sexta-feira, 15 de abril de 2022

Fernando Gabeira: Um lamento amazônico

O Estado de S. Paulo

Sem a adesão das Forças Armadas, a região será destruída com mais rapidez e o desmatamento nos levará a um ponto de não retorno.

Manaus – Nos últimos dias de uma nova viagem pela Amazônia, leio que o Facebook derrubou uma rede de perfis falsos que espalhavam fake news sobre a região, composta, entre outros, por dois militares da ativa. Lembrei-me de uma das tarefas básicas para salvar a Amazônia de uma destruição irreversível: convencer as Forças Armadas e obter uma sintonia de todas as energias nacionais nesta gigantesca tarefa.

Creio que é necessário intensificar o debate. A visão de desenvolvimento da Amazônia articulada no governo militar não corresponde à realidade dos fatos. Considerar a floresta um inferno verde e supor que o melhor caminho é construir estradas e levar para ali o que chamamos de civilização é equívoco não só econômico, mas também estratégico.

Passei três semanas falando com empreendedores na floresta. Eles são incontáveis na Amazônia, desde produtores de chocolate até criadores de abelhas, dizimadas pela plantação de soja, sem falar em quem trabalha com o açaí e a castanha, dois produtos vitoriosos inclusive no mercado internacional.

Eliane Cantanhêde: Ruim com Simone, pior sem ela

O Estado de S. Paulo

Enquanto seu lobo e a terceira via não vêm, o risco é debandada para Bolsonaro, não Lula

O União Brasil quer fugir de Jair Bolsonaro no primeiro turno, o MDB não quer ser só mais um no Centrão e o PSDB... bem, o PSDB se debate para se manter à tona, jogado para um lado e para o outro por Bolsonaro, o ex-presidente Lula e as próprias divisões internas. O Cidadania tenta evitar que todos afundem.

É óbvio que superestimaram a importância do jantar de Lula com senadores em Brasília no início da semana. Ali não teve nada demais. Nem novidade. Quem estava com Lula continuou com Lula, quem não estava continuou não estando.

O MDB tem 12 senadores e nem metade estava lá, na mansão do ex-senador e ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (CE). Ele e o senador Renan Calheiros (AL) são lulistas de outros carnavais. O apoio deles não muda nada.

Além disso, são oito deputados federais do MDB nos nove Estados do Nordeste, que tende para Lula, e nove só nos três Estados do Sul, onde, sem candidatura própria, a debandada seria para o outro lado – Bolsonaro. Alagoas, de Renan, tem 14 votos na convenção nacional do MDB e o Rio Grande do Sul, 44.

Luiz Carlos Azedo: Sincerídio aprofunda mal-estar no PSDB

Correio Braziliense

As negociações da terceira via estão sendo conduzidas como um jogo de perde-perde, na base da conspiração e das traições, o que sempre dificulta os acordos

É profundo o mal-estar no PSDB em razão das declarações do presidente da legenda, Bruno Araújo, num encontro reservado com quatro empresários paulistas, no qual revelou que a candidatura do ex-governador João Doria será removida no encontro dos partidos da chamada terceira via marcado para 18 de maio. A conversa foi gravada sem o tucano saber e vazou, confirmando o que todos já sabiam nos bastidores. Araújo é aliado do ex-governador mineiro Aécio Neves na operação para remover a candidatura de Doria.

A surpresa foi o fato de Bruno revelar que também não tem a intenção de apoiar o ex-governador gaúcho Eduardo Leite, que continua trabalhando para ser candidato a presidente da República, mas, sim, a senadora Simone Tebet (MS), pré-candidata do MDB. Não é o caso de Aécio Neves. Em outras circunstâncias, a gravação custaria o cargo de presidente do PSDB, mas não foi o que aconteceu, porque a conspiração é forte na bancada tucana. E o acordo feito pelos presidentes dos partidos da terceira via para escolher um candidato único serve de escudo para Araújo.

O próprio Doria, em declarações passadas, já havia admitido não ser candidato se outro nome surgisse de fora do PSDB, com mais pegada para cumprir o papel de unificador da frente de centro. Admitiu até a possibilidade de apoiar a senadora pantaneira. Mesmo assim, quando fala que a convenção dos quatro partidos da terceira via — PSDB, Cidadania, MDB e União Brasil — escolherá o candidato, Araújo esquece de combinar com Doria. É um dá ou desce por antecipação.

Reinaldo Azevedo: Não há isenção entre a corda e o pescoço

Folha de S. Paulo

Alckmin é o vice do diálogo entre diferentes; Braga Netto é o vice da ameaça e do confronto

O Diretório Nacional do PT aprovou por ampla a maioria —68 votos a 16— a indicação do ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB) para vice na chapa encabeçada por Lula. O Encontro Nacional deve referendar a aliança.

Nesta quinta, com a garganta destreinada para frases tonitruantes, o ex-governador de São Paulo bradou num encontro com centrais sindicais: "A luta de vocês, a luta sindical, deu ao Brasil o maior líder popular deste país: Lula! Lula! Viva Lula! Viva os trabalhadores do Brasil!"

Aquele a quem se chamou muitas vezes, o que sempre me pareceu impróprio, "Picolé de Chuchu" pôs uma inusitada dose de pimenta retórica em sua saudação, o que causou certo estranhamento. Mesmo num texto talhado para ser apenas noticioso, este jornal registrou até em título na homepage, que o ex-governador se manifestara "aos gritos". Sabe quem não grita nunca —não que a gente ouça ao menos? O general Braga Netto.

O ex-ministro da Defesa e hoje assessor especial da Presidência é cotado para ser vice na chapa de Jair Bolsonaro. A alternativa —e ambos estão lá a fazer uma luta intestina de pijamas— é o também general Augusto Heleno, um tantinho mais estridente, mas, ainda assim, mais eficaz nos corredores do poder do que nos palanques.

A sua robusta contribuição à vida pública foi ter chamado, na campanha de 2018, todos os políticos do Centrão de ladrões. Se estiver certo, seu chefe entregou a chave do cofre a uma quadrilha, com quem os dois militares da reserva dividem hoje a, por assim dizer, governança do país.

Hélio Schwartsman: Sigilos de Bolsonaro devastam a historiografia

Folha de S. Paulo

Achava que o STF seria capaz de assegurar o respeito a princípios constitucionais

Se há um padrão no governo de Jair Bolsonaro, é o de devastar aquilo em que toca. O caso mais gritante é o da Covid. O negacionismo presidencial contribuiu para a pilha de mais de 600 mil cadáveres que o Brasil produziu. O saldo de destruição também é visível nas florestas, nas escolas, na ciência e nos direitos humanos. A historiografia parece ser o próximo alvo de Bolsonaro, cuja administração vem decretando sigilos, às vezes de um século, sobre pedidos feitos com base na Lei de Acesso à Informação (LAI).

O episódio mais recente é o que envolve os pastores do MEC. O jornal O Globo requisitou informações sobre as andanças dos religiosos pelo Palácio do Planalto e obteve uma bela negativa, sob a justificativa de que a liberação violaria a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). A argumentação, que já é juridicamente capenga, se torna suspeita quando se considera que o governo impôs segredo sobre outras informações potencialmente embaraçosas para o presidente, sua família e seus amigos.

Dora Kramer: Excesso de fatos

Revista Veja

A CPI do MEC não sai porque a bola está com a velha guarda da velhíssima política

Um dos cacoetes mais frequentes na avaliação sobre a competência de políticos é o de levar em conta resultados obtidos ignorando os métodos adotados. Quando a pessoa alcança êxitos repetidos, confere-se a ela condecoração máxima no quesito “habilidade política” e por isso passa a ser celebrada.

Aceita-se, assim, que os fins justificam os meios, costume condenado na teoria, mas muito festejado na prática. Tal celebração da esperteza em prejuízo do critério da boa conduta entre nós é um hábito, cujo prazo de validade expira quando algum escândalo dá um tombo no esperto.

Os exemplos estão aí. Tanto dos que tiveram a carreira encerrada quanto daqueles cuja reabilitação confirma o dito: alguns fundos de poço na política têm molas. E há também os que, depois de uma vida dedicada a expedientes escusos de menor porte, obtêm sucesso no repúdio a grandes malandragens, mas se juntam aos seus autores quando a necessidade bate à porta.

É o caso do presidente Jair Bolsonaro. Vai se dando muito bem em sua aliança de resultados com o Centrão, grupo a que sempre pertenceu na condição de soldado raso. Note-se, vai se dando bem segundo aqueles critérios citados acima, da esperteza chamada de habilidade. Nada a ver com probidade, transparência, legalidade e demais pré-requisitos exigidos pela Constituição ao bom exercício da administração pública.

Por aquela óptica torta, há uma avaliação corrente no mundo político, até entre gente defensora da ética no palanque, de que Bolsonaro está “fazendo tudo certo”. Seu novo/velho partido, o PL, tornou-se a maior bancada da Câmara e suas outras legendas-satélite também ganharam força, somando cerca de 200 deputados. Contingente agora organizado e bem alimentado a poder do Orçamento da União, sob as batutas de Ciro Nogueira, ministro-che­fe da Casa Civil, e Arthur Lira, presidente da Câmara.

Ricardo Rangel: Liberais… mas só até a página 2

Revista Veja

Lula e Bolsonaro compartilham o mesmo defeito

Lula tem dado recorrentes declarações de que pretende revogar o teto de gastos e a reforma trabalhista, interferir na Petrobras y otras cositas más. Liberais, que costumam acompanhar o cenário econômico e se lembram do que aconteceu no Brasil há poucos anos, ficam de cabelo em pé.

Praticando a infame “nova matriz econômica” criada por Lula, Dilma interferiu na economia como nunca se viu, criou uma devastação fiscal que derrubou o PIB em 9% e elevou aos píncaros o desemprego, a inflação e a taxa de juros. Uma catástrofe.

Bolsonaro, por outro lado, manteve o teto de gastos e a reforma trabalhista, fez a reforma da Previdência, o novo marco legal do saneamento, deu autonomia ao Banco Central, aprovou a privatização da Eletrobras e está falando até em privatizar a Petrobras. Portanto, pensam alguns que se consideram liberais, reeditar Bolsonaro deve ser melhor do que reeditar Lula.

Mas Bolsonaro está longe de ser economicamente bom. O governo não corta custos, o teto foi informalmente quebrado, a reforma da Previdência se deve a Rodrigo Maia. A pandemia praticamente acabou, mas o país não cresce e o desemprego não cai. A inflação, que já é similar à máxima de Dilma, “surpreendeu” o presidente do Banco Central e a taxa de juros pode bater a de 2016.

Marco Antonio Villa: O Brasil precisa entrar no século XXI

Revista IstoÉ

Observando o processo eleitoral do País, um candidato está, no máximo, no século XVIII – pré-Revolução Francesa –, o outro no século XX, e que ainda não foi sequer avisado da queda do muro de Berlim

A guerra da Rússia contra a Ucrânia derrubou por terra definitivamente a platitude de que a globalização teria enterrado a sete palmos o nacionalismo, o Estado-Nação. Seria, de acordo com os doutores Pangloss da contemporaneidade, o fim dos interesses nacionais, da possibilidade de construir um projeto nacional. Os grandes protagonistas da cena política mundial, sem exceção, defendem e impõe seus interesses nacionais à frente de qualquer princípio das relações internacionais.

O cenário da terceira década do século XXI é de um nacionalismo exacerbado, nunca visto desde o século XIX, quando da expansão dos Estados nacionais por boa parte do mundo.

O discurso de que não resta espaço para um projeto nacional está a serviço de interesses alienígenas, do que, nos anos 1960, era chamado de centro do sistema capitalista. Ter um projeto nacional não significa edificar uma economia autárquica, mas garantir uma inserção na economia mundial de forma soberana. Portanto, não é uma reedição do nacional desenvolvimentismo, fruto de um contexto muito particular e que o Brasil conseguiu se adaptar e colher frutos.

Vera Magalhães: Holofotes sobre os segredos de Jair

O Globo

Jair Bolsonaro gosta de esconder segredos sobre seu governo. Amante confesso de ditaduras e outros regimes autocráticos, o presidente brasileiro resolveu, desde que assumiu, revogar na marra artigos da Constituição sobre a publicidade de atos da administração pública e a Lei de Acesso à Informação.

É preciso um “revogaço” dos atos inconstitucionais que, em vários órgãos, decretam sigilo de até cem anos em toda sorte de informação relevante que, por ser pública, tem de estar acessível.

O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chefiado pelo general Augusto Heleno, tem sido a casa das máquinas da tentativa de Bolsonaro de evitar que atos seus, dos filhos e de auxiliares ganhem a luz.

Nada melhor para garantir transparência a um regime opaco como o de Bolsonaro que aumentar a carga dos holofotes. Diante da publicação das justificativas inacreditáveis para a recusa em fornecer ao GLOBO a lista com todas as vezes em que os pastores lobistas do MEC, Gilmar Santos e Arilton Moura, foram ao Planalto, Heleno teve de retroceder e entregar ao jornal aquilo que é do público por lei.

Bernardo Mello Franco: O crepúsculo dos olavistas

O Globo

Os pupilos de Olavo de Carvalho se desiludiram com o Mito. Nos últimos dias, Arthur Weintraub e Ernesto Araújo emergiram do pântano para criticar Jair Bolsonaro. Os dois atacaram o governo e expuseram mágoas com o ex-chefe.

Weintraub ligou o presidente ao escândalo no Ministério da Educação. Contou ter recebido ordens de Bolsonaro para entregar o FNDE ao Centrão. O fundo foi depenado pela quadrilha que atuava na pasta.

Enquanto o Planalto se esforça para barrar uma investigação no Senado, o ex-ministro disse que “adoraria ver uma CPI do MEC”. “Tenho muita coisa para contar”, provocou.

Ernesto também surpreendeu. Em março, acusou Bolsonaro de reproduzir “desinformação russa” sobre a guerra. Dias depois, ironizou as novas companhias do capitão, que fez comício ao lado de Fernando Collor e Valdemar Costa Neto.

“Caberia perguntar por que algumas pessoas que estavam no palanque com o presidente e já foram condenadas por corrupção merecem uma segunda chance”, criticou o ex-chanceler.

Alckmin: “A luta sindical deu ao Brasil o maior líder popular deste país”

Sérgio Roxo / O Globo

SÃO PAULO - Ao receber o apoio das principais centrais sindicais do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta quinta-feira a reforma trabalhista implantada pelo governo do presidente Michel Temer. Também se comprometeu, caso eleito, a retomar a política de aumento real do salário mínimo.

Ao lado de Geraldo Alckmin (PSB), que na quarta-feira teve a sua indicação para vice da chapa aprovada pelo diretório nacional do PT, Lula se referiu ao impeachment da sua sucessora, Dilma Rousseff, como "golpe".

Em 2016, Alckmin resistiu inicialmente a apoiar o impeachment, mas depois, assim como o PSDB, seu partido na época, se engajou no movimento pelo afastamento de Dilma.

Ao comentar a reforma trabalhista nesta quinta-feira, Lula afirmou:

— Não teve reforma coisa nenhuma. Desmontaram os direitos trabalhistas e desmontaram a estrututura sindical.

Malu Gaspar: O pacto de silêncio entre Lula e Alckmin

O Globo

Antes de chegar ao elogio público e entusiasmado de ontem, num evento com as centrais sindicais, Geraldo Alckmin e Lula fizeram um pacto de silêncio que durou meses.  

A história foi contada por interlocutores dos dois em uma mesa, no jantar promovido nesta semana pelo grupo de advogados ligados a Lula, o Prerrogativas, que deu as boas vindas a Alckmin na aliança.

A combinação entre os dois foi feita no primeiro jantar desse mesmo grupo de que o ex-governador participou, também em São Paulo, em dezembro. 

Na ocasião, a aliança já vinha sendo discutida havia meses, mas ainda era uma novidade no cenário político e enfrentava resistências tanto no PT quanto entre aliados do ex-governador de São Paulo. 

Do lado petista, era preciso contornar as resistências do ex-presidente, Rui Falcão, e mesmo da atual presidente, Gleisi Hoffman.

A ex-presidente Dilma Rousseff, que não foi ao jantar em São Paulo, também não era fã da união. 

Alckmin, por sua vez, tinha que fechar com um partido e tentar atrair para ele alguns ex-tucanos, o que de fato fez. 

Desde então, foram várias reuniões e costuras internas. Nas entrevistas, Lula defendia a possível aliança, mas não a confirmava. 

Alckmin exalta Lula aos gritos em evento com centrais sindicais

Ex-governador paulista e ex-presidente petista participam de evento com sindicalistas em São Paulo

Victoria Azevedo, Catia Seabra / Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) fez um discurso exaltado nesta quinta-feira (14) em defesa do ex-presidente Lula (PT), de quem deve ser o vice na chapa presidencial para a disputa das eleições de outubro.

Diante de dezenas de sindicalistas reunidos em São Paulo, Alckmin aumentou o tom de voz para dizer que a "luta sindical deu ao Brasil o maior líder popular deste país".

Em seguida, já rouco e aos gritos, repetiu: "Lula, Lula, viva Lula, viva os trabalhadores do Brasil."

Alckmin disse ainda aos representantes das centrais que estará com eles nas eleições para "somar esforços" para derrotar o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição.

Em seu discurso, Lula afirmou que é "plenamente possível" que ele e Alckmin formem uma chapa "para reconquistar os direitos dos trabalhadores".

"Vamos juntar as duas experiências para tentar reconstruir em quatro anos o que eles destruíram", continuou.

Alckmin faz périplo por sindicatos e diz que houve excessos em reforma trabalhista

Folha de S. Paulo

Ex-governador tenta estreitar laços com público caro a Lula e já visitou cerca de 20 entidades

Indicado para vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) vem se dedicando desde o começo do ano a estreitar laços com um público caro ao ex-presidente, os sindicatos.

Nos últimos quatro meses, ele visitou cerca de 20 entidades de trabalhadores, que representam categorias como padeiros, eletricistas e químicos. Nas conversas com os sindicalistas, tem perguntado sobre a situação do emprego e os efeitos da alta da inflação sobre o orçamento dos trabalhadores.

Embora tenha defendido a reforma trabalhista aprovada no governo de Michel Temer (MDB), Alckmin avalia que houve excessos. Um dos pontos em que concorda com Lula é que as mudanças asfixiaram financeiramente os sindicatos e que é preciso haver correções, para que essas entidades tenham mais poder de fogo em negociações com os patrões.

O ex-governador participou nesta quinta-feira (14) de evento com as centrais sindicais ao lado de Lula e fez um discurso exaltado em sua defesa.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Sigilo de dados no governo Bolsonaro atinge nível absurdo

O Globo

 De que o presidente Jair Bolsonaro tem medo? Por que faz tanto esforço para esconder suas ações? Desde a campanha de 2018, Bolsonaro não perde a oportunidade de acusar seus opositores de corruptos. É comum declarar que seu governo é honesto. Diante de qualquer suspeita, porém, usa todos os instrumentos ao seu dispor para evitar o escrutínio público.

O exemplo mais recente aconteceu nesta semana. O GLOBO solicitou, por meio da Lei de Acesso à Informação, a relação das entradas e saídas no Palácio do Planalto dos dois pastores lobistas investigados pela Polícia Federal por suspeita de corrupção no Ministério da Educação. Em resposta, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo ministro Augusto Heleno, disse que não atenderia à solicitação, sob o pretexto descabido de que poderia pôr em risco a vida do presidente da República e de seus familiares. Questionado numa rede social se tinha algo a esconder, Bolsonaro respondeu: “Em 100 anos [você] saberá”. Só depois da reação contrária, o GSI forneceu os dados das visitas ao GLOBO. Infelizmente, é pouco.

Essa foi apenas a última ocorrência de um comportamento contumaz no governo Bolsonaro. No último ano do governo Temer, 2018, o GSI pôs 11 documentos sob sigilo. Pois logo no ano seguinte, o primeiro de Bolsonaro na Presidência e de Heleno à frente do GSI, 255 foram classificados como secretos ou reservados, média de um a cada dia útil. Em 2020, a média foi de 13 por mês (os dados de 2021 ainda estão incompletos).

Poesia | Clarice Lispector: Por não estarem distraídos

 

Música | Leila Pinheiro e João Cavalcanti

 

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Maria Hermínia Tavares: No México como aqui, o mesmo alvo

Folha de S. Paulo

O objetivo é espalhar suspeitas em relação às eleições democráticas

No domingo 10/4, os mexicanos foram chamados a opinar se queriam que o presidente Andrés Manuel López Obrador continuasse a governá-los até a próxima eleição, em 2024. Conhecida como referendo revogatório, a Consulta de Revogação do Mandato foi convocada pelo próprio mandatário, responsável também, em 2019, pela reforma que incluiu a democracia direta na Constituição.

Analistas acreditam que tudo não passou de manobra de AMLO, como é conhecido pelos concidadãos, a fim de se mostrar detentor do apoio da rua para promover mudanças constitucionais que lhe permitam mais facilmente submeter as instituições democráticas à sua vontade —abrindo caminho, entre outras coisas, à sua reeleição.

Nem 2 em cada 10 mexicanos participaram da encenação do mandatário, esvaziando a manobra. Mas a ocasião serviu para acentuar a campanha de descrédito do INE (Instituto Nacional Eleitoral), incumbido de organizar a consulta e garantir sua lisura.

Assim, conhecidos os resultados, AMLO atribuiu o fracasso de sua jogada à suposta incompetência e má-fé do organismo e prometeu uma reforma eleitoral que, entre outras coisas, viria alterar a composição do instituto.

Ranier Bragon: Por que se calam?

Folha de S. Paulo

Lira e Bolsonaro mostram que sua obrigação de prestar contas não é levada a sério

Dia desses, a Folha quis saber dos principais pré-candidatos a comandar esse país o que eles pensam do semipresidencialismo em debate na Câmara.

A assessoria de Jair Bolsonaro (PL), como de praxe, ignorou a pergunta. A de Lula juntou preguiça com desprezo pela inteligência alheia e disse que o petista ainda não é candidato, logo, não falaria.

Parece uma besteira, mas há aí o sintoma de um mal maior, a certeza de que eu, político responsável pela gestão de milhões ou bilhões em recursos públicos, ou candidato a isso, só me manifestarei sobre aquilo que eu quiser, do jeito que eu achar mais conveniente, no momento em que julgar adequado, no ambiente controlado que escolher —e se, por ventura, estiver disposto a tal.

Escolas públicas de Alagoas visitadas pelo repórter Paulo Saldaña sofrem com falta de sala de aula, internet, computadores e até água encanada. Para lá o governo federal enviou não a infraestrutura que deveria ter providenciado há décadas, mas kits de robótica ao valor unitário de R$ 14 mil.

Empresa de um aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), intermediou o negócio e comprou pelo menos parte desses kits por R$ 2.700 cada um. Ou seja, revendeu os kits às prefeituras com um ágio de 420%.

Ruy Castro: O Viagra não resolverá

Folha de S. Paulo

Segundo Bolsonaro, as Forças Armadas não estão broxas, mas com reumatismo

Nelson Rodrigues disse certa vez, "Se todos conhecessem a vida sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém". Por sorte, a maioria das pessoas mantém certo recato e, com isso, continuamos a cumprimentá-las sem nos perguntarmos onde botam a mão. Nesta semana, no entanto, falou-se dos possíveis desaires pessoais de membros de uma categoria por definição viril: os militares. As Forças Armadas compraram 35.320 comprimidos de Viagra para seus homens.

Ao ouvir a notícia, e sabendo que o Viagra é um remédio para a disfunção erétil, vulgo impotência, o Brasil estremeceu de rir —imagine um bando de oficiais provectos tendo de apelar para o comprimido a fim de bater continência. Aos que me vieram falar, aconselhei respeito: "Esse assunto não nos compete. E daí se há milhares de generais, almirantes e brigadeiros broxas? Em que isso interfere na pintura de postes e faxina dos quartéis?".

Vinicius Torres Freire: Preço do diesel é o maior do século, mas vendas batem recorde

Folha de S. Paulo

Vendas no primeiro bimestre ultrapassam as do período pré-pandemia

Nunca se vendeu tanto diesel em um primeiro bimestre quanto neste 2022, pelo menos desde 2000, quando há números comparáveis. As vendas são quase 7% maiores do que no início de 2020, antes da epidemia, e 9% maiores do que em 2019. O preço do combustível, por sua vez, nunca foi tão alto em pelo menos uma década, em termos reais.

Em tempos menos anormais, não seria de espantar. A população cresce; a frota de caminhões aumenta de modo relevante, de acordo com estatísticas da Agência Nacional de Transportes Terrestres ou do Denatran. Até a produção da economia, o PIB, voltou ao nível de 2020, talvez um tico mais.

A diferença grande é o preço. Um recurso para pensar a carestia é verificar quanto se perdeu em poder de compra de combustíveis. Por exemplo, considerar quanto o salário médio compra de litros de diesel, por exemplo. No primeiro bimestre deste ano, o rendimento médio mensal do trabalho comprava 31% menos diesel do que em 2020 e 33% menos do que em 2019.

José Serra*: O Brasil diante da crise de segurança global

O Estado de S. Paulo

Prioridade de nossa diplomacia não deve ser equilibrar-se entre condenação da guerra na ONU e o apoio ao agressor no Planalto.

A invasão militar da Ucrânia pela Rússia é mais do que uma guerra de anexação. Ela abre uma crise no equilíbrio da segurança global e acrescenta nova dimensão à tríplice crise política, econômica e sanitária que atravessamos. Afeta nosso processo sucessório, põe em risco o comércio exterior, cria insegurança no mercado financeiro e no investimento estrangeiro e agrava o isolamento provocado pela má condução de nossa política externa e pela execução pífia de nossa diplomacia.

Os impactos econômicos são os que mais têm se destacado e os que recebem tratamento mais inadequado do governo. O pretexto de nossa dependência em potássio, depois de ser usado para legitimar a visita presidencial à Rússia, agora justifica o controverso garimpo em terras indígenas e a grilagem. A previsível escassez de vários tipos de insumo deveria ser enfrentada com boas políticas de comércio exterior e de incentivo aos setores produtivos domésticos. E com uma diplomacia proativa.

É surpreendente que a alta do preço do petróleo seja usada como pretexto para subsídios e isenções emergenciais, como se afetasse somente o óleo que importamos, e não aquele que exportamos – sendo quase a metade para a China. Ao todo, no ano passado, exportamos um volume de cerca de 70 milhões de toneladas (o que inclui óleo bruto e minerais betuminosos), resultando numa receita superior a US$ 30,5 bilhões, com o barril a US$ 80.

Luiz Carlos Azedo: Por que a terceira via não empolga nem ela própria?

Correio Braziliense

A distância entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Bolsonaro vem se encurtando, enquanto o espaço para uma candidatura alternativa é cada vez mais restrito

Embora a pré-campanha tenha começado de forma muita antecipada, em grande medida em razão das prévias do PSDB, que em vez de unir dividiu ainda mais a legenda, a campanha eleitoral para presidente da República será curta: começará em 15 de agosto. Até lá, o que está se decidindo é o grid de largada: quem serão os candidatos para valer e as respectivas coligações, que garantirão o tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na tevê de cada um. De 2 a 30 de outubro, se houver segundo turno, o país poderá estar à beira de uma ruptura institucional.

A distância entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) vem se encurtando, enquanto o espaço para uma candidatura alternativa, nessa pré-campanha, parece cada vez mais restrito. As pesquisas de opinião apontam uma tendência de consolidação de votos, em razão de os candidatos serem mais conhecidos, porém, a eleição ainda está no estágio de “guerra de posições”, ou seja, de ocupação de espaços e acumulação de forças. Entretanto, como sabemos, as eleições presidenciais no Brasil são decididas numa “guerra de movimento”, quando a grande massa de eleitores efetivamente se envolve nos debates eleitorais e decide o que fazer. Ninguém leva o eleitor para votar pelo nariz.

As últimas pesquisas estão mostrando que o favoritismo de Lula continua inequívoco nas pesquisas de segundo turno, mas seu crescimento estacionou, no primeiro turno. O ex-presidente trabalha para esvaziar os candidatos da terceira via e não para atraí-los no segundo turno. É uma aposta perigosa, que mira uma vitória improvável no primeiro turno, mais não impossível, num cenário de extrema radicalização política. O petista se considera mono opção para derrotar Bolsonaro, o que não deixa de ser uma arrogância.

José de Souza Martins*: A hipocrisia por trás da estigmatização política

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Quando um membro da elite diz que toma cachaça é para fazer supor que é tão ousado que tem a coragem democrática de misturar-se com os subalternos e ingerir a bebida forte dos simples e valentes

Nos meses que precederam as eleições de 2018, uma das formas de estigmatizar a esquerda era a de apontar em Lula o apreço pela cachaça. Na verdade, entre os operários do ABC, havia e talvez ainda haja a tradição de ir ao boteco próximo da fábrica e tomar uma dose de pinga.

Em certa ocasião antes de eleito vice-presidente, o general Hamilton, já reformado, confessou a um jornalista seu apreço pelas praias do Rio de Janeiro e pelo prazer de uma cervejinha na praia. Havia um tom de carinho pela bebida, tão próprio da função dos diminutivos em nossa língua.

A cerveja e o vinho têm um lugar decisivo na história social neste mundo ocidental de que fazemos parte. Certa vez, levado por uma amiga antropóloga, fui tomar uma cerveja numa cervejaria de aldeia perto de Frankfurt. Naquele lugar, 500 anos antes, Martinho Lutero, um dos fundadores do protestantismo, fora tomar uma cerveja, de que era aficionado.

Quando ainda papa, Bento XVI, em visita à Alemanha, sua terra, encontrou-se com amigos. Aparece numa foto tomando um canecaço de cerveja. Cristo, que era o próprio filho de Deus, transformou o vinho num sacramento, e o pai dele não estranhou nem um pouco. No entanto, em países como o Brasil, muitos hipócritas, que se dizem cristãos, têm opinião oposta à do próprio Deus.

Maria Cristina Fernandes: As vacinas que Bolsonaro resolveu tomar

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Presidente tem uma vasta ficha corrida de denúncias e inoperâncias contra as quais busca vacinas para recuperar eleitores

 “Nada com Deus é tudo e tudo sem Deus é nada.” O apelo é de pastor evangélico, mas a voz é do locutor de rodeios Andraus Araújo de Lima, mais conhecido como Cuiabano Lima, que, no dia 27 de março, foi o mestre de cerimônias do pré-lançamento da candidatura do presidente Jair Bolsonaro à reeleição.

Ao longo dos cinco primeiros minutos de sua fala, um jovem alto e bronzeado permanece ao seu lado com uma camiseta amarela: “imbrochável&, incomível&, imorrível&, incorruptível&”. Cuiabano pede aplausos, mas ninguém larga o celular estendido acima de suas cabeças e o silêncio continua a imperar na plateia.

O locutor tira o chapéu, ajeita a enorme fivela do cinto e capta o humor da plateia. Pede que levantem as mãos e é prontamente atendido. “Somente quem tem fé em Jesus levanta a mão”, diz para as pessoas que permaneciam segurando o celular acima de suas cabeças.

Bolsonaro, que minutos antes havia atravessado o salão do Centro de Convenções de Brasília sob a saudação apoteótica de “capitão do povo”, seria um dos derradeiros a falar na cerimônia que durou 1h45 driblando a lei eleitoral sob o disfarce de ato de filiação ao PL - “É com ele que vou”.

Estavam presentes pelo menos quatro ministros - Ciro Nogueira (Casa Civil), Tereza Cristina (Agricultura), Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Heleno Ribeiro (Gabinete de Segurança Institucional), além do deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP) - que não pertenciam nem se filiariam ao partido de Valdemar da Costa Neto.

Quando o presidente começou a falar, já estava claro que no discurso, nas ênfases, no formato e nos personagens que o cercam tudo ali era diferente da campanha que o elegeu em 2018. O antipetismo sobrevive, mas Bolsonaro, que acumula índices de rejeição em torno dos 60% nas pesquisas eleitorais, está mais focado em se vacinar do que em alfinetar seu principal adversário.

William Waack: O Brasil nas mãos do Centrão

O Estado de S. Paulo

Para os caciques partidários pode ser que não esteja tudo dominado, mas está tudo definido

A excepcional eleição deste ano já tem resultado conhecido. É a confirmação da vitória do Centrão, do sistema político tradicional, da fraqueza dos partidos e do degradante nível geral do Legislativo, não importa o vencedor para o Planalto.

É muito elucidativo constatar o conforto político no qual vive o grande grupo amorfo dessas forças políticas. Consolidaram-se como dominantes – a ponto de se importarem relativamente pouco com o resultado da escolha presidencial.

Esse é o resultado de uma longa linha do tempo que tem como ponto de partida a saída do regime militar. Mas o controle que esse grande grupo hoje exerce é inédito.

Seu símbolo maior é o orçamento secreto, apoiado nas emendas do relator, em si uma contradição com os preceitos democráticos básicos de transparência. Bolsonaro foi manietado pelo STF, mas o Legislativo escapou.

Cristiano Romero*: A fragilidade da “Terceira Via”

Valor Econômico

Ao compor com Alckmin, Lula esvaziou força de 3º candidato

Tudo indica que, ao conseguir a proeza de compor chapa com o ex-tucano Geraldo Alckmin, agora filiado ao PSB, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha em mente cumprir três objetivos, todos, evidentemente, destinados a tornar mais competitiva sua candidatura à Presidência da República:

1. Unir, finalmente, as duas maiores forças da social-democracia no Brasil, no momento em que a disputa de poder que caracterizou a relação entre PT e PSDB, desde a eleição de 1994, perdeu o sentido e, dos líderes que travaram essa batalha, apenas ele, Lula, tem neste momento chances reais de voltar a subir a rampa do Palácio do Planalto;

2. Convencer as elites empresariais e financeiras de que, com Alckmin vice-presidente, ex-representante da ala mais conservadora do PSDB, seu possível terceiro mandato será mais parecido com o que foi o primeiro termo no cargo, entre 2003 e 2006, do que foi o pesadelo da gestão petista de Dilma Rousseff;

Nota: ao contrário da sucessora, sua correligionária, Lula manteve e aperfeiçoou o arcabouço macroeconômico herdado do presidente Fernando Henrique Cardoso, não rompeu contratos e, ademais, não apenas o honrou o pagamento de dívidas, mas também chegou a antecipar a amortização de uma delas, justamente a contratada junto ao outrora odiado Fundo Monetário Internacional (FMI);

3. Diminuir o espaço para a emergência de uma candidatura da chamada “Terceira Via”, forjada tanto à centro-direita quanto à centro-esquerda.

A ideia de um terceiro candidato, amparado por forças que, no centro do espectro político, convergiriam para quebrar a lógica da polarização que caracteriza a política brasileira desde a ascensão de Jair Bolsonaro, o primeiro político de extrema-direita eleito pelo voto popular desde a redemocratização, é de uma fragilidade ululante nesta quadra da vida nacional. No Brasil, ninguém é eleito presidente apenas com os votos de seu partido e mesmo de seu campo político (direita, centro ou esquerda).

Míriam Leitão: Corrupção no atual governo

O Globo

A corrupção sempre esteve presente no governo Bolsonaro, mas está escalando neste final de mandato. O presidente Jair Bolsonaro tem dito que é um governo sem corrupção. Está mentindo. O Ministério da Educação tinha pastores pedindo propina a prefeitos, o dinheiro do Fundo Nacional de Educação está sendo distribuído de forma fraudulenta, uma construtora desconhecida domina as licitações em obras financiadas com verba do orçamento secreto e até as Forças Armadas distribuem recursos a políticos de forma não transparente.

O Ministério da Educação foi minado pela corrupção. O órgão nunca foi tão necessário e nunca foi tão inútil para a educação brasileira. E além disso foi ocupado por picaretas. A ligação entre as maracutaias dos pastores e o presidente é clara. Mas agora o governo tenta apagar as pegadas, colocando em sigilo as entradas no Palácio do Planalto dos pastores que, pelo que disse o ex-ministro Milton Ribeiro, haviam sido enviados pelo próprio presidente Bolsonaro.

Quatro ONGS — Transparência Internacional, Human Rights Watch, Anistia Internacional e WWF — através de suas sedes no Brasil, enviaram ontem à OCDE um pedido de audiência com o novo secretário-geral, Mathias Cormann, fazendo alertas sobre os retrocessos brasileiros na área de direitos humanos, proteção ambiental e combate à corrupção.

Malu Gaspar: O voto, a vergonha e as redes

O Globo

A recente recuperação de Jair Bolsonaro nas pesquisas de opinião fez uma pergunta que andava superada voltar a ocupar as mentes de estrategistas e analistas políticos. Afinal, até onde o presidente da República pode crescer? Teremos, neste ano, uma quantidade significativa de votos envergonhados, daqueles que só se revelam na última hora? E ainda: pelo andar da carruagem, Bolsonaro pode acabar se reelegendo? 

É um combo de questões complexas. Qualquer um que se arrisque a fazer afirmações peremptórias neste momento errará. Mas o exercício de procurar as respostas é útil para compreender o que vem por aí.

Considerando o histórico de eleições passadas, era razoável prever que Bolsonaro fosse subir nas pesquisas à medida que seu pacote de bondades começasse a irrigar a economia.

Desde março, ele já liberou R$ 160 bilhões para ampliar o alcance e o valor do Auxílio Brasil, turbinou o vale-gás e acaba de dar um reajuste de 5% aos servidores públicos da União. Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma adotaram estratégias parecidas e conseguiram o segundo mandato. 

Merval Pereira: Os donos do poder

O Globo

A miríade de partidos políticos em atuação no Congresso impede que se chegue a um acordo para lançar candidato único à Presidência da República pelo chamado “centro democrático”. Cada partido tem seu “dono”, que quer puxar a brasa para sua sardinha devido aos fundos eleitoral e partidário. Fica mais importante fazer uma grande bancada no Congresso do que tentar eleger um presidente que, seja qual for sua ideologia, dependerá dos parlamentares para governar. São os novos “donos do poder”.

A “ameaça” do União Brasil de apresentar uma chapa própria, se a turma do “centro democrático” não levar em consideração a escolha de seu presidente, Luciano Bivar, como candidato a presidente da República, é mais uma jogada para melar o jogo. Provavelmente, desse mato não sai coelho, e os partidos acabarão liberando seus parlamentares para palanques regionais.

O União Brasil não quer ter uma candidatura que atrapalhe Lula. Bivar não atrapalha ninguém, fará uma campanha barata, e sobrará dinheiro para financiar uma grande bancada. Um acordo com Moro ou Ciro Gomes seria contra Lula, o que ninguém quer, especialmente o DEM do Nordeste. E uma parte do PSL que está no União Brasil ainda gosta de Bolsonaro. Então, fica evidente que a escolha de Bivar não é para ganhar eleição, e sim para liberar os votos de todos.