quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Rosângela Bittar - Desafios à esperança

• O comportamento da presidente tem sido sempre reativo

- Valor Econômico

O ex-presidente Lula insinuou o desejo de organizar um governo paralelo, sob o selo de gabinete de crise, destinado a socorrer o PT nas agonias em que se meteu nos últimos anos, iniciar um processo de recuperação da imagem do partido e abrigar alguns petistas que estariam deixando o governo Dilma, como Gilberto Carvalho e Marco Aurélio Garcia. Apareceu em duas ou três reuniões, deu um empurrão político para que o segundo mandato começasse logo, conseguiu que fosse formada a nova equipe econômica que, por sua vez, saltando obstáculos erguidos pela equipe atual, começou a elaborar um plano para o Brasil sair da crise.

A seu jeito, os sinais de Lula podem ser tomados como concretos da preocupação e da pressa em intervir para que o segundo mandato não repita o primeiro, sobre cuja ineficiência há unanimidade. Uma vez que pretende voltar em 2018, Lula quer os 20 anos de poder que o tucano Sérgio Motta previa para o PSDB. Suas dificuldades serão tão maiores quanto mais imóvel se quedar o governo Dilma.

O comportamento da presidente tem sido apenas reativo. Depois das notícias sobre o governo paralelo de Lula, por exemplo, o Palácio do Planalto passou a especular com postos que poderão ser dados para os amigos do ex-presidente, e os dois principais partidos da aliança, PMDB e PT, levaram sua lista de políticos para comandar os ministérios. Os motores do novo governo, porém, ainda estão rateando. Enquanto Dilma reluta a começar o segundo mandato, sua sucessão já lhe bate à porta.

Amanhã, após a diplomação no Tribunal Superior Eleitoral, a presidente promete divulgar a composição do Ministério, ritmo nada parecido com a situação de emergência que abate o país. Enquanto não tomar as rédeas da solução do processo de combustão da maior estatal brasileira, a presidente não infunde a crença de que conseguirá sair do lugar. Dilma desafia a esperança dos milhões de votos que apostaram na sua segunda chance.

Ontem, ela se mexeu, mas no sentido inverso do que era esperado. O governo deflagrou campanha destinada a manter no cargo a presidente da Petrobras, Graça Foster. O vice-presidente Michel Temer, no Rio, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em Brasília, foram os arautos do argumento exposto pela empresa em uma nota oficial, a segunda da fase mais recente da crise, divulgada nesta madrugada. A tese de defesa é, em síntese, que só em novembro de 2014 a ex-gerente da Diretoria de Abastecimento, Venina Velosa da Fonseca, falou a Graça Foster sobre as irregularidades. Ou seja, os e-mails de 2009, ou 2011, que tratavam do assunto, foram de uma sutileza indecifrável.

A nota da Petrobras é uma clara operação para permitir à presidente Dilma manter Graça Foster no cargo. Tentativa derradeira, o jeitinho brasileiro na pseudo solução. Se a presidente Dilma está, a esta altura, juntando arrazoado para não afastar Graça do cargo, ela não mudou seu comportamento para exercer bem o segundo mandato e continuará governando tangenciada por pressões de fora. A presidente indica que fará um novo mandato ao estilo do velho.

A gestão 2010-2014, é a realidade e o próprio PT assim avalia, não tem saldo positivo. Foram mantidos os programas de inclusão do governo Lula, criados três outros novos na mesma linha, mas, como marca para campanha eleitoral, eivados de problemas originados na pressa e resistência à correção de equívocos. O governo petista não apresentou, no período Dilma, uma proposta para a Educação, um plano para a Saúde, omitiu-se na Defesa, nas Relações Externas e na Segurança Pública, sendo que nessa última praticou experiências-piloto por alguns meses, este ano, que podem permanecer.

Não tinha e não tem um plano estrutural de combate à corrupção, continuou a agir por espasmos, ao sabor das denúncias, nos quatro anos do governo. Transferiu à crise internacional a reincidência de problemas já superados na economia, como o desequilíbrio fiscal, a inflação em alta, a falta de condições para o crescimento.

Duas iniciativas na Defesa e na Diplomacia acabaram revelando-se uma trapalhada. A presidente, com coragem, arbitrou a conclusão da compra dos caças da Aeronáutica, depois de década e meia de indecisão do governo perdido entre os lobbies das empresas internacionais. Optou pelo projeto diferente daquele pelo qual havia optado o ex-presidente Lula, e acabou por escolher o avião no papel, ainda inexistente, dispensando-se de explicações..

Na política externa houve marcha a ré. Depois de ter sofrido a ignomínia da espionagem internacional, a presidente não conseguiu mais encontrar-se e traçar um caminho para as relações políticas e comerciais do Brasil, confinando-as ao conforto da América do Sul. Mas nem na região conseguiu encerrar uma crise com desfecho prometido para depois das eleições. Ainda pendentes, as relações do Brasil com a Bolívia e a vida profissional do diplomata Eduardo Saboia, confinado por haver ajudado a transferir o senador Pinto Molina, asilado na embaixada em La Paz, para o território brasileiro.

A presidente não manteve uma relação de respeito e negociação com a agenda política, tentou impor soluções, como o plebiscito para a reforma política, e sua aversão ao Parlamento acabou sendo outra marca forte da gestão.

Como também foi sua marca o controle dos órgãos de controle, como as agências reguladoras e o Tribunal de Contas. Conseguiu a proeza de, nessa questão, dar uma rasteira na lei de licitações, com o Regime Diferenciado de Contratação, manobra de flexibilização a perder de vista que criou e ampliou.

Sem ser administrativamente eficiente, a presidente Dilma Rousseff foi eleitoralmente vitoriosa, numa evidência de que não se deve esperar racionalidade, mas pura emoção, do processo eleitoral. E, registrem-se, ainda, dois fatos incontestáveis: o governo Dilma foi capaz de realizar a Copa do Mundo de Futebol, com a construção de estádios, reforma de aeroportos e tudo o mais que um evento desse porte exige, tempestivamente. Inesquecível, mesmo, o fato de ter sido a primeira mulher presidente do Brasil. Com um senão nesse quesito: o desapreço à língua portuguesa ao obrigar o uso do tratamento no feminino.

No PT é sentida a ausência de um Marcos Valério para a Operação Lava-Jato. Sobre os ombros do publicitário caiu tudo. Suportou sozinho o peso do mensalão, sem delação premiada ou alívio de ônus. O que o deixou amargando a prisão enquanto políticos parceiros, já soltos, passam o Natal com suas famílias.

Elio Gaspari - O suicídio dos dinossauros

• Jogando com um baralho viciado para assar a pizza, a Petrobras e as empreiteiras estão flertando com a ruína

- O Globo

Primeiro a má notícia: desde 2008, o valor de mercado da Petrobras caiu de R$ 737 bilhões para R$ 114 bilhões. Virou pó uma quantia equivalente a todos os investimentos previstos para a área de infraestrutura do Brasil no segundo mandato da doutora Dilma. Agora, a péssima: a sangria vai continuar. Investidores internacionais fogem do papel da empresa e o contubérnio em que ela vivia com seus fornecedores abalou também as contas das grandes empreiteiras nacionais. A Petrobras nunca mais será a mesma e pode-se supor que alguns de seus grandes fornecedores nacionais deixarão de existir.

Desde o início do ano, quando apareceram as primeiras pontas do escândalo, todos acreditavam que podiam assar a pizza jogando com um baralho viciado. Essa crença foi resumida numa breve anotação de um diretor da Engevix. Certo de que ninguém teria coragem de se meter com as empreiteiras, ele escreveu: "Janot e Teori sabem que não podem tomar a decisão. Pode parar o país." 

Errou e seu vice-presidente está na cadeia. O procurador-geral Rodrigo Janot e o ministro Teori Zavascki sabem quais decisões devem tomar. A formulação da Engevix embute a ideia segundo a qual grandes empresas não correm o risco de ter diretores na cadeia. É o too big to jail, uma variante do conhecido too big to fail. Grandes corporações não podem quebrar (fail) nem seus diretores acabar na cadeia (jail).

A fé na pizza teve sua razão de ser. A defesa das empresas apanhadas no cartel ferroviário que agia em São Paulo conseguiu empurrar o caso com a barriga por mais de dez anos. A Siemens, que denunciou a quadrilha da qual fazia parte, chegou a ser ameaçada de processo pelo governo paulista. Bola fora, pois a Siemens brasileira denunciou o cartel seguindo uma norma de moralidade adotada por sua matriz alemã.

Até agora, a equipe do Ministério Público que cuida do caso da Petrobras mostrou-se mais qualificada que as empresas. Se isso fosse pouco, a investigação já tem três pontas no exterior. Uma na Holanda, outra na Suíça e a terceira nos Estados Unidos. Essa foi a que pegou a Siemens, levando-a a se tornar um padrão de nova conduta. O baralho viciado perdeu a eficácia. A regulamentação da lei que trata da moralidade empresarial está na Casa Civil há seis meses. Também não adianta.

No início do escândalo da Petrobras as empreiteiras saíram-se pela declaração de inocência. Veio a colaboração do "amigo Paulinho" e elas tentaram uma negociação pela qual, em conjunto, pagariam uma multa, afastariam o juiz Sérgio Moro e iriam em frente. Foram repelidas pelo procurador-geral. 

Desde então a Toyo Setal abandonou o "cartel da leniência" e colabora com o governo. De lá para cá surgiu (e encolheu) a tese da extorsão. No século XIX o regime escravocrata brasileiro teve a espinha quebrada pelas leis inglesas; no XXI, a cleptocracia nacional está ameaçada pelo Ministério Público e também pelas leis americanas e europeias.

Um presente para advogados e diretores de empresas interessados no assunto: está na rede o magnífico livro "Too big to jail", do professor Brandon Garrett. Mostra como o governo americano pega larápios corporativos, e como falha. Para quem paga milhões a grandes advogados, é uma vacina para evitar que acreditem em bobagens. Sai por apenas US$ 19,28.

Elio Gaspari é jornalista

A Petrobras na hora da xepa - ITV

• Desde que o PT apôs sua tarja vermelha aos negócios da Petrobras, a empresa passou a afundar. Nossa outrora maior empresa agora corre risco de sumir do mapa

As ações da Petrobras entraram ontem em processo de liquidação. Antes que petistas mais exaltados vociferem dizendo que isso é problema do mercado financeiro ou de gente ávida por fazer dinheiro, é bom que fique claro que, com o derretimento do valor dos papéis, a sobrevivência da companhia está indo para o vinagre. A estatal corre risco de sumir do mapa.

As ações da empresa caíram quase 10% no pregão de ontem - foi a sexta queda seguida, acumulando 25% em uma semana - e bateram no nível mais baixo em mais de dez anos. Quando se consideram alguns outros parâmetros de avaliação, como a relação entre valor de mercado e patrimônio líquido, a Petrobras retrocedeu agora para o tamanho que tinha em 1996. Onde está o fundo do poço?

A principal razão para a aversão de investidores às ações da companhia brasileira é a completa ausência de transparência nas informações e o mar de lama que se descobre maior a cada dia que passa. Na sexta-feira, a Petrobras adiou pela segunda vez em menos de um mês a divulgação do balanço relativo ao terceiro trimestre. Os administradores simplesmente não sabem dizer o tamanho do rombo que a corrupção deixou na contabilidade da empresa.

Desde o ápice de sua valorização, em maio de 2008, a Petrobras já perdeu R$ 610 bilhões em valor de mercado, segundo a consultoria Economática. Em dólar, a ação da estatal caiu 62% desde setembro - num nível muito acima do de suas concorrentes, que também sofrem com a derrocada das cotações do petróleo mundo afora, mas não estão atoladas em corrupção.

A Petrobras já foi uma "blue chip", jargão do mercado para as ações mais valiosas, de companhias de maior qualidade e confiabilidade. Desde que o PT apôs sua tarja vermelha aos negócios da petroleira, a empresa passou a afundar e hoje já começa a ser enquadrada na categoria de "junk bond", ou seja, papéis de alto risco, podres mesmo.

O futuro da Petrobras é sombrio. A dívida da empresa continua subindo e já soma R$ 261 bilhões em termos líquidos. Isso significa que, desde 2007, o valor multiplicou-se por dez. Adívida bruta alcança R$ 331 bilhões - é a maior do mundo. Em contrapartida, a produção da empresa, sua razão de existir, mal saiu do lugar, com alta de pouco mais de 18% em oito anos.

Sem divulgar seus resultados, a empresa pode ser obrigada a pagar mais R$ 50 bilhões em dívida que vence em 2015. Com um plano de investimentos mirabolante e com o acesso ao mercado de crédito praticamente bloqueado, a Petrobras pode chegar ao fim do ano que vem sem dinheiro em caixa. O fundo do poço pode estar chegando, tragando aquela que um dia já foi orgulho dos brasileiros e hoje tornou-se motivo de vergonha nacional.

Míriam Leitão - Dilma e Petrobras

- O Globo

Não existe meia solução para a Petrobras. Só uma atitude firme, e da presidente Dilma, pode começar a resgatar a empresa do poço ultraprofundo em que ela está. A diretoria inteira precisa sair, não por suspeição sobre todos os seus integrantes, mas porque a companhia vive uma crise de confiança gravíssima e esta gestão não soube dar respostas convincentes. Não há como a presidente Dilma possa se esconder desta crise.

Ela é a chefe de Estado de um país cuja maior empresa afunda num mar de dúvidas e corrupção. A Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça estão fazendo seu papel de forma exemplar. Mas o poder executivo faz de conta que não tem nada a ver com esta crise. É como se a presidente Dilma considerasse que não deve prestar contas sobre o que está se passando na maior empresa de nossa economia, a mais querida, a que tem entre seus acionistas desde grandes empresários até assalariados que colocaram lá o seu FGTS.

A pequena recuperação na bolsa ontem não resolve o problema. É desses movimentos naturais, após queda acentuada. A Petrobras enfrenta uma fuga de investidores institucionais, que são os mais desejados por qualquer empresa de capital aberto, porque permanecem no longo prazo com o papel em carteira. Eles estão saindo, mesmo com o baixo preço da ação. Isso significa que estão realizando o prejuízo, e não voltarão tão cedo a comprar o papel. Pudera. Neste exato momento a empresa não consegue sequer divulgar um balanço auditado. E se não houver balanço, no último prazo que ela terá, parte dos bônus e da dívida vencerá e terá que ser paga imediatamente. Neste cenário, o que o governo pretende fazer?

O país precisa de sinais urgentes de que a presidente Dilma entendeu o tamanho da crise e que está no comando. Ela tem que trocar a direção e declarar de forma enérgica e convincente que seus cargos não serão mais objeto de partilha política. A receita que a empresa precisa é de profissionalização da gestão, o fim do uso político, um diagnóstico profundo da crise, prestação de contas à sociedade e boa governança. Nada disso pode ser oferecido por quem não viu os desmandos aos quais ela estava entregue. O próprio conselho de administração que nada viu, nada soube, tudo avalizou, precisa ser trocado.

A Petrobras tem 60 anos, é parte da história do Brasil, da construção da confiança do país em si mesmo. Ela é símbolo, ícone. O importante não é o valor que ela tem na bolsa, que, por sua natureza, é volátil. O fundamental é o valor intangível que a empresa tem para o país. É isso que está se estiolando.

Dilma acha mesmo que se não falar do assunto publicamente e mandar beijinhos para os jornalistas o problema sumirá do horizonte? Um governante se elege para governar e não para se esconder de uma crise dessa gravidade atrás de uma suposta blindagem dada pelo silêncio.

A simbiose é tão forte entre o Brasil e a Petrobras que se a empresa permanecer em crise a economia não se recupera tão cedo. Se o país não reconquistar a confiança na política econômica e nas decisões governamentais, será mais difícil a recuperação da empresa. Se a Petrobras, sem capacidade de captação, tem que cortar investimentos, a retomada do crescimento será mais lenta. É disso que se trata. Não é uma empresa qualquer; é a Petrobras.

É absurdo que tenha acontecido o que aconteceu, mas disso as instituições brasileiras estão tratando, o que dá ao país esperança de que culpados serão punidos. Mas o governo tem que dar o sinal de que a empresa não é uma plataforma à deriva e sem comandante.

No PT, acredita quem quer - O Estado de S. Paulo / Editorial

O Partido dos Trabalhadores (PT), envolvido nos maiores escândalos de corrupção do Brasil na última década, está preocupado com sua imagem. Conforme dirigentes do partido discutiram em recente reunião da corrente majoritária da legenda "Partido que Muda o Brasil", o PT precisa agir para resgatar a aura "ética" que criou e cultivou nos primeiros anos de sua existência. Mais uma vez, os petistas apostam tudo na propaganda como forma de construção da realidade. No entanto, está cada vez mais claro que a imagem de partido que abriga corruptos não está associada ao PT à toa - e será preciso muito mais do que golpes de marketing para alterar essa percepção.

"É preciso passar o PT a limpo", disse Jorge Coelho, um dos vice-presidentes do partido, durante o encontro. A recomendação é pertinente, mas é difícil de acreditar que haverá qualquer esforço autêntico para que essa limpeza seja realmente realizada. Não se trata de ceticismo, mas de constatação: basta lembrar que os principais dirigentes do partido envolvidos no escândalo do mensalão, por exemplo, foram tratados pela militância e pelos líderes petistas como "presos políticos" e "guerreiros do povo brasileiro".

Agora, com a roubalheira na Petrobrás sendo exposta em detalhes sórdidos, para dar a impressão de que não tolera corrupção, o PT aprovou uma resolução segundo a qual os filiados envolvidos em falcatruas serão expulsos. Tal disposição para lidar com os malfeitores como se deve, dizem os dirigentes petistas, ficou comprovada pela posição adotada pelo partido no processo contra o deputado André Vargas na Câmara. A bancada do PT foi orientada a votar a favor da cassação do ex-petista, denunciado por sua ligação com o doleiro Alberto Youssef, pivô do escândalo da Petrobrás. "Quando o PT pede a cassação do André, dá um exemplo concreto", disse o presidente nacional do partido, Rui Falcão.

A singela narrativa petista, contudo, tem falhas de roteiro. A principal é que Vargas estava havia mais de 20 anos no partido, sendo uma de suas principais lideranças. Por essa razão, é preciso muito esforço para crer que, na cúpula petista, ninguém soubesse de suas traquinagens. O fato é que Vargas perdeu apoio no PT somente quando o escândalo que o envolvia começou a ameaçar os planos eleitorais do partido - e então ele foi pressionado a abandonar a legenda à qual prestou tantos serviços, entre os quais desqualificar os ministros do Supremo Tribunal Federal que condenaram os caciques petistas à prisão no caso do mensalão.

Como o resgate da imagem "ética" do PT não pode ter contradições como essa, o partido decidiu criar uma TV na internet para dar a sua versão dos fatos. O projeto se alinha à tese segundo a qual foi a imprensa que criou o mito da corrupção petista e que é necessário mostrar ao País que, ao contrário do que sugere o noticiário diário, o PT não é conivente com as fraudes e os desvios de dinheiro público. A esse propósito - e fica aqui a sugestão de pauta para a TV petista -, seria interessante conhecer a versão do partido para a manutenção de João Vaccari Neto como seu tesoureiro, a despeito das inúmeras denúncias de seu envolvimento com o escândalo da Petrobrás.

Toda essa mobilização marqueteira tem um único propósito: salvar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2018. O recurso à nostalgia petista em relação a seu passado imaginário, no qual o partido se apresentava como uma forma de ruptura em relação a "tudo o que está aí", é articulado diretamente pelo ex-presidente. No 5.º Congresso do PT, por exemplo, Lula disse que os que não têm "compromisso ético" devem sair do partido.

Na mesma ocasião, o ex-presidente reconheceu que o PT "comete erros", mas isso é resultado de seu gigantismo, pois, segundo suas palavras, "não existe no mundo nenhuma experiência política mais bem-sucedida do que o PT". Foi esse portento, segundo o ex-presidente, que criou os instrumentos para acabar com a roubalheira no Brasil - até a delação premiada, que está na legislação desde 1990, foi citada por ele como obra petista. É assim, com esse nível de mistificação, que Lula e seus correligionários querem fazer o País acreditar que o PT, ao contrário das evidências, é um campeão da luta contra a corrupção.

Começa a surgir o custo do aparelhamento – O Globo / Editorial

• Ainda não é possível dar um balanço final, mas, até agora, o controle da Petrobras por grupos políticos reduziu a menos da metade o valor da empresa

Há pelo menos nove anos, desde a denúncia do mensalão, em 2005, ouve-se o mantra lulopetista: "Todos fazem" e "Isso já foi assim no passado". Mas o assalto à Petrobras, cometido numa associação criminosa entre altos dirigentes indicados pelo PT, PMDB e PP, e empreiteiros pulverizou a desculpa, porque nunca antes na história do país surgiram evidências e provas de tamanho esquema de corrupção concentrado num único setor.

Estatal de grandes proporções, a Petrobras volta e meia era motivo de rumores sobre desvios. Já se ouviram histórias de conluio de diretores com potentados árabes fornecedores de petróleo, no tempo que a empresa era a maior importadora individual de óleo do mundo. Também já circularam, há muito tempo, casos de conluio com fornecedores de plataformas, semelhantes ao comprovado agora na relação incestuosa entre a holandesa SBM, o diretor apadrinhado pelo PT Renato Duque e seu braço-direito Pedro Barusco — que se compromete a repatriar US$ 100 milhões embolsados em negociatas. Apenas Barusco é maior que o mensalão.

O tamanho desproporcional do petrolão comparado com outros golpes de drenagem criminosa de dinheiro público se explica pelo aparelhamento lulopetista da Petrobras.

Como a empresa foi tomada de assalto — com trocadilho — por petistas ligados a Lula/José Dirceu, e com ramificações no meio sindical, criaram-se as condições para uma operação ampla e organizada. Para o bem ou mal. No caso, para o mal.

Quem mais ocupou a presidência da estatal nestes 12 anos foi José Sérgio Gabrielli, economista baiano, militante sindical petista, também conhecido por participar da campanha da reeleição de Lula, em 2006, com a estrela vermelha do partido na lapela. Ontem, foi denunciado pelo Ministério Público fluminense, junto com a empreiteira Andrade Guttierrez, devido ao superfaturamento das obras de ampliação de centro de pesquisas da estatal (Cenpes). Ainda não se trata da Lava-Jato.

Aquela estrela no peito do presidente da Petrobras, percebe-se hoje, simbolizava o encampamento da estatal pelo partido e seus aliados. Dava-se o impensável pela militância: o partido estatista, que vociferava denúncias de tramas tenebrosas para privatizar a empresa, estava no centro de um esquema de roubalheira "privada", capaz de fraquejar a dona de grande reserva de petróleo.

Os desfalques deixaram de ser — se é que existiram — atos isolados, para ganharem escala industrial. Ainda não é possível fazer um balanço final da dimensão da ruína, mas, até agora, o aparelhamento lulopetista desvalorizou a Petrobras em cerca de 40%, no ano, fechou linhas de crédito no mercado internacional e criou a ameaça de esvaziar o caixa da empresa. Basta o governo continuar catatônico, sem agir para começar a reconstrução da estatal. A desmontagem de uma empresa deste tamanho é caso a ser estudado a fundo.

Petrobras, o deboche – Folha de S. Paulo / Editorial

• Circunstâncias e detalhes no escândalo da estatal mostram sensação quase delirante de impunidade dos que a conduziram

À medida que se desenvolvem as investigações sobre algum escândalo de corrupção, surge razoável risco de que se produza no leitor, ademais de justificado desalento, certa sensação de monotonia.

O processo de obtenção das provas não segue o ritmo das expectativas da opinião pública, e a própria complexidade das tramas exige particular apreço pela minúcia.

As irregularidades do caso Petrobras, contudo, fogem a essa rotina. Não só suas dimensões financeiras e a aura simbólica de que a empresa se reveste conferem inédita pregnância ao noticiário.

É que, também nos seus detalhes, no colorido de cada episódio, há requintes. Há caprichos. Há mesmo um senso de humor negro.

Veja-se o que ocorreu quando a geóloga Venina Velosa da Fonseca, então gerente da área de abastecimento da Petrobras, mostrou-se inconformada com um contrato da estatal em 2009.

A funcionária estranhou que a construção de uma casa de força na refinaria Abreu e Lima custasse 272% acima do previsto. Obteve-se uma renegociação, com a economia de R$ 34,2 milhões.

Foi punida, entretanto. Num escândalo em que muitos envolvidos têm como saída o mecanismo da delação premiada, eis o caso inverso de uma correção punida.

Como "prêmio" pelas várias denúncias que encaminhava à direção da empresa, a geóloga foi transferida a Cingapura.

Se parece quase um sarcasmo remeter a incômoda funcionária para o outro lado do mundo, é menos refinada a nota da Petrobras sobre o episódio. Afirma-se que a geóloga teria guardado, "estranhamente", silêncio sobre as irregularidades durante cinco anos.

A tentativa retórica do comunicado não admite a interpretação mais simples. Ou seja, a de que, uma vez exposto o escândalo a público, a funcionária vê enfim ocasião para revelar o que sabe.

Nova nota da Petrobras, emitida ontem (16), sustenta que a geóloga só teria apontado irregularidades à atual presidente da estatal em novembro deste ano --o que salvaria Graça Foster das suspeitas de omissão. Aqui, o termo "estranhamente" foi evitado.

Enquanto isso, uma fornecedora holandesa, a SBM, admite a autoridades ter encaminhado propinas para a construção de uma plataforma, inaugurada às pressas para corresponder ao cronograma da campanha petista em 2010.

Na ocasião, o então presidente Lula jactou-se de que não existia mais caixa-preta na Petrobras; a plataforma ganhou o nome de Apolônio de Carvalho, histórico militante de esquerda.

São detalhes, é certo, mas indicam a sensação quase delirante de impunidade e o espírito de deboche com que se conduziram os vândalos encarregados de gerir a maior empresa brasileira.

Zuenir Ventura - Em casa com o inimigo

- O Globo

• Primeiro, os escândalos produziram choque; em seguida, indignação; depois, apatia; e agora, impotência, como se nada pudesse ser feito

Depois de 12 anos como ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, órgão de fiscalização do governo, Jorge Hage, saturado, desabafou: "Não me assusto com mais nada." Mesmo sem ter investigado cartéis, quadrilhas, esquemas e escândalos, como ele, posso dizer que no meu caso o que acabou foi a surpresa. Temo não me espantar com mais nada. Muitos leitores já estão assim: blasés, cínicos. É tamanha a overdose de mais do mesmo todo dia que pode estar ocorrendo uma certa anestesia após as reações iniciais. Primeiro, os escândalos produziram choque; em seguida, indignação; depois, apatia; e agora, impotência, como se nada pudesse ser feito. A política tornou-se um espetáculo tristemente enfadonho, alternando personagens e proezas que se superam diariamente: os de hoje são mais incríveis do que os de ontem, e certamente menos do que os de amanhã. Num dia você diz "não é possível", ao ler que o desvio no petrolão é seis vezes maior do que o do mensalão.

No dia seguinte, são os e-mails de uma ex-funcionária mostrando que a cúpula da empresa, incluindo a presidente, fora alertada sobre uma série de graves irregularidades antes do início da Operação Lava-Jato. E assim por diante.

Um gerente se compromete a devolver US$ 100 milhões desviados, e ninguém explica como um gerente — não um diretor — conseguia acumular essa fortuna sem que um superior percebesse, numa empresa com hierarquia e níveis de comando e de controle? A geração que nos anos 50 saiu às ruas gritando "O petróleo é nosso" jamais podia imaginar que o inimigo não estaria fora, mas dentro da estatal, e que o orgulho nacional um dia viraria caso de polícia ou, como disse um procurador da República, "uma aula de crime". De fato, o vocabulário a ela associado passou a ser o da crônica policial: propina, suborno, corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa, desvio, roubo. E quando você acha que já viu tudo, vem o Ministério Público e adverte que ainda tem mais. A Operação Lava-Jato já fez 36 réus, isso até ontem. O que será que ainda vem por aí? Alguns palácios tremem só de pensar.

Pra não dizer que não falei das flores, teve Marina Silva em dois momentos especiais: numa elegante e reveladora entrevista a Roberto D"Ávila, em que em vez de maldizer os que a maltrataram na campanha preferiu agradecer os 22 milhões que votaram nela no primeiro turno. E na ilustre posição de "Mulher do ano", eleita pela revista inglesa "Financial Times", que resolveu premiá-la por ser uma "espécie rara de política", "visionária e idealista que acredita com sinceridade no que diz".

Poucas vezes uma derrotada foi tão vitoriosa.

Sambas de carnaval - Pedro Miranda

Cecília Meireles - Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Opinião do dia – Roberto Freire

É irônico ver como eles usaram a Petrobras como instrumento de propaganda nos processos eleitorais contra os adversários, acusando-os de querer privatizá-la. Mal sabia o povo brasileiro que eles [petistas] estavam privatizando a Petrobras, mas para práticas criminosas do governo do PT e de seus aliados.

Roberto Freire, deputado federal e presidente nacional do PPS, em Brasília, 14 de dezembro de 2014.

Ações da Petrobras desabam e são suspensas na Bolsa

Quem dá mais pela Petrobras?

• Ações da estatal têm negociação interrompida na Bolsa após recuo de 10% e vão a leilão

João Sorima Neto e Ana Paula Ribeiro – O Globo

SÃO PAULO - Para tentar minimizar as perdas das ações da Petrobras, numa medida extrema, as negociações com os papéis da estatal na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) foram suspensas ontem por cerca de 15 minutos e entraram em leilão. Segundo a Bovespa, isso ocorre sempre que há uma oscilação de 10% sobre o preço de abertura do pregão, um procedimento que visa a tentar acalmar o mercado. E esta não foi a primeira vez: a negociação já havia sido suspensa temporariamente, por exemplo, em 27 de setembro de 2010, no primeiro dia de negócios após a capitalização da Petrobras. Apesar da suspensão de ontem, as ações da empresa cravaram seu sexto dia consecutivo de baixa, fechando com desvalorização de quase 10%. Somente nos últimos seis pregões, os papéis da petrolífera perderam 25% de seu valor.

Sem a divulgação de um balanço auditado e com novo recuo do preço do petróleo no mercado internacional, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras encerraram com baixa de 9,19% em relação ao fechamento de sexta-feira, a R$ 9,18 - a menor cotação desde 20 de julho de 2005, quando encerraram a R$ 9,16. Já os papéis ordinários (ON, com voto) caíram 9,93%, a R$ 8,55, no menor nível desde 15 de setembro de 2004, quando fecharam a R$ 8,47. Na Bolsa de Nova York, os American Depositary Receipts (ADRs) perderam mais de 11%, a US$ 6,28. O Ibovespa registrou queda de 2,05%, aos 47.018 pontos.

- O mercado está batendo nos ativos brasileiros com uma maior aversão risco. O novo adiamento do balanço da Petrobras também não agradou - disse Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor.

Bancos reduzem seu preço-alvo
A primeira suspensão dos negócios com os papéis ON da Petrobras aconteceu às 14h50m e durou cerca de cinco minutos. Eles caíam 9,62% frente ao fechamento de sexta-feira, mas o limite para a suspensão é contado em relação à abertura do pregão do dia. As ações PN entraram em leilão logo em seguida, quando caíam 9,10%, também por cinco minutos. Durante o período do leilão, a cotação do papel fica congelada e diversas ordens de compra ou venda são feitas, com os investidores avaliando se é necessário alterar suas posições. Após a paralisação dos negócios, os papéis da Petrobras passaram a ser negociados com queda menor, no patamar de 8%. Mas perto do fechamento, pouco antes das 16h30m, a queda se acentuou. Com isso, outro leilão, de menos de cinco minutos, foi realizado.

As previsões dos bancos para as ações da estatal continuam pessimistas. Ontem, o HSBC cortou o preço-alvo dos papéis PN de R$ 10,70 para R$ 8,70. De acordo com os analistas do banco, a Petrobras corre o risco de ficar sem caixa no quarto trimestre de 2015 se não divulgar suas demonstrações financeiras e não conseguir fazer captações no mercado internacional. O Credit Suisse, por sua vez, reduziu o preço-alvo para os ADRs da estatal de US$ 14 para US$ 7,30.

O sócio da Queluz Asset Management, Maurício Pedrosa, avaliou que a conjuntura externa também pesou sobre a Petrobras. O preço do barril do tipo WTI recuou mais 3,3% nos EUA, para US$ 55,91, a menor cotação desde maio de 2009.

- Ou seja, além das notícias ruins da empresa, há um mal-estar no mercado internacional do petróleo - afirmou Pedrosa.

Dólar sobe 1,28%, a R$ 2,685
Segundo analistas da Yield Capital, os poucos números preliminares do terceiro trimestre divulgados pela Petrobras mostraram geração positiva de caixa, devido ao aumento da produção de petróleo, ao reajuste nos preços dos combustíveis e à redução das importações. A estatal divulgou endividamento líquido de R$ 261,45 bilhões e fluxo de caixa positivo de R$ 4,25 bilhões. Para o BTG Pactual, os números não são conclusivos e fica difícil interpretá-los como positivos sem ter em mãos ao menos como foi a variação do capital de giro da companhia. Em nota a clientes, o banco considerou pouco provável a companhia divulgar os dados auditados em janeiro.

Para Elad Victor Revi, analista da Spinelli Corretora, a tendência é que a Bolsa fique pressionada e muito volátil durante toda a semana, com analistas e investidores à espera dos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que se reúne hoje e amanhã para discutir a taxa básica de juros dos Estados Unidos. Espera-se algum sinal sobre quando os juros subirão. Ao elevar sua taxa básica, os EUA atrairiam parte dos recursos hoje alocados em outros países, em especial nos emergentes.

No mercado de câmbio, o dólar fechou em alta de 1,28%, pelo quarto dia consecutivo, cotado a R$ 2,685. É o maior patamar da moeda americana desde 29 de março de 2005, quando encerrou a R$ 2,697.

Em Nova York, o índice Dow Jones fechou em queda de 0,58%, e a Nasdaq caiu 1%. Na Europa, Londres recuou 187%, enquanto Frankfurt e Paris perderam 2,72% e 2,52%, respectivamente.

Outro ex-diretor é denunciado

Ex-diretor é denunciado por corrupção

• Ceveró também é acusado de lavagem de dinheiro; Lava-Jato já tem 19 réus

Germano Oliveira e Renato Onofre - O Globo

SÃO PAULO - O Ministério Público Federal (MPF) denunciou à Justiça o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró, o lobista Fernando Soares, conhecido por Fernando Baiano, ligado ao PMDB, o representante da empreiteira Toyo Setal Julio Carmargo e o doleiro Alberto Youssef por lavagem de dinheiro e corrupção. Cerveró é o segundo ex-dirigente da estatal a ser formalmente denunciado à Justiça, após Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da companhia.

O MPF pede ainda o ressarcimento de R$ 296 milhões como reparação pelo desvio de recursos da estatal na compra de duas sondas para a exploração de petróleo no exterior. Com isso, sobe para R$ 1,5 bilhão o valor que os acusados devem devolver aos cofres.

Ainda ontem, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal Criminal do Paraná, aceitou outras duas denúncias contra envolvidos em esquemas de corrupção comandados pelas construtoras OAS e Galvão Engenharia. Com isso, tornam-se réus, entre outros, o presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, e Jean Alberto Luscher Castro, diretor-presidente da Galvão Engenharia.

MPF já denunciou 39 pessoas
Além deles, Paulo Roberto e Youssef são novamente processados - eles já respondem por envolvimento no esquema chefiado pela construtora Engevix. No caso da OAS e da Galvão Engenharia, os acusados responderão por corrupção, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro. O MPF já denunciou 39 pessoas na Operação Lava-Jato. Desses, 19 se tornaram réus.

A denúncia envolvendo Cerveró foi a primeira ação enviada pelo Ministério Público sem a participação de Paulo Roberto Costa, principal delator do esquema na Petrobras. E a primeira a não envolver nenhuma das grandes empreiteiras. De acordo com as investigações, em 2006, Cerveró e Fernando Baiano acertaram com Julio Camargo o pagamento de propina para que a Samsung ganhasse o direito de construir o "Navio-Sonda Petrobras 100000" por US$ 586 milhões (cerca R$ de 1,5 bilhão). Para concretizar o negócio, Cerveró e Baiano receberiam US$ 15 milhões (R$ 39 milhões).

O navio seria usado para perfuração de águas profundas na África. Em troca da propina, Cerveró tomou as "providências necessárias" na Petrobras para que nenhuma outra empresa fosse convidada a apresentar proposta para executar a obra.

Esquema se repetiu no ano seguinte
O MPF diz ainda que o esquema se repetiu de forma praticamente idêntica no ano seguinte. Nessa nova oportunidade, contudo, foi acertado entre Cerveró, Baiano e Camargo o pagamento de propinas no valor aproximado de US$ 25 milhões (R$ 65 milhões) para a viabilização da contratação do Navio-sonda Vitória 10000, que operaria no Golfo do México, com o estaleiro Samsung Heavy. Tal contratação foi estimada em US$ 616 milhões (R$ 1,6 bilhão).

Além das propinas que seriam repassadas a Baiano e Cerveró, Júlio Camargo receberia da Samsung outros US$ 13 milhões (R$ 33,8 milhões) por ter viabilizado os negócios.

Ainda de acordo com o MPF, coube a Camargo e a Baiano a montagem de um sistema para "lavar" o dinheiro. Para isso, foram realizadas múltiplas operações de lavagem de ativos, a exemplo de depósitos em contas bancárias no exterior, em nome de offshores e de pessoas interpostas, além da simulação de contratos de câmbio e de investimento e da celebração de empréstimos bancários fraudulentos. Parte desses valores passaram pelas mãos e contas de Alberto Youssef, que também participou de esquemas na Diretoria de Abastecimento.

Caso a Justiça receba a acusação, Cerveró e Baiano responderão, cada um, pela prática de dois atos de corrupção e 64 atos de lavagem de dinheiro. Já Júlio Camargo, pela prática de dois atos de corrupção, de sete crimes financeiros e de 64 atos de lavagem de dinheiro. Youssef, por sua vez, pela prática de 17 atos de lavagem de dinheiro. O MPF pediu ainda o ressarcimento de cerca de R$ 156 milhões por danos morais e o confisco de R$ 140 milhões, valor desviado por eles, segundo a investigação.

Cerveró é suspeito de participar de um grande esquema de corrupção na Petrobras, desviando recursos de contratos da área internacional para abastecer políticos do PMDB, que o indicaram para o cargo. Os operadores do esquema na área seriam Baiano e Youssef, que lavavam até 3% dos contratos do setor, repassando o dinheiro para campanhas políticas do PMDB.

Advogado diz que há só "ilações"
Julio Camargo, da Toyo Setal, optou por fazer delação premiada, colaborando com a Justiça para desvendar o escândalo da corrupção na estatal. A Toyo Setal também pode se transformar na primeira empresa a assinar acordo de delação premiada com o MPF nas investigações da Lava-Jato.

Além da delação de Julio Camargo, a empresa se pôs à disposição da Justiça; o acordo pode envolver vários executivos do primeiro escalão. A Toyo tem contrato de R$ 1,1 bilhão com a Petrobras no projeto Comperj, no Rio, e de R$ 2,09 bilhões na montagem de uma unidade de fertilizantes em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Outra empresa do grupo, a EBR Estaleiros do Brasil, participa da obra da plataforma P-74, e seu estaleiro deve ser feito no Rio Grande do Sul com recursos do Fundo da Marinha Mercante.

O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, disse que a denúncia demonstra que "houve açodamento" da Procuradoria:

- A denúncia espelha, apenas, ilações do Ministério Público Federal despidas de provas - disse em nota.

Mais duas denúncias aceitas
Após aceitar, na semana passada, a denúncia contra nove pessoas envolvidas em esquema de corrupção em obras comandadas pela Engevix, ontem, o juiz Sérgio Moro aceitou mais duas denúncias. Agora, quatro diretores da Galvão Engenharia - o presidente Jean Alberto Luscher Castro, o diretor de negócios Erton Medeiros Fonseca, e os diretores Dario de Queiroz Galvão Filho e Eduardo de Queiroz Galvão - viraram réus. Assim como os executivos da OAS José Adelmário Pinheiro Filho (presidente), Agenor Franklin Magalhães Medeiros, Fernando Augusto Stremel Andrade, João Alberto Lazzari e José Ricardo Nogueira Breghirolli, apontado como contato de Youssef com a OAS, além do funcionário da construtora Mateus Coutinho de Sá Oliveira. Nessa ação, também voltaram a ser réus Paulo Roberto Costa, Youssef e o dono da MO Consultoria, Waldomiro de Oliveira.

Segundo Sérgio Moro, as construtoras responderão ainda por crimes de organização criminosa, formação de cartel, frustração à licitação, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, evasão fraudulenta de divisas e uso de documento falso, já que as empreiteiras apresentaram documentos falsos ao MPF ou ao Juízo; também sonegaram tributos federais. O esquema criminoso aconteceu entre 2006 e 2014.

As empreiteiras, reunidas no que era denominado "clube", combinavam quem venceria as licitações da Petrobras, manipulando os preços apresentados no certame. Elas acabavam contratadas pelo maior preço possível admitido pela Petrobras.

Para permitir o funcionamento do cartel, as empreiteiras corromperam diversos empregados do alto escalão da Petrobras, entre eles os ex-diretores Paulo Roberto Costa e Renato de Souza Duque (da Diretoria de Serviços), que, porém, não foi denunciado agora.

Até o momento, Moro aceitou três das seis denúncias formuladas pelo Ministério Público na sétima fase da Operação Lava-Jato. A expectativa é que o magistrado se prenuncie sobre as outras denúncias antes do início do recesso judiciário, que começa na semana que vem.

Ações da Petrobrás caem quase 10% e atingem o menor valor em 10 anos

• Puxada pelos acionistas estrangeiros, queda foi causada pela não divulgação do balanço do terceiro trimestre, prometido para sexta-feira

Josette Goulart , Karin Sato - O Estado de S. Paulo

Os investidores do mercado financeiro derrubaram em quase 10% ontem as ações da Petrobrás na Bolsa de Valores, fazendo o papel chegar a um dos menores níveis dos últimos dez anos. A forte queda em um único dia foi puxada principalmente pelos acionistas estrangeiros. A empresa prometeu que na sexta-feira divulgaria seu balanço do terceiro trimestre e não o fez. Publicou apenas um fato relevante, com alguns números de sua operação, e fez uma nova promessa: a de que fará o que for preciso para manter seu caixa e assim pagar suas dívidas sem precisar recorrer a financiamentos em 2015.

"Uma boa promessa, mas difícil de ser mantida", resumiu o banco Credit Suisse em relatório dos analistas Andre Sobreira e Vinicius Canheu. "Para ganhar a confiança do investidor, a Petrobrás terá que dar muitos detalhes trimestre a trimestre de que é capaz de fazer isso. Sem conversa fiada", disseram os analistas, lembrando das tantas promessas não cumpridas pela companhia, como metas de produção não alcançadas, mudanças de fórmulas de preços da gasolina que não foram feitas, além do fato de a empresa não ter publicado o balanço.

No começo do pregão de ontem na bolsa brasileira, as ações caíam cerca de 2% segundo Ricardo Kim, da XP Investimentos, e assim que os mercados nos EUA abriram, onde parte das ações da estatal é negociada, começou a derrocada. Na Bolsa de Nova York, os American Depositary Receipts (ADRs) da Petrobrás caíram 12,1%, fechando a US$ 6,08, o valor mais baixo desde março de 2003.

No Brasil, as ações preferenciais chegaram a R$ 9,18, com queda de 9,2% e atingindo a mínima desde janeiro de 2005, enquanto a ação ordinária, com direito a voto, fechou a R$ 8,52, queda de 9,94%, menor preço desde agosto de 2004. Com variação de cerca de 10% durante a sessão, a venda dos papéis da Petrobrás foi interrompida e eles entraram em leilão.

Os analistas dizem que a forte venda dos papéis se deu ainda por causa da alta do dólar ante o real, que eleva a dívida de US$ 135 bilhões da Petrobrás. Também pela intensificação do noticiário negativo para a companhia relacionado às denúncias de corrupção e por causa da queda dos preços do petróleo.

Em risco. Pelos cálculos do Goldman Sachs quase US$ 1 trilhão em projetos no setor estão em risco por causa do recuo da cotação do petróleo, segundo reportagem do jornal britânico Financial Times. O banco Morgan Stanley não descarta a possibilidade de os preços flertarem com o patamar de US$ 40, o que poderia inviabilizar novos projetos de extração em países como Estados Unidos, Canadá e Brasil. Ontem, o preço do petróleo estimado para janeiro foi negociado a US$ 55,91 o barril do petróleo WTI, cotado em Nova York, e o Brent, de Londres, para o mesmo mês foi avaliado em US$ 61,06.

As empresas do setor estão cortando custos, renegociando dívidas, reduzindo investimentos e até diminuindo seus quadros. No Brasil, a Petrobrás diz que está tomando medidas para manter o caixa sem ter de recorrer a empréstimos.

A empresa tem R$ 30 bilhões em dívidas vencendo em 2015 e um plano de investimentos de R$ 100 bilhões. Seu caixa em setembro era de R$ 62 bilhões. A Petrobrás precisa publicar o balanço anual até 30 de junho, que dependerá do resultado das investigações internas que estão sendo feitas. A auditoria só dará seu aval após essa apuração.

Se não publicar o balanço, terá de pagar antecipadamente US$ 50 bilhões em dívidas, além das que já venceriam em 2015. O HSBC estima que a empresa ficará sem caixa no quarto trimestre de 2015. / Colaboraram Aline Bronzati e Altamiro Silva Junior, com Dow Jones Newswires

Graça é barreira de proteção para Dilma

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff vai resistir o quanto puder para manter no cargo a presidente da Petrobrás, Graça Foster, e a diretoria da empresa. Pelo menos, por enquanto.

Para o Planalto, é importante manter Graça Foster no cargo, como se fosse uma espécie de escudo na própria empresa, destinado a impedir que a crise saia de lá e invada o terceiro andar do Palácio do Planalto.
Dilma tem conversado com Graça, que já colocou à disposição seu cargo e os de toda a diretoria. A avaliação é que o grupo perdeu sustentação política e o afastamento ocorrerá, mais dia ou menos dia.

Porém, a presidente insiste: precisa deles para evitar que a crise transborde. Enquanto Graça e a diretoria estiverem em seus postos na Petrobrás, ainda que sob fogo cruzado, eles serão o alvo direto e imediato dos ataques e críticas. São, assim, a primeira linha de defesa de Dilma.

Há outro fator que pesa na permanência da atual diretoria. O governo quer ganhar tempo enquanto aguarda o envio do processo da delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, que está em prisão domiciliar, ao ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki. Isso porque não se sabe até onde chegam as denúncias e quem são os afetados.

Também não se sabe quem são os parlamentares envolvidos, o que também está atrasando a reforma ministerial. Por causa dessas incertezas, não há ainda a menor ideia de quem poderia suceder a Graça no comando daquela que já foi a maior e mais respeitada empresa do País e vê seu capital se desmanchar em denúncias dia a dia.

A presidente Dilma tem dito a seus auxiliares que mantém a confiança em Graça Foster e acredita que a executiva não tem nenhum envolvimento com as irregularidades. Os problemas - lembram auxiliares do Planalto, repassando responsabilidades para terceiros - ocorreram no tempo em que o presidente da empresa era o petista José Sérgio Gabrielli. Estranhamente, dizem, ele tem sido poupado na investigação.

Ontem pela manhã a presidente se reuniu no Palácio da Alvorada com os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, da Justiça, José Eduardo Cardozo e da Secretaria de Relações Internacionais, Ricardo Berzoini para discutir, entre outros temas, os estragos da crise da Petrobrás no governo. Há um clima de apreensão em Brasília e uma preocupação com a crítica situação econômica e política da empresa, que está sendo cada dia mais afetada pelas denúncias.

Outra preocupação é com a chegada da ex-gerente executiva da Diretoria de Refino e Abastecimento da empresa Venina Velosa da Fonseca. Ela desembarca no Brasil na sexta-feira e, de acordo com informações que circulavam no Planalto, teria mais munição contra a direção da Petrobrás.

Dilma resiste, mas demissão de Graça já é vista como certa

• Presidente da estatal cogitou deixar o cargo para viabilizar balanço

Alexandre Rodrigues e Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA - Em meio a uma série de denúncias de corrupção na Petrobras, a presidente Dilma Rousseff resiste em demitir Graça Foster da presidência da estatal. No entanto, mesmo auxiliares próximos de Dilma já admitem que a saída de Graça da Petrobras é uma questão de tempo, apesar da vontade da presidente de poupá-la. O prazo para isso acontecer, dizem governistas, é a provável perda do grau de investimento da estatal nas próximas avaliações de agências de classificação de risco.]

- O tempo de Graça já acabou e ela própria percebeu isso. A diretoria da Petrobras não tem mais credibilidade com o mercado. A presidente pode estar conseguindo mantê-la apesar dos problemas políticos, mas, com os desdobramentos econômicos que ainda virão pela frente, será difícil - disse uma fonte do Planalto.

A avaliação no governo é que, além da relação de amizade e de lealdade, Dilma não quer tirá-la da presidência porque Graça serve como um escudo para o governo. Se Graça sair, a análise é de que tudo o que for relacionado com problemas de corrupção e má gestão na empresa cairá, automaticamente, no colo de Dilma.

- A presidente vai resistir o quanto puder - disse uma fonte do Planalto.

Cargo à disposição
Por trás da resistência, há a convicção de Dilma de que Graça é competente e fez todas as mudanças necessárias nas diretorias da estatal após descobrir o esquema de propinas.

Graça colocou o seu cargo à disposição do Conselho de Administração da estatal durante a reunião da última sexta-feira que decidiu, mais uma vez, pelo adiamento da divulgação do balanço financeiro da estatal, segundo informou ao GLOBO uma fonte que estava presente.

As demonstrações financeiras do terceiro trimestre estão atrasadas desde novembro, quando a empresa de auditoria PwC, contratada para analisar as contas da estatal, recusou-se a assinar o balanço. Esse é hoje o principal problema de Graça para estancar o derretimento das ações da empresa.

A empresa de auditoria já havia recomendado o afastamento de Sérgio Machado, presidente da Transpetro, subsidiária de logística da Petrobras, por causa da denúncia de que teria entregue propina nas mãos do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, que foi preso e aderiu à delação premiada. Machado pediu uma licença de trinta dias, renovada por mais um mês, mas, mesmo assim, a PwC manteve a resistência em assinar o balanço.

Apesar de Graça ter se mostrado disposta ao sacrifício, o conselho não tomou decisão alguma porque os auditores sinalizaram que a troca da diretoria não seria suficiente para mudar sua posição. A principal dificuldade da PwC é a adequação dos registros contábeis aos investimentos superfaturados feitos pela companhia, descobertos pela Lava-Jato. A PwC teme ser responsabilizada pelas autoridades americanas que investigam a estatal.

Dúvidas sobre Venina
Foi nesse contexto que, durante a reunião, Graça cogitou deixar o cargo, assim como toda a sua diretoria. Ela não relacionou essa possibilidade às denúncias da ex-gerente Venina Velosa da Fonseca, que diz tê-la alertado sobre desvios de recursos na área de Abastecimento ainda antes da Lava-Jato, desencadeada em março deste ano.

A presidente da Petrobras mencionou Venina rapidamente, dando a entender que a ex-gerente não é confiável. O principal argumento foi a investigação interna sobre a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que apontou a responsabilidade de Venina no que a estatal chama de "não conformidades" detectadas. Foi por isso Venina perdeu o cargo de diretora-presidente da subsidiária da Petrobras em Cingapura, no último dia 19 de novembro. Na semana passada, a estatal afirmou que, Venina "ameaçou seus superiores de divulgar supostas irregularidades caso não fosse mantida na função gerencial".

- Quando a investigação interna sobre os contratos da Refinaria Abreu e Lima foi apresentada pela diretoria ao conselho, Venina apareceu do começo ao fim, envolvida até a raiz do cabelo - disse a fonte.

Na reunião do conselho, ainda segundo essa testemunha, Graça admitiu que recebeu "três ou quatro e-mails" de Venina, mas não os respondeu. Um deles teria sido no dia de seu aniversário, ainda antes de se tornar presidente da Petrobras. De fato, Venina alega ter alertado Graça sobre contratos superfaturados na diretoria de Abastecimento quando a atual presidente ainda era diretora de Gás e Energia. Graça ocupou esse cargo entre 2007 e 2012, quando foi indicada por Dilma para substituir o então presidente José Sérgio Gabrielli. A Petrobras não se pronunciou sobre a reunião.

Segundo um executivo da estatal, Venina foi a principal auxiliar de Costa entre 2005 e 2009, mas teria tentado se afastar dele ao ver que Graça tinha mais chances de presidir a estatal se Dilma se tornasse presidente. Como gerente executiva da área corporativa do Abastecimento, Venina tinha ingerência sobre todas as decisões relativas a contratos e aditivos da diretoria.

Outra fonte diz que Venina poderia não ter sabido do que Costa fazia porque ele era conhecido por fazer reuniões "teatrais" com empreiteiros. Para essa fonte, Graça teria interesse em desqualificar Venina para invalidar suas denúncias.

Dilma a Kátia: 'estaremos mais próximas'

• Presidente sinaliza que senadora será nova Ministra da Agricultura, apesar de protestos de Sem-Terra

Simone Iglesias e Demétrio Weber – O Globo

BRASÍLIA - Apesar dos intensos protestos de movimentos sociais, que chegaram ontem a invadir a sede da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a presidente Dilma Rousseff fez ontem a primeira sinalização pública de que está inabalável na decisão de nomear Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura. Dilma participou na noite de ontem de cerimônia de recondução de Kátia para um terceiro mandato na presidência da CNA e, em meio a uma troca de elogios, disse que elas estarão "mais próximas do que nunca" nos próximos quatro anos.

- Hoje, Kátia Abreu, quero lhe dizer que nossa parceria está apenas começando. Temos quatro anos pela frente. Quero dar os parabéns à minha amiga por todas as realizações passadas e tenho certeza por todas as realizações futuras. Desejo grandes conquistas para o agronegócio e tenho certeza que vamos caminhar juntas e estaremos muito próximas nesses quatro anos, mais próximas do que nunca - afirmou Dilma em seu discurso.

A presidente fez afagos na sua futura ministra, dizendo que ela é motivo de orgulho para o país:

- Kátia orgulha as mulheres do nosso país pelas convicções firmes, é uma lutadora incansável por um segmento que é muito importante para o nosso país.

Senadora: presidente entende agronegócio
Kátia Abreu deverá se licenciar da CNA nos próximos dias, quando for oficializada ministra. Numa resposta às críticas que vem sofrendo de vários setores pela indicação de Kátia para o ministério, Dilma afirmou que não pode discriminar um segmento importante para o país.

- Sem considerar as diferenças políticas e ideológicas, é também a bandeira de um governo que não pode discriminar quem gera alimentos para um Brasil, sem medo de errar, que é um dos fatores de prosperidade e que está aqui representado pelos produtores da CNA, os pequenos e os médios produtores e os que lutam pela terra.

Kátia também fez vários afagos à presidente.
- A presidente Dilma foi a primeira chefe de governo a se dispor a entender uma agenda tão complexa como a do agronegócio. Apoiou o código florestal, uma luta de mais de 15 anos, apoiou a concessão da exploração privada dos portos. Muito foi feito e muito temos a fazer - afirmou a provável futura ministra.

Pela manhã, horas antes da posse de Kátia, mais de 200 sem-terra invadiram a sede da CNA, onde ocorreu a cerimônia, para protestar contra a nomeação. Eles deixaram o prédio por volta das 16h30. A manifestação foi organizada pela Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL) e Movimento Brasileiro dos Sem-Terras (MBST), duas dissidências do Movimento dos Sem-Terra (MST). Em seu discurso, Kátia repudiou a invasão do prédio.

- O Brasil vive um momento de avanços em que não se pode conviver com a bitola estreita das ideologias. Grupos de esquerda ou direta hoje, à margem da lei, invadiram este prédio - disse a futura ministra.

O protesto da FNL e do MBST ocorreu no mesmo dia em que dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) foram recebidos por Dilma no Palácio do Planalto. Assim como os manifestantes que ocuparam a CNA, os representantes do MST criticaram a nomeação de Kátia.

- Colocamos para a presidente Dilma que a nomeação de Kátia Abreu é uma simbologia muito ruim para aquilo que foram as eleições nas ruas, onde os movimentos sociais garantiram a vitória da presidente. Kátia Abreu representa o agronegócio, o atraso, o trabalho escravo e, principalmente, no seu estado, a grilagem de terra. Agora, cabe à presidente Dilma nomeá-la ou não. Nós demos o nosso recado - afirmou o coordenador-geral do MST, Alexandre Conceição, ao sair do Planalto.

Na ocupação da CNA, ocorreu um fato curioso: apesar de protestarem contra a senadora, os dissidentes do MST pediram ajuda à CNA para conseguir marcar uma reunião com Dilma. Eles decidiram deixar o local após conseguirem ser recebidos por representantes do governo na sede nacional do Incra.

Presidente e vice discutem tamanho do PMDB no governo

• Dilma e Temer preparamreunião para pactuar a participação do aliadodurante o segundo mandato da petista

- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer deverão ter um encontro hoje para fechar o espaço do PMDB no governo, a partir de 2015. O partido de Temer controla hoje cinco ministérios, mas quer ampliar o número de cadeiras para seis, sendo três indicadas pela bancada na Câmara e outras três pelo Senado. Até ontem, Dilma resistia a essa fórmula, mas tenta construir um acordo porque, após o escândalo de corrupção na Petrobrás, sabe que precisará cada vez mais do aliado no Congresso.

Auxiliares da presidente disseram ontem que a composição da equipe do segundo mandato deve ser anunciada até o fim desta semana. A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) tomou posse ontem na presidência da Confederação Nacional de Agricultura (CNA) e vai se licenciar do cargo para assumir o Ministério da Agricultura.

Nenhuma das alas do PMDB, porém, considera Kátia uma ministra do partido, mas, sim, da "cota pessoal" de Dilma. Motivo: oriunda do DEM, com passagem pelo PSD, a senadora é cristã nova nas fileiras peemedebistas.

O PMDB está indicando os senadores Eduardo Braga (AM)para o Ministério de Minas e Energia e Eunício Oliveira (CE) para Integração Nacional.

Com Kátia Abreu na Agricultura seriam três os representantes do partido no Senado. O presidente da Câmara,e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), engrossa a lista apresentada pelo partido ao Planalto, mas o problema é que ele não quer comandar Previdência Social, hoje dirigida por seu primo, Garibaldi Alves, mas, sim, a pasta de Integração Nacional - objeto do desejo do correligionário Eunício e também do Pros de Cid Gomes.

O ministro da Aviação Civil, Moreira Franco (PMDB), deve continuar no mesmo posto e uma ala quer emplacar o deputado Eliseu Padilha (RS) no Ministério do Turismo. Moreira Franco e Padilha são nomes defendidos por Temer.

O vice-presidente acredita que pode fechar um acordo com o PT para o comando da Câmara dos Deputados. O candidato do PMDB é o deputado Eduardo Cunha (RJ), líder do partido na Câmara e desafeto do Planalto.

No fim da tarde de ontem, Temer se reuniu com o deputado Arlindo Chinaglia (SP), líder do governo e pré-candidato do PT à presidência da Câmara.

A proposta em negociação prevê que o PT apoie Cunha, tido como imbatível, e fique agora com a vaga de vice-presidente da Câmara. Por essa equação política, o PMDB daria aval a um candidato do PT em 2017.

Seria, mais uma vez, um rodízio entre os dois partidos. A eleição que renovará o comando da Câmara e do Senado ocorrerá em fevereiro de 2015.

Após se reunirem ontem com Dilma, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o titular da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, também conversaram com Temer sobre a formação da equipe do segundo mandato, mas o martelo somente será batido hoje.

Em reunião com Dilma, MST critica indicação de Kátia Abreu

• À noite, em evento na CNA, presidente elogiou a peemedebista

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em encontro com a presidente Dilma nesta segunda-feira (15), representantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) criticaram a indicação da senadora Kátia Abreu (PMDB), colunista da Folha, para o Ministério da Agricultura.

"Kátia Abreu representa o agronegócio, o atraso, o trabalho escravo. E representa, em seu Estado, a grilagem de terra", afirmou Alexandre Conceição, coordenador nacional do movimento.

O MST pediu o assentamento de 120 mil famílias até julho de 2015 e um plano de metas para assentar 50 mil famílias por ano até 2018. Segundo ele, Dilma comprometeu-se com o plano de metas. Nesta segunda, manifestantes contrários à indicação de Kátia Abreu invadiram a sede da CNA em Brasília.

À noite, a senadora recebeu afagos e elogios da presidente durante a cerimônia de posse da peemedebista como presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), em Brasília. Sem confirmar o nome de Kátia para o ministério, Dilma afirmou que elas estarão mais "próximas do que nunca" em seu segundo mandato na presidência.

No discurso, Dilma chamou a peemedebista de "mulher que honra o Brasil".

Sindicatos querem que Petrobras pague salários na Justiça

• Centrais negociam com o governo depósito para terceirizados e estimam que 12 mil foram demitidos

Danilo Fariello – O Globo

BRASÍLIA - As centrais sindicais propuseram ao governo ontem um novo instrumento jurídico para que a Petrobras assegure salários e indenizações de funcionários de empresas fornecedoras da estatal que deixaram de honrar compromissos trabalhistas.

Os sindicatos sugerem que a Petrobras deposite diretamente o dinheiro referente ao pagamento dos trabalhadores em uma conta "protegida", administrada pelo Ministério Público ou pela Justiça regional, que assegure os salários e as indenizações em casos de demissão. Há, porém, dificuldades jurídicas, uma vez que a Petrobras teria de reconhecer ser responsável solidária por esses trabalhadores. O ministro Luis Inácio Adams, da AGU, ficou responsável por intermediar as discussões com a Petrobras.

O governo vê a situação com preocupação, uma vez que, na semana passada, quando houve contato direto das centrais com a presidente Dilma Rousseff, eram seis mil trabalhadores demitidos ou em processo de desligamento e agora já seriam até 12 mil. O universo de terceirizados da Petrobras chega a 300 mil no país, segundo as centrais, daí a preocupação do governo com um acordo em nível nacional.

- Estão acontecendo demissões por falta de pagamento da Petrobras aos prestadores de serviços em refinarias, estaleiros e canteiros de obras. Estimamos entre dez mil e 12 mil trabalhadores entre demitidos ou em processo de demissão. Eles estão em Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul - disse Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

O crescimento do total de trabalhadores em risco tem a ver com o término ou rompimento de contratos da Petrobras com fornecedores, como no caso do consórcio que construía uma fábrica de fertilizantes em Três Lagoas (MS). Antes da crise na estatal, o governo já via na desmobilização de obras gigantes, como a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, um risco social, uma vez que não há alternativas de trabalho para os operários que migraram para essas regiões.

Apoio de bancos públicos
O governo quer um acordo em nível nacional, que não possa ser questionado pelas partes, assegurando a renda imediata dos tralhadores. Estiveram na Casa Civil reunidos com as centrais, representantes do Ministério da Justiça, da Advocacia-Geral da União, Controladoria-Geral da União e Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

As centrais terão reunião hoje com representantes do Ministério Público do Trabalho para ter certeza de que os procuradores não questionariam o acordo. O governo busca um meio de a Petrobras assegurar salários imediatamente e, no futuro, fazer um acerto de contas com fornecedores, debitando o valor adiantado dos pagamentos pelos serviços. Na reunião, discutiu-se até a possibilidade de bancos públicos financiarem esse processo.

Estatal assegura que pagará trabalhadores

Marcelo Monteiro – Zero Hora (RS)

Os líderes políticos e sindicalistas gaúchos que estiveram ontem no Rio de Janeiro, em reunião com a cúpula da Petrobras, voltaram com esperanças. Além de assegurar o pagamento dos valores devidos pela Iesa Óleo e Gás aos 1,1 mil trabalhadores demitidos em outubro, em Charquedas, a presidente da estatal, Graça Foster, garantiu que pretende manter os contratos em andamento no Estado, alguns dos quais envolvem empresas investigadas na Operação Lava-Jato.

Entre os representantes de Rio Grande e São José do Norte, no sul do Estado, havia o temor de que a companhia interrompesse os empreendimentos nos dois municípios, o que resultaria em demissões em massa, como ocorreu em Charqueadas, quando do rompimento do contrato da estatal com a Iesa, e em outros polos navais do país. Graça Foster, por outro lado, não comprometeu- se com a manutenção dos investimentos em Charqueadas – a ideia da comitiva gaúcha era de que a Petrobras mantivesse o polo naval do Jacuí, contratando empresas da região para ocupar a área da Iesa e executando o contrato inicial de US$ 800 milhões.

– Pagando os trabalhadores, se resolve um problema, mas fica em aberto a manutenção do polo de Charqueadas. De toda forma, eles (diretores da Petrobras) demonstraram bastante interesse em resolver a situação – afirma o vice-presidente da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul, Ênio Santos.

No fim da tarde, em outra frente de pressão para o pagamento dos direitos dos demitidos nos polos navais, representantes das maiores centrais sindicais do país reuniram-se com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, no Palácio do Planalto. Da mesma forma que o encontro da manhã, no Rio, o objetivo era buscar um acordo para que a Petrobras pague os direitos trabalhistas devidos pelas empresas terceirizadas. Ouviram como resposta que o governo buscará solução jurídica para a solicitação.

A ideia era que a estatal bancasse os salários e as despesas rescisórias como uma espécie de adiantamento, podendo, posteriormente, descontar o montante dos valores a pagar às empresas. Segundo os sindicatos, o universo de terceirizados da Petrobras é de cerca de 300 mil, e a estimativa é de que, após a Lava-Jato, mais de 10 mil trabalhadores tenham sido dispensados em Pernambuco, no Rio Grande do Sul, na Bahia e no Rio de Janeiro.

PMDB pretende levar reforma política ao Congresso em março

• Lideranças do partido debaterão hoje propostas sobre o tema com setores da sociedade civil em seminário no RJ

Eduardo Miranda – Brasil Econômico

O vice-presidente da República, Michel Temer, abre hoje um seminário do PMDB no Rio de Janeiro que discutirá propostas para a reforma política que deve ser levada ao Congresso no ano que vem. A expectativa é que o presidente do partido aborde pontos como a reeleição, tema sobre o qual ele nunca se manifestou em todas os seus discursos sobre aquela que vem sendo chamada de "reforma das reformas". Temer não adianta sua posição, mas afirma que a reforma é urgente. "Ela é fundamental. Por isso, os integrantes do PMDB esperamos apresentar uma proposta de reforma já no início dos trabalhos do Legislativo, no ano que vem. É também por esse motivo que estamos discutindo amplamente esse tema em eventos como o de hoje. Essa discussão é muito importante para o país. Queremos levar nossas ideias ao Congresso e que os demais parlamentares de todos os partidos se juntem a esse debate", disse Temer, que é crítico em relação ao número de partidos com representação no Congresso —hoje, são 28 legendas com cadeiras.

Assim como o vice-presidente da República, o deputado federal Eliseu Padilha (PMDB-RS), presidente da Fundação Ulysses Guimarães, que organiza o seminário e o diálogo de partidários com a sociedade, diz que o PMDB tem especial predileção sobre a cláusula de desempenho. A medida, que deve ser discutida hoje com acadêmicos e especialistas, visa a fortalecer os partidos, no argumento do parlamentar. "Não vejo condições de um Congresso funcionando com quase 40 ideologias diferentes. É preciso estabelecer regras de desempenho mínimo dos partidos nas eleições para se ter acesso ao Fundo Partidário e à propaganda eleitoral gratuita", defende Padilha, que é contrário à reeleição: "Nossa bancada é contra, tanto no Senado quanto na Câmara. Mas há intelectuais dizendo que ela é um ganho.

Há os dois lados, e eles serão discutidos hoje", afirma o parlamentar, argumentando em favor da desincompatibilização de cargos no Executivo, em caso de manutenção da reeleição. O presidente da Fundação espera, ainda, que o seminário produza propostas realistas para que elas consigam ganhar fôlego no Congresso. Por isso, ele pondera sobre os ataques ao financiamento de campanha por pessoas jurídicas (empresas). "Temos que ter a medida certa daquilo que terá maioria no Congresso. Por isso, nossa proposta inicial é a de financiamento misto, com doação pública e privada, dividida entre pessoas físicas e empresas. Mas esses pontos ainda têm que ser levados a discussão. Sobretudo o estabelecimento de um teto para o financiamento de campanha por pessoas jurídicas", diz Padilha.

A diretriz do partido, que deve ser reiterada hoje, é antecipada também pelo cientista político Murillo de Aragão, que comporá a mesa sobre financiamento e teto de despesas. "O objetivo do seminário é colher as principais opiniões de vários segmentos da sociedade. Há um consenso sobre a necessidade da reforma. Ainda não há uma posição cristalizada no PMDB sobre o financiamento de campanha, mas sabemos que a modalidade exclusivamente pública não é bem aceita dentro do PMDB. Há diversas vertentes dentro desse debate. A posição do presidente Michel Temer é que determinada empresa deve doar a apenas um candidato nas majoritárias, e não fazer doações a candidatos diferentes que estejam concorrendo ao mesmo cargo", exemplifica Aragão.

O PMDB se coloca claramente contrário ao plebiscito, proposta da presidenta Dilma Rousseff e que tem por definição a consulta à população sobre os tópicos da reforma que deveriam ser levados à votação no Congresso. No entanto, o partido promete levar em consideração a opinião da população e dos especialistas. Por isso, o PMDB pretende convocar a população a responder a um questionário disponibilizado no site oficial do partido sobre pontos da reforma política. As 19 perguntas são divididas em financiamento de campanhas eleitorais e despesas de campanha, sistema eleitoral e a maneira pela qual a reforma deve passar a vigorar (já para a próxima eleição, de maneira escalonada ou após referendo junto ao eleitorado.

Simpatizantes buscam renovação do PSDB

Fernando Taquari – Valor Econômico

SÃO PAULO - Insatisfeitos com os rumos do país no governo Dilma Rousseff (PT), um grupo de simpatizantes do PSDB se articula para propor um ato de filiação coletiva a partir do primeiro semestre de 2015 com base numa carta de princípios. Intitulado como "Onda Azul", o movimento pretende defender o legado do partido, como a estabilidade da moeda e a paternidade de programas sociais, e propor cinco novas diretrizes internas com vistas às eleições presidenciais de 2018. As mudanças representariam uma espécie de refundação do PSDB em uma tentativa de resgatar e canalizar para o partido "o sentimento de mudança", manifestado pela população durante a disputa eleitoral deste ano e nos protestos de junho de 2013.

"Não será uma filiação gratuita. Exigimos contrapartidas, como a instituição de prévias e eleições diretas para os diretórios. Isso no futuro vai ajudar o PSDB a trazer as ruas para a política institucional e ao mesmo tempo aprofundar a presença do partido nas ruas", diz Humberto Laudares, 35, consultor de políticas públicas e professor do Centro de Liderança Pública (CLP), uma organização sem fins lucrativos e que tem como mantenedores o Banco Itaú-Unibanco e os economistas Cláudio Haddad (presidente do Insper), Luis Stuhlberger (diretor-geral e co-fundador da Credit Suisse Hedging-Griffo) e Armínio Fraga, responsável pelo programa econômico de Aécio Neves (PSDB-MG) na eleição de 2014 ao Palácio do Planalto.

O movimento, segundo Laudares, reúne pessoas de diferentes segmentos da sociedade entre 20 e 40 anos, em oito Estados (RS, SC, SP, RJ, MG, BA, CE, e DF). Todos os trabalhos desenvolvidos pelo grupo são feitos de forma voluntária. "Somos mais do que uma lista de simpatizantes de um partido ou de um modelo de gestão. Há marinistas e ex-petistas conosco. A diversidade é fundamental para combater intolerâncias da forma mais aberta possível", afirma o consultor ao garantir que o "Onda Azul" conta com o apoio de líderes do movimento social, negro, indígena, feminista e ambiental, além de advogados, economistas e cientistas políticos, a grande maioria sem histórico de filiação partidária.

"Não há nomes muito conhecidos. A ideia é essa, que sejam pessoas comuns, que estão insatisfeitas com o governo, mas temiam entrar na política". A aproximação com os movimentos sociais e a criação de novas diretrizes internas teriam como objetivo apagar a imagem do PSDB de um partido elitista e fechado, como costuma explorar o PT nas eleições. Não foi feito até aqui uma campanha de mobilização pela filiação. O grupo, contudo, calcula ter o compromisso de 150 pessoas neste momento. Isso sem contar o potencial de crescimento ao contabilizar os mais de mil seguidores no Facebook.

Para atrair novos integrantes ao partido, Laudares conta com a experiência e a rede de contatos que estabeleceu ao ser um dos fundadores do movimento "Vem pra Rua", que ganhou corpo nas manifestações de junho do ano passado e nas eleições de 2014. O "Onda Azul", por outro lado, procura se dissociar de militantes radicais que, em passeatas recentes, pregaram o impeachment da presidente Dilma e a volta ao Poder dos militares. "Não queremos fazer uma oposição udenista. Não acreditamos no dualismo como meio de fazer política", ressalta Laudares, acrescentando que votou no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 2002.

Natural de Alfenas (MG), o consultor já trabalhou com os tucanos entre 2004 e 2007, quando foi assessor na Secretaria Estadual de Planejamento de São Paulo. De lá para cá acumulou passagens pelo Banco Mundial e o Fundo Global de Luta contra a Aids, Tuberculose e Malária, em Genebra, na Suíça. Em 2014 voltou ao Brasil para uma breve passagem na Secretaria Estadual de Fazenda ao lado de Andrea Calabi. Entre os seus principais colaboradores no movimento estão Eduardo Wolf, jornalista, filósofo e professor de ensino médio, Eduardo Andrade, empresário do ramo imobiliário e Felipe Salto, economista da consultoria Tendências Integrada.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador eleito José Serra, dois dos maiores expoentes do PSDB, já deram aval para o grupo em reuniões recentes. Aécio e o governador paulista, Geraldo Alckmin, devem se encontrar com os líderes do movimento nas próximas semanas. As propostas do "Onda Azul" estão em linha com os pedidos de renovação do partido por FHC, mas vão de encontro com interesses das principais lideranças tucanas, contrárias a instituição de prévias para a escolha de candidatos e a eleição direta para os diretórios municipais e estaduais. A gestão partidária, conforme a carta de princípios, ficaria aos cuidados de executivos sem cargos públicos eletivos.

Além disso, defendem a criação de uma ouvidoria nacional, sob a responsabilidade de um ouvidor sem vínculo com o partido e eleito para quatro anos, sem direito a reeleição, e a adoção de estratégias para atrair movimentos sociais. Em outra frente, propõem mudanças no Instituto Teotônio Vilela (ITV), a fim de torná-lo mais técnico na disseminação de conteúdo programático, o que pode servir para municiar candidatos tucanos. "É importante o partido ter marcas de gestão municipal e estadual comuns nos governos tucanos, além de coerência entre esferas de governo", diz Laudares.

Um outro grupo de simpatizantes ao PSDB, composto por economistas e cientistas políticos, alguns ligados ao "Onda Azul", se organiza para criar um instituto que atuaria paralelamente ao ITV na criação de conteúdo. "A união dessas duas coisas representaria o embrião de um novo PSDB", afirma Salto. Os dois grupos, no entanto, evitam manifestações de apoio a possíveis pré-candidatos do PSDB à Presidência em 2018.