terça-feira, 16 de setembro de 2025

O bem que Bolsonaro fez. Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Quem condenou generais à prisão e à desgraça não foi Alexandre de Moraes, foi Jair Bolsonaro

Quiseram os deuses, o destino, as circunstâncias e a história que fosse justamente um “mau militar”, cadete medíocre e capitão insubordinado, o agente do que nem os grandes juristas ou políticos haviam conseguido até este 2025: prisão, desonra e desgraça de oficiais das maiores patentes por tentativa de golpe de Estado. Quem condenou generais, um tenente-coronel e um almirante, além de dois delegados federais, não foi Alexandre de Moraes, foi Jair Bolsonaro.

Depois de atribulados anos de caserna e insossas décadas de Congresso defendendo golpes, torturadores e assassinatos políticos, Bolsonaro chegou à Presidência botando gente na rua contra a democracia, até em plena pandemia de covid, e enchendo o Planalto de generais e usando seu ajudante de ordens para cooptar o que chamava de “meu Exército”, enquanto os filhos alardeavam que bastavam um cabo e um soldado para fechar o Supremo.

A culpa maior é do “comandante em chefe”, mas não há santos nem injustiçados entre os condenados. Enquanto outros rechaçaram planos e intenções do capitão, e por isso foram demitidos, os membros do “núcleo crucial” sabiam onde estavam metidos e agiram em sã consciência, posando de machões e batendo continência para absurdos: generais Augusto Heleno, Braga Netto e Paulo Sérgio, almirante Almir Garnier, tenente-coronel Mauro Cid e os federais Anderson Torres e Alexandre Ramagem, agora às vésperas de perder cargos, estrelas e liberdade.

Os que honraram a farda aderiram em 2018 ao projeto de governo de Bolsonaro, mas não a seus planos golpistas já na Presidência, avaliando que uma coisa era derrotar o PT depois de Rodrigo Janot estorricar o centro, outra era usar a vitória para aventuras. Os generais Edson Pujol, Fernando Azevedo e Silva, Santos Cruz, Silva e Luna e Otávio Rêgo Barros, além de Luiz Eduardo Ramos, que ficou até o fim no governo, mas isolado da trama golpista, assistiram de longe ao desfecho.

Tomás Paiva, Richard Nunes e Valério Stumpf fizeram mais: lideraram a resistência ao golpe nas Forças Armadas, como Alexandre de Moraes na Justiça. Não são “verdes por fora e vermelhos por dentro”. São verde e amarelo, não rasgam a Constituição, não jogam potências contra o Brasil nem trocam a bandeira nacional pela dos EUA.

Ao empurrar militares contra a democracia, Jair Bolsonaro conseguiu o oposto do que pretendia: vitória dos legalistas, condenações inéditas de golpistas e fim da impunidade que sempre alimentou valentões que se passam por patriotas para ameaçar a Pátria. A guerra agora é para evitar retrocessos.

 

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