Folha de S. Paulo
Os porta-vozes da anistia se contradizem ao
adotar retórica agressiva em prol de uma conciliação
Os defensores de
anistia aos golpistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal
falam genericamente em página virada e pacificação.
No entanto, não se ouve deles palavra sobre compromissos reais com a aludida paz. Pedem perdão, mas não fornecessem contrapartida alguma. Ao contrário: seus porta-vozes recorrem a discursos radicalizados e belicosos, produzindo uma inequívoca contradição nos próprios termos.
Em todas as manifestações pró-anistia, o que
se ouve é o apelo à clemência por atos que teriam sido de mera cogitação, com
adoção de retórica agressiva e acusações fantasiosas sobre a existência de uma
ditadura no Brasil. Tese encampada pelos Estados
Unidos, que prometem retaliação.
Ademais, há admissão do crime no pedido de
perdão. Não se contesta o pretendido. Apenas argumenta-se que, não tendo sido
alcançado o intento, seus autores estão aptos a pedir ao país que esqueça o
ocorrido.
Isso, note-se de novo, sem alusão a
arrependimentos. Donde se depreende que se acham autorizados a repetir aquelas
elucubrações quando se sentirem contrariados e quantas vezes forem necessárias
até obterem o êxito que os levaria ao poder e, com ele, à impunidade garantida
pela imposição da nova ordem fundada na ilegalidade.
Tal contexto já tornaria inaceitável que a
normalidade institucional abraçasse a ideia da anistia, mas há também a
enganação sobre o apaziguamento de ânimos.
A falsidade do argumento está descrita na
violência política que toma conta dos EUA a despeito da anistia dada por Donald Trump aos
invasores do Capitólio de 6 de janeiro de 2021. Evidência de que, no caso de
atritos em aberto, a indulgência não resulta necessariamente em conciliação. Há
risco do inverso.
Na ausência de consenso no Legislativo, da
reprovação no Executivo, do repúdio na maioria das pesquisas e da imposição de
obstáculo no Judiciário, a anistia só aprofundaria divisões na sociedade e
criaria mais atritos entre os Poderes desafiados pela conspirata agora
condenada.
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