo do percurso.

Um dia após os protestos contra o governo em várias cidades do país, a presidente Dilma Rousseff parece perdida no grande labirinto que ela mesmo mandou construir, mas do qual não consegue sair. Falta-lhe um fio de Ariadne para escapar do monstro que alimentou durante todo o primeiro mandato e agora ameaça devorá-la. Também não há nenhum herói disposto a salvá-la: nem mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Dilma deu entrevista ontem tentando minimizar a crise que o país atravessa e a falta de iniciativa política do governo. “Quando eu vi centenas e milhares de cidadãos se manifestando, não pude deixar de pensar que valeu a pena lutar pela liberdade, valeu a pena lutar pela democracia. Este país está mais forte do que nunca”, declarou.

A presidente da República procurou desfazer a imagem de um governo acuado pela sociedade e isolado politicamente: “Um país amparado na separação, na independência e na harmonia dos Poderes, na democracia representativa, na livre manifestação popular nas ruas e nas urnas se torna cada vez mais impermeável ao preconceito, à intolerância, à violência, ao golpismo e ao retrocesso”.

Durante a entrevista, porém, tratou as manifestações de domingo como se tivessem a mesma dimensão da mobilização chapa-branca promovida pelas centrais sindicais na sexta-feira. Dilma disse que vai dialogar com os manifestantes e que pretende enviar ao Congresso propostas para combater a corrupção.

Soaram falsas, porém, as declarações de humildade. Dilma manteve a retórica oficial, que atribui intenções golpistas à oposição: “Eu tenho certeza de que o que nós queremos é um lugar em que todos possam exercer seus direitos pacificamente, sem ameaça às liberdades civis e políticas”.

Desgaste profundo
Nos bastidores do Planalto, o clima é de insegurança e perplexidade. Pesquisas não oficiais apontam para a queda acelerada dos índices de aprovação do governo e o aumento da rejeição a Dilma, estimativas que deverão ser confirmadas pelo Datafolha e pelo Ibope até o fim da semana. O governo estaria na situação de um paciente terminal na UTI. Poderá sobreviver por longo período, em estado vegetativo, mas somente com a ajuda de aparelhos.

Como se não bastassem os problemas da economia e o esgarçamento das relações com o Congresso, Dilma não consegue se descolar do escândalo da Petrobras e do desgaste de seu partido. Ontem, o PT foi acusado pelo Ministério Público Federal de receber propina do esquema de lavagem de dinheiro investigado pela Operação Lava-Jato.

O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, notoriamente ligado à legenda, foi preso novamente, depois de a investigação comprovar que havia transferido 20 milhões de euros de contas secretas da Suíça para o Principado de Mônaco. Na cúpula petista, há o temor de que acabe fazendo um acordo de delação premiada, por pressão dos familiares.

Na semana passada, em depoimento na CPI da Petrobras, o ex-gerente da estatal Pedro Barusco acusou diretamente Duque e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, de participação ativa no esquema de corrupção da Petrobras. Vaccari está solto, mas foi denunciado pelo MPF com Duque.

Dilma não pode ser investigada por fato ocorrido antes do exercício do atual mandato. Supostamente, a campanha de 2010 teria recebido doações das empresas envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras. A acusação foi denúncia feita por Barusco.

Hélio Schwartsman - O recado das ruas

- Folha de S. Paulo

O povo foi às ruas. Do que deu para ouvir em meio à algazarra, o "fora, Dilma" parece ser o grito mais representativo da diversidade de grupos que se manifestaram. Compreendo os sentimentos que levaram a essa reação, mas receio que não faça muito sentido lógico tirar a presidente agora.

Eu próprio estaria apoiando o "impeachment" ou implorando pela renúncia da mandatária, caso ela tivesse insistido em trilhar a rota que nos levou ao desastre econômico. Entretanto, como já apontei aqui, Dilma tem uma virtude: ela vai até a beira do abismo, mas não salta. A presidente viu o estrago nas contas públicas e optou pelo ajuste fiscal, tendo recrutado um técnico competente para efetuá-lo. Agora é preciso dar tempo para as medidas recessivas realizarem sua mágica. Teremos pelo menos um par de anos difíceis.

Trocar Dilma por Michel Temer ou mesmo por alguma liderança oposicionista, no implausível caso de um duplo "impeachment" seguido de novo pleito, não vai mudar a realidade econômica adversa.

No plano político, a situação não é muito diferente. Como as dores do ajuste limam a popularidade de qualquer dirigente, o eventual substituto da mandatária estaria em pouco tempo colhendo índices tão ruins quanto os da petista. Vimos esse fenômeno acontecer repetidas vezes durante a crise europeia. E isso, paradoxalmente, forneceria ao PT uma oportunidade para ressurgir em 2018 posando como vítima de uma espécie de complô das elites e também como oposição às políticas recessivas.

Parece muito mais lógico e didático deixar que Dilma e seu partido fiquem eles mesmos com os ônus eleitorais resultantes das decisões que tomaram. Se a natureza do mundo não sofrer modificações significativas, dentro de 10 ou 20 anos haverá outra crise econômica que apeará do poder o grupo político que lá estiver. Aí o PT terá sua chance de retornar --esperemos que mais sábio.

Bernardo Mello Franco - A Lava Jato chegou ao PT

- Folha de S. Paulo

A resposta que as ruas pediram no domingo não apareceu no palavrório da presidente Dilma Rousseff em Brasília. Veio de Curitiba, com a nova leva de denúncias e prisões da Operação Lava Jato.

Os manifestantes concentraram sua ira no PT. No dia seguinte, a investigação chegou ao coração do partido, com a primeira denúncia formal contra o tesoureiro João Vaccari.

O dirigente petista foi acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Segundo os procuradores, ele abastecia o caixa do partido com repasses do esquema de corrupção na Petrobras.

A operação também atingiu outro homem-chave do PT: o ex-diretor Renato Duque, que representava a sigla no loteamento da estatal. Ele foi preso após enviar 20 milhões de euros para contas secretas em Mônaco, de acordo com o juiz Sergio Moro.

A nova fase da Lava Jato ganhou o nome de Que País É Este em homenagem a Duque, que usou a expressão ao ser preso pela primeira vez.

A frase é atribuída a Renato Russo, mas foi criada pelo ex-governador mineiro Francelino Pereira. Ele também é lembrado por definir a Arena, a sigla que apoiava os militares, como o "maior partido do Ocidente".

Esse tipo de bravata não costuma dar sorte. A Arena foi extinta cinco anos antes do regime que ajudou a sustentar. Há quatro meses, o ex-presidente Lula se referiu ao PT como "o maior partido de esquerda do mundo, com exceção da China".

Em 2007, Luiz Flávio Borges D'Urso despontou como líder do movimento Cansei, uma espécie de precursor dos atos deste domingo. Ele parece ter se cansado. Está de volta à cena como advogado de Vaccari.

"A corrupção não está no Poder Legislativo. Está no Poder Executivo." As palavras foram ditas ontem por Eduardo Cunha, um dos 35 legisladores investigados no petrolão.

Míriam Leitão - A mensagem não chegou

- O Globo

Há um erro que o governo não pode cometer e está cometendo: subestimar a dimensão das manifestações contra a presidente Dilma Rousseff. No próprio domingo, dois ministros bateram cabeça. Ontem, a presidente falou sobre democracia para receber as palmas dos seus. Depois, em entrevista rápida, nada declarou que demonstrasse ter entendido o que está se passando no país.

Na entrevista, a presidente Dilma Rousseff disse: "Ah, vocês querem uma confissão de erro? Erramos no Fies. Demos o controle das matrículas para o setor privado". Antes fosse apenas esse o erro do governo Dilma. Seria corrigido, e o país seguiria seu caminho. Foram muitos os erros dos últimos anos. Ontem, os procuradores do Ministério Público, em Curitiba, denunciaram 27 pessoas, entre elas o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), João Vaccari. O procurador Deltan Dallagnol foi claríssimo ao explicar o esquema. Propinas pagas pelas empresas, que tinham negócios com a Petrobras, eram disfarçadas de doações legais ao Partido dos Trabalhadores. Segundo o procurador, Vaccari sabia a origem ilícita dos recursos.

É disso que se trata. A maior empresa do país foi assaltada. O roubo levou ao enriquecimento ilícito de ex-dirigentes e, pelo mesmo canal, o partido do governo foi financiado.

Para Dilma, o erro do governo foi ter permitido que quem tirasse zero em português recebesse financiamento público. "Deixamos o setor privado controlar a matrícula, e isso está errado. Não pode tirar zero em Português". É constrangedor. Um dia depois de avassaladoras manifestações populares, no dia exato em que o tesoureiro de seu partido foi denunciado pelo Ministério Público, quando tantos fatos graves abalam o país, a presidente tem a admitir um erro: o do Fies.

O governo errou na Petrobras durante anos e a levou a uma crise. A corrupção se alastrou pela empresa. A inflação está alta e subindo pelo efeito de políticas econômica e energética erradas no mandato passado. O Brasil está estagnado. Foi por isso que os brasileiros foram para as ruas no aniversário da redemocratização.

No domingo à noite, os ministros Miguel Rossetto e José Eduardo Cardozo apareceram na televisão meio confusos. Cardozo apresentou promessa requentada, a de uma reforma política e do pacote anticorrupção. Tudo o que fora dito em junho de 2013. Rossetto foi pior ao dizer que os manifestantes "não votaram na presidenta Dilma". Essa visão cria dois tipos de cidadãos: os de segunda classe são os que supostamente não votaram no governo. Mostrou que nada entendeu. Nem da mensagem das ruas, nem de democracia. Sequer entendeu um detalhe estatístico: a popularidade da presidente hoje é muito menor do que o percentual de votos que recebeu. Logo, entre os descontentes, há também quem votou na presidente.

A presidente disse que não deixou de pensar, ao ver as manifestações, que agora os brasileiros podem se expressar, e que valeu a pena lutar pela liberdade. Sim, quem viu o país sob ditadura valoriza ainda mais o direito de manifestação. Só não é dádiva de governo algum. Foi conquista. Árdua, dolorosa. E mesmo quem participou da luta democrática não é dono da vitória. A democracia pertence ao povo brasileiro.

Ela inclui o direito de a população se expressar, e o dever do governo de ouvir, se explicar, ser transparente, agir diante do que está sendo dito. A presidente Dilma conseguiu a proeza de enfrentar duas manifestações contrárias, ao mesmo tempo. Na sexta-feira, manifestantes foram às ruas para apoiar o governo. Alguns carregavam cartazes em que chamavam de "traição" as medidas que o governo tem tomado na economia. Ela tem que explicar aos seus eleitores que essas medidas são para corrigir os erros do primeiro mandato. Segundo o Datafolha, 63% dos que se manifestavam a favor do governo disseram que Dilma sabia dos escândalos da Petrobras. A massa muito maior que foi domingo para as ruas protestou contra o governo Dilma e a corrupção. Dilma teria muito a dizer se enfrentasse a questão. Mas disse que "a corrupção não nasceu hoje. É uma senhora bastante idosa". O problema é este: a velha senhora nunca pareceu tão forte, atuante e ardilosa. E ela é inaceitável. Foi este o recado das ruas.

Marcus Pestana - De Tancredo e a Nova República à crise atual

Publicado no jornal O Tempo (MG) – 16-03-15

Faz 30 anos. Parece que foi ontem. Em 15 de março de 1985 seria o coroamento de uma longa caminhada com a posse de Tancredo Neves na Presidência da República. Após a longa noite do autoritarismo, o Brasil respirava novamente o clima da liberdade e da esperança. Desde 1976, quando as últimas mortes ocorreram nos porões da tortura, iniciamos nossa caminhada rumo à democracia. 

Os primeiros passos foram lentos. O regime militar percebeu a erosão de sua base social de sustentação e iniciou a tentativa de uma transição controlada, a abertura lenta, gradual e segura. Do outro lado, o MDB, frente democrática unificada, os movimentos sociais, as organizações da sociedade civil, como a OAB e a CNBB, lutavam pelo alargamento dos horizontes e defendiam a plataforma democrática. A síntese de nossos sonhos passava por uma anistia ampla, pela Constituinte livre e soberana e pelas eleições diretas. A inquietação nas ruas se agravava.

Conquistamos a anistia. Promovemos o maior movimento social que se tem notícia na história brasileira em torno da bandeira das Diretas Já. O Brasil se reencontrava com os brasileiros. A emenda Dante de Oliveira foi derrotada no Congresso Nacional. Mas a marcha da história era inexorável. 

Lançamos Tancredo Neves como candidato no Colégio Eleitoral. Tancredo, com sua sagacidade, experiência e habilidade, teceu uma sólida frente política em favor da redemocratização. Com apoio maciço da opinião pública, derrotou Paulo Maluf. Chegava ao fim o ciclo autoritário. A Constituinte e as eleições diretas para Presidente seriam consequências naturais. Registre-se que o PT se omitiu no Colégio Eleitoral e lavou as mãos em relação ao futuro do país.

A noite de 14 de março de 1985 foi dramática. Lembro bem que comemorávamos, em Juiz de Fora, o aniversário de dois grandes amigos. De repente, a notícia aterradora caiu como bomba em nossa festa. Tancredo havia se internado na véspera de sua posse. Entrou em campo outra grande figura, Ulysses Guimarães, e diante do risco de um retrocesso, garantiu a posse do Vice-presidente José Sarney.

No dia 21 de abril, data cara aos mineiros, símbolo do sonho libertário dos Inconfidentes, Tancredo Neves nos deixou, como verdadeiro mártir da redemocratização.

De lá até aqui, vivemos o maior ciclo democrático da história brasileira. Avançamos. As instituições democráticas e republicanas se fortaleceram. Nunca houve tamanha liberdade no Brasil. A cidadania foi promovida e a economia, modernizada.

Essas conquistas estão ameaçadas. O Brasil vive gravíssima crise, e um impasse se avizinha. Os valores democráticos e republicanos correm risco. Contra a corrupção institucionalizada e em defesa da democracia é que a sociedade foi às ruas ontem, como verdadeira homenagem a Tancredo, Ulysses, aos brasileiros das Diretas Já, que há 30 anos nos entregaram a liberdade como valor permanente e universal.

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Marcus Pestana é deputado federal e presidente do PSDB de Minas Gerais

Raymundo Costa - Arrocho é saída de Dilma para o protesto

- Valor Econômico

Para acessá-la basta clicar no link abaixo:
Arrocho é a saída de Dilma para protesto

Riscos futuros – Editorial / Folha de S. Paulo

• Dilma muda o tom, mas não reconhece erros cruciais de seu 1º mandato; contribui, assim, para prolongar o impasse e a crise do governo

O destaque dado à pregação do ministro Joaquim Levy (Fazenda) a respeito da necessidade e da urgência de diminuir o excesso de gastos do governo deixa em segundo plano a reafirmação de projetos não menos importantes de reparos na economia.

Entende-se a ênfase no aspecto crítico do ajuste nas contas públicas. Trata-se de precondição para outras reformas e motivo de controvérsia social e política. Descurar do programa mais amplo de Levy, porém, implica menosprezar temas cruciais para a retomada do crescimento --mesmo que modesto-- e para o próprio destino do ajuste, que demandará anos de esforços.

Em evento em São Paulo, o ministro enfatizou que, no que depender dele, haverá um corte brutal de despesas. Até agora, deu consequência a suas palavras. Em janeiro, os gastos federais caíram quase 5% em relação ao mesmo mês de 2014; nos últimos dois anos, haviam crescido mais de 5%. O arrocho no investimento foi de 35%.

Tal compressão evidencia o tamanho das dificuldades atuais e dos riscos futuros. Quanto maior a redução de investimentos, pior a qualidade do ajuste; quanto menor o apoio parlamentar ao ajuste, maior o corte de investimentos.

O reequilíbrio das despesas públicas, contudo, depende também da arrecadação federal, que tende a cair em cenários de recessão --e esta parece se agravar. A incerteza política e a falta de perspectivas de reformas maiores comprometem ainda mais a atividade econômica.

Além do ajuste, Levy tem proposto um programa de desmonte das políticas adotadas pelo governo desde 2009, de modo a diminuir o peso e o ativismo estatais.

Nesta segunda-feira (16), o ministro criticou a concentração de recursos nas mãos do Estado, em vez de deixar ao mercado parte maior na definição de investimentos. Reprovou implicitamente o programa falho de concessões à iniciativa privada --regulado de modo inepto pelo governo-- e as políticas de socorros setoriais. Voltou a sugerir política de comércio exterior "mais ousada".

Descreveu, em suma, um programa de reformas ditas liberais.

Uma iniciativa dessa natureza contribuiria para uma recuperação mais veloz do PIB. Ofereceria uma perspectiva de futuro aos agentes econômicos; talvez amainasse o clima de exacerbação política.

Mas o presente é de pessimismo. O necessário ajuste vê-se ameaçado pela animosidade do Congresso e pela inquietude das ruas.

Em suas primeiras declarações depois dos protestos de domingo (15), a presidente Dilma Rousseff (PT) pediu união em torno do plano de superação da crise econômica.

Mais uma vez, entretanto, apesar de titubear por instantes, Dilma não reconheceu erros essenciais de seu primeiro mandato, com o que demonstra falta de convicção para abraçar o programa de mudanças. Contribui, assim, para prolongar o impasse nacional e, com ele, a crise crônica de seu governo.

Governo precisa ter discurso único sobre protestos – Editorial / O Globo

• Depois de Rossetto desdenhar as manifestações de domingo, a presidente Dilma fala em humildade e diálogo. Precisa cuidar para que seja esta a visão oficial

Vive-se um momento de tensão, com uma crise econômica contratada pelos erros cometidos no primeiro mandato da presidente reeleita, e potencializada por dificuldades de diálogo entre o Planalto e o Congresso, essencial para a implementação de medidas contra esta mesma crise. É nesse contexto que as ruas voltaram a ser ocupadas por manifestações. Sexta, foi a vez de PT e aliados se mobilizarem em apoio à presidente, contra a proposta “golpista” do impeachment e, contraditoriamente, em repúdio ao ajuste fiscal da própria Dilma. No domingo, multidões convocadas por diversos movimentos, sem vinculações partidárias, passaram o dia, também pelo país afora, em protestos contra Dilma, PT e políticos corruptos.

Serviu de resposta contundente aos atos governistas: apenas na Avenida Paulista, SP, e adjacências aglomerou-se 1 milhão de pessoas, algo comparável a alguns comícios históricos da campanha pela volta das eleições diretas, em 1984.

Houve um ou outro excesso. No lado chapa-branca, o capo do MST, João Pedro Stédile, voltou a ameaçar com seu “exército”, termo usado pelo ex-presidente Lula. E, no domingo, desfilaram faixas com pedidos de golpe militar, algo inaceitável, reivindicação tão absurda e delirante quanto as ameaças de Stédile. Mas tudo transcorreu em ordem, em mais uma demonstração de que a democracia brasileira tem bases sólidas, a serem defendidas, sempre.

A desproporção entre a sexta vermelha e o domingo verde e amarelo forçou o governo a pensar. E não apenas pela maior adesão às manifestações de oposição, mas também pela qualidade delas: na sexta, quase exclusivamente militantes convocados pelas máquinas do partido, sindicatos, UNE e organizações ditas sociais. Havia até manifestantes pagos. E no domingo, adesão espontânea.

Mas a primeira reação foi desastrosa. Escalados para falar em nome do governo, os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, entraram no ar com discursos contraditórios. Enquanto Cardoso falava em “abertura ao diálogo” e destacava que Dilma governa para todos, Rossetto, voltado para a esquerda do PT, desdenhava toda a mobilização de domingo, dizendo que se tratavam apenas dos que votaram contra Dilma. Foram saudados por um panelaço em várias capitais.

O governo, ontem, tentou afinar o discurso. Colocou Cardozo ao lado do ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, uma dupla de PT e PMDB, para enfatizar o discurso do diálogo. A operação de rescaldo foi completada pela própria Dilma falando em “humildade” e dizendo-se presidente dos “203 milhões de brasileiros”.

Será preciso mais atenção no Planalto para garantir que a visão que vale é esta e não a de Rossetto. No mais, o governo aposta fichas em que um sempre anunciado pacote anticorrupção e o velho mantra da reforma política saciarão os anseios dos que ocuparam as ruas no domingo. A ver.

Os brasileiros falaram – Editorial / O Estado de S. Paulo

O recado é muito claro. Os brasileiros saíram às ruas - cerca de 1 milhão só em São Paulo - para dizer que não aceitam os caminhos pelos quais a presidente Dilma Rousseff e o PT estão conduzindo o País. Foi uma contundente manifestação espontânea, com o predomínio da classe média - assalariados, profissionais liberais, pequenos empreendedores, jovens e idosos - a exigir dos governantes probidade e competência na gestão da coisa pública.

O desprezo pela probidade por parte do partido que dirige o País há mais de 12 anos está cruamente exposto na sucessão de dois grandes escândalos de corrupção: o mensalão e o da Petrobrás. Com a agravante de que o PT, depois de mais de 20 anos de oposição implacável a "tudo o que está aí", chegou ao poder jurando acabar com a corrupção na administração pública.

Por outro lado, nos quatro anos de seu primeiro mandato, na tentativa desastrada de combater os efeitos da crise econômica internacional com medidas "anticíclicas" - orientadas, na verdade, por uma visão econômica anacrônica de viés ideológico -, entre outras proezas Dilma Rousseff conseguiu provocar a redução do investimento produtivo e a estagnação da indústria nacional, enquanto promovia uma gastança descontrolada que estourou as contas públicas e devastou as contas externas.

Em resumo, conseguiu terminar seu primeiro mandato com o País em situação econômica pior do que a que encontrou em 2011.

Os brasileiros que saíram às ruas em 15 de março disseram basta a tudo isso, inclusive à teimosia da presidente da República em não admitir seus erros. Dilma concede, no máximo, como fez semana passada no Rio de Janeiro, que "esgotamos todos os nossos recursos de (sic) combater a crise que começou lá em 2009". E agora não tem nem disposição pessoal nem força política para adotar as medidas de correção que a vida real impõe.

Nesse sentido, embora as manifestações de protesto tenham sido focadas em Dilma e no PT, abrangeram como um todo o ente governamental - ou "a política" - e podem por essa razão produzir no Congresso o efeito positivo de facilitar a aprovação das medidas de ajuste fiscal propostas pelo Executivo. Afinal, os parlamentares estão empenhados em afirmar diante do Executivo a autonomia do poder que representam, mas sabem perfeitamente de onde vêm os votos que os elegem.

A teimosia de Dilma e sua pouca disposição para dar ouvidos ao que o povo exige ficou mais uma vez evidente nas palavras de dois ministros - José Eduardo Cardozo, da Justiça, e Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência - escalados para, em entrevista coletiva, dar a resposta do governo à voz das ruas.

Cardozo falou para o público em geral e Rossetto, para os petistas. O primeiro repetiu todas as obviedades sobre manifestações democráticas e requentou as promessas de um pacote de medidas contra a corrupção e outro sobre reformas políticas. E logo depois de Cardozo ter afirmado que protestar é "um direito de todos", Rossetto contradisse-o, desqualificando as manifestações com o argumento de que quem saiu às ruas foi principalmente quem "não votou em Dilma". E fez questão de valorizar, mencionando-as duas vezes, as manifestações realizadas dois dias antes - com público significativamente menor do que as de domingo - organizadas pela CUT e outras entidades sobre as quais o PT exerce influência.

O grave é que não ouviram o que o povo falou.

E o povo falou que Dilma - reeleita há quatro meses - já não merece sua confiança. Falou que não quer mais, encastelada no governo, uma quadrilha que assalta sistematicamente a Fazenda Pública.

Falou que não mais tolera uma administração que não trabalha para benefício de todos, e sim para a perpetuação de um projeto de poder que repudia, por antidemocrático e divorciado do interesse nacional. Falou, enfim, que não quer sustentar com seu suado trabalho uma oligarquia que se refestela no engodo, na corrupção e na desmoralização das instituições.

Nada disso a presidente Dilma Rousseff e seus asseclas ouviram. Até quando continuará esse descompasso com a realidade?

Caetano Veloso e Zeca Pagodinho - Com que roupa eu vou (Noel Rosa)

Vinicius de Moraes - Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

segunda-feira, 16 de março de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

Depois de refletir muito, eu optei por não estar nas ruas neste domingo para deixar muito claro quem é o grande protagonista destas manifestações. E ele é o povo brasileiro, o povo cansado de tantos desmandos, de tanta corrupção. Mas o caminho só está começando a ser trilhado. Por isso, não vamos nos dispersar!

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Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Manifestações contra Dilma levam multidão às ruas do País

• É o maior protesto político no Brasil desde as Diretas-Já; ministros vão à TV, prometem medidas anticorrupção e são alvo de novo panelaço; para presidente, situação é pior do que em junho de 2013

O Estado de S. Paulo

Uma multidão foi neste domingo, 15, às ruas para protestar contra a presidente Dilma Rousseff, dois meses e meio após ela dar início ao segundo mandato numa acirrada disputa com o PSDB, principal adversário político do PT. Os manifestantes pediram o fim da corrupção, reclamaram da situação econômica e defenderam o impeachment da presidente. Uma minoria falou em intervenção militar. O antipetismo foi a marca comum entre todos os grupos que decidiram protestar.

Segundo o instituto Datafolha, essa foi a maior manifestação política registrada no Brasil desde o movimento das Diretas-Já, em 1984. Em São Paulo, a Avenida Paulista foi praticamente toda tomada. Grupos organizados discursaram de carros de som para um público predominantemente vestido de verde e amarelo. Políticos de oposição até participaram dos protestos, mas preferiram ficar à margem, sem comandar palavras de ordem. Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), principais adversários de Dilma em 2014, comemoraram a mobilização via rede social.

O governo foi surpreendido com a quantidade de gente que foi às ruas. Dilma chegou a afirmar a auxiliares que as manifestações deixam a situação política “mais complicada” do que em junho de 2013, quando uma série de protestos derrubaram a popularidade da presidente. Para dar uma resposta formal aos atos de ontem, Dilma escalou dois ministros para falar com a imprensa. Enquanto seus discursos eram transmitidos por programas de TV, várias capitais voltaram a repetir o panelaço de domingo da semana passada.

'2 milhões'. Os protestos contra o governo Dilma Rousseff ao longo do domingo foram realizados em todos os 26 Estados e no Distrito Federal.

Houve manifestações em repúdio à gestão petista nas capitais e em, ao menos, 185 cidades do País. Atos, bem mais tímidos, também foram realizados em Nova York, Londres, Paris e Buenos Aires.

Segundo informações oficiais das Polícias Militares dos Estados, no mínimo, 1,950 milhão de brasileiros foram às ruas, a maioria vestida de verde e amarelo e com cartazes pedindo impeachment, renúncia da presidente e até mesmo a intervenção militar.

Em São Paulo, a Polícia Militar calculou cerca de 1 milhão de pessoas na Avenida Paulista por volta das 15 horas, momento de maior concentração no local. Nota da corporação informou ter estimado a presença de cinco manifestantes por metro quadrado na avenida e ruas adjacentes.

De acordo com o Datafolha, o evento reuniu 210 mil participantes no local. Se levado em conta o histórico de levantamentos do instituto, o ato político de ontem foi o maior já realizado desde o movimento pelas eleições diretas, em 1984, quando cerca de 400 mil pessoas, ainda de acordo com dados do Datafolha, se reuniram no centro de São Paulo.

Na sexta-feira, o ato pró-governo e em defesa da Petrobrás, organizado pelas centrais sindicais e por movimentos sociais na Avenida Paulista, reuniu, segundo a PM, número aquém de participantes ao registrado pelo Datafolha. Enquanto os policiais estimaram o público em 12 mil pessoas, o instituto de pesquisa falou em 41 mil.

Outras capitais. Capitais como Vitória e Porto Alegre chegaram à marca de 100 mil manifestantes, segundo as PMs locais, superando até mesmo a expectativa da organização. Em Curitiba, foram calculadas 80 mil pessoas. E em Goiânia, 60 mil.

Tradicional reduto do PT, o Nordeste teve passeatas nas nove capitais da região. Cerca de 75 mil nordestinos, segundo a PM, participaram dos protestos.

Democracia tem novo 15 de março

Dois milhões nas ruas

• Trinta anos depois da data que marcou a redemocratização, brasileiros protestam contra a presidente Dilma e o PT; manifestações pacíficas ocorrem em todos os estados e no Distrito Federal

- O Globo

A volta dos protestos

Com menos de três meses de seu segundo governo, Dilma Rousseff foi alvo ontem da maior série de protestos enfrentada por um presidente desde as passeatas pelo impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992. As manifestações levaram ao menos dois milhões de pessoas às ruas, de acordo com estimativas oficiais, número que surpreendeu o governo. Na maior delas, em São Paulo, um milhão de pessoas tomaram a Avenida Paulista, segundo a Polícia Militar, no maior ato contra o governo. Todos os 26 estados, além do Distrito Federal, foram palco de protestos.

Os protestos aconteceram exatamente 30 anos depois da posse de José Sarney no Palácio do Planalto, pondo fim a um regime militar que durou 21 anos. Por essa razão, o 15 de março de 1985 tornou-se o marco da redemocratização.

No 15 de março de 2015, os atos tiveram como mote central das críticas ao governo Dilma. Muitos pediram o impeachment da presidente, mas não todos. Sobraram críticas ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsabilizados por alguns participantes por escândalos de corrupção como o revelado pela Operação Lava-Jato, na Petrobras. Alguns pediram uma intervenção militar como forma de solucionar a crise no país, mas esses grupos eram pequenos.

Em sua maioria, os manifestantes vestiam verde-e-amarelo, em contraste com os protestos de sexta-feira, em favor do governo, onde a cor vermelha, usada nas bandeira dos sindicatos, predominou. Na sexta-feira, o público foi estimado pela Polícia Militar em 33 mil.

A grande maioria das manifestações de ontem ocorreu de foram pacífica. O principal incidente foi registrado em Jundiaí, onde a sede do PT na cidade foi incendiada. Em São Paulo, 20 integrantes do grupo batizado de Carecas do Subúrbio foram presos com morteiros e um soco inglês. Eles foram hostilizados pelos demais manifestantes, que os acusaram de tentar tumultuar um ato pacífico.

Todas as capitais nordestinas, região onde Dilma venceu a eleição do ano passado com folga, tiveram protestos. Em Fortaleza, 20 mil pessoas foram às ruas. Atos expressivos também foram registrados em Porto Alegre (100 mil), Curitiba (80 mil) e Goiânia (70 mil). No Rio de Janeiro, milhares foram à Avenida Atlântica, em Copacabana, muitos com rostos pintados, lembrando os caras-pintadas que, em 1992, exigiam a saída de Collor.

A adesão em massa pegou de surpresa o governo. Após reunião emergencial, a presidente Dilma escalou os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), que anunciaram medidas em resposta às ruas, entre elas a reforma política. Enquanto eles falavam, foram registrados panelaços nas principais capitais.

O Movimento Brasil Livre, um dos que organizou os protestos de ontem, já está convocando na internet novos atos para 12 de abril.

‘Fora, Dilma’ reúne 210 mil em São Paulo e multidões no país

Multidão vai às ruas contra Dilma e assusta o governo

• SP tem maior protesto após as diretas - Manifestações atingem todo o país - Governo enfrenta panelaço de novo

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Protestos contra a presidente Dilma Rousseff levaram uma multidão às ruas das maiores cidades do país neste domingo (15). Os manifestantes fizeram uma vigorosa demonstração de sua insatisfação com Dilma e o PT, partido que governa o país desde 2003. Muitos defenderam o impeachment da presidente.

Em São Paulo, o protesto atraiu 210 mil pessoas para a avenida Paulista, segundo cálculos feitos pelo Datafolha. Foi a maior manifestação política da capital após a campanha das Diretas Já, em 1984. O verde e o amarelo predominaram nas roupas dos que foram às ruas.

Houve protestos em 153 cidades, incluindo as capitais de todos os Estados e Brasília. Estimativas feitas pela Polícia Militar nos Estados ao longo do dia, com critérios menos confiáveis que os do Datafolha, sugerem que as manifestações atraíram 1 milhão de pessoas em São Paulo e cerca de 1,7 milhão nas capitais.

No início da noite, o governo enfrentou novo constrangimento. Moradores de São Paulo e outras cidades foram às janelas de seus apartamentos vaiar, gritar e bater panelas ao ver na televisão o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, destacados pela presidente para comentar as manifestações e defender o governo em entrevista coletiva.

Organizados por vários grupos nas redes sociais, os protestos tiveram reduzida participação de políticos. Líderes partidários foram impedidos de discursar. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), que perdeu para Dilma a eleição de 2014, apareceu na janela do seu apartamento no Rio e divulgou um vídeo na internet. "Não vamos nos dispersar", pediu.

Na entrevista à noite, Cardozo disse que as manifestações são expressão de espírito "democrático" e que o governo está disposto a "ouvir quem nos critica e quem nos apoia". Os dois ministros defenderam reformas no sistema político e disseram que vão apresentar em breve um pacote anticorrupção, promessa feita por Dilma na campanha de 2014.

Nas ruas, contra o governo Dilma

Zero Hora ( RS)

SÃO PAULO - Em uma das maiores manifestações da história do Brasil, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas contra o governo Dilma. Em São Paulo, foram mais de 1 milhão na Avenida Paulista, segundo a Polícia Militar. Em Brasília, 45 mil na Esplanada dos Ministérios. Em Porto Alegre (foto), onde a BM estimou 100 mil manifestantes, a mobilização começou no Parcão e se espalhou por avenidas como Osvaldo Aranha e Goethe, chegando à Redenção. Em resposta à mobilização popular, os ministros José Eduardo Cardozo e Miguel Rossetto prometeram um pacote anticorrupção. Panelaços foram ouvidos em São Paulo, Belo Horizonte, Recife e no Rio durante o pronunciamento do Planalto.

Manifestações críticas a Dilma mobilizaram centenas de milhares de pessoas em pelo menos 150 cidades em todos os Estados brasileiros e no DF

Menos de cinco meses depois de vencer a eleição presidencial mais apertada da história, Dilma Rousseff viu-se ontem na condição de alvo de uma das maiores mobilizações populares que o Brasil já testemunhou. Da manhã à noite, brasileiros saíram às ruas em mais de 150 cidades para manifestar repúdio à presidente e a seu governo, associando-os ao bilionário escândalo na Petrobras. Os atos, registrados em todas as unidades da federação, teriam reunido, segundo estimativas das polícias militares, cerca de 1,8 milhão de pessoas – mobilização comparável às de junho de 2013 e superior às da última sexta-feira, promovidas por grupos de apoio ao governo.

Em meio à crise econômica e às desconfianças éticas que derrubaram os índices de aprovação da presidente, os gritos de "Fora Dilma" ecoaram de Sul a Norte, com respingos até em cidades do Exterior, como Nova York, Miami, Londres e Buenos Aires. Vestidos de verde e amarelo, os manifestantes que cantaram o Hino Nacional, exibiram faixas e cartazes com ataques à presidente e ao PT e pediram o fim da corrupção. A bandeira nacional apareceu em muitas janelas, e buzinaços saudaram a passagem de passeatas. No Twitter, 100 mil mensagens sobre o assunto foram postadas a cada hora.

Uma parcela considerável dos manifestantes reivindicava o impeachment da presidente, trazendo à lembrança o movimento popular de 1992 que ajudou a apear Fernando Collor de Mello do poder.

– Somos milhares de pessoas que pedem o impeachment. O governo está numa situação lamentável – afirmou, em São Paulo, Rubens Nunes, do Movimento Brasil Livre.

Outros grupos, ainda mais radicais, pediram uma intervenção militar para derrubar a presidente.

– Quero os militares. Com impeachment, não haverá limpeza. Os militares têm seriedade e hierarquia – defendeu, em Belém (PA), a gestora em saúde Flávia Moura, 33 anos.

Os protestos começaram ainda pela manhã, mas atingiram seu ápice no meio da tarde, quando a Polícia Militar estimou em cerca de um milhão o total de manifestantes na Avenida Paulista, em São Paulo – o Instituto Datafolha, no entanto, calculou o total de presentes em 210 mil.

Depois de São Paulo, epicentro do antipetismo e baluarte do PSDB, Porto Alegre foi, conforme as estimativas oficiais, a cidade que mais reuniu descontentes. Segundo a Brigada Militar, cerca de 100 mil pessoas protestaram na capital gaúcha.

Na segunda maior metrópole brasileira, o Rio de Janeiro, a polícia calculou em 15 mil os participantes – segundo os organizadores, foram 50 mil. O principal líder da oposição, Aécio Neves (PSDB), candidato derrotado por Dilma no segundo turno da eleição presidencial, não saiu à rua, mas tratou de se mostrar solidário aos protestos. Deixou-se fotografar na janela de seu apartamento, na orla do Rio, com uma camiseta da Seleção – uniforme adotado por muitos manifestantes – e publicou um vídeo de apoio no Facebook. Segundo Aécio, o 15 de março será lembrado como o "dia da democracia":

– Depois de refletir muito, optei por não estar nas ruas neste domingo, para deixar muito claro quem é o grande protagonista dessas manifestações. E ele é o povo brasileiro, o povo cansado de tantos desmandos, de tanta corrupção.

Em reação, Planalto propõe medidas anticorrupção
Em Brasília, os manifestantes – 40 mil, segundo a Polícia Militar (PM), e 100 mil, conforme os organizadores – concentraram-se pela manhã em frente ao Congresso Nacional. Munidos de vassouras e sabão, eles lavaram as calçadas do parlamento. Protestos e marchas também ocorreram em cidades como Belém (50 mil pessoas, segundo a PM), Campinas (35 mil pessoas), Belo Horizonte (24 mil ), Fortaleza (15 mil), Salvador (7 mil) e Recife (5 mil). Em Jundiaí, no interior paulista, a sede local do PT foi incendiada.

Em comparação com os protestos de 2013, os atos de ontem chamaram atenção pela organização e estrutura. Em diversas cidades, houve distribuição de adesivos, vuvuzelas, camisetas e flores. Em São Paulo, nove carros de som foram espalhados ao longo da Avenida Paulista – três deles ligados a grupos que pregam uma intervenção militar. Em Brasília, o funcionário público João Carlos de Souza, envolvido na organização do protesto, disse que houve apoio financeiro de "importantes empresários do Distrito Federal".

Enquanto os protestos ocorriam pelo país e ganhavam repercussão internacional, Dilma permaneceu no Palácio da Alvorada, onde reuniu-se com ministros e assessores. Ela discutiu o lançamento de um pacote anticorrupção para aplacar a voz das ruas. No começo da noite, os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, concederam entrevista coletiva sobre os atos populares.

– O governo, que tem clara postura de combate à corrupção, que ao longo desses últimos tempos tem criado mecanismos que propiciam as investigações com autonomia, irá anunciar algo que já era promessa eleitoral: um conjunto de medidas de combate à corrupção e à impunidade. A postura do governo é de que sua posição não se limite a essas medidas. Estamos abertos ao diálogo – disse Cardozo.

Brasileiros protestam em todas as regiões do país

- Diário de Pernambuco

Vestidos de verde e amarelo, brasileiros de 15 estados foram às ruas neste domingo (15) em protestos contra o governo. A principal reclamação da população é contra a corrupção, mas alguns grupos também pediam o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a intervenção militar.

A maior movimentação aconteceu em São Paulo, onde cerca de 1 milhão de pessoas, segundo contagem da Polícia Militar, e 210 mil, segundo o Datafolha, tomaram a Avenida Paulista. No Recife, segundo a PM, 8 mil pessoas marcaram presença no evento organizado pelos grupos apartidários Vem pra Rua e Estado de Direito.

Em Brasília, cerca de 50 mil pessoas se concentraram na Esplanada dos Ministérios e seguiram para o Congresso Nacional. Após horas de manifestação pacífica um grupo tentou chegar ao Palácio do Planalto e teria jogado pedras na polícia, que reagiu com bombas de efeito moral. Uma pessoa ficou ferida.

Em Belo Horizonte, a Praça da Liberdade foi o local de encontro dos 24 mil mineiros que participaram do ato. No Rio de Janeiro foi a praia de Copacabama, na Zona Sul, que recebeu cerca de 15 mil manifestantes durante a manhãm, segundo contagem inicial da PM, que não atualizou o número depois. Durante o ato, as duas pistas da Avenida Atlântica foi fechada. À tarde um novo protesto começou no centro da cidade, na Igreja da Calendária. Os manifestantes usaram carros de som para criticar o governo e a corrupção e alguns cantaram hinos do Exército Brasileiro, defendendo a volta dos militares ao poder.

Em Porto Alegre a Brigada Militar do Rio Grande do Sul estima que cerca de 100 mil pessoas participaram dos atos que aconteceram no Parcão, no bairro Moinhos de Vento e no Parque da Redenção. Também no Sul, em Curitiba, 80 mil pessoas se reuniram na Praça Santa Andrade, de onde sefuiram para o Centro Cívico.

Em Goiânia, 60 mil pessoas marcaram presença nos atos que ocorreram na Praça Tamandaré e o Parque do Areião, no percurso de 4 quilômetros. Em Capinas, estima-se que 15 mil pessoas estiveram presentes na manifestação.

No Rio, uma Copacabana verde e amarela

• De camarote. Moradores da Avenida Atlântica saúdam os manifestantes

- O Globo

Uma multidão pacífica tomou ontem de manhã orla de Copacabana em protesto contra o governo, a corrupção e o PT. Com os rostos coloridos de verde e amarelo, lembrando o movimento pelo impeachment do então presidente Fernando Collor, em dezembro de 1992, os manifestantes ocuparam a Avenida Atlântica, com faixas e cartazes. Eram festejados por moradores dos prédios, que acenavam e exibiam bandeiras do Brasil.

O comando da PM não deu uma avaliação oficial de presentes. Policiais militares avaliaram entre 20 mil a 25 mil o número de participantes, por volta de 10h. Organizadores estimaram em 100 mil.

O protesto começou por volta das 9h30m na altura do Posto 5, com dois carros de som e sem bandeiras de partidos políticos. Na trilha sonora, paródias e músicas de Gonzaguinha, Cazuza, Geraldo Vandré, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana e Ultraje a Rigor.

Palavras de ordem como "a pátria jamais será vermelha", "o PT roubou" e "fora Dilma" eram intercalados com o Hino Nacional e vaias ao governo. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), único político notado na multidão, foi impedido de subir num carro de som e acabou vaiado.

- Eu disse que não queria falar, mas eles insistiram. Não posso ser unanimidade - afirmou o deputado.

Na companhia de artistas e famosos, como a atriz Regina Duarte, o ator Márcio Garcia e o humorista Marcelo Madureira, o príncipe João Henrique de Orleans e Bragança, da família real brasileira, engrossou o coro contra a corrupção.

No fim do protesto, foi puxado um coro de impeachment. Os organizadores informaram que os carros de som foram bancados por uma vaquinha entre os grupos que convocaram o ato. Segundo a PM, não houve ocorrências relevantes. Mais tarde, no Centro, cerca de duas mil pessoas protestaram, segundo a Guarda Municipal; oito mil, segundo os organizadores

Todas capitais do Nordeste têm atos

• Região é onde presidente teve mais votos: Força de protestos surpreende organização no Sul e Porto Alegre reúne 100 mil pessoas

O Estado de S. Paulo

Reduto eleitoral do PT, o Nordeste assistiu neste domingo, 15, a manifestações em todas as capitais da região. Com baixa adesão, porém, em relação ao restante do País, os protestos reuniram cerca de 75 mil pessoas nas ruas de Estados onde a presidente Dilma Rousseff recebeu até 78% dos votos válidos em outubro.

Vestidos de verde e amarelo, os manifestantes gritaram “Fora Dilma”, com pedido de impeachment ou renúncia e até mesmo de intervenção militar.

Em Teresina, 4 mil manifestantes, segundo a Polícia Militar, chegaram a “velar” Dilma e o PT na Avenida Marechal Castelo Branco. “Esta é uma manifestação popular. O povo quer ir às ruas para ser ouvido e mostrar sua indignação. A nossa intenção é acabar com a corrupção”, disse Lúcia Santos, presidente do Sindicato dos Médicos do Piauí.

O mesmo tom de repúdio ao PT e à presidente foi visto na manifestação de João Pessoa, onde 1,5 mil pessoas, segundo a PM, se concentraram na Praia de Tambaú. “Avaliamos (o ato)como positivo e queremos que isso não pare por aqui. Precisamos de respostas, e o Brasil precisa mudar”, disse Maurício Albuquerque, do Movimento Brasil Livre (MBL).

Duas manifestações reuniram, segundo a PM, 10 mil pessoas em Salvador. O movimento atraiu famílias inteiras, idosos e também crianças. O advogado Carlos Augusto Costa, de 62 anos, levou a mulher, três filhos – dois deles com as mulheres – e dois netos, um menino de 8 e uma menina de 5 anos. “É importante envolver a família nesse tipo de manifestação, incentivar a cidadania.”

Outras regiões. No Sul, onde Dilma teve votação menos expressiva, a força da manifestação surpreendeu. “Sendo otimistas, pensávamos em 60 mil nas ruas”, disse Fábio Ostermann, um dos líderes do MBL em Porto Alegre, onde, segundo a Brigada Militar, havia 100 mil pessoas entre os Parques Moinhos de Vento (Parcão) e o Farroupilha (Redenção). “Isso nunca foi visto aqui no nosso Estado em termos de participação do povo”, disse o aposentado José Luiz Teixeira.

A reforma política também pautou os discursos. “Deveríamos começar do zero, fazer uma reforma política a partir disso, não podemos mais conviver com essa corrupção”, disse o manifestante Marco Romero, de Curitiba. Na capital paranaense, foram 80 mil pessoas, segundo a PM, em ato entre a Praça Santos Andrade e a Boca Maldita.

Em Belo Horizonte, onde 24 mil se concentraram na Praça da Liberdade, segundo a PM, o fisioterapeuta André Luís Bernadeli, de 38 anos, levou a família para protestar. “O momento é de indignação com o que acontece no Brasil”, disse.

Sob gritos de “Fora Dilma” e “a nossa bandeira jamais será vermelha”, 15 mil pessoas, segundo a PM, ocuparam a orla de Copacabana, no Rio. “Pouco me importa quem vai ser o presidente, desde que não seja do PT”, disse o engenheiro Mauricio Cruz, de 57 anos.

A Esplanada dos Ministérios recebeu 45 mil pessoas, segundo a PM. A presidente ficou isolada no Palácio do Alvorada. A servidora pública Fabiane Freitas disse que “ela nunca tem conhecimento de nada, nunca sabe de nada”. / MURILO RODRIGUES ALVES, ANDRÉ BORGES, ADRIANA FERNANDES, EDUARDO RODRIGUES, ANGELA LACERDA, FELIPE WERNECK, ROBERTA PENNAFORT, CLARISSA THOMÉ, VINICIUS NEDER, TIAGO DÉCIMO e JANAÍNA ARAÚJO, LUCIANO COELHO, LUCAS AZEVEDO, JULIO CESAR LIMA

Dimensão de atos pega governo de surpresa

• Presidente passa do dia no Alvorada e, devido à manifestação em São Paulo, convoca cinco ministros

- O Globo

A volta dos protestos

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff passou o dia de ontem no Palácio da Alvorada, acompanhando os protestos. No meio da tarde, chamou um grupo de ministros mais próximos para definir o que seria anunciando ao fim do dia. Integrantes do governo demonstraram preocupação e, em alguns momentos, perplexidade com o tamanho das manifestações. O clima mais tenso entre os governistas se estabeleceu à tarde, a partir do protesto em São Paulo. De manhã, integrantes do governo estimavam em, no máximo, 200 mil pessoas na Av. Paulista. No entanto, o número pegou a todos de surpresa. Estiveram com Dilma, além de José Eduardo Cardozo (Justiça) e de Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Thomas Traumann (Secretaria de Comunicação Social), Jaques Wagner (Defesa), e Giles Azevedo, assessor especial da presidente.

Pela manhã, houve manifestações isoladas em frente ao Palácio da Alvorada, a favor e contra Dilma. As duas vias de acesso ao local ficaram interditadas aos carros. A segurança na residência oficial da presidente foi reforçada, com mais de dez seguranças na entrada do local. Acompanhado de seus dois cachorros, o funcionário público Valter do Tete disse que votou em Dilma e que defende a permanência dela no poder. Segundo ele, impeachment é "choro de derrotado". Um outro cidadão que estava corria no local também gritou o nome da presidente, em sua defesa.

Houve, no entanto, manifestações contrárias. De manhã, quando o acesso ao local ainda era possível, uma pessoa em um carro com uma bandeira do Brasil passou devagar e gritou: "Fora Dilma!". No início da tarde, já com os dois acessos interditados, um grupo de pessoas da mesma família tirou fotos em frente ao espelho d"água. Um deles gritou: "Vai embora Dilma!". Durante a tarde, uma senhora conseguiu entrar de carro na parte externa do Palácio da Alvorada. Ela se identificou como Márcia e contou que estava atrás da van que trouxe seguranças e quando chegou aos cones conseguiu entrar também:

- Perguntei: não posso passar? Eles deixaram. Vim aqui para ver o que está acontecendo, quais ministros estão chegando. Não estou de roupa amarela, manifestante sozinha é meio difícil.

Resposta imediata
Dilma recebeu, no início da tarde, o ministro da Justiça. Segundo interlocutores, ela e Cardozo discutiram medidas de combate à corrupção que serão anunciadas nesta semana e fizeram uma primeira avaliação das manifestações. Pelos cálculos, só pela manhã, mais de 189 mil brasileiros tinham ido às ruas, mas o número não incluía os manifestantes em São Paulo. À tarde, a estimativa de público chegou a mais de 1 milhão. Com o fortalecimento do número de manifestantes nas ruas, integrantes do governo pensaram em não comentar os protestos na noite de ontem, deixando as respostas para hoje. A avaliação que prevaleceu, no entanto, foi a de que seria politicamente pior deixar o país dormir sem algumas palavras do governo, como o respeito às manifestações democráticas.

No meio da tarde, o Ministério da Justiça causou mal-estar nas redes sociais ao postar um Banner com a frase "Discurso de ódio fere a democracia". Internautas reagiram, fazendo comentários de que o governo procurava atacar manifestações pacíficas que ocorriam em todo o país. Depois de pouco mais de uma hora no ar, o ministro Cardozo pediu a seus assessores que retirassem o Banner do ar para evitar atritos desnecessários.
Para o governo, nas manifestações, houve pedido de impeachment, mas elas não resumiram a retórica, houve também cobrança por combate à corrupção e também mudanças no sistema político.

Durante entrevista, panelaço

• Assim como domingo passado, moradores, principalmente em bairros nobres, voltaram a se manifestar contra o governo Dilma batendo panelas, desta vez durante a fala dos ministros

- O Globo

Durante a entrevista coletiva dos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), na qual eles avaliavam as manifestações de rua ocorridas ontem e na última sexta-feira, vários panelaços foram registrados pelo país.

No último domingo, 8 de março, o mesmo tipo de manifestação já havia ocorrido durante um pronunciamento da presidente Dilma Rousseff em rede nacional. Como na semana passada, os protestos se concentraram em bairros nobres - muitas vezes acompanhados de buzinaços nas ruas próximas. Gritos de "Fora, Dilma" e "Fora, PT", presentes nas manifestações de rua, também ecoaram dos apartamentos.

Assim que a dupla de ministros surgiu na tela da TV, pipocaram pelas redes sociais vídeos que registravam pessoas batendo panelas nas em suas janelas e sacadas. Outros mostravam prédios à distância, mas registrando o ruído característico.

Foram flagrados panelaços em capitais de norte a sul, como Recife, Salvador, Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Cidades médias, como Niterói, Caxias do Sul e várias do interior paulista, também aderiram.

No Rio, o protesto ocorreu sobretudo pela Zona Sul, em bairros como Jardim Botânico, Humaitá, Botafogo, Flamengo, Leblon, Lagoa e Ipanema.

Em Belo Horizonte, houve registros de manifestações em bairros como Anchieta, Serra, Carmo, Funcionários e Sion.

A manifestação também foi registrada em bairros de diferentes regiões da capital paulista. Na região central, há registros de panelaço em Higienópolis, Santa Cecília, Consolação e Bela Vista. Na Zona Sul, os protestos foram feitos no Itaim, Brooklin, Moema, Vila Mariana e Sacomã, assim como em prédios próximos à favela de Paraisópolis. Na Zona Oeste, o barulho do panelaço foi ouvido nos bairros de Pinheiros, Perdizes e Jardins.

Ao ser informado a entrevista coletiva estava sendo saudada com panelaços Brasil afora, o ministro Miguel Rossetto comentou que "tanto quem bate panelas quanto quem aplaude o governo" está participando da democracia.

Oposição comemora adesão em massa

• Estratégia é não deixar o clamor das ruas diminuir; líderes vão se reunir para definir próximos passos

- O Globo

BRASÍLIA- Cumprindo a promessa de não ir às ruas ontem, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) publicou um vídeo nas redes sociais comemorando o alcance das manifestações e dizendo que "o caminho só está começando a ser trilhado":

- Depois de refletir muito, eu optei por não estar nas ruas neste domingo para deixar muito claro quem é o grande protagonista destas manifestações. E ele é o povo brasileiro, o povo cansado de tantos desmandos, de tanta corrupção. Mas o caminho só está começando a ser trilhado. Por isso, não vamos nos dispersar! - afirmou no vídeo.

À tarde, Aécio, que preside o PSDB, apareceu na janela de seu apartamento, no Rio, com o filho no colo.

Segundo os líderes da oposição, a estratégia para não deixar esfriar o calor das ruas é centrar fogo nas investigações do petrolão na CPI da Petrobras e assim tentar aprofundar informações sobre uma eventual participação da presidente Dilma Rousseff no escândalo. Além disso, falam em rejeitar o pacote de aumento de impostos e em apoiar outras manifestações que venham a acontecer. Amanhã, eles se reúnem para definir a agenda dos próximos passos.

- As manifestações marcaram o começo do começo do fim. Ouvido o que dirá o governo, detalharemos o planejamento dos próximos passos - disse Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

Líder do Democratas no Senado, Ronaldo Caiado(GO) disse acreditar que as manifestações não vão parar e que as pessoas foram às ruas dizer não a um governo que insiste em repassar a conta da corrupção para os trabalhadores. Ele criticou ainda a coletiva dada por ministros na tarde de ontem.

-A situação do governo do PT vai ficando insustentável. A população não vai dar sossego nem arrefecer. Os ministros que falaram por Dilma estão desconectados da realidade. Foi extremamente deselegante com todos os brasileiros a definição rasa dos manifestantes como somente pessoas que não votaram nela. Quer dizer que não interessa mais ao governo ouvir 51 milhões de brasileiros em relação às decisões à frente do país?

Líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE) disse que o governo da presidente Dilma precisa dar atenção ao movimento que vem das ruas e tornar medidas que deem satisfação à sociedade. Para o peemedebista, ao contrário do que aconteceu em junho de 2013, as pessoas focaram a insatisfação nas ações do Executivo.

- Há um sentimento de insatisfação que pede um rearranjo do ponto de vista político, gerencial. O Congresso é o espelho da sociedade e tem que refletir o sentimento da população. E a presidente prefazer mudanças que satisfaçam a sociedade.

Serra: protestos foram produto espontâneo

• Senador vê manifestações como reação ao 'estelionato eleitoral' cometido pelo atual governo da presidente Dilma Rousseff

Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

O senador José Serra (PSDB) avaliou há pouco que os protestos deste domingo contra o governo da presidente Dilma Rousseff foram "produto espontâneo" da reação ao "estelionato eleitoral e à inépcia do governo federal e da indignação contra a corrupção implantada como método de administrar o país".

Em postagem na sua página oficial no Facebook intitulada "Longe das benesses do poder, mas perto do pulsar das ruas", o tucano afirmou que 15 de março será "fator decisivo" da mudança de rumos do Brasil neste início de século. "Hoje o povo brasileiro fez história. Mais de um milhão de pessoas em São Paulo, quase dois milhões em todo o país. Foi uma das maiores manifestações da história do Brasil", escreveu.

Serra destacou o fato de os protestos não terem sido organizados por "partidos da oposição ou entidades sindicais", em referência aos protestos desta sexta-feira organizados pela CUT e outras centrais sindicais. Apesar das críticas à política econômica do governo, os atos de anteontem defenderam a presidente Dilma, em um contraponto aos pedidos de impeachment.

O ex-governador de São Paulo afirmou ainda que os protestos deste domingo vão ser decisivos para mudança de rumos do País em direção a uma "democracia mais forte e representativa, ética na administração pública e desenvolvimento para todos". Ele aproveitou o post ainda para "Nós do PSDB temos a palavra de ordem que vai orientar nossa atuação junto à sociedade: longe das benesses do poder, mas perto do pulsar das ruas - lema que presidiu a nossa fundação", disse.

Freire e Bueno consideram um sucesso os protestos contra o governo Dilma e o PT

Valéria de Oliveira - Portal do PPS

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, e o líder do partido na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), consideraram um sucesso as manifestações contra o governo Dilma e o PT em todo o país. O número de participantes, salientaram, foi surpreendentemente grande. Às 16 horas deste domingo (15), um milhão de pessoas lotavam a avenida Paulista, em São Paulo, segundo a Polícia Minitar e milhares chegavam a todo momento.

Em Brasília, também segundo a PM, 50 mil pessoas foram à Esplanada dos Ministérios participar do movimento. No Rio de Janeiro,o número chegou a 30 mil na praia de Copacabana; em Ribeirão Preto, 40 mil; Belo Horizonte, 25 mil. Em 23 estados ocorreram manifestações.

Ao participar do protesto na Paulista, Freire afirmou que, “a partir de agora, as ruas precisam decidir o que fazer e não mais se restringir às manifestações contra o governo”. O dirigente ressaltou que não havia raiva, mas alegria nos rostos das pessoas que lotavam a avenida e suas imediações, “por elas vislumbrarem que estão chegando ao fim os dias de governo de Lula e Dilma”.

Rubens Bueno, que participou da manifestação em Curitiba, ressaltou que “há 10 anos estamos batendo na mesma tecla, a de que somos governados por uma organização criminosa e que só com o povo nas ruas, demonstrando sua indignação, poderemos vencê-la; a população fez a sua parte e temos esse movimento vitorioso”.

Freire disse que o volume de pessoas que aderiram aos protestos em todo o país é semelhante ao de grandes manifestações da história do Brasil, como o movimento das Diretas Já, dos caras pintadas contra o governo Collor e as manifestações de junho de 2013. “Me faz lembrar o réveillon na Paulista, do qual participei, quando a avenida estava lotada de ponta a ponta, como hoje”, contou.

Rubens Bueno disse que, nos protestos, estavam claros alguns pontos: “a insatisfação com o governo Dilma Rousseff, a indignação com a corrupção no governo, com a crise econômica e com a inoperância de um governo inepto, incapaz”.

Para Freire, a repercussão das manifestações junto ao governo terão como consequência “uma atitude de se enredarem ainda mais na incompetência, a desarticulação e a ausência de soluções para os graves problemas do Brasil, inclusive a corrupção, na qual o governo está diretamente envolvido”.

Reação do governo às manifestações foi arrogante, avalia PPS

Valéria de Oliveira - Portal do PPS

O PPS considerou “arrogante” a reação do governo às manifestações contra Dilma Rousseff e o PT que ocorreram em 23 estados brasileiros neste domingo. O presidente Roberto Freire e o líder na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), acharam que os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rosseto (Secretaria-Geral da Presidência da República) agiram como se os protestos não tivessem acontecido no pronunciamento e na entrevista coletiva ocorridos no início da noite.

“O governo continua achando que as manifestações não significam nada, que os mais de 1,5 milhão de pessoas que foram às ruas hoje eram eleitores de Aécio Neves, ou seja, eles não estão entendendo coisa alguma”, afirmou Roberto Freire. “Os ministros foram profundamente arrogantes e, por isso, a melhor resposta ao governo foi o panelaço que aconteceu durante o pronunciamento deles”.

Segundo Freire, “o governo começa a não poder mais falar, porque mesmo que sejam os ministros e não a presidente da República, são saudados com panelaços”.

Rubens Bueno criticou os ministros porque trataram “uma manifestação da ordem da que ocorreu hoje como se fosse aquela do dia 13, dos trinta dinheiros, que foi um retumbante fracasso”. O parlamentar referia-se ao movimento da CUT, do MST e da UNE a favor do governo.

“Não imaginava que o (ministro) José Eduardo Cardozo fosse se prestar, junto com o outro ministro (Rosseto) ao teatro do cinismo que eles apresentaram”, disse o líder. Para Bueno, eles continuaram a tratar a situação como a “guerra do nós contra eles, uma visão torta, de aparelhamento do Estado para atender a apetites de poder”.

Enquanto os ministros falavam, ocorreram panelaços em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e Brasília, dentre outras cidades.

Ricardo Noblat - O que o seu mestre mandar

- O Globo

"O processo ditatorial, o processo autoritário, traz consigo o germe da corrupção."-  Tancredo Neves, ex-presidente da República

A presidente Dilma Rousseff tem duas opções: achar que o pior já passou e que o tempo se encarregará de arrefecer a rejeição da maioria dos brasileiros ao seu governo, a se levar em conta não só as multidões que ocuparam, ontem, as ruas, mas também pesquisas de opinião pública prestes a sair do forno. Ou então adotar medidas que convençam o distinto público de que ela está disposta de fato a mudar.

LULA SE QUEIXA abertamente do que aponta como indisposição de Dilma para conversar, e até para ouvir conselhos. Engrossou com ela na semana passada durante reunião no Palácio da Alvorada. Quem estava por lá jura que Lula bateu forte com a mão na mesa e levantou a voz com Dilma, cobrando dela que reformasse o quanto antes o Ministério medíocre que montou. Dilma também gritou.

SE DEPENDESSE de Lula, Dilma reservaria a Aloizio Mercadante (PT-SP) apenas a chefia da Casa Civil da Presidência, sem que se metesse com a coordenação política do governo. Dilma mandaria embora da coordenação política o ministro Pepe Vargas (PT-RS), das Relações Institucionais, considerado por Lula como fraco. E o substituiria pelo ministro Jaques Wagner (PT-BA), da Defesa.

NÃO FICARIA SÓ nisso. Dilma seduziria o PMDB com a oferta de mais um ou dois ministérios , de modo a que se tornasse mais difícil para ele abandoná-la. E restabeleceria relações com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados. Renan, mais do que Eduardo, aumentou a distância de Dilma. E ela não pode se dar a esse luxo .

A EQUIPE DE COMUNICAÇÃO do governo deveria ser totalmente revista, segundo Lula. É com o marqueteiro João Santana que Dilma ainda troca ideias. Pois ela tem cultivado o isolamento. Para refletir, informam alguns dos seus porta-vozes. Por desconfiar dos que a assediam, admite gente ligada a Lula. Um dos ministros do governo afirma que Dilma parece perdida.

É TUDO O QUE ela não pode estar, observa Lula. Dilma deveria ser humilde a ponto de fazer um pronunciamento à nação pedindo desculpas pelos erros que cometeu. E explicando com mais clareza e sem truques o ajuste fiscal que está sendo obrigada a promover. João Santana dará um jeito de ser um pronunciamento melhor do que o mais recente, recepcionado por um panelaço.

QUANTO AO RESTO... Dilma não poderia cair na tentação de amenizar o arrocho fiscal para satisfazer as tendências mais à esquerda do PT e de outros partidos. E que continuasse circulando pelo país, de preferência em áreas capazes de tratá-la bem, à espera dos resultados da política econômica do ministro Joaquim Levy, da Fazenda. Por fim, se Dilma fosse de rezar, que rezasse.

EM MOMENTOS DE aperto severo, Lula reza. Desculpa-se por ter escolhido Dilma para suceder-lhe, mas argumenta que não tinha outro nome. Antonio Palocci e José Dirceu, nomes naturais, haviam se danado com o mensalão. Arrepende-se de não ter acertado com ela sua volta como candidato a presidente da República no ano passado. Imaginou que Dilma deixaria a cadeira para ele. Enganou-se.

COMO SE VÊ, a receita de Lula para que Dilma se recupere é a mais convencional possível. Aplicado a ele talvez desse certo, mas por ser Lula quem é. Dilma não tem outro caminho a não ser o apontado por Lula. Reclame à vontade. Diga que continuará governando de olho em sua biografia. Não tem jeito. Fará o que seu mestre mandar. O contrário seria o imponderável.

Merval Pereira - Rumo à alternância de poder

- O Globo

O PT está indelevelmente ligado à corrupção, depois do mensalão e do petrolão. As manifestações de ontem foram, sobretudo, contra a continuidade do PT no governo, e a ampliação do alcance dos gritos de "Fora Dilma" indica muito mais a inconformidade de um eleitorado que foi enganado na campanha eleitoral do que uma tentativa golpista.

Se fôssemos um país parlamentarista, o governo já teria sido derrubado. A maioria no Congresso existe apenas no papel, pois em todas as votações recentes o governo tem sido minoritário, mesmo quando consegue evitar a derrubada de vetos da presidente.

Se a eleição fosse realizada hoje, Dilma não seria reeleita, apontam as pesquisas, que lhe dão também apoio de apenas 7% da população. Se a percepção generalizada valesse, o Congresso teria condições de aprovar o impeachment, porque a maioria da população está convencida de que a presidente sabia o que estava acontecendo na Petrobras, mesmo que não tenha se beneficiado como pessoa física do dinheiro desviado.

Mas se beneficiou politicamente, desde a eleição de 2010. Como somos presidencialistas, até que se prove que a presidente sabia o que estava acontecendo, não há condições técnicas nem políticas para o processo de impeachment.

Mas a presidente já perdeu a legitimidade para governar, está desacreditada pela maioria da população, pois é generalizada a sensação de que, desde que os partidos passaram a nomear os diretores da Petrobras, quando ela era ministra de Minas e Energia, instalou-se oficiosamente na estatal sob a sua subordinação um esquema corrupto que está sendo revelado na Lava-Jato. Isso no governo Lula que marca, segundo o gerente Pedro Barusco, o momento em que a corrupção passou a ser institucionalizada, como parte de um projeto político de manutenção do poder.

Para recuperar a legitimidade política, teria que se reinventar, ser outra Dilma, o que parece impossível. Anunciar novos pacotes só vai aumentar a irritação do povo, enquanto a inflação alta e o crescimento negativo corroem o poder de compra do cidadão. Sendo assim, continuará governando, pois foi eleita legalmente, em meio a crises políticas e econômicas cada vez mais graves, até que a eleição presidencial de 2018 permita a alternância de poder que por pouco não se deu em 2014 e é uma das bases da democracia. Isso se a Lava-Jato não chegar às provas contra ela antes da próxima eleição presidencial, ou se não perder as condições políticas de ficar à frente do governo.