Folha de S. Paulo
Guinada garantista de Luiz Fux contribui para
percepção de que STF é uma corte mais política do que técnica
Tivesse Luiz Fux chegado
anteontem de Marte como representante-mor do garantismo intergaláctico,
poderíamos nos limitar a dizer que seu caudaloso voto levanta questões
jurídicas interessantes. Mas não é esse o caso.
Fux não veio de Marte, mas do Rio. E não é um recém-chegado. Está no STF desde 2011, onde se notabilizou como um magistrado penalmente severo, para não utilizar a palavra "punitivista". O rigor de Fux pode ser demonstrado numericamente, com seu histórico de votações e decisões monocráticas.
Nesse contexto, fica difícil não interpretar sua súbita
conversão ao garantismo como política ou ideologicamente
motivada. Vale lembrar que, até poucas semanas atrás, Fux votava para condenar
com penas dilatadas e sem questionamentos de competência réus da infantaria
do 8/1.
Nesses casos, ele não hesitou em ver tentativa de golpe e de abolição de Estado
de Direito.
É possível que o ministro tenha refletido melhor e abraçado sinceramente alguma
versão do minimalismo penal? Em teoria, sim, mas a metamorfose me pareceu
rápida demais. Processos futuros dirão se o novo paradigma veio para ficar ou
se Fux retornará a suas posições originais, caso em que o voto desta semana não
terá passado de uma concessão ao bolsonarismo.
E isso nos leva ao problema central. As incoerências individuais e colegiadas
dos ministros do STF estão corroendo a imagem da corte, que vai
progressivamente sendo percebida como um órgão mais político e personalista do
que técnico e republicano. Com isso, o STF perde capacidade de utilizar seus
juízos para pacificar a sociedade, o que é uma das principais missões da
Justiça.
Vale destacar que Fux não é o único culpado. Há outros ministros dados a
guinadas interpretativas e mesmo os que mantêm trajetórias mais coerentes por
vezes falam demais, de improviso e fora dos autos, contribuindo para a erosão
imagética.
O clima de polarização afetiva não apenas não ajuda a corte como ainda é reforçado
pelos julgados que inevitavelmente são lidos como políticos.
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