sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O debate pauta o segundo turno


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL

Depois de ler linha por linha, o caderno da edição de ontem do JB sobre o primeiro e único debate para valer entre os 10 candidatos a prefeito desta ex-capital do país e atual capital do Estado do Rio de Janeiro, confirmei a convicção pessoal que a reforma política será o tema dominante no mano a mano do provável segundo turno.

De quase tudo trataram os candidatos em quatro horas de confrontos em defesa das suas propostas para arrumar a cidade na sua dramática decadência. Mas se trocarmos as siglas que identificam os partidos de cada um dos candidatos, poucos perceberiam a dança das letras.

Claro, há exceções: ninguém engoliria sem protesto se os candidatos de notória linha de esquerda, como Jandira Feghali do PCdoB, Fernando Gabeira do PV ou Chico Alencar do PSOL forem sumariamente transferidos para os partidos de centro ou que se inclinam para a direita. E na contramão seria inviável matricular a revelia o candidato Marcelo Crivella do PRB em um dos partidos do balaio da esquerda.

Ressalve-se que os candidatos a prefeito não têm a menor culpa pela mixórdia partidária, filha dileta da decência ética e moral que afeta os três poderes, com a inquestionável primazia do Legislativo.

Daqui até a eleição, no domingo, dia 5 de outubro, a campanha, com o empurrão do debate do JB, ganhará fôlego que as próxima pesquisas devem registrar.

Como é improvável a decisão no primeiro turno, a reforma política terá amplo espaço no segundo turno, com a carga dupla de emoção que racha a opinião pública: a derrubada do muro em que se equilibram os indecisos amplia a discussão que dissipa as dúvidas.

Não há tempo a perder. A atropelada na reta final está com munição de sobra para impor aos candidatos o aprofundamento dos temas que mexem com a vida da população da capital e de cada município.

Certamente o sucesso da iniciativa do JB lança a moda de debates em todos os meios de comunicação por todo o país. E se o modelo não precisa ser copiado, será difícil inventar novidade com risco de não dar certo.

Para o segundo turno, com uma hora bem programada na divisão de blocos óbvios, os finalistas poderão aprofundar as suas propostas, responder às perguntas de jornalistas, convidados e do público; trocar farpas no confronto direto e os 10 minutos clássicos para as conclusões no recado direto ao eleitor.

Se o prazo é curto, mais uma razão para aproveitá-lo. Seja nos últimos e escassos minutos do inqualificável horário de propaganda eleitoral, pelos finalistas do segundo turno e por quem pretende continuar na militância política.

Baixaria não dá votos, desmoraliza a já tão desacreditada política, com o Congresso exposto na sucessão de escândalos e na orgia das mordomias, das vantagens, dos benefícios e demais desatinos da semana de três dias úteis.

O Rio clama por socorro. E começa a descrer das soluções miraculosas, improvisadas nos apertos críticos de competições ou de congressos internacionais. A pretensão de sediar a Olimpíada de 2014 soa como uma insensatez que, talvez ainda possa ser superada pelos futuros governos da capital e do estado.

Este é o desafio que o debate do JB colocou como a prioridade absoluta dos compromissos dos candidatos a administrar o Rio e a todos os municípios e estados do país.

O candidato Fernando Gabeira botou o dedo na ferida na sentença perfeita: "A solução não vem de um governo ou pessoa. Precisamos de uma frente".

Pois a hora é esta. A legalização da união entre homossexuais pode ser submetida à votação no Congresso a qualquer hora. Mas, francamente, não é uma prioridade de aflitiva urgência.

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