Valor Econômico
Eleitos para o Senado podem ter papel decisivo para o país
Tão sazonal quanto as floradas dos ipês na
estação seca do cerrado, começou a temporada das especulações pré-eleição em
Brasília. Daqui a sete meses, terá lugar a revoada dos ministros e secretários
que vão concorrer a algum cargo. Por isso, nos arredores da Praça dos Três
Poderes só se pensa no pleito que acontecerá daqui a pouco mais de um ano.
O vice-presidente e ministro do
Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), costuma
brincar, quando lhe perguntam sobre seus planos para 2026, que há dois
ansiosos: os jornalistas e os políticos.
A coluna ouviu um integrante do governo que planeja deixar o cargo em abril. Falou do quadro em São Paulo.
Embora ainda esteja indefinido quem será o
adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida para o
Palácio do Planalto, é certo que esse será um Estado decisivo na disputa.
Dizem os sábios em eleições que a unidade da
Federação que determina vitória ou derrota no pleito nacional é Minas Gerais.
Lula, diz o integrante do governo, conta com uma quantidade importante de votos
no Vale do Jequitinhonha, cujo eleitor em muito se assemelha aos do Nordeste,
onde o atual presidente tem sua base mais sólida. Mas isso não é suficiente,
daí porque ganhar em São Paulo é fundamental.
Nesse sentido, pesquisa AtlasIntel divulgada no
início deste mês traz uma boa notícia para o projeto da reeleição de Lula,
avalia. Ela mostra que a corrida para o Senado lá é liderada,
surpreendentemente, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), cujo
domicílio eleitoral é Mato Grosso do Sul. Em um dos cenários pesquisados, ela
tem 22,1% das intenções de voto. Em segundo lugar, aparece Fernando Haddad
(PT), ministro da Fazenda, com 19,7%. Em outro cenário, essa disputa é liderada
por Alckmin, com 23,1%.
Os números mostram menor fôlego dos postulantes
da extrema direita, ressalta. Tebet e Haddad superam em intenções de voto nomes
como o do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro
(PL-SP), que aparece com 14,8%, e o secretário de Segurança Pública de São
Paulo, Guilherme Derrite (PP), que tem 14,4%.
Na visão do político, o quadro mostra um
eleitor tendente a preferir candidatos mais moderados. É algo que já se viu no
pleito para as prefeituras em 2024. Nessa lógica, Lula tem buscado novamente um
arco amplo de alianças no centro político, para estar competitivo em outubro de
2026.
A candidatura de Fernando Haddad ao Senado, diz
a fonte, depende do movimento que fará o governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas (Republicanos). Se este optar pela reeleição, que é dada como ganha, é
bem possível que o ministro seja escalado para um novo sacrifício: concorrer ao
governo paulista e fazer o embate mais duro que se coloca no radar. Nesse caso,
Alckmin poderia ser um candidato forte ao Senado.
A eventual candidatura do vice-presidente ao
Senado, por sua vez, pesaria na escolha de Tebet quanto a concorrer à casa
legislativa por São Paulo ou por Mato Grosso do Sul. Em seu Estado natal, ela
aparece em segundo lugar nas intenções de voto, atrás do ex-governador Reinaldo
Azambuja (PL), em pesquisa realizada pela Real Time Big Data divulgada na
semana passada. São 34% e 31%, respectivamente.
Num Estado do agro, a ministra sofreu desgaste
político por, supostamente, haver dado a Lula os votos que determinaram sua
vitória sobre Jair Bolsonaro em 2022. O que para alguns foi uma traição, para
outros é motivo de gratidão. De forma que ela pode ter conquistado votos da
esquerda que não tinha antes.
A candidatura de Tarcísio ao Planalto está no
centro das atenções, mas para o político ouvido pela coluna não se deve
descartar a opção pelo governo do Estado. Pelas razões que já se sabe: essa
seria uma eleição “fácil” para ele que, além disso, encontraria uma avenida
aberta, sem Lula, na corrida para o Planalto em 2030.
Esse é só um exercício, feito e refeito a cada
fato novo e a cada pesquisa de opinião.
A eleição para o Senado ganha importância
porque os constituintes de 1988 fizeram dele uma espécie de “adulto na sala” do
país, um guardião das estruturas institucionais que hoje se veem postas em
xeque como nunca no período democrático.
Ao Senado, lembra, cabe processar e julgar o
presidente da República nos processos de impeachment. Senadores podem fazer o
mesmo com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o procurador-geral da
República, o advogado-geral da União. Sem aval da casa legislativa, presidente
e diretores do Banco Central e outras agências reguladoras não podem tomar
posse.
Ou seja, o Senado pode virar o país de cabeça
para baixo, num processo de atropelamento das instituições parecido com o que
se vê nos Estados Unidos sob Donald Trump, compara. Não por acaso, a direita
tem um projeto declarado de dominá-lo. O campo progressista, por sua vez, busca
candidatos fortes para fazer a contraposição.
O Legislativo, além disso, terá desafios
imensos a enfrentar nos próximos anos. A fonte cita um: a missão de regular as
big techs e conter o processo de manipulação das opiniões, especialmente dos
mais jovens, por meio de algoritmos.
O voto de 2026 vai definir coisas muito sérias.
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