sábado, 2 de maio de 2020

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso*

Nós precisamos, antes de mais nada, de capacidade de olhar para frente, acreditar no futuro e juntar as pessoas para que possam marchar juntas.

*Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República, em Ato virtual pelo dia do Trabalho, O Globo, 2/5/2020.

Ricardo Noblat - Para não cair, Bolsonaro rende-se ao “é dando é que se recebe”

- Blog do Noblat | Veja

Quem veio para quebrar o sistema, alia-se a ele

Estelionato eleitoral é se eleger prometendo uma coisa e, depois, fazer o seu oposto. Lembra algo? Calma! Jair Messias Bolsonaro, que esta semana acusou seus desafetos de conspirarem para transformá-lo num pato manco, poderá ser lembrado por último.

Estelionato eleitoral, por exemplo, lembra o presidente Fernando Henrique Cardoso, que sucedeu a Itamar Franco. Para se reeleger em 1998, ele garantiu que o Real manteria seu valor em relação ao dólar. Eleito e reempossado, desvalorizou o Real.

Lembra mais o quê? Sim, Dilma Rousseff, que se reelegeu prometendo manter a política econômica do seu primeiro mandato, nada ortodoxa. Fez o contrário, para desencanto dos que votaram nela e horror do PT que passou a criticá-la.

Fernando Henrique não conseguiu eleger seu sucessor, o ex-ministro da Saúde José Serra. Para não amargar uma derrota fragorosa, Serra se apresentou como se fosse candidato de oposição ao governo. No caso de Dilma, ela foi derrubada.

Governantes procedem assim quando a realidade os contraria. Não o fazem necessariamente por maldade. Dão o dito pelo não dito para sobreviver. Fernando Henrique e Dilma sabiam que não teriam como honrar sua palavra. Esperavam retomá-la depois.

Não é o caso de Bolsonaro, incapaz de enxergar um palmo à frente. Ele acreditou que se imporia à realidade. Inventou formas bizarras de superá-la. E terceirizou a solução de problemas que seria incapaz de resolver por não ter se preparado para tal.

Merval Pereira - Apagão estatístico

- O Globo

Mecanismos não presenciais alternativos estão sendo recomendados pela comunidade estatística internacional

Os tempos estranhos a que se refere o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello levam a que, no Brasil, a tecnologia não possa ser usada para auxiliar o combate à Covid-19. Políticos da esquerda e da direita usam a mesma alegação, proteção aos direitos individuais, para tentar impedir que os celulares sejam usados para monitorar o distanciamento social, no caso pioneiro de São Paulo, ou para fazer pesquisas do IBGE.

No caso do governador João Doria, ele foi acusado por partidos de direita, capitaneados pelo deputado Eduardo Bolsonaro, de promover uma invasão aos direitos individuais ao usar os celulares para identificar a mobilidade social nesses tempos de pandemia. Como vários países fazem, e até mesmo o próprio governo, cujo ministério de Ciência e Tecnologia havia feito um acordo com as operadoras telefônicas com o mesmo objetivo.

Nesta quarta-feira, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julga ação direta de inconstitucionalidade (ADI) da OAB e dos partidos PSDB,PSB, PSOL e PCB contra a medida provisória que permite ao IBGE usar a lista de assinantes das companhias telefônicas para fazer pesquisas neste período em que o distanciamento social exige a utilização de mecanismos não presenciais alternativos (telefone, vídeo, e-mail) para manter o fluxo de informações que evite o que já está sendo classificado de “apagão estatístico”, como alertaram vários ex-presidentes do IBGE em carta aberta.

Ascânio Seleme - Um presidente que odeia pelas manhãs

- O Globo

Presidente se vê esvaziado dos ensinamentos do dia quando se deixa contaminar pela ignorância da noite

Quase todo mundo sabe que política é a arte do entendimento, a busca do possível, a técnica de guiar ou orientar um grupo, uma comunidade, uma cidade, um estado ou uma nação através de argumentos e medidas que atendam ao interesse da maioria. É isso o que se espera do homem público, seja ele um veterano conservador ou um novato reformador. Ele precisa pensar muito antes de tomar uma decisão, calcular antecipadamente o impacto de cada passo que for dar, cada frase que for pronunciar. Procurar não cometer erros e evitar turbulências que o atrapalhem alcançar o objetivo da maioria. Ter jogo de cintura, buscar a paz. Exatamente o contrário do que faz cotidianamente o presidente Jair Bolsonaro.

Quando as coisas chegam a um ponto de ebulição capaz de gerar uma explosão, o bom político recolhe-se, cala-se, conta até dez, dorme sobre o problema para ter tranquilidade para decidir no dia seguinte. Comete o conhecido “sleep on it”, que é a técnica de deixar a matéria esfriar antes de nela tocar, ou consultar o travesseiro antes de reagir. Com Bolsonaro ocorre o oposto. Ele quase sempre amanhece atazanado, pronto para dar uma bronca em repórter, para reagir ao que considerou um insulto recebido na véspera, a reverberar sobre algo que por prudência deveria ter sido deixado para trás ou sobre o qual seria melhor discorrer com a calma das manhãs.

Míriam Leitão - Para evitar uma briga federativa

- O Globo

Projeto do Senado ainda não pacificou o conflito em torno da ajuda aos estados, e o risco é aprofundar ainda mais a crise federativa

A proposta do senador Davi Alcolumbre não pacificou ainda a briga sobre a ajuda federal aos estados e pode ter criado a receita para aprofundar a crise federativa. Desde que foi divulgada, na quinta-feira, tem alimentado os cálculos dos estados, que montam tabelas para saber quanto ganharão ou deixarão de receber. A grande crítica feita é que a fórmula ficou confusa, o que é o caminho para que haja briga entre os estados e entre os municípios. O Senado como a casa da federação não pode fomentar esse conflito.

Governadores e secretários de Fazenda começaram a trocar mensagens com deputados logo na quinta-feira mostrando os defeitos da proposta. Nos R$ 10 bilhões de transferência direta para a Saúde, usando o critério de taxa de incidência, o maior volume foi para o Amapá, estado do senador. A ideia de dividir os R$ 50 bilhões em partes iguais para estados e municípios, passa por cima do fato de que o ICMS arrecada R$ 480 bilhões por ano, e o ISS arrecada R$73 bilhões. Não faria sentido, dizemos críticos da proposta, que a compensação seja do mesmo tamanho para perdas de dimensões diferentes. Olhando-se as fatias para cada estado pelo cálculo per capita — que o Ministério da Economia queria — há um desequilíbrio completo, alguns estados superam R$ 300 por habitante, outros R$ 80.

Miguel Reale Júnior* - Pandemônio

- O Estado de S.Paulo

Comportamentos de Bolsonaro indicam possível anormalidade de personalidade

Em entrevista ao programa Câmera Aberta, da Band, em 1999, Bolsonaro, indagado se, caso fosse presidente, fecharia o Congresso, respondeu: “Não há a menor dúvida. Daria golpe no mesmo dia”. Nessa entrevista defendeu a tortura e disse que o Brasil “só vai mudar, infelizmente, quando partirmos para uma guerra civil (...) matando uns 30 mil (...). Vão morrer alguns inocentes. Tudo bem. Em toda guerra morrem inocentes”.

Ao votar no impeachment, ele o fez em homenagem ao torturador coronel Brilhante Ustra, “o pavor de Dilma Rousseff”, disse.

Pela segunda vez, em plena pandemia, dia 19/4, Bolsonaro foi à manifestação dominical contra o Congresso Nacional e a favor da ditadura. Antes da fala de Bolsonaro, circunstantes gritavam “Fora Maia”, “AI-5”, “Fecha o Congresso”, “Fecha o STF” e carregavam faixas pedindo “intervenção militar já com Bolsonaro”, que em seu discurso falou: “Eu estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil” – adotando como seu, portanto, o teor do encontro.

A identificação com essa reunião se comprova ao pretender interferir a favor dos manifestantes, com a mudança do diretor da Polícia Federal: na mensagem enviada a Moro, ministro da Justiça, Bolsonaro reproduz nota do site O Antagonista segundo a qual a PF está “na cola” de 10 a 12 deputados bolsonaristas.

Adriana Fernandes - Transações tenebrosas

- O Estado de S.Paulo

Não há tempo para esperar acomodações de interesses políticos diversos para aprovar a ajuda financeira aos Estados e municípios

A pandemia da covid-19 mudou a noção de tempo e urgência. Não há tempo para esperar acomodações de interesses políticos diversos para aprovar a ajuda financeira aos Estados e municípios, enquanto a população brasileira assiste atônita a matemática da morte com o avanço da doença.

Já se passaram 19 dias da aprovação do projeto na Câmara. O texto está no Senado, com votação prevista para este sábado. Mas nada garante a sua aprovação. Pelo contrário. O projeto modificado terá que retornar para a Câmara para nova votação e o mais provável é que nem mesmo ocorra na próxima semana.

O acordo fechado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, diretamente com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, para o repasse de R$ 60 bilhões está provocando brigas justamente pela regra de divisão dos recursos. Os senadores dos Estados mais prejudicados estão se sentindo traídos.

Para ter domínio do projeto e coordenar a articulação do apoio ao texto que irá à votação, o próprio presidente do Senado assumiu a relatoria. O parecer foi divulgado com explicações detalhadas acompanhado de um arquivo em PowerPoint de fazer inveja (isso não é ironia) aos idealizadores do polêmico programa Pró-Brasil.

Faltou Alcolumbre, porém, mostrar a tabela principal. A que compara o valor a receber pelos Estados e municípios entre o texto do Senado e a proposta da Câmara, motivo de rompimento entre Paulo Guedes e o presidente Rodrigo Maia.

Marco Antonio Villa - Crise: a solução está no STF

- Revista IstoÉ

Jair Bolsonaro não tem condições de continuar à frente da Presidência da República. O Brasil vive a crise sanitária mais grave do último século. Para piorar, segundo os analistas, teremos a mais severa recessão da história republicana e que pode se estender para o ano que vem. E em um quadro internacional também marcado pela recessão. Para complicar ainda mais este terrível cenário, Bolsonaro ataca sistematicamente o Congresso Nacional e o STF e, pelas redes sociais, sob a coordenação do “gabinete do ódio”, fomenta cizânia contra seus adversários políticos e desinforma a população sobre os efeitos do coronavírus.

Quanto mais cedo Bolsonaro for expelido da Presidência, melhor para o Brasil. Os caminhos constitucionais são os únicos para solucionar esta crise e romper o impasse. Não faltam crimes atribuídos a ação antirrepublicana do chefe do Executivo federal. Somente Sérgio Moro, seu ex-ministro da Justiça, denunciou meia dúzia de delitos. O inquérito que está no STF, sob responsabilidade do ministro Celso de Mello, poderá ser um instrumento para que, legalmente, e seguindo todos os preceitos jurídicos, a crise encontre um atalho e encurte o caminho do sofrimento nacional. 

Monica de Bolle* - Como uma onda no mar?

- Revista Época

Quem prefere encarnar o surfista alienado cuja imagem ficou associada à música que intitula este artigo está, neste momento, agindo de forma imoral

“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia.” Sem dúvida alguma. E, sim: “tudo passa, tudo sempre passará”. Mas a epidemia não vem em ondas mais ou menos simétricas, como o mar. A epidemia vem em onda forte seguida de outras ainda fortes, em onda moderada seguida de ondas fortes, em onda que tudo varre e ainda pode ser seguida do mais profundo descalabro.

A evolução depende de como os governos se comportam. Também depende de como os governos se comportam dentro da realidade de cada país. Não adianta imitar a Suécia, apostar na imunidade de rebanho e deixar a onda passar. Primeiramente porque não sabemos o que haverá de ser das escolhas da Suécia. Depois, porque o Brasil não é a Suécia. Por fim, porque os suecos estão respeitando o distanciamento social sem quarentena, por conta própria. Trata-se de questão de comportamento.

Muito me preocupam os cenários econômicos. Não por sua extrema gravidade. Eles me preocupam porque muitas vezes se baseiam em premissas equivocadas, como a de que haverá uma primeira onda — essa que estamos atravessando — seguida de onda mais mansa, ou de uma sequência de ondinhas. É este tipo de premissa que escora as projeções do FMI: a onda forte é agora, no segundo semestre haverá outra, mais fraca, e, depois, vida que segue.

Muitos economistas estão seguindo essa linha de raciocínio para justificar suas posições. Alguns resolveram inclusive ignorar já a primeira onda, voltando a apoiar uma agenda de reformas que, francamente, diz respeito a um mundo que não existe mais. Entre esses consta o ministro da Economia brasileiro, que resolveu mudar o tom no momento em que o país entra na fase mais crítica da crise humanitária. Com ele foram os economistas de mercado e todos aqueles que preferem ignorar a realidade. A realidade é que a capacidade hospitalar da cidade de São Paulo está se esgotando.

Guilherme Amado - O fisiologismo à Bolsonaro

- Revista Época

O abraço escancarado no centrão não chega a surpreender: a exemplo da guerra à corrupção, o fim do fisiologismo sempre foi só discurso

O Palácio do Planalto fez uma caçada no domingo 19 ao telefone dos ex-deputados Roberto Jefferson e Cristiane Brasil, pai e filha, expoentes do centrão, mesmo que hoje sem cargo. Jair Bolsonaro queria falar diretamente com Jefferson, curioso para saber o que o pivô do mensalão revelaria mais tarde numa live sobre um suposto plano de Rodrigo Maia para derrubar o presidente da República. Bolsonaro logo soube o que pretendia o ex-companheiro de Câmara e partido. Jefferson está disposto a fazer com Bolsonaro o mesmo que fez com Fernando Collor e com Michel Temer: ao perceber a decadência de um governo e a fragilidade política de um presidente, estender a mão. Atacaria Rodrigo Maia, sem apresentar fato que sustentasse o tal golpe por vir, em troca disso. 

Claro que se trata de uma aproximação despretensiosa, baseada nos mais elevados princípios da República. De cristão para cristão. Mas quis o destino que o namoro, para usar a terminologia presidencial, se desse na mesma semana do divórcio litigioso com Sergio Moro. A saída do símbolo da Lava Jato — para o bem e para o mal — e a entrada de Jefferson para a base do governo foram simbólicos de uma ruptura na prática com algo que Bolsonaro só fez no discurso, ao longo da vida parlamentar e também como presidente: o tal do combate à corrupção. Embora sua eleição tenha ocorrido em parte no embalo do papo de enfrentar o crime de colarinho-branco, nunca houve de fato um esforço do presidente para tanto. O abraço escancarado no centrão de Jefferson, Valdemar Costa Neto, Arthur Lira e Gilberto Kassab tem ocorrido sem constrangimento. O que não chega a surpreender: a exemplo da guerra à corrupção, o fim do fisiologismo sempre foi só discurso.

Hélio Schwartsman - Um tribunal que não se contém

- Folha de S. Paulo

O fato de o STF ter poder para fazer algo não implica que deva fazê-lo

É com dor no coração que hoje vou defender Jair Bolsonaro. Mais especificamente, vou problematizar a decisão do STF que suspendeu a investidura de Alexandre Ramagem no cargo de diretor-geral da Polícia Federal.

Comecemos pelo que a determinação não significa. Ela não significa um flagrante erro judicial nem uma espécie de golpe de Estado. Vivemos num sistema constitucional que dá ao Judiciário a última palavra em todas as questões que envolvam a interpretação da lei.

Minha objeção é que o fato de o STF ter poder para fazer algo não implica que deva usá-lo. Como já disse aqui diversas vezes, um sistema que confere tamanha força ao Judiciário só funciona bem se seus órgãos de cúpula souberem exercer a autocontenção, em especial nas questões que envolvem a separação de Poderes.

Julianna Sofia – Quem não curte um fila

- Folha de S. Paulo

Fila 'cultural' de Onyx é desculpa para incompetência do governo

Da linhagem dos obscurantistas do bolsonarismo para os quais o problema do Brasil é o brasileiro, o ministro Onyx Lorenzoni (Cidadania) credita à "nossa cultura" um dos motivos para as filas nas agências da Caixa para sacar o auxílio emergencial de R$ 600.

Zombaria diante do desespero de trabalhadores em jornadas penosas de espera de até oito horas. Se é traço cultural, a atual administração esmera-se em reforçá-lo.

Entre março e abril, ao menos 1 milhão de trabalhadores perderam seus postos de trabalho e teriam direito ao seguro-desemprego. Foram 804 mil os que garantiram o recebimento do benefício. Outros 200 mil não conseguiram acesso a agências do Sine, nem funcionaram os meios remotos para obter o auxílio. "Temos uma pequena fila, que estamos dando conta rapidamente", explicou o secretário Bruno Bianco (Previdência e Trabalho).

Alvaro Costa e Silva – Ucranizar

- Folha de S. Paulo

O termo, nascido em uma caçamba de lixo, é usado como salvação para o Brasil

Em meados da semana, enquanto o Brasil caminhava para ser o país com maior taxa de contágio por coronavírus do mundo, o deputado federal Daniel Silveira (PSL), integrante da bancada dos marombados, divertia-se no Twitter inflamando seus seguidores de extrema direita: "Está na hora de Ucrânizar (sic) o Brasil! Quem sabe o que foi feito por lá, entenderá". Erro de português é praxe, quase um selo de qualidade, em postagens do tipo.

Eleito pelo Rio, o ex-PM Silveira é aquele que virou subcelebridade política ao quebrar a placa em homenagem a Marielle Franco. Atualmente é um dos principais alvos do inquérito aberto pelo STF para investigar atos contra a democracia. Um dos 10 ou 12 deputados lembrados por Bolsonaro na mensagem que o ex-ministro Moro apresentou como prova de interferência do presidente na Polícia Federal.

Demétrio Magnoli* - A China em página inteira

- Folha de S. Paulo

Operação geopolítica da China na pandemia terá implicações de longo prazo

Na aurora de 7 de fevereiro, o nome de Li Wenliang surgiu numa inscrição imensa, desenhada na neve, à margem de um rio chinês.

Três meses e uma pandemia depois, em 29 de abril, a página A5 da Folha foi inteiramente ocupada por um informe publicitário que canta as glórias da China. As duas imagens contam uma história —ou melhor, a inversão de uma história. A operação terá implicações geopolíticas de longo prazo.

O médico Li Wenliang, um dos primeiros a soar o alarme da nova doença, foi calado pelo Estado, contraiu o coronavírus e morreu. A notícia correu nas redes sociais, convertendo-o em herói popular: o símbolo da perversidade do regime.

A página publicitária na Folha traz a voz de Xi Jinping, dublada por um "especialista" brasileiro, um diplomata chinês e o médico-burocrata responsável pela medicina tradicional chinesa. É o segundo funeral de Li Wenliang: o panegírico da "eficiência" sanitária do sistema totalitário.

O primeiro pilar da "guerra da informação" deflagrada por Xi Jinping é a manipulação das estatísticas de óbitos. Segundo os números oficiais, a China encerra sua epidemia com 4.600 mortos, 13 vezes menos que os EUA, onde o vírus continua a ceifar 2.000 vidas por dia.

Andréa Pacha - Direito à memória

- O Globo

A desinformação deliberada e a omissão das autoridades não sepultam a realidade

Eunice Farah, 77 anos, era uma foliã apaixonada e pulou o último carnaval no Clube Ipiranga com filhos e netos. Erika Regina viveu 39 anos e se transformava na melhor amiga de infância de qualquer um, em cinco minutos. Ricardo Maeda, 44, ia ser um pai completo, mas não teve tempo. Fernanda Caiuby, aos 64 anos, pintava na aquarela a imaginação dos seus filhos. Manoel Chaves era o Belo. Tinha 86 anos e assim era conhecido porque lá na Bahia, dizem, era o mais bonito da sua vila. Todos morreram vítimas da Covid-19. Todos foram sepultados sem ritos ou despedidas.

O olhar sensível do artista Edson Pavoni, inconformado em ver pessoas transformadas em números, deu voz e alma aos que partiram. Em uma obra coletiva, com participação de voluntários, o memorial virtual “Inumeráveis” ( https://inumeraveis.com.br/) entrou no ar na quinta-feira passada. Nas lápides intangíveis, que não param de crescer, nomes e histórias são eternizados. Uma maneira comovente e delicada de perpetuar a memória, e de permitir a ritualização das perdas e a elaboração dos lutos, sem os quais não somos humanos. Não há futuro sem compreensão do passado. Somos um acumulado de vidas e histórias dos que nos precederam. Sem nomes, sem memória, vidas são descartáveis. Daí porque precisamos lembrar. Daí porque não podemos esquecer.

Marcelo Trindade* - Liberalismo na pandemia

- O Globo

O fiasco sanitário não tem partido

Junto com o novo coronavírus, multiplicam-se declarações de morte ao liberalismo. O colapso do sistema de saúde revelaria que os investimentos estatais foram insuficientes no passado. A necessidade de ação dos governos provaria que os mercados não sobrevivem sem o Estado. E como Bolsonaro, enquanto ataca a saúde pública e a democracia, se diz liberal na economia, reforça as críticas ao liberalismo.

Culpar o liberalismo pelas falhas do sistema de saúde no Brasil é absurdo. O Estado brasileiro é perdulário e nunca se concentrou no que os liberais consideram suas funções primordiais — exatamente saúde, segurança e educação. Trata-se de acusar de fracasso uma proposta nunca implementada.

É como se os culpados, apanhados em flagrante, apontassem para os inocentes. Ou alguém tem dúvida de que, entre as razões para o Brasil não estar preparado para a pandemia, está a opção, feita por governos nada liberais, em torrar bilhões de reais em Copa do Mundo, Olimpíadas e obras faraônicas, aqui e até fora do Brasil, ao invés de investir em hospitais e saneamento?

Marcus Pestana - O SUS, Eugênio e Mandetta

Tempos nebulosos e sombrios os que estamos vivendo. No exato momento da publicação deste artigo a COVID-19 já terá levado mais de 210 mil vidas em todo o mundo e mais de 6 mil vidas no Brasil. Sem falar na enorme subnotificação que começa a ser desvendada, principalmente nos países emergentes e nos países mais pobres. Os sistemas nacionais de saúde estão sendo testados em seus limites. O mundo inteiro está mergulhado num momento desafiador. A presente crise promove a combinação perversa entre a violenta pandemia do coronavírus e o fantasma de uma crise econômica inédita e devastadora.

Felizmente, na saúde, com todas as mazelas e problemas, o SUS é um sistema nacional unificado e coordenado, com capilaridade e descentralização de ações. Sofre sempre o problema crônico de falta de recursos, mas heroicamente resiste e enfrenta a epidemia. A saúde suplementar complementa as ações publicas cuidando de 47 milhões de brasileiros. Mas o sistema de saúde pode colapsar. O resultado só não é pior graças à correta política de isolamento social liderada pela a antiga equipe do Ministério da Saúde, por Governadores e Prefeitos.

Poderia me dedicar, nessas linhas, a discutir a crise política derivada da saída do Ministro Sérgio Moro, os conflitos permanentes, reavivados nos últimos dias, entre os poderes da República, a falta de rumo, na saúde e na economia, fruto dos problemas internos do Governo Federal, a expansão geométrica da epidemia entre nós. Mas preferi homenagear os milhares de profissionais de saúde e gestores que neste momento defendem, a duras penas e com enormes sacrifícios, as nossas vidas, nas pessoas de dois grandes protagonistas da história do SUS: o grande sanitarista Eugênio Villaça e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Afinal, a missão do SUS é cuidar das pessoas e suas ações são feitas por pessoas, e entre elas alguns exercem papel destacado de liderança.

Morre o filósofo Ruy Fausto, aos 85 anos, um dos principais teóricos do marxismo

Professor emérito da USP e Doutor em Filosofia pela Sorbonne, ele teve um enfarto em Paris, na França

- O Globo

RIO — Morreu nesta sexta-feira, 1, em Paris, o filósofo Ruy Fausto, aos 84 anos, vítima de um enfarto. A informação foi confirmada pela Companhia das Letras, editora de seu último livro, "Caminhos da esquerda: elementos para uma reconstrução" (2017). Um dos principais teóricos do marxismo no Brasil, ele é irmão do historiador Boris Fausto.

Nascido em São Paulo, em 1935, Ruy Fausto formou-se em Filosofia em 1956, na USP. Após o golpe militar de 1964, ele fugiu para o Chile e depois para a Europa. Seguindo carreira universitária na França, fez doutorado em filosofia na Universidade Paris. Frequentou por alguns anos a Paris VIII, onde trabalhavam filósofos importantes como Gilles Deleuze, François Lyotard e François Chatêlet.

Em uma entrevista para a Revista da USP, em 2017, o pensador resumiu as suas preferências na vida acadêmica. "Meus interesses foram sempre dois: lógica e política", definiu.

Apoiando-se nesses dois pilares, tornou-se um dos principais teóricos do marxismo no país. Sua obra mais conhecida é "Marx: Lógica e política", que teve três volumes e é um clássico do pensamento político. Na série de ensaios, que começou a ser publicada em 1983, o filósofo investiga os fundamentos lógicos da crítica da economia política, e a prática derivada do marxismo.

- Ruy Fausto representa toda uma geração de intérpretes do Brasil - diz a historiadora Lilia Moritz Schwarcz. - Ele ficou muito conhecido como um pensador marxista, mas não creio que esse termo faz juz ao seu pensamento. Ruy usou seu conhecimento fundamental do marxismo e o usava com muita crítica para analisar os nossos impasses. Com isso, provocava a interlocução de pessoas dos mais diversos espectros políticos. Era um pensador de esquerda que não cabia numa caixinha, que não se acomodava na lógica de um partido ou de uma ideologia.

Entre a política e a filosofia, Fausto publicou livros que discutem os rumos da esquerda no país, como "A esquerda difícil: Em torno do paradigma e do destino das revoluções do século XX e alguns outros temas" (Perspectiva, 2007) e "Outro dia: Intervenções, entrevistas, outros tempos" (Perspectiva, 2009), entre outros.

Em 2017, ele lançou "Caminhos da esquerda: elementos para uma reconstrução", uma seleta de artigos em que analisa os erros e propõe um novo trajeto da esquerda no país. Na época, o filósofo disse que a esquerda no país "ia de mal a pior". Em sua última entrevista para a revista ÉPOCA, em 2019, Ruy clamou pela criação de uma "frente ampla" que incluísse também o centro - e sem Lula como candidato.

- Precisaríamos pensar, desde já, numa frente de esquerda e para além da esquerda, se for possível - disse o filósofo. - Precisamos urgentemente de uma “geringonça” brasileira. Uma aliança de forças. Só ela poderia nos salvar.

Segundo Sergio Fausto, seu sobrinho, Ruy teve um infarto enquanto tocava piano. Apreciador de jazz, o filósofo costumava dizer que a música o havia salvado algumas vezes. "Sou meio músico amador, medíocre na chamada música “erudita” (que, entretanto aprecio), mas que se vira mais ou menos, na popular", revelou ele em uma entrevista de 2017.

O que a mídia pensa - Editoriais

• A corte de Bolsonaro – Editorial | O Estado de S. Paulo

O presidente age como se ainda estivéssemos sob a Constituição de 1824 e como se ele fosse o imperador. 'Quem manda sou eu', disse recentemente

Na extinta monarquia brasileira, conforme o artigo 99 da Constituição de 1824, “a pessoa do imperador é inviolável e sagrada” e “ele não está sujeito a responsabilidade alguma”. Ou seja, o imperador não respondia pelos seus atos, sendo estes, em si mesmos, a expressão da lei. Essa figura do Poder irresponsável, acima de todos os outros, foi extinta com a Proclamação da República, em 1889. A primeira Constituição republicana, de 1891, estabelece a “responsabilidade do presidente” (Capítulo V) e os diversos crimes de responsabilidade pelos quais o presidente poderia ser acusado (artigo 54), como desrespeito à Constituição e improbidade administrativa.

O presidente Jair Bolsonaro age como se ainda estivéssemos sob a Constituição de 1824 e como se ele fosse o imperador. “Quem manda sou eu”, disse recentemente Bolsonaro, invocando, pela enésima vez, um poder que ele considera ilimitado. Neste caso específico, Bolsonaro quer ter poder de nomear amigos para dirigir a Polícia Federal (PF) e fazê-la trabalhar para atender a seus interesses e aos de seus filhos, que aparecem em investigações da PF.

Música | Raphael Rabello & João Bosco & Paulo Moura - A mesma rosa amarela (Carlos Pena Filho)

Poesia | Carlos Pena Filho - Chopp

Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.

Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.

Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.

Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Merval Pereira – Um presidente atordoado

- Globo

A insistência em nomear Ramagem só confirma o que Moro alegou como motivo para sua saída do ministério

O presidente Jair Bolsonaro está dando munição contra ele mesmo para o inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga a denúncia do ex-ministro Sergio Moro de que ele tentou interferir nas ações da Polícia Federal, e por isso demitiu o delegado Maurício Valeixo para nomear Alexandre Ramagem, que foi chefe de sua segurança.

A insistência em nomear Ramagem, mesmo depois de o ministro Alexandre de Moraes ter suspendido sua posse, só confirma o que Moro alegou como motivo para sua saída do Ministério da Justiça.

O presidente Bolsonaro declarou que o caso quase gerou uma crise institucional, indicando que pensara em não respeitar a decisão do Supremo, ou em indicálo novamente, o que seria uma afronta ao Judiciário.

Ao mesmo tempo, duas investidas do presidente em outros órgãos de Estado, como o Exército e a Receita Federal, demonstram que ele não tem noção institucional dos limites que cada Poder tem entre si, e da diferença das políticas de Estado das do governo.

Os órgãos de Estado não são braços da ação política dos governos, são permanentes e devem ser guiados por atuação imparcial do ponto de vista político. Bolsonaro determinou ao secretário da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto, uma anistia de dívidas tributárias das igrejas evangélicas devido a autuações pelo não recolhimento de tributos na distribuição de lucros e outras remunerações a seus principais dirigentes.

No Exército, ele determinou a revogação de três portarias sobre rastreamento de balas e munições. Nos dois casos, agiu como presidente da República para favorecer grupos de seguidores políticos, como as igrejas evangélicas e os clubes de tiro, os atiradores e colecionadores de armas.

O que estava ruim só piorou para o presidente Bolsonaro com o confronto que está alimentando com o Supremo Tribunal Federal (STF) por causa da liminar do ministro Alexandre de Moraes que suspendeu a posse do delegado Alexandre Ramagem na diretoria-geral da Polícia Federal. “Polícia Federal não é órgão de inteligência da Presidência da República”, ressaltou o ministro do STF em seu despacho concedendo a liminar.

Bernardo Mello Franco - Bolsonaro fez ataque preventivo a Moraes

- O Globo

Como todo aspirante a ditador, Bolsonaro não gosta da ideia de um Judiciário independente. Ontem ele testou uma nova fórmula para intimidar o Supremo

Como todo aspirante a ditador, Jair Bolsonaro não gosta da ideia de um Judiciário independente. Na campanha de 2018, ele anunciou o plano de ampliar o número de vagas no Supremo de 11 para 21. A manobra, inspirada em ato da ditadura militar, lhe daria a chance de indicar dez ministros de uma só vez.

Para facilitar a vida do pai, o deputado Eduardo Bolsonaro propôs uma solução mais ligeira. “Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo”, disse.

Nos dois episódios, o clã desafiou o Supremo e esperou as reações negativas para fingir arrependimento. O roteiro se repetiu no ano passado, quando o presidente divulgou um vídeo que retratava o tribunal como uma hiena em busca de carniça.

Nelson Motta - Que terço é esse?

- O Globo

Os que votaram nele por ódio ao PT e à esquerda estão decepcionados

Nada mais assusta ou surpreende nos seus coices na razão e nas suas bombas de merda verbais. Nem seu autoritarismo e sua ganância de poder, de ter controle sobre tudo e não dar satisfações a ninguém, afinal, “o presidente sou eu, eu é que mando, talkey?” Seu principal objetivo é livrar os filhos da lei a qualquer preço.

O que assusta é saber que um terço do país (ainda) o apoia incondicionalmente.

Apesar do bombardeio da mídia, do Congresso e do Judiciário, e dos recentes revezes e desgastes, que fizeram 17% de seus eleitores se arrependerem, 33% do país se mantêm fiéis a ele. São cerca de 50 milhões entre os 150 milhões de eleitores. Uma Espanha.

Mas quem é esse terço no Brasil?

Flávia Oliveira - O pior 1º de Maio

- O Globo

Diretamente da ocupação precária para o desemprego

Foi rápido e agudo o efeito da crise sanitária no mercado de trabalho brasileiro. No primeiro resultado da Pnad Contínua após o início do isolamento social em resposta à pandemia, o IBGE apresentou um cenário de intensa deterioração nas vagas ocupadas pelos mais vulneráveis. Nunca foi exagero reivindicar políticas emergenciais de proteção social às trabalhadoras domésticas e aos informais. Eles saíram diretamente da ocupação precária para o desemprego. Nenhum grupo sentiu mais a súbita desaceleração da economia. Nada a comemorar no Primeiro de Maio.

Levantamentos divulgados nas primeiras semanas de distanciamento já indicavam que o impacto nas condições de vida das famílias à beira da vulnerabilidade seria grande. Em consulta a 1.142 moradores de 262 favelas entre os dias 20 e 22 de março, o Data Favela apurou que mais da metade (54%) temia perder o emprego, e 86% teriam dificuldades para comprar comida em até um mês, se ficassem sem rendimentos. Em meados de abril, o Instituto Locomotiva estimou que 39% das diaristas e 13% das empregadas domésticas mensalistas foram dispensadas sem direito a remuneração.

As estatísticas do IBGE confirmaram a tendência. No primeiro trimestre de 2020, 832 mil assalariados sem carteira assinada, 742 mil conta própria sem CNPJ e 385 mil trabalhadores domésticos ficaram sem ocupação. São justamente os grupamentos profissionais de menor remuneração e com presença maiúscula de mulheres e negros, numa evidência de que a crise socioeconômica oriunda da pandemia tem mesmo gênero e raça.

Míriam Leitão - Sem bússola no olho do furacão

- O Globo

Desemprego pode ser maior, todos os indicadores do IBGE estão ameaçados por impasse que a direção não consegue resolver

Hoje é dia do trabalho e só se viu até agora a ponta do iceberg do que poderá vir a ser o desemprego no Brasil. O país navega sem qualquer visibilidade no meio de uma tempestade. O mercado de trabalho já está em forte deterioração, e a economia corre o risco concreto de ficar sem indicadores para orientar as políticas públicas em qualquer área. O Caged não está sendo divulgado desde dezembro, e o IBGE dificilmente conseguirá trazer o retrato do desemprego ou dos outros índices econômicos.

A ex-presidente do IBGE Wasmália Bivar acha que a direção do Instituto deveria estar se mobilizando, falando com a sociedade brasileira para superar o impasse que se formou:

– É preciso ir ao Supremo, Congresso, trazer a OAB, fazer seminário virtual, falar com a imprensa, enfim, explicar a todos a necessidade de ter acesso a dados que permitam ao IBGE construir uma nova forma de trabalho.

A pandemia fez com que, em todo o mundo, houvesse a suspensão das pesquisas domiciliares. Wasmália acha que o IBGE está corretíssimo em ter também suspendido para proteger as famílias e a equipe de trabalho. O problema é que em seguida o governo baixou a MP determinando que o instituto tivesse acesso aos dados individuais que teriam que ser fornecidos pelas companhias telefônicas. Por ser uma MP, e pela maneira como foi feita, produziu uma onda de reação. Partidos diferentes, a OAB e outras instituições procuraram o STF, e a ministra Rosa Weber suspendeu o repasse de dados das telefônicas.

Rogério L. Furquim Werneck* - Cálculo político revelador

- O Globo | O Estado de S. Paulo

Os benefícios esperados superavam com folga os custos envolvidos na decisão de enfrentar Sergio Moro

Não lhe bastassem a pandemia e a recessão, o presidente decidiu abrir uma terceira frente, ao deflagrar grave crise política que poderá até lhe custar o mandato.

Tendo se permitido incorrer nos custos de destituir Mandetta em meio à pandemia, Bolsonaro não se deu por satisfeito. Três dias depois, aceitou ser protagonista central de grotesca manifestação antidemocrática, em frente ao QG do Exército, em Brasília. E, em seguida, não teve melhor ideia do que armar novo pandemônio político que culminou na renúncia do mais popular de seus ministros.

Diante de tantos despropósitos, é natural que muitos analistas estejam tentados a crer que o presidente já não se pauta por considerações racionais. E é até possível que estejam certos. Mas, por ora, parece mais realista presumir que o presidente continua tentando ser racional, ainda que com objetivos muito estreitos, péssima assessoria e manejo lamentável dos seus recursos políticos. É uma perspectiva analítica mais promissora, porque permite vislumbrar elementos cruciais do cálculo político do Planalto que escapariam a análises baseadas na presunção de irracionalidade.

Já é hora de passar a entender Bolsonaro & Filhos como um grupo político indissociável. Tendo conquistado a Presidência da República nas condições especialíssimas da eleição de 2018, o grupo atravessou 2019 cada vez mais convicto de que o feito poderia ser repetido em outubro de 2022.

Tal convicção viria a ser fatalmente abalada pela pandemia e seus complexos desdobramentos econômicos e sociais. E, para o grupo, a brusca reversão de expectativas seria traumática.
Mandetta caiu, em parte, por ter mostrado mais sucesso do que deveria. Mas, primordialmente, por ter insistido numa linha bem fundamentada de combate à epidemia que eliminava qualquer esperança de que a economia pudesse vir a ter, em 2020, desempenho compatível com o projeto de reeleição de Bolsonaro.

Luiz Carlos Azedo - O vírus da paranoia

- Nas entrelinhas | Correio Braziliense

“Bolsonaro acredita que há uma operação no Congresso para inviabilizar o governo financeiramente, ao barrar projetos do ministro Guedes”

O estresse entre o presidente Jair Bolsonaro e o Judiciário não é um bom sintoma político para a democracia, porém, continua. Ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou, por unanimidade, as restrições à Lei de Acesso à Informação previstas em uma medida provisória (MP) editada pelo presidente da República. A MP havia sido editada em março, motivando o pedido da Rede Sustentabilidade para que o STF suspendesse os trechos da lei que restringiam o acesso à informação. Alexandre de Moraes havia atendido ao pedido; o plenário do STF confirmou a decisão, o que foi interpretado como uma espécie de desagravo ao ministro, diante dos ataques que havia sofrido de parte de Bolsonaro, pela manhã.

O presidente da República pretendia suspender prazos de resposta e a necessidade de reiteração de pedidos durante a pandemia do novo coronavírus. A Lei de Acesso à Informação regulamenta o trecho da Constituição que estabelece como direito de qualquer cidadão receber, do poder público, informações de interesse da sociedade. Na mesma linha da decisão do Supremo, a juíza federal Ana Lúcia Petri Betto, da 14ª Vara Cível Federal de São Paulo, determinou que a Advocacia-Geral da União (AGU) forneça os laudos de todos os exames feitos pelo presidente Jair Bolsonaro para diagnóstico do coronavírus. A decisão, segundo a juíza, deve ser cumprida em 48 horas, sob pena de multa de R$ 5 mil por dia.

Segundo a juíza, o documento enviado pelo AGU “não atende, de forma integral, à determinação judicial”. Na verdade, não eram os resultados dos exames – que Bolsonaro se recusa a revelar, o que aumenta os boatos de que teria contraído o coronavírus —, mas um relatório médico da coordenação de saúde da Presidência, com data de 18 de março, mas sem os exames. A magistrada havia determinado a apresentação dos dois exames feitos por Bolsonaro, que teriam resultados negativos, segundo o próprio.

Ricardo Noblat - Avanço do Covid-19 deteriora a situação do país e de Bolsonaro

- Blog do Noblat | Veja 

Brasil ultrapassa a China em número de casos e de mortes

Enquanto o presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, pelo terceiro dia consecutivo revela preocupação com o avanço do coronavírus no Brasil, seu admirador de carteirinha, o presidente Jair Bolsonaro, voltou a repetir que não há muito o que fazer – salvo deixar que a doença contamine 70% da população para que depois perca o fôlego. Não há garantia de que perderá.

A Ciência ainda não descobriu se uma pessoa contaminada se torna imune. Algo como 80% dos contaminados sequer se darão conta que contraíram o vírus. Como não foram e nem serão testados, poderão circular certos de que escaparam aos efeitos da pandemia. E assim se tornarem transmissores da doença. Bolsonaro, ao que tudo indica, não entendeu isso.

Mas, se entendeu, pouco está ligando. Em sua live semanal das quintas-feiras no Facebook, no mesmo dia em que o ministro Nelson Teich, da Saúde, admitiu que o número de mortos pelo vírus poderá em breve ultrapassar a marca diária de mil, Bolsonaro, sem apresentar provas, sustentou que o confinamento social de nada adianta. E defendeu novamente a volta ao trabalho.

Uma das razões para que o presidente goste tanto de suas aparições no Facebook é que, ali, ninguém o contesta. Pode contestar nos comentários postados – mas ele não se importa. Ao vivo, só ele e convidados. E nenhum ousa aparteá-lo sequer para dizer que endossa suas opiniões. Só abrem a boca quando ele manda. De preferência, apenas sorriem ou abanam a cabeça.

Hélio Schwartsman - Brasil fracassa na pandemia

- Folha de S. Paulo

Fracassamos no preparo, nos testes e até na contagem mortos

Hesitei muito antes de escrever esta coluna, mas acho que não há mais como adiar: a forma como o Brasil vem enfrentando a Covid-19 só pode ser classificada como um fracasso completo. Para mencionar apenas os pontos mais essenciais, fracassamos no preparo para lidar com a pandemia, fracassamos em testar nos níveis necessários para identificar os doentes e eliminar cadeias de contágio e fracassamos até mesmo em contar os mortos direito e enterrá-los com dignidade.

Não ignoro que a dificuldade é global. Faltam insumos no mundo inteiro. A carência atinge desde os sempre lembrados ventiladores até reagentes para os testes e itens de proteção pessoal como máscaras e viseiras. Faltam também produtos menos óbvios, como o swab, o "cotonete" usado nos exames moleculares.

Onde estão o governo e os engenheiros de produção? Por que o poder público não negociou com setores da indústria que estão ociosos a conversão de suas linhas para a produção emergencial de alguns desses itens?

Bruno Boghossian – Chiadeira seletiva

- Folha de S. Paulo

Presidente não reclamou do STF quando ministros decidiram a favor de Flávio e do governo

Não houve chiadeira no Palácio da Alvorada quando Luiz Fux aproveitou o recesso do STF e decidiu, sozinho, suspender as investigações do caso Fabrício Queiroz, no início do ano passado. Ninguém saiu à portaria para dizer que aquele era um juízo político ou que o ministro abusava do poder de sua caneta.

Seria ingenuidade esperar coerência de Jair Bolsonaro. O presidente bateu palmas quando o Supremo tomou decisões que beneficiavam sua família e o governo. Agora, força uma confusão com a corte para encobrir sua tentativa escancarada de interferir na Polícia Federal.

Depois que Alexandre de Moraes barrou a nomeação de seu escolhido para o comando do órgão, o presidente disse que o ministro impedira a posse só porque Alexandre Ramagem era seu amigo: "Por que não posso prestigiar uma pessoa que eu conhecia com essa profundidade?".

Não era nada daquilo. Bolsonaro foi impedido de trocar a chefia da PF porque demonstrou interesse em intervir politicamente em investigações que rondam seus filhos e aliados. As relações com Ramagem surgiram apenas como agravantes.

Reinaldo Azevedo - É preciso cultivar nosso jardim

- Folha de S. Paulo

Estamos esmagados sob a égide de espíritos homicidas, mas nem tudo está perdido

Sinto desconforto ao ter de escrever sobre certas vigarices políticas quando o caos da Covid-19 já engolfou Manaus e Belém, avizinha-se de Fortaleza e São Luís, preparando-se para tragar Rio e São Paulo. Desconforto e sensação de impotência. Como todo mundo. Nada disso está bem. É preciso, então, cultivar nosso jardim. Volto ao ponto mais adiante, depois de tratar do fim de uma quimera, de que o triunfo da morte é parte.

Sergio Moro deixou o Ministério da Justiça ambicionando o papel de mocinho no duelo com Jair Bolsonaro. Um completo ausente em tempos de coronavírus, demitiu-se cinco dias antes de o Monitor da Violência apontar nova escalada de homicídios. O índice cresceu 8% no país —22% no Nordeste— em janeiro e fevereiro na comparação com igual período do ano passado. A incompetência é apanágio da mistificação.

Saiu atirando contra o chefe, com quem formalizou uma aliança de pornografia política explícita há meros 17 meses. O rompimento foi didático. Expôs sem filtro a natureza da Lava Jato e o seu poder de corromper instituições sob o pretexto de caçar corruptos. Foi aquele serpentário que nos relegou às trevas.

A aliança informal da operação com a extrema direita antecedia em muito o novembro de 2018, quando o então presidente eleito convidou o juiz para o cargo. No ministério, Moro condescendeu com o obscurantismo armamentista de Bolsonaro —e o resultado, tudo indica, já se traduz em corpos—, fez a defesa esganiçada e cruenta da licença para matar e se opôs ao juiz de garantias.

Vinicius Torres Freire – Guedes e a ‘impressão de dinheiro’

- Folha de S. Paulo

Ministro disse que pode acontecer, mas é hipótese teórica ou o governo já pensa em agir?

Paulo Guedes afirmou que o governo pode “imprimir dinheiro”, maneira “pop” de dizer que o Banco Central pode criar moeda do nada a fim de comprar títulos públicos. Isto é, emprestar dinheiro para o governo. Na prática, grosso modo, o endividamento extra seria financiado com dinheiro criado do nada, para ir no popular.

O troço é mais enrolado, mas a questão mais importante nem é explicar a aparente mágica.

As perguntas são:

1. Guedes apenas mencionou uma hipótese teórica de uma política extraordinária, adotada no Japão dos anos 1990, nos EUA e na Europa depois da crise de 2008 e agora outra vez, por causa da ruína da epidemia?

2. O ministro choveu no molhado, porque o BC já admitiu que pode em tese recorrer a tal política, faz mais de três semanas? Aliás, o instrumento que permite ao BC comprar títulos do Tesouro foi negociado com o Congresso faz um mês;

3. Os economistas do governo já pensam em partir para a ação (embora a decisão, oficialmente, caiba ao BC)?

Fernando Gabeira* - Pergunte ao coronavírus

- O Estado de S.Paulo

O Brasil politizou o vírus. O governo mergulhou na cegueira ideológica

Num momento de ansiedade e incertezas, multiplicam-se as previsões e os cenários sobre o mundo pós-pandemia. Mas todos esses cenários, creio, dependem da evolução da mesma variável que nos pôs nesta situação tão difícil: o coronavírus.

Uma das minhas referências nas previsões sobre o coronavírus é Bill Gates. Ele dedica parte de sua fortuna ao financiamento de projetos de saúde pública. Precisa ser bem informado, no mínimo, para não jogar dinheiro fora. Em curto artigo sobre as perspectivas, Gates acha que uma vacina eficaz contra o coronavírus estará pronta até 2021. Os caminhos da pesquisa indicam duas direções. Uma delas é a vacina tradicional, que utiliza um vírus desativado. A outra, aproveitando os avanços da genética, poderia informar as células para que bloqueiem o vírus.

Existe uma possibilidade mais rápida, anunciada pelos cientistas de Oxford no jornal The New York Times. Eles acham que conseguem lançar sua vacina ainda em setembro de 2020. Fizeram experiências com seis macacos e foram bem-sucedidos. Pretendem agora experimentá-la em 5 mil pessoas e obter a licença.

Eliane Cantanhêde - Tiro no STF e no pé

- O Estado de S.Paulo

Há margem para discutir a decisão do STF, mas Bolsonaro trabalhou contra ele próprio

O presidente Jair Bolsonaro deu uma de Jair Bolsonaro: fingiu que foi, mas não foi. Moldado pelos generais e pela assessoria direta não ligada ao “gabinete do ódio”, ele reagiu com moderação e rapidamente ao revogar a nomeação de Alexandre Ramagem para a Polícia Federal, que havia sido suspensa pelo Supremo, mas, à tarde, mandou recados sobre a independência entre Poderes e no fim da quarta-feira já avisava que mudaria tudo. Por quê? “Quem manda sou eu.”

Antes de embarcar para Porto Alegre, para mais uma solenidade militar, Bolsonaro admitiu na quinta-feira, 30: “Quase tivemos uma crise institucional. Faltou pouco”. Ou seja, o presidente pensou seriamente em desobedecer uma decisão do Supremo, descartando a regra de que “decisão judicial não se discute, cumpre-se” – e, se for o caso, recorre-se.

Se o presidente agora não pensa em outra coisa senão em nomear Ramagem como diretor-geral da PF, o mundo político parecia se dividir. A primeira reação, assim que Alexandre de Moraes suspendeu a posse, foi de amplo apoio à decisão do ministro do Supremo. Na quinta, começaram as ressalvas. Pelo twitter, o ex-presidente Fernando Henrique disse que “os choques entre poderes não ajudam a democracia” e opinou: “Acho que cabe ao PR (presidente) nomear o diretor da PF”.

Ignácio de Loyola Brandão - E daí, Presidente Morte?

- O Estado de S.Paulo

Não significamos nada para este senhor Jair. Ele tem por nós desdém, desprezo, desapego, desinteresse. Acima de tudo, desamor

Quando ouvi o presidente exclamar “E daí?” diante das mortes provocadas pelo covid 19, tive ânsia de vômito. Em seguida, pensei: é um monstro. Um homem sem aquilo que minha mãe chamava de misericórdia. Na mesma hora, me veio a ordem do governador geral da Polônia, em janeiro de 1942, pouco antes da reunião em Wannsee, Berlim, que determinou a aceleração da Solução Final (nem Bolso nem o chancelar Arruda acreditam nela), destinada a exterminar todos os judeus, todos os inimigos do nazismo. O resultado, 6 milhões de mortos em fornos crematórios, fuzilamentos, e tudo o mais.

Sabemos hoje alguns nomes daqueles que comandaram a operação. Inesquecíveis Himmler, Heydrich, Adolf Eichmann e Josef Mengele, este chamado de o Doutor Morte, pela frieza com que executou as mais perversas “pesquisas” em nome da ciência.

E dai? Daí que me veio acachapante sensação, que não foi de repulsa ante a frieza e a indiferença com os milhões de habitantes do Brasil. Não foi de raiva, nem de ódio. Foi de uma tristeza imensa diante de tal desumanidade e desrespeito à dor alheia, à dor de uma nação. Não significamos nada para este senhor Jair. Ele tem por nós desdém, desprezo, desapego, desinteresse. Acima de tudo, desamor. Fiquei deprimido. Não sou ninguém, minha família nada é, meus amigos nada são, nenhum brasileiro tem qualquer significado, nenhum ser humano tem direito à vida. Nosso presidente não liga um pingo para nós, para nossas existências. Nem pelas vidas daqueles que votaram nele. Porque, se as mortes continuarem nessa progressão, onde vão parar? Se é que vão.

Matheus Leitão - Ameaça de Bolsonaro de “crise institucional” gera mais desconforto no STF

- Revista Veja

Declaração do presidente é o fato político do dia, avalia ministro. Fala pode confundir, mas não tirará os olhos da corte das denúncias feitas por Moro

Apesar de aconselhado por assessores a não aumentar o fosso cada vez maior entre o Executivo e o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro amanheceu o dia atacando diretamente o ministro Alexandre de Moraes. E revelou que, nesta quarta-feira (29), o país esteve perto de uma crise institucional. “Por pouco não teve uma crise institucional ontem, por muito pouco”, disse ao sair do Palácio da Alvorada.

A “crise institucional” a que se refere Bolsonaro é uma reação dele à acertada decisão de Moraes de suspender a nomeação de Alexandre Ramagem como novo diretor-geral da Polícia Federal, após as graves denúncias de possível interferência política na corporação feitas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Na entrevista, raivosa como o usual, Bolsonaro chegou a falar na eventualidade de vir a nomear Ramagem apesar da ordem judicial. E essa é a crise que quase houve.

O país parece já estar acostumado com impropérios matinais do presidente. Mas a tentativa de Bolsonaro de esticar a corda com o STF, após seus incentivos às manifestações populares contra a corte, ampliou ainda mais o desconforto no Supremo. “Essa frase é o fato político do dia”, avaliou um ministro à coluna, mostrando que ela não deve ficar no vazio. Não fosse a pandemia, a resposta seria dada por desagravos no plenário pelos ministros ao colega de toga.

Além dessa frase de que “quase houve uma crise institucional”, o presidente fez os ataques diretos ao ministro Alexandre de Moraes, exigindo rapidez em decisões e afirmando que ele só foi escolhido ministro pela amizade com o ex-presidente Michel Temer. Criticar Alexandre de Moraes, como Bolsonaro fez, acaba por ferir todos os outros ministros da corte por tabela.

Dora Kramer - Hora marcada

- Revista Veja

Determinante para definir o destino do presidente será a comprovação, ou não, da ocorrência de crime de responsabilidade

Rodrigo Maia tem usado a palavra-chave do manual do bem-fazer política de Tancredo Neves: paciência. Personagem de um dos diversos episódios dramáticos da história de presidentes brasileiros, Tancredo era “capaz de tirar as meias sem tirar os sapatos”, na definição do também mineiro e adversário José Bonifácio de Andrada e Silva (um dos descendentes do patriarca).

O presidente da Câmara recorre ao ensinamento ao falar sobre a possibilidade de dar prosseguimento a um processo de impedimento de Jair Bolsonaro, que já se acumulam às três dezenas no setor de protocolos da Casa. Rodrigo de imediato calou-se e só se manifestou três dias depois da saída-bomba de Sergio Moro do Ministério da Justiça, numa sexta-feira frenética em que o tema do impeachment dominou a República, quando invocou a lição da paciência como virtude política.

Falou também em “equilíbrio”, duas características que Bolsonaro não tem e que serão imprescindíveis para atravessar os próximos meses. De um lado o combate à crise sanitária, de outro o transcorrer das investigações que podem resultar no enquadramento do presidente em crime de responsabilidade e os filhos dele em uma ou mais ações penais.

A palavra da ordem, portanto, está com o Supremo Tribunal Federal, com a Procuradoria-Geral da República e com a Polícia Federal. Não sendo ainda a hora de o Congresso entrar em cena, Rodrigo Maia deve ter feito a conta simples de que o ideal seria um recuo tático.