segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O apagão de Dilma

Ricardo Noblat
DEU EM O GLOBO


"O voto não é do Serra, nem da Dilma, nem do Lula, nem de ninguém. Ele é do eleitor." (Marina Silva, senadora do PT-AC)

Em que estado se encontravam as lamparinas do juízo da ministra Dilma Rousseff quando ela negou o encontro que teve no final do ano passado no Palácio do Planalto com a então secretária da Receita Federal Lina Vieira? Não teria sido mais fácil confirmar o encontro e negar o que Lina disse ter ouvido dela? Ou afirmar que fora mal entendida?

Lina contou à Folha de S. Paulo que fora chamada para uma reunião com Dilma. O portador do convite – ou da convocação, se preferirem – não foi ninguém menos que Erenice Guerra, secretária-executiva da Casa Civil. Inusitado que tenha sido Erenice. Ela é importante demais para sair dos seus domínios e se ocupar com tarefa tão prosaica.

Mas por inusitado, parece crível. Erenice não discute ordens de Dilma. Está ali para fazer o que ela manda. O resto da equipe da Casa Civil, também. Alguns assessores veneram a ministra. A maioria teme seus ataques de cólera. O chefe do gabinete de Segurança da Presidência, general Jorge Armando Félix, já foi alvo de um deles.

Lina revelou ter ouvido de Dilma a recomendação para que apressasse as investigações em torno dos negócios suspeitos do empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney (PMDB-AP). A Polícia Federal chegou a pedir a prisão dele, recusada por um juiz do Maranhão. Lina foi embora do gabinete de Dilma e não falou mais com ela sobre o assunto.

A assessoria da ministra negou tudo – o encontro e a conversa sobre Fernando Sarney. No dia seguinte foi a própria ministra que negou. E voltou a negar mais duas vezes. Fala, Lina: “Ela me perguntou se eu podia agilizar a fiscalização do filho do Sarney. Fui embora e não dei retorno. Acho que eles não queriam problema com o Sarney”.

Fala, Dilma: “Eu não fiz esse pedido. Olha, eu encontrei com a secretária da Receita várias vezes, com outras pessoas junto, em grandes reuniões. Essa reunião privada a que ela se refere, eu não tive com ela”. Fala de novo, Lina: “Ela sabe que eu estive lá e sabe que falou comigo. Não custava nada ela ter dito a verdade”.

Vai na bola, Dilma: “Há coisas que a gente não afirma, a gente prova. Não vou fazer avaliação subjetiva quanto a interesses de ninguém”. Devolve a bola, Lina: “Qual a dificuldade (de a ministra admitir o encontro)? Na minha biografia não existe mentira”. Por sua vez, Erenice negou ter sido portadora de convite para que Lina se reunisse com Dilma.

Erenice falou por meio de nota oficial: “A secretária-executiva da Casa Civil da Presidência da República afirma que jamais esteve no gabinete de trabalho da ex-secretaria da Receita Federal Lina Vieira”. Rebateu de viva-voz Iraneth Dias, ex-chefe de gabinete de Lina: “Eu confirmo que ela esteve aqui e que a secretária falou que iria ao palácio”.

Quem fala a verdade? É o que quer saber a Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Ela convidou Lina para depor amanhã. Lina pediu passagem e hospedagem para voltar a Brasília. Está de repouso numa praia. Alguns senadores querem ouvir também Dilma e, se possível, acareá-la com Lina. Nem pensar, retruca o governo.

Seria muito fácil para o governo provar que a verdade está do lado de Dilma e Erenice. Ninguém entra no palácio sem ser identificado. Nenhum carro estaciona ali sem ter a placa anotada. Ninguém circula pelos corredores a salvo de câmeras de televisão. Depois de consultar seus arquivos por que o governo não disse simplesmente que Lina mentiu?

De duas, uma: não disse porque Lina falou a verdade. Ou porque o apagão nas lamparinas do juízo de Dilma o deixou sem saída. Recolheu-se ao silêncio obsequioso. De resto, Dilma já mentiu em outras ocasiões. Disse, por exemplo, que era mestre e doutoranda pela Universidade de Campinas – falso. Disse que não participou da luta armada contra a ditadura de 64 – falso. Disse que o governo não fez dossiê sobre despesas sigilosas do governo Fernando Henrique – nada mais falso.

A candidatura de Marina Silva

Fábio Wanderley Reis
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Meses atrás, em abril deste ano, tivemos nos Estados Unidos o senador Arlen Specter a mudar do Partido Republicano para o Partido Democrata. O motivo por ele citado para a decisão foi o de que, com seu voto favorável ao pacote de estímulo econômico de Obama, não teria como ganhar a eleição primária junto ao eleitorado republicano da Pensilvânia contra um desafiante conservador. Apesar de certa ambiguidade, já que está envolvida uma questão de posições sobre política de governo, a decisão de Specter sugere a disposição ao cálculo político mais ou menos estreito que pode ser associado ao "profissionalismo" político negativo de que falei aqui na semana passada. A mudança foi descrita por seus colegas republicanos como "um ato indisfarçado de autopreservação política", aproximando-se, claramente, do nosso troca-troca partidário orientado pelo cálculo de conveniências pessoais - afinal, também nossos políticos partidariamente "infieis" podem alegar razões maiores para os seus deslocamentos, que se fazem geralmente rumo ao governo.

Lembro Specter e a ambiguidade que cercou sua decisão a propósito da grande novidade em nossa cena política representada pelo ingresso de Marina Silva no PV, que aparentemente virá mesmo a acontecer, para disputar a Presidência da República. Não creio que caiba falar, a respeito, de "profissionalismo" miúdo. Mesmo admitindo a indisposição pessoal com relação a Lula ou ao PT que a senadora possa ter pelas circunstâncias de sua saída do governo e o provável efeito disso sobre a motivação da decisão de agora, seria impossível dissociar essa indisposição de uma biografia e de ideias mais que respeitáveis que se ligam à própria ascensão dela ao ministério. E a dose de realismo que a avaliação adequada da ação política requer leva a destacar, nas lideranças que emergem, a capacidade de combinar a promoção do interesse público com o interesse pessoal que está sempre legitimamente presente, na política não menos que nas atividades privadas.

De todo modo, a novidade contém sugestões e indagações sobre o processo político brasileiro em geral. Uma delas é a reiteração das precariedades do nosso quadro partidário.

Seja como for que se devam ver as infidelidades de parlamentares, é notável que, no ano anterior ao da eleição, seja possível a alguém perguntar-se para qual partido deve ir para disputar nada menos do que a Presidência da República - e que sua decisão a respeito possa ter tal impacto sobre o quadro geral das candidaturas e suas perspectivas de êxito. A previsão de "implosão" da candidatura de Dilma Rousseff, feita por Ciro Gomes em entrevista ao Valor, contém uma boa aposta, mesmo pondo de lado os estragos que as denúncias de Lina Vieira dão cada vez mais a impressão de poder trazer a Dilma. Em Marina Silva, a quem as peculiaridades do perfil popular e de "esquerda" permitem provavelmente beneficiar-se tanto de ser semelhante a Lula quanto daquilo que a distanciou dele, esse perfil se combina com uma imagem de consistência que a afasta do caráter folclórico de uma Heloísa Helena como candidata. Parece grande, tudo somado, seu potencial de atração eleitoral sobre muita gente, como indica a pesquisa do PV que se tem divulgado, e ela poderia vir a tornar-se o foco de composições de maior amplitude do que aquilo que sugerem os recursos limitados do próprio PV.

Uma indagação relevante, porém, é a de como avaliar esse impacto possivelmente forte sobre o processo eleitoral em perspectiva de maior alcance. Assim, há um sentido em que se pode pretender atribuir significado positivo ao plebiscitarismo que se vinha esboçando para a eleição de 2010. Não obstante a importância de composições "realistas" do tipo das que Lula e o PSDB tratam igualmente de manter com o PMDB (das quais, nas circunstâncias atuais, é difícil imaginar que Marina Silva, como candidata ou governante, viesse ela própria a ver-se livre), o enfrentamento renovado entre PT e PSDB talvez ajudasse a viabilizar a retomada ou o reforço de identificações partidárias que se vinham consolidando e favorecesse a eventual consolidação de um sistema partidário simplificado, que, bem ou mal, giraria em torno dos dois partidos de melhores características que temos tido há tempos.

A questão que se coloca é a do que traria à dinâmica do jogo partidário o possível êxito, total ou parcial, de Marina Silva como candidata à Presidência. A hipótese do êxito se liga fatalmente com a do amplo impacto negativo sobre o que restou do "sistema" PT-PSDB após as dificuldades recentes dos dois partidos. A respeitabilidade pessoal da senadora e o forte conteúdo programático que uma campanha sua presumivelmente teria (à parte as preocupações quanto à necessidade de equilibrar e diversificar a ênfase talvez excessiva na questão ambiental) permitiam a Rosângela Bittar, em coluna de 5 de agosto neste jornal, a hipérbole de situar essa campanha em "outra galáxia" em relação ao que temos correntemente. Restaria ver até que ponto os traços que distinguem Marina Silva como líder política poderiam representar, ressalvado o inevitável realismo e em contraste com o estilo da liderança exercida por Lula em seu governo, um fator de reconstrução pronta e efetiva - e no rumo certo da maior simplicidade e consistência - do quadro partidário.

Fábio Wanderley Reis é cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Escreve às segundas-feiras

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil


Oposição vai insistir em acareação entre Dilma e Lina na CCJ do Senado

Adriana Vasconcelos
DEU EM O GLOBO


Manobra fiscal da Petrobras também está na mira de DEM e PSDB


BRASÍLIA. Em minoria na CPI da Petrobras, a oposição vai tentar ir à forra amanhã na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, durante o depoimento da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira. A expectativa do DEM e PSDB é de que a ex-secretária confirme que teria sido pressionada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a encerrar logo qualquer investigação sobre a família Sarney. Se isso acontecer, o próximo passo dos oposicionistas será o de tentar fazer uma acareação entre Lina e Dilma.

- Já estou com o requerimento pronto para propor essa acareação - antecipou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Outro assunto que os oposicionistas pretendem abordar durante o depoimento da ex-secretária é a manobra fiscal feita pela Petrobras para pagar menos impostos, o que teria deflagrado uma investigação da Receita Federal e motivado a demissão de Lina Vieira, quando esta cogitou a aplicação de uma multa contra a estatal.

- Não temos o que temer, até porque o que a ex-secretária declarou até agora foram interpretações sobre uma suposta conversa com a ministra Dilma - observou o ministro das Relações Institucionais, José Múcio.

Os governistas deverão acertar a estratégia de atuação numa reunião marcada para hoje.

Palanque dividido nos estados

Patrícia Aranha
DEU NO ESTADO DE MINAS

Presidente Lula tem tentado de todas as maneiras construir aliança nacional entre PT e PMDB para as eleições 2010, mas as realidades regionais afastam essa possibilidade

Apesar do empenho pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em tentar garantir a presença do PMDB no palanque da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, no ano que vem, as realidades regionais afastam cada vez mais a possibilidade de que seja construída uma aliança nacional. Além do Rio Grande do Sul – onde os petistas são adversários históricos dos peemedebistas –, há problemas nos principais colégios eleitorais: São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. Até em estados governados pelo PT, como é o caso da Bahia de Jaques Wagner, o PMDB resiste, com lançamento de candidatura própria ao governo: a do ministro do Desenvolvimento Regional, Geddel Vieira Lima.

Levantamento feito pelo Estado de Minas junto a membros das executivas nacionais do PT, PSDB e PMDB mostra que as articulações nos 27 estados não passam de cartas de intenções. Em alguns casos, as conversas são tão incipientes que a entrada de um novo nome na disputa conseguiu modificar completamente o quadro. É o caso do Rio de Janeiro, onde a possibilidade da candidatura da ex-ministra Marina Silva à Presidência da República, pelo PV, obrigou o pré-candidato ao governo pelo partido, o deputado federal Fernando Gabeira, a repensar a aliança que vinha sendo costurada com o PSDB – que não teria candidato no Rio em troca do apoio dos verdes à candidatura do tucano ao Planalto. O mesmo ocorreu em Goiás, onde o aval do presidente Lula à eventual candidatura do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (ainda sem partido), fez com que o PT recuasse no apoio à candidatura do prefeito de Goiânia, Íris Rezende (PMDB).

Estratégias No Planalto, a orientação é para que nos estados governados por partidos da base aliada não haja disputa, mas nem mesmo o PT tem obedecido. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, governado pelo PMDB, os filiados estão em plena campanha pela candidatura do ex-governador Zeca do PT. O secretário nacional de Assuntos Institucionais do PT, Romênio Pereira, que acompanha de perto as articulações nos estados, reconhece que a tarefa não é fácil.
“O PT e o presidente Lula sabem que política não é matemática. Não é simples falar com o ministro Geddel que ele deveria apoiar Jaques Wagner na Bahia, ou com o PT do Rio que a prioridade é reeleger o governador Sérgio Cabral (PMDB). Mas articulação política é assim mesmo, a estrada é longa, o presidente Lula é habilidoso. Poderemos ter êxito nas conversas”, acredita.

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), avalia como remota a possibilidade de o PMDB fazer uma aliança nacional, por isso concentra as conversas em torno dos maiores colégios. “O presidente Lula, como sempre, foi muito ambicioso nas articulações. Ele terá gente do PMDB no palanque presidencial, como nós também vamos ter. Ninguém vai ter o partido como um todo”, avalia.

Pesquisa anima partidos dos três principais concorrentes

Lisandra Paraguassú, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Datafolha mostrou Serra na dianteira, além de empate entre Ciro e Dilma

A pesquisa Datafolha divulgada neste domingo agradou a todos os partidos envolvidos. Se os tucanos comemoram a primeira posição do governador de São Paulo, José Serra, os petistas consideraram positivo o fato da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, não ter caído, apesar dos dias de exposição negativa. Já o PSB vê o empate entre Dilma e Ciro Gomes (PSB-CE) como um sinal de que a candidatura de Ciro é viável.

O levantamento mostrou Serra na dianteira com 37% das intenções de voto. Já Dilma apareceu com 16%, tecnicamente empatada com Ciro, que ficou com 15%. "A pesquisa é muito boa para Dilma, porque a distância para Serra vem diminuindo e as intenções de voto estão estáveis, mesmo após dias de exposição negativa", analisa o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP). Ele avalia que a possível saída da senadora Marina Silva (PT-AC) do partido para concorrer ao Palácio do Planalto pelo PV e o enfrentamento entre Dilma e a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, poderiam ter retirado pontos da ministra, o que não aconteceu.

Já o senador Renato Casagrande (PSB-ES) afirma que os números do Datafolha confirmam a "viabilidade da candidatura de Ciro Gomes". Na semana passada, o deputado deu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o recado de que quer mesmo sair candidato ao Palácio do Planalto e não ao governo de São Paulo. "Ciro é um nome nacional. Compreendemos que ainda é muito cedo para esses números terem influência na eleição, mas é um resultado que o coloca no jogo", diz. Casagrande considera que o empate entre Ciro e Dilma mostra que as duas candidaturas são viáveis e PT e PSB precisam trabalhar as candidaturas. "No ano que vem faremos uma avaliação melhor", afirma.

Com Serra ainda disparado em primeiro lugar, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) considera que a candidatura tucana já está consolidada. "É um voto consolidado. E, do outro lado, a candidatura governista não cresce e tem alto índice de rejeição. Esperava-se números maiores a essas alturas, com a alta exposição da ministra", avalia.

Os 3% obtidos por Marina no levantamento não foram recebidos com surpresa por petistas e tucanos. "Não esperava mais da Marina e acho difícil que a candidatura dela cresça muito mais", minimizou Vaccarezza. Já Álvaro Dias considera que a senadora poderá sim ter mais votos e complicar a candidatura de Dilma. De acordo com o senador, Marina pode se beneficiar do empate observado entre Ciro e Dilma. "A tendência é ter uma polarização entre dois candidatos.
Com o empate entre PT e PSB temos uma indefinição de quem pode ser esse segundo candidato, o que pode levar votos para a Marina", afirma o senador.

Para ajudar Dilma, Lula lança pacote de bondades

Denise Madueño, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Revisão dos valores das aposentadorias, reajuste do Bolsa-Família e Minha Casa, Minha Vida são prioridades

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou em execução neste ano um pacote de bondades que serve para pavimentar o caminho da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, na corrida eleitoral. O atendimento de demandas sociais neste ano facilita a campanha de 2010.

O pacote inclui revisão de valores de aposentadorias, reajuste no valor do Bolsa-Família, além da coleta dos frutos do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, a partir do próximo ano.

Com questões populares resolvidas, Lula estaria mais livre para viajar com Dilma pelo país em busca de votos, além de efetivar a estratégia de transformar a eleição presidencial em um plebiscito. O plano é confrontar o que foi feito no governo petista e no período do tucano Fernando Henrique Cardoso, para enfrentar o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), principal adversário de Dilma na avaliação dos petistas.

Em outra frente, Lula destravou o bloqueio de verbas para uso em publicidade no próximo ano imposto pelo Congresso. O presidente vetou na semana passada o dispositivo da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que limitava as despesas oficiais com publicidade, diárias e locomoção de funcionários ao mesmo valor do que será gasto neste ano.

O presidente pretende resolver nos próximos dias um passivo antigo, que beneficia em torno de 8,3 milhões de pessoas que recebem aposentadorias, pensões e auxílios da Previdência Social com valor acima de um salário mínimo. O presidente deu o sinal verde e a equipe de governo discute a concessão, a partir de janeiro de 2010, de um índice de reajuste acima da inflação anual para essa faixa de benefícios, ao contrário dos últimos anos, incluindo os seis de Lula, quando essas aposentadorias receberam somente a correção da inflação.

No próximo mês, o governo começa a pagar os benefícios do programa Bolsa-Família com um reajuste de 10%. Na definição do aumento, o governo antecipou o que seria concedido no próximo ano. O índice significa a reposição da inflação dos últimos 12 meses mais a projeção para os próximos 12. O programa é responsável por grande parte da popularidade de Lula e a intenção é transferi-la em forma de votos para a sua candidata.

Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) constatou que na eleição passada o programa representou três pontos percentuais da votação de Lula.

PLESBICITO

O programa Minha Casa, Minha Vida, é outro exemplo de ação tomada neste ano que se concretizará no ano eleitoral. As primeiras construções subsidiadas deverão estão prontas no primeiro trimestre. "O presidente tem um discurso para cada coisa. Ele poderá fazer o comparativo e o plebiscito entre os governos dele e o de FHC", avaliou o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) considera que o componente principal do segundo mandato a foi manter a situação econômica para poder partir para a campanha."O presidente quer atender as corporações, antecipar qualquer demanda e deixar o Congresso à deriva", criticou.

Filiação de senadora dará identidade a Partido Verde

Leandro Colon, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Com conteúdo defasado no debate ambiental, legenda ainda busca espaço no 1.º escalão da política brasileira

Aos 23 anos, o Partido Verde ainda busca uma identidade. A filiação da senadora Marina Silva (PT-AC) será o caminho para o partido achar rumo e espaço no primeiro escalão da política brasileira. É a chamada "refundação", segundo palavras da própria Marina e de lideranças do PV. "Seria a discussão da tradução, do ponto de vista prático, da sustentabilidade", diz a senadora.

Com um conteúdo programático defasado, o Partido Verde ficou para trás na discussão ambiental. É o "primo pobre" entre coirmãos dos outros países. Viveu nos últimos anos a reboque de celebridades, com o cantor Gilberto Gil - que foi ministro da Cultura no governo Lula - e o deputado Fernando Gabeira (RJ).

O PV brasileiro está longe da influência que as legendas da bandeira verde exercem em outras democracias. No Parlamento Europeu, o Partido Verde é a quarta bancada. É também voz importante no Parlamento e no governo da Alemanha. No Brasil, é apenas a décima bancada na Câmara dos Deputados, com 14 parlamentares. Obteve somente 3,6% dos votos válidos em 2006. Quem lidera a bancada é o deputado Sarney Filho (MA), filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O parlamentar foi um dos responsáveis pelo convite a Marina Silva.

O PV não ocupa cadeira no Senado. Comanda apenas uma prefeitura de capital, a de Natal, com Micarla de Souza. Ela é aliada do DEM no Estado, partido opositor ao também aliado do PV, mas no plano federal -, governo Lula. Dois integrantes do PV são ministros: Carlos Minc, no Meio Ambiente, e Juca Ferreira, na Cultura.

A consolidação do PV na política nacional passa, principalmente, por mudanças programáticas para "reisignificar" o partido, segundo declarações de Marina Silva ao falar de sua filiação à legenda. Mudar, avaliam outras lideranças, é atualizar o programa elaborado no começo dos anos 90. Substituir a bandeira da ecologia pela do desenvolvimento sustentável. Inserir, por exemplo, uma discussão partidária sobre mudanças climáticas e um novo modelo de emissão de carbono. "É o momento para o PV se consolidar, encontrar sua verdadeira vocação e se afirmar como partido programático", diz Alfredo Sirkis, vereador no Rio e fundador do PV. "O programa do PV está desatualizado. Precisamos reformulá-lo e também preparar um projeto de governo para os próximos cinco anos."

Para Fernando Gabeira, o PV precisa também abrir o leque da discussão, além do mundo socioambiental. É preciso, segundo ele, falar de segurança pública, política externa e direitos humanos. "A questão ambiental tem peso, mas a campanha não será monotemática", afirma.

O PV sofrerá um problema comum aos pequenos partidos: falta de tempo na TV e no rádio para abrir caminho para essa diversificação de temas. Uma eventual candidatura de Marina Silva ao Palácio do Planalto não significa mais espaço gratuito de campanha. Na melhor das hipóteses, numa disputa com Dilma Rousseff (PT) e um dos governadores tucanos José Serra ou Aécio Neves, Marina teria apenas três minutos num bloco diário de 25 minutos de propaganda.

Controle de capitais não é solução

Gustavo Loyola
DEU NO VALOR ECONÔMICO

A recente trajetória de apreciação do real e as previsões de seu fortalecimento adicional nos próximos meses reacenderam o debate sobre a conveniência de adoção de medidas de controle da entrada de capitais externos, com o objetivo de evitar ou atenuar a perda de competitividade dos bens produzidos no Brasil.

Os defensores dessa medida relembram que outros países, no passado, trilharam o mesmo caminho com sucesso. Frequentemente é citado o exemplo do Chile que, no início dos anos 1990, adotou um depósito compulsório não-remunerado sobre o ingresso de capitais.

A minha experiência profissional no Banco Central me aconselha a adotar uma posição pragmática em relação a esse tema. É necessário reconhecer que há situações em que o controle do ingresso de capitais é o único instrumento à disposição do Banco Central. Porém, parece-me que tais situações são sempre excepcionais e temporárias, não sendo razoável perenizar os controles de capitais como elemento integrante do regime cambial de um país.

As principais razões teóricas para adoção do controle do ingresso de capitais são: a) evitar a apreciação do câmbio, nos momentos em que há excesso de oferta de recursos para o país; b) reduzir o influxo de capitais de curto prazo, cuja reversão traz potencialmente problemas macroeconômicos e de instabilidade financeira; c) preservar ou aumentar a autonomia da política monetária.

No presente momento, das três hipóteses acima, apenas o objetivo de impedir a apreciação do real poderia, em tese, ser aventado como motivação para um eventual controle da entrada de divisas no Brasil.

Por um lado, a composição e o tamanho do passivo externo não indicam a presença dos riscos normalmente atribuídos ao excesso de endividamento de curto prazo. Esse tipo de problema ocorre mais frequentemente quando o regime de câmbio é de taxas fixas (ou de bandas estreitas) e na presença de mecanismos de transferência do risco cambial do setor privado para o governo. Obviamente, não é esse o caso da economia brasileira no momento atual.

No regime de taxas flutuantes de câmbio, como o vigente hoje em nosso país, nas situações de reversão do fluxo de capitais, em grande medida os ajustes se dão via preços, principalmente nos casos em que o passivo externo é dominado por investimentos em "equity" e não em dívida. Além disso, os dados mostram que os fluxos de capitais recentes para o Brasil não se caracterizam como dívida de curto prazo, mas sim por investimentos diretos e aplicações em ações negociadas em bolsas de valores.

De outra parte, não há por que falar nesse momento na necessidade de defesa da autonomia da política monetária. Ao contrário, o regime de taxas flutuantes de câmbio se caracteriza, em contraste ao regime de taxas fixas, pela capacidade de se executar uma política monetária doméstica independente. É certo que, na prática, a flutuação "pura" do câmbio é muito rara, predominando, como na situação brasileira atual, um regime de flutuação "suja", em que o mercado se sujeita às intervenções do BC. Na presença de um grande influxo de capitais e havendo a decisão do BC de intervir na ponta compradora de câmbio para evitar a apreciação da moeda doméstica, a acumulação de reservas internacionais pode trazer custos relevantes, quando há um diferencial positivo de taxas de juros. Porém, o quadro atual é de baixo risco inflacionário, portanto mais propício à queda adicional dos juros domésticos do que ao uso de barreiras à entrada de capitais.

Resta, então, pura e simplesmente o objetivo de não permitir a apreciação do real, com vistas a defender a competitividade da produção nacional. O problema é que a manutenção de um nível artificialmente depreciado da moeda nacional não tem o condão de solucionar problemas de tal natureza que normalmente têm raízes estruturais. Quando muito, é admissível que as autoridades busquem evitar a volatilidade excessiva da taxa de câmbio, preferivelmente através da intervenção direta do BC no mercado cambial e não por meio de medidas administrativas como o controle da entrada de capitais. Com esse tipo de política, o objetivo não é a fixação de um patamar mínimo para o valor do dólar, mas sim o de diminuir as incertezas associadas à sua volatilidade excessiva.

Por outro lado, é duvidoso que a intervenção do BC ou medidas administrativas de controle de capitais afetem o nível de taxa real de câmbio a médio prazo. Na verdade, esse tipo de política em nada ajuda na solução dos reais problemas da indústria nacional, tais como a elevada carga de tributos, infraestrutura logística cara e ineficiente, um Estado excessivamente intervencionista e burocrático etc.

Desse modo, a pretensão de afetar a trajetória de câmbio real por meio de controles de capitais parece fadada ao insucesso. Vale ressaltar que mesmo no caso da experiência "exitosa" chilena o efeito dos depósitos compulsórios não-remunerados sobre a taxa de câmbio real foi insignificante. O que se obteve foi a elevação do diferencial entre os juros domésticos e externos, o alongamento do prazo dos passivos externos e a redução dos fluxos líquidos de capitais, conforme atesta trabalho de três economistas do BC chileno ("Documento de Trabajo n. 59", disponível no site do BC do Chile).

Adicionalmente, a adoção de controles de entrada de capitais é desaconselhável pelas dificuldades de administração desses mecanismos por parte do BC, no contexto de mercados financeiros crescentemente integrados e globalizados. A efetividade dos controles tende a ser efêmera, o que exige das autoridades um constante monitoramento e frequentes alterações de regras para evitar que brechas sejam descobertas e aproveitadas pelos agentes de mercado para evadirem-se dos controles. Esse processo não apenas gera um desperdício de recursos como também afeta negativamente o funcionamento do mercado cambial e aumenta as incertezas para os agentes econômicos.

Gustavo Loyola é doutor em Economia pela EPGE/FGV. Ex-presidente do Banco Central do Brasil. Escreve mensalmente às segundas-feiras.

É o câmbio, sr. presidente!

Luiz Carlos Bresser-Pereira
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


O Brasil só terá novamente altas taxas de crescimento econômico quando voltar a administrar taxas de câmbio

O "VALOR Econômico" do último dia 11 informava em sua manchete de primeira página que a indústria automobilística vive sua "3ª onda de investimentos", enquanto no mesmo dia esta Folha" anunciava que "queda na exportação segura retomada das montadoras" e completava: a retração acumulada das exportações do setor neste ano é de 12,9%.

As duas notícias são contraditórias. Por que as empresas planejariam grandes investimentos se suas exportações estão em queda? E se uma das causas dessa queda for a apreciação do câmbio que está ocorrendo? Para que a expansão projetada seja voltada principalmente para atender o mercado interno, poderiam me responder. Mas, ainda que a indústria automobilística seja um dos poucos setores protegidos, a apreciação cambial abre o mercado interno para as importações.

Só vejo uma explicação para a contradição. Os planos de investimento provavelmente existem, mas foram formulados no quadro de outra taxa de câmbio -daquela taxa que se definiu após o crash de outubro de 2008. Planos de investimento tomam tempo para serem formulados e mais ainda para serem implementados. Não me surpreenderá, portanto, que uma boa parte desses projetos seja abandonada ou adiada em vista da nova taxa de câmbio.

O presidente Lula, porém, não parece disposto a enfrentar o problema. Nesta mesma Folha, Kennedy Alencar informa que, "apesar de preocupado com o efeito negativo da valorização do real sobre as exportações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva descarta intervenção no sistema de câmbio flutuante". Como explicar esse fato? Só vejo duas respostas: primeiro, o presidente Lula está satisfeito com o desempenho da economia brasileira e não se dispõe a tomar medidas mais fortes no setor; segundo, o presidente ainda não se deu conta da gravidade do problema cambial brasileiro; supõe que a sobreapreciação que está novamente se manifestando seja conjuntural -relacionada com a taxa de juros elevada- quando ela é estrutural.

Acho que o presidente se satisfaz com pouco, mas compreendo sua satisfação. Ela reflete o contentamento dos brasileiros, que, depois de 14 anos de alta inflação e baixo crescimento, entenderam que baixa inflação e um crescimento um pouco melhor sejam o melhor que podemos esperar. "Se meus eleitores estão satisfeitos, por que vou eu intervir no mercado?", deve pensar. Respeito o gênio político do presidente, mas o fato real é que essa taxa de câmbio é incompatível com o desenvolvimento econômico brasileiro. Já era antes da crise, mas era então provisoriamente compensada pelo aumento do mercado interno causado por suas medidas distributivas (Bolsa Família e elevação do salário mínimo).

Não existe, entretanto, mais espaço nessa área. E o câmbio está novamente seguindo sua tendência estrutural à sobreapreciação.

Essa tendência à sobreapreciação tem duas causas fundamentais: a doença holandesa moderada mas real existente no Brasil e a atração que os capitais externos têm pelas taxas de lucro e de juros mais elevadas existentes no país. Por isso não é possível deixar a taxa de câmbio por conta do mercado. Este não a torna apenas volátil, como todos os economistas reconhecem, mas essa volatilidade tem uma tendência para a sobreapreciação que resulta, no curto prazo, em diminuição das oportunidades de investimento e, no médio prazo, em crise de balanço de pagamentos. O Brasil só alcançou altas taxas de crescimento enquanto administrava sua taxa de câmbio. Só voltará a alcançá-las quando voltar a fazê-lo.

Luiz Carlos Bresser-Pereira , 75, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".

Joao Gilberto - Sampa

Bom dia!
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domingo, 16 de agosto de 2009

Plano de poder

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


Os escândalos envolvendo os líderes da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), com a manipulação de dinheiro dos fiéis para fortalecer o império de comunicação que o chamado bispo Macedo construiu com base na Rede Record de televisão, têm um terceiro componente que é fundamental no projeto de poder montado pelo grupo: o plano político, onde a Universal atua através do Partido Republicano Brasileiro (PRB). Essa combinação de igreja com meios de comunicação e política é uma mistura explosiva que alimenta um projeto maior, que o próprio bispo Macedo explicitou em um livro com o cândido nome de “Plano de Poder — Deus, os cristãos e a política”.

Escrito em parceria com Carlos Oliveira, diretordo jornal “ Hoje em Dia”, de Belo Horizonte — um dos jornais da rede midiática da Universal, que tem também várias rádios pelo país — o livro parte do princípio de que Deus tem “um projeto de poder político de nação” para o seu povo, que tem sido negligenciado.

“Lamentavelmente, esse senso de percepção tem faltado a muitos cristãos, que hoje já somam no Brasil 40 milhões de pessoas, que vem crescendo a cada dia”, afirma Macedo.

Esse “ enorme potencial” tem que ser aproveitado para a conclusão do “ projeto de nação ” de Deus. “Quando se trata dos votos dos evangélicos, estamos diante de dois interesses”, afirmam os autores: “O interesse dos próprios cristãos em ter representantes genuínos e o interesse de Deus de que Seu projeto de nação se conclua”.

No meio de toda essa doutrinação, onde não faltam conselhos como “é extremamente necessário que haja um projeto visando primeiramente a conscientização e o amadurecimento e esclarecimento de um povo, ou de uma classe, para que então seja construída a estratégia e alcançados os objetivos intencionados”, o livro constata que não existe uma fórmula infalível para a chegada ao poder, o que quer dizer que “o campo em que ocorrem tais disputas está aberto. (...) Os procedimentos estratégicos não podem ser, de forma alguma, ignorados. Lembre-se de que o próprio Deus não os ignorou”.

Os tais “procedimentos estratégicos” não têm sido ignorados pelos seguidores do bispo Macedo, que ao sentir que a primeira legenda assumida pelo grupo, o PL, havia sido atingida mortalmente pelo escândalo do mensalão, tratou de criar uma nova sigla política.

O vice-presidente da República, José Alencar, rompeu com o PL e aderiu a mais uma aventura partidária do bispo Macedo, que já havia sido seu parceiro no PL. O Partido Municipalista Renovador, criado em 16 de dezembro de 2003, com apoio de mais de 457.702 eleitores, transformou-se em 25 de outubro de 2005 em Partido Republicano Brasileiro — o PRB.

Em poucos dias conseguiram recolher nas igrejas espalhadas pelo país milhares de assinaturas para constituir um partido político, meta que o PSOL levou quase um ano para atingir pelos métodos tradicionais.

A opção pelo empresário José Alencar na eleição de 2002 tinha uma intenção política específica: convencer o eleitorado não-petista de que a candidatura Lula não representava perigo e era capaz de unir capital e trabalho na busca do desenvolvimento.

Agora, não. A escolha do partido do bispo Edir Macedo foi uma jogada política com outro alcance, tentativa explícita de ampliar os tentáculos do governo a uma área popular que atrai muitos votos de cabresto.

No estudo “Religião e sociedade em capitais brasileiras”, coordenado pelo professor da PUC do Rio Cesar Romero Jacob, foram examinadas pela primeira vez estatísticas detalhadas sobre a opção religiosa dos moradores de 19 capitais brasileiras.

Uma das conclusões mais importantes é que as três décadas de estagnação da economia brasileira, aliadas ao modelo urbano perverso — que segrega nas áreas distantes os mais carentes — produziram nos últimos anos um fenômeno recorrente em todas as principais capitais brasileiras: a formação de anéis evangélicos nas periferias, onde se concentram sobretudo os fiéis pentecostais, em número crescente.

Nas áreas centrais, mais abaladas , permanece predominante a população católica, que, no entanto, tem diminuído sistematicamente em todas as principais capitais: em 13 das 19 metrópoles estudadas, esse declínio ultrapassou os 10 pontos percentuais entre os censos de 1991 e 2000.

As duas principais denominações pentecostais são a Assembleia de Deus e a Universal do Reino de Deus (Iurd). Entre elas, no entanto, há diferença de comportamento, segundo os estudiosos.

Enquanto a Assembleia de Deus concentra-se nas áreas mais pobres, principalmente na Baixada Fluminense, a Iurd está mais presente nos subúrbios de classe média, onde a pregação da teologia da prosperidade faz mais eco entre fiéis ávidos pela terra prometida do emprego e da perspectiva de empreendimentos econômicos que, uma vez bem-sucedidos, reverterão em maior volume de doações.

Além do PRB, a Igreja Universal usa a tática de espalhar adeptos em vários outros par tidos, o que faz com que tenha uma bancada diversificada no Congresso. O que há de diferente entre a Universal e as outras igrejas evangélicas é que ela é um instrumento de enriquecimento de pessoas e um meio para acumular poder político

Aplicação da lei e censura

José Arthur Gianotti
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Nenhuma regra se ajusta a seus casos sem deixar zonas de indefinição. Até mesmo a aplicação de uma lei física encontra resultados que variam num intervalo, cuja variação se determina em função do uso do resultado. O marceneiro não mede suas tábuas como o mesmo rigor de um fabricante de aparelhos óticos. O que dizer de uma norma jurídica?

É de esperar que a variação seja mais ampla. Por isso a jurisprudência desempenha papel crucial na determinação desse intervalo, pois o juiz aplica a lei tendo em vista tanto seu enunciado como a aplicação já feita por seus antecessores. Lembremos apenas o caso dos contratos leoninos. Um contrato vale pelo que foi acordado entre as partes, mas, se uma delas tiver ganhos ou perdas além de limites razoáveis, é a vontade do tribunal que estabelece o novo parâmetro.

A mídia, assim como os movimentos sociais, joga com essa ambiguidade. Sem pretender contestar o Estado de Direito, ela leva em conta a aplicação da lei em vista de seus próprios interesses, sejam interesses públicos, sejam interesses privados. A notícia sempre diz respeito a uma situação desviante, cabendo então aos interessados corrigir os exageros e encontrar os responsáveis por eles.

Até quando um jornal deve publicar uma notícia que fere a imagem de um cidadão? Além do mais, se este for um político, isto é, um homem público, a publicação da notícia não pode inviabilizar sua própria identidade política, destruindo assim sua carreira?

Cada categoria assume seus próprios riscos nessa negociação com a lei. O cidadão comum pode achar que tal despesa com sua saúde pode ser descontada de seu imposto de renda, a Receita Federal pode simplesmente glosá-la. Um grupo de sem-terra se arrisca invadindo uma propriedade que considera improdutiva, poderá ser desalojado legalmente e pagar o preço político de sua ação. Mas não existiria como movimento se não forçasse os limites da lei para fazer com que ela se incline na direção desejada por sua ideologia e seus interesses.

O mesmo se dá, mutatis mutandis, com a mídia. Ela não existiria se apenas informasse casos constatados e julgados. Um jornal não se confunde com um boletim científico ou um jornal oficial. Obtida uma informação interessante, cabe ao jornal publicá-la; obviamente assumindo os riscos se ela for exagerada, se informar além do intervalo aceito pelos costumes e pela jurisprudência.

Este jogo entre as regras e seus casos depende assim da estabilidade, flexibilidade e prontidão das instituições. Uma notícia veiculada por um jornal tradicional e carrancudo não tem a mesma importância, não possui o mesmo sentido público, quando vem a ser publicada por um tabloide especializado em escândalos. E os dois tipos de jornais existem segundo as tradições regionais. O grau de tolerância para o inusual e intempestivo varia de país a país.

Isto significa que cada país tem a imprensa que merece, vale dizer, aquela que opera num nível de indefinição que o jogo político da população conseguiu definir. Não se segue daí qualquer conformismo. Um país é também aquilo que ele quer ser. Não existe como coisa, mas como rede de instituições que valem conforme a liberdade que logram prometer, o espaço público que consegue abrir. Já que todos possuem uma esfera pública, é nela que um país comprova o que ele vem a ser.

Desse ponto de vista, o Brasil vive uma indefinição que pode nos jogar ladeira abaixo. Não se travam entre nós tensões vigorosas entre o público e o privado; pelo contrário, desde os tempos em que se falava da lei de Gerson - que cada um cuide do seu - cada dia mais os homens públicos, sejam eles professores, políticos e juízes, deixam transparecer sem pejo o caráter privado de suas ações. O público somente se performa no interesse privado.

Nossa situação se torna mais trágica quando as próprias normas institucionais passam a servir a tais interesses. O decreto do Senado vira secreto; a falta de decoro parlamentar deixa de ser transgressão a ser examinada pela Casa para se resumir tão-só num instrumento de pressão política; o presidente da República se lança numa campanha eleitoral como se estivesse dando publicidade a seus atos de governo e assim por diante. O caso do Judiciário é patético. Os casos não são decididos com devida precisão e isenção, mas se arrastam de tal maneira que enervam os direitos dos litigantes. E magistrados politicamente corretos ou incorretos usam o emperramento das leis para prestarem serviços a seus amigos ou a companheiros ideológicos.

Por exemplo, o Estado está proibido de divulgar reportagens sobre Fernando Sarney, que, se sentido prejudicado, conseguiu na Justiça esse impedimento. Não vejo censura do ponto de vista legal, o demandante se viu prejudicado em seus direitos e apelou para a Justiça. Mas a censura de fato se instala quando o recurso demora a ser aceito e demora ainda mais para ser julgado.

Muito bem. Suponhamos que a Justiça decida e mantenha a proibição. Permanece a informação sobre transgressões presumidas. Ora, essa presunção ainda é notícia e deve ser publicada pelo jornal. Não como um fato ocorrido - isto o Estado está proibido de dizer -, mas como presunção, como um caso a ser verificado. Quando um processo corre em segredo de justiça, ele deixa de ser secreto se a notícia vaza, e cabe então ao Poder Judiciário punir o responsável por esse vazamento. O jornal deixaria de cumprir sua função pública se esperasse o julgamento de fato, que, aliás, somente se fará de forma equilibrada sob pressão da opinião pública. A Justiça se tece nesse jogo, mas, como tudo parece indicar, ela está servindo tão-só aos interesses privados.

*José Arthur Gianotti é filósofo

A democracia interna dos partidos

Glaucio Soares, Sociólogo
DEU NO JORNAL DO BRASIL

Mário Juruna, Agnaldo Timóteo, Saturnino Braga, Cesar Maia, Marcello Alencar e Waldir Pires. O que há de comum entre esses homens? A qualidade política varia muito entre eles, desde Juruna e Agnaldo Timóteo, que todos gostaríamos de esquecer, até os demais, que comandaram o respeito de amplos setores da população dos seus respectivos estados.

Não há muito em comum, exceto o fato de que todos eles, assim como muitos outros políticos brasileiros, receberam votações substanciais, militaram no PDT e terminaram não encontrando espaço dentro do partido para as suas posições e, na medida em que cresceram, chocaramse com o partido ou com o seu caudilho fundador, Brizola. Em um momento, foram elogiados por Brizola e, em outro, vilipendiados por ele. Se acreditarmos nas palavras com que Brizola os recebeu no PDT, eram pessoas honestas, políticos capazes e eficientes mas, posteriormente, Brizola alegou que eram muito ruins.

Ficamos sem saber em qual dos dois Brizolas acreditar. Se fossem tão ruins, o PDT não teria mecanismos de seleção: entraria qualquer um. A explicação de que mudaram, de que são “traidores”, aplicada a tantas pessoas, tão diferentes entre si, não convence.

Estatisticamente, é uma improbabilidade. Seria coincidência demais. A prudência científica indica que o problema não é a traição dos muitos, mas o caudilhismo do um. Assim, a irônica história do PDT se resumia a ganhar eleições e perder os eleitos...

Muitos brasileiros estão engajados na construção da democracia, mas um obstáculo no caminho da democracia nacional é a falta de democracia nos partidos. O PDT é, apenas, um dos partidos que tiveram sérios problemas de democracia interna, que prejudicam o partido e a própria democracia brasileira.

O caudilhismo e a falta de democracia interna nos partidos não são novidade, nem invenção brasileira.

Estavam entre as principais preocupações dos teóricos do século 19 e do início deste, como Ostrogorski, Weber e Michels. Não houve a esperada relação íntima entre a ideologia externa, de esquerda, democrática, do partido e a sua democracia interna.

Michels, socialdemocrata, reclamava da ausência de democracia no partido, no mesmo partido que lutava pela democracia na sociedade, e atribuía isso à manipulação da burocracia partidária pela oligarquia. Michels chegou a falar numa lei de ferro da oligarquia. O PCURSS não dispunha de mecanismos democráticos internos que permitissem a substituição democrática e pacífica dos líderes. Alguns líderes comunistas estão entre os chefes de Estado que mais duraram no poder; Cuba e a Coreia do Norte mais parecem monarquias hereditárias do que regimes comunistas.

Nos países comunistas, as formas mais comuns de substituição dos chefes partidários eram a morte, nem sempre morrida, a senilidade, e o golpe palaciano. Não havia, nem há, mecanismos institucionais para substituir líderes.

A falta de democracia esteve sempre presente na política brasileira e também não se correlaciona com a orientação ideológica do partido.

Maria Celina Soares D’Araújo analisou o antigo PTB, demonstrando que as elites dirigentes nacionais usavam os instrumentos burocráticos do partido para eliminar lideranças que lhes fizessem sombra. As convenções eram convocadas irregularmente, quase sempre com o propósito de eliminar ou punir lideranças competitivas.

O poder de angariar votos não contava para os burocratas do partido. O diretório nacional se imiscuiu constantemente nas seções estaduais, particularmente na de São Paulo, e o PTB, partido trabalhista, nunca se destacou eleitoralmente em São Paulo, o maior celeiro de operários do Brasil. Nomes com cacife eleitoral como Adhemar de Barros e Jânio Quadros jamais encontraram um nicho no PTB. Hugo Borghi, máquina de obter votos, foi expulso duas vezes. A semelhança com o PDT dos tempos de Brizola é forte demais para ser casual. Temos que considerar a hipótese de que a origem do PTB o condenou a ser vítima do caudilhismo gaúcho. Foi dominado por Getúlio Vargas e sua família, por João Goulart e por Leonel Brizola, todos gaúchos, todos caudilhos.

Já no PSD, rural, ideologicamente conservador, o voto era soberano, como demonstrou Lúcia Hippólito. Quem tinha voto, tinha voz e influência. A UDN, reacionária, apoiava golpes no plano nacional, mas realizava as suas convenções religiosamente e substituía normalmente as lideranças, agindo democraticamente no plano intrapartidário, como demonstrou Maria Vitória Benevides.

O PDT era um exemplo extremo de oligarquia partidária porque a oligarquia era personalizada, mas a falta de democracia interna existiu e existe em outros partidos e regimes. Um indicador de que há perigo de personalização é a vinculação necessária entre o partido e um líder; em casos extremos, o partido ou movimento toma até o nome do líder, como no caso de Perón, cujos seguidores eram muito mais conhecidos como peronistas do que como justicialistas. Na maior parte dos casos, os partidos personalizados sobem e baixam com os líderes, sendo um exemplo relativamente recente o PRN, fundado por Collor para servir de apoio e, por isso, fadado à insignificância ou ao desaparecimento; a história política da América Latina está repleta de exemplos. Entretanto, há casos em que o partido sobreviveu ao líder, como o próprio peronismo.


Recentemente, o continente observa um divórcio entre líderes populista de alta visibilidade e os partidos que os apoiam. Esse divórcio também está presente na mídia internacional.

Muitos mais ouviram, leram e viram notícias sobre Chávez, Lugo, Morales, Correa ou, para colocar uma liderança conservadora, Uribe, mas poucos fora do país sabem sequer o nome dos seus partidos, sua história, nomes de outros quadros. Os líderes, populistas, ou eclipsaram seus partidos ou os partidos nunca tiveram uma existência significativa.

Porém, as ameaças à democracia interna dos partidos não vêm, apenas, de líderes e famílias oligárquicas, de direita ou de esquerda.

O PT, quebrando a tradição da oligarquização interna dos partidos de esquerda, começou sua vida como partido com uma organização mais democrática, embora o furor punitivo de algumas tendências comprometesse esse ideal. Infelizmente, os princípios que provocaram o furor punitivo foram abandonados pelo partido, que vendeu a alma à corrupção e à teoria da governabilidade – que antes de subir ao poder criticara violentamente. A democracia interna, exigindo lealdade, não obstante permite variações de opinião: onde vence a maioria, são respeitados os direitos das minorias.

Sem esse respeito, não há democracia, há ditadura da maioria. A correta preocupação de Wanderley Guilherme dos Santos, em assegurar o direito à representação das minorias nacionais, também se aplica às minorias dentro dos partidos. O respeito aos direitos das minorias, evidentemente, não deve ser confundido com ausência de lealdade partidária mas, por sua vez, a lealdade partidária não significa fechar a questão a respeito de tudo, nem exigir conformidade com o que não seja questão de princípio, como fazia o antigo PTB. Não é fácil evitar a anarquia interna, sem cair na ditadura da maioria ou de uma oligarquia que age em seu nome.

O poder e as instituições afetam a democracia interna dos partidos.

Uma vez no governo, o partido muda. No Brasil, Lula eclipsou o PT. O apoio a Lula é muito grande, mas o apoio ao PT e outros petistas é moderado. A correlação espacial entre a força eleitoral de Lula e a do PT é nula. Eleitoralmente, os dois estão divorciados. O PT não dispõe nem de nomes adequados para substituir Lula, com suficiente name recognition (nomes de líderes partidários que são conhecidos e eleitoralmente fortes). Além disso, não esquecendo que um partido grande é uma organização, com subdivisões que podem ter subdivisões hierarquizadas, e as posições no governo exercem forte influência nos partidos.

Alguns partidos são parcialmente fragmentados “desde fora”: um exemplo relativamente recente foi o da Casa Civil, chefiada por pessoa que, segundo seus críticos, tinha personalidade e ideologia stalinistas, e por isso rachou o PT, enfraquecendo-o.

Não há maneira de garantir a democracia interna dos partidos. A participação das bases e a mobilização dos simpatizantes, um sistema ampliado de convenções e de eleições primárias, podem ajudar.

Entretanto, muitos destes esforços institucionais esbarram tanto na apatia e na falta de participação da militância e dos simpatizantes quanto nas ações excludentes da oligarquia partidária. Há também, partidos eleitoralmente fortes, mas com militância reduzida.

Os “partidos dos notáveis” são assim. O PSDB talvez se aproxime desse modelo.

Assim, ironicamente, no Brasil e em muitos outros países, os partidos, instrumentos essenciais da democracia moderna, frequentemente se caracterizam por serem internamente oligárquicos e nada democráticos.

Alguns estudiosos e legisladores, preocupados com o tema, propõem impor a democracia aos partidos “na marra”, através de legislação. Durante o regime militar, foi promulgada a Lei Orgânica dos Partidos Políticos, um primor de burocratismo político-autoritário, com centenas de artigos. Claro, o institucionalismo ensina que há instituições que facilitam a anarquia partidária. A migração partidária e a definição do mandato como pertencente ao eleito e não ao partido que o elegeu são dois exemplos.

Não obstante, a democracia tem que ser querida, não pode ser imposta. É necessário resistir à tentação de impor autoritariamente a democracia aos partidos. Os partidos é que têm que se democratizar; ninguém pode fazer isso por eles. E é necessário que o façam porque é grande a contradição de uma democracia nacional que esteja construída em cima de partidos internamente antidemocráticos.

O tempo e a continuidade democrática são os grandes instrumentos de aperfeiçoamento democrático, e o salvacionismo o seu grande inimigo. No Brasil, a maioria dos atuais partidos existe há poucas décadas, em contraste com mais de um século em alguns países. Os partidos que não são internamente democráticos, seja porque as maiorias são intolerantes, seja porque são instrumentos de caudilhos, terminam por afastar os melhores quadros.

É uma questão de tempo. Com continuidade democrática e institucional, os partidos oligárquicos se enfraquecem: o seu paradoxo é parecido com o da indústria do fumo que tem que, continuamente, atrair novos fumantes, porque mata os seus melhores clientes.

Brasileiros estão engajados na democracia, mas falta democracia nos partidos

As estrelas (poesia)

Graziela Melo

Se
Tristezas
Me assolam
A alma

Procuro,
À beira
Do mar

O refúgio
Solitário

O
Aconchego
Solidário

De
Estrelas
Invizíveis

Ocultas
Atraz
De um véu

Que
Perambulam
No céu

Em torno
Da estrela Dalma...


Rio, sábado, 15/08/09

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil

Serra mantém dianteira sobre Dilma e Ciro; Marina tem 3%

DATAFOLHA
José Alberto Bombig


Tucano oscila um ponto para baixo e tem 37% das intenções de voto para presidente

Pesquisa Datafolha mostra que a ministra da Casa Civil mantém os 16% da pesquisa de maio e está em empate técnico com Ciro Gomes

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), mantém a dianteira na corrida pela sucessão do presidente Lula, em 2010, e, pela primeira vez, vê a pré-candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), permanecer estável entre um e outro levantamento, revela a nova pesquisa Datafolha.

O tucano tem 37% das intenções de voto, um ponto percentual a menos do que no levantamento anterior, em maio. Dilma se mantém nos mesmos 16% e tecnicamente empatada na segunda posição com o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) -15%, o mesmo índice de maio.

A pesquisa, realizada entre os dias 11 e 13, mostra ainda que a entrada da senadora e ex-ministra Marina Silva (PT-AC) na corrida praticamente não provocou, pelo menos até agora, alteração nos índices dos líderes.

Cobiçada pelo PV para encabeçar uma chapa ao Planalto, ela só atinge 3% das intenções.

A diferença entre Dilma e Serra, que já esteve em 35 pontos percentuais em março de 2008, quando a ministra largava com 3%, caiu de 22 para 21 pontos. Desde o final do ano passado, a petista, que luta contra um câncer linfático, é presença constante em eventos e solenidades pelo país, quase sempre ao lado de Lula.

"Marina, neste momento de largada, não ameaça os líderes. Mas o resultado de Dilma pode ser um indício da estabilização da sua pré-candidatura, temos de esperar para saber", afirma diretor-geral do instituto Datafolha, Mauro Paulino.

A margem de erro da pesquisa, feita a 14 meses das eleições, é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, fez um apelo público para que Marina não deixe o partido. Os petistas temem um estrago na pré-candidatura de Dilma se a senadora aceitar o convite do PV, pois ambas trafegariam na mesma faixa do eleitorado, avaliam governistas e até a oposição a Lula.

Em ambos os cenários em que é testada, Marina, porém, só atinge 3% dos votos. Dilma tem 17%, com Serra na disputa, e 19%, sem a presença do tucano e governador paulista.

"A senadora ainda não é reconhecida como candidata. Ciro tem muito mais potencial do que ela no momento", diz Paulino.

Dividido entre concorrer ao governo de São Paulo a convite de Lula e tentar de novo o Planalto (como em 1998 e 2002), Ciro assume a ponta nos dois cenários em que Serra não é testado, com 23% e 21%.

Sem Ciro, Dilma atinge seu melhor desempenho e ganha oito pontos percentuais em comparação com o principal cenário, chegando a 19%, mas Serra também sobe a 44%.

Quando Serra não é citado como candidato, o governador de Minas e também tucano, Aécio Neves, chega a 20% no cenário sem Ciro, seu melhor resultado e quatro pontos atrás de Dilma e Heloísa Helena (PSOL), ambas com 24%.

Os dois tucanos travam disputa ainda silenciosa no PSDB pela candidatura em 2010.

Mesmo afirmando que só se preocupa em governar São Paulo, Serra tem viajado para o Nordeste, onde é grande a popularidade de Lula.

O presidente é mais lembrado pelos eleitores, segundo o Datafolha, quando não são apresentados os pré-candidatos. O apoio de Lula a um candidato poderia levar 42% dos brasileiros a votar nesse político.

Vantagem de Serra vai de 13 pontos no Nordeste a 40 em SP

DATAFOLHA

Tucanos querem abrir diferença de 4 milhões de votos em SP; PT planeja reforçar agenda no Estado

A menor diferença entre o tucano José Serra e a petista Dilma Rousseff, de acordo com a nova pesquisa Datafolha, ocorre entre os eleitores dos Estados das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste.

Em compensação, no Estado de São Paulo, governado por Serra, o levantamento aponta ampla vantagem do pré-candidato do PSDB a presidente.

No Nordeste, onde Serra fez diversas incursões recentemente, ele tem 31% das intenções de voto contra 18% de Dilma -13 pontos de diferença, a mesma vantagem que tem nas regiões Norte/Centro-Oeste.

Em suas análises eleitorais, a direção petista avalia que Dilma tem potencial para encostar em Serra e até superá-lo no Nordeste, onde Lula foi bem na eleição de 2006 -teve 77% dos votos válidos no segundo turno contra o então candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.

Mas o próprio PT reconhece que a situação dela é preocupante em São Paulo e irá incrementar sua agenda no Estado.

Serra tem 51% das intenções contra apenas 11% da petista entre os paulistas. Ciro Gomes (PSB), que também cogita concorrer ao governo de São Paulo, está empatado tecnicamente com Dilma. Ele alcança 12%.

Os tucanos avaliam que, se Serra abrir sobre Dilma uma diferença de 4 milhões de votos no Estado, ele amplia ainda mais sua chance de se tornar o próximo presidente. O cálculo leva em conta o fato de o governador ser bem conhecido nas demais regiões, pois já foi ministro da Saúde e disputou a eleição presidencial de 2002.

Reservadamente, os petistas paulistas compartilham o raciocínio, mas afirmam que Dilma está longe de seu teto em São Paulo. Na semana passada, a ministra participou de uma grande festa da militância do PT na capital do Estado.

Até o final do ano, a ministra deverá intensificar sua agenda entre os paulistas vistoriando obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Quando o candidato tucano é o governador mineiro Aécio Neves, o melhor desempenho do PSDB ocorre na região Sudeste, onde ele chega a atingir 31%. Mas, em São Paulo, Aécio empata com Dilma em 14% no principal cenário para ele. Ciro tem 24%. (JAB)

74% querem o afastamento de Sarney

DATAFOLHA
Fernando Barros de Mello

Desaprovação ao Congresso aumenta dez pontos percentuais na comparação com levantamento de maio e atinge 44%

Recorde negativo da taxa de reprovação do Legislativo, com 48% de ruim ou péssimo, foi alcançado em 2005, no auge do mensalão

A crise do Senado, agravada após a série de denúncias contra o seu presidente, José Sarney (PMDB-AP), levou o Congresso a atingir uma de suas piores avaliações já registradas, 44% de ruim ou péssimo, revela pesquisa Datafolha.

Segundo o levantamento, 74% dos brasileiros defendem que Sarney deixe a Presidência do Senado, sendo que 36% preferem um afastamento temporário e 38%, a renúncia dele.

Para 66% dos brasileiros, o senador está envolvido nas irregularidades que atingem o seu nome. Entre aqueles que dizem estar bem informados sobre esses casos, 86% acreditam no envolvimento dele. Apenas 10% não acreditam que o peemedebista tenha alguma relação com as denúncias.

"A maioria da população tomou conhecimento das denúncias contra Sarney. Por conta disso, a maioria acha que ele deve se afastar. Como a crise do Senado se arrasta há tanto tempo, isso acabou prejudicando a imagem do Congresso", afirma Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.
A maior parte das pessoas (78%) diz ter tomado conhecimento das denúncias. É justamente a parcela que tem a pior avaliação do Congresso (visto por 51% como ruim ou péssimo). A desaprovação cresce ainda mais entre os que afirmam estar bem informados sobre as denúncias (61%).

Já entre aqueles que não se informaram sobre os casos envolvendo Sarney, apenas 23% desaprovam o Congresso.

A nova pesquisa Datafolha é a primeira após o agravamento da crise no Senado. Nesse período, foram descobertos os atos secretos utilizados, entre outras coisas, para nomeações e promoções de servidores.

A situação piorou com o surgimento de várias denúncias contra Sarney, que vão de nepotismo a desvios de verba na fundação que leva seu nome.

Sarney foi alvo, no Conselho de Ética, de 11 pedidos de abertura de processo por quebra de decoro. O presidente do colegiado, Paulo Duque (PMDB-RJ), arquivou todos os pedidos.

O auge da crise ocorreu no começo do mês. Dois momentos foram marcantes: os ataques de Fernando Collor (PTB-AL) a Pedro Simon (PMDB-RS) e a troca de insultos entre Renan Calheiros (PMDB-AL) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Na semana passada, oposição e base governista negociaram um "acordão". Por ele, Sarney se livraria das acusações, assim como o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), alvo de ação do PMDB, que o acusa de ter quebrado o decoro por ter, entre outras coisas, mantido funcionário-fantasma no gabinete.

Renan e mensalão

A desaprovação ao Congresso deu um salto de dez pontos percentuais na comparação com a última pesquisa, realizada em maio, quando 34% achavam o trabalho de senadores e deputados ruim ou péssimo.

Hoje, 14% acham o desempenho ótimo ou bom, contra 19% em maio. Para 36%, o desempenho é regular, ante 41% observado na pesquisa anterior.

A taxa de reprovação voltou ao patamar de novembro de 2007, quando 45% diziam que o Congresso era ruim ou péssimo. Naquele momento, o Senado acabara de passar por outra crise, que culminou na renúncia de Renan da presidência.

O recorde negativo, de 48% de ruim ou péssimo, foi observado em agosto de 2005, no auge do escândalo do mensalão.

Para a mais recente pesquisa, o Datafolha ouviu 4.100 pessoas entre os dias 11 e 13 de agosto. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Lula passa por crise sem perder alta aprovação

DATAFOLHA

Governo petista é avaliado como ótimo/bom por 67%

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva consegue, até o momento, atravessar a mais nova crise política nacional e manter sua popularidade entre os brasileiros no mesmo patamar.

Para 67%, seu governo é ótimo ou bom, variação dentro da margem de erro na comparação com a última pesquisa, feita em maio, quando Lula atingiu 69% de aprovação.

Segundo o instituto, 25% dos brasileiros acham o governo regular, ante 24% na última pesquisa. Para 8%, a administração do petista é ruim ou péssima; eram 6% no levantamento anterior. "O Lula conseguiu passar incólume pela crise, o Congresso, não", diz Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.

Com os 67% de ótimo ou bom que registra agora, Lula está a apenas três pontos de seu recorde pessoal (70%), atingido em novembro de 2008 e que foi o melhor resultado obtido por um presidente desde que o Datafolha começou a fazer esse tipo de pesquisa, em 1990.

O presidente foi o principal fiador da permanência de José Sarney (PMDB-AP) na Presidência do Senado. Em 17 de junho, chegou a declarar que o senador não poderia ser tratado como "uma pessoa comum". Depois, amenizou o apoio público, mas manteve a sustentação ao aliado nos bastidores.

A pesquisa mostra a dissociação entre a popularidade de Lula e a crise no Senado. Mesmo entre os que consideram o governo ótimo ou bom, a maioria (73%) defende a saída ou afastamento temporário de Sarney.

Também entre os que aprovam o governo, 65% acreditam que Sarney está envolvido nas denúncias feitas contra ele.

Qual é a lógica do medo?

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - Não entendo bem o quase pânico que tomou conta de setores do PT ante a possibilidade de a senadora Marina Silva deixar o partido e candidatar-se à Presidência pelo PV.

Vejamos as razões do espanto:

1 - O único ativo eleitoral de Dilma Rousseff, a candidata declarada de Lula, é a eventual transferência (maciça) de votos do presidente para a ministra.

Digo o único ativo porque Dilma é virgem em disputas eleitorais, o que impede saber de outros.

2 - A transferência do prestígio de um para a outra independe do quadro de candidaturas, certo?
Sejam dois ou 30 os candidatos, Lula transferirá (ou não) sua cota de prestígio para a sua candidata e só para ela.

A menos que algum petista debiloide -e os há em boa quantidade- seja capaz de imaginar que o presidente é tão sacana que transferirá votos também para Marina.

Posto de outra forma: a candidatura Marina não altera o jogo Lula/ Dilma, a menos que ele não esteja assentado unicamente na transferência de prestígio.

Ou então os petistas assustados não confiam muito na capacidade de Lula de transformar prestígio pessoal em votos para uma indicada sua. Esta segunda hipótese tem mais lógica:

Lula mergulhou na campanha municipal de Marta Suplicy e, não obstante, ela sofreu sua terceira derrota em quatro campanhas majoritárias. A única lógica para o pânico é o medo de que uma candidatura Marina quebre o caráter plebiscitário (Lula/Dilma x Serra) que muitos dizem que o lulo-petismo deseja para 2010. Aí faz sentido, algum sentido pelo menos.

Em votações plebiscitárias, vota-se não apenas na simpatia de um mas também (às vezes principalmente) na antipatia do outro. Uma mesa com três (ou mais) jogadores tende sempre a diluir simpatias e antipatias.

Números derrubam mito do grande palanque peemedebista

Daniel Bramatti
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Resultados da eleição de 2006 não mostram relação entre apoio do partido e desempenho de candidatos

O valor do PMDB como aliado nas eleições de 2010 costuma ser medido por seu enraizamento pelo País: 1.201 prefeitos, 97 deputados federais, 9 governadores. Mas os resultados da última disputa presidencial não comprovam a tese de que a máquina peemedebista influencia os eleitores de forma significativa. De concreto mesmo, o que o PMDB tem a oferecer aos pré-candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) é seu tempo no rádio e na televisão: 5 minutos e 46 segundos divididos em dois blocos, três dias por semana.

Em 2006, o PMDB não lançou candidato a presidente nem apoiou formalmente os dois principais concorrentes: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Mas vários líderes regionais peemedebistas colocaram a máquina do partido a serviço de um ou outro candidato - com resultados discutíveis.

Em Santa Catarina, por exemplo, o governador Luiz Henrique, candidato à reeleição, pôs o PMDB a trabalhar pela candidatura Alckmin. O tucano venceu no Estado, com 54,5% dos votos no segundo turno - mas também venceu no vizinho Paraná, onde o peemedebista Roberto Requião, outro que disputava a a reeleição, aderiu a Lula.

Luiz Henrique exercia influência direta sobre 114 prefeitos eleitos pelo PMDB dois anos antes. Se a máquina peemedebista fizesse diferença na eleição, a lógica indicaria uma vitória mais folgada de Alckmin nessas cidades. Mas os números mostram o contrário: o tucano teve, em média, 51,8% dos votos nos municípios com prefeitos do PMDB, 2,7 pontos porcentuais a menos do que obteve no Estado como um todo. Das 114 cidades, Alckmin perdeu para Lula em 51.

O fenômeno também ocorreu no lado oposto. Lula contou com o apoio do governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), desde a largada da campanha. Nos municípios governados por peemedebistas, porém, sua média de votação foi inferior à do Estado (82,3% contra 86,8%).

Os números não autorizam, por outro lado, a conclusão de que o PMDB mais atrapalha do que ajuda - apenas não há evidências de que sua influência é decisiva. Em Goiás, por exemplo, onde contou com o apoio de Maguito Vilela, um dos caciques locais do PMDB, Lula teve uma performance levemente superior nas cidades governadas pelo partido (três pontos porcentuais acima da média). Da mesma forma, Alckmin se saiu um pouco melhor nos municípios peemedebistas em Mato Grosso do Sul (um ponto acima da média), onde teve como aliado André Puccineli, candidato vitorioso ao governo estadual.

PODER

"A influência dos prefeitos é mínima", reconheceu o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). "O importante na eleição é o tempo de TV do partido." Ex-governador de Pernambuco, ele lembra que derrotou Miguel Arraes, em 1998, quando o adversário do PSB contava com o apoio de 140 dos 186 prefeitos do Estado.

Apesar de dever grande parte de seu poder no partido à proximidade com prefeitos do interior paulista, Orestes Quércia também admite que o fato de o PMDB governar mais de mil cidades não é tão decisivo em termos eleitorais. "O partido comanda, em geral, prefeituras pequenas", disse ao Estado o ex-governador de São Paulo.

A performance eleitoral do próprio Quércia é outra mostra do baixo poder de influência dos prefeitos, mesmo em uma eleição estadual. Em 2004, o PMDB ganhou 87 prefeituras em São Paulo, e o PP outras 28. Como candidato de uma aliança dos dois partidos ao governo, em 2006, Quércia tinha, portanto, uma base forte em 115 das 645 cidades do Estado. Mas venceu em apenas três, nenhuma governada pelo PMDB ou pelo PP. Teve apenas 4,6% dos votos no total, resultado não muito distante da média obtida nos municípios comandados por seus correligionários (5,7%).

Pode haver várias razões para a ausência de relação direta entre o desempenho eleitoral de candidatos e o apoio de um partido a eles. A primeira hipótese é que os eleitores desconsiderem a opinião de líderes locais no momento de escolher quem vai definir os rumos do País. Também pode haver falta de empenho na campanha. E é possível que um político desconsidere a orientação do partido ao apoiar um candidato - no PMDB, marcado por divisões, isso não seria surpreendente.

Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope, lembra que, numa eleição presidencial, os eleitores são movidos pelas grandes questões do País, e não pelo microcosmo de sua cidade.

"Prefeitos são muito mais importantes na eleição de deputados. É por isso que os parlamentares sempre visitam suas bases, reforça o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília.

No Rio, alas resistem a aliança com Dilma

Luciana Nunes Leal, Rio
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Apoio de Sérgio Cabral a petista não convence partido

O entusiasmo do governador Sérgio Cabral no apoio à candidatura de Dilma Rousseff para a Presidência da República - reiterado a cada visita da ministra ao Estado - não contagiou o PMDB do Rio. O partido não se entende. Nem a ala mais próxima do governador garante apoio incondicional à candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É uma resposta à insistência do petista Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), em lançar sua candidatura ao governo, como adversário de Cabral, que tentará a reeleição.

Candidato ao Senado na chapa de Cabral e aliado do governador especialmente na articulação com parlamentares e prefeitos do interior, o peemedebista Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa, diz que "o quadro nacional é muito complexo e passa pelo PMDB do Rio".
"Em primeiro lugar, defendo o que é bom para o meu partido", diz Picciani. "O governador Cabral vai continuar a defender a aliança com o presidente Lula, com a ministra Dilma. Já eu não posso dar a mesma garantia. Se o PT insistir em esticar a corda e disputar o governo, não sei se o PMDB do Rio vai defender candidatura própria (a presidente), se vai querer ficar livre."

CONVENÇÃO

O presidente da Assembleia lembra que o Rio tem 84 dos 808 delegados na convenção nacional, o maior peso entre todos os Estados. Minas Gerais, onde PMDB e PT também estão em conflito, tem o segundo maior número de votos. As insatisfações estaduais e as divergências internas podem levar o partido a não formalizar a coligação com Dilma, o que impediria a indicação do candidato a vice e tiraria da candidata petista o tempo de TV do PMDB.

No Rio, boa parte dos deputados federais do partido não se alinha com Cabral e nem sequer fará a campanha da reeleição estadual. Há muitas reclamações de que o governador não dialoga com os parlamentares. "Eu não voto no Cabral", reclama o deputado Eduardo Cunha, candidato à reeleição. "Vou cuidar da minha vida e dar apoio à ministra Dilma, à candidatura da base aliada.
O Cabral não defende o partido no Rio. É um governo dos amigos dele, não é partidário."

Picciani minimiza as divergências e defende o governador. "O Cabral circula muito bem em todo o Estado. No final, as divergências diminuem e o partido se une. Vamos fazer uma aliança robusta em torno do governador", aposta.

Existe ainda no PMDB o grupo ligado ao ex-governador Anthony Garotinho, ex-presidente do partido no Rio e agora filiado ao PR. Por causa das regras da fidelidade partidária, continuam no PMDB sua mulher, a ex-governadora Rosinha, atual prefeita de Campos (Norte Fluminense), e sua filha Clarissa, vereadora pelo Rio. O deputado federal Geraldo Pudim obteve garantia da direção do PMDB que não perderá o mandato e deverá ingressar no PR. Garotinho também deverá ser candidato ao governo, formando o terceiro palanque de Dilma no Estado.

OPOSIÇÃO

Há vinte dias, durante uma viagem ao Rio, a ministra conversou com Cabral, Picciani e outros peemedebistas. O presidente da Assembleia aconselhou a ministra a não desprezar a movimentação política da oposição, que articula a candidatura do ex-prefeito Cesar Maia (DEM) ou do deputado Fernando Gabeira (PV) e um palanque para o tucano José Serra na disputa presidencial. Mostrou que Garotinho tem votos no eleitorado mais pobre e menos instruído, mas grande rejeição nas classes A e B. Por fim, disse que Lindberg, ao insistir na disputa com Cabral e nos benefícios do palanque triplo para a ministra no Rio, acaba favorecendo a oposição.

Lindberg tem apoio da maior parte do PT fluminense para sua candidatura. Promete atrair para Dilma o eleitor que rejeita o governador e o PMDB, especialmente depois da crise do Senado e das ações do senador Paulo Duque (PMDB-RJ), suplente do suplente de Sérgio Cabral, em defesa do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). O PMDB ofereceu ao PT a outra vaga de candidato ao Senado na chapa de Cabral. Até agora, no entanto, o prefeito de Nova Iguaçu mantém a disposição de se candidatar ao governo.

Fator Marina embaralha a sucessão de Lula

Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos
DEU EM O GLOBO


Dilma seria a mais atingida, e presidente tenta evitar que aliados lancem candidatos

A entrada praticamente certa da senadora Marina Silva (PT-AC) na sucessão presidencial de 2010 provocou reviravolta no quadro eleitoral e acendeu a luz amarela no Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viu desmoronar a sua estratégia de transformar a eleição do próximo ano num plebiscito entre a candidata do PT, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o candidato tucano. A pulverização de candidaturas deve ser o cenário provável da disputa presidencial, que Lula tentará evitar.

Petistas já admitem que a campanha de Dilma será a mais afetada nesse primeiro momento, porque Marina deve levar votos do eleitorado do PT descontente com o governo e decepcionado com o partido. Aliados e petistas que desconfiam do potencial de Dilma defendem o lançamento de mais candidaturas governistas, caso do PSB, com o deputado Ciro Gomes (CE). Situação que poderia levar a disputa presidencial ao segundo turno.

Lula briga pela polarização entre Dilma e o candidato tucano, seja o governador José Serra (SP), mais provável hoje, ou o governador Aécio Neves (MG). Gostaria de, em 2010, ver o eleitor decidir entre antes de Lula e depois de Lula, ou seja, de comparar sua administração com a do tucano Fernando Henrique. Mas todos concordam que ainda é cedo para definições. Especialmente depois do fator Marina, que esta semana deve confirmar sua ida para o PV.

- Essa disputa não será uma corrida de cem metros, mas uma maratona. O jogo nem começou - constata o ex-governador do Acre Jorge Viana (PT), um dos políticos mais próximos de Marina.

2010 será eleição de fim de ciclo

Responsável pela pesquisa feita para o PV em julho que apontou o potencial de Marina, o cientista político Antonio Lavareda, do Ipespe, avalia que a eleição de 2010 terá característica semelhante às disputas presidenciais de 1989, primeira eleição direta depois do regime militar, e de 2002, com a conclusão da gestão tucana. Nos três casos, diz, as eleições representam o fim de um ciclo.

- A presença de Marina no cenário eleitoral promete despolarizar a disputa - observa Lavareda.

Ele lembra que a eleição de 1989 foi fragmentada, apresentando quatro candidatos com mais de 10% das intenções de voto no 1º turno: Fernando Collor (PRN), Lula (PT), Leonel Brizola (PDT) e Mário Covas (PSDB). O mesmo ocorreu em 2002, com quatro candidatos com mais de 10%: Lula (PT), José Serra (PSDB), Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS).

Para 2010, o cenário pode se repetir.

Na pesquisa telefônica para o PV, o cenário que hoje seria o mais provável é: Serra (PSDB) teria 30%; Ciro (PSB) ficaria com 22%; Dilma (PT), 14% ,e Marina (PV), também 14%. Foram feitas 2 mil entrevistas no país. Mas Lavareda adverte:

- Marina é parte da costela petista e tira votos da candidata do governo. Traz para o debate o desenvolvimento sustentável. Tem potencial para ser competitiva. Mas terá de fazer uma campanha maior do que o PV. Precisa ser impulsionada por um movimento. Vai necessitar de tempo de televisão e isso implica alianças, além de percorrer o país para ser conhecida.

Nesse primeiro momento, o Planalto tentará fortalecer Dilma, tentando associar a imagem dela a fatos positivos do governo. O esforço é manter as intenções de voto na faixa dos 20%. A avaliação do governo é que, se ela cair desse patamar, não será possível segurar o lançamento de candidaturas.

Isso ficou claro semana passada, no jantar no Palácio da Alvorada entre as cúpulas de PSB e PT. Ciro estava contrariado com a pressão para disputar o governo de São Paulo, como queria Lula, sacrificando a candidatura presidencial. Por isso, o PSB aproveitou o efeito Marina para defender a mudança de estratégia junto a Lula.

- O PSB deseja ter candidato à Presidência e tem nome para disputar, o deputado Ciro Gomes. Há 15 dias, não existia a candidatura de Marina pelo PV. Há um quadro em construção. Teremos mais chances de chegar ao segundo turno com mais candidaturas da base - diz o presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE).

Crescimento e meio ambiente na pauta

No PT há um clima de arrependimento por Lula não ter segurado Marina no governo. Ela deixou o Ministério do Meio Ambiente magoada, principalmente com Dilma. Embora amigos petistas de Marina digam que ela, confirmada a candidatura, não atacará o governo Lula, a senadora poderá retomar o debate que teve com Dilma e que a levou a sair do governo: restrições ambientais para obras de infraestrutura e um esforço por políticas de desenvolvimento sustentável.

No Planalto e na cúpula do PT já se considera que o cenário de crise financeira - ainda que mais ameno -, o descrédito da classe política e a decepção com o discurso ético do PT favorecem o lançamento de novos nomes. O desafio é impedir que cresçam.

- A curto prazo, o lançamento da candidatura da senadora Marina produz impacto significativo, porque representa uma perda para o PT, já que se trata de quadro histórico da legenda que tem uma bandeira mundial. No longo prazo, esse impacto tende a se diluir pela falta de estrutura de sua campanha - aposta o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ).

O fator Marina pode influenciar também o PSOL. A ex-senadora, ex-presidenciável e atual vereadora de Maceió Heloísa Helena tem conversado com a senadora do Acre. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que disputou a última eleição presidencial com a bandeira da educação, declarou voto em Marina:

- Não vou sair do partido nem serei candidato a vice. O PDT pode ter outra opção. Meu voto é de Marina.

José Serra e Aécio, a disputa civilizada

Bruna Serra
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Tendo o Nordeste como cenário, pré-candidatos tucanos à Presidência disputam espaços prometendo ajuda para quem vencer o duelo

É pregando o discurso da unidade e da civilidade que os presidenciáveis tucanos Aécio Neves e José Serra estão conduzindo a disputa interna pela vaga de presidenciável da legenda em 2010. E o cenário escolhido para a corrida não poderia ser outro senão o Nordeste, região onde o presidente Lula (PT) tem os maiores índices de aprovação do Brasil.

Somente este ano, José Serra já esteve três vezes em Pernambuco, duas vezes na Bahia e em Alagoas. Aécio, ainda pouco conhecido do povo nordestino, já visitou o Estado duas vezes em 2009 e fará sua primeira investida do ano por Sergipe, Bahia e Ceará na próxima semana. Serra e Aécio sabem bem que precisam conquistar a simpatia do eleitorado local para fazerem deslanchar suas candidaturas e insistem no discurso de afinidades com a região.

José Serra caprichou no dever de casa, promovendo uma série de homenagens a Luiz Gonzaga em São Paulo, onde fez questão de cantar um dos maiores sucessos do sanfoneiro, a música Asa Branca.

Aécio desembarcou no Recife na última sexta-feira e apressou-se em frisar que Minas Gerais também integra a Sudene, Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, e que esta foi iniciativa de Celso Furtado, mineiro como ele. “Minas Gerais de certa forma é parte do Nordeste. Minas é parte da Sudene e foi iniciativa de um mineiro”, ressaltou.

Mesmo com perfis políticos diferentes – Aécio não esconde que tem realizado investidas políticas pelo Brasil, já Serra prefere não dar essa conotação as suas andanças –, os governadores demonstram sintonia no discurso. Em todas as oportunidades garantem que marcharão juntos seja quem for o escolhido. “Mais importante do que quem será o candidato, é que propostas temos para apresentar e o que esse candidato representa”, afirmou o mineiro, que teve sua primeira vitória política sobre Serra quando conseguiu do PSDB o compromisso de realizar as prévias.