terça-feira, 15 de março de 2016

Salvando a pele - Merval Pereira

- O Globo

A provável decisão de Lula de aceitar fazer parte do Ministério da presidente Dilma, depois de ter recusado duas vezes, além de explicitar o papel subalterno que ela tem em relação a seu tutor político, inaugurando o parlamentarismo à moda petista, é exemplar do descaso com que Lula trata a Justiça brasileira.

Esse menoscabo já havia ficado claro por um descuido de um vídeo da deputada Jandira Feghali, que mostra ao fundo Lula conversando com a presidente Dilma ao telefone. A certa altura, ele diz que os promotores deveriam “enfiar no c* o processo”. Mais tarde, os petistas tentaram fazer outra leitura, dizendo que ele mandara enfiar “o acervo”, mas o sentido de aviltamento continuava intacto.

Antes, no depoimento que deu à Polícia Federal, ontem divulgado na íntegra, Lula já havia se expressado de maneira infame em relação aos promotores, a pretexto de defender sua mulher: “Manda a mulher do procurador vir prestar depoimento, a mãe dele. Por que vai minha mulher?”.

A sua confissão de culpa vem no mesmo momento em que a denúncia dos promotores paulistas é transferida para a esfera do juiz Sérgio Moro, o que escancara o objetivo de blindá- lo com o foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF). A nomeação é definida pela procuradora Silvana Batini como uma fraude processual, porque seria um desvio de finalidade do ato administrativo da presidente da República.

A nomeação será contestada na Justiça pela oposição com esse argumento e ainda por “ofensa ao princípio da moralidade”, já que Lula está sendo investigado em diversas instâncias da Justiça brasileira. Já a presidente Dilma pode vir a ser acusada de obstruir as investigações. Dificilmente, no entanto, alguma dessas medidas terá efeito prático, porque são causas e motivações muito mais subjetivas do que a do ministro da Justiça, por exemplo, que tinha uma razão formal para ser impedido de assumir o cargo.

Mas haverá embaraços políticos evidentes para o ex- presidente, que não se livrará da pecha de ter fugido do juiz Moro. A cereja do bolo é ainda o artigo 51 da Constituição, que determina que o presidente da República, o vice- presidente e ministros de Estado só podem ser processados com a autorização de dois terços da Câmara dos Deputados.

A decisão, além de enfraquecê-lo moral e politicamente, pode levar a um problema familiar: dona Marisa e seus filhos não terão necessariamente foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal. O STF vem tratando dessa questão de foro privilegiado da forma mais instável possível, comenta a procuradora Silvana Batini.

Antigamente, a prática era que todos os coautores seguiam para o Supremo junto com o réu que tinha foro privilegiado. Com o tempo, isso veio sendo flexibilizado porque, à medida que houve um incremento de ações penais envolvendo autoridades, os próprios tribunais superiores começaram a ficar incomodados, e passaram a julgar separando o processo, ou atraindo a competência de acordo com a conveniência do processo, o que gera certa imprevisibilidade.

O STF, no caso do mensalão, por exemplo, julgou todo mundo junto. Mas, se os ministros seguirem a linha que vêm adotando na Operação Lava- Jato, deixarão separado. Lula joga de maneira arriscada seu prestígio político na tentativa de fugir da Justiça e, ao mesmo tempo, reconstruir o governo Dilma para se viabilizar como candidato em 2018.

Evidente que a simples decisão muda o jogo político, e freia momentaneamente o que parecia uma inabalável corrida de deputados em direção ao impeachment da presidente Dilma, mesmo porque os deputados só se inclinarão para uma decisão definitiva se se convencerem de que não há mais vida política neste governo.

Se Lula decidir mesmo afrontar a Justiça e a opinião pública assumindo o controle do governo e tomando medidas populistas para recuperar a popularidade, pode afundar o país definitivamente para salvar sua pele. Nesse caso, caminharemos para o pior dos mundos, a venezualização do país, com todas as consequências de radicalização política e depressão econômica.

Sob o risco da leitura de que ex-presidente foge da Justiça - Carlos Melo*

- O Estado de S. Paulo

A possibilidade de o ex-presidente Lula assumir um ministério no governo Dilma é uma jogada de alto risco, com diversas e complexas implicações. Em primeiro lugar, seria um sinal muito negativo para a própria imagem do ex-presidente. A trama não se resume apenas em protegê-lo, mas a primeira leitura seria essa, a de que Lula fugiu da Justiça para deixar sua sorte nas mãos do Supremo, o que coloca uma enorme responsabilidade para a própria Corte, forçada a decidir os destinos de Lula sob enorme pressão e clamor da sociedade. E qualquer decisão estará sob suspeição – ou de excesso para provar independência ou de conivência.

No campo do governo também haverá problemas claros: primeiro, com Lula sob o mesmo teto, Dilma abriria mão do poder; Lula seria a referência de autoridade interna e externamente ao governo. Seria antecipar o impeachment, com uma duvidosa solução petista. Mas, não apenas isso: há quem acredite que Lula reorganizaria o governo, rearticularia o Executivo com o Legislativo e com a economia. Também aí parece haver incongruências: o Lula de hoje não é o Lula de um ano atrás, tampouco o Lula de 2010. Já não mobiliza e nem agrega como antes: quais nomes realmente críveis traria para o governo?

E, acima de tudo, a estratégia é de risco também porque é de um enfrentamento que talvez o PT não tenha mais força para fazê-lo; o PT não é o mesmo; não é mais seguido por tantos setores como no passado; a nomeação seria compreendida como uma declaração de guerra de um exército que perdeu quase todos seus soldados. Os congressistas que decidirão (ou não) a respeito do impeachment de Dilma têm consciência disso tudo.
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*Cientista político e professor do Insper

Motivações - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Por que fazer manifestações, se temos as pesquisas de opinião? A pergunta, disparada por meu filho David, de 14 anos, levanta uma questão interessante.

Desde abril de 2015 sabemos que ao menos 85 milhões dos 140 milhões de eleitores brasileiros (60%) são favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff. O fato de 3,5 milhões terem ido às ruas no domingo para pedir o afastamento não acrescenta muita informação nova ao dado anterior. Ainda assim, as manifestações são vistas como um divisor de águas, que tornam o impeachment se não inevitável, ao menos mais provável.

A resposta para o paradoxo é conhecida há tempos pelos psicólogos que estudam risco. Cálculos racionais são indispensáveis para entender um fenômeno, mas são péssimos motivadores. Se nossos ancestrais procurassem computar qual era a chance real de ser devorados por leões antes de fugir quando encontravam esses felinos, nós não estaríamos aqui. Se estamos, é porque a evolução nos dotou com um sistema rápido de tomada de decisões. Acionado por emoções como medo, raiva, nojo, ele nos faz agir antes de pensar.

Políticos, a exemplo de outros seres humanos, têm maior probabilidade de agir quando motivados por por coisas que lhes causam "paúra", como eleitores protestando nas ruas, do que por pesquisas de opinião. O resultado disso é que as manifestações deverão catalisar o movimento de abandono do governo pelo que restou da base aliada. Se até aqui dava para apostar que Dilma contava com os 171 deputados necessários para bloquear o impeachment na Câmara, fazê-lo agora é mais arriscado.

A essa altura, o melhor é tentar resolver rapidamente a crise política, para não prolongar mais a recessão. A dupla renúncia de Dilma e Temer seria o menos traumático para o país, mas é improvável que ela ocorra, pois os sentimentos de grandeza e desprendimento não motivam tanto quanto a obstinação e a ambição.

Tapar o sol com a peneira - Luiz Carlos Azedo

• Dilma prefere entregar seu governo para Lula do que ao vice-presidente Michel Temer. É uma espécie de renúncia velada aos poderes da Presidência

- Correio Braziliense

Como no ditado popular que intitula a coluna, o governo tenta minimizar o que é óbvio e verdadeiro: a importância dos protestos de domingo. A frase foi usada pelo vice-presidente Aureliano Chaves ao comentar o resultado das eleições de 1978, nas quais a oposição obtivera cerca de 15,18 milhões de votos, contra 10 milhões do partido governista, embora a Arena saísse do pleito com maior número de deputados e senadores do que o MDB, devido às mudanças nas regras do jogo feitas pelo chamado “Pacote Abril”. No ano seguinte, porém, começou a nossa lenta e gradual transição à democracia, com a aprovação da Lei da Anistia.

A entrevista do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, ontem, sobre as manifestações de domingo não passou de uma tentativa de tapar o sol com a peneira. O petista fala como se as pessoas fossem “levadas pelo nariz” para as manifestações, pois avalia que os protestos foram segmentados e convocados por entidades empresariais e comerciais. “Sem desmerecer a manifestação, mas não me venha falar em espontaneidade. Nunca tivemos um protesto tão produzido, pelo menos no grande centro de São Paulo”, disse.

Há um certo cinismo nisso, uma vez que as manifestações pró Dilma são realizadas com militantes arrebanhados pela estrutura sindical por todo o país, com direito a diária, ônibus de graça, refeições, sob o comando de líderes encastelados há décadas nos sindicatos controlados pelo PT e seus aliados. Isso não acontece nos protestos convocados pelas redes sociais. Mesmo assim, as manifestações de apoio à presidente Dilma, convocadas pelo PT para o próximo dia 18 em todo o país, testarão a capacidade de reação dos militantes petistas.

Na verdade, os protestos provocaram uma mudança na correlação de forças no Congresso, o que assusta o governo, pois pode resultar na aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff. A nomeação de Lula para comandar a articulação política do governo seria a única alternativa para evitar esse desfecho imediato da crise. “Se Lula vier, ele vai seguramente cuidar do que mais conhece, que é política”, disse Wagner. Segundo o ministro, “todo mundo quer que ele venha”.

Rainha da Inglaterra
Esse “todo mundo” significa que a presidente Dilma prefere entregar seu governo para Lula do que ao vice-presidente Michel Temer. É uma espécie de renúncia velada aos poderes da Presidência: Dilma desempenharia o papel de Rainha da Inglaterra, pois os demais ministros passarão a seguir a orientação de Lula até por gravidade. Tudo indica que Lula aceitará o cargo durante conversa com Dilma prevista para hoje. É uma aposta válida para ambos, porque tanto um quanto o outro estão encurralados, embora o ex-presidente tenha mais a ganhar do que a perder.

A dúvida de Lula quanto aceitar ou não um cargo no governo decorria da decisão a ser tomada pela juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga em relação ao seu pedido de prisão apresentado pelo Ministério Público de São Paulo. Ela resolveu remeter o processo para o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba. Segundo a juíza paulista, os crimes denunciados são federais e não estaduais, há numa investigação em curso sobre eles na Justiça Federal e caberia a Moro desmembrar o processo, caso entenda que algum crime seja de âmbito estadual. Lula quer ver o diabo na frente, mas não quer ser julgado por Moro.

Não foi à toa que Wagner, durante a entrevista, usou e abusou de expressões que fazem alusão ao juiz federal. Disse que “tem gente babando sangue” na busca de atingir o petista e que “Lula virou um troféu”. Além de salvar a presidente da República do impeachment, a entrada da maior estrela petista no governo traria duas vantagens: o primeiro é restabelecer o foro privilegiado do ex-presidente da República, o que faria com que seu processo saísse da alçada de Moro; o segundo, alavancar sua candidatura a presidente da República em 2018, que começa a fazer água por causa do desgaste do governo.

Caso se confirme a entrada de Lula no governo Dilma, a oposição estará diante de um adversário mais competente e popular do que a presidente, disposto a dar uma guinada populista aos rumos do governo para neutralizar os efeitos da crise econômica junto aos eleitores de baixa renda, que começam a ser contaminados pela insatisfação da classe média. Essa mudança levará a radicalização política a um novo patamar, mas não há garantia de que isso vá resolver a crise econômica. Muito menos barrar a Operação Lava-Jato.

Do impeachment às eleições gerais - Raymundo Costa

• As várias fórmulas do Congresso para tirar a presidente

- Valor Econômico

Há uma nova saída para o "fora Dilma" sendo articulada no Congresso: o impeachment da presidente combinado com o fim da reeleição. Para tanto, além de afastar Dilma Rousseff, o Congresso terá de votar uma emenda à Constituição. Tem uma PEC já aprovada pela Câmara pronta para ser votada no Senado Federal.

É uma saída, mas o Congresso discute mais de uma alternativa para encerrar o ciclo do PT no planalto central do país. Do parlamentarismo à convocação de eleições gerais. A única certeza é que Dilma perdeu as condições para governar. Fato que dificulta a saída parlamentarista, que preservaria o mandato da presidente. Mesmo com poderes restritos, Dilma seguiria sabotando o novo sistema, como fez João Goulart desde que assumiu a Presidência, em 1961. O regime parlamentar ou semi-parlamentar é uma solução que não resolve o problema.

Pela fórmula mais aceita no Congresso, especialmente no Senado, a presidente seguiria no comando das Forças Armadas e da política externa. Ao primeiro-ministro caberia a chefia do governo propriamente dito. Imagine-se Dilma, em regime de co-habitação, às turras com o primeiro-ministro por causa de Nicolás Maduro, por exemplo.

Há dois outros problemas para a opção parlamentarista. A mudança do sistema requer a aprovação de uma proposta de emenda constitucional, votada em dois turnos, separadamente, na Câmara e no Senado. Entre os senadores considera-se que a solução parlamentarista seria a mais rápida, como requer a situação. Mas tem o problema legal. Amanhã o Supremo Tribunal Federal decide se só um novo plebiscito pode alterar a decisão popular que fez a opção pelo presidencialismo como forma de governo, em 1993. Por outro lado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, está convencido de que pode tocar o impeachment em até 45 dias, se tanto. Ou seja, Dilma poderia ser afastada pelo Senado mais ou menos no início de maio.

O otimismo do presidente da Câmara tem como base o fato de que o PT e a presidente estão inteiramente isolados na Câmara dos Deputados. O núcleo de resistência governista estaria restrito ao PT, PCdoB, partes do PDT e ao líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani - o que não é bastante sequer para chegar aos 170 deputados que a presidente precisa para barrar o impeachment. Até o presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, em artigo publicado no sábado pela "Folha de S. Paulo" reconheceu que o impeachment pode ser a saída para o impasse. O PRB tem 19 deputados e o Ministério dos Esportes.

No caso de Fernando Collor, que sofreu o impeachment em 1992, a Câmara levou menos de 30 dias de setembro para votar a autorização para o Senado processar o presidente. Na primeira semana de outubro, em votação simbólica, os senadores decidiram que a Câmara havia cumprido os requisitos necessários, afastou Collor de suas funções e iniciou o julgamento do mérito do processo. Collor foi condenado no fim de dezembro, quase dois meses depois.

O processo correrá mais ou menos rápido dependendo da resistência do PT. A manifestação governista marcada para esta sexta-feira dará a medida. A eventual entrada do ex-presidente Lula também pode adiar ou até rever o processo. De outro lado, o Supremo pode mudar alguma coisa no rito que estabeleceu para a tramitação do pedido de impeachment, especialmente no que diz respeito a regras sobre a eleição da comissão especial da Câmara. Podem ser admitidas chapas avulsas (decisão que beneficia a oposição) e o voto secreto, Mas não é esperada nenhuma mudança sobre o papel revisor do Senado. Em 1992, a Casa também analisou preliminarmente se a Câmara cumprira os requisitos necessário para autorizar o processo contra Collor, sem entrar no mérito da acusação.

A maior mudança, hoje, em relação a dezembro do ano passado, é política. A decisão do Supremo sobre os ritos do impeachment dificultando as ações da oposição, na realidade, acabou jogando contra o governo. Se o impeachment houvesse sido votado naquela época, o Palácio do Planalto provavelmente contaria com 170 votos para derrubar o processo na Câmara. Se o impeachment ultrapassasse a primeira barreira, havia o Senado e seu presidente, Renan Calheiros, mais firmes que hoje na disposição de dar um voto de confiança à presidente.

A decisão do Supremo permitiu ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, suspender a instalação da comissão, recorrer da sentença e interromper as negociações sobre a convocação extraordinária do Congresso. Isso deu tempo para o vice-presidente Michel Temer correr para recompor o PMDB em torno de sua recondução a presidente do partido, ameaçada pela ação do Palácio do Planalto. Ao mesmo tempo, o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) teve seu papel reduzido com as revelações sobre suas relações com a OAS, e o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, logo foi questionado pelo PT e hoje é mais um assessor da presidente. As condições econômicas pioraram, sem que Dilma exibisse musculatura suficiente para reverter a situação. impeachment casado com a PEC do fim da reeleição, no momento, é uma fórmula em alta sobretudo na Câmara. O fim da reeleição é necessário para tranquilizar os eventuais pretendentes de que Michel Temer não será tentado, mais tarde, a querer disputar um novo mandato, se o seu governo estiver dando certo. Temer, aliás, já informou os partidos que não pensa na reeleição. Nunca se sabe. Melhor escrever.

Há ainda uma outra hipótese sendo testada nas conversas entre os líderes partidários - a convocação de eleições gerais, de presidente da República a prefeito, de deputado federal a vereador, nas eleições de outubro deste ano. Até as manifestações de domingo, quando prevaleceram o "fora Dilma" e o "viva Moro", essa era uma opção citada por último nas conversas. Isso pode mudar. Principalmente se a Operação Lava-Jato permanecer como a força motriz do processo político.

O vazio e o réu - Miriam Leitão

- O Globo

O dilema em que o país está é que os caminhos para fazer a vontade das ruas têm dois obstáculos: um vazio e um réu. Se a trilha para tirar a presidente Dilma Rousseff do governo for o impeachment pelo Congresso, o processo será comandado por um réu da Lava- Jato, operação que recebeu o mais amplo apoio popular a uma investigação. Se for pelo TSE, os processos só serão julgados em setembro, um tempo longo demais.

As ruas foram de uma eloquência inegável. Querem a saída constitucional da presidente da República e isso não é golpe. A retirada do chefe do governo é previsto no presidencialismo brasileiro e tem os dois caminhos que descrevi acima. Soluções que tentam contornar o impeachment via Congresso ou a condenação via Justiça não fazem sentido. Qualquer mudança da forma de governo, semipresidencialismo ou parlamentarismo, não pode valer para o mandato atual.

Sobre o parlamentarismo, seria um absurdo ainda maior por dois motivos, um político e outro lógico. Consultado duas vezes, na década de 1960 e na de 1980, o povo brasileiro rejeitou o parlamentarismo. Teria que ser ouvido novamente. E por lógico entende- se que dar mais poder a um Congresso com as duas Casas sendo presididas por pessoas às voltas com a Justiça é uma contradição. Não se viu nas ruas nenhum pedido de mudança de forma de governo, mas sim mudança do governo.

O foco da rejeição ficou absolutamente claro: é o PT, a presidente Dilma e o ex- presidente Lula. Contudo, o que houve em São Paulo deve acender a luz amarela no painel de todos os políticos porque o que as ruas estão dizendo é que, a exemplo de outros países do mundo, a população está cansada da forma tradicional de fazer política, que aqui inclui o trocatroca, o toma- lá- dá- cá, a distribuição de cargos como se fosse a instalação de sesmarias, benefícios a empresas que depois se tornam doadoras de campanha. Essa crise da representação precisa ser levada a sério pelos políticos porque os brasileiros não querem apenas a troca de um partido ou de uma pessoa, querem uma transformação estrutural.

Por isso o que foi aclamado nas manifestações de domingo foi a Lava- Jato e seus símbolos : a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o juiz Sérgio Moro. Quanto ao juiz, aumentando ainda mais seu percentual de acertos, soltou uma nota em que tirou o foco que estava posto sobre ele, em cartazes e refrões, para jogar luz sobre o trabalho coletivo de órgãos de controle. Apesar de ter sido alvo de ataques e críticas, como as do ex- presidente Lula, ele não aproveitou o momento para qualquer revanche pessoal. Preferiu pensar institucionalmente, o que é um conforto nestes tempos de hoje.

O movimento de domingo enfraquece a presidente ainda mais. Escrevi aqui, no dia 6, que o governo Dilma estava diante do seu fim antecipado. Nenhum governante permanece no poder se não tiver apoios nem popularidade. Depois de manifestações que foram as maiores do país fica ainda mais evidente que esta administração acabou. E isso é que nos coloca no dilema descrito acima: os caminhos da mudança têm no Congresso o obstáculo de o presidente da Câmara ser Eduardo Cunha, réu da Lava- Jato; o caminho do TSE tem o problema do tempo, porque só em setembro é que estão previstos os julgamentos.

Haveria a alternativa de o próprio governo se salvar da fogueira com mudanças na maneira de governar ou na política econômica. Não é crível que isso aconteça. Pelo contrário, na economia a possibilidade maior é de que qualquer alteração seja para piorar a política econômica. A inflação deve ter uma queda no índice de doze meses, mas isso não chega a ser um alívio porque os preços subirão menos, mas continuarão subindo de um patamar já muito elevado. A recessão e o desemprego não darão trégua tão cedo. A crise fiscal continua sendo uma ameaça para o crescimento da dívida pública. A confiança de empresários, investidores e consumidores não será restabelecida por este governo. A crise econômica é profunda, mas não foi ela que levou os brasileiros às ruas, e sim o forte e generalizado repúdio à corrupção. Não é a conjuntura que machuca mais, é a estrutura. Por isso o ato de domingo abre tantas possibilidades para o Brasil.

E o Brasil disse: basta! – Editorial / O Estado de S. Paulo

O 13 de Março apontou o caminho com uma clareza absolutamente inquestionável: basta! O governo Dilma acabou de fato e com ele o famigerado ciclo de poder lulopetista, que depois de se sustentar por anos apoiado no populismo rasteiro que teve seus momentos de brilho no embalo de uma conjuntura favorável afundou o País na atual crise política, econômica e moral. Esse processo foi acelerado, por um lado, pelo mar de lama que emergiu com a Operação Lava Jato e suas congêneres e, por outro, pela inacreditável incompetência política aliada à inépcia gerencial de Dilma Rousseff. Resta agora formalizar, com a observância estrita dos preceitos constitucionais, o que foi decretado nas ruas. E, numa segunda etapa, consertar as instituições que foram conspurcadas pela tigrada e repor o País no rumo do crescimento sustentável e com justiça social.

A tarefa de reconstrução nacional, por princípio difícil em qualquer circunstância e em qualquer lugar, é de modo especial desafiadora quando deve ser feita com o material humano de que a política brasileira dispõe. Basta olhar para o Congresso Nacional, onde os presidentes das duas Casas que o compõem são obrigados a dividir seu tempo entre comandar à sua maneira peculiar o Poder Legislativo e defender-se das múltiplas investigações e denúncias criminais que os acossam.

De qualquer modo, ficou claro que uma mobilização como a que reuniu multidões no 13 de Março só poderia ter sido feita por movimentos suprapartidários, enraizados num genuíno e multifacetado anseio popular por mudança. Os milhões de brasileiros que saíram mais uma vez às ruas sabem exatamente o que não querem, mas estão divididos quanto ao que, além disso, desejam. Mas nem por isso deixam de se unir em torno dos pontos com os quais concordam. E o fazem como bons cidadãos e vizinhos, em paz e concórdia. Na verdade, conseguem extrair alegria de um momento de grande gravidade.

Essa massa que acorreu às ruas na maior manifestação pública do gênero na história da República também demonstrou desconfiança e impaciência com lideranças político-partidárias em geral. Aécio Neves e Geraldo Alckmin, alvos de manifestações pontuais de desaprovação na Avenida Paulista, exatamente como ocorreu com muitos outros políticos Brasil afora, devem ter sentido com preocupação a cota extra de responsabilidade que lhes pesa nos ombros.

O fato é que, aos poucos – mas muito rapidamente –, as lideranças dos movimentos e os próprios manifestantes vão percebendo que a realização de seus anseios só poderá dar-se no Congresso Nacional. Ou seja, a crise política, econômica e moral montada pela corrupção lulopetista só será desmontada na arena política. E também dali é que surgirão as soluções para o destravamento da economia e a limpeza dos costumes políticos. Assim, não é de espantar que, no 13 de Março, políticos profissionais tenham comparecido às ruas – ainda que enfrentando a incompreensão e a intransigência de alguns manifestantes.

O governo, por sua vez, reagiu desnorteado ao 13 de Março. Sem ter o que dizer, teria sido preferível que o Palácio do Planalto se recolhesse ao silêncio obsequioso, em vez de enveredar por obviedades infantojuvenis a respeito de “maturidade de um País que sabe conviver com opiniões divergentes e garantir respeito às leis e instituições”. Afinal, diante das repetidas manifestações do povo brasileiro, são mais que patéticas as declarações de que Dilma e o PT devem permanecer no poder para “respeitar a vontade do povo”. Lá ficam para tentar, in extremis, perpetuar um projeto de poder que se sustentou com o maior esquema de corrupção na gestão pública de que o País tem notícia.

Diante das hipóteses de o PMDB desembarcar formalmente do governo – porque, de fato, desde sábado já apeou – e de Lula assumir o governo disfarçado de ministro, só restou ao Palácio do Planalto a inspiração acaciana de dizer que “a liberdade das manifestações é própria das democracias e por todos deve ser respeitada”. Se Dilma, de fato, respeitar a clamorosa vontade popular, logo teremos a notícia de sua renúncia.

Um ‘ basta’ das ruas a Dilma, Lula e PT – Editorial / O Globo

• Manifestações históricas forçam o andamento do calendário do impeachment, enquanto a economia se dissolve, sem perspectivas de mudanças

Em crises profundas e amplas como a atual, a evolução de suas vertentes política e econômica não costuma se dar na mesma velocidade. Neste domingo, impulsionados pelo maior conjunto de manifestações de rua da História do país, o calendário e o relógio da face política da crise apertaram o passo rumo a um desenlace.

Até aqui, o processo assustador de liquefação da economia permanece sem uma perspectiva de solução — mesmo que as melhores alternativas para reequilibrar as contas públicas, conter inflação, reativar investimentos e consumo sejam conhecidas. Porém, por desagradarem a PT e aliados, nada se faz. É neste ponto que as crises política e econômica se entrelaçam e interagem.

Mas os milhões de manifestantes de domingo contra Dilma, Lula, PT, e a favor de Sérgio Moro e Lava- Jato — não importa se 3,6, segundo as PMs, ou 6,9, de acordo com os organizadores —, tiveram tal dimensão, maior que todos os eventos políticos de rua ocorridos até hoje no país, que forçam uma definição sobre o futuro de uma presidente acuada em Palácio.

Do roteiro para a votação do pedido de impeachment de Dilma já fez parte a convenção do PMDB, no sábado, em que o partido reconduziu o vice Michel Temer à presidência e se deu uma espécie de aviso prévio de 30 dias, durante os quais não aceitará cargo no governo e definirá a independência em relação ao Planalto. Não por acaso, neste prazo deverá ficar previsível o futuro de Dilma. O partido não foge ao estilo de manter os pés em duas canoas. Mas já conversa com tucanos sobre governo de transição.

Dilma e os ministros mais próximos, noticia-se, se curvaram ao fato estrondoso da ida às ruas em protesto contra ela, seu mentor e seu partido. Tratam de reparar as avarias, por meio de mais conversas com a base parlamentar. Deve vir por aí mais fisiologismo. A ver.

O inevitável é que o calendário do impeachment está em andamento, e amanhã se prevê que o Supremo julgue os embargos de declaração (pedidos de esclarecimento) encaminhados pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), para elucidar questões sobre o rito a seguir. Estabelecidas de vez as regras do impedimento, Cunha, de costas para o Planalto faz tempo, promete ser rápido. Continua incômoda a presença na Mesa da Casa de alguém com a ficha de Cunha, investigado pela Lava- Jato, já denunciado ao STF pela Procuradoria-Geral da República, também autora de pedido à Corte do afastamento do deputado da Mesa da Câmara. Mas, esteja ou não Cunha no cargo, o processo tramitará independentemente dele.

O PT, por sua vez, insiste no mantra do “golpe”, cada vez mais desafinado, diante das evidências de que tudo tramita sob o manto da Constituição. Inclusive na Lava- Jato. E assim precisa continuar a ser. Também é inócuo o partido maldizer a “classe média”, sempre presente em momentos políticos importantes, e não só no Brasil. Por sinal, foi ela que deu o empurrão decisivo para que um Lula convertido à paz e ao amor chegasse afinal ao Planalto em 2003 e lá ficasse por mais um mandato.

Mas precisam os militantes e a cúpula da legenda procurar entender por que perdem apoio em regiões em que vinham sendo bem votados nestes 13 anos de poder. Pelo menos, nos dias que antecederam o domingo, demonstrações de arrogância de Dilma, ao falar sobre renúncia, e ameaças de Lula com sua “jararaca” não devem ter contribuído para os interesses do partido.

Mobilizações acuam governo, que busca manter-se à tona – Editorial / Valor Econômico

As peças do xadrez político se moveram novamente e aproxima-se o xeque mate no governo de Dilma Rousseff. A gigantesca manifestação em São Paulo, acompanhada de outras com maior número de participantes nas capitais e duas centenas de cidades, deu aval aos partidos para tirarem o PT e sua impopular presidente do poder. Em dois encontros, o PMDB, fiel da balança, aproximou-se do PSDB com vistas à sucessão de Dilma e, em convenção, avançou mais rumo ao desembarque do governo, em um movimento que deve arrastar parte da estilhaçada base governista.

Em breve, serão sacramentadas as delações premiadas do ex-líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, e de executivos de várias empreiteiras. Elas seguramente não melhorarão a situação do PT e seu governo, e têm potencial para provocar terremotos nos demais partidos, em especial no PMDB. O caráter agudo da crise política se revela no fato de que a terra treme em volta dos protagonistas principais de um eventual desfecho, como Michel Temer e Renan Calheiros, que estão com a cabeça a prêmio na Justiça, da mesma forma que Eduardo Cunha, o presidente da Câmara que deverá reiniciar o processo de impeachment. Sozinha, a oposição (PSDB e DEM) não tem condições de definir o rumo desse processo.

Com marcada aversão a políticos e partidos, a mobilização das ruas, ao fechar o foco em "Fora Dilma" e "Fora PT", deu carta branca aos partidos no Congresso para que façam todo o possível para tirar a presidente Dilma do Planalto. PMDB e PSDB se aproximaram com essa finalidade na semana passada. Esse acordo não é fácil, porque a outra face da crise, a econômica, lega um pesado ônus político a quem quer que seja o sucessor de Dilma. As diferenças no ambiente político são gritantes caso ele seja Michel Temer ou alguém sagrado pelas urnas em novas eleições, caso a chapa Dilma-Temer seja cassada pelo TSE.

Ajustar as contas públicas e criar condições para a volta do crescimento exigirá medidas duras e um tempo para que tenham efeito que contraria o calendário eleitoral. Ou então, a saída seria um tratamento de choque, que exigiria um mandatário com credibilidade e prestígio políticos que só uma nova eleição poderá dar.

Se o vice-presidente Michel Temer parar em pé, terá o apoio da oposição para ir em frente com o ajuste fiscal, limpando o terreno para os tucanos que, em tese, são a bola da vez. O que o PMDB ganharia fora a promessa de uma nova vice-presidência em um eventual governo do PSDB não é certo - e pode não ser desejável.

Há outros cursos possíveis que não encaminham uma solução para a crise. Se o rito do impeachment, ou os julgamentos que envolvem a presidente, se arrastarem até 2017, e ela for afastada, caberá ao Congresso - quem sobrar nele - escolher o sucessor por via indireta. O escolhido faria um mandato tampão sem força para ousadias.

Há poucas chances de a presidente Dilma se manter no cargo. Pode fazê-lo como "rainha da Inglaterra" em um "semiparlamentarismo", a "semi-qualquer coisa" com o qual se reduziria, não se sabe como, o poder da Presidência. Dilma não aceitaria jogo. Ou pode ganhar força suficiente para pelo menos terminar seu governo, recompondo sua base política, o que parece hoje uma missão impossível. A crise é tão violenta que fez até o PMDB decidir em convenção pelo impensável no imaginário da legenda: recusar cargos no governo.

Está claro que por suas próprias forças o governo Dilma é incapaz de virar o jogo a seu favor. É o que torna plausível a surreal entrega de um ministério a Lula, ação politicamente desmoralizante e de altíssimo risco, mas talvez a única, para vários petistas, que poderia salvar um governo moribundo. Dilma sairia fortalecida também na hipótese de Lula e o PT mobilizarem multidões semelhantes às do último domingo. Após perder o domínio das ruas desde junho de 2013, parece difícil que esse seja um caminho onde a estrela do partido volte a brilhar.

Lula no governo será o verdadeiro presidente e só teria alguma chance de sucesso se abandonasse as ideias que vem dando guarida para estimular a economia, que só aprofundariam a recessão. Foi o que fez em 2002, ao adotar medidas ortodoxas que foram bem-sucedidas. Alvo de suspeitas e símbolo do PT, sua mudança para Brasília lhe daria foro privilegiado, sob risco de provocar mais e maiores mobilizações que poderiam acelerar o fim do governo e por encerrar sua carreira política com um triste epílogo.

O PT aposta no medo – Editorial / O Estado de S. Paulo

Não deveria haver a menor dúvida sobre quais foram os principais alvos da gigantesca manifestação que tomou as ruas do Brasil no domingo. Lá estavam bonecos do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff retratados como presidiários, e multiplicavam-se cartazes e palavras de ordem contra o PT. No entanto, bastou que alguns políticos da oposição fossem vaiados durante os protestos para que o Politburo petista decidisse que estamos todos enganados: para os iluminados do partido, não se tratou de um ato contra o PT ou contra Dilma, mas de uma expressão de descontentamento com o mundo político em geral.

Essa versão amalucada dos fatos nada tem de ingênua. Os apressados podem atribuí-la à criatividade de um partido que há tempos se transformou em uma seita – na qual os fanáticos seguidores acreditam que o real é aquilo que seus guias espirituais dizem ser, e não o que seus olhos veem. No entanto, a interpretação que os líderes petistas estão fazendo das manifestações é fruto não de confusão mental ou de transe religioso, mas sim de uma estratégia política rastaquera, cujo único objetivo é tentar sobreviver à ampla desmoralização do partido nas ruas e na história.

Não é difícil de acompanhar o raciocínio dos capas pretas do PT. O presidente do partido, Rui Falcão, disse que se “preocupou” com o fato de que “a oposição que fomentou esse ato tenha sido hostilizada em plena Avenida Paulista”. Isso o “preocupa”, ele disse, porque “em 1964 os golpistas que apoiaram os militares, esperando que, com a deposição do Jango (presidente João Goulart), pudessem assumir o poder, foram igualmente afastados e depois tivemos 21 anos de uma ditadura sanguinária”.

Traduzindo: para a voz oficial do PT, a oposição criou um clima propício para a mobilização popular na expectativa de usá-la para destruir o partido, derrubar a presidente Dilma, acabar com Lula e retomar o poder, mas acabou sendo vítima do próprio veneno. A comparação com 1964 é obviamente absurda, entre outras razões porque a destituição da presidente Dilma Rousseff – de resto uma exigência da maioria absoluta da população – só ocorrerá dentro do mais estrito respeito à lei. Foi exatamente o que aconteceu em 1992, quando milhares de brasileiros – petistas inclusive, com Lula à frente – foram às ruas para demandar o impeachment de Fernando Collor. Naquela época, nenhum petista se queixou de que se gestava um golpe como o de 1964.

Agora, no entanto, aos petistas só resta apostar no medo de um retrocesso democrático, ao sugerirem que os milhões de manifestantes do domingo não passam de representantes de uma elite golpista que não se conforma com os alardeados “avanços sociais” do lulopetismo. Mais do que isso: essa massa, adverte o PT, é uma criatura que se insurgirá contra seus criadores, desprezando a classe política e entregando o comando do País a algum aventureiro.

Foi esse cenário de pesadelo que outro líder petista, Tarso Genro, invocou para atacar as legítimas manifestações de domingo. No Twitter, Genro escreveu que “a velha ordem política terminou na Avenida Paulista, como na Marcha com Deus em 64” – referência à mobilização popular e de lideranças civis em São Paulo que antecedeu a instalação do regime de exceção.

A “velha ordem política”, de fato, está por um fio – especialmente porque muitos de seus próceres estão em sérios apuros legais depois de terem sido flagrados esbaldando-se no festim corrupto promovido pelo PT. Mas é claro que não foi a isso que Genro se referiu. Para ele, os protestos realizados Brasil afora são a negação da política, uma evidência de que “os partidos e a política foram feridos gravemente” – algo que, segundo Genro, pode ser comparado ao que aconteceu na Alemanha às vésperas da ascensão do nazismo.

Esse é o nível da impostura dos seguidores de Lula. Mas nada disso surpreende. Os petistas desde sempre menosprezam qualquer forma de expressão política que não tenha sido inspirada em sua doutrina, pois se consideram moralmente superiores e, portanto, os únicos capazes de interpretar e de atender aos interesses do povo. Eis a verdadeira negação da política.

Paradoxo econômico – Editorial / Folha de S. Paulo

Vista de longe, a economia nacional vive momento contraditório. Nas últimas semanas, enquanto se divulgavam dados sobre uma recessão que talvez se mostre sem paralelos em nossa história, os preços dos ativos brasileiros caminhavam na direção oposta –ações subiram de preço, juros de longo prazo caíram e o real se valorizou.

O paradoxo tem explicação. A degradação das condições econômicas, combinada com as recentes revelações da Lava Jato, eleva a insatisfação popular com o governo Dilma Rousseff (PT); as chances de a presidente sofrer impeachment também aumentam nesse cenário.

Certa ou errada, predomina a visão de que eventual mudança no Planalto destravaria decisões e abriria caminho para uma agenda mínima de reformas. Daí por que a percepção de um desenlace da crise política impulsiona as cotações.

A alta na Bolsa chegou a 25% desde meados de fevereiro, a cotação do real se valorizou cerca de 10% e os juros reais (descontada a inflação) de longo prazo caíram para 6,5%, nível que vigorava pouco antes de o país perder o selo de bom pagador, em setembro.

Trata-se de movimento significativo, pois a situação permanece crítica. A queda do PIB desde meados de 2014, quando a recessão se iniciou, pode chegar a 8,7% até o final deste ano, completando 11 trimestres consecutivos de contração. Será o pior resultado da história, superando as retrações do início dos anos 1980 e do período Collor (1990-1992).

Outros fatores podem ser elencados para justificar o paradoxo. Por exemplo, o fato de a crise atual não decorrer de um quadro de insolvência em moeda estrangeira –ou seja, o país não tem dívida externa excessiva (Petrobras à parte) e conta com reservas internacionais de US$ 370 bilhões.

Ao contrário de quase todas as crises anteriores, o problema hoje é essencialmente doméstico. Explica-se pelo crescimento explosivo da dívida pública interna em moeda nacional, que deriva dos erros na gestão econômica e da incapacidade do governo Dilma de reequilibrar as contas. Em tese, retomar as rédeas da economia depende de decisões internas.

O que há hoje no Brasil é uma paralisia de decisões dos agentes econômicos, travando investimento e consumo. Sobra, por isso mesmo, capacidade ociosa –e crescer utilizando tal capacidade é mais fácil do que superar gargalos.

Os contornos de uma nova etapa ainda não estão claros, mas o comportamento dos mercados chama a atenção para algo importante. Num estado de depressão geral, mudanças nas expectativas têm poder maior que o usual para modificar a realidade econômica.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Opinião do dia - Ancelmo Gois

Eu sei que é mais fácil para Dilma achar que o protesto foi coisa de eleitores da oposição (que ontem, aliás, foi vaiada e impedida de levar bandeiras partidárias). Eu sei que para o PT é mais cômodo achar que foi coisa de rico contra pobre (nem nos EUA há tantos ricos como o número de pessoas que protestaram ontem). Não dá mais para tapar o sol com a peneira: o Brasil foi ontem para a rua.

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Ancelmo Gois é jornalista, ‘No mais...’ O Globo, 14.3.2016

Maior manifestação da história do País aumenta pressão por saída de Dilma

• Alta adesão derruba discurso governista e do PT de que País está dividido, reforça pedido de impeachment e pode influenciar o TSE

- O Estado de S. Paulo

Na maior manifestação da história do País, milhões de brasileiros foram às ruas neste domingo, 13, em pelo menos 239 cidades nas cinco regiões, pedir a saída da petista Dilma Rousseff, 68 anos, da Presidência da República. Os protestos também tiveram como alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fundador e principal líder do PT, investigado pela Operação Lava Jato e pelo Ministério Público de São Paulo.

Os manifestantes se dividiram entre o apoio ao impeachment de Dilma, em tramitação na Câmara dos Deputados, a cassação do mandato pela Justiça, sob análise do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e a pressão pela renúncia da petista do cargo que ela ocupa desde janeiro de 2011 e para o qual foi reeleita em 2014 com 51,64% dos votos no segundo turno.

A enorme adesão às manifestações, convocadas majoritariamente por grupos como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL), praticamente enterrou o discurso governista e petista de que o País estava dividido. À noite, após o fim dos protestos, o Palácio do Planalto divulgou nota em nome da presidente Dilma Rousseff na qual afirma que “a liberdade de manifestação é própria das democracias e por todos deve ser respeitada”, diz trecho do texto assinado pela secretaria de Imprensa da Presidência.

A nota de Dilma comprova uma inflexão do governo em relação ao protesto de março de 2015, quando o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, criticou os atos e disse que eles eram de “eleitores que não votaram em Dilma Rousseff”.

De acordo com institutos de pesquisa, Polícia Militar e historiadores consultados pelo Estado, os atos públicos deste domingo superaram em adesão as manifestações das Diretas Já (movimento pelo fim da ditadura entre 1983 1984) e do movimento conhecido como Junho de 2013 (série de protestos desencadeada pelo aumento do preço das passagens do transporte público).

A maior concentração de manifestantes ocorreu em São Paulo, assim como já havia acontecido em março do ano passado, no primeiro grande protesto contra a gestão Dilma e o PT. Apesar do tom maciçamente contrário à petista e a Lula, o governador do Estado, Geraldo Alckmin, e os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), todos do PSDB, foram impedidos de subir em um carro de som.

Os protestos tiveram forte apelo contra a corrupção, pela ética pública e pelo fim da impunidade. O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância da Justiça e que autorizou o depoimento sob condução coercitiva de Lula no dia 4, agradeceu o apoio recebido em diversos atos pelo País. Ele pediu que as autoridades e os partidos “ouçam a voz das ruas”.

Estimativas. Os protestos ocorridos neste domingo em todo o País levaram cerca de 3 milhões de pessoas às ruas nos 26 Estados e no Distrito Federal, de acordo com dados colhidos nas polícias militares estaduais.

Em São Paulo, onde foi registrada a maior manifestação do País, houve divergências de números de público. Segundo a PM, 1,4 milhão de pessoas foram à Avenida Paulista neste domingo. Já o Datafolha apontou público de 500 mil manifestantes. No protesto de março do passado, enquanto a PM estimou 1 milhão na Paulista, o Datafolha apontou 210 mil pessoas.

O público recorde de 3 milhões de pessoas também não considera o protesto realizado na cidade do Rio de Janeiro. A exemplo das manifestações ocorridas no ano passado, a PM fluminense não divulgou estimativas oficiais de público. De acordo com os organizadores do ato, cerca de 1 milhão de manifestantes participaram do protesto que se concentrou na orla de Copacabana.

Comparação. Outras capitais também registraram público maior que o dos protestos ocorridos no ano passado. O ato deste domingo em Curitiba levou 200 mil pessoas às ruas, segundo a PM; há um ano, o público foi de 80 mil pessoas, também de acordo com dados oficiais.

Em Florianópolis, 95 pessoas participaram da manifestação, ante 30 mil nos protestos de março do ano passado. Porto Alegre praticamente manteve o público de um ano atrás (100 mil) neste 13 de março (105 mil pessoas), conforme a Polícia Militar.

Também na Região Nordeste houve aumento expressivo do público registrado nos atos deste domingo em comparação aos de 15 de março de 2015. Fortaleza, a capital que teve o maior público há um ano (12 mil pessoas), neste ano reuniu 80 mil manifestantes. No Recife, neste ano, a PM não divulgou estimativas oficiais, mas os organizadores dos protestos falaram em 150 mil pessoas na capital pernambucana. Há um ano, 8 mil pessoas se mobilizaram, conforme a PM.

Em Salvador também foi registrado aumento de pública. Há um ano, 10 mil pessoas se mobilizaram contra o governo Dilma; neste domingo, o público foi de 20 mil. O alcance dos protestos também superou o de março do ano passado, quando pelo menos 212 cidades de todo o País registraram manifestações. Neste 13 de março, ao menos 239 cidades se mobilizaram – os organizadores haviam convocado atos em mais de 400 municípios em todo o Brasil.

Rio lota 8 quarteirões em Copacabana

• Avenida Atlântica recebeu mais gente do que nos protestos anteriores; PM não fez estimativa de público e organizadores falam em 1 milhão

Fábio Grellet, Vinicius Neder e Constança Rezende - O Estado de S. Paulo

O protesto contra o governo federal e o PT no Rio de Janeiro atraiu mais gente do que todos os atos realizados no ano passado. A Polícia Militar não divulgou estimativa de público, mas os organizadores calcularam em um milhão os participantes que lotaram oito quarteirões da avenida Atlântica, orla de Copacabana, zona sul. Sem registro de incidentes graves, a manifestação durou cerca de cinco horas, com o grupo seguindo do posto 5 até o tradicional Hotel Copacabana Palace.

Embora poucos políticos tenham participado, o deputado federal Otávio Leite (PSDB) e o jornalista Fernando Gabeira discursaram em carros de som. “A Dilma vai cair, tenho convicção. (...) O chefe da quadrilha vai ser preso”, disse Gabeira, que chegou a ser deputado pelo PT, referindo-se a Lula.

“A Câmara tem de priorizar o impeachment. Não dá para decidir sobre o Brasil. É preciso antes decidir sobre a mudança do governo do Brasil”, disse Leite aoEstado, após declarar seu apoio ao impeachment pelo microfone.

Também participaram do ato os atores Luana Piovani, Juliana Paes, Silvia Pfeiffer, Márcio Garcia, Suzana Vieira e Marcelo Serrado. Suzana e Marcelo vestiam camisetas com os dizeres "Morobloco", em referência ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato.

Cobranças pela saída da presidente Dilma Rousseff (PT) e pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de elogios ao juiz Moro foram as manifestações mais comuns. Estavam em cartazes, camisetas (a maioria, amarelas) e bonecos infláveis. Os de Lula e Dilma em trajes de presidiário, com cerca de 30 centímetros, eram vendidos a R$ 10 por ambulantes.

Havia cartazes e algumas camisetas com frases em inglês, como “We are all Sérgio Moro” (Nós somos todos Sérgio Moro) e “In Moro we trust” (Em Moro nós confiamos).

O ato transcorreu sem grandes incidentes. Houve vaias aos moradores de um apartamento na avenida Atlântica que estenderam na janela uma bandeira vermelha e um princípio de tumulto com um homem e duas mulheres, que, sob xingamentos, foram retirados do ato pela Polícia Militar. Políticos dos partidos da base aliada foram vaiados quando mencionados nos discursos, como governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito Eduardo Paes, ambos do PMDB.

Brasil vai às ruas contra Dilma e Lula e a favor de Moro

• Protesto pacífico reuniu 3,6 milhões de pessoas em 326 cidades de todos os estados e no Distrito Federal

Insatisfação da população aumenta a pressão sobre o governo, no início de uma semana decisiva — o processo sobre o impeachment deverá ter seguimento na Câmara na quinta-feira. Aliados da presidente admitem que situação se agrava

Na maior manifestação de sua História, o Brasil viu ontem 3,6 milhões de pessoas tomarem as ruas de 326 cidades de todos os estados e do Distrito Federal, para exigir a saída de Dilma Rousseff do cargo. A presidente terá uma semana decisiva para seu mandato: na quinta-feira, o processo sobre o impeachment deverá ter seguimento na Câmara dos Deputados. O ex-presidente Lula também foi alvo dos protestos, inspirados nas investigações sobre o tríplex de Guarujá e o sítio de Atibaia, transformados em alegorias irreverentes em várias capitais. Manifestantes homenagearam em todos os atos o juiz Sérgio Moro, responsável na primeira instância pela Lava- Jato. Máscaras e camisetas lembravam o magistrado, que agradeceu se dizendo “tocado” pelo apoio à operação. Em nota, o Palácio do Planalto destacou o tom pacífico dos protestos. Líderes dos partidos aliados ao governo admitiram que o movimento histórico aumentará a pressão pelo impeachment de Dilma. Em quase todos os estados, o número de manifestantes superou o de março de 2015.

A voz que ecoa das ruas

• Na maior manifestação política do país, protestos contra o governo reúnem 3,6 milhões

- O Globo

- BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO- O Brasil viveu ontem a maior manifestação de sua História. No início de uma semana decisiva para o processo de impeachment, 3,6 milhões de pessoas foram às ruas, em ao menos 326 cidades de todos os estados do país, pedir a saída da presidente Dilma Rousseff. O ex-presidente Lula, alvo da Operação Lava- Jato, se tornou também personagem- chave. Alegorias inspiradas no tríplex no Guarujá, no sítio Santa Bárbara, em Atibaia, e no pedalinho usado pela família de Lula no lago do sítio, foram levadas às ruas pelos manifestantes.
Os próximos dias serão decisivos. Na quartafeira, o Supremo Tribunal Federal deverá julgar os recursos ao rito do impeachment e, na quintafeira, o processo voltará a andar na Câmara dos Deputados. Enquanto isso, os olhares estão voltados para a juíza Maria Priscilla Veiga Oliveira, da 4 ª Vara Criminal de São Paulo, que tem em mãos um pedido de prisão contra o ex-presidente, acusado pelo Ministério Público de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.

Em quase todos os estados, o número de manifestantes superou o de março de 2015, inclusive no Nordeste, que sempre concedeu vitórias expressivas a Lula e a Dilma, nas eleições. De verde e amarelo, os manifestantes usaram criatividade e bom humor para tratar dos temas que têm tomado conta do noticiário político recente. Pixulecos em referência a Lula, vendidos a R$ 10, esgotaram nas mãos dos ambulantes. Os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB- RJ), e do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), investigados pela Lava- Jato, não foram esquecidos.

O juiz Sérgio Moro foi homenageado de norte a sul do país, com direito a máscaras e camisetas, num aval explícito à Operação Lava- Jato. À tarde, Moro soltou nota dizendo ter ficado “tocado” pelo apoio às investigações: “Apesar das referências ao meu nome, tributo a bondade do Povo brasileiro ao êxito até o momento de um trabalho institucional robusto que envolve a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e todas as instâncias do Poder Judiciário”.

Líderes dos principais partidos da base aliada da presidente já admitiam, horas depois do protesto, que as manifestações terão forte impacto sobre o processo de afastamento. Embora Dilma e Lula fossem os alvos centrais das críticas, a insatisfação geral com a classe política ficou clara pelas vaias dirigidas aos principais líderes de oposição presentes em São Paulo e no Rio.

O senador Aécio Neves e o governador Geraldo Alckmin, que travam uma disputa interna no PSDB pela candidatura presidencial do principal partido oposicionista em 2018, foram juntos à Avenida Paulista e acabaram sendo hostilizados por manifestantes que acompanhavam a chegada. O mesmo ocorreu com políticos que tentaram falar em microfones no Rio de Janeiro.

A presidente Dilma passou o dia no Palácio da Alvorada e lá se reuniu, no fim da tarde, com assessores e ministros do PT. No começo da noite, optou por divulgar uma nota protocolar assinada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência. Em dois parágrafos, a presidente exaltou a liberdade de manifestação, “própria das democracias”, e enfatizou que os protestos pacíficos demonstram “maturidade de um país que sabe conviver com opiniões divergentes”.

Em um gesto claro em direção à sua base social, Dilma havia divulgado mais cedo uma dura nota oficial condenando a pichação da sede da União Nacional dos Estudantes ( UNE), em São Paulo, no sábado, e a ação de policiais armados na sextafeira durante uma plenária em apoio a Lula.

Em São Paulo, 1,4 milhão de manifestantes

• No maior protesto da História, na Paulista, dez carros de som e trios elétricos foram usados por 40 movimento

- O Globo

- SÃO PAULO- Na maior manifestação da História, São Paulo reuniu ontem cerca de 1,4 milhão de pessoas na Avenida Paulista — além de outras 400 mil em diferentes cidades do interior do estado — para protestar contra o governo de Dilma Rousseff e o PT e dar apoio à Operação Lava- Jato. Os números foram divulgados à noite pela Polícia Militar, que classificou o protesto como pacífico.

Mais de dez carros de som e trios elétricos foram levados para a manifestação. Líderes de cerca de 40 movimentos usaram os veículos para os discursos. Ao citarem nomes de políticos, o público reagiu com vaias, independentemente do partido. Ainda assim, políticos se revezaram no microfone.

O Movimento Liberal Acorda Brasil distribuiu 50 mil máscaras de Dilma e Lula na forma de zumbis, em referência a uma paródia feita com a música “Thriller”, de Michael Jackson. Manifestantes também cantaram o Hino Nacional. Muitos gritavam palavras de ordem contra o governo e pediam a saída imediata de Dilma da Presidência.

Lotação máxima no Metrô
Durante toda a tarde o movimento foi grande nas vias de acesso à Avenida Paulista. As estações de metrô ficaram abarrotadas de usuários, com longas filas nas portas, principalmente nas estações Paulista e Consolação. Por algum tempo o Metrô evitou a entrada de passageiros nas estações, e permitiu apenas a saída deles para a avenida. Havia temor de um possível confronto dentro das estações. Não houve, porém, registro de confusão durante a manifestação, segundo a Polícia Militar.

O acesso à Avenida Paulista foi controlado pela PM e, em alguns pontos, foi atingida a lotação máxima considerada segura. Os manifestantes foram orientados a procurar locais de menor concentração para entrar na avenida. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública esclareceu que não barrou o acesso de manifestantes.

O comércio na Avenida Paulista, palco do protesto contra o governo, decidiu se antecipar a eventuais confrontos e adotou medidas de segurança. Um dos shoppings da região cercou todo o prédio com grades, enquanto uma das lojas de departamento abriu apenas uma das portas, e apenas pela metade. Mesmo assim, centenas de pessoas desciam ao mesmo tempo de algumas das estações de metrô na avenida.

Representantes dos movimentos aproveitaram para se capitalizar durante o protesto, com venda de camisetas e “pixulecos”, pequenos bonecos infláveis do ex- presidente Lula vestido de presidiário. Algumas pessoas tinham em mãos bonecos infláveis com o desenho do juiz Sérgio Moro.

O Grupo Ação Popular, ligado ao PSDB, estacionou um carro de som no fim da Avenida Paulista, e levantou os manifestantes ao tocar a marchinha do japonês da Federal, o conhecido agente Newton Ishii, que sempre aparece nas prisões nas operações da Lava- Jato.

— Vamos agora fazer uma homenagem a uma pessoa muito importante na história do Brasil — gritou o locutor ao anunciar que tocaria a marchinha.

Símbolo da Fiesp
A imagem da Avenida Paulista tomada pela multidão também chamava a atenção por conta da presença de um boneco gigante em forma de pato, usado como símbolo de uma campanha feita pela Federação das Indústrias do estado de São Paulo (Fiesp) contra a elevação dos impostos no país.

Para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB), a saída da presidente Dilma deve ser encarada como uma medida rápida para estimular a retomada do crescimento econômico:

— Nós queremos recuperar a confiança do investidor. Sem confiança não há investimento, não há crescimento econômico — disse ele, durante entrevista na porta da sede da federação, na própria Avenida Paulista.

Ato anti-Dilma é o maior da história

• Ato em SP atrai 500 mil, supera Diretas-Já e impulsiona impeachment

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O protesto na avenida Paulista pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff foi omaior ato político já registrado pelo Datafolha, superando inclusive o famoso comício pelas Diretas-Já no vale do Anhangabaú, em 16 de abril de 1984.

Segundo medição do instituto, participaram cerca de 500 mil pessoas na avenida e suas adjacências, mais do que o dobro do maior ato anterior contra Dilma, de março do ano passado, que reuniu 210 mil manifestantes. No meio da tarde, a Polícia Militar viu-se obrigada a limitar o acesso à região.

A PM estimou em 1,4 milhão os participantes, mesmo número divulgado pelo Movimento Brasil Livre, um dos organizadores do ato. Nas demais capitais, houve 1,1 milhão de manifestantes somados, segundo estimativas das polícias locais. Ao todo, concentrações foram registradas em pelo menos 121 cidades.

Houve também alguns atos isolados em defesa do PT e do governo. Excetuando-se confrontos pontuais, os protestos foram de forma geral pacíficos.

O juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, foi saudado como herói em praticamente todos os locais. Em nota, agradeceu dizendo ter ficado "tocado" pelas homenagens.

Houve também críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo de ação da Polícia Federal no último dia 4. Referências aos pedalinhos do sítio que ele frequenta em Atibaia (SP) e a jararacas, animal com o qual se comparou no dia em que sofreu condução coercitiva, foram constantes.

Em São Paulo, as principais lideranças da oposição, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Geraldo Alckmin foram à Paulista pela primeira vez, mas acabaram sendo recebidos com hostilidade por alguns dos presentes.

O governo avaliou que os protestos mudam a crise de patamar e dão impulso à tramitação do pedido de impeachment no Congresso. Nesta semana, o Supremo deve dar a palavra final sobre a forma como deve ser composta a comissão especial na Câmara dos Deputados que dará prosseguimento ao processo.

Manifestações pelo Brasil são destaque na imprensa internacional

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - As manifestações contra a presidente Dilma Rousseff, realizadas em várias cidades brasileiras neste domingo (13), são destaque também na mídia internacional.

O jornal norte-americano "The Wall Street Journal" colocou o assunto na home de sua página na internet, chamando a atenção para as "centenas de milhares de manifestantes".

"A ira" deles, segundo a publicação, está direcionada contra Dilma e seu partido, o PT, "cercados por uma crise de confiança".

Outro jornal dos EUA, o "The New York Times" lembrou que esta é a 5agrande mobilização no último ano, no que classificou como clima de "irritação frequente".

O jornal francês "Le Monde" informa, em seu site, que as manifestações "em todo o Brasil" contra Dilma alcançaram "magnitude histórica".

A publicação diz que dezenas de milhares de pessoas protestaram em cerca de 400 cidades, no que chamou de "uma mobilização de grande dimensão contra a presidente, atolada em uma séria crise política".

O espanhol "El País", que faz uma cobertura ao vivo dos protestos em seu serviço brasileiro, também deu destaque ao evento em seu site global. "Oposição se manifesta contra Rousseff e leva pressão às ruas", diz a manchete.

No texto, o jornal faz a análise de que a crise política tem durado "meses" e destaca que este domingo será uma das provas mais importantes para a oposição à presidente –com as multidões que saíram a protestar, "as ruas puseram o governo nas cordas", avaliou a publicação.

O argentino "Clarín" afirma que as manifestações acontecem "em meio a um clima de forte descontentamento social" pela recessão e pelos casos de corrupção. "Os manifestantes tingiam as ruas com o verde e amarelo da camiseta da seleção brasileira de futebol", diz o jornal, que lembra que esta rodada de protestos é a primeira a ser apoiada abertamente pelos partidos de oposição.

O texto diz ainda que cenas como a da multidão na praia de Copacabana, no Rio, "viraram usuais" desde a eclosão da crise econômica e política.

As informações da agência Reuters, que classificou o clima da manifestação em São Paulo como "festivo", destacam que o tamanho dos protestos pode ser crucial no convencimento do Congresso para apoiar ou não o processo de impeachment de Dilma.

Outra agência, a AFP disse que "protestos em massa "sacudiram o Brasil". A Al Jazeera informa que "milhares de manifestantes tomaram as ruas para pedir a saída da presidente".
Manifestação contra o go

Ruas elevam pressão contra Dilma

Por Victória Mantoan, Estevão Taiar, Raymundo Costa e Andrea Jubé - Valor Econômico

SÃO PAULO E BRASÍLIA - Cerca de 3,4 milhões de pessoas em todo o país foram às ruas ontem em 262 cidades para protestar contra o governo e também para apoiar as investigações da Operação Lava-Jato. Em São Paulo, na Avenida Paulista, no auge do evento, às 16 horas, concentraram-se 500 mil pessoas segundo o Datafolha e 1,4 milhão segundo a Polícia Militar. Nas manifestações de 15 de março do ano passado, o Datafolha registrou 210 mil e a Polícia, 1 milhão.

Em geral, as manifestações nas várias cidades tiveram números de participantes maiores que os de março do ano passado. E, pela primeira vez, líderes políticos da oposição participaram de ato público pelo impeachment em São Paulo. O governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB) e o presidente do seu partido, senador Aécio Neves (MG), foram cumprimentados por alguns e hostilizados por outros manifestantes na Avenida Paulista. Alguns gritaram "Fora, Alckmin" para o governador e "ladrão, o próximo é você" para o senador. A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) também foi hostilizada e teve que se retirar da avenida.

A grande adesão ao protesto deve dar gás para o andamento do processo de impeachment da presidente Dilma. Antes da avalanche de ontem, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, já havia decidido deflagrar o impeachment nesta semana. Agora, ele se sente bem mais à vontade para imprimir o ritmo que leve a uma decisão em 45 dias.

A presidente Dilma Rousseff tentará criar um fato político de peso nesta semana, numa tentativa de esboçar reação aos atos de ontem. A nomeação do ex-presidente Lula para o ministério, na visão do Planalto, poderia retardar esse processo, mas há dúvidas se isso terá efeito de longo prazo e se será suficiente para impedir o impeachment. Além disso, auxiliares do Planalto defendem o diálogo com a oposição, inclusive com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Apesar do provável desembarque de aliados do governo, Dilma aposta no apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tenta segurar seu partido na base aliada com a implantação de um "semipresidencialismo".

Dilma busca alternativas para ficar no poder

Por Andrea Jubé - Valor Econômico

BRASÍLIA - Diante das manifestações mais expressivas contra seu governo desde a reeleição, que levaram mais de três milhões de pessoas às ruas ontem, a presidente Dilma Rousseff tentará criar um fato político de peso nesta semana, numa tentativa de esboçar reação. A nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um ministério, ainda é mais um desejo que uma realidade, e a resposta sai nos próximos dias. Auxiliares de Dilma defendem o diálogo com a oposição, inclusive com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E advertem que Dilma precisa se "reinventar", se não quiser sair antes do fim do mandato, e pela porta dos fundos do Planalto.

A avaliação é que a magnitude dos protestos apressa o desembarque dos aliados do governo, liderados pelo PMDB. O processo de impeachment deve ser retomado no fim da semana, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) concluir o julgamento do rito processual, o que ocorre na quarta-feira.

Dilma aposta, ainda, no apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tenta segurar o seu partido na base aliada e defende a implantação de um "semipresidencialismo" como alternativa ao impeachment. Renan disse ao Valorque nos próximos dias vai procurar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para discutir essa saída para a crise. O ex-presidente chancelou essa alternativa em artigo publicado recentemente. "O PMDB tem responsabilidade institucional e compromisso com a democracia, seria um tiro no pé agravar a crise com movimentos bruscos e irresponsáveis", disse Renan sobre o PMDB romper com o governo.

Ministros devem se pronunciar hoje, depois da reunião da coordenação política, sobre a dimensão e a veemência dos protestos. Em nota divulgada ontem, Dilma ressaltou a "liberdade de manifestação", o "caráter pacífico" dos protestos e a capacidade do país de conviver com "opiniões divergentes".

Ontem, auxiliares de Dilma dividiam a preocupação diante do número expressivo de manifestantes com o alívio pela ausência de episódios de violência e de confronto. Dilma convocou ontem à noite uma ampla reunião ministerial para avaliar os protestos. Foram chamados os ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), José Eduardo Cardozo (Advocacia Geral da União), Wellington César (Justiça), Aloizio Mercadante (Educação), Aldo Rebelo (Defesa), além do assessor especial Giles Azevedo. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, também participou, porque as críticas das ruas recaem também sobre a recessão econômica.

O fato político mais desejado no Planalto seria a posse de Lula no ministério, mas isso não está assegurado, nem são garantidos seus reflexos para aliviar a crise. Cogita-se, também, a convocação do Conselho da República, previsto na Constituição Federal, que a presidente pode acionar para se manifestar nas questões "relevantes para a estabilidade das instituições democráticas".

A previsão é que o ex-presidente Lula aterrisse em Brasília amanhã para nova reunião com Dilma. Além do foro privilegiado - que permitirá que o Supremo Tribunal Federal assuma a investigação contra ele na Lava-Jato -, a expectativa dos ministros petistas é de que Lula ajude a salvar o governo. Lula só deve responder depois que a juíza Maria Priscilla Ernandes despachar o pedido de prisão preventiva contra ele. Mas continua refratário à ideia. Seus aliados questionam se depois que milhões de brasileiros protestaram contra ele e contra Dilma, não seria tarde demais para essa solução.

Para a cúpula do PMDB, nem Lula como ministro resgata o governo da crise. "Nada muda se não mudar a economia", diz o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), que também é um dos principais aliados do Planalto. "É preciso mudar as forças políticas", explica o primeiro vice-presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR).

Foco foi o PT, mas protestos vão além, diz Giannotti

Por Daniela Chiaretti – Valor Econômico

BELÉM - O filósofo José Arthur Giannotti, 86 anos, intelectual próximo ao PSDB e, sobretudo, ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, estava perplexo com a mensagem das manifestações pelo país. "Está acontecendo algo extraordinário. As manifestações são muito maiores do que se esperava. E mais além do 'Fora Dilma', 'Fora PT' e contra Lula, nota-se o apoio massivo ao juiz Sérgio Moro e à Operação Lava-Jato. Pedem a moralização da política brasileira."

"O foco é o PT, mas as manifestações pedem o fim da política corrompida", diz Giannotti. "É um pedido para que haja higienização da política brasileira e, neste sentido, é algo geral." Em seguida, questiona: "Será interessante ver como vai sair Marina Silva depois deste processo."

O professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) enxerga a presidente Dilma Rousseff em um abraço de afogado com o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva (PT). "O governo, como está, não pode ficar. Dilma tem que se reinventar", diz. "Se Lula entrar, acredito que afundam os dois", arrisca.

"Não vejo perspectiva no que está acontecendo, ainda mais se o Lula virar ministro", segue. "Ele não conseguirá, na minha opinião, que Meirelles (Henrique Meirelles, que presidiu o Banco Central durante oito anos no governo Lula) seja o condutor da política econômica."

Há um ano, em entrevista ao Valor, Giannotti também não arriscava saídas à crise, embora dissesse acreditar nas instituições e que o impeachment favorecia o PT. "Hoje, pelo contrário, mudou completamente a situação. O PT sai derrotado de um impeachment. Ele se vinculou de tal forma à corrupção e à política neodesenvolvimentista que ninguém acredita nele. O PT precisa se reinventar, mesmo que Dilma continue no poder."

"Estive muito próximo no momento da criação do PT. Mas o partido passou por um processo de deterioração muito grande. Primeiro teve perda de substância dos sindicatos. Depois, se chafurdaram no poder e na corrupção. Parte da Igreja saiu do PT, e parte dos intelectuais tornou-se semi-petista. A universidade continua ligada a certas posições petistas, sem estar ligada à política efetiva do PT", analisa.

Ele também enxerga um PSDB "dividido, muito dividido" e não poupa as contradições dos tucanos. "O PSDB está estourado. O Alckmin [Geraldo Alckmin, governador de São Paulo] estourou o PSDB paulista. Não sabemos exatamente qual a posição dele, só que está jogando para ser candidato." Segue comentando os movimentos de outras duas lideranças, Aécio Neves e José Serra. "A parte ligada ao Aécio quer impeachment com nova eleição. A outra está ligada à tentativa de se juntar com o Temer [o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer] e fazer uma política de união."

"Vácuo de poder não existe e não vai haver. Ou a madame se reinventa e reconstrói alguma forma de poder, ou cai em seis meses", arrisca o filósofo. "Alguma solução vai ter que ter, para seguirmos até as próximas eleições. Com ela (a presidente Dilma) ou sem ela", diz Giannotti. "A tendência é sem ela."

Ele não vislumbra um governo de coalizão. "Coalizão, como?". Ao lançar farpas ao PT, diz que "este grupo se esqueceu que para distribuir riqueza tem que crescer, e como quiseram controlar ao máximo a função do crescimento, quando veio a crise, entramos na recessão."

Em sua visão, o PT e o governo "não querem mexer na Previdência, na indexação do salário, e assim por diante. Então, vamos para o buraco enquanto este pessoal não sair do governo." E depois? "Infelizmente vamos ter um governo de direita", diz ele.

Manifesto apoia promotores que pediram a prisão de Lula

Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Um manifesto de apoio aos três promotores de São Paulo que pediram a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o denunciaram por lavagem de dinheiro já tem a adesão de 1.092 promotores e procuradores de 22 Estados, segundo contagem feita neste domingo à noite (13).

"A atuação firme e independente demonstrada neste caso é fruto de meses de trabalho sério, dedicação e esforço em prol da sociedade brasileira. No exercício de suas funções constitucionais, muitas vezes o Ministério Público enfrenta forças políticas e econômicas de diferentes grandezas", afirma o texto.

Segundo o documento, os atributos que levaram o Ministério Público a ser reconhecido como instituição essencial à democracia ("qualidade técnica, combatividade e independência") são os "mesmos que nortearam o trabalho dos promotores de Justiça no caso Bancoop".

Bancoop é a cooperativa do Sindicato dos Bancários de São Paulo que começou a construir um condomínio em Guarujá em 2004 e, depois de quebrar em 2009, repassou o empreendimento para a OAS.

A acusação
Os promotores Cassio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo afirmam em denúncia apresentada na quarta (9) à Justiça que Lula foi beneficiado com a cobertura tríplex do prédio. Ela teria sido reformada pela OAS de acordo com o gosto da família do ex-presidente, segundo os três promotores.

No pedido de prisão, argumentam que Lula poderia destruir provas e convocar apoiadores para constranger os promotores que o investigam. Lula é acusado de lavagem porque a OAS teria dado o imóvel de presente a ele, mas o apartamento permaneceu em nome da empreiteira.

O Instituto Lula diz que o ex-presidente nunca atacou seus investigadores e que a família desistiu do apartamento no final de 2015, após concluir que não conseguiria desfrutar da praia de Astúrias, no litoral paulista.

Ainda segundo o instituto, Lula jamais foi dono do tríplex, mas de uma unidade simples, comprada por meio de cotas por Marisa Letícia, mulher do ex-presidente.

A desistência da compra ocorreu depois que investigadores da Operação Lava Jato e do Ministério Público de São Paulo apuravam se Lula havia sido beneficiado pela OAS.

Críticas
O manifesto de apoio aos três promotores é uma resposta a uma crítica que começou a circular na sexta (11) e que já tem cerca de cem assinaturas, também de promotores e procuradores.

Nesse manifesto contrário, há uma crítica ao pedido de prisão sem citar o nome de Lula: "A banalização da prisão preventiva aplicada, no mais das vezes, sem qualquer natureza cautelar e de outras medidas de restrição da liberdade vai de encontro a princípios caros ao Estado democrático de direito".

O pedido de prisão de Lula também foi criticado por especialistas em direito, ministros e ex-ministros do Supremo e até por deputados tucanos que defendem o impeachment.

Os dois manifestos expõem a divisão a política no Ministério Público paulista. Um dos promotores que assina o texto a favor, Felipe Locke Cavalcanti, foi o mais votado na penúltima eleição para o Ministério Público, em 2012.

Ele recebeu 894 votos, mas o governador Geraldo Alckmin (PSDB) escolheu Márcio Elias Rosa, que obteve 838 votos na disputa (na última eleição, em 2014, ele foi o mais votado).

Neste sábado (12) Rosa divulgou documento em que refuta que o pedido de prisão tenha caráter político e conclama o Ministério Público à unidade. Ele disse Folha que as acusações contra Lula são técnicas e não estão atreladas aos protestos contra a presidente Dilma Rousseff.