quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Rosângela Bittar - De Lula para Dilma

Palocci e Meirelles teriam condições de enfrentar a crise

- Valor Econômico

A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff detesta, com todas as suas forças, que digam, que pensem, que falem da influência do ex-presidente e seu criador Lula nos seus destinos e nos destinos do governo. Aliás, abomina igualmente essa história de criador e criatura; por sinal, um símbolo dessa aversão foi o conteúdo e o tom da propaganda de Chico Buarque para a sua campanha, em que o compositor, orientado, se atira de cabeça no contencioso Dilma-Lula, relegando-o a um apadrinhamento longínquo, de quatro anos atrás, enquanto teria agora optado por ela por causa dela mesma, em pessoa, como criatura autônoma.

Porém, há um fato cuja evidência torna a antipatia apenas algo de foro íntimo: Dilma chegou aos 50% do eleitorado com o socorro de Lula. E, se vencer no domingo, deverá o feito aos métodos, ao envolvimento, à bandeira, à campanha do PT. E de Lula.

Assim, não poderá tomar a distância do partido que desejava, ou se prenunciava, e que, em vários momentos dos últimos quatro meses de campanha integral e ininterrupta, levou-a a dar um chega prá lá no ex-presidente. Nesta semana final do processo, porém, a candidata parou de reagir, em público, pelo menos, para dar os braços a Lula de quem precisou como nunca para tentar superar o adversário.

Quem faz bem a cara de pau dessa campanha sem propostas, sem programa, sem anúncio de equipes ou de mudanças, com base no ataque pessoal, é ele. Ou uma voz em off da equipe de João Santana. Na boca de Dilma, tudo parece ventriloquismo de marqueteiro. Até isso deverá ao comandante petista.

Que parou de se fazer emburrado e falsamente discreto, para não só participar de tudo como, ao seu estilo e ao estilo PT, ser o porta-voz das maiores barbaridades sem freios nem pejo, nem mesmo o obstáculo da verdade, para dar conselhos à candidata.

Dilma terá o que se convencionou chamar de seu PT ao seu lado, no Palácio, e afirma-se que não fez compromissos em manter ninguém no cargo por não ter disputado eleições este ano. O núcleo político no qual confia já matriculou pelo menos quatro integrantes: Jaques Wagner, Miguel Rossetto, Aloizio Mercadante e Giles Azevedo. Mas há o problema grave da crise econômica que vai atingir todo o país, especialmente os mais pobres e o emprego da classe média, e nesse ponto está o primeiro conselho de Lula.

Ele já conversou com ela sobre uma saída para enfrentar a crise. O ex-presidente continua achando que, na economia, a presidente deveria reunir novamente Antonio Palocci e Henrique Meirelles, cuja parceria é considerada bem sucedida no Ministério da Fazenda e no Banco Central, respectivamente, no seu governo. A ressalva é que convieram no governo de um conciliador, Lula, e seria difícil repetir a dose em um governo Dilma.

Obviamente o PT conta com reações generalizadas a Palocci, tendo em vista as razões pelas quais saiu do governo Dilma, mas acredita que já se passou muito tempo e sua atuação, se tiver resultados, fará passar a onda de protestos. É um petista, manteria a área sob o comando do partido, e Meirelles, sendo do mercado, promoveria uma aproximação da presidente com esse setor.

Nos conselhos do presidente Lula há um denominador comum: Dilma deve mudar o governo, fazer nova equipe, rever seu comportamento na relação com todos. Se for impossível mudar o temperamento, que mude o comportamento. As duas novas palavras são distensão e diálogo, o que demonstraria que compreendeu a gravidade do momento.

Há um decálogo de sugestões, sendo a volta de Palocci e Meirelles o mandamento hors concours. Recomenda, também:

- Fazer algo imediatamente para acalmar a metade do país que, se ela for eleita, não terá votado no PT.

- Aproveitar que não tem compromisso com ninguém e trocar a máquina velha por uma máquina nova.

- Ter humildade para reconhecer que o governo tanto não deu certo que a propaganda que Lula protagoniza promete um segundo governo melhor que o primeiro e apresentar finalmente seu plano.

- Em vez de rachar o PT, pode trabalhar com os seus petistas mas também com os do ex-presidente.

- Dilma deveria reconhecer dificuldades e aceitar ajuda.

- Estabelecer o diálogo com a direita, esquerda, brancos, pretos, pobres, ricos, políticos, apolíticos. Tratar bem a todos.

- Abrir a Presidência aos empresários.

- Formar uma base parlamentar sólida.

- Não errar na política. Deixar Jaques Wagner trabalhar com o Congresso, é conciliador, tem bom trânsito com os partidos.

- Transpor com competência o obstáculo da presidência da Câmara, que o PMDB vai querer para Eduardo Cunha, e o PT quer ter direito por ser a maior bancada na Casa.

Sobre tudo isso Lula já conversou com Dilma, mais detalhadamente, há poucos dias. Talvez não tenha falado ainda que não definiu se será candidato em 2018, apesar dos reiterados anúncios feitos pelo presidente do PT, talvez para manter a tropa unida.

A presidente tem sido alertada, também, que se vier a ser eleita enfrentará uma oposição renovada, que se aglutinou nesta campanha tão violenta quanto sem volta. Com discurso, com rosto definido e com destemor de enfrentar popularidade e mito, haverá uma oposição ao segundo governo Dilma, se vier a ser eleita, que o país ainda não conhece. Bem como será bestial a oposição a ser feita pelo PT caso seja seu adversário, Aécio Neves, o eleito.

O cientista político Antonio Lavareda citou, em palestra na Associação Comercial de São Paulo, segunda-feira, as influências que definem o resultado de uma campanha de reeleição com o presidente no cargo: popularidade do governo, situação da economia, tempo no poder e a campanha propriamente dita. Essa, na definição do especialista, no caso de Dilma, é de uma superioridade (sem entrar no mérito) gritante.

A campanha de João Santana pode estar dando o banho anotado pelo analista, e a popularidade do governo, as pesquisas notam, vem melhorando desde que, nos últimos quatro meses, o governo parou completamente, com a presidente, o vice, e ministros fora dos cargos, em campanha. Quanto à economia vai mal, e o tempo no poder, já vai longo e desgastante, exigindo o bombardeio da propaganda para manter a todos de pé. Dois a dois é empate.

José Nêumanne - Contra o ódio e o preconceito

- O Estado de S. Paulo

Meu amigo Luiz Guimarães, engenheiro, financista, aposentado, sonha ter acesso a qualquer hora aos candidatos Dilma Rousseff e Aécio Neves, que disputam o segundo turno no domingo, para lhes sugerir um ritual: estender uma Bandeira Nacional defronte à cama para refletir todo dia, ao acordar, sobre seu dístico, Ordem e Progresso. Petistas, que se dizem socialistas, e tucanos, que se creem social-democratas, poderão pensar que é uma sugestão conservadora, de direita, neoliberal. Na verdade, é um lema positivista, adotado por influência dos seguidores de Auguste Comte entre os fundadores de nossa República. Para Luiz, a reflexão deve começar pela ordenação das palavras: "Sem ordem não há progresso". É, faz sentido!

A sugestão vale para todos os eleitores que irão às urnas em quatro dias. Ainda que se altere a sequência dos vocábulos, convém que o brasileiro se lembre do hino, da bandeira, do sentido de pátria e de comunidade antes que ódio e preconceito contaminem as relações entre amigos e parentes, separando pais e filhos, irmãos e primos, sócios e parceiros. Na segunda-feira, entre as lágrimas dos derrotados e os fogos dos vitoriosos, seria muito bem-vinda uma convocação à reconciliação de todos. Como escreveu Ana Maria Machado no Globo de domingo, "discordando, mas trocando ideias para vencer os problemas do país. Que não são poucos. Não precisamos acrescentar a eles a intolerância, o ressentimento, a baixaria que busca se vingar".

Papisa da literatura infantojuvenil no Brasil, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, ela sabe o que escreve. E poderá praticar a ideia em família: seu irmão, Franklin Martins, é o guerrilheiro que imaginou, planejou e comandou na rua o sequestro do embaixador americano no Brasil Charles Elbrick, na ditadura militar. Hoje ele é um dos assessores que ajustam a mira da metralhadora giratória da presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff, do PT, primeiro contra Marina Silva, do PSB, e agora contra o tucano Aécio Neves.

Com a enxurrada de porcaria despejada no horário que nada tem de gratuito no rádio e na TV e no debate do SBT, Jovem Pan e UOL, seis dias atrás, ficou uma impressão de que aqui se pratica uma política de terra arrasada, na qual nada sobrará para os derrotados e tampouco para os vencedores. A estes talvez nem restem as batatas, troféus da guerra das tribos na fábula escrita por outro Machado, o de Assis. Vencedores e vencidos mostram-se dispostos a negar tudo uns aos outros, nada lhes restando, mesmo que o dilúvio universal desabe sobre as nascentes dos rios que formam as represas do sistema Cantareira, quase totalmente exaurido, no momento em que este texto é lido, sob sol forte e aridez.

Este jornal publicou domingo evidências de que há uma forte tendência política em crescimento no Brasil: o antipetismo. Caudatária dessa há outra, subterrânea e sub-reptícia: é a dos anti-Lula. Ela começou, sorrateira, nas manifestações de rua de junho de 2013, em que multidões reclamaram da péssima gestão pública em serviços públicos essenciais à sobrevivência e à dignidade do cidadão. Essa não é obra exclusiva do PT nem dos herdeiros de Lula, mas há indicações seguras no noticiário recente de que se agravou muito sob a égide de uma aristocracia socialista que se considera acima do bem e do mal e acha que pode tudo. Até mesmo reduzir pela metade o patrimônio da maior empresa estatal do País, a Petrobrás, sem que ninguém perceba, proteste ou cobre.

Sem organização política nem propostas concretas, as massas rebeladas refluíram ao impacto de pedradas e coquetéis molotov de anarquistas que deturparam as manifestações quebrando tudo, violando a lei e desafiando o Estado Democrático de Direito. O movimento desfigurou-se, mas abriu uma porta de saída para antigos enfants gatés do lulopetismo. Primeiro, Marina Silva. Depois, Eduardo Campos.

A queda do avião particular em que este viajava foi uma espécie de senha para permitir a ressurreição e, depois, a organização das forças políticas contra o lulopetismo na sociedade. A volta da disputa direta entre PSDB e PT, que pareciam, de início, fadados ao convívio forçado na luta contra a direita egressa do regime autoritário, permitiu definir em definitivo os contendores. De um lado, os trabalhadores de todas as rendas, que sustentam um Estado estroina, voraz, corrupto e ineficaz, resolveram votar a contragosto em Aécio, que passou a simbolizar a insatisfação generalizada contra "tudo o que está aí". A ele se juntaram lideranças que antes sempre se reuniram sob as asas do profeta, e agora magnata, do agreste, Lula da Silva: Campos, Marina, Eduardo Jorge, etc. Do outro, a ex-guerrilheira Dilma congrega os assistidos pelo Bolsa Família e os socialistas de conveniência, que trocaram as cobranças de moralidade pelo usufruto de propinas justificadas pela secular retórica antiburguesa, que não só permite e perdoa, mas até abençoa o furto como justa expropriação. Se as pesquisas desta vez estiverem certas, o Brasil está dividido ao meio entre duas bandas radicais e inconciliáveis.

A passeata de Aécio domingo em Copacabana, com bandeiras do Brasil substituindo cartazes partidários, lançou-o como herdeiro da reconciliação feita sob Dutra após o Estado Novo e por seu avô, Tancredo Neves, no fim do regime pós-1964. O PT de Lula investe em Dilma contra a composição com intransigência feroz. Como antes: três deputados foram expulsos do partido porque votaram em Tancredo no Colégio Eleitoral. E Luiza Erundina, que costurou a aliança do PSB com Marina, foi expelida dele porque aceitou dirigir a Secretaria de Administração Pública no governo de coalizão de Itamar Franco, do qual Fernando Henrique foi alçado à glória de dois mandatos ganhos em primeiro turno graças ao real. Esse grupo se candidata a substituir o Ordem e Progresso por Ódio e Preconceito na bandeira do Brasil. É isso aí.

*José Nêumanne é jornalista, poeta e escritor

Edmar Bacha - Por que voto em Aécio

• Aécio sabe que políticas de inclusão são um imperativo, pois o país continua a ser uma Belíndia, e que é preciso retomar o crescimento

- Folha de S. Paulo

Meu voto em Aécio se justifica de duas maneiras. A primeira é que, se Dilma tiver mais quatro anos, acabará de quebrar o país e nos encaminhará para uma séria crise política e social. Não é difícil ver o porquê. Nos quatro anos de seu governo, o crescimento da economia foi o menor de todos os períodos presidenciais completos de nossa história republicana desde Floriano Peixoto.

A culpa desse desempenho medíocre não vem de fora, pois nossos vizinhos sul-americanos (exceto pela Argentina e Venezuela que seguem políticas parecidas com as de Dilma) vão muito bem, obrigado. Neste ano, o crescimento do PIB brasileiro deverá ser zero, algo inédito na história do país em períodos sem crise cambial.

A culpa também não é da equipe econômica, pois ela apenas executa com docilidade a política determinada em cada detalhe pela presidente. Foi Dilma quem retirou a autonomia do Banco Central; criou um orçamento paralelo de alquimias contábeis entre o Tesouro e os bancos públicos; destruiu a capacidade de investimento da Petrobras e da Eletrobras; aparelhou partidariamente as agências reguladoras; fez os leilões de concessão de infraestrutura se tornarem um fiasco quando não uma fonte adicional de corrupção.

O resultado disso é a queda do PIB, a alta da inflação, a derrubada do investimento, a desindustrialização, o deficit externo e o aumento da dívida pública.

Dilma promete um governo novo, com ideias novas. Mas como faria isso se está convencida de estar no caminho certo? Se fosse reeleita, continuaria colocando em prática suas arraigadas convicções equivocadas sobre economia e administração pública. O resultado seria manter o país ladeira abaixo, com frustração popular, recessão, desemprego e inflação.

Felizmente, isso não vai acontecer porque tem Aécio Neves no meio do caminho.

Após 12 anos de "nós contra eles", que lembram o "ame-o ou deixe-o" da ditadura, Aécio é a esperança de reconciliação nacional. Sua história política é similar à de seu avô, Tancredo Neves, que sempre buscou a união dos extremos, o apaziguamento das diferenças, o convencimento pelo argumento, e não pela força.

Todo o ódio que o marqueteiro de Dilma fez destilar nessa campanha eleitoral sórdida será apagado, e Aécio, como fez em Minas Gerais, governará com competência, sem rancores ou partidarismos.

Por sua experiência no governo de Minas, Aécio sabe que políticas de inclusão social são um imperativo. Apesar da propaganda do governo sobre "a nova classe média", o Brasil continua a ser uma Belíndia --uma mistura da pobreza da Índia com a riqueza da Bélgica. Dados do Banco Mundial mostram que o Brasil mantém uma das mais desiguais distribuições de renda no mundo.

As informações que a Receita Federal finalmente começa a liberar revelam que a concentração de renda no país é bem maior do que a indicada pelas pesquisas domiciliares (Pnad) e ela não está sendo reduzida, ao contrário do que dizem os arautos do governo Dilma.

Aécio sabe também que para superar a pobreza, ao lado de uma política de transferência de renda, é fundamental ter uma estratégia de crescimento --equitativa e sustentável-- que leve o país, ao longo de uma geração, ao nível de renda do mundo desenvolvido.

Para isso precisamos restabelecer a estabilidade econômica e o equilíbrio das contas públicas e externas. Precisamos atrair o setor privado para investimentos maciços em infraestrutura, dar a nossas indústrias condições de competir no mercado internacional e, principalmente, melhorar nossos sistemas de educação, segurança e saúde.

Em seu programa de governo, Aécio tem propostas exequíveis para enfrentar esses desafios. Contará com uma equipe de auxiliares à altura da nobre tarefa de refazer a união entre os brasileiros e recolocar o país na rota do desenvolvimento.

Edmar Bacha, 72, economista, é membro da Academia Brasileira de Ciências e sócio-fundador do Instituto de Estudos de Política Econômica - Casa das Garças. É autor de "Belíndia 2.0" e de "O Futuro da Indústria no Brasil" (Civilização Brasileira)

Nara Leão - Opinião

Fernando Pessoa - Ode marítima

Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,
Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.
Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.
Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,
Aqui, acolá, acorda a vida marítima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos detrás dos navios que estão no porto.
Há uma vaga brisa.
Mas a minh’alma está com o que vejo menos.
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.

Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente.

Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É — sinto-o em mim como o meu sangue —
Inconscientemente simbólico, terrivelmente
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui…

Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Opinião do dia – Aécio Neves

"O que está em jogo não é apenas a vitória de um candidato. É a chance de tirar o PT do governo e ter a nossa libertação. Está nas mãos de cada um de vocês, dos homens e mulheres de bem."

Aécio Neves, senador e candidato a presidente da República, no discurso em Belém, 20 de outubro de 2014.

Dilma aparece numericamente à frente de Aécio, indica Datafolha

• Segundo pesquisa realizada nesta segunda-feira, petista aparece com 52% dos votos válidos contra 48% de tucano

Daniel Bramatti – O Estado de S. Paulo

Pela primeira vez desde o início do 2.º turno, pesquisa Datafolha mostra a presidente Dilma Rousseff (PT) numericamente à frente de seu adversário, Aécio Neves (PSDB), embora ainda em situação de empate técnico, no limite máximo da margem de erro. A petista tem 52% das intenções de voto, e o tucano, 48%.

Divulgado nesta segunda-feira, o resultado se refere aos votos válidos, do qual são excluídos nulos, brancos e respostas dos eleitores indecisos. Nesse universo, Dilma cresceu três pontos porcentuais desde o levantamento do Datafolha da quarta-feira da semana passada, quando aparecia com 49%. Aécio, que tinha 51%, caiu os mesmos três pontos.

Na primeira pesquisa do instituto, feita logo após o 1.º turno, o placar também havia sido de 51% a 49% para o tucano e para a petista, respectivamente.

A margem de erro da pesquisa é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. O fato de Dilma aparecer com quatro pontos a mais do que o adversário, no limite da margem, indica que a probabilidade de eles estarem de fato empatados é muito baixa.

Levando-se em consideração os votos totais, a presidente teve, na série de três pesquisas do Datafolha no 2.º turno, 44%, 43% e, agora, 46%. Já Aécio começou com 46%, passou para 45% e, por fim, chegou a 43%. Os indecisos se mantiveram na faixa dos 6%. Os eleitores dispostos a anular ou a votar em branco passaram de 4% para 6% e, agora, somam 5%.

A taxa de rejeição a Aécio oscilou para cima desde a última quarta-feira, de 38% para 40%. Já os que afirmam que não votam em Dilma de jeito nenhum passaram de 42% para 39%.

O levantamento do Datafolha foi todo feito ontem – ou seja, já captou eventuais efeitos do terceiro debate do 2.º turno, realizado na noite de domingo na TV Record. O último dos confrontos televisivos entre a petista e o tucano ocorrerá na sexta-feira, na TV Globo.

No 1.º turno, Dilma obteve, em valores arredondados, 42% dos votos válidos. Aécio ficou com 34%. Terceira colocada, Marina Silva (PSB) teve 21% e declarou apoio ao tucano.

O Datafolha ouviu 4.389 eleitores em 257 municípios. O intervalo de confiança é de 95%, ou seja, em cada 100 pesquisas feitas com a mesma metodologia, 95 terão o resultado dentro da margem de erro esperada. O levantamento foi encomendado pela TV Globo e pelo jornal Folha de S.Paulo. O registro na Justiça Eleitoral foi feito sob o protocolo BR-01140/2014.

Prévia. O instituto MDA também divulgou pesquisa ontem de manhã, com resultado semelhante. O levantamento apontou empate técnico: 50,5% para Dilma e 49,5% para Aécio, no universo dos votos válidos. Nos votos totais, o resultado foi de 45,5% a 44,5%. A margem de erro da pesquisa, encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), é de 2,2 pontos porcentuais para mais ou para menos.

O MDA realizou 2.002 entrevistas entre os dias 18 e 19 de outubro em 137 municípios de 25 unidades da Federação das cinco regiões. A pesquisa foi registrada no TSE sob o número BR-01139/2014.

Impulsionada pelo Sudeste, Dilma vai a 52% no Datafolha; Aécio atinge 48%

• Pela primeira vez no 2º turno, presidente aparece numericamente à frente, em situação de empate no limite da margem de erro

• Criticado na TV, nos debates e nas redes sociais, candidato tucano vê rejeição atingir recorde de 40%

Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Pela primeira vez neste segundo turno, Dilma Rousseff (PT) aparece numericamente à frente de Aécio Neves (PSDB) em intenções de voto para a Presidência da República, mostra o Datafolha.

Impulsionada, entre outros fatores, pela melhoria de seu desempenho no Sudeste --a região mais populosa--, Dilma alcançou 52% das intenções de votos válidos, sem contar os votos nulos e em branco. Aécio está com 48%.

É um empate técnico no limite máximo da margem de erro, de dois pontos para mais ou para menos. O empate, porém, só ocorre considerando-se uma combinação de dois extremos da margem de erro. A probabilidade maior é que Dilma esteja mesmo na frente, diz o Datafolha.

Nas duas rodadas anteriores, o placar também era de empate, mas sempre com Aécio numericamente à frente: 51% a 49% nas duas ocasiões.

Em votos totais, o resultado da atual pesquisa é Dilma 46%, Aécio 43%. Brancos e nulos somam 5%. Outros 6% não sabem em quem votar.

Um dos fatores que ajudam e explicar o desempenho de Dilma é a melhoria da avaliação do governo. Segundo a pesquisa, 42% julgam a sua gestão boa ou ótima, o melhor patamar desde junho de 2013 --no mês dos grandes protestos, a taxa de aprovação despencou de 57% para 30%.

A avaliação negativa (soma de ruim e péssimo) está agora em 20%, a menor taxa desde novembro de 2013. Outros 37% entendem que a administração é regular.

Nos quatro Estados do Sudeste, Dilma passou de 34% para 40% no intervalo de 11 dias. Outro avanço relevante no período foi entre as mulheres, de 42% para 46%.

Na TV e nas redes sociais, Dilma explorou a ideia de que Aécio seria agressivo com as mulheres. O fato de o tucano ter chamado a presidente de "leviana" no debate organizado pelo SBT com o UOL e a rádio Jovem Pan pode ter reforçado essa imagem.

Nos recortes de renda, Dilma continua vencendo com folga entre os mais pobres (até 2 salários mínimos): 55% a 34% dos votos totais.

No grupo seguinte (2 a 5 salários), a dianteira de 11 pontos de Aécio registrada na pesquisa anterior recuou para três (46% a 43%, um empate técnico). O tucano vence entre os grupos mais ricos.

Também pela primeira vez, a rejeição de Aécio é numericamente maior que a rejeição de Dilma: 40% dos eleitores dizem que não votam no tucano "de jeito nenhum". Com Dilma, a taxa é de 39%.

O Datafolha ouviu 4.389 eleitores. Todas as entrevistas foram feitas nesta segunda (20).

Dilma passa Aécio, mas empate técnico continua

Dilma à frente de Aécio

• Datafolha mostra vantagem da petista pela primeira vez no 2º turno, mas em empate técnico

Silvia Amorim e Simone Iglesias – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Pesquisa Datafolha divulgada ontem à noite mostrou, pela primeira vez desde o início do segundo turno, a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) numericamente à frente de Aécio Neves (PSDB). Mas ambos continuam empatados tecnicamente, dentro da margem de erro. Na soma dos votos válidos, quando são excluídos os votos em branco e nulos e os eleitores indecisos, Dilma registrou 52% e Aécio, 48%.

Do total das intenções de voto, Dilma registrou 46% e o tucano, 43%. Como a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, Dilma teria entre 44% e 48% das intenções de voto e Aécio, de 41% a 45%, ou seja, empate técnico. Votos em branco e nulos são 5%. Os indecisos, 6%.

Nas duas rodadas anteriores de pesquisas Datafolha, o tucano obteve 51% e a petista, 49% dos votos válidos. A próxima pesquisa Datafolha está prevista para ser divulgada amanhã.

Em comparação às intenções de voto da semana passada, Dilma cresceu três pontos, de 43% para 46%. Aécio oscilou dois pontos para baixo, passando de 45% para 43%. Branco e nulos eram 6%, mesmo patamar dos eleitores que se declaravam indecisos.

Também pela primeira vez, a rejeição do tucano ficou à frente do índice da adversária: 40% ante 39%. Na semana passada, 38% dos eleitores disseram que não votariam nele de jeito nenhum. Duas semanas atrás, eram 34%.

Os que rejeitam Dilma somavam 42% no levantamento anterior e, na primeira pesquisa do segundo turno, o índice era de 43%.

Avaliação do governo melhora
Um dos fatores que podem explicar o desempenho de Dilma na disputa eleitoral é a melhora na avaliação do governo. O grupo de eleitores que consideram a gestão ruim ou péssima ficou em 20%, o menor desde novembro de 2013. Na pesquisa anterior eram 21% e, em novembro passado, 17%. O grupo que considera o governo ótimo ou bom passou de 40% para 42%. Os que classificam como regular diminuíram de 38% para 37%.

O Datafolha também mediu a consolidação dos votos. O percentual de eleitores que disseram votar "com certeza" em Dilma subiu de 42% para 45%. No caso de Aécio, esse grupo era 42% e agora está em 41%. O número daqueles que afirmaram "talvez votar" no tucano ou na petista se manteve inalterado em comparação à pesquisa anterior: 18% para Aécio e 15% para Dilma.

O instituto entrevistou 4.389 pessoas ontem nos 26 estados e o Distrito Federal. A pesquisa, contratada pela Rede Globo e pelo jornal "Folha de S.Paulo", foi registrada na Justiça Eleitoral com o número BR-01140/2014.

No comitê de campanha da presidente Dilma Rousseff, a avaliação com o resultado do Datafolha é a de que ela mostra um começo de crescimento gradual que a levará à reeleição. Segundo dirigentes petistas, os levantamentos internos vinham apontado nos últimos dias um crescimento numérico expressivo, apesar do Datafolha ter trazido um empate no limite da margem de erro.

- Vamos crescer mais a partir desta pesquisa porque ela mostrou uma tendência de crescimento - avaliou o líder do PT no Senado, Humberto Costa.

Ele afirmou, ainda, que o racionamento da água que ocorre em São Paulo é fator decisivo na queda de Aécio. Para Costa, o problema foi escondido no 1º turno para reeleger Geraldo Alckmin governador, mas, agora, não há como contornar a situação:

- Em São Paulo, a situação se complicou para o PSDB. As pessoas estão sem água e isso reflete na campanha.

Para o ministro Ricardo Berzoini (Relações Institucionais), a pesquisa mostra que a campanha de Dilma no 2º turno foi bem recebida pelos eleitores:

- O debate bem feito e verdadeiro que a campanha se propôs a fazer vem sendo assimilado de forma positiva pela população.

Líder do PT na Câmara, o deputado Vicentinho (SP) acredita que o resultado deve animar a militância:

- O resultado é excelente principalmente para levar a militância às ruas.

Coordenador da campanha de Dilma pelo PMDB, o deputado Eliseu Padilha avaliou que esse resultado é reflexo de acertos que ocorreram na campanha desde a semana passada.

- O que ganha eleição não é o ontem, é o amanhã. E Dilma acenou para o amanhã de forma mais objetiva que Aécio - afirmou.

Tucanos lembram votação no 1º turno
Para os tucanos, a opinião é de que ainda é cedo para considerar o resultado definitivo, e que os números seguem dentro da margem de erro, portanto, sem tendência favorável à Dilma. Além disso, alguns lembram que o tucano teve no primeiro turno quantidade significativa a mais de votos do que as pesquisas sinalizavam.

- Tem uma semana de campanha pela frente e ela dura uma eternidade - disse Alberto Goldman, que coordena a campanha em São Paulo.

Ele atribuiu o crescimento de Dilma à campanha agressiva nas redes sociais baseada em "calúnias":

- O PT é o partido do submundo e isso é incontrolável. Não há limites.

O coordenador-geral da campanha de Aécio, senador Agripino Maia (DEM), avaliou que as pesquisas não estão refletindo o sentimento de mudança da população.

- A dinâmica da campanha de Aécio fez com que a diferença entre os números da última pesquisa do primeiro turno e o resultado das urnas chegasse a mais de 7%. A onda continua e vai surpreender - disse o senador.

O deputado Duarte Nogueira (PSDB), presidente do partido em São Paulo, afirmou que não há motivo para preocupação:

- Há uma força de mudança. O dia da eleição é a pesquisa que vale.

Coordenador da campanha de Marina Silva à Presidência e agora aliado de Aécio, o ex-deputado Walter Feldman avaliou os números como contraditórios com as pesquisas internas do partido:

- As pesquisas do primeiro turno mostraram resultados diferentes do que surgiram nas urnas.

Para cientistas políticos, disputa ainda não está consolidada

• Eles avaliam que tática de Dilma de desconstruir a imagem de Aécio e a gestão dele em Minas estaria dando certo, como deu no primeiro turno com Marina

Julianna Granjeia, Mariana Sanches, Renato Onofre e Tiago Dantas – O Globo

SÃO PAULO - Diante do resultado do Datafolha, com a presidente Dilma Rousseff pela primeira vez numericamente à frente de Aécio Neves no segundo turno, analistas políticos ouvidos pelo GLOBO avaliam que o cenário se deve não só à tática usada pela petista de desconstruir a imagem pessoal do tucano, mas também os ataques dela à gestão do tucano no governo de Minas Gerais. Para os especialistas, no entanto, não é possível falar em tendência de alta ou baixa de qualquer um dos candidatos. Eles acham também que os ataques pessoais podem ter colaborado para a queda do tucano na sondagem.

Para o cientista político Fernando Antônio de Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), a inversão de posições entre Dilma e Aécio se deve aos fortes ataques contra a candidatura tucana pelos petistas.

- Aécio não tinha sido questionado no primeiro turno. Todos os focos (do PT) foram voltados para a Marina. Agora, começam a surgir peças negativas sobre ele, fazendo com que a rejeição dele supere a de Dilma - afirmou Azevedo, para quem não dá para saber qual o peso dos ataques pessoais.

- Não se pode dizer qual o peso das acusações pessoais e das peças negativas sobre o governo mineiro na queda de Aécio e no aumento de sua rejeição - disse Azevedo.

De acordo com o analista, a situação de Dilma agora é um pouco mais favorável, já que o tempo é escasso até domingo, dia da eleição.

O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, diz que a vantagem numérica de Dilma na pesquisa é uma variação dentro da margem de erro, mas pode mostrar o sucesso da estratégia da campanha do PT de bater em Aécio.

- Ainda é cedo para falar numa tendência de alta ou de queda. Mas esse resultado pode ser sinal de que a estratégia do PT de bater muito no Aécio está funcionado - disse Melo: - É parecido com o que a campanha de Dilma fez com a (então candidata) Marina (Silva, do PSB). A diferença é que a Marina se vitimizava, e o Aécio consegue rebater.

Segundo Carlos Melo, os resultados da pesquisa do segundo turno mostram que há dois grupos de eleitores bem cristalizados, que representariam entre 40% e 45% das intenções de voto para cada candidato. A decisão deve vir do número de pessoas que estão dispostos a mudar de opinião e do percentual de indecisos, que se mantém em 6% desde o 9 de outubro.

- Diria que essa eleição vai continuar indefinida até a boca de urna. Já tivemos a Dilma na frente com ampla vantagem, com possibilidade de ganhar no primeiro turno. Depois, veio a Marina, que também apareceu na liderança. Em seguida, foi a vez de Aécio subir e ir para o segundo turno. Nada está definido.

"Uma flutuação de momento"
Para o cientista político da PUC-RJ Ricardo Ismael, o resultado é positivo Dilma, mas não significa uma consolidação na disputa:

- Essa diferença pequena é uma flutuação de momento. O primeiro turno nos ensina que, só na hora de votar, o eleitor pondera e pesa o que é melhor para ele. A escolha ainda não foi feita. As pesquisas mostram que não há nenhuma tendência clara.

Ismael afirma ainda que o agravamento da crise hídrica em São Paulo pode ter influenciado no resultado da pesquisa.

- A estratégia petista de concentrar os ataques no Sudeste está dando resultado. Dilma acertou em centrar as armas contra a gestão de Aécio em Minas. Além disso, o agravamento da seca em São Paulo pode ter colaborado para que o tucano perdesse um pouco da gordura que acumulou no estado - disse o cientista, afirmando que a consolidação do PT no Nordeste dificulta a campanha tucana:

- O Nordeste virou uma fortaleza e, aparentemente, está conseguindo manter posição confortável para Dilma. Com isso, o PT consegue concentrar a campanha só aqui no Sudeste e recuperar os votos perdidos para Aécio.

Cláudio Couto, cientista político e professor da FGV de São Paulo, aponta três motivos para o crescimento de Dilma, candidata à reeleição. O primeiro é o fato da campanha petista explorar a agressividade contra mulheres.

- No primeiro turno foi contra (a candidata derrotada) Luciana Genro (PSOL) e agora com a própria Dilma. Isso sensibilizou uma parcela do eleitorado, surtiu efeito a exploração desse lado - afirmou Couto.

Outro fator apontado por Couto é a desconstrução do candidato tucano:

- Aécio tinha sido muito poupado no primeiro turno pelo PT porque o foco era Marina. Agora, Dilma começou a atacar muito mais forte Aécio, com referências ao governo de Fernando Henrique, questionando seu governo em Minas. Isso também é um aspecto.

O terceiro motivo apontado pelo professor é a agressividade de militantes tucanos.

Movimento ajuda petista mas abstenção pode atrapalhá-la

Jose Roberto de Toledo – O Estado de S. Paulo

Na reta final da eleição os movimentos do eleitorado tendem a ser mais importantes do que os números. E o crescimento de Dilma Rousseff (PT) identificado pelo Datafolha é semelhante ao captado por outras pesquisas. Embora consistente, o movimento é lento – nada a ver com a rápida queda de Marina Silva (PSB) que acabou beneficiando Aécio Neves (PSDB) no primeiro turno.

Qualquer previsão sobre vitoriosos ou derrotados é precipitada. A diferença entre os dois candidatos a presidente é tão pequena que fatores não aferidos pelas pesquisas – como erro e abstenção do eleitor ou voto no exterior – podem decidir a eleição.

A abstenção tende a ser maior nos Estados onde há mais população rural ou com dificuldade de chegar ao local de votação, como no Norte e Nordeste. Isso se agrava no segundo turno, especialmente nas unidades da Federação onde o governador já foi eleito em 5 de outubro. A abstenção pode crescer nos maiores Estados do Nordeste onde só se escolherá o presidente, como Bahia, Pernambuco e Maranhão. Isso seria problema para Dilma, que tem mais votos nesses locais. Ela pode ter compensações, porém.

Eleitores com baixa escolaridade tendem a errar mais na hora de votar, principalmente no primeiro turno, quando tem que marcar cinco números para cinco cargos diferentes na urna. Os votos nulos foram mais frequentes no Norte e Nordeste. No segundo turno, com apenas um ou dois votos, o erro é menor. Isso pode ajudar a presidente a crescer nessas regiões.

A diferença entre Dilma e Aécio é tão pequena que até feriados podem influenciar no resultado. Vários tribunais regionais federais, do Rio Grande do Sul ao Nordeste, estão antecipando a folga do Dia do Servidor Público para segunda-feira pós-eleição. Se os servidores de tribunais e seus familiares viajarem e não votarem, quem perde mais? Só as urnas dirão.

Dilma está há um mês fora do Palácio do Planalto

• Desde de outubro, quando reeleição foi ameaçada pelo crescimento de Aécio, agenda presidencial foi praticamente abandonada

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

A presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), completou nesta segunda-feira, 20, mais de um mês (31 dias) sem por os pés no Palácio do Planalto. Durante o mês de setembro, em alguns momentos, o governo ainda tinha preocupação de planejar algumas "agendas casadas" para que Dilma aparecesse cumprindo algum compromisso como presidente que, em seguida, se transformaria em ato de campanha. Mas, neste mês de outubro, quando o Planalto sentiu uma ameaça à reeleição, pelo crescimento nas pesquisas do tucano, Aécio Neves, a agenda presidencial foi praticamente abandonada e Dilma passou a dedicar-se quase que exclusivamente à sua reeleição.

Entre o primeiro e segundo turno, a única agenda oficial de Dilma, até agora, foi o comparecimento às urnas para votação, em Porto Alegre, dia cinco de outubro. Nesta terça-feira, dia 21 de outubro, no entanto, Dilma visitará, como presidente, a fábrica da Fiat, em Goiana (PE). Apesar de tratar isso como evento oficial, a visita tem objetivo eleitoral: usar declarações de tucanos condenando a articulação do ex-presidente Lula por ter conseguido levar a nova fábrica da Fiat para Pernambuco, ao invés de instalá-la em Minas. Como Dilma perdeu as eleições no primeiro turno para Marina Silva, do PSB, em Pernambuco, e quer capitanear esses 2,3 milhões votos que a ex-senadora recebeu, neutralizando o apoio da viúva do governador Eduardo Campos ao tucano, o governo pretende usar o discurso que o PSDB de Aécio Neves era contra a fábrica ter ido para Pernambuco gerar emprego naquele estado.

Lula e Dilma lado a lado pretendem mostrar que o governo petista apoiou o investimento no estado e quer uma fábrica no interior pernambucano para melhorar a vida dos moradores do estado, com melhores empregos e oportunidades.

Dilma ‘premiou’ tesoureiro do PT com Itaipu

• Atual tesoureiro do PT ganhou cargo para compensar perda da presidência da Caixa

Maria Lima, Danilo Fariello e Sérgio Roxo – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Citado na delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como um dos operadores do esquema de distribuição de propinas na estatal, o secretário financeiro do PT, João Vaccari Neto, virou tema da reta final da campanha presidencial, quando Aécio Neves, no último debate, na TV Record, cobrou de Dilma Rousseff, candidata à reeleição, a demissão do correligionário do Conselho de Administração da usina Itaipu Binacional. Dilma silenciou ao ser perguntada por que não demite o petista. Pesquisa no Diário Oficial mostra que Vaccari chegou ao posto por nomeação da própria presidente, em 2003, quando era ministra das Minas e Energia. Com mandato de quatro anos, desde então vem sendo reconduzido ao cargo. A remuneração por participação nas reuniões do conselho de Itaipu é de R$ 20.804,13. O atual mandato de Vaccari vai até 16 de maio de 2016.

A nomeação foi uma espécie de prêmio de consolação dada a Vaccari, que foi preterido na disputa da presidência da Caixa Econômica Federal. No mesmo dia, foi nomeada para o cargo de diretora financeira executiva de Itaipu a atual senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).

No último debate, Aécio disse que se sem cargo na Petrobras o petista era acusado de participar de um esquema de 3% de propinas nos contratos da empresa, a situação poderia ser mais grave em Itaipu onde tem crachá.

- A senhora confia nele? - questionou Aécio.

Jeton é o mais alto do Executivo
O jeton pago aos conselheiros de Itaipu é o mais elevado do executivo federal, e o governo vem rotineiramente indicando pessoas com ligação política para seus assentos. Em 22 de janeiro de 2003, quando assumiu o governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também assinou, com a então ministra de Mina e Energia, Dilma Rousseff, a nomeações de Luiz Pinguelli Rosa e Mauricio Tolmasquim, ainda hoje assessores do Executivo, para a área elétrica.

Apesar de suas sucessivas reconduções, Vaccari vem respondendo, desde 2010, à denúncia do Ministério Público por suposto desvio de recursos, da Bancoop, uma cooperativa habitacional. Vaccari é réu por estelionato, formação de quadrilha, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. No início da gestão petista, Vaccari, que era presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e secretário de finanças da CUT, chegou a ser cotado para ocupar a presidência da Caixa Econômica Federal. Preterido, acabou nomeado para o conselho da hidrelétrica. A nomeação tinha o objetivo de complementar o mandato até 17 de maio de 2004. Depois, Vaccari foi reconduzido ao posto naquele ano e em 2008. Em 2012, quando ele já havia assumido a tesouraria do PT e Dilma já estava na presidência, houve uma nova recondução, com validade até 2016.

A assessoria de Itaipu informou que Vaccari, assim como os outros conselheiros, possui crachá para ter acesso ao Edifício de Produção, onde são realizadas as reuniões do Conselho de Administração. O conselho se reúne apenas seis vezes por ano, mas podem acontecer encontros extraordinários. De acordo com a assessoria de Itaipu, em quase 12 anos o tesoureiro do PT teve uma falta, que foi justificada.

Hoje, entre os sete conselheiros indicados pelo lado brasileiro para o conselho de Itaipu (são outros sete pelo lado paraguaio), estão o ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil; Vaccari; Pinguelli; José Muniz Lopes, diretor da Eletrobras; o ex-governador do Rio Grande do Sul, Alceu Collares (PDT); e o filho de Orlando Pessuti (PMDB), ex-governador do Paraná, Orlando Moisés Pessuti. O sétimo nome é de Eduardo Santos, indicado pelo Itamaraty.

Gleisi questiona "valentia" de deputado
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse ontem, por meio de nota, que a "valentia" do líder do Solidariedade na Câmara, deputado Fernando Francischini (PR), em querer convocá-la à CPI da Petrobras é "seletiva". De acordo com denúncia do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, Gleisi teria recebido R$ 1 milhão para sua campanha ao Senado, em 2010.

Na nota, a senadora lembra que o deputado Luiz Argôlo (BA), envolvido na Operação Lava-Jato, é do mesmo partido de Francischini. "A valentia do ex-delegado é seletiva. Quando divulgaram o nome de dezenas de deputados que estariam envolvidos, inclusive um do partido dele e o próprio presidente da Câmara, ele não falou em convocar ninguém. Além disso, se apresenta como amigo do juiz do processo e detentor de informações privilegiadas, que ameaça divulgar. É bom divulgar logo tudo, para não parecer que quer achacar alguém", diz a nota.

Aécio se saiu melhor em debate para 22%; 16% apontam Dilma

• 56% dos eleitores não sabem indicar vencedor; 3% acharam os dois ruins

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Na percepção dos eleitores, o candidato Aécio Neves (PSDB) teve desempenho um pouco superior ao da presidente Dilma Rousseff (PT) no debate realizado no último domingo (19) na TV Record.

A avaliação consta de pesquisa Datafolha feita nesta segunda (20): 22% dos que assistiram ao debate acham que o tucano se saiu melhor, enquanto 16% acham que Dilma venceu o confronto.

Mais da metade dos espectadores ouvidos (56%), contudo, não sabe afirmar quem venceu. Para 4%, tanto Dilma quanto Aécio tiveram desempenho semelhante, e outros 3% disseram que os dois foram igualmente ruins.

O Datafolha ouviu 4.389 pessoas em 257 municípios. Os que afirmaram ter assistido ao debate são 29%.

Transmitido das 22h13 à 0h08, o evento com os presidenciáveis registrou 12 pontos de audiência, com pico de 16, deixando a emissora em segundo lugar. Na mesma faixa, Globo ficou com 16 pontos e o SBT, 9.

Segundo dados do Ibope, cada ponto de audiência corresponde a 65.201 domicílios e 193.281 indivíduos na região da Grande São Paulo.

A audiência foi maior que a do último confronto entre os candidatos na emissora, no dia 28 de setembro, antes do primeiro turno. Na ocasião, a média registrada foi de 8,6 pontos.

Ao lado de Dilma, Lula faz nova agressão à imprensa

• Enquanto Dilma reclama de mentiras, seu antecessor ataca jornalistas

Germano Oliveira – O Globo

SÃO PAULO - Em evento de campanha ao lado da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou nesta segunda-feira a atacar a imprensa. Desta vez, porém, foi além da crítica institucional e citou os nomes de jornalistas: Miriam Leitão, que trabalha no GLOBO, na TV Globo e na Globonews, e William Bonner, apresentador do “Jornal Nacional” :

— Daqui para frente é a Miriam Leitão falando mal da Dilma na televisão, e a gente falando bem dela (Dilma) na periferia. É o (William) Bonner falando mal dela no “Jornal Nacional”, e a gente falando bem dela em casa. Agora somos nós contra eles.

Ouvida, a TV Globo disse que seus jornalistas não falam mal de ninguém, mas apenas cumprem a sua obrigação de perguntar e noticiar fatos.

No mesmo ato, apesar das queixas de Dilma contra o tom agressivo da campanha, Lula passou a fazer fortes ataques ao candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves:

— Esse rapaz (Aécio) não teve educação de berço para respeitar as mulheres. E, sobretudo, uma presidente, mãe e avó. Esse cidadão agrediu, com seu cinismo, tentando deixar Dilma temerosa — disse ele, aplaudido por cerca de cinco mil pessoas aglomeradas numa praça em Itaquera, na periferia de São Paulo.

Em seu discurso, Dilma disse que essa campanha é a “mais conflituosa” dos últimos anos:

— Nunca uma eleição teve aspectos tão agressivos como esta. A agressividade começou com uma sistemática divulgação de inverdades distorcidas. Essa guerra de informações distorceu os fatos — disse ela.

Dilma recebeu no palco a notícia de que estava à frente de Aécio na pesquisa Datafolha divulgada momentos antes.

A presidente soube do resultado pelas mãos do senador Eduardo Suplicy (PT), que não se reelegeu. O senador via pela tela do celular o resultado que acabara de sair. Dilma não escondeu o sorriso. Ao seu lado, Lula também viu o resultado simultaneamente, mas evitou esboçar reação imediata. Logo em seguida, ele começou a conversar com Dilma. Sentado perto dos dois, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, comemorou o resultado, assim que Suplicy lhe contou.

Dilma usou o discurso para reagir a críticas da campanha do PSDB:

— Eles (os tucanos) dizem que foram eles, e não Lula, quem criaram o Bolsa Família — disse ela. — Eles são elitistas, não olham para o povo, só olham para uma minoria. Mesmo em relação ao ProUni, eles entraram na Justiça querendo anular o programa — afirmou a presidente.

Dilma defendeu programas de sua gestão:

— Os tucanos dizem que vão melhorar o Pronatec, mas proibiram o governo de fazer o plano. É um bando de mentiras o que eles divulgam. Quando eles entregaram o governo para nós, entregaram com 11,4 milhões de desempregados, e, hoje, nós temos a mais baixa taxa de desemprego e o maior número de empregos com carteira assinada do G-20 — afirmou Dilma.

Aécio resgata Marina e propõe governar com os 'melhores'

Marcos de Moura e Souza – Valor Econômico

CAETÉ (MG) - Em seu primeiro compromisso da última semana de campanha, o candidato a presidente pelo PSDB, Aécio Neves, recuperou um mote da campanha de Marina Silva (PSB) e prometeu montar um governo com "os melhores" políticos de diferentes partidos, incluindo aqueles que hoje não estão ao seu lado.

Durante a campanha no primeiro turno, Marina disse diversas vezes que pretendia reunir em um governo seu os melhores nomes do PT, do PSDB do PMDB e de outros partidos que durante a campanha não estavam na sua campanha.

"O meu projeto é de resgate de valores na vida pública, da ética, da decência, é um projeto que vai buscar nos melhores brasileiros, e não nos aliados, os quadros para governar o país", disse Aécio no início da tarde desta segunda-feira no santuário de Nossa Senhora da Piedade, no município de Caeté, Minas Gerais.

O tucano, que recebeu o apoio de Marina neste segundo turno, tem ao seu lado um arco de partidos que não lhe garante maioria no Congresso, caso ele seja eleito. Por isso, terá de atrair partidos que hoje estão na base e na campanha de Dilma.

Ao falar em governar com os "melhores" de outros partidos que não o seus aliados, Aécio parece sinalizar a legendas - hoje dilmistas - que elas terão lugar em um governo tucano.

Aécio tem uma estreita vantagem sobre a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT). Tem 45% das intenções de voto e ela, 43%, segundo pesquisas de intenção de voto da semana passada do Datafolha e do Ibope.

Aos jornalistas, Aécio criticou ainda o governo Dilma, falando em "herança perversa" que será deixado a partir de 2015 na economia e nos indicadores sociais. O tucana prometeu "decretar guerra à inflação". Sobre o tom da campanha, disse que prefere discutir propostas mas que responderá na mesma moeda. O candidato afirmou que não aceitará "infâmia, a mentira calúnia e a deturpação, obviamente elas serão sempre respondidas".

Sobre as críticas que têm sido feitas pela campanha de Dilma à forma como o também tucano Geraldo Alckmin administrou a situação de estiagem e falta de água em São Paulo, Aécio defendeu o colega.

"Vi essa questão da água ser muito discutida na campanha de São Paulo e nós vimos o resultado em São Paulo [que reelegeu Alckmin governador]. Acho que os paulistas compreenderam o esforço que o governador Geraldo Alckmin fez. É uma questão grave, nós estamos tendo a maior estiagem dos últimos 80 anos", disse Aécio.

"No caso específico de São Paulo, eu serei um grande aliado, grande parceiro do governador Geraldo Alckmin para enfrentarmos essa e outras questões como a mobilidade e da segurança pública", disse o tucano.

O candidato foi ontem a Belém; depois segue para São Paulo e Goiás. Na quarta-feira, estará novamente em Minas, onde fará campanha em Belo Horizonte

Para tucano, é na reta final que o eleitor faz a comparação definitiva

Vandson Lima – Valor Econômico

BELÉM - Minutos depois da divulgação de pesquisa do Datafolha, que mostrou pela primeira vez neste segundo turno a presidente Dilma Rousseff (PT) à frente de Aécio Neves (PSDB) na corrida presidencial, o candidato tucano subiu ao palco em um comício em Belém (PA) no qual colocou como prioridade da disputa a oportunidade de "tirar o PT do governo".

"O que está em jogo não é apenas a vitória de um candidato. É a chance de tirar o PT do governo e ter a nossa libertação. Está nas mãos de cada um de vocês, dos homens e mulheres de bem", bradou Aécio, que aparece na pesquisa com 48% dos votos válidos contra 52% de Dilma.

Para Aécio, "na reta final é quando o eleitor faz a comparação definitiva", referindo-se tanto a sua candidatura quanto do governador Simão Jatene (PSDB), que aparece na disputa pela reeleição em situação de empate técnico e numericamente atrás de Helder Barbalho (PMDB).

Acompanhado do ex-jogador Ronaldo, da cantora Fafá de Belém e do deputado Paulinho da Força (SD-SP), Aécio garantiu que, se eleito, concluirá as obras da usina de Belo Monte, mas ressalvou. "Precisamos diversificar nossa matriz energética". Para Aécio, "esse governo é o das obras anunciadas e permanentemente adiadas".

No Estado onde a disputa local é a mais acirrada do país - com Jatene e Barbalho tendo se mantido com percentuais próximos durante toda a disputa e indo ao segundo turno com uma diferença de apenas 50,5 mil votos (1,4%) em favor do pemedebista -, o governador aposta nos apoios de Marina Silva (PSB) e Aécio para virar a eleição se reeleger neste segundo turno. Segundo a última pesquisa Ibope, divulgada no sábado, Barbalho aparece na frente com 52% das intenções de voto, numericamente à frente de Jatene, com 48%, o que indica empate técnico.

Para o governador, pesaram contra sua candidatura à reeleição a forte oposição das mineradoras que atuam no Estado e a estratégia de Barbalho de colar em Jatene a pecha de anti-separatista, em referência ao plebiscito de 2011 que pretendia dividir o território e criar os Estados de Carajás e Tapajós, que acabou rejeitado por 66,5%.

No primeiro caso, a criação de uma taxa de fiscalização da produção mineral afugentou potenciais doadores da campanha do tucano. "Isso afetou fortemente as contribuições de campanha. Não entrou um real de doação das mineradoras", conta.

Sobre o plebiscito, que entrou na pauta nas últimas semanas do primeiro turno, foi uma via de mão dupla: a campanha de Barbalho trabalhou fortemente nos municípios do sul e oeste do Pará para mostrar Jatene como "culpado" pela não divisão, o que fez com que essas cidades votassem contra o governador. Na outra ponta, Jatene usou de sua propaganda para dizer que Barbalho iria dividir o Pará. "Nunca disse que eu era contra a divisão, apenas que não dá para seguir essa maluquice de plebiscito, que sem nenhum planejamento jogou os municípios uns contra os outros", diz o governador. "Essa experiência foi um desastre para o Pará, criou um cenário de cisão no Estado".

Na capital Belém, contrária à divisão, Jatene venceu com boa margem, alcançando 57,1% dos votos válidos em primeiro turno, resultado verificado também na região metropolitana. Em Santarém e Marabá, que seriam capitais dos novos Estados de Tapajós e Carajás, Helder Barbalho venceu com larga diferença, respectivamente de 68,6% e 67,4%. O vice de Barbalho, deputado Lira Maia (DEM), é autor de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para viabilizar um novo plebiscito, com a participação apenas de eleitores das regiões separatistas.

Governo adia depoimento no caso da Petrobrás

• Base manobra e depoimento do doleiro à CPI é adiado

Ricardo Britto e Tânia Monteiro – O Estado de S. Paulo

Preocupado com o impacto de declarações de Alberto Youssef às vésperas das eleições, o governo conseguiu adiar o depoimento do doleiro na CPI que investiga a corrupção na Petrobras. Após intensa mobilização do Palácio do Planalto, o depoimento de Youssef deverá agora ser realizado na quarta-feira, dia 29, três dias depois do segundo turno da disputa presidencial.

"Para as investigações não há diferença entre chamá-lo para depor agora ou depois do segundo turno", afirmou o presidente da CPI mista da Petrobras, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).

Na semana passada, Vital aventou a possibilidade de o depoimento de Youssef ocorrer nessa quarta, 22, dia em que a CPI ouvirá o atual diretor de Abastecimento da estatal, José Carlos Cosenza. O colegiado já havia aprovado um requerimento de convocação de Youssef e, pelo regimento do Congresso, cabe ao presidente da CPI marcar o dia do depoimento.

Emissários do Planalto passaram, então, a agir para evitar outra surpresa a poucos dias do segundo turno eleitoral. Capitaneada pelo PSDB, a oposição, por sua vez, chegou a irritar Vital, cobrando que o depoimento fosse marcado para amanhã.

O governo tem feito de tudo para evitar mais estragos na campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Desde que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa revelou um esquema de desvio de dinheiro na estatal, beneficiando políticos da base aliada, entre os quais o PT, o PMDB e o PP, a imagem da presidente sofreu abalos.

Partidos que apoiam a candidatura de Aécio Neves (PSDB) à Presidência querem explorar, na CPI da Petrobras, as recentes declarações de Costa e de Youssef. Aliado de Dilma, a quem tem ajudado na campanha em seu Estado, a Paraíba, Vital resiste a acatar as sugestões da oposição, sob o argumento de que a CPI não pode ficar "contaminada" pelo ambiente eleitoral.
Preso pela Operação Lava Jato, Youssef também fez acordo de delação premiada com o Ministério Público, a exemplo de Costa, e prometeu revelar tudo o que sabe em troca de redução de sua pena.

Depois de citar o tesoureiro do PT, João Vaccari, como o homem que recebia a propina dos contratos da Petrobras para o partido, Costa disse na delação premiada que a campanha da ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann recebeu, em 2010, ajuda de R$ 1 milhão, a pedido de Yousseff, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo. À época, ela foi eleita para o Senado.

Tanto Gleise como Vaccari negam as acusações com veemência. "Não conheço Alberto Youssef nem Paulo Roberto Costa", disse a senadora. "Diante de tantas acusações infundadas, o secretário de Finanças vai processar civil e criminalmente aqueles que têm investido contra sua honra e reputação", afirmou o tesoureiro do PT, em nota oficial.

Vital afirmou que está encontrando dificuldades para marcar as audiências no período eleitoral, mas negou qualquer pressão do Planalto. Youssef está preso e, segundo o presidente da CPI da Petrobras, é preciso acertar muito bem a logística com a Polícia Federal e com a Justiça Federal do Paraná para que o doleiro viaje a Brasília.

Amplos desdobramentos do escândalo na Petrobras – Editorial / O Globo

• A SEC, agência do mercado de ações e títulos nos EUA, abriu investigação sobre o caso, e ainda falta conhecer a lista de políticos do esquema de corrupção

A visão conspiratória de que o escândalo na Petrobras obedeceria a um enredo sob encomenda para desestabilizar a candidatura de Dilma Rousseff não sobrevive a um mínimo de bom senso. O andamento das investigações da Operação Lava-Jato, da PF — a que devassou os laços entre o doleiro Alberto Yousseff e o diretor da estatal Luís Roberto Costa —, precisaria se articular com o calendário de interrogatórios na Justiça e MP, alguns sob supervisão do ministro Teori Zavascki, do Supremo, para produzir um noticiário negativo ao governo do PT em setembro e outubro.

O noticiário existe, mas por outro simples motivo: porque o escândalo do superfaturamento de contratos de empreiteiras com a Petrobras, para financiar propinas e caixa dois de políticos e campanhas, se configura mesmo como de grandes proporções. Tanto que se prevê a divulgação de informações ainda mais danosas ao PT — e não apenas para ele — tão logo o segredo de justiça sobre depoimentos que envolvam acusados com foro privilegiado, políticos em cargos eletivos, seja suspenso. O pior ainda estaria por acontecer.

A amplitude do escândalo é tal que, segundo o jornal "O Estado de S.Paulo", Roberto testemunhou que até mesmo o então presidente do PSDB, Sérgio Guerra, teria recebido suborno do esquema, em 2009, para ajudar a inviabilizar uma CPI sobre a Petrobras. Morto há sete meses, Guerra não pode se explicar.

A história ficou ainda mais séria porque Dilma, no sábado, admitiu que houve "desvio de dinheiro público" na Petrobras, ao afirmar em entrevista que se desdobrará para "ressarcir o país". É algo inédito, porque nunca foi admitido formalmente por alguém do PT qualquer malfeito de militantes. Até hoje, com mensaleiros em cumprimento de penas, não se reconhece sequer que houve o mensalão. Pode ser uma manobra eleitoreira para tentar reduzir danos à campanha de Dilma, causados pela pecha de corrupto que parece pespegar no PT, não bastasse ter sido ela presidente do conselho de administração da empresa. O resultado prático da afirmação da candidata, porém, é a confirmação definitiva do escândalo.

Desdobramentos começam a ocorrer. Nos Estados Unidos, a SEC (Securities and Exchange Commission), agência responsável pela fiscalização do mercado de ações e títulos, instaurou investigação sobre o caso. Afinal, recibos de ações da Petrobras são negociados em Nova York, e seus detentores terão sido lesados pela retirada fraudulenta de recursos do caixa da estatal. Entre as vítimas também estão os acionistas brasileiros, em que se destacam trabalhadores que investiram o FGTS nas ações da empresa. Missão para a CVM.

Para o ano que vem, primeiro do próximo governo, já está contratada a turbulência a ser causada pela divulgação da lista de políticos financiados por esse dinheiro sujo, a ser avaliada pelo Supremo e Ministério Público. O escândalo, então, ainda evoluirá bastante.

O fecho de uma luta amarga - O Estado de S. Paulo / Editorial

A campanha pelo Planalto entrou na reta final no debate televisivo de domingo à noite - o penúltimo da série - em que Dilma Rousseff e Aécio Neves descobriram a pólvora. Deixaram de trocar golpes baixos porque as pesquisas encomendadas pelos respectivos comitês mostraram o repúdio da maioria dos entrevistados ao torneio de ofensas pessoais a que se entregaram no confronto anterior, meros três dias antes. Faz muito tempo, porém, que os candidatos a cargos executivos sabem, também a partir de levantamentos de opinião, que o eleitor se irrita quando o "bate" prevalece sobre o debate, menos por fidelidade aos valores da ética pública do que por se sentir irrelevante enquanto a pancadaria corre solta. Na clássica percepção de uma eleitora, registrada numa pesquisa qualitativa, "quando brigam, os políticos deixam de falar para nós".

A apelação às vezes compensa, mas pode enganar. Tendo acabado a caneladas com as chances de Marina Silva chegar ao segundo turno, Dilma tratou de repetir a dose com Aécio. Só que ele replicou na mesma moeda, e deu no que deu. Como breve contra a baixaria, a reprovação popular é preferível à intervenção do Estado. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) baniu trechos de nada menos de 14 peças de propaganda para evitar a degradação do horário eleitoral em "baile do risca-faca", no dizer do presidente da Corte, ministro Dias Toffoli. O problema é que as iniciativas de engenharia moral do TSE, apesar da motivação louvável, tolhem a liberdade de expressão dos candidatos e parecem ignorar a capacidade dos brasileiros de punir, eles próprios, os responsáveis por arrastar a competição eleitoral à sarjeta, como ocorre nos cada vez mais virulentos spots que permeiam a programação das emissoras.

Malgrado o tom aceitável do debate de anteontem, a cinco dias da votação o panorama é o que se poderia esperar de uma disputa amarga e polarizada. Toda eleição, como se sabe, é uma escolha entre continuidade e mudança. Também esta, mas com a incendiária peculiaridade de se travar não entre o partido no poder e os que ambicionam substituí-lo. É entre PT e anti-PT. O eleitor antipetista votará em Aécio menos, talvez, pelos atributos que tiver demonstrado possuir para conduzir o Brasil do que por encarnar afinal, ao cabo de uma campanha marcada por uma sequência de reviravoltas sem precedentes, a esperança de remover do Planalto a legenda que, tendo aspirado, ao surgir, ao monopólio da decência, é vista como a força propulsora do que a política nacional tem de mais execrável.

Com a agravante crucial de que, não bastassem o aparelhamento do Estado iniciado por Lula e a deslavada licenciosidade dos companheiros na manipulação dos bens públicos, Dilma deixou um raro legado de incompetência administrativa e retrocesso generalizado, com a inflação em alta, a economia à beira da recessão e as contas públicas na UTI. Nem "o social" escapou. Este ano, pela primeira vez desde 2003, a miséria parou de cair. A rigor, teve um ligeiro aumento, com o contingente de miseráveis subindo de 10,9 milhões para 11,1 milhões. Por último - e nem de longe menos importante - assomam os escândalos da Petrobrás. Do que se deu a conhecer das delações premiadas do seu ex-diretor Paulo Roberto Costa, o PT ficava com a parte do leão das propinas pagas por empreiteiras atrás de contratos superfaturados com a estatal.

Do pedágio de 3% sobre o valor do negócio, 2% foram para a legenda de Dilma, ajudando a irrigar a sua campanha em 2010. A presidente-candidata não se livrará desta abominação até o fechamento das urnas do domingo - pelo menos. Em desespero de causa, nos últimos dias ela tentou mudar a ladainha de que de nada sabia das lambanças na Petrobrás, mas, para variar, enredou-se nas palavras. Incerta, primeiro disse numa entrevista que "se houve desvio de dinheiro público…", para emendar, "se houve, não; houve, viu?". Achando, talvez, que teria ido longe demais, preferiu depois falar em "indícios" de desvio, ressalvando que falta saber "quanto foi e quem foi". É o pânico diante de um tema que pode custar-lhe a reeleição. A prova dos nove poderá ser antevista no debate da Globo, na sexta-feira.

Aécio recebe apoio de intelectuais de esquerda

Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

Nesta reta final de segundo turno, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, recebeu apoio de intelectuais e profissionais liberais que assinaram um manifesto intitulado "Esquerda Democrática com Aécio Neves". Lançado no dia 16, tinha 774 apoiadores até o início da tarde desta segunda-feira, reunindo nomes que já foram simpatizantes do PT e da ex-senadora Marina Silva (PSB), como o ator Marcos Palmeira, os cineastas Zelito Viana e Wladimir Carvalho, a produtora cultural Helena Severo, o economista José Eli da Veiga e o cientista político José Álvaro Moises, ambos da USP, o ex-presidente do IBGE Sergio Besserman Vianna e o cientista político Luiz Eduardo Soares, que foi Secretário de Nacional Segurança em 2003, no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Outro apoiador é o ministro aposentado do STF Eros Grau, que foi indicado no governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, mas já declarou que sempre foi simpático ao PSDB e é muito amigo do vice na chapa tucana, senador Aloysio Nunes Ferreira. No manifesto de dez tópicos, muito signatários afirmam que no passado votaram no PT, mas agora votam em Aécio Neves em defesa do "pluralismo democrático" e dizem terem ficado decepcionados com a forma como o PT tratou a presidenciável Marina Silva (PSB) no primeiro turno, hoje aliada de Aécio.

"A campanha petista no primeiro turno valeu-se de táticas e subterfúgios que desonram o bom debate. Caluniou, difamou e agrediu moralmente a candidatura de Marina Silva, sob o pretexto de que seria preciso fazer um ''aguerrido'' confronto político. Atropelou regras procedimentais e parâmetros éticos preciosos para a esquerda e a democracia", diz um dos trechos do manifesto.

Em outro, os signatários destacam: "Sempre respeitamos o PT em cujos candidatos muitos de nós já votaram. Pensamos que o rico pluralismo da esquerda deve se combinar com a recusa a qualquer posicionamento inflexível, submisso a princípios abstratos ou comandos partidários.

Não aceitamos que nenhum partido atue como se fosse o único representante coerente da esquerda ou da democracia."

Veja a íntegra do manifesto:

Esquerda Democrática com Aécio Neves

Democracia, Direitos Sociais e sustentabilidade

1. Somos democratas. Intelectuais, profissionais de diferentes áreas, cidadãos de esquerda, ativistas de causas e ideias variadas. Alguns de nós estão ou estiveram vinculados a partidos. Outros jamais tiveram qualquer ligação deste tipo. Nossas posições independem de orientação partidária. Integramos o amplo e diversificado universo de homens e mulheres que defendem a democracia política, o pluralismo e a justiça social como base para uma sociedade mais igualitária, fraterna.

2. Sempre respeitamos o PT, em cujos candidatos muitos de nós já votaram. Pensamos que o rico pluralismo da esquerda deve se combinar com a recusa a qualquer posicionamento inflexível, submisso a princípios abstratos ou comandos partidários. Não aceitamos que nenhum partido atue como se fosse o único representante coerente da esquerda ou da democracia.

3. Partidos e políticos mudam ao longo do tempo. Nós, cidadãos, também. Governos nascem de um jeito, mas não permanecem iguais. O que se fez num período não pode ser repetido sem mais em outro período. Realizações de um tempo servem de base para conquistas de um tempo seguinte, mesmo que governos sejam distintos ou adversários. Valorizar conquistas cumulativas, buscar consensos mais que divergências, é um caminho que se mostra particularmente importante no Brasil, que tem vivido uma intensa modernização econômica e social sem o devido acompanhamento de uma modernização política.

4. Nas eleições de 2014, nos decepcionamos com o PT. A campanha petista no primeiro turno valeu-se de táticas e subterfúgios que desonram o bom debate. Caluniou, difamou e agrediu moralmente a candidatura de Marina Silva, sob o pretexto de que seria preciso fazer um “aguerrido” confronto político. Atropelou regras procedimentais e parâmetros éticos preciosos para a esquerda e a democracia.

5. Chegou a hora de as oposições mostrarem que podem governar o País. A aliança programática que se constituiu em torno de Aécio Neves, impulsionada por PSDB, PSB, PPS e PV, entre outros partidos, e pelo apoio de militantes da Rede e de lideranças políticas expressivas, como Marina Silva, será importante para que se consolide uma perspectiva de renovação. Agregará mais pessoas comprometidas com a democracia. E ajudará a que se supere o quadro de estagnação polarizada em que se encontra a política nacional, criando um polo progressista novo, alargado e requalificado.

6. Aécio Neves e aliados representam uma oportunidade para que se retomem os fios rompidos da vasta tradição do reformismo democrático no Brasil. Seu governo poderá dar seguimento às vitoriosas políticas sociais dos últimos anos. Programas de grande impacto social, como o Bolsa Família, o Mais Médicos e o Minha Casa Minha Vida, podem e devem ser aperfeiçoados, reestruturados e ampliados. O Estado precisa continuar a ser recuperado como fator de regulação econômica e de promoção do progresso social.
7. Nossa meta é ajudar a que tenhamos um País onde o governo dialogue com a sociedade, onde haja mais participação e os movimentos sociais sejam ouvidos, onde não se criminalizem as mobilizações populares e a polícia atue nos marcos do Estado de Direito, onde se governe para todos e se respeitem as minorias, étnicas e de gênero, as sociedades indígenas, as comunidades quilombolas e seus territórios, valorizando-se a educação, a saúde, a previdência e a Seguridade Social. Queremos um Brasil onde todos possam viver, trabalhar e conviver em paz, sem medidas que sacrifiquem e comprometam a juventude ou reprimam a criatividade e a diversidade cultural do País. Não aceitamos que se aprisione a sociedade num maniqueísmo “povo” x “elite”, que leva os cidadãos a simplificar o que não pode ser simplificado. Nem que se deixe solto o poder econômico e se permita que empreiteiras e grandes empresas invadam o processo político e eleitoral, corrompendo e deformando a democracia. A reforma do sistema político e da política tornou-se um imperativo democrático.

8. Devemos adotar uma visão mais abrangente do desenvolvimento e introduzir com clareza a sustentabilidade nas decisões sobre políticas públicas, fazendo com que ela esteja presente tanto no campo quanto nas cidades. A mudança climática precisa ser firmemente confrontada. Numa sociedade como a brasileira, a agricultura familiar e camponesa deve ser fortalecida, por inúmeras razões econômicas e sociais, assim como se deve atuar para proteger nossos territórios, seus recursos naturais e suas populações.

9. Precisamos de governos que bloqueiem a corrosão que os interesses privados vêm promovendo no campo público, como ocorre no SUS, na educação e na política assistencial. O capitalismo brasileiro se consolidou sob os governos do PSDB e do PT, tendo sido modelado pelas mesmas elites econômicas e pela predominância do capital financeiro. Agora, temos de avançar para um novo patamar de modernização e superar o padrão de liberalismo que presidiu àquela consolidação. Não dá para aceitar que os setores mais pobres da população sejam abandonados à própria sorte ou transformados em consumidores, em vez de cidadãos. Os direitos humanos não são negociáveis e nem se pode postergar a expansão dos direitos sociais e dos trabalhadores, seja mediante o aumento e a qualificação dos empregos, seja mediante a melhoria geral das condições de vida.
10. Como democratas, votaremos neste segundo turno em Aécio Neves e na aliança que se forma em torno de sua candidatura. Conclamamos eleitores e políticos dos diferentes partidos a nos acompanharem nesta opção. Ela se mostra hoje o melhor caminho para a reforma da política, a recuperação das boas práticas de governo e a preservação das conquistas sociais tão duramente alcançadas nas últimas décadas.

16 de outubro de 2014

Veja a lista dos signatários no sitehttp://esquerdademocratica.com.br/