O Globo
A corrupção sempre esteve presente no
governo Bolsonaro, mas está escalando neste final de mandato. O presidente Jair
Bolsonaro tem dito que é um governo sem corrupção. Está mentindo. O Ministério
da Educação tinha pastores pedindo propina a prefeitos, o dinheiro do Fundo
Nacional de Educação está sendo distribuído de forma fraudulenta, uma
construtora desconhecida domina as licitações em obras financiadas com verba do
orçamento secreto e até as Forças Armadas distribuem recursos a políticos de
forma não transparente.
O Ministério da Educação foi minado pela
corrupção. O órgão nunca foi tão necessário e nunca foi tão inútil para a
educação brasileira. E além disso foi ocupado por picaretas. A ligação entre as
maracutaias dos pastores e o presidente é clara. Mas agora o governo tenta
apagar as pegadas, colocando em sigilo as entradas no Palácio do Planalto dos
pastores que, pelo que disse o ex-ministro Milton Ribeiro, haviam sido enviados
pelo próprio presidente Bolsonaro.
Quatro ONGS — Transparência Internacional, Human Rights Watch, Anistia Internacional e WWF — através de suas sedes no Brasil, enviaram ontem à OCDE um pedido de audiência com o novo secretário-geral, Mathias Cormann, fazendo alertas sobre os retrocessos brasileiros na área de direitos humanos, proteção ambiental e combate à corrupção.
— Os exemplos da carta são bem ilustrativos
em todas as áreas e mostram, no fundo, um retrocesso democrático. Em todos os
setores que apontamos há desafios, mas o mais importante deles é o retrocesso
nos níveis de transparência da informação pública no governo atual. O governo
tenta enfraquecer a Lei de Acesso à Informação, nega acesso aos dados, e
decreta sigilos extraordinários e abusivos — diz Bruno Brandão, da Transparência
Internacional.
Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura,
suspeitos de corrupção no Ministério da Educação, entravam e saíam do Planalto.
O GLOBO pediu acesso a essa informação. Não apenas foi negado como o Gabinete de Segurança Institucional colocou as as informações
em sigilo alegando que isso afeta a segurança do presidente.
— Para se ter uma ideia do uso abusivo
desse recurso, os papéis da guerra do Vietnã ficaram 40 anos sob sigilo. A ida
dos filhos do presidente ao Planalto e a carteira de vacinação foram colocados
em sigilo de um século — comparou Brandão.
A empreiteira Engefort nunca havia tido
contrato com o governo até que passou a dominar as licitações. Ganhou 53 de 99
licitações e 70% dos seus contratos são financiados pelo orçamento secreto.
Tudo sob o guarda-chuva da Codevasf. Há outros casos.
Na CPI da Pandemia foi revelado que o
governo assinou contrato da vacina Covaxin por um preço 1000% mais caro do que
a empresa havia oferecido seis meses antes. Ex-diretor de Departamento de
Logística do Ministério pediu propina de US$ 1 por dose. A pressão para fechar
o contrato foi denunciada diretamente ao presidente, segundo revelou na CPI o
deputado Luis Miranda, e Bolsonaro nada fez. A denúncia na CPI impediu que o
negócio fosse realizado. O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles foi alvo
de investigação internacional por suspeita de acobertamento de contrabando de
madeira.
As falcatruas do Ministério da Educação
englobam compra de kit robótica para enviar para escolas sem água e sem luz,
sobrepreço na proposta de licitação de ônibus escolares e anúncio de escolas
falsas. O ministro Ciro Nogueira tem induzido prefeitos a anunciar início de
obras que não podem ser executadas, porque libera-se apenas um percentual
mínimo do valor da obra. Com isso o eleitor é enganado, o dinheiro público é
desperdiçado e obras que precisam ser concluídas são abandonadas.
No ano passado, o Grupo de Trabalho sobre
Suborno da OCDE criou um subgrupo apenas para monitorar o caso do Brasil:
— O governo neutralizou os dois pilares
centrais do sistema de checks and balances brasileiro: o jurídico e o político.
O jurídico pela indicação de um PGR com alinhamento sistemático com o governo,
e o pilar político pelo orçamento secreto. É o que a gente chama de corrupção
institucional — disse Bruno Brandão.
O governo Bolsonaro está mergulhado em
corrupção, mas não se deixa investigar, nega o acesso à informação, enfraqueceu
a Polícia Federal, neutralizou a PGR e comprou uma parte do Congresso dando uma
enorme fatia do Orçamento.
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