Folha de S. Paulo
Segundo Bolsonaro, as Forças Armadas não
estão broxas, mas com reumatismo
Nelson Rodrigues disse certa vez, "Se
todos conhecessem a vida sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria
ninguém". Por sorte, a maioria das pessoas mantém certo recato e, com
isso, continuamos a cumprimentá-las sem nos perguntarmos onde botam a mão. Nesta
semana, no entanto, falou-se dos possíveis desaires pessoais de membros de uma
categoria por definição viril: os militares. As Forças Armadas compraram 35.320 comprimidos de Viagra para seus homens.
Ao ouvir a notícia, e sabendo que o Viagra é um remédio para a disfunção erétil, vulgo impotência, o Brasil estremeceu de rir —imagine um bando de oficiais provectos tendo de apelar para o comprimido a fim de bater continência. Aos que me vieram falar, aconselhei respeito: "Esse assunto não nos compete. E daí se há milhares de generais, almirantes e brigadeiros broxas? Em que isso interfere na pintura de postes e faxina dos quartéis?".
Mas então, Jair Bolsonaro —que sonegou
enquanto pôde as vacinas anti-Covid ao povo brasileiro— justificou a compra
alegando as outras funções cobertas pelo Viagra: sua eficácia no tratamento da
hipertensão arterial e das doenças reumáticas. Por um lado, é tranquilizador:
nossos militares estão em dia quanto à performance sexual. Em compensação,
estão com a pressão lá no alto, a ponto de explodir as artérias, e com os
ligamentos, músculos e tendões em pandarecos, daí o surto de lumbago e
bico-de-papagaio entre eles.
Isso, sim, é preocupante. Imagine se
Bolsonaro perder a eleição e tentar melá-la botando na rua seus másculos
atiradores, "colecionadores" de armas, milicianos, seguranças,
bombeiros, PMs, suboficiais do Exército e aspirantes, tropa que apascenta desde
que assumiu? Como reagirão nossas hipertensas e reumáticas Forças Armadas,
supostas detentoras do poder armado no país? Irão combatê-los ou aderir?
Seja como for, não será o Viagra que resolverá.
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