sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Na reta final, investida geral na Zona Oeste


Fábio Vasconcellos e Ludmilla de Lima
DEU EM O GLOBO


Região que, com a Zona Norte, concentra 80% dos eleitores é alvo de Paes, Jandira e Gabeira para ir ao 2º turno

Integrantes do PMDB, do PV e do PCdoB já traçaram parte das estratégias de campanha para o último fim de semana antes das eleições. Amanhã e domingo, Eduardo Paes (PMDB) vai intensificar as visitas a bairros das zonas Norte e Oeste. A Zona Oeste também é o alvo de Jandira Feghali (PCdoB) e Fernando Gabeira (PV). As duas regiões da cidade concentram cerca de 80% do eleitorado carioca e costumam definir eleições. Além de bater o martelo sobre o roteiro, os coordenadores de campanha do PMDB orientaram Paes a evitar responder a qualquer provocação dos adversários, seja nas ruas ou na televisão.


Paes terá novamente a ajuda do governador Sérgio Cabral, que vai participar de eventos com o candidato no domingo. A intenção é ampliar a vantagem do peemedebista nas zonas Norte e Oeste. Cabral estará também na campanha de outros candidatos do partido na Baixada Fluminense, no interior e na televisão, pedindo voto para os vereadores do PMDB.


Gabeira vai almoçar em shoppings da cidade


A briga por uma vaga no segundo turno inclui estratégias inusitadas nesta reta final. Gabeira, por exemplo, promete ir a todos os shoppings da cidade, de olho no eleitor de classe média, que, segundo ele, poderá levá-lo à segunda fase.


- Nesta semana, vamos intensificar na classe média e vamos passar o sábado na Zona Oeste. Vamos intensificar onde somos mais fortes e vamos também reforçar onde somos ainda mais fracos - revelou. - Temos falado muito para a população no rádio e na televisão.


Gabeira planeja ainda investir mais o tempo em áreas de grande aglomeração. Segundo ele, a idéia é "não necessariamente falar com todo mundo, mas ser visto e ver todo mundo":


- Vou começar indo a calçadões e áreas de aglomeração, como praias no fim de semana. Mas, na última semana, o melhor caminho, e pela minha experiência histórica esta semana vamos ter chuva, é visitar todos os shoppings. Vou almoçar em cada um deles.


No sábado, a agenda será concentrada na Zona Oeste - Campo Grande e Santa Cruz. Estão previstas visitas a áreas de milícia, como a Favela do Barbante, onde o candidato já esteve. A grande novidade para esta reta final é o jipe apelidado de Gabeirão, que será utilizado nos deslocamentos.


Jandira vai reforçar campanha na Zona Oeste


Jandira Feghali vai investir até domingo na Zona Oeste. Ela, no entanto, promete intercalar as agendas na região com campanha em outras áreas da cidade. No domingo, por exemplo, vai às zonas Oeste e Sul. Mas o foco agora é o eleitor que ela classifica como "de menor grau de informação e renda".


- A Zona Oeste foi a área em que eu mais estive. Mas vamos intensificar em cima do carro (uma caminhonete), porque assim conseguimos atingir uma área maior - conta a candidata, argumentando que essa é a melhor forma de dar visibilidade à campanha e atrair os indecisos. - O eleitor decide quando ouve, fala com você. Quando você fala para ele, ele faz um recall das suas propostas. Não temos a visibilidade na rua como campanhas milionárias têm.


Jandira já vem reforçando o discurso popular nas favelas que têm visitado. A todo tempo, ela é citada como a candidata que pode derrotar "a elite que mora na Barra". Jandira também intensificou os ataques a adversários, principalmente a Paes, a quem chama de "almofadinha" e de candidato do governador Cabral, muito criticado por ela.


- Vamos governar para quem precisa, do lado de cá da Central - dizia Jandira, ao microfone, esta semana na Zona Oeste. - Quantas mulheres aqui dirigem kombis e são agredidas pela polícia do Cabral?


A candidata ainda repete a todo momento sua aliança de anos com o presidente Lula. O tema serve de pretexto para mais ataques a Paes:


- Chamavam o Lula de ladrão. Agora que ele está bem, chamam de amigo.


Sérgio Cabral começa o sábado numa caminhada em Duque de Caxias para ajudar o prefeito Washington Reis (PMDB). Vai ainda a Nova Iguaçu, São João de Meriti e Belford Roxo.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1098&portal=

Teatro político


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


NOVA YORK. O que seria um "dia histórico", com a reunião dos candidatos à Presidência e a cúpula do Congresso dos dois maiores partidos para chancelar, na presença do presidente George W. Bush, um acordo também histórico para aprovar um pacote de medidas econômicas destinadas a estancar a crise financeira nos Estados Unidos, acabou sendo tachado de "um teatro político". Tanto o democrata Barack Obama, que havia se comprometido a falar depois da reunião na Casa Branca, quanto o republicano John McCain, saíram por portas laterais para não encontrar os jornalistas. Relatos de participantes da reunião davam conta de um clima "de disputa", uma tensão que não estava prevista pela manhã.

A mudança repentina de humor coincidiu com a chegada do senador John McCain a Washington. Três horas antes do encontro "histórico", que colocou na mesma sala da Casa Branca, pela primeira vez, o presidente em exercício e os dois candidatos a sucedê-lo, líderes dos democratas e republicanos deram uma declaração conjunta comemorando a chegada a um acordo sobre o pacote econômico.

Antes mesmo de a reunião na Casa Branca terminar, porém, o senador Richard Selby, republicano do Alabama, dirigiu-se aos jornalistas nos jardins da Casa Branca para anunciar que não havia nenhum acordo assegurado.

Lá dentro, soube-se depois, a reunião se desenrolava em um ambiente inesperadamente disputado, em que os líderes republicanos colocavam-se contra a posição do presidente Bush, que presidia a reunião com uma aparência abatida.

A alegação dos democratas é que o eleitorado estava se manifestando muito fortemente, através de mensagens telefônicas e pela internet, contra o plano apresentado pelo secretário de Tesouro Henry Paulson.

O deputado Barney Frank, democrata de Massachusetts, presidente do Comitê de Finanças, que pela manhã anunciara o acordo, saiu da reunião na Casa Branca claramente irritado com a posição de McCain que, segundo ele, falou pouco e de maneira nada clara: "Não entendi qual é a sua posição", disse o deputado, insinuando que McCain não se posicionara justamente para não ter que assumir compromissos.

Os republicanos alegam que estão tentando fazer um pacote econômico que proteja "os interesses das famílias, dos idosos, do pequeno comerciante e de todos os contribuintes". Os democratas, que têm a maioria no Congresso, não querem aprovar o pacote sem a participação dos republicanos, mesmo que tenham votos para tal.

Mas, estão muito mais dispostos a ajudar a Casa Branca a encontrar uma saída para a crise do que os republicanos, especialmente mais empenhados na viabilização da candidatura de McCain. Com a crise econômica explodindo, a candidatura republicana ficou mais vulnerável, e voltou a cair nas pesquisas de opinião.

Ao mesmo tempo, os democratas no Congresso foram muito mais agressivos que os republicanos no início da discussão do pacote econômico apresentado pelo secretário do Tesouro e pelo presidente do Banco Central, Ben Bernanke.

Deve-se a eles a inclusão no pacote da proteção aos devedores de hipotecas e a redução de salário dos executivos das empresas que forem ajudadas.

Somente quando se convenceram de que o acordo que estava sendo encaminhado favoreceria aos democratas é que os republicanos passaram a boicotá-lo, mesmo com a pressão pessoal a favor do presidente Bush. A expressão abatida com que Bush apareceu na televisão, na abertura da reunião, é a melhor definição de sua fraqueza atual.

Um presidente impopular em final de mandato não recebe o apoio nem mesmo de seu próprio partido. Seu abraço é o de um afogado que pode levar ao afogamento o seu salvador. Seu beijo é o beijo da morte, nem os antigos aliados o querem.

Por isso, a reunião em plena Casa Branca foi tão tensa, e a tentativa de se chegar a um consenso antes da reunião, para que nela houvesse apenas a formalização dos acordos, foi atropelada, ao que tudo indica, por orientação do próprio John McCain, que resolveu tentar tirar partido da situação econômica que, até o momento, só o tem atrapalhado.

E a maneira como os republicanos, que se preparam para disputar também eleições na Câmara e no Senado, com previsão de serem atropelados pelos democratas, estão tratando a atual administração em fim de mandato mostra bem quem eles consideram culpado pela quase inevitável derrota de McCain.

Mas nem todo movimento que parece inteligente surte esse efeito junto ao eleitorado. A decisão de suspender a campanha presidencial e adiar o primeiro debate foi muito mal recebida, inclusive entre parte de seus próprios eleitores.

As televisões passaram o dia de ontem mostrando a reação de eleitores de diversos estados, a grande maioria acusando McCain de fugir da discussão e de estar menosprezando a opinião pública.

McCain também cancelou uma aparição no programa de David Letterman na CBS e foi duramente criticado pelo apresentador: "O que ele pretende fazer se houver uma crise quando for presidente? Adiar a Presidência?".

A ofensiva dos republicanos para retomar a dianteira nos debates sobre o pacote econômico tem a ver com essa tentativa de reverter a situação, levando à opinião pública a idéia de que a candidatura McCain não tem a ver com a administração Bush. Uma ginástica política com poucas probabilidades de dar certo.

A galinha do vizinho


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Chame-se de inferioridade, complexo de vira-lata ou fatalismo decorrente de anos de experiência no ramo.

Dê-se ao fenômeno qualquer nome, a realidade é que por aqui o cidadão medianamente informado acompanha com interesse cada lance da eleição norte-americana, examina com rigor os movimentos de John McCain e Barack Obama, mas não se mostra tão exigente quando se trata de julgar o desempenho dos candidatos a governos do Brasil.

Basta perceber o espaço que os especialistas dedicam aos dois cenários. E não vale o argumento de que nos Estados Unidos neste ano disputa-se o comando do mundo enquanto nossos embates não envolvem mais que lideranças de paróquia.

Na eleição presidencial ocorre o mesmo e essa comparação é a que realmente interessa para estabelecer claramente as diferenças.

A reação de McCain e Barack frente à crise econômica eletriza as atenções. Iniciada a segunda fase de queda nas bolsas, o democrata anunciou ajustes em seu programa de governo, o republicado parou tudo para ajudar o seu governo a aprovar o pacote de U$ 700 bilhões no Congresso e o presidente George W. Bush chamou os dois para discutir o plano em Washington.

Seria demagogia, hipocrisia, simulação, golpe publicitário, falsa preocupação? Não interessa a motivação. O foco, de qualquer modo é a solução. A nenhum dos dois candidatos ocorre usar a crise para prometer uma solução mágica caso sejam eleitos.

Tampouco lhes passaria pela cabeça escrever, como sugeriu em sua despedida de Nova York o presidente Luiz Inácio da Silva, uma “carta ao povo americano”, no modelo da “carta aos brasileiros” de 2002, mediante a qual o PT renegava sua história e acariciava os mercados.

No caso, Obama e McCain estão imunes a suspeitas porque nenhum deles chegou a candidato prometendo virar os Estados Unidos do avesso.

Aliás, se o tivessem feito muito provavelmente não chegariam às convenções dos respectivos partidos. Comportam-se, lá como cá, de acordo com as demandas do eleitorado.

Na campanha americana tudo é importante: a economia, a política internacional, os conflitos mundiais, a destinação do dinheiro dos impostos, o meio ambiente, as questões sociais, raciais, a atitude da família dos candidatos e, sobretudo, o conteúdo das palavras dos propriamente ditos.

Na brasileira, interessa o programa eleitoral mais bem produzido, o marqueteiro mais esperto, a tirada mais bem elaborada, a promessa bem sacada. Enunciados quanto mais ocos, mais bem aceitos. Já problemas intrincados, idéias com começo, meio e fim, cobranças pesadas não sensibilizam, antes atemorizam o eleitor brasileiro.

Adaptação


O deputado José Genoino divulga nota atribuindo o sucesso do presidente Lula a um bem planejado e executado plano de governo. Segundo ele, a oposição, “desnorteada”, busca explicações na “superstição” e no “sobrenatural”, dizendo que o presidente simplesmente “tem sorte”.

O deputado anda confuso e esquecido.

Quem celebra a própria sorte é o presidente. A oposição, e aí Genoino tem razão, desnorteada, embarca nessa versão, cujo propósito subjacente é alimentar a crendice da contraposição entre Lula e o infortúnio.

Há cinco anos o mesmo Genoino desenhava assim o projeto do PT ao chegar à Presidência: eleger muitas prefeituras, ocupar cada vez mais governos de Estados e transformar o Brasil uma sociedade de hegemonia petista. Política, social e culturalmente falando.

Marta outra vez

Nada nesse mundo parece capaz de tirar Marta Suplicy do segundo turno da eleição paulistana, ao mesmo tempo em que a briga na seara tucana praticamente põe nas mãos dela a prefeitura.

Porém, em nome da prudência conviria à candidata não tripudiar. Dançar, cantar vitória, caprichar nas ironias é bom, mas depois de tudo garantido. A precipitação não raro faz dos dias de abundância vésperas de carência absoluta.

Na dúvida, pergunte-se a Fernando Henrique Cardoso o efeito da fotografia sentando na cadeira de prefeito um dia antes de perder a eleição de prefeito para Jânio Quadros em 1985.

Hoje o inimigo de Marta não é Alckmin nem Kassab. É o temperamento.

Morreu de velho

Embora Gilberto Kassab não tenha dado um “golpe” em José Serra para ser o vice em 2004, como alega Geraldo Alckmin, a escolha não foi amena. Decidido que o vice seria do então PFL, Serra e o PSDB escolheram José Aristodemo Pinotti.

Presidente do partido, Jorge Bornhausen vetou Pinotti por causa de seu coração tucano de quatro costados e convocou Kassab. Quer dizer, noves fora lealdades adquiridas a posteriori, o hoje prefeito foi posto na aliança Serra sob a ótica da conveniência de confiar desconfiando.

Notas de campanha

Sergio Costa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

RIO DE JANEIRO - Os quatro primeiros colocados na eleição do Rio, vistos do lado de cá da campanha, de quem é obrigado a observá-los: Eduardo Paes (PMDB): segue o modelo Sérgio Cabral ao falar com jornalistas. Toda pergunta que lhe fazem é sempre "muito importante", mas só responde o que quer e aproveita para anunciar que vai fazer mais postos de saúde 24 horas.

Marcelo Crivella (PRB): no discurso, é bispo licenciado da sua igreja, mas não perde o jeito pastoral ao segurar as mãos do interlocutor. Já pediu a Deus que abençoasse até traficante em favela. Mora no coração de Lula, seu pastor para garantir que nada nos faltará aqui.

Jandira Feghali (PC do B): domou os cabelos, mas não o temperamento. Com um mau humor contagiante, dificilmente deixa de responder a alguma pergunta sem bater boca com o repórter. Contrariada, arranca os cabelos.

Fernando Gabeira (PV): responde com a serenidade de quem não esconde as rugas. Afinal, levou tiro na ditadura e pilotou -amarradão- trem urbano no exílio sueco, divertindo-se ao não parar em certas estações. Tem proposta para tudo e decidiu, agora, ir para o corpo-a-corpo além da zona sul. Vai de jipe -o "Gabeirão"- para o safári eleitoral na periferia. Demorou.

Qual deles vai ganhar é outra conversa. Quando ouço alguém condicionar o voto a quem tem chance, lembro logo de um antigo contínuo de redação. Ao fim de uma apuração, com jornal numa mão e a "cola" que levara para a cabine na outra, ele conferia em voz alta o resultado das urnas."Presidente: acertei; governador: errei; senador: errei; deputado federal: acertei; deputado estadual: acertei". E sério, no fim:

"Só errei dois!", exultava, enquanto sábios ao redor explodiam de rir.

Eleição, para ele, era feito loteria.

Pensando bem, faz sentido.

O debate pauta o segundo turno


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL

Depois de ler linha por linha, o caderno da edição de ontem do JB sobre o primeiro e único debate para valer entre os 10 candidatos a prefeito desta ex-capital do país e atual capital do Estado do Rio de Janeiro, confirmei a convicção pessoal que a reforma política será o tema dominante no mano a mano do provável segundo turno.

De quase tudo trataram os candidatos em quatro horas de confrontos em defesa das suas propostas para arrumar a cidade na sua dramática decadência. Mas se trocarmos as siglas que identificam os partidos de cada um dos candidatos, poucos perceberiam a dança das letras.

Claro, há exceções: ninguém engoliria sem protesto se os candidatos de notória linha de esquerda, como Jandira Feghali do PCdoB, Fernando Gabeira do PV ou Chico Alencar do PSOL forem sumariamente transferidos para os partidos de centro ou que se inclinam para a direita. E na contramão seria inviável matricular a revelia o candidato Marcelo Crivella do PRB em um dos partidos do balaio da esquerda.

Ressalve-se que os candidatos a prefeito não têm a menor culpa pela mixórdia partidária, filha dileta da decência ética e moral que afeta os três poderes, com a inquestionável primazia do Legislativo.

Daqui até a eleição, no domingo, dia 5 de outubro, a campanha, com o empurrão do debate do JB, ganhará fôlego que as próxima pesquisas devem registrar.

Como é improvável a decisão no primeiro turno, a reforma política terá amplo espaço no segundo turno, com a carga dupla de emoção que racha a opinião pública: a derrubada do muro em que se equilibram os indecisos amplia a discussão que dissipa as dúvidas.

Não há tempo a perder. A atropelada na reta final está com munição de sobra para impor aos candidatos o aprofundamento dos temas que mexem com a vida da população da capital e de cada município.

Certamente o sucesso da iniciativa do JB lança a moda de debates em todos os meios de comunicação por todo o país. E se o modelo não precisa ser copiado, será difícil inventar novidade com risco de não dar certo.

Para o segundo turno, com uma hora bem programada na divisão de blocos óbvios, os finalistas poderão aprofundar as suas propostas, responder às perguntas de jornalistas, convidados e do público; trocar farpas no confronto direto e os 10 minutos clássicos para as conclusões no recado direto ao eleitor.

Se o prazo é curto, mais uma razão para aproveitá-lo. Seja nos últimos e escassos minutos do inqualificável horário de propaganda eleitoral, pelos finalistas do segundo turno e por quem pretende continuar na militância política.

Baixaria não dá votos, desmoraliza a já tão desacreditada política, com o Congresso exposto na sucessão de escândalos e na orgia das mordomias, das vantagens, dos benefícios e demais desatinos da semana de três dias úteis.

O Rio clama por socorro. E começa a descrer das soluções miraculosas, improvisadas nos apertos críticos de competições ou de congressos internacionais. A pretensão de sediar a Olimpíada de 2014 soa como uma insensatez que, talvez ainda possa ser superada pelos futuros governos da capital e do estado.

Este é o desafio que o debate do JB colocou como a prioridade absoluta dos compromissos dos candidatos a administrar o Rio e a todos os municípios e estados do país.

O candidato Fernando Gabeira botou o dedo na ferida na sentença perfeita: "A solução não vem de um governo ou pessoa. Precisamos de uma frente".

Pois a hora é esta. A legalização da união entre homossexuais pode ser submetida à votação no Congresso a qualquer hora. Mas, francamente, não é uma prioridade de aflitiva urgência.

A prefeitura de SP e a Presidência do Brasil


Alberto Carlos Almeida
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O que tem a ver a sucessão em São Paulo e a eleição presidencial daqui a dois anos? Muitos vão dizer que se Marta Suplicy vencer em São Paulo será um enfraquecimento da candidatura José Serra. Outros mencionarão que, se Marta for eleita, ela tentará ser candidata a presidente, competindo com Dilma Roussef pela indicação do PT. Nada disso importa. O que há de importante na eleição de São Paulo e tem a ver com a eleição presidencial, seja qual for o vencedor, Marta ou Kassab, serão os mapas de votação. Tudo indica que eles mostrarão que o PT é muito forte na periferia, nas áreas mais pobres, e o PSDB e os Democratas nas áreas menos pobres da cidade.

Em 2002 a votação de Lula foi muito homogênea em todos os grupos sociais. Em 2006 a mudança foi grande: Lula foi muito mais votado entre os mais pobres e o candidato do PSDB mais votado, em termos relativos, entre os de renda mais elevada.

A principal marca do PT é a de partido que defende as pessoas mais pobres e necessitadas. Lula foi retirante, operário e sindicalista. Faz parte de uma nova elite de poder, uma elite que veio de baixo. Isso não é monopólio de Lula, grande parte do PT tem trajetória semelhante, ainda que poucos sejam ex-operários. O nome do partido traz a palavra "trabalhadores" e antes de chegar à Presidência as posições de Lula e do PT eram extremamente intransigentes na defesa dos interesses dos mais pobres. Desde sua fundação, nos anos 1980, até a vitória de 2002 foram aproximadamente 20 anos construindo uma marca, a marca de defesa do social.

Assim, é possível analisar a trajetória do PT antes de conquistar a Presidência da República exclusivamente como uma trajetória de comunicação: o PT construiu uma marca. Bateu-se insistentemente - e de forma intransigente - na mesma tecla: defesa de aumentos salariais reais, erradicação da miséria, caravanas da cidadania, enfim, toda sorte de discursos e de ações que colocassem o partido claramente ao lado dos mais pobres.

Em 2002, Lula foi eleito presidente. O que ocorreu desde então? A marca não se perdeu. O presidente e seu governo mantiveram a marca do partido: programas Fome Zero, Bolsa Família, ProUni, crédito consignado. Enfim, foram tomadas várias medidas para incluir os pobres no sistema bancário, universitário, no mercado de trabalho formal e coisas desse tipo. Os pobres agradeceram elegendo Lula novamente em 2006.

Não basta botar o ovo, é preciso cacarejar. Tudo o que o governo faz na área social, por menor que seja, é alardeado com vigor. Não estou afirmando que sejam programas abrangentes ou extremamente úteis. Interessa-me aqui, apenas, o efeito que isso tem na comunicação e na formação de imagem. Lula e o PT, mesmo com Aerolula, Mensalão, Lulinha, aumento dos gastos públicos e outras medidas e acontecimentos condenáveis e pouco consensuais, ainda com tudo isso, ambos conseguiram preservar e até mesmo exacerbar a imagem de partido comprometido com a população mais pobre.

Voltemos à eleição de São Paulo. A campanha de Paulo Maluf para a prefeitura, em que pese o fato de não ter chance de vitória e servir apenas para pôr o nome dele em evidência visando à eleição para deputado federal, é uma campanha das antigas, da época em que o social não era a prioridade. Maluf fala em obras, obras e mais obras. Fala das obras que fez e das que vai fazer. Foi-se o tempo em que um candidato era eleito em razão das obras viárias que fazia e prometia. Hoje, em São Paulo, será eleito aquele que for mais persuasivo no que tange ao tema social e mais especificamente no que diz respeito à saúde. Aquele que persuadir o eleitor que vai resolver o problema da saúde tende a vencer as eleições. Portanto, não será Maluf.

No passado, muitos pobres analfabetos não votavam. O voto do analfabeto foi permitido somente em 1988. No passado, os pobres que votavam eram mais conformados com o próprio destino do que são hoje. Eles não conectavam o voto à possibilidade de melhoria de vida. Era uma sociedade menos móvel, baseada mais na família e na comunidade local do que em qualquer outra instituição.

À medida que as pessoas aumentam a escolaridade, passam a ver o mundo de maneira diferente. Em todos os lugares do mundo os menos escolarizados acham que não adianta nada se associar para pressionar o governo. É só aumentar um pouco a escolaridade ou passar, por alguma razão, a participar de um sindicato, como fez Lula, que os pobres mudam de crença: passam a achar que o voto deles pode mudar o próprio destino, a acreditar que, se pressionarem o governo, vão obter algum tipo de ganho ou benefício. Maluf era eleito pelos pobres do passado. Lula foi eleito e reeleito pelos pobres de hoje.

Qualquer que seja o candidato a presidente do PSDB, Serra ou Aécio Neves, é previsível hoje, neste mês, qual será o principal discurso do candidato petista, a sua principal marca: cuidar dos pobres. Não será mais Lula a cuidar dos pobres, mas será um candidato com a bênção do Bolsa Família, do ProUni, da conta bancária, etc. É previsível o discurso do candidato governista: quem fez isso e isso pelos pobres vai continuar fazendo, desta vez aquilo e aquilo.

Já há sinais acerca desse "aquilo". Lula anunciou que vai construir centenas de Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) em todo o Brasil. A UPA é o principal símbolo do programa de saúde levado a cabo por Sérgio Cabral no governo estadual do Rio. As UPAs atingem em cheio o principal problema social de praticamente qualquer município e Estado: a saúde pública.

Nosso país tem esta grande dificuldade: massificar o acesso, dar acesso aos pobres a coisas que eles não tinham ou têm. O governo Fernando Henrique fez isso ao baixar a inflação, colocou comida na mesa do pobre. Os símbolos da época, todos se recordam, foram o frango, o queijo e o iogurte. Fernando Henrique fez mais: deu acesso ao telefone. Não importa qual meio é utilizado para isso, se a privatização ou não, o que importa é que, por um longo período, o PSDB disputou com o PT a agenda de realizações para os pobres, o esforço de dar acesso aos pobres a bens e serviços que eles nunca tiveram.

Nem tudo são flores nesse caminho. Caíram os preços das passagens aéreas e o caos aéreo se instalou. Quando estava chegando a hora de os pobres começarem a voar, os preços subiram novamente e o sistema voltou a "funcionar corretamente". É irônico, mas foi exatamente o que aconteceu. Isso revela a dificuldade que o Brasil tem, toda vez que as soluções envolvem o setor público, de massificar o acesso dos pobres a bens e serviços.

Caíram os preços das passagens aéreas e o sistema entrou em colapso; ampliou-se o crédito, mais carros foram comprados e nossas cidades entraram em colapso; foi criado o SUS e universalizado o acesso à saúde e o sistema entrou em colapso. Esse é o país aristocrático chamado Brasil, que tem dificuldade em massificar as coisas. O PT se propõe a fazer isso, mas nem sempre as intenções levam ao fato.

Ocorre que será esse o discurso - o discurso do social - da sucessão presidencial, sucessão que na sua primeira simulação, exatos dois anos antes da eleição presidencial, põe a desconhecida Dilma Roussef com 8% das intenções de voto, 30 pontos porcentuais abaixo do candidato mais forte do PSDB, o governador José Serra. Aécio tem menos votos do que Serra por um único e exclusivo motivo: o recall dele é menor, ele é menos conhecido nacionalmente do que o governador de São Paulo. Ambos, porém, vão precisar de argumentos - na área social - para enfrentar o discurso petista.

Tome-se o exemplo de São Paulo. É útil, sem duvida, ter visibilidade nacional aprovando uma lei restritiva ao fumo; lei que, aliás, conta com ampla aprovação nacional. Porém, seria mais útil, em termos de comunicação e de marketing, transformar São Paulo no primeiro Estado livre da pobreza e da miséria.

Isso não é possível, é verdade. Trata-se de uma peça de comunicação. Mas é possível, sim, fazer um amplo programa de grande impacto, com início em 2009 e término em, por exemplo, 2029, visando a acabar com as favelas, resolver o tempo de espera na saúde, melhorar a educação, enfim, atingir objetivos ambiciosos em todas as áreas sociais importantes. São Paulo tem recursos para isso e os gestores do PSDB têm a competência.

Note-se, esse exemplo de programa de ação combinado com comunicação moveria o PSDB para mais perto do novo centro político do Brasil. Mais do que isso, poria a nossa direita, assim como fez a direita em todos os países europeus depois de perder o poder para os partidos de esquerda, em melhores condições de enfrentar a marca social do PT. É possível que o principal tema dos próximos 20 anos da política brasileira seja o tema do social. Ocorreu assim no pós-guerra europeu. Esse longo ciclo foi rompido apenas nos anos 1970, depois do governo de Margaret Thatcher na Grã-Bretanha.

Em todo esse período a direita européia, para enfrentar a esquerda em igualdade de condições, caminhou para a esquerda, caminhou para o social. Isso havia acontecido antes mesmo da Segunda Guerra Mundial, durante o período do assim chamado "todos os governos burgueses" na Alemanha. Foram os partidos de direita, na república de Weimar, que mais adotaram políticas de redistribuição de renda. Os conservadores da época avaliaram que isso era necessário para que fosse possível enfrentar o partido social-democrata alemão.

Afirma-se que aprender com os nossos acertos é obrigação, mas aprender com os acertos dos outros é sabedoria. Acertar, neste caso, ocupar o terreno do adversário. Hoje, do ponto de vista do PSDB, ocupar o terreno do adversário é ter muitos e muitos votos na extrema zona leste e zona sul paulistanas e no que ela representa Brasil afora.

Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" (Record).

Os santinhos com Lula


Maria Cristina Fernandes
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Vinte dos 26 prefeitos de capital são candidatos à reeleição. Em apenas três cidades (São Paulo, Manaus e Salvador) esses prefeitos que disputam a chance de um novo mandato não lideram. Somando-se aos candidatos favoritos dos atuais prefeitos de Belo Horizonte e Recife, tem-se 19 capitais em que as pesquisas, nesta última semana que antecede as eleições, revelam tendência de manutenção do mesmo grupo político no poder.

Tomando por referência 2004, quando em apenas oito capitais os prefeitos foram reeleitos e em outras quatro foram conduzidos ao cargo sucessores aliados, a tendência conservadora das urnas de 5 de outubro parece a grande novidade das eleições. O que o retrospecto das disputas no conjunto dos 5.564 municípios do país mostra, no entanto, é que as capitais aderem a um comportamento eleitoral já observado no resto do país. A taxa de reeleição dos prefeitos que se recandidataram em todo o país foi de 58%, tanto em 2000 quanto em 2004. As pesquisas nas capitais sugerem que essa tendência pode vir a ser acentuada nacionalmente.

Se há mais chances de reeleição é porque também há um maior número de recandidaturas. Nos números da Confederação Nacional dos Municípios, dos 4.368 prefeitos que têm o direito de disputar reeleição, 77% são candidatos. A base dos elegíveis a um novo mandato este ano é maior do que em 2004 - quando dois mil prefeitos já reeleitos estavam fora do jogo - e menor do que a de 2000, quando todos tiveram o direito de se recandidatar, mas apenas 62% o fizeram.

Se mais prefeitos decidiram se recandidatar é porque avaliam ter maiores chances do que seus antecessores. Não há como dissociar esta maior disposição dos prefeitos em testar suas chances nas urnas à maior satisfação dos eleitores.

Na página do PT na internet há uma ampla avaliação das mudanças na relação entre União e municípios nos últimos anos que pode ajudar a entender essa percepção mais benfazeja do eleitorado. Em resumo: o Fundo de Participação dos Municípios ganhou R$ 14 bilhões em quatro anos, o ISS ampliou sua base e já representa quase metade das receitas próprias dos municípios e a partilha da Cide acrescentou R$ 143 milhões anuais aos cofres municipais.

Nos grotões, o ano de 2004 iniciou-se com apenas 4% dos municípios atendendo a 75% de toda a população alvo do Bolsa Família. Em 2008 esta fatia de beneficiários está espalhada em 92% dos municípios. Nas cidades com população superior a 150 mil habitantes, onde se incluem todas as capitais que hoje capitaneiam a conservação do poder, tem o PAC, inexistente em 2004. Aí se incluem obras de metrô em quatro capitais (BH, Fortaleza, Recife e Salvador), 165 projetos de urbanização de favelas (41% em obras) e 314 projetos de abastecimento de água e saneamento (31% em obras).

Todas essas obras têm contrapartida estadual e municipal e o eleitor de 2008 parece mais satisfeito do que o de 2004 com todas as esferas de poder. Mas a lufada de boa vontade passa com muito mais força pelo Palácio do Planalto. A comparação das pesquisas CNT/Sensus de setembro de 2008 com a do mesmo mês de 2004 indica que a avaliação positiva de todos os governantes cresceu, mas a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumentou quase quatro vezes mais do que a dos prefeitos e sete vezes mais que a dos governadores (ver gráfico acima).

É isso que tem alimentado o folclore da campanha, como a comerciante Ledinalva da Silva no horário eleitoral do PSDB em Cuiabá dizendo que o prefeito, candidato à reeleição, ajuda tanto os pobres quanto seu irmão presidente da República, ou mesmo a propaganda por telefone de uma vereadora do PT em Angra dos Reis (RJ), suspensa pela justiça eleitoral, em que o locutor imita a voz do presidente da República.

Mas as conseqüências vão além do folclore. PSDB e DEM são, respectivamente, os partidos com o menor percentual de recandidatos. E os partidos da base lulista, recordistas em número de prefeitos que tentam a reeleição, capitaneiam a lufada de vento conservador que ameaça varrer as urnas de 5 de outubro.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

A crise financeira: e agora, quem pagará a conta?


Yoshiaki Nakano
DEU NO VALOR ECONÔMICO


A crise financeira nos EUA parece ter atingido o chamado "momento Minsky". O presidente Bush anunciou, pela TV, que se as medidas de socorro não forem tomadas imediatamente, as consequências para a economia americana serão severas. Com o colapso dos preços dos ativos financeiros, seus efeitos negativos sobre os consumidores poderão ser amplificados pelo "acelerador financeiro" com contração generalizada de crédito, desacelerando a demanda agregada já em queda. A proposta do secretário de Tesouro, que pediu ao Congresso plenos poderes para gastar US$ 700 bilhões para comprar "ativos podres", deverá ser aprovada, mas encontra resistências, pois não define quem pagará o prejuízo.

A atual crise foi inaugurada com o pedido de falência do Ownit Mortgage Solutions no dia 28 de dezembro de 2006, quando a bolha imobiliária estoura e os preços dos imóveis começam a cair. Chega também o momento em que milhares e milhares de famílias, no segmento subprime, não conseguem pagar as suas prestações e começam a perder as suas casas com a execução de hipotecas (as chamadas foreclosures). O governo republicano tanto permitiu a criação da bolha, como assistiu, com indiferença, o colapso do subprime, e ainda permitiu a sua propagação para os bancos, pelo canal da securitização de hipotecas e transferência de riscos. Estes passam a anunciar prejuízos, desencadeando uma crise de confiança e contração de liquidez.

Grandes instituições financeiras que carregavam títulos com garantias hipotecárias problemáticas, como Bear Stearns, Fannie Mae, Freddie Mac, entram em colapso, e o governo intervém massivamente injetando liquidez, quando o problema não era só de liquidez. Havia originalmente problemas de solvência e de supervisão do sistema. Assim, entra-se num processo em que a perda de valor das garantias (valor do imóvel) desencadeia um círculo vicioso de desconfiança por problemas de regulação/supervisão e informação, provocando queda no preços dos ativos e levando as pessoas a venderem seus ativos - e, em consequência, os preços caem mais ainda. As instituições financeiras não conseguem mais se financiar no mercado e, com crescente aversão ao risco e incerteza, entra-se na armadilha da liquidez. Por mais que o Fed injete liquidez, o mercado para estes ativos não volta, nem se estabelece um piso de preços; ninguém quer assumir riscos, todos preferem acumular liquidez. As instituições financeiras, sofrendo prejuízos, assistem seus balanços e capital próprio encolherem, não conseguem mais se recapitalizar e precisam se desalavancar.

Assim, a crise entra numa nova fase, atingindo, por contágio, instituições sadias, e uma contração generalizada de crédito atinge o setor real da economia. Agora, é preciso um enfrentamento do verdadeiro problema e um tratamento de todo o sistema, e não de suas partes. Na proposta Paulson/Bernanke, o Tesouro compraria os ativos ilíquidos/podres, retirando-os dos balanços das instituições financeiras, o que poderia devolver-lhes a confiança, recompondo a liquidez no mercado ao restituir a eles a capacidade de criação de crédito. O grande problema aqui é como estabelecer os preços destes ativos podres. Se for por leilão bem conduzido, supervisionado e transparente, como querem os democratas, é provável que o deságio seja enorme. Uma referência de mercado são os preços atingidos no leilão de ativos da Merrill Lynch, que foi de 22% do preço de face. Neste caso, é provável que os bancos não participem - se participarem, vão para falência e o custo, em impostos para o cidadão, será pequeno. Os acionistas e investidores pagarão a conta. Se o preço de compra dos ativos podres for próximo ao valor de face, como quer o secretário do Tesouro, quem pagará a conta é o cidadão. O Tesouro subsidiará os acionistas e investidores. Qualquer destas escolhas terá também efeitos diferenciados na futura trajetória da economia.

Walter Bagehot, editor da revista The Economist no Século XIX, propôs uma regra de política respeitada até hoje. O Banco Central deve emprestar livremente para bancos em dificuldade, mas com garantia de alta qualidade - como títulos do Tesouro - e sempre cobrando taxas de juros punitivas. Algo próximo aconteceu com o Bear Stearns. O Fed emprestou US$ 30 bilhões para salvá-lo e transferi-lo para o JP Morgan Chase. Se as garantias forem boas, o cidadão não pagará nada. Os acionistas perderam praticamente tudo e os administradores foram certamente substituídos.

O Fed vem aplicando uma variante desta regra, que certamente Bagehot não concordaria. Criou novos programas, emprestando livremente aos bancos em dificuldades com baixas taxas de juros e grande flexibilidade nas garantias, visando preservar o mercado, isto é, o investidor. Se este se sentir mais seguro, os bancos poderão voltar a operar, recompor seu capital, sua solidez e voltar a emprestar normalmente. Evidentemente, quem paga a conta inicialmente é o contribuinte, mas o argumento é de que, no final, ele também sairá ganhando, se forem evitadas a crise e a recessão. Os recentes casos de Fannie Mae, Freddie Mac, Morgan Stanley e Goldman Sachs representam socorros flexíveis e generosos casos desta categoria. Na verdade, é preciso lembrar que o Fed, ao abaixar dramaticamente a taxa de juros, está dando um subsídio para os acionistas, além do custo que terá o cidadão, com uma taxa de inflação muito mais elevada, já captada pelos investidores que a embutiram nas taxas mais longas.

No caso do Lehman Brothers, o tratamento foi bem diferente. A crise foi resultado da ganância por bônus milionários de administradores irresponsáveis, e os acionistas fecharam os olhos para obter dividendos polpudos. Assim, abusaram da alavancagem e de operações que não constam em seus balanços, comprando títulos lastreados em hipotecas subprime com elevados retornos e financiando-os com emissão "comercial papers". E ainda desconfia-se que tenham praticado fraudes. Falência e FBI para os responsáveis!

Mas agora a crise avançou e não são alguns bancos que estão em dificuldade, mas todo o sistema está ameaçado. As políticas acima não se aplicam mais. É preciso muito mais. O socorro proposto por Paulson/Bernanke não resolverá o problema da recapitalização dos bancos, muito menos a questão da supervisão e gestão de risco. Certamente, será o primeiro socorro sistêmico, mas tentativo e improvisado. Outros virão, mas, aparentemente, o atual modelo de negócio bancário é que foi colocado em cheque.


Yoshiaki Nakano é ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP, escreve hoje excepcionalmente.

PT denuncia Múcio por “abuso” do cargo


Joana Rozowykwiat
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Do alto do seu estratégico posto de ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (PTB) tem percorrido o Estado levando todo o seu prestígio às campanhas dos candidatos que defende nessa eleição, mas também causando muito desconforto e indignação em alguns petistas. Eles reclamam que o ministro estaria “abusando” da sua posição no governo, alardeando que seria representante do presidente Lula no apoio a postulações que não contam com a adesão do PT e, pior, muitas vezes, são patrocinadas por siglas como DEM e PSDB. Para frear esse tipo de situação, o presidente estadual do partido, Jorge Perez, enviou um ofício ao diretório nacional, pedindo que o próprio Lula seja informado do assunto.

Pelo menos quatro cidades se queixaram formalmente de José Múcio: Jaqueira, Palmares, Condado e São João. Para provar o que estaria ocorrendo, o diretório municipal de São João enviou a gravação do guia eleitoral de rádio do município. No áudio, o ministro teria afirmado que o candidato Pedro Antonio Barbosa (PTB), cujo vice é Luiz Gonzaga (DEM), é o verdadeiro candidato de Lula, contrapondo-se a Antonio de Pádua (PSB), que tem como companheiro de chapa, Hugo Cabral (PT).

“O ministro chega anunciando que o presidente Lula mandou dizer que o candidato dele é Pedro Barbosa. Afirma que ele próprio é a pessoa que abre as portas do gabinete de Lula. Acho que ele virou porteiro agora. Ministro não é para dizer esse tipo de coisa, que confunde a população. O PT é o partido de Lula e tem outro candidato em São João”, reagiu Hugo Cabral.

Em Condado, a reclamação é a mesma. O petista José Cláudio é candidato a vice na chapa encabeçada pelo PSB e afirma que, nos dois eventos que participou na cidade, José Múcio teria se colocado como representante não apenas de Lula, mas do PT. “Temos gravado o pronunciamento dele, em setembro, dizendo que ele é o único que pode representar o PT de Lula. Isso é absurdo. Ele nunca teve nada a ver com o PT”, indigna-se. José Cláudio avalia que o ministro está sendo “infiel”, ao falar pelo presidente. “Lula devia era tirar ele da pasta”, sugere.

Mais diplomático, o presidente estadual do PT lembra que o fato de o partido estar coligado com o PTB de Múcio não significa que ele pode falar pelo partido e pelo presidente. “A aliança não autoriza essa postura, nem faz com que tenhamos que calar. Em função de uma coligação, não podemos desrespeitar limites políticos”, apontou.

Ressaltando que respeita o ministro, o dirigente alertou: “Ele não pode abusar da condição de ministro para passar informações erradas, criando situações constrangedoras para o próprio presidente. O Lula é presidente da Nação, mas é filiado ao PT, considera esse o seu partido e apóia as candidaturas do PT”. Segundo ele, as manifestações do ministro não têm anuência do presidente, tampouco do PT, claro.

Jorge Perez encaminhou a cópia do áudio do guia eleitoral de São João ao presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, para que o presidente Lula seja informado do que se passaria no Estado. Quem também se queixou do ministro foi deputado federal Fernando Ferro (PT), que já foi procurado por petistas de Itambé, Camutanga e Ibirajuba para as mesmas reclamações. “O PT tem um candidato na cidade e o ministro defende os nomes do DEM e do PSDB. E estaria dizendo que o verdadeiro PT não seria aquele da cidade. É muito desagradável”, lamenta. O JC não conseguiu entrar em contato, ontem, com o ministro José Múcio Monteiro.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Efeitos da crise


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

NOVA YORK. O movimento do candidato republicano John McCain, de colocar a solução da crise financeira como prioritária em relação à campanha presidencial, foi sem dúvida inteligente, embora o que interesse mesmo ao senador seja ganhar fôlego para tentar recuperar os pontos perdidos nos últimos dias nas pesquisas de opinião. Como nada mudou de uma semana para cá, a não ser os números das pesquisas, que agora dão a vitória de Barack Obama por até nove pontos percentuais de diferença, o que McCain quer com a proposta de adiar o debate, e os dois candidatos se integrarem aos congressistas que estão tentando um acordo em Washington com o governo, é dar a seu gesto um tom quase heróico, colocando-o como o líder que assume a responsabilidade quando o momento exige.


Adiantando-se a Obama em público, McCain tenta dar a sensação de que está mais preparado para enfrentar as emergências. Abrindo mão da campanha para participar das negociações, ele quer parecer o candidato mais aberto para os problemas do país, o que não usa as dificuldades para fazer politicagem.


É uma maneira inteligente de fazer politicagem, pois foi a partir de um telefonema de Obama, sugerindo que os dois fizessem uma declaração conjunta sobre a situação atual da economia, que McCain contrapropôs o adiamento do debate e a ida de ambos para Washington.


A campanha de Obama ainda marca a posição de que é possível fazer as duas coisas, participar das negociações e debater na Universidade do Mississippi, mas, como acontece desde o início da crise, o fato é que o democrata não tem conseguido ser pró-ativo, limitando-se a um discurso que pode ser resumido como "eu não disse?".


Sua dianteira nas pesquisas deve-se muito mais ao impacto da crise econômica na decisão dos eleitores do que a seus méritos próprios. Obama hoje, quando 83% dos eleitores consideram que o país está no rumo errado, é a opção automática. A tentativa de adiar o debate, se vista como uma demonstração de fraqueza, pode dar a Obama a chance de colocar-se na dianteira.


As bancadas dos democratas na Câmara e no Senado têm tido uma participação agressiva nos debates do Congresso em Washington, e partiu delas a definição de que o pacote apresentado pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, e pelo presidente do Banco Central americano (Federal Reserve), Ben Bernanke, não poderia ser aprovado do jeito que chegou ao Congresso.


Há uma convicção generalizada nos meios políticos e financeiros de que os dois jogaram errado ao tentarem fazer com que o Congresso engolisse o pacote sem uma negociação, esquecendo-se de que, em meio a uma campanha eleitoral, é praticamente impossível obrigar candidatos à eleição dentro de quarenta dias a aprovarem medidas impopulares, num pacote que não tem o consenso no meio econômico.


O único consenso é que alguma coisa precisa ser feita, e o pacote do governo americano pode ser o mais próximo do que é preciso fazer, mas tem muitos defeitos que precisam ser pelo menos amenizados. Há, é certo, o perigo de que o período eleitoral exacerbe o populismo econômico, que tem sido a marca dos democratas nas últimas eleições e que foi responsável por colocá-los com a maioria no Congresso.


Mas, até mesmo o republicano McCain está aderindo a esse estilo, tentando livrar-se da sombra da administração George W. Bush. O temor é que o ambiente político, que reflete o ânimo da opinião pública, de repúdio aos "especuladores" de Wall Street, leve a decisões de curto prazo equivocadas e que prejudiquem o funcionamento do sistema financeiro americano a longo prazo.


Aplacar a raiva do contribuinte com uma contenção excessiva dos salários dos executivos financeiros pode fazer com que o pacote de salvação se torne inviável. O problema é definir o que é excessivo, o que merece ser punido, como deve ser regulado o futuro sistema financeiro para que tenha eficiência e gere prosperidade, sem os níveis de irresponsabilidade que estavam sendo tolerados em Wall Street.


O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que está em Nova York para uma série de contatos, continua espantado com o que está surgindo: "A cada vez que se vê de mais perto, pior parece a situação", comentava ele ontem.


A imagem que usa é a de um paciente na sala de cirurgia, de peito aberto, à espera da operação salvadora que não começa. O pacote proposto pelo governo seria essa intervenção para salvar o paciente na UTI, e, quanto mais demora a ser aprovado, mais se reduz a possibilidade de salvar o paciente.


Armínio acha que não aprovar o pacote seria "uma irresponsabilidade", e considera que a entrada nas negociações dos dois candidatos a presidente é uma medida acertada, pois quem vencer a eleição de 4 de novembro terá pela frente um mandato tumultuado pelas conseqüências do aumento do déficit público.


Armínio Fraga fez um paralelo com a situação brasileira em 2002, na campanha presidencial em que Lula foi eleito, ressalvando que naquele momento havia, além dos problemas de crédito do país, mais uma percepção negativa diante da provável vitória de Lula do que os graves problemas que hoje enfrenta a economia americana.


Com relação ao Brasil, o ex-presidente do Banco Central é otimista, considerando que a gestão de Henrique Meirelles está fazendo um trabalho de controle da inflação fundamental, compensando a tendência gastadora do governo central.


Se o pacote do governo americano conseguir colocar um pouco de ordem no sistema financeiro, e se nós no Brasil não forçarmos a barra para manter um crescimento forte no ano que vem, é possível que já em 2010 as coisas voltem ao eixo normal, avalia Armínio Fraga.

Uma vitória dos eleitores


DEU NO JORNAL DO BRASIL


Jornal do Brasil promove encontro isento e livre com os candidatos a prefeito para confrontar suas idéias

A frente fria se foi. Especialmente a que en- regelava o clima político da campanha eleitoral para prefeito do Rio. O debate realizado ontem pelo Jornal do Brasil esquentou, enfim, a temperatura das eleições municipais 2008 ­ em experiência histórica de confronto de idéias e de propostas entre os dez candidatos à frente nas pesquisas, por ordem alfabética, Alessandro Molon (PT); Chico Alencar (PSOL), Eduardo Paes (PMDB); Fernando Gabeira (PV); Filipe Pereira (PSC);Jandira Feghali (PCdoB); Marcelo Crivella (PRB); Paulo Ramos (PDT); Solange Amaral (DEM); Vinicius Cordeiro (PTdoB).

O espaço isento e eminentemente democrático foi aberto no salão principal da Casa Brasil, sede do JB , no Rio Comprido. Entre as paredes do casarão colonial, vigorou a atmosfera ideal para a liberdade de expressão tanto dos políticos em disputa como para os jornalistas de veículos do Rio, do país e do mundo ­ estes contemplados com perguntas no primeiro bloco do debate. No segundo, foi a vez dos representantes da sociedade civil. No primeiro caso, equipes de todos os grandes jornais e sites do Rio, assim como de correspondentes europeus de veículos como o Le Monde, marcaram presença.

Também formularam questões aos postulantes à gestão municipal titulares da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio), da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-Rio), da Federação das Associações de Moradores do Rio de Janeiro (FamRio), do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), do Viva Rio e do Rio de Paz ­ convidados para corroborar a isenção que carateriza o JB. O próprio modelo proposto para a realização do debate ­ mediado pelo editor-chefe Tales Faria e pelo editor executivo Marcelo Ambrósio ­ favoreceu a multiplicidade de temas em discussão.

Houve ao todo 10 calorosos embates diretos entre os próprios candidatos, no terceiro e mais esperado dos blocos, no qual cada adversário pôde destinar perguntas a outro, ambos com os nomes definidos em sorteio, com direito a revides de cada parte, 20 ao todo. Houve provocações e acusações mútuas ­ como não poderia deixar de ser ­ mas tudo no nível da cordialidade, respeito e de um modo que proporcionou um confronto amplo e aprofundado de idéias e opiniões diversas, assim como de pelo menos 15 temas diretamente relacionados ao destino da cidade e aos interesses da população.

A campanha municipal não será a mesma depois do debate promovido pelo jornal ­ o primeiro e único de um meio de comunicação antes do primeiro turno. Esta corrida eleitoral, durante a maior parte do tempo, foi ofuscada por discussões relacionadas à própria garantia da segurança e da ordem do processo eleitoral. O JB foi o primeiro a denunciar os efeitos de práticas criminosas em currais eleitorais do tráfico de drogas e de milícias.

Assim como o JB também pode se orgulhar, após o evento de ontem ­ transmitido pela internet durante quatro horas sem qualquer interrupção, com internautas acompanhando do México, dos Estados Unidos e até do Japão ­ de ter sido o pioneiro no resgate da essência política do debate eleitoral. Como disse o diretor-geral Marcos Troyjo ao final do encontro, o JB agora convida os (e)leitores a se preparar, por meio deste caderno, para votar mais conscientes no pleito do dia 5 de outubro.

Elegância até para a hora do pinga-fogo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Momento mais aguardado do encontro entre os candidatos, o confronto direto foi marcado por insinuações, acusações veladas e embate de idéias em um tom de cordialidade

Quem acompanha os deba- tes entre candidatos a cargos eletivos pela televisão não imagina que seja possível enfrentar uma disputa como a que envolve a prefeitura do Rio sem partir para a discussão feroz com os oponentes. No encontro no JB , porém, o antagonismo das opiniões e propostas só se revelou no momento em que os candidatos puderam partir para o confronto direto, no terceiro bloco.

Fora dos microfones, o clima foi de cordialidade e bom humor. Solange Amaral, por exemplo, cochichou ao ouvido de Marcelo Crivella, e um jornalista que estava próximo jura que, quando se separaram, ela disse a ele: ­ Tá bem, então sobre isso eu não pergunto. Questionada pelo repórter, a candidata do DEM desconversou: ­ Você é muito observador, heim...

Fernando Gabeira, Chico Alencar e Alessandro Molon brincavam que já estavam cansados de tanto se encontrarem em debates. Uma brincadeira que soava como provocação a Eduardo Paes, partici-pante bissexto nesse tipo de evento por ser o líder nas pesquisas.

Chico chegou fazendo o sinal de vitória com os dedos. Gabeira repetiu o gesto; e Jandira Feghali, idem. Sobraram beijinhos e brincadeiras, extensivas até aos assessores, que também já se conhecem de outros debates.

O curioso era ver como políticos de matizes ideológicas tão diferentes se cumprimentavam com tanto carinho. Chico Alencar e Crivella, por exemplo.

Só Filipe Pereira e Vinícius Cordeiro pareciam tímidos diante de tal intimidade entre os adversários.

A trégua foi suspensa no terceiro bloco, quando a regra previa que os candidatos perguntassem uns aos outros. Mas, apesar da troca de acusações, no fim todos se cumprimentaram. Solange, inclusive, ganhou um beijo de Paulo Ramos. E ambos garantiram que, caso passem, ao segundo turno, voltarão ao JB para um novo debate, já anunciado pelo jornal.

Ataque à homofobia acaba virando crítica à Cidade da Música

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Um último e ácido embate. As- sim pode ser definido o confronto entre a candidata Solange Amaral (DEM) e o bispo da Universal Marcelo Crivella (PRB). Ao contrário de todos os outros participantes, a pupila do alcaide Cesar Maia foi a única que tirou da cartola o dever de casa: o artigo do senador "Perigo para as famílias", publicado em novembro do ano passado, onde Crivella defende o direito de poder declarar que não gosta de algumas posturas de homossexuais e, por isso, é contrário ao PLC 122/2006, que tramita no Senado e já foi aprovado na Câmara dos Deputados, que criminaliza a homofobia.

Ao fim do artigo, o bispo convida a população a ir para as ruas protestar caso o projeto seja aprovado e sancionado pelo presidente Lula. ­ Engenheiro, bispo da Igreja Universal. Marcello Crivella, o senhor quer ser prefeito do Rio de Janeiro e diz que vai chamar o povo pra ir às ruas pra se opor. Vai chamar a população e dizer que devemos ir às ruas? Dizer que vai às ruas protestar por uma Lei que a Câmara aprovou. Queria ouví-lo sobre isso. Fiquei impressionada ­ diz Solange.

A resposta de Marcelo Crivella foi seca, imediata e provocou risos. ­ Continue impressionada. Eu falei do PLC 122 do Senado, que é uma excrescência. O Célio Borja já se manifestou sobre isso e diversos juristas porque fere direitos que antecedem até a lei civil. Sobrepõe o direito à liberdade de expressão. Ninguém pode ter no país a obrigação de concordar que não se pode criticar o homossexualismo.

Com o tradicional tom de voz baixo e calmo, completou: ­ Não falo do homossexual, mas do homossexualismo. Não acho que este seja o melhor caminho para o ser humano. Tenho minha consciência pautada pelos princípios cristãos de que este não é o melhor caminho para o ser humano. Falo como pai.

Surpresa, Solange não conseguiu desconstruir o discurso do bispo e insistiu ser o mais importante no artigo o fato de ele ter convocado a população para ir às ruas. Na tréplica, Crivella alfinetou Cesar Maia. ­

Grave é deixar de fazer política pública. Ao invés de se preocupar com a educação das crianças, com a dengue, de fazer um projeto que contenha a favelização, construímos a Cidade da Música com um custo altíssimo e atravessamos a rua e o Lourenço Jorge está em péssimas condições. O debate aqui não passa pelo tema que a senhora levantou.

Ironia com a pergunta alheia, bate-bola sobre habitação

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Ambos têm razão nas acu- sações recíprocas ­ começou o pedetista Paulo Ramos, referindo-se às farpas trocadas por Marcelo Crivella e Eduardo Paes sobre financiamentos de campanha, na pergunta anterior. A intervenção arrancou risos da platéia antes que Ramos respondesse quais seriam suas propostas para ampliar as ofertas de emprego e melhorar a renda da população carioca, pergunta do petista Alessando Molon. ­

As alianças determinam as condições de gestão. E o poder econômico compra a consciência política. Para que prevaleça o interesse público, é fundamental que não hajam contratos com empresários. Voltando ao tema proposto, Paulo Ramos disse que uma boa solução para gerar emprego, principalmente nas comunidades carentes, é melhorar a política de habitação: ­ Favela não é solução urbana. Resolver o problema da habitação sem remover pessoas, mas construir novas casas no mesmo lugar é uma alternativa que pode gerar emprego e renda. Ávido para mostrar suas idéias, Molon aproveitou o tempo que tinha para questionar as proposições do adversário.

Aproveitou para apresentar em 30 segundos, seu plano de governo para um tema que ele mesmo levantara: ­ Eu vou apostar nas vocações da cidade para geração de emprego e renda. Vou investir na produção do conhecimento e revitalizar a Zona Portuária, com a construção de um centro de convenções.

Privatização de hospitais se torna o pivô de provocações

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Quem deu a largada na série de perguntas entre os candidatos foi Jandira Feghali (PCdoB). Defensora de debates, principalmente na televisão, a candidata comunista não se fez de rogada e pegou pesado com o adversário Fernando Gabeira (PV). Com o discurso familiar e repetitivo de que é mulher, mãe e médica que trabalhou por 15 anos nos hospitais públicos do Rio, Jandira questionou se Gabeira pretende privatizar os hospitais públicos, a exemplo do ex-governador Marcello Alencar (PSDB), que hoje o apóia. ­ É difícil responder uma pergunta referente a uma outra pessoa tanto tempo depois, mas vou respondê-la dissociada da pequena malícia política da candidata ­ esquivou-se Gabeira, provocando risos na platéia.

Gestores nos hospitais

O candidato verde respondeu que instituições filantrópicas podem, sim, gerir unidades de saúde, como em São Paulo. ­ Sou favorável, ainda que gestores, em vez de médicos, administrem os hospitais ­ acrescentou Gabeira. Não satisfeita com a resposta do candidato e ansiosa por um momento de embate e um clima mais polêmico, Jandira, sem papas na língua, disse que as alianças mostram as condições de gestão do futuro prefeito e questionou a influência do PSDB na sua participação: ­ Eu tenho medo do que pode acontecer porque, para mim, Marcello Alencar foi o pior governador que o Rio já teve.

Sem alterar o tom de voz ­ como de costume ­ Gabeira revidou o ataque da candidata sem perder a compostura. ­ Parece que você, Jandira, não está tendo tempo de acompanhar a nossa campanha e de ler os jornais com tranqüilidade ­ alfinetou. ­ Desde o início, meu discurso é de que os partidos não vão ocupar nenhuma estrutura administrativa da prefeitura. Ao contrário de Jandira ­ que faz questão de destacar as diferenças entre os candidatos ­ Gabeira adotou um discurso politicamente correto e uma postura de não agressão aos demais candidatos. ­ Não é uma pessoa ou um governo que vão conseguir solucionar os problemas dessa cidade. Temos que criar uma frente ­ concluiu Gabeira.

Contratação sem concurso público vira telhado de vidro

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Na sua vez de pôr um dos ad- versários contra a parede, o candidato Filipe Pereira (PSC) foi sorteado para fazer uma pergunta a Eduardo Paes (PMDB). Pereira cobrou o ingresso de pessoal sem concurso público para as Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) 24 Horas, cobrando "a falta de valorização do funcionário público, tendo em vista a contratação de médicos terceirizados para trabalhar nas UPAs". Para Filipe, a política do governo do Estado para o setor está sendo trazida para o município: "Preocupa saber que o servidor público se vê frente ao governo, que prioriza novos funcionários a outros que estão há 25 anos na folha de pagamento", afirmou.

Na resposta, Paes defendeu o governador Sérgio Cabral (PMDB) e anunciou a boa nova: ­ Foi feito concurso público e os médicos que passaram assumirão em 1º de outubro. Todos os funcionários das UPAs passam a ser concursados ­ disse o candidato. O peemedebista reforçou, ainda, que a saúde será uma prioridade em seu mandato. ­ As pessoas estão morrendo e é por isso que a prioridade será a saúde, começando pela atenção básica com Programa de Saúde da Família para todas as comunidades, com os postos de saúde abrindo mais cedo e fechando mais tarde. Vamos fazer 40 UPAs 24 horas. Trouxe este projeto para a minha candidatura e o presidente Lula vai levar para todo o Brasil 500 UPAs.

Recursos cada vez mais parcos na cultura carioca

DEU NO JORNAL DO BRASIL

O debate, que começou com uma pergunta sobre cultura, terminou com acusações a candidatos que recebem dinheiro de grandes empresas para financiamento de campanha e a outros que fazem alianças com políticos que até mesmo estão presos. Com tom de voz exaltado, o candidato Vinícius Cordeiro (PTdoB) perguntou ao professor Chico Alencar (PSOL) quais seriam suas propostas para investir na cultura, já que, segundo dados apresentados por Vinícius, a prefeitura diminuiu os investimentos. Em 2004, foram investidos R$ 240 milhões e em 2007, o investimento chegou a "míseros" R$ 65 milhões.

A cultura é vista como um gasto para a cidade quando pode ser um atrativo, um grande investimento ­ ressaltou Vinícius. Chico apontou a desigualdade dos equipamentos culturais como uma das causas do abismo social: ­ Oitenta e cinco por cento dos equipamentos culturais do Rio estão concentrados na Zona Sul da cidade, onde vive apenas 25% da população ­ ressaltou Chico. ­ Existe carência em algumas áreas, inclusive de bibliotecas públicas, inclusive na Zona Oeste, porque não é interessante para algumas empreiteiras. Estas que financiam algumas campanhas. Vinícius tentou trazer o deputado federal para o debate cultural, mas não teve sucesso. Chico continuou com o discurso político: ­ A população precisa entender quem é quem. A criminalidade está em um processo acelerado de captura das instituições republicanas. Tem até candidata a vereadora do presa, a Carminha Jerominho do PTdoB, com chances de ser eleita.

Embate entre Estado e prefeitura

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Falta de saneamento básico na Zona Oeste acabou respingando na construção das UPAs

Este foi o debate entre os gran- des: aquele que representa o governador Sérgio Cabral, o peemedebista Eduardo Paes, e a candidata do prefeito Cesar Maia, Solange Amaral (DEM). O tema: saneamento. Mas, empolgados com o rumo da saúde pública, partiram para críticas e defesas das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

Antes de rumar para a discussão da eficiência ou não dos postos de saúde, Eduardo Paes indagou a Solange quais seriam seus projetos para melhorar o saneamento na Zona Oeste já que, devido a um acordo com a Cedae, o tema virou responsabilidade da prefeitura. Orgulhosa de Maia, Solange contou que a atual administração faz obras de esgotamento sanitário em 380 ruas de Sepetiba. ­ A prefeitura está cuidando da Zona Oeste, coisa que a Cedae nunca fez, desde a sua fundação ­ criticou a deputada federal. ­ A Cedae só atua depois que o cano fura e o buraco aparece.

UPA e Lula

Farpas à parte, os candidatos concordaram em um ponto: saneamento é questão de saúde. Por isso, Paes cobrou da atual administração municipal mais atenção à saúde básica e investimentos na prevenção de doenças. ­ As pessoas estão morrendo e é por isso que a prioridade da nossa administração vai ser a saúde, começando pela atenção básica com o Programa Saúde da Família para todas as comunidades ­ prometeu. Na réplica, Solange, questionou o que classifica como péssimo sistema estadual de saúde e o modelo das UPAs, principalmente pela falta de licitação na construção das estruturas e de concurso para os funcionários públicos. ­ Onze hospitais são de responsabilidade do Estado.

Um já foi fechado este ano: o Hospital do Caju. Na tréplica, para fortalecer os argumentos daquela que é hoje sua principal proposta para a saúde, as UPAs, Paes citou a ampliação do projeto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva: ­ Eu trouxe esse projeto para a minha candidatura e o presidente Lula vai levar para todo Brasil. Nesses postos, o custo do atendimento por paciente é muito menor do que o dos postos da prefeitura, que mal funcionam. A partir de janeiro, se vencer, vamos ter prefeitura, governo do Estado e Federal trabalhando juntos. Isso não é proposta, é conceito. A prefeitura e governo do Estado não podem ser trincheira política.

Financiamento de campanha e uso da máquina no alvo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Chico Alencar (PSOL) não aliviou a companheira de esquerda Jandira Feghali (PCdoB) durante o debate. Apesar de dar espaço para a candidata comunista desferir ataques aos adversários e à política de segurança do governo com uma pergunta sobre o papel dos partidos na seleção dos candidatos, Chico Alencar apertou-lhe o calo com outra sobre financiamento público.

Para acabar com o vínculo entre crime e política, Jandira Feghali sugeriu que os partidos escolham melhor aqueles que entram em suas fileiras. ­ Tráfico tem no mundo inteiro; milícia só no Brasil. Qualquer criança sabe quem é o chefe da milícia em sua comunidade. Só a polícia não sabe? Isso se deve a um déficit institucional ­ disse. A política de combate ao crime também foi alvo de crítica da candidata do PCdoB.

Ela considera que se faz apenas a criminalização dos pobres e da pobreza, e que o governo não prepara a polícia militar e nem a pune quando ela erra por causa do despreparo. ­ E ainda havia aquele discurso de que milícia era um mal menor. Seqüestraram e torturaram jornalistas e ainda não houve punição. Essas prisões que fizeram de Carminha e de Jerominho é puro marketing eleitoral ­ acusou Jandira, acrescentando que o governo permite a expansão das milícias.

Financiamento cidadão

Quanto ao financiamento pú- blico, chamado de cidadão por Chico Alencar, Solange disse que pretende lutar para que a lei que o institui seja aprovada. Embora tenha afirmado não ter preconceito contra doações do setor empresarial. ­ Temos compromissos com a cidade e não com as empresas ­ afirmou Jandira Feghali. As baterias da candidata também se voltaram contra as campanhas que ela julga milionárias. Acusou, sem citar nomes, um dos candidatos de ter muito dinheiro para gastar em material de propaganda e de, ainda assim, usar a máquina do governo. Disse que as somas astronômicas investidas podem ter alguma influência sobre o resultado das urnas, mas que não levará o candidato à prefeitura. ­

Vencerá o candidato que conseguir a adesão popular. Nunca mudei de partido ­ afirmou. Em sua réplica, Chico Alencar criticou a posição de Jandira Feghali sobre o financiamento de campanha. Argumentou que haviam empresas cujas atuações são contrárias aos interesses da cidade, sim, e das quais não se pode aceitar doações para a campanha.

De tudo um pouco: milícia e até Estado laico

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Sorteado para confrontar Vinícius Cordeiro (PTdoB) e sem intimidade com os principais pontos de governo de seu oponente, o candidato Paulo Ramos (PDT) escolheu o tema religião. Ele quis saber o que Vinícius acha da intolerância religiosa, mas aproveitou para atacar, mesmo que indiretamente o bispo Marcelo Crivella (PRB) e Eduardo Paes (PMDB): ­ De um lado afirmam que uma corrente evangélica se transforma em partido político. Por outro lado, temos um cardeal do Rio trazendo um documento do Papa para um candidato. Como você vê esta questão da intolerância religiosa? Com um tom de voz elevado e firme, Vinícius agradeceu à pergunta para falar um pouco sobre sua trajetória de vida: ­ Bom você me perguntar isso porque sou membro da Igreja Batista há 28 anos. Milito em organizações de justiça e paz.

Combato a corrupção eleitoral. Já cassei prefeito e não aceito a pecha de ser associado a este negócio de milícia ou criminalidade ­ aproveitou para se defender da acusação de Chico Alencar (PSOL) de que o partido de Vinícius tem em seus quadros Carminha Jerominho, candidata a vereadora que está presa por envolvimento com a milícia da Zona Oeste, e foi buscar no Sul do país um motivo para criticar o adversário que sequer participava da rodada de perguntas: ­ Chico é católico, vai até regularmente à missa. Gosto muito de você Chico, apesar do PSOL ter pego dinheiro lá em Porto Alegre de uma construtora. Sou a favor da separação entre Igreja e Estado. É um dos princípios mais caros do protestantismo histórico. Sou contra a aula de religião na escola.

Esquerda unida em bate-papo amigável sobre violência

DEU NO JORNAL DO BRASIL

A esquerda finalmente afinada. Assim foi o que deveria ser um embate entre os candidatos Fernando Gabeira (PV) e Alessandro Molon (PT). Os dois passaram quase sete minutos em uma conversa digna de amigos de infância. Seus pensamentos eram, digamos assim, complementares. De forma generosa, Gabeira perguntou a Molon sobre algo que já conhecia bem: "O que um prefeito realmente pode fazer para reduzir a violência no Rio de Janeiro, para aumentar a segurança pública do Rio". A afinidade era tamanha, que o petista gastou parte dos três minutos a que tinha direito para agradecer a pergunta. Só então explanou: ­ O conceito do nosso programa de governo é fazer do Rio uma cidade segura para todos. O Gabinete de Gestão Integrada Municipal é o meu primeiro compromisso. Não é possível que a Guarda Municipal vá para as ruas todas as manhãs sem saber para onde a PM está indo. Não existe integração.

É compromisso meu expandir a iluminação na cidade. A troca de lâmpadas queimadas tem de deixar de ser um favor do vereador. Muita gente, para desenturpir bueiro, conseguir poda de árvore e trocar lâmpada queimada, tem que pedir ao vereador. Essa relação fisiológica e suja da Câmara com a população e com o executivo vai mudar. Na réplica, Gabeira disse que "acrescentaria alguma coisa" e disparou sua crítica ao atual prefeito: ­ Temos baixo nível de inteligência, e a prefeitura pode contribuir porque tem acesso a câmeras e relatórios da Guarda Municipal ­ disse, antes de levantou, novamente, a bola para Molon cortar: ­ A interface com a cultura, que não é só levar o lazer, mas visa a paz, unir a cidade partida, essa cultura também merecia atenção, não acha? E a bola foi cortada de forma imediata: ­ Acho.

Concordo e acrescento as políticas para a juventude, que são os jovens no Rio os que mais matam e os que mais morrem, entre 15 e 24 anos. É inaceitável que a prefeitura não tenha proposta séria para a juventude. Por falta de escolha, muitos acabam cedendo à tentação do crime.

União para criticar a hegemonia do PMDB

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Marcelo Crivella (PRB) não pensou duas vezes ao decidir unir forças com Felipe Pereira (PSC) para criticar o PMDB. Os dois são evangélicos, apesar de pertencerem a igrejas distintas. ­ Filipe, você não acha que o fato de o PMDB já ser governo do Estado, dominar a Assembléia Legislativa, o Tribunal de Contas do Estado e o do município é prejudicial? Me preocupa a falta de alternância política e a existência de um poder hegemônico. Filipe não desperdiçou a bola levantada por Crivella e tratou de dar seu recado. Disse que nenhum governante faz nada sozinho e até esnobou os concorrentes. ­ No meu governo, o critério será técnico. Não descarto a participação de nenhum de vocês no meu secretariado ­ afirmou. Crivella replicou que é preciso alertar os eleitores sobre os perigos de um partido dominar todas as esferas de poder. ­ Isso gera, inclusive, o uso da máquina nas campanhas e os gastos milionários que estamos vendo. Felipe completou que a hegemonia partidária se transformou numa espécie de desfalque que o cidadão fluminense tem sofrido: ­ É preciso alertar para essa concentração de poder.

A voz e a vez da sociedade organizada se manifestar

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Uma das instituições no encontro, OAB vai à Justiça por debate na TV

O segundo bloco do debate do Jornal do Brasil foi o momento em que representantes da sociedade civil deram voz aos clamores da população. O ponto alto do encontro foi a decisão do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-RJ), Wadih Damous, de apresentar, até o fim do dia, um parecer na Justiça para pressionar as emissoras de TV a realizarem um novo debate. Damous, da OAB-RJ, lamentou também o papel da Justiça Eleitoral na eleição, que, ao criar "regras restritivas, praticamente anulou a democracia". Outro momento mais acalorado foi a interpelação da presidente da Federação das Associações de Moradores do Rio (FamRio), Márcia Vasconcelos, que criticou repetidamente a falta de contato com o atual prefeito da cidade, Cesar Maia.

Por causa da citação proibida ­ não poderia haver ofensas nem citações de candidatos ­ a candidata de Maia, Solange Amaral (DEM), obteve um direito de resposta bastante comemorado. Solange usou o tempo para defender o programa Favela-Bairro, do qual foi coordenadora, e para ressaltar a criação de um novo banco carioca nos moldes do extinto Banco Nacional de Habitação (BNH), com o intuito de construir 100 mil casas na cidade.


Sorteio prévio

Representantes da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da OAB-RJ, da Federação do Comércio Varejista do Rio (Fecomércio-Rio), das ONGs VivaRio, Rio de Paz, Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Rio (ABAV-RJ) e da FamRio interpelaram os candidatos, depois de um sorteio prévio, com questões que variaram, entre outras, sobre dengue, salário dos professores, carga tributária, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e segurança pública. O diretor cultural da ABI, Jesus Chediak, argumentou que, nos dias de hoje, "o candidato é visto como produto e o eleitor, como mercado", e para o petista Alessandro Molon, Chediak reservou pergunta sobre quais seriam as propostas dele para os professores. Molon disse que vai priorizar a estratégia de motivar o professor e os demais profissionais de educação, com aumento de salários e cursos de atualização. ­

Esse é um bom subsídio pedagógico para que o sistema funcione bem. É preciso resgatar também o papel dos inspetores, porque eles organizavam toda a escola relembrou. Questionado sobre as medidas preventivas para evitar uma nova epidemia de dengue, o senador Marcelo Crivella (PRB) ironizou uma citação do atual prefeito que, no auge da crise, tentou explicar o motivo de o município de Niterói ter sido "salvo" da epidemia e o Rio, não. ­ Niterói tem as mesmas condições climáticas que o Rio e não sofreu com a doença. Por isso, quero retomar o Programa Saúde da Família (PSF) para tratar preventivamente as doenças ­ ponderou. Um representante do empresariado fluminense, Orlando Diniz, presidente da Fecomércio-Rio, questionou o peemedebista Eduardo Paes sobre a excessiva carga tributária.

Este respondeu que a cidade tem uma postura hostil para com a atividade econômica. Na avaliação de Paes, a carga tributária elevada, a excessiva burocracia e a informalidade afastam os empresários e empreendedores da Cidade Maravilhosa. ­ Quero estimular áreas geográficas esquecidas na cidade, como a Leopoldina, incentivando empresas de telemarketing lá ­ sugeriu. A diretora do Ibase, Dulce Pandolfi, questionou Jandira Feghali (PCdoB) sobre o papel da prefeitura nas obras do PAC. Para Jandira, a responsabilidade dessas obras deve ser do município e não do Estado. A comunista pretende municipalizar o programa federal. Paulo Ramos, do PDT, criticou a política de segurança pública do governo do Estado: ­ Por causa da política de enfrentamento, a polícia fluminense é a que mais mata e morre no Rio.


Programa de artistas no Rio

Ricardo Miranda
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Atores, cantores e dançarinos, conhecidos do público ou ainda anônimos, tentam vaga na Câmara de Vereadores com monólogos que duram no máximo 10 segundos no horário eleitoral do rádio e da TV

Se a capital fluminense, para muita gente, é sinônimo de artistas por todos os lados — nas ruas, nos bares, nas praias —, nada mais natural que, nas eleições municipais, esse universo de atores, cantores, compositores e dançarinos também desfile em busca do voto do eleitorado carioca. Eles já foram mais numerosos e mais relevantes, gente como Francisco Milani, Antonio Pitanga e Neuza Amaral, mas continuam tentando uma vaga na Câmara de Vereadores com monólogos que costumam durar, no máximo, 10 segundos no horário eleitoral gratuito.

“Pela política com arte”, é o que consegue dizer o ator Stepan Nercessian (PPS), presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Rio. Militante comunista, esse goiano de Cristalina não é novato nessa arena. Ele tenta a reeleição para vereador. Embora reconheça que o artista, por ser mais conhecido, já começa em vantagem, ele ressalva que muito pouca gente na “categoria” é realmente politizada e que as campanhas deixam todos à míngua, já que são obrigados a se “desincompatibilizar” de seu ganha-pão para obedecer a legislação eleitoral.

Para entrar na campanha, Stepan deixou um quadro no humorístico global Zorra Total e dispensou outros trabalhos, como o de protagonista do humorístico Faça Sua História, da Globo. “É a única profissão em que você precisa parar de trabalhar pra concorrer. Mas a gente vai levando”, conforma-se o ator, bem-humorado.
Na Globo, outra baixa foi o humorista Pedro Bismarck, intérprete do personagem Nerso da Capitinga, que deixou o mesmo Zorra Total porque é cabo eleitoral de um candidato.

Animais

Outro ator — e diretor, tradutor, autor e produtor — que tenta se reeleger vereador no Rio é Claudio Cavalcanti (DEM), cujo mote de campanha é o respeito aos animais e o slogan uma velha gíria, “É isso aí, bicho”, que soa mais como um trocadilho infame. Na propaganda eleitoral na TV, o vegetariano Cláudio surge na tela com um gato no ombro, um cãozinho na mão e a neta no colo, vestida de Branca de Neve (!). “Vou ser ator até morrer, essa é minha grande paixão. Mas tenho como missão de vida a defesa dos direitos dos animais. Só por isso me meti na política. Não sou político nato, com P maiúsculo. Sou assumidamente político de um tema só”, diz Cavalcanti, que tem em casa 26 animais, entre cachorros e gatos.

Já o humorista Castrinho tem circulado em eventos sociais pedindo votos, mas não para ele. A candidata da família é sua mulher, Andrea Loureiro do Valle, que adotou o “nome de urna” de Andrea Castrinho (DEM) e tem, entre suas propostas, seis meses de ônibus grátis para quem doar sangue. Artistas da velha guarda também estão presentes na campanha, como o sambista Noca da Portela (PSB), que, curiosamente, deixou o jingle de sua campanha para o neto, Diogo Pereira.

Na bancada de ilustres desconhecidos, mas reflexo dos nossos tempos, muitos MCs e DJs, como Saddam (PCdoB) e Tião Brasil (PDT), esse último auto-intitulado “o vereador do reggae” e defensor da “revolução rastafari”, seja lá o que isso signifique.

Itararé contrariado


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


A eleição municipal no Rio de Janeiro expõe todos os defeitos da política feita hoje na cidade que já foi capital e ainda é o cartão postal do Brasil: carência de lideranças de expressão nacional, adesismo governista em contraposição ao tradicional e salutar oposicionismo e, o mais grave, a infiltração da criminalidade no processo eleitoral.

Mas, no tocante às finanças das campanhas, desmente o Barão de Itararé mostrando que, às vezes, de onde menos se espera pode realmente sair algo que se aproveite.

Atrasada de um lado pelos motivos já citados, a eleição do Rio avança e dá o exemplo no quesito transparência. O jornal Valor em sua edição de ontem publicou a lista dos doadores de contribuições às campanhas dos sete candidatos, postas na internet bem antes do prazo exigido por lei, que é o fim da eleição.

Seis deles abriram os nomes dos contribuintes e as quantias ofertadas, cabendo a exceção ao senador Marcelo Crivella, o único a recorrer ao velho argumento de que o sigilo protege o doador do “constrangimento”. Revelou o nome de algumas empresas sem informar os valores doados por elas e ponderou que, assim, está “dentro da lei”.

O bispo, pelo visto, não entendeu o espírito da coisa. Não se trata de cumprir a lei aprovada dentro do possível permitido pela resistência do legislador - um coletor permanente. Trata-se, isso sim, de ultrapassar seus limites a fim de consolidar a melhor prática.

Isso não resolve o problema do caixa dois, evidentemente. Neste, nem o financiamento público dá jeito. Mas, convenhamos, não deixa de ser um alento ver os candidatos da cidade plataforma de lançamento das novidades no Brasil lançando a moda desse bom costume.

De uma vez só revisitam o pessimismo de Itararé, desmontam a consistência da alegação de “constrangimento”, reequilibram a balança até então pendente para o lado dos vexames e ainda dão um chega para lá no lema consagrado por Delúbio Soares em notória reunião do PT onde se discutiu a possibilidade de o partido pôr suas contas de campanha na internet já em 2004.

“Transparência assim é burrice”, pontificou o então tesoureiro do PT, decidindo assim a votação em prol da obscuridade. Meses depois, o PT viria a padecer por ter feito a escolha esperta, porém, equivocada.

Na ocasião, quem fez a proposta foi o ainda petista Chico Alencar, hoje candidato a prefeito pelo PSOL que lançou agora de novo a idéia com a imediata adesão do candidato do PV, Fernando Gabeira.

Fica posto o padrão e o divisor: transparência é uma coisa; burrice, outra bem diferente. Qualquer dúvida, cartas aos 40 do mensalão devem ser endereçadas ao Supremo Tribunal Federal.

Isonomia

Se o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco mantiver a cassação da candidatura do petista João da Costa à Prefeitura do Recife por abuso no uso da máquina administrativa, adversários dos protegidos por estruturas oficiais poderão buscar seus direitos na Justiça.

Base legal não lhes falta, visto que a infração da lei eleitoral no dispositivo que veta o uso da máquina corre de forma aberta País afora. Nas capitais e grandes cidades, com grande visibilidade e aceita com naturalidade.

O presidente da República põe a administração federal a serviço de seus preferidos; em São Paulo, Gilberto Kassab usa a prefeitura de forma desabrida; Márcio Lacerda, em Belo Horizonte, é carregado no andor das máquinas estadual e municipal; no Rio, o governo do Estado constrói Eduardo Paes e assim por diante, para citar só os casos mais vistosos.

Conforme a decisão sobre Recife, ou se reinstala a legalidade geral ou se locupletam todos.

Distância abissal

O Palácio do Planalto animou-se muito com os índices de Dilma Rousseff para 2010, registrados na última pesquisa CNT/Sensus. A variação entre 8% e 12% deixaria a ministra em condição semelhante à do candidato a prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, que saiu em último e, com o apoio do prefeito e do governador de Minas, disparou em primeiro.

Não é bem assim. Em Minas, além do eleitorado, Aécio Neves conta com a subserviência dos partidos, a simpatia da imprensa, a docilidade da Justiça, transita em ambiente acrítico. Mal comparando, o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz era o rei de Brasília, elegeu-se senador e não resistiu a 15 minutos de exposição nacional. Renunciou.

Vale-tudo

No começo da campanha, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab trocavam amabilidades reconhecendo mutuamente a “legitimidade” de suas candidaturas.

Agora se vê que o limite do “legítimo” localizava-se à beira do ringue onde ambos deixaram os floretes antes de subir armados de porretes.

O PSDB, o DEM e a antropofagia eleitoral


Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO


A vida do PSDB não está nada fácil. A briga do candidato tucano à prefeitura de São Paulo, Geraldo Alckmin, para chegar ao segundo turno das eleições a qualquer preço, está adicionando nome e sobrenome a uma crise de identidade séria, profunda e que poderá ter enormes repercussões nas alianças, nos compromissos e até nas chances eleitorais do partido nas eleições de 2010. Alckmin agrega ingredientes a essa crise, mas o simples fato de ele ter poder para isso já é um indicativo de que o PSDB vive grandes impasses.

Ao fim e ao cabo, Alckmin acabou sendo a expressão, a representação física de uma opção ideológica que obriga o PSDB, local ou nacionalmente, a se unir e ao mesmo tempo disputar poder com o DEM. A aliança entre o PSDB e o DEM ficou pouco funcional, visto que a unidade dos dois não significa agregar duas faixas de eleitores diferentes; a disputa entre o PSDB e o DEM tornou-se antropofágica.

O candidato tucano à prefeitura é um político que, perto das estrelas do partido, estaria fadado a permanecer nos limites da política paulista, em especial no interior do Estado, onde tem, de fato, um eleitorado para chamar de seu. Quanto mais o partido foi para o centro, todavia, mais atraiu Alckmin para o cenário nacional.

Não existem grandes diferenças ideológicas, ou táticas, entre Alckmin e os tucanos do PSDB nacional de hoje. Foram eles que ascenderam quando as estrelas do partido - os chamados cardeais - ocupavam governos estaduais para se credenciarem a postular a Presidência da República, ou se aposentavam (ocorreram as baixas também - as maiores foram a do governador Mário Covas e a do ministro Sérgio Motta). Foram eles que passaram a ocupar os postos de comando do partido quando o presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), numa coalizão às avessas, assumiu completamente o conservadorismo do parceiro PFL (hoje DEM), em vez de trazê-lo para o centro, e transferiu para o ministério quadros do PSDB que seriam vitais naquele momento para manter algum elo da estrutura burocrática tucana com a social-democracia.

A qualidade dos políticos que estão no comando partidário hoje não é muito superior à de Alckmin. Eles são o produto das mesmas opções feitas pelo partido quando estava no poder. Na oposição, em algum momento isso teria que repercutir no equilíbrio de poder interno. Era inevitável.

Com um perfil certamente menos cosmopolita e de menor preparo que outros quadros paulistas, ainda assim Alckmin expandiu a sua liderança no Estado - e de alguma forma foi estimulado pelo grupo que hoje se opõe a ele, certo de que o ex-governador manteria a mesma dobradinha que fez com Covas, em que um fazia política nacional, o outro política local. Os cardeais do partido, por horror a disputas internas ou por falta de entendimento do que representaria ceder a hegemonia a uma ala conservadora ideologicamente e afeita à política tradicional, abriu facilmente espaço para a expansão da liderança de Alckmin também a nível nacional. Hoje, qualquer marola do ex-governador no horário eleitoral gratuito, numa disputa local, tem repercussão nacional. O ex-governador, que faz política local, tornou-se, por inércia, uma personalidade nacional.

Quando era situação, o PSDB facilmente acomodava esses impasses ideológicos via política tradicional. Aliás, a guinada conservadora e a aliança com o PFL facilitavam isso. Na oposição, e principalmente na oposição a Lula, essa deixou de ser uma solução possível. O PSDB e o DEM, afinal, não estão no governo federal e não detêm a máquina que lhes permitiria operar essa política. Além do mais, a política tradicional está de cabeça para baixo, quer pela popularidade de Lula na população normalmente atraída pela política de compadrio - o que reduziu os espaços de influência especialmente do DEM no Nordeste -, quer pela política de complementação de renda, que tem desintermediado o voto do pobre. Fazer política tradicional nos Estados e municípios, nessa conjuntura, também não é muito fácil. Na população de maior renda e maior escolaridade, o PSDB e o DEM estão disputando voto a voto - isso é claro nas últimas pesquisas eleitorais da capital paulista. O impasse é claro: os quadros que estavam solidamente instalados na máquina burocrática do partido quando FHC deixou o poder não tinham vínculos orgânicos com a social-democracia, tinham um perfil ideológico e uma prática política assemelhados aos do PFL, e, uma vez destituídos da máquina de governo, não conseguiram fugir do modelo de oposição udenista.

Essa é a argamassa que modela o partido nesses seis anos de oposição. E não é à-toa que o PSDB não consegue se contrapor ideologicamente à popularidade de Lula. A oposição udenista é a oposição do discurso, do ataque pessoal, da manobra, da "onda de pânico". Uma das contra-indicações desse padrão de oposição é que o discurso do ataque pessoal torna-se padrão. E da cada vez maior semelhança ideológica com o DEM, é que, numa disputa eleitoral, não é possível diferenciar o discurso, já que os partidos não são diferentes. Prevalece, então, o ataque pessoal. Espera-se que, até 2010, o PSDB tenha resolvido esse impasse. Senão, será a nacionalização do bate-boca.


Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras