segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques

Renovar os reformismos e abrir os sistemas políticos à participação dos que “perdem” com a globalização, fortalecendo os mecanismos indispensáveis da democracia representativa, é um bom programa para uma esquerda racional na Europa ou nas Américas. Longe de estreitezas paroquiais, ela poderia contribuir para a criação de um “cosmopolitismo de novo tipo”, a fim de regular democraticamente as forças econômicas e governar o impacto social das mudanças tecnológicas, que ora parecem caminhar com as próprias pernas, acima do entendimento e das necessidades das pessoas comuns. E a desorientação que daí decorre nunca pressagia nada de bom.
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* Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das ‘Obras’ de Gramsci no Brasil. ‘Democracia e populismo’, O Estado de S. Paulo, 16/10/2016

Troca no comando do PT ameaça rachar o partido

• Data e formato da escolha da nova direção partidária contrapõem grupo formado por correntes de esquerda e ala majoritária; dirigentes falam em debandada

Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

Sem acordo com a ala majoritária sobre a forma de escolha da nova direção e, principalmente, sobre o rumo que o PT deve seguir para tentar uma reconstrução, dirigentes da esquerda petista já admitem um racha no partido.

A crise na legenda ficou exposta na sexta-feira, quando o Muda PT, grupo que reúne as cinco maiores correntes de esquerda do partido, divulgou um documento no qual anuncia a realização de uma série de plenárias em algumas das principais cidades do País.

O objetivo dos encontros é mobilizar militantes descontentes com o rumo do partido para pressionar a corrente majoritária, Construindo um Novo Brasil (CNB), a não adiar para 2017 a renovação da direção petista.

Vice-presidente do PSDB diz que Executiva é ‘cartorial’

• 'Num ano totalmente conturbado como esse, que teve até impeachment, nós só nos reunimos uma única vez', critica Alberto Goldman

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em meio às discussões sobre a sucessão da Executiva Nacional do PSDB, o vice-presidente do partido, Alberto Goldman, não poupou críticas à cúpula a legenda. As eleições internas do PSDB estão previstas para ocorrer em maio de 2017 e sua nova composição deverá ditar os rumos da sigla na disputa presidencial de 2018.

“A Executiva tem se mostrado um órgão cartorial. Num ano totalmente conturbado como esse, que teve até impeachment, nós só nos reunimos uma única vez para decidir se iríamos apoiar ou não o governo Temer. Isso não é nada”, disse Goldman.

A atual direção, comandada pelo senador Aécio Neves (MG), foi reeleita em julho de 2015, oito meses após o tucano ser derrotado na disputa presidencial de 2014 para a petista Dilma Rousseff. Na ocasião, não houve disputa e o senador foi eleito por aclamação.

Fundo Partidário. Além da falta de encontros para discutir os rumos para a legenda, Goldman também questionou a “ausência de critérios” dos repasses do Fundo Partidário feitos aos candidatos que disputaram as eleições municipais deste ano.

“O critério da distribuição do Fundo Partidário para as campanhas não foi informado como foi feito. Depois deverá ser feita uma prestação de contas, como determina a Lei Eleitoral, mas isso só depois que o dinheiro já foi repassado. Vão surgir questões de por que esse recebeu mais do que aquele?”

De acordo com integrantes da Executiva, no primeiro turno, o PSDB desembolsou, com recursos oriundos do Fundo Partidário, cerca de R$ 30 milhões. A previsão é de que a legenda repasse cerca de R$ 2 milhões para os candidatos que disputam uma vaga no segundo turno, no próximo dia 30.

Segundo apurou o Estado, o valor representa cerca de R$ 100 mil para cada um dos 19 candidato tucanos que estarão nas urnas no próximo dia 30. Aécio, presidente nacional do PSDB, foi procurado, mas até a conclusão desta edição não houve resposta às críticas feitas pelo vice-presidente da legenda.

‘Ainda não sei se serei candidata em 2018’, diz Marina

Entrevista. Marina Silva, ex-senadora

Andreza Matais – O Estado de S. Paulo

Depois de disputar duas eleições presidenciais com votação expressiva, a ex-senadora Marina Silva surpreende ao anunciar que ainda não decidiu se vai concorrer pela terceira vez, em 2018. Líder inconteste da Rede, Marina tem preferido priorizar a consolidação de seu partido, fundado há um ano. Apesar da minguada votação nas duas maiores cidades do País (São Paulo e Rio), Marina defende o desempenho do partido nas eleições municipais. “Um partido não se constrói da noite para o dia. Temos apenas um ano de vida”, explica.

Resultado da eleição
A Rede elegeu cinco prefeituras e está no segundo turno em várias cidades. Obviamente, nossa votação em São Paulo e no Rio não foi a que desejamos, mas um partido não se constrói da noite para o dia. Só temos um ano de vida.

Polarização
Nunca a polarização saiu tão fortalecida como agora. Em todos os lugares. Talvez, daqui a pouco, tenhamos polarização entre PSDB e PMDB.

De olho no Planalto, aliados defendem que Alckmin assuma presidência do PSDB em 2017

Por Painel – Folha de S. Paulo

Café com leite Tucanos e caciques de outras siglas passaram a defender que Geraldo Alckmin (SP) reivindique o direito de presidir o PSDB a partir do ano quem, quando o senador Aécio Neves (MG) conclui seu mandato à frente do partido. Os entusiastas da ideia afirmam que o mineiro não teria como negar apoio ao colega. Até agora, falava-se apenas em levar à direção um nome ligado ao paulista. Segundo relatos, o governador resiste à proposta. Argumenta que seria difícil conciliar as duas funções.

Voo solo Para alckmistas, o comando do PSDB ajudaria o tucano a ganhar protagonismo fora de SP, fortalecendo seu propósito de se tornar candidato à Presidência da República em 2018. Falta, porém, combinar com os russos.

Reeleição foi conquistada por 46,7% dos quase 3 mil prefeitos candidatos

Por Ricardo Mendonça – Valor Econômico

SÃO PAULO - Dados inéditos sobre reeleição de prefeitos preparados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a pedido do Valor mostram que quase metade dos mandatários que tentaram recondução ao cargo obtiveram sucesso em 2016.

Neste ano foram 2.944 prefeitos candidatos à renovação do mandato, 1.374 deles reeleitos no primeiro turno, o que resulta numa taxa de 46,7% de sucesso eleitoral. Outros dez ainda tentam reeleição em disputas que foram para o segundo turno. Se todos vencerem, a taxa sobe para 47%.

Sete partidos conseguiram eleger ao menos metade de seus candidatos à reeleição. O campeão foi o pequeno Solidariedade, que tinha apenas 13 prefeitos na disputa e reelegeu oito (61,5% de sucesso). Entre os grandes, os melhores desempenhos foram do PSDB, com 52,6% de seus candidatos à reeleição reconduzidos ao cargo, e o PSB, com 51% (ver gráfico ao lado).

Cresce eleitorado governado pelo PSDB-SP

Por Fernando Taquari – Valor Econômico

SÃO PAULO - A eleição no primeiro turno de João Doria na capital e as perspectivas de vitória do PSDB em cinco cidades grandes de São Paulo no segundo turno devem assegurar aos tucanos o direito de administrar mais da metade do eleitorado no Estado (51,7%) a partir de 2017 e superar a marca de 2004 (49,5%). Neste cenário, serão 16,9 milhões de eleitores paulistas sob o comando do partido de um total de 32,6 milhões, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O avanço dos tucanos pode ser medido pelo tamanho das prefeituras. Dos 15 maiores municípios de São Paulo, oito tendem a ficar nas mãos do PSDB. Para efeito de comparação, em 2012, o partido venceu apenas em duas destas cidades (Sorocaba e Santos). O desempenho eleitoral neste ano consolida o PSDB paulista como a maior força política da legenda e fortalece a pré-candidatura do governador Geraldo Alckmin à Presidência da República em 2018.

Analistas apostam em PIB maior, e Serra diz que BC já pode cortar juros

Ao participar da reunião do Brics, na Índia, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, disse que as condições atuais dão suporte para o BC cortar os juros. O Copom se reúne esta semana. O presidente Michel Temer destacou que o Brasil começa a entrar nos trilhos. Otimistas, analistas estão revisando para cima as projeções de crescimento da economia.

• Perspectiva de reformas elevam projeções à alta de 1,3% e queda de juro

Marcello Corrêa - O Globo

A perspectiva de reformas econômicas no Brasil fez surgir uma maré de otimismo entre analistas de mercado. Desde abril — quando foi aberto o processo de impeachment de Dilma Rousseff — as projeções para o crescimento do PIB em 2017 têm sido revisadas para cima constantemente. Passaram de alta de 0,3%, naquele mês, para expansão de 1,3%, segundo relatórios do boletim Focus.

Até agora, boa parte desse movimento foi impulsionado pela esperança de que o governo de Michel Temer tem mais capacidade de aprovar medidas de ajuste fiscal do que o de Dilma. Nesta semana, essa aposta em um futuro melhor será testada: o Comitê de Política Monetária (Copom) decidirá se começa, já a partir deste mês, um aguardado processo de corte de juros, ligado diretamente à expectativa de equilíbrio das contas públicas e que ganhou um impulso extra, após o corte de preços de combustíveis anunciado pela Petrobras na sexta-feira.

O início do alívio monetário é considerado por analistas o gatilho para um ciclo virtuoso na economia. Financiamentos menos salgados facilitariam a vida de investidores e empresários que, no fim das contas, voltarão a contratar. Hoje, o Brasil tem cerca de 12 milhões de desempregados e a indústria, primeiro setor a sentir mais fortemente os efeitos da crise, ainda patina.

Serra vê cenário favorável para a queda da taxa de juros no Brasil

• Em reunião do Brics, Temer diz que economia começa a entrar nos trilhos

Gabriela Valente - O Globo

GOA (INDIA) - Dias antes de o Comitê de Política Econômica do Banco Central (Copom) decidir o que fazer com os juros, que estão em 14,25% há mais de um ano, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, afirmou que as condições atuais dão suporte para haver corte de juros. Durante a cúpula dos Brics — grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — que terminou ontem na Índia, ao ser questionado se a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos poderia acelerar a redução dos juros, Serra disse que sim:

— Eu acho que cabe, sim, redução dos juros nos próximos meses. Vai acontecer isso, dada as condições atuais da redução da inflação — avaliou o ministro, lembrando que os preços estão desacelerando, com a gasolina esta semana.

Nobel reacende em nós aquilo que nos inspira e mobiliza – Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

O grande artista é aquele que sabe expressar aquilo que está dentro de nós e que, muitas vezes, nem sabemos nomear. Na literatura, na pintura, nas artes cênicas ou na música, a verdadeira arte dialoga, simultaneamente, com o seu tempo e com cada indivíduo. Ela pertence a todos, sem jamais deixar de ser um patrimônio único de cada pessoa.

É neste sentido que se projeta a obra de Bob Dylan. De um lado, a capacidade de traduzir para o coletivo o impacto e as incertezas de tempos de mudança. De outro, a conexão com os sentimentos mais íntimos de homens e mulheres do mundo todo. E tudo isso em forma de canções e letras inesquecíveis.

Sua Excelência, o povo! - Ricardo Noblat

- O Globo

“Quando a obra dos melhores chefes fica concluída, o povo diz: fomos nós que a fizemos”. Lao-Tsé, antigo filósofo chinês.

Na segunda-feira 20 de novembro, cinco dias depois do primeiro turno da eleição presidencial de 1989, Leonel Brizola, então ex-governador do Rio, convocou o deputado Miro Teixeira (PDT) para uma reunião no seu apartamento da Avenida Atlântica. “Você se dá bem com o Covas?”, perguntou Brizola. Miro respondeu que sim. “Tenho uma missão especial para você”, emendou Brizola. E disse qual era.

MÁRIO COVAS, SENADOR eleito pelo PMDB de São Paulo, fora candidato a presidente da República pelo recém-criado PSDB e ficara em quarto lugar. Por uma mísera diferença de 0,67% dos votos, Lula tirara a chance de Brizola de disputar com Fernando Collor (PRN) o segundo turno da eleição. Brizola estava certo de que Lula seria derrotado, como de fato foi.

Percepção e realidade - Denis Lerrer Rosenfield *

- O Estado de S. Paulo

• Nas redes sociais vigora a narrativa das ‘perdas socais’ e o governo não consegue contrapor-se

A imagem da herança recebida pelo governo Temer é de terra arrasada. Eis uma descrição precisa da realidade. Os pilares da economia construídos pelo governo Fernando Henrique e preservados no primeiro governo Lula foram destruídos. Não há Estado que possa sustentar-se sem fundamentos econômicos sólidos.

O PIB acumula queda de 7,5% em três anos, a inflação fugiu do controle na era petista, a responsabilidade fiscal foi literalmente para o espaço, estatais, como a Petrobrás, foram vítimas de saqueio, o Estado foi partidariamente apropriado e a corrupção tornou-se sistêmica e ideológica. É como se tudo valesse para que a hegemonia petista pudesse ser conservada.

O destino do governo Temer depende do PSDB - Marcos Nobre

- Valor Econômico

• Temer se equilibra entre Aécio e Alckmin

Perguntado no sábado sobre uma eventual aliança com o PSDB para as eleições de 2018, Michel Temer respondeu que tal possibilidade é "extremamente prematura porque essas coisas só serão cogitáveis no final do ano que vem". É certo que o primeiro horizonte para 2018 fica no final de 2017. O que não é exato é que o atual governo vá esperar até lá para começar a se mexer.

A vitória de João Doria em primeiro turno deu a largada oficial para as negociações da sucessão, mesmo com 57 cidades ainda por decidir seus destinos. A expressiva vitória do governador Geraldo Alckmin nas eleições municipais desencadeou a luta pelo controle do PSDB e, portanto, pela indicação do candidato presidencial em 2018. Aécio Neves detém hoje o controle do partido. Mas há duas eleições decisivas no horizonte próximo: para a presidência da Câmara, em fevereiro, e para a própria presidência do PSDB, que deve ocorrer até julho do próximo ano.

PEC 241: uma janela para o futuro - Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

Na última segunda-feira votamos, na Câmara dos Deputados, em primeiro turno, a Proposta de Emenda à Constituição 241/2016, que limita a expansão do gasto público pelos próximos 20 anos. Ainda teremos a votação em segundo turno no final de outubro e, em novembro, a votação no Senado.

A simples aprovação dessa medida gerará uma melhoria significativa das expectativas: a Bolsa, o câmbio e a taxa de juros devem reagir positivamente, favorecendo a retomada dos investimentos e a geração de empregos.

A agenda central da sociedade é a superação da maior recessão de nossa história, que tem no desemprego de 12 milhões de brasileiros sua face mais dramática. A aprovação da PEC 241 é só uma janela para o futuro. Depois, virão a inevitável reforma da Previdência, a modernização das regras que regem as relações de trabalho, a melhoria de nosso sistema tributário, a mudança necessária de nosso sistema político e eleitoral e a dinamização das parcerias com o setor privado. As mudanças na regra de exploração do pré-sal, recentemente aprovadas, já foram importante reforma microeconômica.

O novo eixo para 2018 - Vera Magalhães

- O Estado de S. Paulo

A conversa entre Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso teve um significado simbólico para além da discussão imediata sobre apoio às medidas do governo para a retomada do crescimento e o ajuste fiscal. O encontro entre os dois presidentes era para ter ocorrido antes, logo no início do mandato efetivo de Temer, mas foi adiado por sucessivas viagens do peemedebista.

O propósito maior da conversa é construir as bases para uma aliança mais duradoura, para até depois de 2018. De acordo com caciques tanto do PMDB quanto do PSDB, Temer está convencido de que o novo “eixo de estabilidade” política e econômica para o País tem os dois partidos como protagonistas.

O resultado das eleições municipais teria sido a comprovação dessa tese, de acordo com pessoas próximas ao presidente. Diante dos primeiros sinais de turbulência interna no PSDB para a definição do candidato a presidente daqui a dois anos, Temer chamou FHC para reiterar que os dois partidos devem estar juntos, independentemente de quem for o candidato.

Os tucanos esperam “gestos” de Temer para reafirmar a importância da aliança e o reconhecimento ao peso que o PSDB adquiriu com vitórias importantes nas eleições para as prefeituras. Um deles é o apoio a um nome do PSDB para a presidência da Câmara, considerado vital para dar “equilíbrio” às forças dentro da coalizão. Ciente do pleito, Temer tem enviado sinais de que pretende chancelar o nome – desde que as várias alas do PSDB se entendam e lancem um candidato de consenso.

Teto dos gastos públicos acaba com a era da fantasia - Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

Logo depois de ser aprovado em primeiro turno na Câmara dos Deputados, o teto dos gastos públicos foi alvo de nova onda de críticas, principalmente de defensores da saúde e educação, acuando mais uma vez o governo Temer.

A sensação é que, de repente, estava sendo revelado o lado perverso do mecanismo que limita o crescimento das despesas públicas à inflação do ano anterior. Seria mais uma invenção técnica e fria de economistas que não pensam no social.

Tal discurso é fácil de pegar. Afinal, ninguém pode ser a favor de corte de verbas em saúde e educação, num país com elevado deficit nessas áreas. Basta circular por hospitais e escolas públicas para checar a situação de emergência deles.

A desinflação agora é uma realidade - Luiz Carlos Mendonça de Barros

- Valor Econômico

• A inflação cedeu muito mais que a média dos analistas previa, como mostra a correção de 20 pontos nas expectativas

Demorou muito para acontecer, mas a desinflação é hoje uma realidade na economia brasileira. O gráfico ao lado, em que se coloca a taxa de variação trimestral do IPCA a cada mês no período 2015 e 2016, fala por si só. Mas apesar desta evidência, um grande número de analistas ainda resiste a aceitá-la. Outros, como dizia o frasista Leonel Brizola, estão costeando o alambrado e começando a trabalhar com um cenário normal de inflação para 2017 e adiante, apesar das ressalvas de sempre sobre os riscos do futuro.

Neste cabo de guerra entre economistas de diferentes escolas de pensamento no Brasil ficam claras duas posições divergentes: uma leitura em que o metabolismo da economia serve como a principal referência da inflação e outra, que vincula o futuro às expectativas racionais dos agentes econômicos, principalmente em relação à questão fiscal. Este é um conflito de ideias que ocorre também no conjunto das economias mais desenvolvidas e tem criado um ambiente altamente especulativo em mercados financeiros importantes.

Dylan e a eleição carioca - Nelson Motta

- O Globo

• Dylan se identificaria com Crivella, também cantor de gospel, ou Freixo, dos seus ideais sessentistas?

Quando Bob Dylan diz que “as pessoas não fazem o que acreditam, elas apenas fazem o que é conveniente, e depois se arrependem”, parece estar fazendo uma advertência aos eleitores cariocas.

A busca desesperada, principalmente pelos jovens, por lideranças que os guiem por causas que consideram nobres e justas, recebe um toque de Dylan: “Se você precisa de alguém para confiar, confie em você mesmo.”

Provável vitória de Crivella no Rio será um marco para movimento evangélico - Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

A disputa, a esta altura quase simbólica, pela Prefeitura do Rio de Janeiro talvez seja o fato sociologicamente mais interessante destas eleições municipais, elas próprias cheias de novidades.

Marcelo Freixo, mais querido nas elites, mostra que o PSOL jamais ocupará o lugar deixado pelo recolhimento do PT. A sigla de Freixo ainda vive nas brechas produzidas pelo entrechoque dos grandes partidos, embalada nas paixões fugidias de um eleitorado jovem e metropolitano.

A trajetória do PSOL em seus 12 anos de idade não faz sombra à impressionante marcha do petismo de 1980 a 1992.

É preciso ter o que dizer – Editorial / O Estado de S. Paulo

Causa espécie a informação, publicada no Estado, segundo a qual, em 20 das 54 cidades que terão segundo turno das eleições, candidatos propuseram acordo para reduzir o tempo de propaganda eleitoral que lhes é oferecido de graça no rádio e na televisão, às expensas do contribuinte.

O mais comum e lógico é que os candidatos se empenhem em conseguir mais, e não menos, exposição, a fim de divulgar sua plataforma aos eleitores e, assim, em tese, ampliar suas chances de vitória. É por essa razão, aliás, que os partidos médios e grandes, a cada eleição, engalfinham-se na disputa por apoio de legendas nanicas, já que estas, embora totalmente irrelevantes do ponto de vista político e de representação, têm a oferecer preciosos segundos de propaganda eleitoral.

No entanto, algo mudou neste ano. Com a proibição do financiamento eleitoral por meio de doações empresariais, os partidos e seus respectivos candidatos viram-se diante do desafio de fazer uma campanha eleitoral de verdade – bem diferente das bancadas a peso de ouro por generosos empresários interessados em obter vantagens daqueles que ajudaram a eleger e que transformaram os candidatos em meros produtos de marketing.

Ritmos desiguais – Editorial / Folha de S. Paulo

Devido às circunstâncias processuais, recaem sobre uma vara federal de Curitiba, e sobre as decisões de um único juiz, Sergio Moro, as principais responsabilidades na punição do maior escândalo de corrupção já investigado no país.

Sendo geralmente confirmadas em segunda instância, as decisões de Moro terminaram por transformá-lo numa espécie de ídolo junto a amplos setores da população.

Eis aí algo curioso: o status de celebridade que adquiriram o juiz e os procuradores de Curitiba não deixam de ser consequência da relativa incapacidade do sistema investigativo e judicial brasileiro, como um todo, de dar respostas tão prontas às denúncias de corrupção que se multiplicam no país.

Contra a impunidade – Editorial / O Globo

• O projeto deve ser discutido pelo seu conteúdo e levando em conta o clamor do país contra a corrupção

A cada ano, ações de corrupção produzem uma sangria de R$ 200 bilhões no Brasil, 5% do PIB, uma montanha de dinheiro equivalente a quase sete vezes o orçamento do Bolsa Família. São dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. É um problema sistêmico, crônico, uma epidemia cevada na impunidade.

A desobrigação de que, em processos sobre a promiscuidade financeira nas relações de mercado envolvendo agentes públicos, réus paguem por seus atos, um estímulo ao crime de colarinho branco, se alimenta no país na forma de leis brandas (ou inócuas), em chicanas de que se valem advogados bem relacionados (e bem remunerados) para manter seus clientes apanhados em “malfeitos” fora do alcance da Justiça (não raro, até o limite da prescrição das penas) etc.

Enfim, uma política de preços para a Petrobras – Editorial / Valor Econômico

Pode parecer inoportuno o momento escolhido pela diretoria da Petrobras para fazer o anúncio da queda de preços dos combustíveis, a poucos dias da reunião do Copom. Fantasmas do passado podem fustigar a memória e gerar a desconfiança de que a estatal do petróleo estaria, mais uma vez, colocando as orientações vindas de Brasília acima de seus interesses empresariais e comerciais.

Tal preocupação seria até compreensível diante da desastrada intervenção do Poder Executivo na Petrobras, que produziu na empresa um quadro de profundo desequilíbrio financeiro. Durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, a companhia foi usada para controlar a inflação. Para tanto ela foi obrigada a cobrar pelos combustíveis preços abaixo mesmo dos custos de produção, acumulando prejuízos de forma continuada. Chegou-se à absurda situação em que quanto mais vendia gasolina e diesel, mais perdas a Petrobras registrava. O resultado dessa política danosa foi a descapitalização da estatal e o apelo a um extremado endividamento para viabilizar o seu ambicioso plano de investimento.

Tarde no Recife – Joaquim Cardozo

Tarde no Recife.
Da ponta Maurício o céu e a cidade.
Fachada verde do Café Máxime.
Cais do Abacaxi. Gameleiras.
Da torre do Telégrafo Ótico
A voz colorida das bandeiras anuncia
Que vapores entraram no horizonte.

Tanta gente apressada, tanta mulher bonita.
A tagarelice dos bondes e dos automóveis.
Um carreto gritando — alerta!
Algazarra, Seis horas. Os sinos.

Recife romântico dos crepúsculos das pontes.
Dos longos crepúsculos que assistiram à passagem
[dos fidalgos holandeses.
Que assistem agora ao mar, inerte das ruas tumultuosas,
Que assistirão mais tarde à passagem de aviões para as costas
[do Pacífico.
Recife romântico dos crepúsculos das pontes.
E da beleza católica do rio.

Fabiana Cozza - Guerreira

domingo, 16 de outubro de 2016

Opinião do dia – Ana Maria Machado

No século XX, uma observação irônica do psicólogo Carl Gustav Jung vai além e nos belisca: Pensar é difícil, e é por isso que a maioria das pessoas se limita a julgar.

Se quisermos ajudar o Brasil a ser mais democrático e a diminuir nossas desigualdades, cada um de nós precisa conversar mais, ouvir mais, ler mais, abandonar a preguiça de pensar, acolher em si diferentes pontos de vista. Isto é, se acharmos que podemos deixar o palanque para a rua e ir além do discurso rasteiro e do deboche, em discussões primárias sobre a camisa polo do Doria ou a renda do vestido de Marcela Temer ou em chamar de ladrão quem se veste de vermelho. Nosso futuro e nossa gente merecem mais.

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Ana Maria Machado é escritora. ‘De conversa em conversa’, O Globo, 15/10/2015.

Dezoito ex-ministros de Lula e Dilma são alvo de investigação por desvios

Investigações já atingem 18 ministros da era petista

• Levantamento feito pelo 'Estado' em inquéritos no STF indica que ex-titulares de pastas nos governos de Lula e Dilma são suspeitos de envolvimento em esquemas que movimentaram 1,25 bi de forma ilegal

Luísa Martins e Julia Lindner - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) indicam que ministros dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) são suspeitos de envolvimento em esquemas que movimentaram pelo menos R$ 1,25 bilhão de forma ilegal, por meio de irregularidades no uso do dinheiro público e propinas pagas por empresas privadas durante o exercício do cargo.

O dado faz parte de um levantamento feito pelo Estado no Supremo que mostra que 18 ministros estão sob investigação de desvio de recursos nas gestões petistas – 4 no período Lula, 10 no de Dilma e outros 4 comuns aos dois governos. Foram considerados os já condenados (1), réus (2) e investigados (15) – neste último caso, o número engloba os processos na Corte e os remetidos a outras instâncias pelo STF. Foram pesquisados os nomes de 167 ex-ministros nas duas gestões.

Após impeachment, PT ainda tenta achar discurso de oposição

• Parlamentares do partido admitem dificuldades para se contrapor à base de Temer no Congresso

Ricardo Brito e Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - Colocado de volta à condição de oposição no Congresso após 13 anos à frente do Palácio do Planalto, o PT ainda não afinou o discurso. Após a cassação de Dilma Rousseff, o partido ainda tenta encontrar a melhor maneira de se contrapor ao governo do presidente Michel Temer, que tem contado com uma alta taxa de fidelidade da base aliada nas votações.

Na Câmara, o partido se viu obrigado a abrir espaço na liderança da minoria para deputados que antes eram vistos como coadjuvantes. Também se reaproximou de aliados históricos, como PCdoB e PDT, e petistas adotaram discursos mais alinhados com a esquerda.

A mudança de postura tem rendido apoio até da Rede e do PSOL, antigos adversários do governo Dilma. “Estamos numa condição muito minoritária, é difícil a gente ter uma vitória sobre o governo neste momento”, resumiu o deputado Carlos Zarattini (PT-SP).

Temer diz a empresários dos BRICS que Brasil tem estabilidade política e segurança jurídica

• Durante reunião de líderes dos BRICS, Temer fez um alerta de que os desafios à paz global clamam por reforma do Conselho de Segurança da ONU; Brasil pleiteia ser membro permanente desta instância das Nações Unidas

Ricardo Leopoldo, enviado especial - O Estado de S. Paulo

GOA, ÍNDIA - O presidente Michel Temer disse, neste domingo 16, para dirigentes de companhias que participam do Conselho Empresarial dos BRICS que seu governo está empenhado em promover reformas estruturais no País, que retomarão o crescimento e elevarão o nível de emprego.

Temer convidou as empresas dos países que compõem os BRICS a investirem no Brasil. “As senhoras e os senhores encontrarão um país com estabilidade política, com segurança jurídica e com grande mercado consumidor”, disse.

“Também faço votos de que as empresas que já mantêm investimentos no Brasil ampliem sua presença”, disse o presidente. “Encorajo, ainda, a comunidade empresarial brasileira a conhecer mais as oportunidades de negócios existentes na Índia, na China, na África do Sul e na Rússia".

Temer ressaltou que sua administração também empenha esforços para melhorar o ambiente de negócios no País. “Vamos desburocratizar processos, reduzir custos de operação e zelar pela previsibilidade e pela segurança jurídica”, disse. “Lançamos já programa de parcerias de investimentos fundado em regras estáveis. São 34 projetos iniciais nas áreas de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, energia, óleo e gás. As agências reguladoras voltarão a ter papel efetivo de supervisão.”

Temer nega acordo do PMDB com tucanos para a eleição de 2018

• Presidente diz que ‘não há previsão para essa espécie de aliança’

Gabriela Valente - O Globo

O presidente Michel Temer negou ontem que o seu partido, o PMDB, tenha fechado acordo com os tucanos para a campanha eleitoral de 2018. Segundo ele, um arranjo como esse só poderia ser feito no fim do ano que vem. Durante a viagem oficial à Índia, ele comentou ainda a possibilidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassar a chapa encabeçada pela presidente Dilma Rousseff. Disse que cumprirá qualquer decisão, mas fez questão de ressaltar que esse processo vai durar bastante.

Partido avalia lançar nome próprio para presidente

• Jucá diz que decisão vai depender do desempenho do governo Temer

Maria Lima - O Globo

Se o presidente Michel Temer conseguir fazer a transição e reposicionar a economia até 2018, o PMDB tem esperança de construir candidatura própria à Presidência, o que não consegue desde 1994. O problema é que não há um nome claro na legenda. Apontado como uma das alternativas, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, saiu muito enfraquecido da eleição municipal. E o próprio Temer vem insistindo que não disputará a reeleição. Os aliados o consideram inviabilizado pela necessidade de garantir o apoio de partidos da base para aprovar as difíceis reformas.

Presidente do PMDB, Romero Jucá (RR) diz que o partido tem a tarefa de reconstruir a economia e que Temer cumprirá essa tarefa. Mas confirma que o PMDB deve sim ter candidato, e que isso vai depender do resultado da transição e da construção de nomes viáveis.

Frente de esquerda patina e pode não sair do papel

• PDT, PSOL e PCdoB não querem ser afetados pelo desgaste do PT; união é defendida por Lula e Tarso Genro

Sérgio Roxo - O Globo

SÃO PAULO - Apontada como caminho para o PT superar a crise que atravessa, a frente de esquerda com partidos e movimentos sociais enfrentará muitos obstáculos para sair do papel. A ideia, defendida por petistas como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Tarso Genro, é vista com ressalvas no PDT, no PSOL e no PCdoB, e teria, na avaliação de líderes dessas legendas, poucas chances de resultar em candidatura única na eleição presidencial de 2018.

Nenhum dos partidos chega a fechar as portas para conversar com o PT e acertar atuações conjuntas pontuais no Legislativo, como a oposição à PEC 241, do teto de gastos públicos. Mas há desconfiança, principalmente, sobre a disposição dos petistas de abrir mão da hegemonia dentro da frente.

‘PDT não abre mão da candidatura de Ciro’, diz Lupi

• PSOL se recusa a apoiar Lula em 2018; PCdoB se queixa do PT em Olinda

Sérgio Roxo - O Globo

SÃO PAULO - Os partidos resistem à ideia da frente por conta dos projetos para 2018. No PDT, a candidatura presidencial de Ciro Gomes é dada como certa. O ex-ministro tem rodado o país e participado de campanhas municipais. Apesar de ter se posicionado de forma dura contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, Ciro não acredita que receberá o apoio do PT, porque avalia que o partido exigiria em troca uma defesa integral dos governos do partido, o que ele não está disposto a fazer.

Temer diz que não há perseguição aos pobres em propostas do ajuste fiscal

Isabel Fleck – Folha de S. Paulo

GOA (ÍNDIA) - O presidente Michel Temer disse, neste sábado (15), que "não há nenhuma perseguição aos mais pobres" no seu governo.

Ao ser questionado sobre por que não optou por taxar dividendos como forma de contribuir com o ajuste fiscal, Temer disse que a primeira opção cogitada pelo governo foi a contenção dos gastos públicos.

"Vamos caminhar muito ainda e não sabemos o que vamos fazer no futuro", disse Temer, sugerindo que, "se houver necessidade de taxar os mais ricos", isso poderá ser feito.

"Não há nenhuma perseguição aos mais pobres. (...) Na verdade nós universalizamos o governo, nós governamos para todos os setores."

O presidente também declarou que não existe previsão para uma aliança entre o PMDB, o seu partido, e o PSDB para as eleições presidenciais de 2018.

Poder de compra dos brasileiros cai 9% em dois anos e volta ao nível de 2011

• Desemprego, taxa de juros alta e inflação fora do controle nos últimos anos deixaram o orçamento das famílias cada vez mais apertado

Renée Pereira - O Estado de S. Paulo

O orçamento cada vez mais apertado trouxe novos hábitos para a vida da consultora de beleza Karen Lima Piasentim. Com a renda em queda, ela trocou o antigo hobby de comprar sapatos por uma nova mania: colecionar tabloides de liquidação e traçar estratégias para conseguir comprar ao menor preço possível. A ideia é mapear os trabalhos fora de casa e os supermercados que estão na mesma rota. “Assim, consigo comprar o produto mais barato e não gasto combustível”, conta a consumidora, que também virou visitante assídua de sites de desconto.

Retomada do consumo deve ser lenta

• Projeção é que poder de compra cresça R$ 50 bi em 2017, com a queda na taxa de juros e um crescimento modesto do crédito

Renée Pereira - O Estado de S. Paulo

A queda no poder aquisitivo fez o brasileiro rever alguns hábitos adquiridos nos tempos de bonança da economia. As idas aos restaurantes escassearam e a frequência nos supermercados subiu – afinal, cozinhar em casa é mais barato. De acordo com o boletim Consumer Thermometer, da Kantar Worldpanel, de agosto, 22,7 milhões de lares aumentaram a frequência em supermercados em busca de liquidações.

“Percebemos que as famílias estão comprando ingredientes para fazer a comida em casa, como leite condensado, creme de leite, linguiça e hambúrguer”, diz a diretora comercial da Kantar, Christine Pereira. Segundo ela, desde o início da crise, os produtos que mais crescem na lista de compras são linguiça, açúcar e café torrado. E essa mudança de hábito deve demorar a ser revertida. Segundo João Morais, economista da Tendências Consultoria Integrada, o poder de compra dos brasileiros deve começar a se recuperar a partir de agora, mas lentamente. Em seus cálculos, no ano que vem, o poder de compra deve crescer algo em torno de R$ 50 bilhões, de R$ 3,17 para R$ 3,22 trilhões – muito pouco diante das perdas acumuladas. No cenário de Morais, essa pequena retomada será impulsionada pelo crédito e redução dos juros.

Rombo de R$ 101 bi ameaça estados

• Déficit das previdências regionais crescerá 57% até 2020 se não houver mudança de regras

Governadores querem ser incluídos na reforma previdenciária federal e pedem que a União acabe com o regime especial de aposentadoria de PMs e bombeiros, que já consome R$ 28,8 bilhões ao ano

O rombo das previdências estaduais, que chegou a R$ 64,26 bilhões no ano passado, alcançará R$ 101,5 bilhões em quatro anos, numa expansão de 57%, segundo cálculos de um estudo contratado por um grupo de governadores que inclui Rio e São Paulo, informa Geralda Doca. Diante da gravidade da situação, os governadores pediram ao governo federal que os estados sejam incluídos na reforma da Previdência. Além do aumento da contribuição, eles querem que a União acabe com os regimes especiais de policiais militares e bombeiros, que hoje representam quase um quarto das despesas com servidores estaduais inativos. –

Uma ameaça de R$ 101 bi

• Sem mudança de regras, déficit previdenciário dos estados pode crescer 57% até 2020

Geralda Doca - O Globo

BRASÍLIA- Os estados pediram ao governo federal para serem incluídos na reforma da Previdência, a fim de desarmar uma bomba que pode explodir em quatro anos. Sem mudança nas regras para servidores públicos, o déficit dos regimes próprios estaduais, que alcançou R$ 64,266 bilhões no ano passado, chegará a R$ 101,144 bilhões em 2020 — um aumento de 57,4% no período, de acordo com cálculos de um estudo contratado por um grupo de governadores, que inclui Rio e São Paulo. A cifra indica quanto os estados terão que aportar a mais para pagar aposentados e pensionistas, já descontadas as receitas com contribuições.

Democracia e populismo - Luiz Sérgio Henriques*

- O Estado de S. Paulo

• Uma esquerda racional poderia contribuir para um ‘cosmopolitismo de novo tipo’

Se for verdade, como de fato é, que a sociedade e a política brasileira devem ser entendidas como parte constitutiva do “Ocidente”, com estruturas sofisticadas e, por isso, irredutíveis a assaltos ao poder e a revoluções redentoras, daí se segue que por aqui simplesmente não podem deixar de existir um extenso ativismo social e formações partidárias de esquerda ou centro-esquerda como protagonistas da cena pública. Uma premissa desse tipo se apoia factualmente na história do capitalismo democrático, na qual – quer no New Deal norte-americano, quer no compromisso social-democrata europeu – foram atores decisivos social-democratas e comunistas, estes últimos, em particular, na França e na Itália do segundo pós-guerra.

Lembrar essa premissa é importante num momento de recuo eleitoral e, mais significativamente, de desmantelamento ideal do principal partido de nossa esquerda, após quase década e meia de experiência no poder central e em inúmeros Estados e municípios relevantes. Uma experiência que, ao se concluir por ora de modo negativo, convida à discussão, tanto quanto possível serena, das relações entre esquerda e democracia, bem como das possibilidades de sua ação reformadora numa das sociedades mais injustas e desiguais desse Ocidente que reivindicamos como nosso.

Grau de deterioração do prestígio do PT só foi revelado ao final do 1º turno – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

As recentes eleições municipais, em seu primeiro turno, assinalaram um momento importante na vida política brasileira. Não se costuma atribuir maior importância a esse tipo de disputa, na visão equivocada de que os cargos municipais não têm maior importância no jogo político nacional, cujos lances decisivos se passam em Brasília, no palácio presidencial e nas duas casas do Congresso.

Até certo ponto isso é verdade, mas as eleições municipais, por encarnarem o interesse imediato e vital tanto das pequenas cidades quanto das capitais dos Estados, revelam, no mínimo, a correlação de forças que, no final das contas, definem o rumo que os interesses políticos vão tomar. Talvez nem sempre percebamos, mas, nestas eleições, isso ocorreu.

Hora de usar a cabeça - Fernando Gabeira

- O Globo

Ao som do tiroteio no morro Pavão-Pavãozinho, reflito sobre o momento político cujo ponto alto na semana foi a votação da PEC que estabelece um teto para os gastos do estado. Sempre houve tiroteio por aqui. Na primeira viagem que fiz ao Haiti ouvi tiros à noite. Pensei: estão fazendo tudo para me sentir em casa. E dormi em paz. Mas o tiroteio dessa semana parece marcar o fim de uma época e o começo de tempos bem mais difíceis. A ruína do projeto do PMDB no Rio acabou levando consigo algo que o sustentava, eleitoralmente: a política de segurança.

Tempos difíceis pela frente. A decisão de criar um teto para os gastos é correta. No entanto, há argumentos da oposição que merecem um exame. Acompanhei os debates e concordo com a tese de que a demanda com saúde e educação deve aumentar nos próximos anos. Como encará-las com recursos decrescentes?