segunda-feira, 25 de novembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É tarefa urgente do Congresso limitar os supersalários

O Globo

Em vez de diminuir, avanço da elite do funcionalismo sobre dinheiro público tem crescido, constata novo estudo

A parcela de juízes e procuradores que receberam vencimentos superiores ao teto constitucional em pelo menos um mês do ano aumentou de 83% em 2018 para 92% neste ano, de acordo com o Anuário de Gestão de Pessoas no Serviço Público 2024. Os dados do levantamento mostram que o avanço da elite do funcionalismo sobre o dinheiro público, em vez de diminuir, tem crescido. Por isso exige resposta imediata do Congresso. É preciso fazer valer o limite constitucional de R$ 44.008,52, salário dos ministros do Supremo. Supersalários já seriam injustos se sobrasse dinheiro no Orçamento. Com o Brasil enfrentando grave crise fiscal, são um disparate.

Os beneficiados por regalias que inflam sua remuneração são uma minoria: 0,06% do funcionalismo, em especial juízes, procuradores e militares. Mas custam caro. Magistrados da ativa e aposentados receberam R$ 32,8 bilhões de reais acima do teto de 2019 a 2023, entre indenizações e direitos eventuais. Olhar para fora do país dá a dimensão da incongruência. Os gastos anuais com tribunais de Justiça representam 1,6% do PIB brasileiro, ante média de 0,5% para os países emergentes e de 0,3% para as economias avançadas. Como o custo principal da atividade jurídica está no pessoal, não é difícil descobrir a causa do desperdício.

Relatório mostra táticas do crime organizado - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Participação de Braga Netto sugere contaminação do golpismo com métodos de facção criminosa

Dos fatos descritos pelo relatório da Polícia Federal, um dos mais preocupantes para o futuro das Forças Armadas não é apenas a proporção de indiciados com patente das Forças Armadas - 25 de 37. O número mostra que se ainda não é possível dizer que tenha havido uma tentativa de golpe militar, se está mais perto de se conhecer uma tentativa de golpe de militares, mas o relatório não para aí.

Ao comparar o cerco que os militares envolvidos fizeram dos alvos e aquele dos assassinos de Marielle Franco e Anderson Gomes, a PF mostra o trânsito dos mesmos métodos utilizados entre o crime organizado e o golpismo. Não se trata apenas de uma “transferência de tecnologia”. A presença do general Walter Braga Netto nos dois eventos sugere que esteja em jogo uma contaminação.

Antes de ocupar o Ministério da Defesa, a Casa Civil do governo Jair Bolsonaro e a vaga de vice na chapa à reeleição do ex-presidente, Braga Netto foi o interventor na segurança pública do Rio de Janeiro. A nomeação para o último posto que ocupou na ativa foi do ex-presidente Michel Temer.

Crise de Bolsonaro pode tirar governo das cordas no Congresso - César Felício

Valor Econômico

Com avanço das investigações contra o ex-presidente, aumentaram as chances de o governo aprovar ajuste fiscal ainda neste ano

O avanço das investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve impactar a agenda do Congresso. Aumentaram as chances de o governo aprovar um pacote duro de ajuste fiscal ainda este ano, mesmo que implique mudanças legislativas com quórum qualificado, como propostas de emendas constitucionais e projetos de leis complementares.

O corte de gastos politicamente atenderia aos partidos do Centrão em três camadas: a primeira é se distanciar do bolsonarismo radical, que domina o PL, está enraizado no PP e no Republicanos e tem ramificações no União Brasil, PSD e MDB, entre os principais partidos. A segunda é fazer isso em uma pauta que reforçaria os elos da elite parlamentar com o empresariado e o sistema financeiro, que apontam há muito tempo para a falta de consistência do arcabouço fiscal. E a terceira é colocar o PT na constrangedora posição de endossar medidas que contrariam a sua base eleitoral e nunca foram defendidas pela sigla.

O governo iniciou o mês politicamente encurralado. O mau resultado da esquerda nas eleições municipais de outubro e a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos abriram perspectivas de poder para a oposição. O Centrão praticamente garantiu o comando futuro da Câmara e do Senado ao se unificar em torno das candidaturas do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) para as presidências das Mesas Diretoras, sem assumir compromissos significativos nem com o governo, nem com o bolsonarismo.

Não nos esqueçamos: Eles ainda estão aqui - Bruno Carazza

Valor Econômico

Até quando aceitaremos passivamente a ameaça de militares à democracia?

No Brasil, a arte imita a vida e a história se repete não como farsa, mas em golpes que nos prendem a um passado que nunca deixa de nos assombrar.

Os milhões de brasileiros que têm lotado os cinemas para assistir a “Ainda Estou Aqui”, obra que narra o drama da família Rubens Paiva durante a ditadura militar, tomaram conhecimento, na última semana, de novas evidências da trama de apoiadores de Jair Bolsonaro, inclusive militares de alta patente da ativa e da reserva, articulando-se praticar atentados terroristas e anular a vontade popular expressa nas urnas em 2022.

Ao longo da nossa história, foram vários os episódios de tentativas, algumas frustradas e outras infelizmente bem-sucedidas, de intromissão dos militares no jogo político. Essa permanente ameaça traz insegurança democrática e econômica, e deveria ser definitivamente afastada. Porém, se não houver uma real mobilização de boa parte da sociedade, nada mudará.

Os limites do pacote fiscal e as fragilidades do arcabouço - Sergio Lamucci

Valor Econômico

Um pacote de R$ 70 bilhões não é desprezível, mas não deverá ser suficiente para reduzir significativamente as incertezas sobre as contas públicas

O governo deverá enfim anunciar nesta semana as medidas de contenção de gastos, após seguidos adiamentos. A expectativa é que as iniciativas poupem em torno de R$ 70 bilhões em dois anos, dos quais R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 40 bilhões em 2026. Pelo que tem dito o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a lógica é que a dinâmica das despesas obrigatórias caiba dentro do arcabouço fiscal. Em 15 de novembro, ele afirmou “que a ideia é fazer com que as partes não comprometam o todo, e o arcabouço tenha sustentabilidade de médio e longo prazo, que é a dúvida do mercado”. Um pacote dessa magnitude não é desprezível, podendo levar a algum alívio no câmbio e nos juros de longo prazo, mas não deverá ser suficiente para reduzir significativamente as incertezas sobre as contas públicas.

Rebranding da direita - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

A direita vai conseguir se livrar de Bolsonaro? Ou continuará a ser refém como a esquerda é refém de Lula até hoje?

O novo indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pela Polícia Federal pelos crimes de “abolição violenta do estado democrático de direito”, “golpe de Estado” e “organização criminosa”, abriu grande janela de oportunidade para que políticos e eleitores de direita encontrem alternativas de novas lideranças que os represente de forma competitiva nas eleições de 2026.

Não demorará muito tempo para os políticos de direita perceberem que Bolsonaro se tornou tóxico. A reação tímida das principais lideranças políticas conservadoras com o novo indiciamento do ex-presidente é um sinal claro de sua toxicidade e de que Bolsonaro já é percebido por alguns como carta fora do baralho.

O Brasil não tolera mais tutela militar - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Não estamos mais dispostos a passar pano para militares golpistas

O Brasil conquistou um feito histórico. É a primeira vez que a tutela militar de governos civis é posta em xeque. O indiciamento de sete generais e 18 militares por tentativa de golpe de Estado é um fato inédito. A conciliação conservadora que permeia a atuação política dos militares finalmente está abalada. Em outras palavras: não estamos mais dispostos a passar pano para militares golpistas.

Graças à atuação primorosa de nossas instituições, há um caminho aberto para que o país atinja um novo patamar democrático: submeter os militares ao controle civil.

Um golpe para o cinema – Fernando Gabeira

O Globo

O mundo avançou, e os golpistas recuaram no tempo, não chegam aos pés de seus antecessores do século passado

Presenciei dois golpes militares no século XX. Primeiro foi no Brasil; nove anos depois, no Chile. Traços comuns: ocupação de pontos estratégicos, deslocamento de tropas, prisões em massa. Não houve planos de assassinato do governante deposto, embora Allende tenha morrido resistindo no Palácio de La Moneda.

No século XXI, os golpes de Estado tomaram outra forma. Há uma batelada de livros descrevendo-os. Agora, a democracia é devorada por dentro. O Poder Executivo aos poucos neutraliza Congresso e Judiciário e passa a mandar sozinho. É possível ver mais ou menos isso na Hungria ou na Venezuela.

O plano de golpe revelado na semana passada pela Polícia Federal representa um brutal retrocesso. Ele começaria com a morte do ministro Alexandre de Moraes, de Lula e Geraldo Alckmin. Teria características do século XIX, assim mesmo em países muito atrasados. Isso revela que o mundo avançou, e os golpistas, criando uma situação grotesca, recuaram no tempo, não chegam aos pés de seus antecessores do século passado.

Macondo é aqui - André Gustavo Stumpf*

Correio Braziliense

Se tivessem conseguido dar o golpe, além de prender, torturar, matar e censurar a imprensa, eles brigariam entre si. Jamais os generais admitiriam bater continência para capitão

As revoluções, ou suas respectivas tentativas, têm um aspecto ridículo que nunca deve ser desprezado. O realismo mágico existe. Não é invenção de escritores do quilate de Gabriel García Márquez. Eles perceberam o fenômeno na política latino-americana. Nessas histórias, há sempre um general, cheio de medalhas no peito, a proclamar-se o benefactor da pátria, em nome da defesa das instituições, da moral e dos bons costumes, que baixa o cacete nos opositores.  Às vezes, em nome de Deus.

Não será surpresa se, dentro de alguns anos, tudo isso que a Polícia Federal descobriu seja esquecido ou considerado ilegal. Foi assim com a Operação Lava-Jato, que encontrou uma roubalheira abissal nos negócios da Petrobras. Apesar das confissões, feitas em juízo, de repente, todos foram inocentados. Aqui, não há memória.

A extrema-direita e o punhal verde amarelo - Jefferson Rodrigues Barbosa *

Correio Braziliense

Bolsonaristas são exemplos de uma extrema-direita atuante que, enquanto ultradireita radical, defende o intervencionismo militar por meios violentos

A preparação de importantes membros do governo Bolsonaro e de suas bases de apoiadores para a execução de um golpe de Estado ficou mais evidente diante do avanço das investigações da Polícia Federal, que indiciou o ex-presidente, ex-ministros, militares de alta patente, sendo, ao todo, 37 suspeitos. A Procuradoria-Geral da República recebeu os conteúdos das investigações e, após análise, pode encaminhar ao Supremo Tribunal Federal (STF), que deve julgar e condenar os envolvidos no chamado Plano Punhal Verde e Amarelo.

De fato, a mobilização da extrema-direita e a agenda de seus líderes têm pontos comuns que são sempre lembrados pelos cientistas políticos, como o discurso de descrédito às instituições políticas, a negação de valores democráticos, colocando-se como portadores de uma nova política contra a velha política, e como defensores do povo contra as elites, usando retóricas nacionalistas que falseiam um discurso ultraliberal e conservador no sentido da pauta dos costumes. 

Atentados, golpes e ameaças à democracia - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Resiliência democrática se revela nas respostas das instituições, mas também opera por dissuasão e pelas características constitucionais do sistema político

Em 2022, um homem partiu da Califórnia para Washington, DC, com o propósito de assassinar Brett Kavanaugh, ministro da Suprema Corte americana. Estava indignado com o voto da Corte sobre o aborto. Chegando à residência do juiz, enviou mensagem de despedida para a irmã. Fala do suicídio que cometeria após o ato. A irmã logrou dissuadi-lo e o instigou a ligar para o 911, o que permitiu sua captura.

Quem ou o que estava em risco neste episódio? Certamente o juiz cuja vida esteve por um fio. Mas a democracia americana não estava em risco; conclusão que não se alteraria caso o plano tivesse tido êxito. Tratava-se de uma ação isolada, mas com inequívoco conteúdo político-partidário: "eu poderia pelo menos pegar um deles, o que iria mudar os votos por mais de uma década, e eu vou atirar em três. Todas as principais decisões nos últimos dez anos têm sido partidárias, então se tiver mais liberais que conservadores eles terão o poder".

Golpe e castigo no Brasil em transe - Sérgio Abranches

Correio Braziliense

"O inquérito do golpe não estará completo até que toda a cúpula de responsáveis por seu planejamento, custeio e operação sejam punidos, inclusive, aqueles que escaparam ao indiciamento no primeiro relatório"

O inquérito sobre os atos antidemocráticos, a trama de golpe de Estado e o uso da desinformação como estratégia de desestabilização da democracia chegou aos estágios finais, após dois anos de investigação. A Polícia Federal indiciou formalmente Jair Bolsonaro, toda a cúpula militar da Presidência, o delegado Alexandre Ramagem, da Polícia Federal, ex-chefe da Abin, e o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, por tentativa de golpe de estado, tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito e por organização criminosa. Foram 36 indiciados, entre eles 24 militares, além de Bolsonaro. A única exceção entre os oficiais palacianos foi o ex-secretário-geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos.

Os golpistas foram reunidos em seis núcleos diferentes: desinformação, jurídico, operacional, inteligência, oficiais de alta patente e responsável por incitar militares a apoiar o golpe. A Procuradoria-Geral da República deve oferecer denúncia contra todos. Muitos dos oficiais de alta patente eram do grupo de elite do Exército, as Forças Especiais, os "kid pretos".

Entrevista |Felipe Soutello: ‘Há uma avenida enorme para o centro democrático em 2026′

Por Bianca Gomes / O Estado de S. Paulo

Em entrevista, Felipe Soutello aponta potencial em uma chapa entre MDB e PSD e considera que a melhor estratégia para a esquerda será abrir mão de espaços regionais em favor de uma coalizão mais forte com o centro; no entanto, segundo ele, as definições sobre a próxima eleição presidencial ainda dependem dos próximos passos de Lula

Idealizador da chapa que reuniu dois históricos rivais em 2022, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB), Felipe Soutello diz que as principais marcas dos governos petistas, como o Bolsa Família e o Prouni, já foram apropriadas pela população e podem não ser suficientes para impulsionar a reeleição de Lula. Segundo ele, o nível de exigência dos eleitores aumentou, e enfrentamos uma crise internacional na qual as promessas de prosperidade não estão se concretizando.

“As pessoas não estão vislumbrando uma melhora de vida sustentável no tempo”, observa Soutello, que vê o fim da jornada 6x1 e a eliminação dos supersalários no setor público como “excelentes oportunidades” para o governo. Para ele, uma estratégia mais eficaz para a esquerda em 2026 seria abrir mão de espaços regionais em nome de uma coalizão mais forte com o centro, concentrando esforços na eleição de uma bancada mais robusta no Congresso.

Soutello começou sua trajetória em campanhas eleitorais em 1986, atuando pela candidatura de José Serra à Câmara dos Deputados – na época, tinha apenas 15 anos –, e a paixão pela política se tornou profissão. Filiado ao PSDB desde a fundação em 1989, o estrategista, como prefere ser chamado, trabalhou para figuras de peso, como Serra, Alckmin e Bruno Covas.

Entrevista | historiador Carlos Fico: ‘Ter investigação é o novo num caso de golpismo’

Por Bernardo Mello / O Globo

Notório pesquisador da História política brasileira e da ditadura militar, o professor da UFRJ Carlos Fico afirma que nunca houve no país, até 2022, um plano para matar o presidente eleito no contexto de um golpe de Estado. Outro ineditismo no caso que resultou no indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas, diz, é o próprio fato de estar havendo investigação.

Veja abaixo a entrevista ao GLOBO:

Poesia | Viver não dói, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Gal Costa - Força Estranha

 

domingo, 24 de novembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Anistia para réus do 8 de Janeiro é inadmissível

O Globo

Investigação da PF revela que violência e invasão a sedes dos três Poderes foram parte da trama golpista

As revelações da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o indiciamento de 37 envolvidos na trama golpista, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro e autoridades graduadas de seu governo, corroboram que é inadmissível o projeto que tramita no Congresso para anistiar quem participou da invasão às sedes dos três Poderes no 8 de Janeiro. Implicitamente, a proposta visa também a beneficiar Bolsonaro, inelegível devido à condenação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Crimes contra a democracia são gravíssimos. Não pode haver anistia nem para os participantes do 8 de Janeiro, nem para quem tramou um golpe de Estado.

A trama golpista, diz a PF, foi urdida dentro do Palácio do Planalto por auxiliares próximos de Bolsonaro. Um plano com o passo a passo da intentona, que previa o assassinato de Lula, do vice Geraldo Alckmin e do então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, foi impresso nas dependências palacianas. As investigações mostram também que os acampamentos de onde partiram as manifestações violentas do 8 de Janeiro não foram protesto espontâneo de descontentes com a vitória de Lula. Faziam parte do plano para impedir a posse dele, depois tumultuar seu governo. De acordo com a PF, o general da reserva Mário Fernandes, preso na semana passada, funcionava como elo entre o Planalto e os acampados na frente do quartel-general do Exército em Brasília. A invasão e a vandalização dos prédios públicos, depois que a intentona fracassara por falta de apoio no Alto Comando do Exército, objetivavam gerar instabilidade ao governo recém-empossado.

A noite americana - Luiz Sérgio Henriques

O Estado de S. Paulo

A interdependência entre povos e nações sempre retorna, assombrando os isolacionistas e tornando provisório o triunfo dos autoritários

Digerir os resultados da eleição norte-americana, que confirmaram Donald Trump como caso incomum de presidente com mandatos intercalados e lhe deram o controle das Casas Legislativas, leva a pensar não só na sorte da democracia naquele país, como também na estrutura do mundo que tende a se desenhar nos próximos anos. Ficaram para trás ideias parciais sobre o trumpismo, como a de que só expressava o ressentimento da minoria branca e conservadora. Por esse argumento, a demografia variada e complexa por si só garantiria o sucesso dos democratas, se não necessariamente no anacrônico Colégio Eleitoral, pelo menos no voto popular.

A demografia não é um destino e não pode haver a certeza prévia da afirmação de nenhuma maioria. Um bilionário com variados problemas judiciais e dois impeachments, um dos quais por investir contra a transição pacífica de poder, conseguiu capturar o sentimento majoritário. Seria ele, e não uma mulher de classe média, a se mostrar em sintonia com o difuso sentimento de mal-estar contra as “elites”. Ironicamente, alguns disseram que, para tal manobra, Trump estaria muito bem equipado: ele, e não outro, encarna fielmente a figura do homem rico segundo a percepção de pobres e remediados, supostamente acima das tentações corruptoras do sistema. Por aí, também, se abriu uma surpreendente possibilidade de empatia com queixas e dificuldades dos “de baixo”.

O cruzado que Trump escolheu para a Defesa – Dorrit Harazim

O Globo

É uma temeridade deixar Pete Hegseth, um extremista, comandar um orçamento militar anual de quase US$ 900 bilhões

Aos 44 anos, o veterano Pete Hegseth mantém o corpanzil sarado dos tempos em que foi soldado de elite do Exército americano. Prestou serviços no Iraque, no Afeganistão e na abominável prisão militar de Guantánamo antes de se tornar personalidade cultuada da Fox News. Ali ancorava um dos programas de maior audiência e estridência do canal, até ser pinçado por Donald Trump para ocupar o cargo de futuro secretário da Defesa.

Em condições mínimas de razoabilidade, a indicação de Hegseth teria poucas chances até de chegar ao Senado, ainda menos de ser aprovada na sabatina — os legisladores democratas, somados a alguns republicanos pensantes, pareciam decididos a impedir tamanha insânia. Antes, porém, era preciso abortar outra indicação de Trump: a do agora ex-deputado federal Matt Gaetz como procurador-geral. A pressão contra Gaetz funcionou. Detestado por seus pares e retratado como predador sexual contumaz em relatório da Comissão de Ética da Câmara, ele desistiu do cargo antes de precisar ser sabatinado.

A direita e o radicalismo - Merval Pereira

O Globo

Os políticos que se mantiverem ao lado de Bolsonaro serão cúmplices de seus atos

A fronteira entre a direita democrática e o radicalismo bolsonarista já está traçada há muito tempo, mas até a revelação dos fatos recentes, que culminaram com a descoberta da insurreição programada meticulosamente por militares, era mais fácil fingir não ter nada a ver com a violência, e continuar a apoiar Bolsonaro. Como se o ex-presidente encarnasse apenas a face liberal do seu projeto político, e estivesse alheio aos golpistas que o rodeavam. Se formos ver a origem dessa influência militar no governo Bolsonaro, basta lembrar que eles se reuniam em uma espécie de bunker em Brasília, onde a presença de civis era rara. A interpretação otimista era que os militares estariam no governo para conter Bolsonaro, mas aconteceu exatamente o contrário. Eram militares experimentados, a maioria comandara as forças brasileiras no Haiti, vistos como democratas. Bolsonaro, no entanto, botou no bolso generais, almirantes, brigadeiros, numa subversão da hierarquia militar.

Não era o presidente civil que se impunha aos militares, mas um capitão de pouca instrução e história militar medíocre que usava a hierarquia militar para controlá-los, pois era o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas. Além das benesses do poder, que alimentam o corpo e a alma.

Muito perto do abismo - Míriam Leitão

O Globo

Os envolvidos na trama golpista estavam em postos estratégicos, alguns até recentemente. É preciso apurar e punir todos

O general Nilton Diniz Rodrigues chefiava até quinta-feira a 2ª Brigada de Infantaria de Selva de São Gabriel da Cachoeira. Na sexta-feira, foi substituído. À época dos fatos, ele era assessor direto do comandante do Exército, Freire Gomes. O coronel Fabrício Moreira Bastos foi chamado de volta de Israel, onde era adido militar, na sexta-feira. Ambos foram indiciados e vão ficar em funções administrativas aguardando os acontecimentos. O tenente-coronel Rodrigo Bezerra Azevedo era oficial do Estado-Maior prestando assessoramento ao comando de Operações Especiais. Não foi indiciado, mas preso na terça-feira e afastado das funções. Nomes como Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira chamam mais a atenção, mas o que realmente preocupa o Exército são os da ativa.

A Justiça precisa cuidar dos golpistas - Elio Gaspari

O Globo

Todo golpe fracassado é ridículo e todo golpe vitorioso é heroico. O de Jair Bolsonaro fracassou. Passados dois anos, o Brasil livrou-se das turbulências militares chacoalhadas a partir do Palácio do Planalto. Isso não é pouca coisa.

A Polícia Federal divulgou uma representação de 221 páginas, prendeu quatro pessoas, inclusive um general da reserva, e indiciou 37 cidadãos. Bolsonaro encabeça a lista na qual estão quatro ex-ministros, três dos quais com altas patentes militares. A Justiça decidirá o que fazer com cada um deles. Sabendo-se como o Judiciário baixou o pano da Operação Lava-Jato, é melhor economizar expectativas.

Pode-se olhar de duas maneiras para o golpe de Bolsonaro. Primeiro, por que fracassou. Depois, como ele tentou ficar de pé. Fracassou porque pretendia cancelar o resultado das urnas e, até por isso, não teve o apoio de comandantes militares relevantes.

Bernardo Mello Franco – A omelete do general

O Globo

Em 15 de julho de 2019, o Congresso viveu um dia de quartel. Militares de verde-oliva ocuparam os lugares dos deputados no plenário da Câmara. Foram escalados para assistir a uma sessão solene em homenagem ao Comando de Operações Especiais do Exército.

O então presidente Jair Bolsonaro participou da cerimônia. “O Brasil precisa de uma quimioterapia para que não pereça. Alguns poucos, pouquíssimos, ainda reagem. Mas serão convencidos pelo povo”, discursou. Ele exaltou os “ensinamentos da caserna” e se definiu como “terrivelmente patriota”. “Eu deixei o Exército em 1988, mas o Exército não me deixou”, disse.

O capitão estava enfezado com a imprensa, que reagia à sua intenção de nomear o filho Zero Três como embaixador nos EUA. “Um filho meu, tão criticado pela mídia... se está sendo criticado, é sinal que é a pessoa adequada”, esbravejou.

Por que o golpe de Bolsonaro não se consumou? – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Na primeira versão, "oficial", Bolsonaro estaria abatido com a derrota eleitoral e pretendia tirar um "período sabático" nos Estados Unidos, não comparecendo à posse de Lula

Duas semanas antes de terminar o seu mandato, o ex-presidente Jair Bolsonaro compareceu a um jantar na casa do ex-ministro das Comunicações Fábio Faria, para o qual também foram convidados o então ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente do PP, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli. O encontro antecedeu a exoneração de Faria da pasta, a pedido, o que viria ocorrer em 21 de dezembro, uma quarta-feira.

O vazamento do encontro ocorreu duas semanas após a conversa. Na primeira versão, "oficial", Bolsonaro estaria abatido com a derrota eleitoral e pretendia tirar um "período sabático" nos Estados Unidos, não comparecendo à posse de Lula. Nogueira, Faria e Toffoli tentaram convencer Bolsonaro a reconhecer a vitória do petista, para esvaziar os acampamentos bolsonaristas à porta dos quartéis, que defendiam uma intervenção militar e não reconheciam o resultado das urnas.

Contra o risco do autoritarismo - Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

Golpismo homicida descoberto pela Polícia Federal reforça o valor preventivo da boa política econômica

O golpismo está mais ambicioso, no Brasil. Pode ir além da tomada do poder, anular mais de um século de evolução e jogar o País num passado inimaginável para muitos cidadãos. Assassinatos foram discutidos na conspiração recém-descoberta, segundo informou a Polícia Federal (PF). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin estariam entre as vítimas. Mas nenhum golpe ocorreu, nem atentados, e isso poderia bastar, numa visão muito otimista, para se esquecer da história. Defensores da extrema direita comentaram o episódio como se nada tivesse ocorrido além de palavras. Deve encerrar-se o caso, portanto, como se os envolvidos apenas tivessem conversado numa tertúlia?

A PF preferiu tratar o caso como um problema real e incontornável – um plano de golpe com homicídios. Além do presidente e do vice-presidente da República, a violência deveria vitimar um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, também desafeto da direita radical. Houve adesão de figuras fardadas, mas o chefe do Exército rejeitou a conspiração. Na quinta-feira, foram indiciados por tentativa de golpe o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 36 suspeitos de conspiração, incluídos os generais Braga Netto e Augusto Heleno, o tenente-coronel Mauro Cid e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

O pós-golpe - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

O plano macabro de decretar Estado de Defesa, matar o presidente eleito, seu vice e o então presidente do TSE para deixar o caminho livre para uma ditadura de viés e comando militar no Brasil foi tão real que já previa personagens chaves para postos estratégicos no pós-golpe. Bolsonaristas certos nos lugares certos. Ou, melhor, pessoas erradas nos lugares errados.

Os generais de quatro estrelas Augusto Heleno e Walter Braga Neto, da reserva, que estavam no coração do governo de Jair Bolsonaro, seriam comandantes do Gabinete de Intervenção, que se colocaria acima dos poderes e autoridades da República para implantar o “novo regime”, mais ou menos nos moldes da comissão revolucionária de 1964.

O plano era matar Lula - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

A ação foi interrompida por motivos alheios à vontade dos criminosos

Polícia Federal descobriu que o golpe dos bolsonaristas em 2022 incluía um plano de assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes.

O plano foi elaborado pelo general Mário Fernandes, que trabalhava na Secretaria-Geral da Presidência. Segundo a PF, o plano foi impresso no Palácio do Planalto e apresentado ao Jair no Palácio da Alvorada. Dois dias antes, Bolsonaro havia apresentado a minuta do golpe aos chefes das Forças Armadas.

O plano previa o recrutamento de seis assassinos, para os quais deveriam ser providenciados seis telefones celulares novos. A polícia descobriu que, nos dias seguintes, seis militares, com celulares recém-comprados, seguiram Alexandre de Moraes. As mensagens dos golpistas mostram que o atentado foi abortado na última hora porque uma sessão do STF foi suspensa.

Esbórnia orçamentária é ataque ao crescimento - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Déficit zero não pode continuar a ser álibi da rataria que rói há séculos, sem dó, o baú patrimonial da nação

De repente, acorre à memória uma historinha infantil versejada: "Ratusca Boduça de Rafo Rafuça morava na roça / por voracidade, quis ir à cidade com toda essa troça / os cinco fedelhos de Rafo Rafelhos que filhos lhe são / pois lá na cidade tem uma comadre que habita o porão / da gorda ricaça Fifica Fogaça, que tem na despensa / mui ricas pitanças pra suas papanças e nem sequer pensa...". E adiante narra a ouvidos ainda inocentes um assalto sistemático de ratos à desprevenida Fifica Fogaça. Outro nome para o tesouro da "Viúva", mote de um arguto historiógrafo das mazelas nacionais.

Sobre a liberdade - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro distingue liberdades negativas de positivas e toma partido das segundas

Gostei de "On Freedom", de Timothy Snyder. Ele parte de uma distinção radical entre liberdades negativas e positivas e toma partido das segundas.

Para Snyder, nós até podemos achar que somos livres quando o Estado não nos impõe restrições, mas a verdadeira liberdade é muito mais do que isso. Só somos realmente livres quando temos condições de fazer escolhas significativas para nós mesmos e para as comunidades em que vivemos. A liberdade é, para o autor, o valor que torna todos os outros valores possíveis.

Ao longo do livro, Snyder faz uma espécie de radiografia dos domínios que ele entende necessários para que possamos desenvolver as capacidades que nos permitirão tomar decisões de modo autônomo e fazer boas escolhas. Aí entram vários ingredientes, como acesso a boa informação, empatia e algum tipo de proteção contra a manipulação por algoritmos.

A última fronteira do bolsonarismo - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Diante de uma linha divisória tão nítida, alguns já escolheram ser apenas bolsonaristas

Há anos, o bolsonarismo faz a exibição de escabrosidades que testam os limites das elites políticas de direita. Pode ser uma defesa apaixonada da tortura, uma manifestação sombria de apreço pela ditadura, a sabotagem à vacinação, uma cruzada pela destruição institucional ou um extravio de joias milionárias vendidas como muamba.

Com a ressalva de um punhado de deserções, a fidelidade e o entusiasmo da direita por Jair Bolsonaro se mostraram mais do que firmes. Sobreviveram, inclusive, a uma derrota nas urnas atribuída a seu radicalismo. Por devoção genuína a esses princípios ou pragmatismo puro, os principais líderes políticos desse campo ficaram ao lado de um ex-presidente que nunca escondeu quem era.

Terrorismo militar e a direita tosca– Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Gangue do Punhal Verde Amarelo era inepta, mas esse é o padrão de ataque à democracia

O plano de golpe dos militares bolsonaristas foi "fanfarronada", disse o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice de Jair Bolsonaro e general de Exército. Bravata, coisa de quem fantasia ter força. O plano "Punhal Verde Amarelo", de matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes seria "sem pé nem cabeça".

Mourão acertou, sem querer. Tosco é o termo benigno para descrever o grupo. Um general de Brigada, Mario Fernandes, alto funcionário do Planalto, era líder operacional do bando e de parte da malta do 8 de Janeiro. Perambulava na noite do palácio para imprimir um "plano infalível" de golpe, como gênio burocrata do mal de filme "D" (não tinha fax?). Coronéis e majores parecem semiletrados, de baixa qualificação profissional e moral, gente vulgar, boca-suja, violenta e paranoica.

Parece, portanto, o governo Bolsonaro. Tosco e daninho.

O que será de Bolsonaro - Luís Francisco Carvalho Filho

Folha de S. Paulo

Sistema judicial brasileiro é inepto, falho, preguiçoso

É com otimismo e curiosidade que se recebe a notícia do indiciamento de Bolsonaro e do seu entorno militar.

A demora é sinal de alerta. A anatomia da tentativa de golpe está exposta faz tempo. É só somar um fato aos outros. A revelação recente do plano de assassinar o presidente eleito, o vice e o presidente do TSE, por exemplo, acrescenta detalhes chocantes e sórdidos ao roteiro bolsonarista, mas não é essencial para a configuração dos delitos ou para a arquitetura da acusação.

Pouco mais de um ano depois do ataque do Hamas, o Tribunal Penal Internacional, moroso por natureza e sujeito a consideráveis pressões jurídicas e diplomáticas, emitiu ordem de prisão contra o primeiro-ministro de Israel Binyamin Netanyahu por crimes de guerra.

Jair Bolsonaro articulou uma série de eventos temerários para despertar a intervenção militar e um golpe de Estado com roupagem supostamente "constitucional" —o mais grave delito que se pode cometer. Faz quase dois anos, deixaram ele livre e solto, como interlocutor legítimo e não como delinquente atrevido e ameaçador.

Poesia | Embriaguem-se, de Charles Baudelaire

 

Crônica | No Restaurante, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Roberta Sá e Orquestra da Ulbra | Clássicos do Samba

 

sábado, 23 de novembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Inquérito sobre golpismo precisa vir a público

O Globo

Dada gravidade dos fatos, cidadãos devem conhecer acusações em detalhes para que responsáveis sejam punidos

O trabalho exemplar de investigação da Polícia Federal (PF) que desbaratou a intentona bolsonarista tem caráter histórico. Desde o fim da ditadura, não há registro de acusação maior de traição à vontade do povo. Felizmente, diante da ameaça, o contra-ataque das instituições foi certeiro, sinal de maturidade democrática do Brasil. Nos momentos críticos, os comandos do Exército e da Aeronáutica foram fiéis à Constituição. Depois de dois anos de investigação, a PF indiciou 12 civis e 25 militares acusados de tramar contra a democracia, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro, os ex-ministros Braga Netto (Defesa e Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Anderson Torres (Justiça) e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier. É algo inédito em todo o período republicano. Dada a gravidade das evidências, era a única resposta digna.

Na terça-feira, a PF prendeu quatro militares do Exército e um policial federal acusados de planejar uma operação para matar, em dezembro de 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes. O general Mário Fernandes, um dos presos, imprimiu o plano no Palácio do Planalto, depois encontrou Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Para a PF, são indícios de que o ex-presidente estava por dentro da conspiração golpista.

Depois de Bolsonaro - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Diante do agravamento da situação jurídica do ex-presidente, direita brasileira terá de reposicionar-se

É sempre arriscado fazer prognósticos envolvendo a Justiça brasileira, mas, ao que tudo indica, Jair Bolsonaro já era. Agora, só por milagre sua inelegibilidade será revertida e são grandes as chances de que, até 2026, ele já tenha sido julgado e condenado pelo STF por tentativa de golpe de Estado. Se Deus existir e for democrata, o ex-presidente estará atrás das grades. Para onde irão os bolsonaristas sem Bolsonaro?

A direita não irá embora. A parcela mais radical desse grupo continuará recorrendo a narrativas delirantes, segundo as quais o ex-presidente é praticamente um santo que é injustamente perseguido por um STF com apetites ditatoriais. Não parece haver argumento fático possível que faça os bolsonaristas irredutíveis mudarem de posição.

Baque forte nos bolsonaristas – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Situação de Bolsonaro se agrava e obrigará direita a mudar de planos para 2026

Durou pouco a alegria da ultradireita com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e a perspectiva de se anistiarem golpistas condenados, levando na carona um perdão irrestrito a Jair Bolsonaro (PL). A ideia era anular de algum modo a inelegibilidade e por antecipação livrá-lo de punições futuras.

O indiciamento do ex-presidente e condiscípulos de governo e de partido dá uma trava nos projetos não de todo o campo da direita, mas dos bolsonaristas com certeza.

Kids pretos traduzem desejo de matar de Bolsonaro - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

O deputado do baixo clero já anunciava a eliminação de adversários e a necessidade de guerra civil

"O ideal como motivação. A abnegação como rotina. O perigo como irmão. A morte como companheira", projetam-se os kids pretos, uma força especial de militares do Exército preparados para atuar em missões de alto risco e sigilo, terrorismo, guerrilha, insurreição, movimentos de fuga e evasão, resistência, sabotagem. Na cartilha falta incluir a tentativa de matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, ensejando um golpe de Estado após a eleição presidencial.