O Globo
A recente recuperação de Jair Bolsonaro nas
pesquisas de opinião fez uma pergunta que andava superada voltar a ocupar as
mentes de estrategistas e analistas políticos. Afinal, até onde o presidente da
República pode crescer? Teremos, neste ano, uma quantidade significativa de
votos envergonhados, daqueles que só se revelam na última hora? E ainda: pelo
andar da carruagem, Bolsonaro pode acabar se reelegendo?
É um combo de questões complexas. Qualquer
um que se arrisque a fazer afirmações peremptórias neste momento errará. Mas o
exercício de procurar as respostas é útil para compreender o que vem por aí.
Considerando o histórico de eleições
passadas, era razoável prever que Bolsonaro fosse subir nas pesquisas à medida
que seu pacote de bondades começasse a irrigar a economia.
Desde março, ele já liberou R$ 160 bilhões para ampliar o alcance e o valor do Auxílio Brasil, turbinou o vale-gás e acaba de dar um reajuste de 5% aos servidores públicos da União. Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma adotaram estratégias parecidas e conseguiram o segundo mandato.
Mas a inflação recorde e a queda na renda
da população são obstáculos difíceis de transpor. Segundo o último levantamento
do Datafolha, 46% dos brasileiros dizem desaprovar o governo, e 55% afirmam que
não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum.
Apurados no final de março, antes da saída
de Sergio Moro da corrida eleitoral, esses números davam a Lula e a seus
aliados a confiança de estar próximos de chegar ao Planalto. Até outro dia, era
comum ouvir de dirigentes petistas frases como “nós vamos pegar uma situação
econômica pior que em 2002”. Em seus discursos, Lula dizia ter certeza de que
Bolsonaro seria derrotado.
Mas não é só o presidente da República que
sofre rejeição. O Datafolha mostra que 37% dos eleitores afirmam não votar em
Lula de forma nenhuma. E Bolsonaro tem 26% das intenções de voto nessa mesma
pesquisa. Mesmo havendo nesse grupo pessoas que também o rejeitam, ele pode
tentar atraí-las explorando de forma eficaz o antipetismo.
É o que o analista político Maurício Moura
chama de “batalha de rejeições”. O bolsonarismo está disposto a vencê-la. Parte
dessa estratégia se baseia em pesquisas qualitativas segundo as quais uma parte
relevante dos eleitores que se dizem inclinados a votar em Lula muda de ideia
depois de assistir a vídeos das delações de empreiteiros e de antigas estrelas
petistas como Antonio Palocci.
Por enquanto, Lula vem facilitando o
trabalho dos bolsonaristas com suas recentes declarações sobre o aborto e a
classe média, que ajudam a acionar o gatilho do antipetismo adormecido em alguns
eleitores. A divulgação da foto de Pabllo Vittar fazendo um manifesto a favor
de Lula no festival Lollapalooza foi outro exemplo de tiro no pé amplamente
comemorado no bolsonarismo.
Lula ainda tem tempo suficiente para
construir um discurso mais ao centro na economia e de mitigar os temores de uma
parcela do antipetismo, da mesma forma como fez em 2002.
Há, porém, uma arena em que, tanto no
lulismo quanto no bolsonarismo, muita gente acha que o caldo pode entornar: as
redes sociais. Seria prematuro dizer que as eleições deste ano serão ganhas nas
redes.
Mas não dá para ignorar que elas são
elemento crucial do ecossistema político e têm imenso poder multiplicador,
especialmente em momentos de grande tensão eleitoral.
Os dados mostram que o petista vem
crescendo e conquistando engajamento ao longo do tempo. Segundo a consultoria
digital Bites, se, em 2019, o presidente da República tinha 13 vezes mais
interações em seus posts que Lula, hoje essa diferença é de apenas três vezes.
Mas Lula partiu de um patamar bem mais
baixo do que Bolsonaro. O presidente tem 45 milhões de seguidores em suas plataformas,
enquanto o petista está com 13 milhões.
As redes petistas de WhatsApp também ainda
não parecem muito orgânicas. Há grupos de apoio a Lula onde o administrador se
despede às dez da noite, e as mensagens param, enquanto os bolsonaristas se
mantêm em frenética atividade, mandando vídeos, memes e links de todo tipo.
O contraste entre o visual tosco e
pretensamente original dos apoiadores do presidente e o jeitão programadinho
das mensagens petistas mostra que a campanha de Lula ainda precisa avançar
muito nesse quesito. Claro que ainda faltam seis meses até a eleição — na política,
uma eternidade.
Mas o quadro geral não recomenda descansar.
Pelo sim, pelo não, talvez seja melhor o pessoal da campanha de Lula botar as
redes sociais para trabalhar de noite também.
Nenhum comentário:
Postar um comentário