- O Globo
• Dylan se identificaria com Crivella, também cantor de gospel, ou Freixo, dos seus ideais sessentistas?
Quando Bob Dylan diz que “as pessoas não fazem o que acreditam, elas apenas fazem o que é conveniente, e depois se arrependem”, parece estar fazendo uma advertência aos eleitores cariocas.
A busca desesperada, principalmente pelos jovens, por lideranças que os guiem por causas que consideram nobres e justas, recebe um toque de Dylan: “Se você precisa de alguém para confiar, confie em você mesmo.”
E dá adeus às ilusões: “A democracia não domina o mundo, é melhor colocar isso na cabeça: este mundo é governado pela violência”!
Sim, para melhorar o mundo de verdade é preciso vencer a força bruta, a violência econômica, política, militar, religiosa, partidária. Dos outros e de nós mesmos. Mas muitos não aprendem com os desastres, até pioram: “Alguns sentem a chuva, outros só se molham”.
Para artistas que se envolvem em política, são usados como porta-vozes desta ou daquela facção, e não conseguem se libertar delas, ele usa seu próprio exemplo: “O que quer que fosse a contracultura, eu estava de saco cheio dela, de interpretações malucas das minhas letras e de ter sido ungido o Chefão da Revolta, o Grande Sacerdote do Protesto, o Czar da Discordância, o Duque da Desobediência, o Líder dos Doidões”.
Chico Buarque e Lobão estão em lados opostos, mas em boa companhia (nos anos 60 )... rsrs
Para os rebeldes e libertários de ocasião, Dylan não deixa barato: “Para viver fora da lei, você precisa ser honesto”.
Os tempos estão mudando, e Dylan também é um exemplo de independência que vai muito além de mudar de posição política. Com 38 anos, o judeu Dylan se tornou cristão evangélico! Dois anos depois abandonou a crença, mas antes fez um grande disco de gospel com um Jesus irado na capa...
Me divirto imaginando Dylan entrevistado na eleição carioca. Se identificaria com Crivella, também cantor de gospel, ou Freixo, dos seus ideais sessentistas? Talvez preferisse Bernie Sanders, mas o mais provável é que respondesse com sua habitual sinceridade:
“Eu estou me lixando para os seus sonhos”.
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