segunda-feira, 10 de maio de 2010

Reflexão do dia – Karl Marx

A questão de saber se cabe ai pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão teórica,mas prática. É na práxis que o homem deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não-realidade de um pensamento que se isola da práxis – é uma questão puramente escolástica.


(Karl Marx, na II Teses sobre Feuerbach, no livro “A ideologia alemã” , pág, 125 – 3ª edição , Livraria Editora Ciências Humanas, São Paulo – 1982)

O problema do jabuti: o Judiciário e a política :: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Pode-se, e deve-se, falar nos êxitos econômicos e sociais, logrados nas duas últimas décadas pela sociedade brasileira, mas essa narrativa estará incompleta se forem ignorados os avanços institucionais, a começar pela promulgação da Carta de 1988, que já imprimem uma marca singular na sua democracia política. Sinais evidentes dessa singularidade se manifestam nas novas relações entre os três Poderes republicanos, que têm evoluído no sentido de uma cuidadosa cooperação, tal como nos casos de políticas públicas em matéria de saúde e em tantos outros, deixando para trás a clássica separação rígida entre eles. A mais forte indicação das transformações por que tem passado o nosso ordenamento jurídico-político pode ser percebida na recente supremacia do direito constitucional sobre o Código Civil, até há pouco a sua maior referência, importando a afirmação da matriz do público sobre a nossa tradicional matriz privatística.

A prevalência do público foi uma opção estratégica do legislador constituinte, e que importou a constitucionalização de valores, princípios e dos direitos fundamentais, expressão de uma vontade geral quanto aos fins que deveriam ser buscados e concretizados. O intérprete dessa vontade seria a sociedade por meio de suas instituições, e não a esfera estatal, como ocorreu ao longo da persistência da tradição autoritária republicana. Esse foi um momento de ruptura com a cultura jurídico-política estabelecida, passando a se compreender a Constituição como obra aberta e em progresso contínuo, e não mais como um sistema fechado orientado para garantir a autonomia privada.

A partir dessa disposição, o constituinte inovou o papel do Poder Judiciário na cena republicana, instituindo um conjunto de novos instrumentos, como o mandado de injunção e a ação de inconstitucionalidade por omissão, com os quais a cidadania poderia acionar os demais Poderes para os fins de conceder eficácia aos direitos fundamentais que declarou. Ao lado disso, admitiu uma comunidade de intérpretes do texto constitucional, entre os quais partidos e representações da vida associativa, dotada da capacidade de interpelar o Supremo Tribunal Federal em nome da defesa da constitucionalidade das leis. Com essas largas intervenções, diluem-se os limites entre os Poderes e se redefine o cânon que prescrevia um estrito insulamento do Judiciário quanto à política, na medida em que ele é mobilizado constitucionalmente a dela participar.

Sob impacto dessas inovações, nosso sistema jurídico, ancorado na tradição da civil law, começa a conhecer elementos de convergência com a tradição da common law, já presente, antes mesmo da vigência da Carta de 88, sobretudo desde a criação da ação civil pública, em 1985, instituto que adotamos a partir do estudo da sua experiência americana. Com as ações civis públicas, e com a jurisprudência que a ela se seguiu, que vem ampliando o seu alcance, inclusive em matéria trabalhista, as demandas por políticas públicas encontram uma arena alternativa à da representação política, levando a que o Judiciário se veja, na prática, compelido a ampliar sua competência cognitiva. E, mais importante ainda, a orientar as suas decisões sopesando suas consequências.

A moderna democracia de massas brasileira atua, então, no sentido de pressionar a abertura do Direito a novos temas e na direção de novas soluções, exemplar o caso recente em que o Superior Tribunal de Justiça decidiu, em nome das consequências, permitir a adoção de duas crianças por um casal de mulheres. No caso, contrariando o entendimento de que a união homossexual seria apenas uma sociedade de fato, venceu a tese de que, para as crianças, o que importava era a qualidade "do vínculo e do afeto no meio familiar em que serão inseridas". As pressões por essa abertura, que vêm de várias regiões da vida social, inclusive do mundo do trabalho, põem sob tensão o princípio da integridade do Direito, que se não as admite corre o risco de perda de legitimidade. A partir dessa dialética entre integridade e abertura, o Direito se torna responsivo, tal como no exemplo acima mencionado.

As tendências para a transição do Direito Autônomo - a ordem racional-legal clássica do positivismo jurídico - ao Direito Responsivo, nas novas circunstâncias da democracia brasileira, não podem ser mais ignoradas. Essa transição, tendo como objeto o caso americano, foi estudada, em fins dos anos 1970, no trabalho clássico de P. Nonet e P. Selznick, "Direito e Sociedade: a transição ao sistema jurídico responsivo", somente agora, e não por acaso, publicado entre nós (Revan, Rio, 2010). Decerto que nosso caso é particular, em primeiro lugar porque pertencemos à família da civil law, em segundo, porque ainda desconhecemos o vigor das lutas pelos direitos civis e a judicialização deles, vivenciados pela sociedade americana na década decisiva de 1960, e, finalmente, porque anos de burocratismo e de submissão do Judiciário ao poder político hipotecaram boa parte dos nossos operadores do Direito ao conservantismo doutrinário.

Jabuti não sobe em árvore, o tema do Direito Responsivo, ao menos in nuce, esteve presente na obra do legislador constituinte, pois foi ele quem intencionalmente incluiu o Judiciário na trama dos impasses sociais. Mas essa obra estará incompleta se não se democratiza e moderniza esse Poder, e essa é mais uma questão que não pode faltar nos debates da próxima sucessão presidencial, porque, parodiando um grande autor, o Judiciário é importante demais para ser objeto exclusivo dos seus especialistas.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iuperj e ex-presidente da Anpocs. Escreve às segundas-feiras

Hora de Serra :: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

“Eu não me coloco como oposição nem como situação. Eu me coloco como um candidato para o futuro” (José Serra)

Perguntei no meu blog quando Dilma Rousseff ultrapassará José Serra nas pesquisas de intenção de voto. Com pouco mais de três mil respostas registradas em quatro dias, 11,8% delas cravaram a opção “depois que Lula começar a pedir votos para Dilma na televisão a partir de agosto”. A opção “não ultrapassará Serra” atraiu 78% das respostas.

Otimistas, os que torcem por Serra ou parecem resignados com seu aparente favoritismo.

A tendência detectada pela série de pesquisas aplicadas desde o ano passado por quatro institutos (Datafolha, Ibope, Vox Populi e Sensus) sugeria a ultrapassagem de Serra por Dilma antes do início oficial da campanha eleitoral marcado para 5 de julho próximo. Ocorreu que...

Ocorreu que Serra largou o governo de São Paulo e se lançou como pré-candidato à sucessão de Lula. O barulho promovido pela oposição em torno do lançamento interrompeu a ascensão de Dilma, embora não tenha refletido de maneira expressiva na diferença de intenção de votos entre os dois. Pelo contrário. A diferença aumentou apenas em um ou dois pontinhos — dentro, portanto, da margem de erro das pesquisas.

O governo aposta na retomada do crescimento de Dilma depois dos comerciais do PT que começaram a ser veiculados no rádio e na televisão na última quintafeira. E que deverão culminar nesta quinta com o programa de dez minutos do partido a ser estrelado pela candidata. O programa corre o risco de não ir ao ar.

O Ministério Público Eleitoral quer punir o PT por ter usado o programa de dezembro para fazer propaganda de Dilma.

O PT limita-se a seguir o exemplo que vem de cima.

Há quase dois anos que Lula faz campanha aberta por Dilma desrespeitando a lei — e em algumas ocasiões debochando dela. Foi multado duas vezes. Os comerciais do PT exibidos na última quinta-feira acabaram vetados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Os dois novos comerciais exibidos no fim de semana derraparam nos mesmos problemas dos comerciais vetados.

Na fase de pré-campanha é Serra quem tem brilhado mais. A agenda tem sido ditada por ele. E quem dita a agenda comanda a campanha.

Dilma ainda não encontrou um discurso. Tentou dois caminhos e, aparentemente, abandonou-os. Tentou seguir o script predeterminado há meses de comparar os governos Fernando Henrique e Lula. Não rendeu o suficiente até aqui.

Ficar na comparação entre os governos não lhe daria base para um posicionamento firme como candidata com vida e luz próprias.

Ela passou então a atacar Serra. Acusou-o de ser um lobo metido em pele de cordeiro. Chamou-o de biruta de aeroporto, que muda de direção a depender da força dos ventos. Não deu certo também. Para que desse, o adversário teria de topar a briga.

E Serra não topou. Quando lhe perguntaram o que achava de ter sido comparado a uma biruta de aeroporto, apenas riu. Durante o debate entre os candidatos na associação mineira de municípios, Serra desdobrou-se em cortesias com Dilma. Chegou ao ponto de dizer que ela jamais dificultou ou impediu a cooperação entre o governo federal e o governo paulista.

Esfregou seu nariz no dela.

À procura de um discurso que não se restrinja à exaltação do governo Lula e à promessa de que dará continuidade a ele, Dilma tem incorrido no erro de se deixar pautar pelo adversário.

Serra defendeu a criação do Ministério da Segurança Pública.

Ela criticou a proposta.

Serra disse que, se eleito, gostaria de governar com o PT e o PV. Lorota pura para ocupar espaço na mídia como candidato de conciliação.

Dilma reagiu à ideia. Líderes de peso do PT também reagiram. Assim como haviam reagido à garantia oferecida por Serra de que ampliará os benefícios do programa Bolsa Família. Se Lula pôde se apropriar de várias bandeiras do PSDB realizando um movimento clássico estudado em livros dedicados ao marketing político, por que Serra não poderia fazer o mesmo?

A hora de Dilma ainda está por vir.

Diogo Nogueira , Sururu na Roda e Roberta Sá - A nova geração do samba

Uso do "medo" deve marcar campanhas, avalia publicitário

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O uso do medo -frequente nas campanhas eleitorais no país, desde a redemocratização- será uma das marcas da eleição presidencial deste ano, avalia o publicitário Antonio Lavareda, autor do livro "Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais", lançado no final do ano passado pela Objetiva.

Medo da mudança do que tem dado certo, tentará demarcar a campanha da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff. Medo do despreparo e da inexperiência, replicará a do pré-candidato do PSDB, José Serra.

"A campanha de Dilma deve trabalhar sentimentos como o orgulho (em relação às conquistas do país), a compaixão (políticas de inclusão e distribuição de renda) e o entusiasmo", avalia Lavareda.

Por outro lado, "vai naturalmente tentar resgatar a aversão ao governo FHC. Vai trabalhar o medo da descontinuidade das políticas sociais", diz.

Por sua vez, "Serra deve usar o entusiasmo na categoria específica da esperança. O slogan "pode mais" vai nessa direção. Do ponto de vista da emoção negativa, é o medo em relação a uma candidata despreparada, que não é o Lula, que não está pronta", acredita ele.

Doutor em ciência política pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Lavareda estuda interface da neurociência com a política.

Com base na "neuropolítica", diz que o uso das emoções -como o medo- nas eleições é positivo e não pode ser confundido com manipulação. "As emoções, sobretudo as negativas, não entorpecem o eleitor. Elas podem melhorar a qualidade do voto, pois sentimentos como a ansiedade fazem as pessoas pensarem mais."

Em sentido reverso, diz ele, quando as coisas estão bem, o eleitor se caracteriza pelo entusiasmo, pela ausência de reflexão e pela manutenção. (PF e UM)

PT desafia TSE e mantém Dilma na TV

DEU EM O GLOBO

Oposição já prepara novas ações no TSE contra partido e candidata

Vivian Oswald e Chico de Gois

BRASÍLIA. A determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por meio de liminar na sexta-feira à noite, de que o PT não poderia repetir na TV inserções publicitárias de promoção da pré-candidata Dilma Rousseff e de comparação do governo Lula com o anterior, não impediu o partido de repetir a dose na sábado. A oposição já prepara novas ações contra o PT e Dilma, pedindo que a candidata seja multada. Amanhã, o PT volta a veicular dois comerciais de 30 segundos cada, e o programa nacional de 30 minutos está previsto para ir ao ar dia 13, quinta-feira.

Amanhã à noite, o TSE julga se esse programa de quinta-feira será mantido.

Como as inserções consideradas ilegais já foram ao ar, e tendo em vista a reincidência do partido, a oposição aposta numa decisão do TSE favorável a uma ação impetrada pelo DEM e pelo PSDB. A ação é contra o programa do PT levado ao ar em dezembro, considerado ilegal pela oposição. Se o TSE concordar com a alegada ilegalidade, poderá suspender a veiculação do programa de terça-feira.

— Desrespeitaram a decisão do ministro (do TSE) Aldir Passarinho Júnior, e a peça de sábado deve ser impugnada. As inserções do PT são aperitivo do que vem por aí. Com certeza, vão infringir a lei no programa do dia 13 — reclamou Afonso Ribeiro, advogado do PSDB.

A liminar concedida por Passarinho levou em consideração duas inserções do PT na quintafeira.

Numa delas, Dilma aparece dizendo que é fundamental continuar o caminho traçado pelo governo Lula. Em outra, um locutor cita números sobre distribuição de renda e acesso dos pobres à classe média, enquanto uma montanha russa é exibida.

Quando o carrinho começa a despencar, ele indaga sobre quem teria mais condições de continuar a política de Lula: alguém que fez parte do governo ou quem fez oposição.

No sábado, em peças publicitárias semelhantes, mas falando sobre a queda do desemprego, o locutor faz a mesma pergunta.

Para o ministro Passarinho, há, nas mensagens, uma ideia de continuismo, o que configura propaganda antecipada em favor de Dilma Rousseff.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, contestou a oposição, lembrando que o programa do PSDB do final do ano passado foi dividido para que o então governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência, José Serra, e o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves mostrassem suas administrações: — Não vejo como fazer um programa político sem mostrar o que se está fazendo no governo.

Todos os partidos fazem isso.

A continuar deste jeito, é melhor não ter programa partidário em ano de reeleição. Duvido que os programas do PSDB e do DEM não vão explorar o que o Serra fez em São Paulo.

Especialistas afirmam que o PT estaria trilhando um caminho equivocado de enfrentamento que pode lhe criar problemas mais à frente.

Especialistas: tom mais crítico do PSDB é estratégia

DEU EM O GLOBO

"Trata-se de mostrar ao eleitor a identidade política do partido"

Gilberto Scofield Jr.

SÃO PAULO. A subida no tom de críticas ao governo do presidente Lula, adotada sábado pela cúpula do PSDB no lançamento da candidatura de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo, foi interpretada por cientistas políticos e sociólogos como uma mudança estratégica do partido diante da sensação de que, por hora, a popularidade de Lula não vem sendo suficiente para compensar os erros da campanha da candidata Dilma Rousseff junto do eleitorado.

Para eles, a mudança é real e pode se sustentar até as eleições, caso o quadro de alianças estaduais permaneça difuso e instável como o atual, ou seja, sem reproduzir, nos estados, alinhamentos a nível federal, como parece ocorrer neste momento entre, por exemplo, o PT e seus aliados PMDB e PP.

— É uma subida de tom proposital, e acredito que vá durar até o pleito, mesmo que a candidata Dilma se recupere nas pesquisas de intenção de voto — disse Eurico Antônio Gonzalez, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB). — Trata-se de mostrar ao eleitorado a identidade política do partido como oposição ao governo atual, já que o discurso conciliador que o PSDB usava até agora poderia acenar como uma discreta aprovação ao governo Lula. A estratégia tende a se radicalizar.

Segundo o cientista político Plínio Dentzien, pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é cedo para saber se esta mudança de estratégia será duradoura.

Mas o evento de sábado, segundo ele, evidencia uma elevação no tom das críticas do partido que busca enfraquecer tanto o atual governo quanto a candidata do PT, Dilma Rousseff.

— Acho cedo para dizer que o PSDB será mais agressivo e irá bater mais. Se assim for, percebe-se que a estratégia está sendo feita cedo, bem antes do lançamento oficial das candidaturas, porque ela pode ser alterada, caso os tucanos percebam reação negativa do eleitor — diz Dentzien.

O cientista político Rodolfo Teixeira, doutorando em Sociologia pela UnB, observa que a subida no tom da cúpula do PSDB não foi acompanhada no discurso de Alckmin, no sábado, o único a evitar críticas ao governo Lula e à Dilma Rousseff.

Para ele, o evento evidenciou duas novas estratégias do PSDB: a da corrida pela Presidência, mais agressiva a partir de agora, e das corridas estaduais, mais conciliadora e amena.

A razão são as alianças difusas entre partidos como PSDB, PT, PMDB e PP.

— A ampla liderança de Alckmin na corrida estadual o poupa de um discurso mais agressivo.

E as disputas estaduais ocorrem em alianças que não se alinham a nível federal — disse Teixeira.

— Na briga federal, o discurso tende a se radicalizar.

Serra focado no Nordeste

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O presidenciável do PSDB, José Serra, deve cumprir um circuito nordestino esta semana, tentando reduzir a vantagem da petista Dilma Rousseff na região.

O roteiro ainda não está fechado, mas o tucano já confirmou que a primeira parada será dia 17, no Ceará, no rastro dos tropeços de Dilma, que há um mês, sem comunicado prévio ao governador Cid Gomes (PSB), esteve por lá.

Estão programadas também visitas ao Piauí, a Campina Grande, na Paraíba, e ao Recife. Serra já visitou o Rio Grande do Norte, a Bahia por duas vezes e também foi a Maceió (AL).

Jarbas já prepara o lançamento da pré-candidatura

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

A pré-campanha do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) rumo ao Palácio do Campo das Princesas ainda não conta com um coordenador geral, mas desde a última quinta-feira - quando Jarbas verbalizou o “sim” - um grupo de aliados apressou-se em movimentar as articulações.
Compõem a tropa de choque jarbista os deputados federais Bruno Araujo (PSDB), Raul Henry (PMDB) e Raul Jungmann (PPS), a deputada estadual Terezinha Nunes (PSDB) e o presidente do DEM-PE, o ex-governador Mendonça Filho. Eles serão responsáveis por, no primeiro momento, organizar o levantamento da situação oposicionista no interior do Estado e viabilizar o evento que marcará o lançamento da pré-candidatura de Jarbas.

A festa, que acontecerá em recinto fechado - provavelmente no Recife -, contará com a presença do pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, o ex-governador de São Paulo José Serra. Satisfeito com a formação de mais um palanque para sua candidatura no Nordeste, o tucano já deixou claro que vem ao Estado em qualquer data escolhida por Jarbas. José Serra, que começou sua pré-campanha em visita a Salvador, quatro dias após lançar sua pré-candidatura, ainda não veio a Pernambuco após o lançamento. Sua última visita ocorreu no Carnaval, quando acompanhou o desfile do bloco Galo da Madrugada. No Nordeste, além da Bahia - onde já esteve duas vezes em 15 dias -, Serra já visitou Alagoas, Sergipe e Rio Grande do Norte como pré-candidato. Para evitar constrangimentos, o ex-governador prioriza visitar os Estados onde os seus palanques já estejam definidos.

Na cúpula jarbista, a avaliação majoritária indica que a festa da oposição deve acontecer no próximo dia 21, uma sexta-feira. “Deve ser numa sexta mesmo porque é o melhor dia para mobilizar as pessoas”, afirmou Terezinha Nunes (PSDB). O acerto definitivo sobre a data e o formato do evento serão fechados amanhã ou quarta-feira, em reunião entre Jarbas Vasconcelos e o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, em Brasília. “Estamos animados e dispostos a ajudar. Será uma campanha muito bonita”, afirmou Raul Henry (PMDB).

Além do evento, o grupo que fará o “mutirão pró-Jarbas”, como definiu Henry, está responsável por apresentar ao peemedebista, até o dia 17, a situação dos partidos (DEM, PMDB, PMN, PPS e PSDB) no interior. Em entrevistas a rádios locais, Jarbas afirmou na última sexta que a semana do dia “10 ao dia 17” será dedicada a esforços políticos de análise do cenário nos municípios.
“Todos os municípios têm dois lados”, avaliou o pré-candidato. Ainda nas arrumações do grupo, espera-se que Jarbas anuncie nas próximas semanas Roberto Pandolfi como coordenador logístico da campanha. Também são esperados para participar do “mutirão” oposicionista os deputados federais Bruno Rodrigues (PSDB), Roberto Magalhães (DEM) e o líder da oposição na Assembleia, Augusto Coutinho (DEM). (M.M.N.)

Serra aponta “inexperiência” de Dilma

DEU NO ZERO HORA (RS)

Foi no sábado o primeiro evento tucano em que as críticas ao governo Lula e à candidata do PT à sucessão, Dilma Rousseff, tiveram mais contundência.

Em uma agenda mais agressiva, José Serra (PSDB) deverá ir ao Nordeste na semana que vem – tudo para reduzir a vantagem petista na região.

O palco das críticas aos petistas foi o lançamento da pré-candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo de São Paulo. Ainda que sem citar o nome de Dilma, tucanos e aliados insistiram na ideia de inexperiência da ex-ministra.

A começar pelo próprio Serra. Em seu discurso, o tucano afirmou que a administração não é um curso, em que se aprende ao longo do mandato.

– O governo não é curso de graduação, de madureza, nem de pós-graduação (no qual) quem ganha vai aprendendo no governo o que fazer, enquanto a necessidade da população fica sem atenção – disse Serra.

Minutos antes de Serra, foi a vez de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acusar a petista de falta de experiência:

– Ou ganhamos ou sabe-se lá o que vamos ter, meu Deus. Sabe Deus, com a inexperiência, o que vem pela frente com esse passado tão cheio de compromisso com o que há de pior em matéria de falta de civilidade e decência.

O roteiro completo ainda não está fechado, mas a primeira parada de Serra em terras nordestinas está prevista para dia 17, no Ceará.

Viagens de Lula emperram aliança entre PMDB e Dilma

DEU NO ZERO HORA (RS)

Presença do presidente em Estados onde há disputa entre peemedebistas e petistas retarda apoioA atuação do principal cabo eleitoral da candidata Dilma Rousseff (PT) – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – está melindrando o aliado mais importante da ex-ministra: o PMDB. O que incomoda os peemedebistas é a romaria do presidente pelos Estados, com destaque para aqueles em que o partido disputa o poder local com candidatos do PT.

Existe temor de que o apoio a Dilma custe derrotas que enfraqueçam a presença do PMDB nos governos estaduais após a eleição de outubro. Esta avaliação está por trás do adiamento da festa para anunciar a chapa presidencial com Dilma e Michel Temer (PMDB-SP) como seu vice.

Dilma até preparou um jantar para o vice na terça-feira passada, mas em vez da confirmação da data para comemorar a parceria – 15 de maio –, o encontro produziu o que um dirigente peemedebista batizou de “aliança da desconfiança”. A melhor tradução desta falta de confiança entre os aliados é o adiamento duplo das convenções que o PMDB nacional e o PT mineiro fariam para celebrar acordos.

Sem apoios nos Estados, Temer pode sair enfraquecido

Preocupados com o ambiente de desconfiança, os peemedebistas cobram de Temer, que preside o PMDB, que ponha rédeas nos parceiros petistas durante a campanha. O argumento neste caso é de que não podem colocar Temer como vice de Dilma e, ao mesmo tempo, ver os candidatos do partido nos Estados massacrados pela popularidade do presidente. O medo é de ver Lula nos palanques petistas.

Foi neste cenário que Temer comunicou Dilma, durante o jantar, que o PMDB só faria o encontro nacional para aclamá-lo candidato a vice em 12 de junho. Temer tem de fazer costuras políticas para sair fortalecido desta convenção e não pode prescindir de apoio se quiser ter força na aliança em um eventual governo Dilma.

– O nosso projeto não é presidencialista. É vice-presidencialista – define o deputado Colbert Martins (PMDB-BA).

Serra programa nova ofensiva no Nordeste

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Christiane Samarco

BRASÍLIA - O candidato do PSDB a presidente, José Serra, deve cumprir um circuito nordestino na próxima semana, com o objetivo de reduzir a vantagem da adversária petista Dilma Rousseff na região. O roteiro completo ainda não está fechado, mas o tucano já confirmou que visita o Ceará no dia 17.

A escolha do Estado para ser a primeira parada não é por acaso. O tucanato quer começar o giro no rastro dos tropeços da candidata do PT.

Depois da passagem de Dilma pelo território cearense há cerca de um mês ? sem comunicado prévio ao governador Cid Gomes (PSB) e em meio à operação do Palácio do Planalto para desmontar a candidatura presidencial do deputado Ciro Gomes (PSB-SP) ? , a ideia é aproveitar o clima de solidariedade aos irmãos que sempre atuaram em parceria com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) no Estado.

"O presidente Lula continua muito forte no Ceará, mas a antipatia pela candidata dele é crescente", afirma Tasso. "Pode ser até que a Dilma industrializada, pasteurizada e enlatada no programa eleitoral de TV melhore seu desempenho. Mas fora da tela, não vai ter jeito. É a impressão que estou colhendo por aqui".

A visita ao Ceará vai começar pelo interior, na região do Cariri, em Crato e Juazeiro, terra de Padre Cícero e um dos maiores centros de romarias e religiosidade popular do Brasil. O dia seguinte ele passa em Fortaleza.

Encarregada de cuidar da agenda de viagens do candidato, a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) diz que, no Ceará, a visita tem um objetivo mais político, de conquistar novos aliados. Por isso os encontros com cerca de 200 prefeitos e líderes políticos municipais, tanto na capital como no interior. Mas, como o objetivo é conquistar eleitores além da estrutura política da oposição no Nordeste, bem menor do que a do presidente Lula e sua candidata, os chamados eventos de rua e de mídia não podem faltar.

"Nosso candidato precisa ser visto e precisa falar diretamente com setores da economia e da sociedade civil, que as estruturas aliadas a nós nesses Estados não alcançam", explica o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA).

No giro nordestino, a programação também vai incluir entrevistas a rádios e TVs locais, caminhadas pelas ruas, mercados, feiras e centros comerciais, deixando claro que o objetivo central é aproximar o candidato do povo.

Depois do Ceará, estão programadas viagens ao Piauí e a Campina Grande, na Paraíba. Serra também irá ao Recife, agora com a garantia de um palanque confortável com o PMDB do senador Jarbas Vasconcelos (PE), que vai disputar com o governador Eduardo Campos (PSB), que tenta a reeleição.

O comando político da campanha deve se reunir hoje em Brasília para avaliar o impacto positivo das viagens. As visitas espaçadas a Estados nordestinos começaram pelo Rio Grande do Norte, mas Serra já visitou a Bahia por duas vezes e Alagoas. "Serra tem deixado ótima impressão por onde passa, mostrando o que fez pelo Nordeste e por cada Estado em particular, seja como ministro do Planejamento ou da Saúde", atesta o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN).

Tasso tenta atrair eleitores de Ciro para PSDB

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O Ceará deve ser o único Estado do Nordeste em que o presidenciável do PSDB, José Serra, não terá palanque de governador. Caberá ao senador tucano Tasso Jereissati, candidato à reeleição, pedir voto ao paulista.

Com o deputado Ciro Gomes eliminado da disputa presidencial, Tasso está à vontade para fazer campanha para Serra. A estratégia do tucano é fazer com que os votos do seu afilhado no Estado não migrem para Dilma.

Tasso já antecipa o discurso. "Vou mostrar obra por obra que ele trouxe para o Ceará, quando era ministro do Planejamento. E vou desafiar qualquer oponente a ter 5% das obras que ele trouxe para o Ceará, quando ministro do Planejamento: Porto do Pecém, Aeroporto, Castanhão e início do Metrô"", diz o senador. / C.P.

Lula se afirma 'multi-ideológico' a jornal espanhol

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em entrevista ao jornal espanhol "El País", o presidente Lula se definiu como "multi-ideológico".
"Um chefe de Estado é uma instituição, não tem vontade própria todo santo dia, mas tem que levar a cabo os acordos que sejam possíveis." Para ele, que não vê chance de perder a eleição, haverá continuidade. "Ganhe quem ganhar, ninguém fará nenhum disparate."


Lula se define como "multi-ideológico"

Explicação do presidente para seu novo rótulo, em entrevista-reportagem no jornal espanhol "El País", não fica clara

Petista afirma que chefe de Estado "não tem vontade própria todo santo dia, mas tem que levar a cabo os acordos que sejam possíveis"

Clóvis Rossi
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Depois do "Lulinha, paz e amor", depois da "metamorfose ambulante", Luiz Inácio Lula da Silva achou uma nova e inédita maneira de auto-definir-se: "multi-ideológico".

O novo rótulo apareceu em uma entrevista-reportagem feita por Juan Luis Cebrián, o principal executivo do grupo espanhol Prisa, cuja nau-capitânia é o jornal "El País".

A conversa foi capa do caderno "Domingo". Nela, em vez de "multi-ideológico", Lula aparece pouco ou nada ideológico, como se vê na frase completa:

"Um chefe de Estado não é uma pessoa, é uma instituição, não tem vontade própria todo santo dia, mas tem que levar a cabo os acordos que sejam possíveis. Aprendi isso no poder e creio que foi bom para o Brasil", afirma, para continuar:

"Não pode ser que eu tenha que gostar de um presidente porque é de esquerda e de outro não, por ser direitista. Me dei bem com Aznar [José María Aznar, conservador ex-presidente do governo espanhol] e me dou com Zapatero [José Luis Rodríguez Zapatero, sucessor de Aznar, socialista]; tenho que me relacionar com Piñera (Sebastián Piñera, recém-eleito presidente do Chile, direitista] da mesma forma como o fiz com Bachelet (Michelle Bachelet, antecessora de Piñera, socialista]. No exercício do poder sou um cidadão, como diria, multinacional, multi-ideológico, não?".

A "multi-ideologia" reaparece ainda mais confusa em outro trecho, em que Lula recupera um conceito de Delfim Netto, ao dizer que "é preciso ter o que distribuir antes de fazê-lo".

Parte da fama de Lula como sindicalista se deveu ao fato de atacar continuamente a tese atribuída a Delfim de que é preciso primeiro fazer crescer o bolo para depois distribui-lo.

Mas esse conceito serve para anunciar um futuro salto ao socialismo. Lula repete sua conhecida avaliação de que o Brasil era "um capitalismo sem capital", antes dele, e, por isso, ele resolveu "que era preciso primeiro construir o capitalismo para depois fazer o socialismo".

O presidente não explica como se dará o salto para o socialismo, mas coloca na conversa Henry Ford, que não chega a ser um ícone do socialismo: "Os empresários têm que saber que é preciso pagar salários um pouco maiores para que as pessoas possam comprar os produtos que fabricam. Isso já dizia Henry Ford em 1912" (e Lula também, quando era líder sindical, bem mais tarde).

Em outro momento, o presidente mostra-se bastante confortável com um dos micro-símbolos do capitalismo: "Embora tenha trabalhado 27 anos com um avental [de operário], nunca estava à vontade; com dois meses de gravata não tive dificuldade em me acostumar a ela, é uma bonita prenda".

É sintomático que, na mesma edição de "El País", Moisés Naïm, do Centro Carnegie de Pesquisas (Washington), escreve que "Lula foi dos presidentes mais pró-mercado e pró-setor privado e investimento estrangeiro que o Brasil já teve".

O próprio Cebrián intervém no texto para observar que o "milagre brasileiro começou com [Fernando Henrique] Cardoso, um professor respeitado e um democrata exemplar, que nivelou as contas públicas e venceu a inflação".

Essa suposta ou real continuidade não se verá afetada pela eleição, na opinião de Lula:

"Ganhe quem ganhar, ninguém fará nenhum disparate. O povo quer seguir caminhando e não voltar para trás".

Mas ele garante, como é natural, que não vê possibilidade de perder a eleição.

Europa socorre países em crise com mais US$ 650 bi

DEU EM O GLOBO

Portugal, Espanha e Irlanda também terão ajuda; FMI amplia crédito para US$ 130 bi

Sob temores de que a crise grega contagie outras economias da região, a União Europeia (UE) aprovou ontem um pacote de socorro de US$ 650 bilhões a países da zona do euro em dificuldades financeiras, como Portugal, Espanha e Irlanda. O acordo prevê empréstimos e garantias de crédito no valor de US$ 572 bilhões e um fundo de estabilização de US$ 78 bilhões. Além disso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) fará uma extensão de crédito de US$ 130 bilhões, além dos US$ 39 bilhões para a Grécia, acertados na semana passada e aprovados ontem pela diretoria do organismo. As notícias sobre o acordo levaram otimismo a investidores, após uma semana de forte turbulência. Na abertura dos mercados asiáticos hoje, o euro subiu quase 2% frente ao dólar. Ontem foi a vez de a Espanha anunciar um corte adicional em seus gastos de US$ 19,5 bilhões. Portugal e Grécia também já divulgaram planos de austeridade fiscal. O pacote grego vem gerando pesados protestos no pais e levando insegurança ao dia a dia da população.

US$ 940 bi para conter crise na UE

Ministros e FMI aprovam pacote de urgência. BCE comprará títulos de países em dificuldade

Da Bloomberg News*


BRUXELAS - Os ministros de Finanças da União Europeia (UE) aprovaram ontem um mecanismo de ajuda de US$ 650 bilhões (C 500 bilhões), para evitar que a crise fiscal da Grécia se espalhe por outros países da zona do euro. O esforço dos ministros repercutiu positivamente na abertura dos mercados na Ásia. Segundo a ministra de Finanças da Espanha, Elena Salgado, o acordo prevê financiamentos e garantias de empréstimos dos países da zona do euro no valor de US$ 572 bilhões (C 440 bilhões); um fundo de estabilização de US$ 78 bilhões (C 60 bilhões). Além disso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) faria uma extensão de crédito de US$ 290 bilhões (C 220 bilhões), o que, somado ao pacote da UE, totaliza US$ 940 bilhões (C 720 bilhões).

— Estamos colocando considerável soma em defesa da estabilidade na Europa — disse Elena, após reunião de 14 horas dos ministros de Finanças da UE.

Em outra decisão importante, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou ontem à noite que vai comprar títulos dos governos dos países do bloco que estão pagando altos juros para vender seus papéis ao mercado.

Já o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou um programa para enviar dólares para a Europa, para ajudar a conter a crise. Também estão envolvidos na iniciativa os BCs de Canadá, Inglaterra e Suíça.

No sábado, autoridades do bloco europeu se comprometeram a defender o euro de ataques especulativos e evitar um contágio da crise. Fontes da UE disseram ontem que a Alemanha, que enfrenta oposição interna contra a ajuda aos países em dificuldade, resistia a um acordo que não colocasse limites sobre uma possível assistência financeira a nações como Portugal, Espanha ou Irlanda. Os alemães também defenderam a participação ativa do FMI no processo.

Bolsa de Tóquio e euro abrem em alta

Em linha com as negociações em Bruxelas, o FMI anunciou ontem que sua diretoria aprovou o empréstimo de US$ 39 bilhões à Grécia, referentes à parte que cabe à instituição dentro do pacote de US$ 143 bilhões acertado no último dia 2 de maio. Em uma breve declaração após uma reunião de quase três horas, a diretoria do FMI disse que o programa de empréstimo vale por um período de três anos. Os demais US$ 104 bilhões do pacote virão dos países da UE. O FMI disse ainda que cerca de US$ 7,15 bilhões estão disponíveis para a Grécia imediatamente, dentro do plano de desembolsar US$ 13 bilhões para o país este ano.

A Grécia tem uma dívida de mais de 115% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) e um déficit fiscal de 13,6% do PIB, quando o teto da UE é apenas 3% do PIB. O pacote da UE-FMI, que entra em vigor em 19 de maio, visa a ajudar Atenas satisfazer as necessidades de financiamento.

“A forte ação de hoje pelo FMI para apoiar a Grécia contribuirá para os esforços internacionais em andamento para ajudar a trazer estabilidade para a zona do euro e assegurar a recuperação econômica global”, disse o diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn em comunicado.

O acordo da UE ocorre depois de uma semana de forte turbulência nos mercados financeiros diante dos temores de um contágio da crise grega não só entre países europeus, mas envolvendo também nações com alto déficit público. Nesse caso, a perspectiva de a crise ganhar contornos globais levou pânico aos investidores.

Vários analistas criticaram a morosidade dos governos europeus na reação à crise fiscal grega, permitindo que sinais de contágio aparecessem em Portugal e Espanha, através de movimentos especulativos nos mercados financeiros.

Na sexta-feira, depois de um dia de forte queda nos mercados globais, os líderes europeus sinalizaram um entendimento, através de uma reunião convocada de emergência.

Por telefone, o presidente americano, Barack Obama, conversou com líderes europeus, como a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Obama prometeu apoiar a decisão europeia.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro português, José Sócrates, anunciou que reduzirá o déficit fiscal além do previsto neste ano, para 7,3% do PIB. Ontem foi a vez da Espanha anunciar um corte adicional de US$ 19,5 bilhões de seu déficit, para 9,3% do PIB, este ano, e 6,5%, em 2011. No total, o corte equivale a 1,5 ponto percentual a menos da previsão anterior.

A notícia do pacote ajudou o euro na abertura dos mercados hoje, na Ásia. A moeda comum europeia avançou quase 2% ante o dólar e 3%, contra o iene. No mercado de ações, a Bolsa de Tóquio abriu em alta de 0,5%; a de Sydney subiu 1,4%; e a da Coreia do Sul, 1,4%. Já o ouro caiu 0,7% na abertura do mercado em Sydney.

(*) Com agências internacionais

A natureza da crise na Europa :: Luiz Carlos Bresser-Pereira

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

É preciso repensar radicalmente o problema das finanças internacionais e dos deficit em conta-corrente

O quadro financeiro europeu continua muito grave. A Alemanha, afinal, decidiu dar apoio ao pacote financeiro grego, de forma que a dívida do setor público da Grécia está equacionada.

A imprensa tem dado amplo noticiário sobre o assunto, mas afinal se limita a informar sobre o deficit público e a dívida pública do Estado grego, em vez de informar sobre o problema fundamental que não é do setor público, e sim do setor privado: é o deficit em conta-corrente e a dívida externa dos países. O problema fiscal é grave porque o deficit de 2009 somou-se a elevados níveis de dívida pública, mas o desequilíbrio não está apenas nos governos; está nos países como um todo e, portanto, em seu deficit em conta-corrente e em sua dívida externa, que englobam o setor público e o setor privado.

Se o problema fosse apenas do setor público, o socorro financeiro e uma política dura de ajuste fiscal resolveriam a questão. Sendo do país, necessita da depreciação cambial que não podem realizar.

A União Europeia controla os deficit públicos, não controla os deficit em conta-corrente. Os jornais não publicam dados sobre esse deficit porque não os recebem dos economistas.

Esses não os informam porque a teoria econômica ortodoxa pressupõe que o setor privado é equilibrado pelo mercado: é o chamado "princípio de Lawson", associado ao ministro das Finanças de Margaret Thatcher, Nigel Lawson.

A Crise Global de 2008 mostrou que essa tese é absurda no plano nacional. Agora o fenômeno se repete no plano internacional. Em 2009, enquanto a Alemanha, que reduziu salários nos últimos dez anos, obteve superavit em conta-corrente de 4,8% do PIB, Grécia, Portugal, Espanha e Itália realizaram deficit em conta-corrente de 10,2%, 10,5%, 5,8% e 3,9% do PIB, respectivamente. Esses deficit financiaram investimentos de médio prazo, mas as empresas e o Estado se endividaram no mercado financeiro de curto prazo.

Devedores e credores sabiam que os débitos não poderiam ser pagos de um dia para o outro -que teriam que ser rolados-, mas, dado o pressuposto dos mercados privados sempre equilibrados, foram adiante no processo. Até que, neste ano, repentinamente, os credores começaram a elevar os prêmios de risco e a suspender a rolagem da dívida.

O problema se agrava porque decidiram pelo "sudden stop" em um quadro no qual os países não têm o mecanismo de ajuste clássico para esses momentos: a desvalorização cambial, que reduziria os salários e equilibraria a conta-corrente. Os Estados de cada país podem ajustar suas finanças, mas não há solução para o desajuste privado de países que não têm moeda própria para desvalorizar.

Como na Crise Global, existe a solução financeira via Estado. O governo da União Europeia pode garantir a dívida externa daqueles quatro países por meio da criação, às pressas, de um FMI europeu, por meio do próprio FMI e via BC Europeu.

Neste momento, os ortodoxos dirão que o BCE não pode entrar no jogo porque estaria criando dinheiro ao socorrer os países, mas foi exatamente isso o que fez o Federal Reserve na Crise Global, sem causar inflação. Agora o BCE precisará criar dinheiro para salvar os países, ou melhor, novamente os bancos, porque foram eles que emprestaram.

Mas uma situação como essa não pode continuar para sempre. A política de crescimento com poupança externa já vitimou muitos países. É preciso repensar radicalmente o problema das finanças internacionais e dos deficit em conta-corrente.

Luiz Carlos Bresser-Pereira, 75, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Globalização e Competição".

Da pirambeira à frente, o governo nem quer saber... :: Marco Antonio Rocha

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

"Um espectro ronda a Europa." Cabe parafrasear o início do Manifesto Comunista de Karl Marx, de 1848. Só que, desta feita, não é o espectro do comunismo - como ele vaticinava -, mas o do capitalismo financeiro em desordem e desgovernado, que ronda a Europa e o mundo todo, e com tudo o que se pode qualificar de mais selvagem, na opinião de muitos críticos modernos.

Uma senhora aposentada, de cabelos brancos, entra no elevador do prédio onde mora o jornalista, empurrando seu carrinho de feira, e indaga com o semblante preocupado: "O que o senhor acha que vai acontecer? Essa situação da Grécia vai prejudicar o Brasil e bater no nosso bolso?"

Tudo indica, pelas conversas de rua, que o noticiário sobre o que acontece com a Grécia, na Grécia e na Europa em geral, já "não é grego" para o entendimento do brasileiro comum. Até pouco tempo atrás era raro o cidadão ou a cidadã, no Brasil, se inquietar com o que se passava em paragens distantes no mundo das altas finanças internacionais. Nós vivemos "tão apertadas" - diria a dona de casa nas TVs - com coisas miúdas como o preço do feijão e da cesta básica (que aliás teve bom aumento em abril), que não podemos perder tempo para tomar conhecimento dessas confusões de gente rica - é melhor que eles mesmos se entendam...

Não é essa a reação que mais se podia esperar do comum dos brasileiros?

Parece que não é mais tão assim. O fantasma que ronda a Europa começou a rondar também o espírito de boa parte dos brasileiros, devido, pensamos nós, à lição oferecida pela recente crise que começou com os créditos imobiliários podres nos Estados Unidos e se espalhou pelo mundo.
Os brasileiros, embora menos afetados, sentiram que o Brasil não esteve tão "blindado" nem escapou tão ileso daquela crise ? como gostam de proclamar os porta-vozes do governo e os fâmulos do presidente Lula, tentando incutir na cabeça do povo que foi graças a eles e aos seus iluminados tirocínios que o País passou incólume (sic) pelo vendaval. O povo percebeu, no entanto, que houve queda da produção, do PIB, do emprego, da renda, etc. ? mesmo que, a bem da verdade, a recuperação tenha sido rápida.

Mas ficou a lição. E por isso os acontecimentos na Grécia não estão sendo olhados com a indiferença popular que se costumava constatar.

E é oportuna essa nova atitude de alerta, até para evitar que Lula se refugie no seu habitual otimismo galopante e saia a falar de novo em "marolinha".

O clima de alarma e quase pânico que varreu a Europa na semana passada, a pancadaria e as mortes nas ruas de Atenas e os protestos e passeatas na Alemanha, França, Espanha e Portugal abriram caminho para todo tipo de menções relacionadas com a rica epopeia grega. Presente de grego, olimpíada do calote, cavalo de Troia, etc.

Uma delas me chamou a atenção: "A Ágora assalta a Acrópole" - imagem chique das manifestações em Atenas contra o FMI e os financistas europeus e que levaria Marx a escrever: "Esbulhados de todo o mundo, uni-vos!", uma vez que, de fato, os esbulhados de todo o mundo deveriam se unir para pôr fim à farra desse financismo virtual que circula pelo planeta com a velocidade da luz graças à internet. Em busca do quê? Rigorosamente, de nada, pois apenas procura o maior lucro possível nas próximas 24 horas, e só! Dinheiro correndo atrás de dinheiro.

Esse jogo improdutivo sempre existiu, seja dito. Mas hoje, além de avassalador, não é apenas improdutivo, mas também destrutivo, como se viu na crise de três anos atrás e como se verá nesta. O capital produtivo, que constroi empresas, empregos progresso cultural e riquezas, de fato se vê deslocado e esmagado pelo tsunami diário de uma especulação que, aparentemente, os bancos centrais e os governos não conseguem controlar ? admitindo que queiram de fato controlá-la.

A crise da Grécia não é só dela, já se disse. É da Europa toda, do euro, da administração dessa moeda inadministrável, como mostrou objetivamente o artigo Mais Europa, e não menos, do nosso colunista Celso Ming, na quinta-feira passada. E do sistema financeiro mundial.

O desgoverno financeiro é o motor de partida de crises, como foi na dos Estados Unidos, com a incúria de um Fed otimista demais e leniente demais com a alta finança. Ou na da Grécia, com a incúria de políticas fiscal e monetária demagógicas. Crises previsíveis pelos economistas que pensam com autonomia e, de fato, previstas. Mas nenhuma medida acauteladora foi tomada.

Como no Brasil, agora, pois até a Ata do Copom (governista) já fala em "deterioração do cenário prospectivo". A crise do subprime nos pegou com divisas em alta, balança comercial em alta, transações correntes superavitárias, inflação aquietada, demanda em crescimento sustentável e contas fiscais sob controle. Já agora isso tudo está com sinal trocado. E é nesse cenário desfavorável que a crise da União Europeia (UE) pode nos pegar.

Não obstante, todo mundo no governo só tem olhos na nuca para ver a boa velocidade que a economia vinha desenvolvendo até agora, sem querer saber da pirambeira pela frente.

É jornalista

ENTREVISTA: Antanas Mockus, candidato à presidência da Colômbia

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ruth Costas


''Não sou contra o uribismo, mas contra a cultura do atalho e do vale-tudo''

Entre um comício e outro pelo interior da Colômbia, o candidato favorito às eleições do dia 30, Antanas Mockus, conversou com o Estado por telefone sobre seus planos de governo.

O que garante que quem se vestia de Supercidadão e chegou a abaixar as calças em público terá a seriedade necessária para ser presidente?

Pela Constituição, o presidente encarna a soberania nacional, representa o país e por isso precisa fazê-lo com dignidade. Sei que o dia em que me tornar presidente será aquele em que jurarei cumprir a Constituição e as leis. Isso significa um compromisso público de representar dignamente o país. Há um amadurecimento de minha parte nesse processo. Quando eu tinha 16 anos podia fazer coisas que não posso hoje. Há quatro anos eu cantava a Constituição, hoje não me atrevo.

Uribe insinua que o sr. não apoiou o programa Segurança Democrática e agora apropria-se do discurso dele...

Tivemos um ponto de diferença no início de seu primeiro mandato, quando eu era prefeito, sobre o pagamento de recompensas (por delação no combate à guerrilha). Eu não concordava com essa estratégia de incitar os cúmplices dos criminosos (a delatarem seus companheiros) com recompensas - para mim isso era comprar a cooperação dos cidadãos. Mas depois disso cooperamos.

Define-se como anti-Uribe?

Não. Em algumas coisas. Mais que anti-Uribe sou anti-cultura do atalho, anti-resultado a qualquer custo. Sou mais cuidadoso com os métodos. Mas temos coisas em comum, como a vontade de governar de perto dos cidadãos.

Não haverá acordo humanitário com as Farc em seu governo?


É improvável, porque as Farc nos últimos anos praticaram a linguagem do sequestro. Qualquer concessão poderia disparar o número de reféns e retroceder nos ganhos dos últimos anos. Agora, se a Cruz Vermelha e a Igreja quiserem ajudar a promover liberações unilaterais, poderão fazê-lo.

Como governaria sem a maioria no Congresso?

Acredito na democracia deliberativa, no debate. Qualquer congressista pode propor ideias que mudam os rumos de uma discussão. Não ofereceremos favores por votos nem aceitaremos extorsão. Venceremos pela forças dos nossos argumentos.

Como pretende melhorar as relações com a Venezuela?

Precisamos ser diplomáticos e prudentes, tratar os demais como gostaríamos de ser tratados. Nenhum desses países gostaria da intromissão do país vizinho nos seus debates filosóficos ou ideológicos. Em geral os colombianos têm uma atitude muito crítica com relação ao socialismo bolivariano. E parte da sociedade venezuelana olha com ressalva o que acontece na Colômbia. A existência de opiniões divergentes é em certa medida inevitável e até saudável, mas nós, governantes, devemos ser prudentes com essas opiniões. Agora, na América Latina há mais pontos de vista diferentes. A democracia está mais (pausa) interessante, apesar de que às vezes isso implica em mais riscos. Sou otimista. Acredito que a democracia se corrige a si mesma.

A Colômbia deu prioridade às relações com os EUA nos últimos anos. O sr. daria mais atenção à América Latina?

Tenho uma visão cálida dos EUA, sua academia e Constituição. Mas a Constituição colombiana orienta no seu preâmbulo à integração latino-americana e eu já disse que tomo a Constituição como norte.

A que atribui seu crescimento nas pesquisas?

À cooperação com meus ex-rivais (ex-prefeitos) e à aliança com Sérgio Fajardo. À discussão séria de conteúdos programáticos e à sinceridade no tema da doença de Parkinson. (Ele revelou que foi diagnosticado com a doença, mas seus sintomas, segundo médicos, só se manifestarão em 12 anos).

Aliança com outros prefeitos é grande trunfo do candidato

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, o que a Colômbia assistirá, na votação do dia 30, não é bem o embate entre um "outsider" que promete mudanças e o legado da "segurança democrática" de Álvaro Uribe. Os uribistas concorrem, na realidade, contra um outro legado bastante sólido, construído desde os anos 90 por políticos independentes, com fama de honestos que modernizaram as duas principais cidades do país, tornando-se exemplos de gestão local.

Uniram-se à candidatura de Mockus, os ex-prefeitos de Bogotá Luiz Eduardo Garzón e Enrique Peñalosa. Juntos, eles transformaram Bogotá de uma terra de ninguém, violenta e sem infraestrutura, numa cidade moderna, cheia de praças e ciclovias.

Seu candidato a vice é Sérgio Fajardo, que tirou Medellín das garras do tráfico com um projeto que incluiu mais investimento em educação e o combate à corrupção na polícia. "Mockus propõe um modelo de governo colegiado, dentro do qual o grosso das decisões não dependa só de um líder ou caudillo", explica o analista Alejo Vargas.

Pesquisa mostra empate nas eleições presidenciais da Colômbia

Reuters

Antanas Mockus, do Partido Verde, e Juan Manuel Santos, da situação, se enfrentariam em 2º turno

BOGOTÁ - Os candidatos à presidência da Colômbia Antanas Mockus, do Partido Verde, e Juan Manuel Santos, do Partido Social da Unidade Nacional, estão tecnicamente empatados a menos de um mês para as eleições de 30 de maio, de acordo com pesquisa divulgada neste domingo, 9.

Santos, antigo ministro da Defesa do presidente Álvaro Uribe, teria 35% das intenções de voto, enquanto Mockus, duas vezes prefeito de Bogotá e conhecido por sua postura anti-corrupção, teria 34%, segundo mostrou a pesquisa da Ipsos-Napoleon Franco.

Em um eventual segundo turno, no entanto, Mockus teria 48% das intenções de voto e Santos, 41%, o que mostra uma margem mais apertada que na última pesquisa.

É a primeira pesquisa em várias semanas que mostra que Santos de volta à situação de empate com Mockus, um independente que subiu nas pesquisas a partir de abril. Nenhum candidato teve suporte suficiente para evitar um segundo turno em junho.

A pesquisa foi feita entre os dias 4 e 6 de maio com 1.202 eleitores de 36 cidades colombianas, com margem de erro de 3,5 a 3,7 pontos percentuais.

O QUE PENSA A MÍDIA

EDITORIAIS DOS PRINCIPAIS JORNAIS DO BRASIL
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Franz Liszt - Les Preludes, 1 of 2. AIMS Festival Orchestra. Edoardo Mueller, Conductor

Namorados :: Manuel Bandeira


O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
-Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
-Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
-A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

domingo, 9 de maio de 2010

Reflexão do dia – Friedrich Hegel

(...)Deste modo, o puro pensamento chegou à oposição do subjetivo e do objetivo: a verdadeira conciliação da oposição consiste em entender como esta oposição, levada ao ponto extremo, se resolve, de sorte que os opostos, como diz Schelling, sejam em si idênticos. Mas não basta afirmar isto, se não se acrescenta que a vida eterna é propriamente este produzir eternamente a oposição e eternamente conciliá-la. Possuir o oposto na unidade e a unidade na oposição, eis o saber absoluto; e a ciência consiste precisamente em conhecer esta unidade, no seu pleno desenvolvimento, através dele mesmo.


(Friedrich Hegel, Introdução à História da Filosofia (1816), pag. 392 – Os Pensadores - Editora Abril, 1985)

Ficha Limpa avança:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Até mesmo o experiente secretário-geral da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, Mozart Vianna, acompanhando as votações em Brasília há cerca de 20 anos, está espantado: vai se reduzindo a cada votação a capacidade de mobilização da bancada contrária ao projeto de iniciativa popular conhecido como Ficha Limpa, que torna inelegíveis por oito anos políticos com condenação por um colegiado na Justiça em função de crimes dolosos.

O deputado Chico Alencar, do PSOL do Rio, um dos primeiros a aderir à proposta, atribui essa mudança a uma mistura explosiva: a pressão da opinião pública, principalmente através da internet, e a proximidade das eleições.

As resistências ao projeto, quando ele chegou à Câmara, há sete meses, eram “imensas e claramente majoritárias”, lembra.

É interessante relembrar a trajetória desse projeto, que encarna com perfeição a capacidade de atuação da sociedade civil sobre os chamados “representantes do povo”.

Maria Aparecida Fenizola, vice-presidente do Instituto de Desenvolvimento de Estudos Político-Sociais e professora aposentada de 78 anos, esteve no centro da iniciativa popular que chegou ao Congresso com cerca de 1,3 milhão de assinaturas recolhidas nas ruas do país.

A questão colocada pelo projeto de lei de iniciativa popular, figura criada na Constituinte de 1988, é: por que uma pessoa é impedida de fazer concurso público se tiver antecedentes criminais de alguma espécie, mesmo sem trânsito em julgado, e pode se candidatar e assumir um mandato eletivo? Várias tentativas já foram feitas para impedir candidatos que respondem a processos de participarem das eleições, mas esbarram sempre na exigência da lei complementar das inelegibilidades de que todos os recursos tenham sido esgotados para que o candidato seja impedido de concorrer ou mesmo de tomar posse.

Em dezembro do ano passado, participei de um debate no auditório do GLOBO sobre corrupção, em que o projeto Ficha Limpa era o destaque , pois acabara de ser enviado à Câmara.

Rosangela Giembinsky, Coordenadora da ONG Voto Consciente, e Maria Aparecida Fenizola estavam muito esperançosas de que ele tivesse efetividade, ao contrário dos outros debatedores, inclusive o senador Pedro Simon, que chegou a dizer uma frase desanimadora, que registrei na ocasião aqui na coluna: “Depende mesmo de vocês a mudança na política, a pressão dos movimentos é imprescindível, porque do Congresso é que não virá a solução. De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo.” Foram citados diversos exemplos de processos pelo país que estão em curso, impedindo que centenas de vereadores e prefeitos continuem em atividade, e as duas jogavam suas apostas nos avanços tecnológicos que estão permitindo que o processo de informação do cidadão aconteça hoje com muito mais rapidez e eficiência.

O projeto de lei do Ficha Limpa incomoda, sem dúvida, a maioria dos deputados, inclusive parte grande dos que se dizem de esquerda.

O deputado petista José Genoino, envolvido no escândalo do mensalão, por exemplo, é dos que o classificam como sintoma da “judicialização da política” e veem nele um “viés autoritário”.

A pressão que os deputados estão recebendo já fez com que muitos deles, inclusive Genoino, passass em a votar contr a as emendas que tentam desfigurar o projeto.

As caixas postais dos deputados recebem cerca de mil postagens/dia em defesa do projeto, junto com o aviso sobre as eleições que estão chegando.

Ainda assim, tanto na Comissão de Constituição e Justiça quanto em plenário, os partidos de bancadas fortes (PMDB, PP, PTB e PR) tentam resistir.

Para surpresa dos apoiadores da proposta, que se julgavam minoria, a cada votação nominal o grupo dos “contra”, lutando pelos interesses corporativos, está desidratando.

Deputados que se dizem a favor do projeto apresentam alterações que, a pretexto de aperfeiçoálo, objetivam na verdade inviabilizá-lo sem expor as reais intenções de seus defensores.

Mas diversas organizações da sociedade civil estão atentas às atividades dessas “excelências”, e seus nomes estão sendo expostos na internet.

Várias emendas desse tipo estão sendo derrubadas, uma a uma. Ainda faltam sete, e todas as votações são nomimais. A quem defende a proposta cabe assegurar 257 votos a favor em cada aferição, o que não é fácil.

O mais recente obstáculo, que desfigurava o projeto Ficha Limpa, foi derrubado na quarta-feira na Câmara dos Deputados por 377 votos a 2.

O destaque, apresentado pela bancada do PTB, retirava do texto a exigência de condenação por colegiado e valeria apenas para os condenados em instâncias superiores.

O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) propõe a derrubada de todos destaques e está intensificando a pressão para esta semana final de votações.

Uma emenda que tem a simpatia dos ruralistas suprime a inelegibilidade derivada de crimes ambientais.

A batalha que se trava na Câmara vai se transferir para o Senado, em seguida, e uma questão relevante é que, na interpretação da OAB, o projeto precisa ser aprovado até 5 de junho para ser aplicado na eleição deste ano.

Os políticos que são favoráveis a uma reforma política estão vendo sinais de que talvez seja possível pressionar com os mesmos instrumentos a próxima legislatura, a ser eleita na esteira da sucessão presidencial.

Sem fantasia:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pela enésima vez nesses anos em que prevalece na política brasileira a dicotomia entre PT e PSDB, o assunto voltou à cena no primeiro encontro dos pré-candidatos à Presidência da República, na última quinta-feira em Minas Gerais.

Pela enésima vez com a mesma abordagem inconsistente. Bem intencionada até, mas fundada no pressuposto de que as duas legendas detenham o monopólio da excelência dos quadros e, uma vez dirimidas as divergências mútuas, governando juntas resolveriam com altivez ética, competência técnica, e por que não dizer, esmero estético, os problemas do País.

Claro, trata-se de uma caricatura simplificada, mas não está muito longe daquilo que petistas e tucanos dizem sonhar enquanto no plano prático brigam de se rasgar.

Desta vez quem levantou o tema foi Marina Silva, do PV. Ela falava como sempre bem articulada, sobre questão interessante: a ética conjuntural adotada pelos partidos de acordo com seus interesses, em contraposição à ética dos valores firmes que deveria valer sempre independentemente da circunstância.

Citou a título de exemplo: "O PSDB tentou governar sozinho e ficou refém do que havia de pior no Democratas; o PT tentou governar sozinho e ficou refém do que havia pior no PMDB".

Sem discordar de evidentes malefícios de alianças de ocasião e da existência realmente de áreas deterioradas nos partidos referidos, há que se estabelecer o seguinte: quando PSDB e PT envolveram-se em confusões que levaram tucanos e petistas - estes ainda com maior gravidade por atingir a direção do partido - a se transformarem em réus de processos no Supremo Tribunal Federal não precisaram de assessoria do DEM ou do PMDB.

Não consta também que tenham sido forçados com armas no pescoço a buscarem parceria nesses partidos. Fizeram-no porque quiseram. Como se dizia antigamente: são maiores e vacinados.

E, sobretudo, politicamente adversários inconciliáveis. Disputam o mesmo espaço. Querem o poder como protagonistas e não deixam por menos, não aceitam ser coadjuvantes uns dos outros.

E aqui podemos passar à resposta que o pré-candidato do PSDB, José Serra, deu àquela explanação de Marina.

"Se eu for eleito, pode parecer uma heresia, vou querer o PT e o PV no governo, em função de objetivos comuns, com base no programa".

Nada mais inadequado para ser dito em pleno curso da disputa eleitoral. Ainda mais uma disputa em que, tirando os candidatos que procuram se comportar com a maior fidalguia, os oponentes estão com as facas nos dentes.

Na mesma hora aliados de Dilma fizeram ironias com a oferta do tucano e 24 horas depois, já devidamente orientada, ela reagiu com "estranheza" à proposta dizendo que PT e PSDB "têm projetos distintos".

De fato. Não há como ignorar a evidência. É possível que a intenção de Serra tenha sido manter sua linha estratégica de conciliação. Mas, aos olhos do inimigo a mão estendida certamente é vista como o anzol da cooptação lá na frente, caso seja eleito, ou pretensão de conquistar a unanimidade como candidato.

Por mais que no plano ideal seja uma proposta lhana, no real recende a dificuldade de convivência com a oposição. Se o PT perder, será porque o eleitor quer o partido na oposição. Se o PSDB for derrotado, será porque o eleitorado não o quer de novo no governo.

Ao menos por enquanto é assim que as coisas estão postas. Podem mudar? Podem. Mas seriam preciso um pouco mais de trabalho do que simplesmente abertura de "diálogo" ou convites para participação no governo do partido adversário.

Seria necessário redefinir o quadro de correntes políticas. Quem faria oposição? Os novos protagonistas estariam dispostos a abrir mão das maiorias de ocasião? Daqueles que servem para lhes dar sustentação, mas não servem para ser apresentados às visitas? Ou o projeto seria varrê-los do cenário assegurando lugar apenas aos bons? Quem faria o julgamento?

Alguns discursos são bonitos de serem ditos, mas ficam mais complicados de serem aplicados quando precisam ser transformados em compromissos que impliquem concessões de todos os lados. De vencedores e vencidos.

Do mensalão ao ‘rebolation’:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Há quem desconfie, com as ressalvas e incoerências inerentes ao personagem, que o presidente Lula já se deu conta de que a candidata Dilma Rousseff não correspondeu às expectativas dele e, cada vez mais, é do agrado da oposição. A seu ver, já se dissipou o saldo favorável que aliviou a constrangedora atmosfera em que se envolveu pessoalmente no caso do terceiro mandato.. A candidatura Dilma pegou de galho e aliviou as costas presidenciais da suspeita de que ele estava por trás da iniciativa, por falta de paciência para esperar a sucessão de 2014.

Suspeita-se, pela descontração presidencial, que Lula se enfarou de ser bedel de candidaturas espalhadas por todo o país. A distância que está aumentando entre o presidente e a campanha de dona Dilma significaria, na melhor das hipóteses, que Lula leva em consideração outros aspectos que desconsiderou antes. Eleição é areia movediça. A distância que vai se interpondo entre Lula e a campanha está aberta a interpretações tanto naturais quanto sobrenaturais. É verdade que a candidata tem feito por onde ser reavaliada enquanto for tempo. Falta-lhe, de modo geral, o que em francês fluente os poliglotas chamam de physique du role. Ou, em bom português, no caso, a recomendável bossa para empreitada eleitoral.

Lula percebeu em tempo que era caminho sem volta deixar correr no Congresso a emenda constitucional, já com numero suficiente de assinaturas e o ostensivo patrocínio do próprio vice-presidente em exercício áulico. Tratou de cair fora. Retirou, ainda cru, da boca da oposição, o pão do continuísmo que não ia atenuar a fome de democracia na opinião pública quando (por acaso?) se expandia como gripe a ideia sul-americana de outorgar ao eleitor o poder de permitir aos governantes, de acordo com a conveniência de cada um, mais de dois mandatos consecutivos.

Desse ponto de vista, Lula acertou na mosca que zumbia na sua insônia. Poucas vezes, na história deste país, um governante soube sair tão lépido de uma armadilha. A troca do plebiscito pela candidatura feminina arquivou tanto o mensalão de triste memória quanto o terceiro mandato, de odor venezuelano, que fez republicano da gema torcer o nariz com empáfia cívica. Afinal, o Brasil foi, mas não se orgulha disso, o reformador das ditaduras tradicionais, com a associação do rodízio dos presidentes e a eleição indireta. Uma ditadura arejada pelo revezamento de presidentes e um bipartidarismo simplificador (um no poder e o outro eternamente na oposição). Funcionou enquanto foi possível e, quando deixou de ser, a oposição foi para o poder. Tudo voltou a ser como sempre foi. O passado fez o exercício de casa e, de modo redundante, continuou. Sem alarde e sem acerto de contas.

O efeito realmente novo, seis mandatos depois de eleições indiretas e diretas, veio a ser a candidatura Dilma Rousseff, que deu cobertura a Lula para se recompor com o alto juízo em que se tem e que o autoriza a zombar da oposição como se a sucessão fosse uma peça de Luigi Pirandello. Não é, mas passa perto do princípio pirandelliano, segundo o qual “assim é se lhe parece” e pelo qual se estrutura a vida representativa brasileira. E, se assim parece ao próprio Lula, muito mais ao petismo, pois se trata de solução respeitosa à democracia, e republicana sem deixar de ser à moda brasileira. Ficou subentendido, nos dois últimos anos do segundo mandato de Lula e no nascimento da candidatura Dilma Rousseff, o que poderia perfeitamente ser definido como rebolation, para elidir o intervalo entre o mensalão e a sucessão.

Este faz de conta democrático preencheu o vazio de ideias políticas à altura das necessidades, mas não autoriza otimismo segundo o qual é página virada o apelo ao retrocesso democrático, em nome da necessidade de evitar riscos inerentes à democracia.

Do lado oficial, sem obras para mostrar, a candidatura de uma figura feminina de forno e fogão na sucessão contribuiu para conter os petistas e o petismo. O saldo social dos dois mandatos transcorridos tem mais peso histórico do que político. Lula demonstrou ser perfeitamente possível reduzir a desigualdade social sem colidir com a democracia. O resto de dois mandatos foi, em boa parte, zelar pela herança da social-democracia que precedeu o petismo e ainda sobra para quem chegar lá.

Nossa Canção - Vanessa da Mata

Tucanos tentam fechar aliança nos estados


DEU EM O GLOBO

Declaração de neutralidade do partido já será considerada uma vitória pelo PSDB

BRASÍLIA. O PSDB vai tentar usar o bom desempenho de seu pré-candidato, José Serra, para ampliar o arco de alianças em torno de sua candidatura. Neste momento, o alvo principal dos tucanos é o PP, partido da base lulista que, na semana passada, sinalizou que poderia optar pela neutralidade nas eleições presidenciais.

Em busca do apoio do PP, o que garantiria maior equilíbrio no horário eleitoral gratuito entre PSDB e PT, os tucanos querem atrair o PP pelas bases, nos estados.

Além de sinalizar com a oferta da vaga de vice na chapa de Serra para o senador Francisco Dornelles, a estratégia tucana é consolidar o máximo de alianças nos estados com o partido.

As principais investidas serão nos três estados do Sul do país: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Mas, mesmo que a aliança nacional não saia, a avaliação entre os tucanos é que uma declaração de neutralidade do PP já será uma vitória, já que o PT vinha contando com o apoio da legenda.

Com o anúncio da candidatura de Jarbas Vasconcelos ao governo de Pernambuco, o PSDB conseguiu praticamente fechar todos os seus palanques no Nordeste.

O único estado onde Serra não contará com um candidato ao governo é no Ceará. Serra deve visitar na próxima semana vários estados da região.

— Nossos palanques já estão todos praticamente desenhados. O teste de pré-campanha, nós ganhamos. O que falta agora é jogar — diz o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

Os tucanos se preparam para uma nova batalha com o PT na televisão.

Ciente de que o PT pretende usar seu próximo programa partidário para voltar a colar a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua candidata, a cúpula tucana promete dar o troco. Embora tenha contestado no TSE as inserções do PT que apresentaram Dilma como a grande estrela do partido, o PSDB também quer usar o tempo dos partidos na televisão para divulgar seu candidato.

Com mais cautela, todavia.

O DEM terá um programa em rede nacional no próximo dia 27 de maio. O PPS deverá dispor de programas estaduais.

E o PSDB terá seu programa no dia 17 de junho, pouco antes do início oficial da campanha eleitoral, no dia 5 de julho. Os tucanos acreditam que poderão ser beneficiados, inclusive, pelo programa do PTB, previsto para o dia 24 de junho, já que o presidente nacional do partido, o ex-deputado Roberto Jefferson, promete formalizar a aliança nacional com o PSDB.

— O PT tem o desafio de fazer a candidata deles conhecida. Por isso vão com carga total para o programa partidário — afirma Guerra, dizendo que o PSDB não precisa ser tão ostensivo.

Já a definição do vice na chapa de Serra é um assunto que só deverá voltar a ser tratado oficialmente em junho. Uma ala tucana acredita ser possível convencer o ex-governador mineiro Aécio Neves a compor a chapa de Serra, ainda mais se o PT e o PMDB mineiros fecharem aliança em Minas, o que poderia dificultar a campanha do seu sucessor, Antonio Anastasia, para o governo do estado.

Tucanos sobem tom de críticas ao governo Lula

DEU EM O GLOBO

No lançamento da pré-candidatura de Alckmin, Serra ironiza PT, diz que não organiza dossiês e nem demoniza oposição

Gilberto Scofield Jr.


SÃO PAULO. A cúpula do PSDB aproveitou o lançamento ontem da candidatura de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo para subir o tom das críticas ao governo do presidente Lula e à sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff — chamada de inexperiente por praticamente todos os líderes tucanos que discursaram ontem: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o candidato à Presidência, José Serra, o prefeito de SP, Gilberto Kassab, o candidato ao Senado Aloysio Nunes Ferreira e o próprio Alckmin.

O ato pró-Alckmin virou um ato pró-Serra, contra o PT, e foi num ambiente de anticlímax que o candidato a governador, o último a discursar, defendeu sua plataforma de continuidade do governo tucano em São Paulo.

Após sugerir que o partido participe de seu governo, caso eleito, Serra, indiretamente, voltou a dizer que o governo do PT divide o país.

— Não demonizamos a oposição, não praticamos a truculência, não organizamos dossiês.

Nossa luta não é para fortalecer um partido, mas para fortalecer um país. Somos adeptos da prática da verdade, transparência e não da engabelação do público.

Os ataques mais duros ao governo petista vieram de Fernando Henrique e Serra.

— O Brasil pode mais, pode melhor e pode com mais decência.

Não titubeando, com um passo à frente e outro para trás, como faz o atual governo — disse o ex-presidente: — Eles falam, falam, falam e nós fazemos. O Brasil precisa fazer tudo isso, mas com lisura, com decência, com propriedade, sem passamoleque, sem falsos leilões, sem corrupção. Não basta falar PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), PAC, PAC e não acontece nada. É só projeto! Mesmo não tendo sido nominalmente citada, Dilma foi bombardeada por sua inexperiência.

— Um governo não é curso de madureza (antigo supletivo), um curso de graduação que a pessoa ganha e aí vai aprendendo — afirmou Serra.

Na festa de Alckmin, PSDB ataca petistas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

No lançamento da pré-candidatura de Geraldo Alckmin ao governo do Estado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o País precisa de “lisura”. Para José Serra, governo “não é curso de graduação”.

Na festa de Alckmin, FHC comanda ataque a petistas e pede ""mãos limpas""

Sucessão. No mais duro discurso do ato de lançamento da pré-candidatura tucana ao governo de São Paulo, Fernando Henrique defende Brasil "sem passa-moleque e sem corrupção"; Serra fustiga Dilma dizendo que "governo não é curso de graduação"

Silvia Amorim e Moacir Assunção

A festa de lançamento da pré-candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo paulista se transformou em palanque para o presidenciável José Serra e foi marcada por ataques aos petistas. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comandou a ofensiva contra os adversários e disse que o Brasil precisa de "mãos limpas".

"As obras do PSDB em São Paulo são visíveis. O Brasil precisa fazer tudo isso com lisura, decência, propriedade, sem passa-moleque, sem falsos leilões e sem corrupção", afirmou FHC. "Nós vamos eleger Serra e Alckmin porque eles têm compromisso e história. Vamos ganhar porque pelo Brasil é preciso ter um sentimento nacional ou então, sabe Deus, o que vamos ter pela frente, com esse passado tão cheio de compromissos com o que há de pior em matéria de falta de civilidade e decência na vida pública. Chega. Queremos o Brasil em mãos limpas."

Serra assumiu o microfone em seguida e deu continuidade às críticas, fazendo referência indireta a uma suposta falta de preparo da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, para assumir o governo. "Uma das características nossas é trabalhar desde o primeiro dia", defendeu. "Governo não é curso de graduação, que a gente ganha e vai ficar aprendendo no governo aquilo que vai ter que fazer, enquanto as necessidades da população ficam sem atenção."

Dossiês. O pronunciamento de Serra também incluiu críticas à ética dos adversários. "Outra questão fundamental é a prática da verdade, da transparência, da não engabelação do povo de São Paulo através da mídia, de talentos oratórios ou seja lá o que for", disse. "Não demonizamos a oposição. Para nós, são adversários, não inimigos. Não praticamos a truculência, não organizamos dossiês." Em 2006, petistas ligados ao atual pré-candidato do PT ao governo paulista, senador Aloizio Mercadante, foram acusados de tentar comprar material contra tucanos.

A união do PSDB para esta eleição foi ressaltada em todos os discursos. "É da unidade que construímos aqui, e que hoje está no Brasil inteiro, que vamos construir a grande vitória para mudar e melhorar o Brasil", afirmou o presidente nacional do PSDB, Sergio Guerra. Patrocinador da pacificação do partido em São Paulo, Serra elogiou o comportamento de Alckmin. "É um homem de humildade na vitória e altivez na derrota. Não é homem de ressentimentos."

Houve espaço ainda para discursos de alguns dos principais aliados do PSDB na disputa estadual. O presidente do PMDB paulista, Orestes Quércia, pré-candidato ao Senado, pediu explicitamente voto para Alckmin e Serra, apesar das recomendações da organização para se ter cuidado com a lei eleitoral. "Vamos votar no presidente Serra, no Alckmin", disse.

Em dado momento o discurso da unidade soou exagerado. "Sempre estivemos ao seu lado", disse o prefeito da capital, Gilberto Kassab (DEM) a Alckmin, embora ambos tenham sido adversários em 2008 na corrida pela prefeitura paulistana. O pré-candidato do PSDB ao Senado, Aloysio Nunes Ferreira, que disputou com Alckmin a indicação ao governo paulista, foi mais fiel ao passado. "As vicissitudes da política, às vezes, nos distanciam, mas agora estamos juntos."

Parceria. Os tucanos defenderam a importância de uma parceria administrativa entre os governos paulista e federal. "Hoje voltamos a unir nossos esforços. Dessa vez, para promover e defender uma política de desenvolvimento que seja capaz de propiciar a São Paulo e ao Brasil a oportunidade de alcançar o futuro de grandeza e prosperidade", discursou Alckmin. "Vamos ter uma parceria de dar gosto. Vamos ter governo federal, governo estadual, prefeitura de São Paulo trabalhando pelo País e por São Paulo", afirmou Serra.

Segundo a organização, o evento reuniu 5 mil pessoas. Ele custou entre R$ 200 mil e R$ 250 mil. No evento, o DEM confirmou a indicação de Guilherme Afif Domingos para vice na chapa de Alckmin.

Serra nega guerra jurídica e diz que só teme a ''inveja''

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Carolina Freitas

Em meio à guerra jurídica entre PT e PSDB, o presidenciável José Serra (PSDB) afirmou não temer ações judiciais ou dossiês contra sua candidatura. "Não tenho medo de nada. Tenho medo só da inveja dos outros ou de ressentimentos", disse, após participar do lançamento de Geraldo Alckmin ao governo paulista.

Serra minimizou o volume de ações já encaminhadas à Justiça Eleitoral por PT e PSDB. "Não acho que seja guerra jurídica. Se há algo errado, você vai recorrer à Justiça, porque não há outra possibilidade. São as regras do jogo."

O tucano negou que tivesse ocorrido alguma irregularidade na cerimônia de ontem. "Não tem nenhum uso da máquina", afirmou. "São encaminhamentos. A caminhada de verdade começa depois das convenções, mas você não é proibido de manifestar sua vontade, seus desejos, suas disposições."

Garganta. A voz deixou o tucano ontem na mão. Após discursar por 25 minutos sem problemas, Serra engasgou por três vezes quando dava coletiva aos jornalistas. "Melhor aqui do que lá no ato", comentou. Para diminuir a irritação na garganta, ele disse que tem tomado mel e um "pozinho japonês", recomendado por seu acupunturista.

Nabuco, ABL e FHC :: Marcos Vinicios Vilaça

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Nabuco se extremou como espécie de figura quase apostólica de abolicionista, como disse Gilberto Freyre na costumeira elegância e na precisão conceitual sempre invejável.

Esse apostolado radicalizou a ação nabuqueana, que não se batia apenas por mudanças, mas por eficiente transformação.

Casa Grande & Senzala deixa bem claro de como em relação à história da abolição passamos do preconceito ao conceito.

Em O Abolicionismo, Nabuco observa que noutros países a luta contra a escravidão não tinha o caráter de reforma política primordial, porque “não se queria a raça negra para elemento permanente da população, nem como parte homogênea da sociedade”.

A nossa Academia, testemunha dos tempos e mensageira do passado como provocação das construções do hoje e do amanhã, ativamente está comprometida a cultivar a personalidade de Joaquim Nabuco, a rastrear sua fascinação política, sua estética atraente, sua personalidade a um só tempo singular e plural. O fatiamento ideológico de que talvez seja vítima, não nos impede de apreendê-lo em sua totalidade. A fatia que nos coube não seria o que é se não alimentasse, como o comprova a sua biografia devidamente registrada pela historiografia, a compreensão da atualidade e, inclusive, do futuro de nossa realidade e utopia brasileiras.

Rubén Dario reconhece que nos pensamentos de Nabuco a profundidade alcançada, quase sempre através de uma bela imagem, está a indicar o quanto frequentava os poetas, os livros santos.

Como sugere Roberto Cavalcanti de Albuquerque, um de seus melhores estudiosos, vamos nos dedicar a desvestir nele a bipolaridade de razão e sentimento, a inglesa impressão aristocrática, a impressão literária tão francesa, a italiana impressão artística e a civilização material tão americana. Escanear o monarquista que se converteu a um certo republicanismo é tarefa prazerosa.

Nesse desvestir não estamos sozinhos. Já convidamos e continuaremos a convocar inteligências que nos auxiliem na desafiante análise nabuqueana.

Brennand ou Caetano Veloso, Alfredo Bosi ou Rubens Ricúpero, brasileiros ou estrangeiros, muitos já foram ou serão chamados e escolhidos.

Houve a vez do professor Fernando Henrique Cardoso em quem Francisco Weffort ressalta o gosto por revelar identidades complexas. Pois Nabuco é um rico tema complexo para um sociólogo que tratou de capitalismo e escravidão, proletariado e mudança social em São Paulo, autoritarismo e democratização.

É claro que a Casa é atenta à sua sensibilidade, que demonstrou a vida inteira, pela história e para a ação, raízes que o explicam na excepcionalidade como intelectual.

Em texto de tempos atrás, é ainda Weffort quem diz que a biografia de Fernando Henrique Cardoso ajuda a entender a história do seu tempo. É como no caso de Joaquim Nabuco. E tem razão.

A criação intelectual e o exercício da vida pública em Fernando Henrique Cardoso se prestam “a entender um pedaço decisivo da nossa história”.

Teremos muito a aprender, agora, com o professor da USP e de tantos outras universidades “desse mundo de meu Deus”, como dizemos na terra de Joaquim Nabuco. A profundidade com que estudou a escravidão e a sua pesada herança na vida do País, em termos de raça, desigualdade e pobreza é título já suficiente.

Com a sua costumeira e louvada lucidez, Celso Lafer observa ter Fernando Henrique Cardoso zelado pela atenção ao método: “buscar a informação relevante e compreender, sem dogmatismos ideológicos, todos os pontos de vista procurando entender e discutir antes de escrever ou decidir”. É com base neste modo superior de ser que escreveu o prefácio elucidativo ao Balmaceda.

Fernando Henrique Cardoso a vida toda entendeu o que Guimarães Rosa alertava sobre a importância da travessia. Daí confiarmos tanto no que há de ponderar das experiências vividas por Joaquim Nabuco. Sobre elas ouvimos o professor Fernando Henrique Cardoso na forma a que Hannah Arendt atribuía importância compreendedora: a narrativa e a experiência.


» Marcos Vinicios Vilaça é presidente da ABL

Estado imprevidente:: José de Souza Martins

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO/ ALIÁS

Diferentemente de sociedades prósperas baseadas na premissa da igualdade e da contratualidade das relações sociais, aqui, os direitos sempre foram instituídos como dádiva, não como conquista

A aprovação de um reajuste de 7,7% nas aposentadorias e a extinção do fator previdenciário pela Câmara dos Deputados, medida que ainda depende do Senado e da sanção do presidente da República, levanta o problema do enorme desencontro entre oportunismo político e demagogia, de um lado, e justiça social, de outro. A decisão da Câmara se apoia na complicada questão de fazer parecer justo o que constitui, de fato, ato de desconsideração pelos que, tendo trabalhado a vida toda, chegam à velhice parcialmente desamparados.

O óbvio uso eleitoral de um direito mutilado, uma farra com o dinheiro da Previdência Social, não é mais do que seguir o manual do Palácio do Planalto, que vem mal disfarçadamente fazendo campanha eleitoral de sua candidata à Presidência em atos que custam dinheiro aos cofres públicos. Se uns podem, por que outros não podem? Sem contar o potencial e previsível efeito eleitoral do Bolsa-Família, 11 milhões de pessoas reunidas no cabresto do maior curral eleitoral da história do Brasil, recebendo dinheiro público para alimentar um projeto de poder que passa longe da democracia e dos mesmos cálculos atuariais que penalizam a Previdência e os aposentados. Não deixa de ser estranho que frequentemente se esfregue no nariz dos aposentados o prejuízo que dão ao país por terem envelhecido e não se faça a mesma coisa com os parlamentares pelo absurdo de seus altos e descabidos vencimentos e mordomias.

O fator previdenciário, agora revogado pela Câmara, foi medida de modernização da Previdência para afastá-la da cultura retrógrada do Estado caritativo (a mesma que preside o Bolsa-Família) e vinculá-la ao elenco de medidas próprias do direito como conquista individual e social. Sua extinção compromete o princípio da proporcionalidade na Previdência com base no tempo de contribuição, uma conquista individual, e na expectativa de sobrevida, que pede ao futuro beneficiário maior tempo de contribuição pelo bônus da melhora nas condições de vida da população e consequente aumento de sua própria expectativa de vida. Viver mais custa mais e, supostamente, o próprio trabalhador tem que pagar por isso.

Mas esse é muito mais um esquema de sociedades prósperas, baseadas na premissa da igualdade e da contratualidade das relações sociais. Aqui, os direitos sociais sempre foram instituídos como dádiva do Estado provedor, e não como direito conquistado, não como aquisição individual, como justa contrapartida do trabalho. Muito da nossa mentalidade carneiril vem dessa deturpação, as vítimas de privação ou mutilação de direito mais pedindo do que reivindicando, raramente impondo-se com o vigor necessário para estabelecer com clareza a diferença entre direito e favor. Não é à toa que aqui a aposentadoria, diversamente do que acontece em países modernos, pareça muito mais castigo do que prêmio e funcione mais como gorjeta do que efetiva contrapartida da contribuição previdenciária.

Mais do que reforma da Previdência, a questão aqui se põe como carência da reforma do Estado imprevidente, do poder como prebenda e instrumento de populismo. A questão da Previdência só se resolverá se os gastos previdenciários deixarem de ser exclusivamente contrapartida da contribuição meramente preventiva de quem trabalha. Um dia, a Previdência terá que entrar nas contas do Estado como entram as despesas com as Forças Armadas ou o Ministério dos Transportes, como dedução das rendas públicas e despesas do Tesouro.

Dependerá de melhor uso do dinheiro público, do fim da corrupção e de um Estado decente e previdente. Dependerá da aplicação ao Estado das mesmos duros e justos controles que a Receita Federal aplica aos cidadãos. Reconhecimento, enfim, de que a contribuição do trabalhador à Previdência, como aquisição preventiva de amparo na velhice, está também no seu trabalho para o desenvolvimento do País, nos lucros que propiciou, nos tributos que gerou, na riqueza coletiva que construiu ao longo da vida.


José de Souza Martins é professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e autor, entre outros livros, de A Aparição do Demônio na Fábrica (editora 34)