terça-feira, 6 de maio de 2014

José Casado: PT conspira contra Dilma

• Inédito: a cinco meses da eleição, um partido vacila em carregar a sua candidata, que lidera as pesquisas. Se ela perder, Lula deve voltar no seu melhor papel, o de líder da oposição

- O Globo

Atônito, o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, viu alguém sair da plateia e depositar um rolo de papel higiênico à sua frente. Foi xingado das mais variadas formas, na noite de segunda-feira (28/4) da semana passada, apenas porque representava o governo em um debate com jovens ativistas cariocas.

Ele deixou a sede do Sindicato dos Bancários, antigo bunker do Partido dos Trabalhadores no Rio, sob vaias e depois de uma frustrada tentativa de diálogo. Sentiu na pele o “problema de imagem” que tem atormentado a cúpula petista, incluído o ex-presidente Lula.

Carvalho não sabia, mas àquela altura vivia-se um desconforto no Palácio do Planalto, a 1.500 quilômetros de distância. Tudo porque o líder de um partido aliado, o PR, posou para fotografias trocando o retrato da presidente Dilma Rousseff pelo de Lula, com faixa presidencial, na parede do seu gabinete no Congresso.

Quatro dias depois, na sexta-feira (2/5), Dilma foi a São Paulo para o cerimonial de sagração de sua candidatura à reeleição. Em reunião com 800 delegados do PT foi recebida com manifestações de “Volta Lula”.

No dia seguinte, sábado (3/5), viajou a Uberaba (MG) e enfrentou coro similar entoado por uma plateia diferente, a dos empresários da agroindústria.

A novidade na praça é o visível isolamento da presidente em plena campanha de reeleição. E o mais insólito é o fato de que a desconstrução da candidata do PT começou no próprio partido — dentro da ala majoritária petista que emerge dessa empreitada unida ao conservadorismo religioso e ao empresariado devoto do capitalismo de laços com os cofres públicos.

O Partido dos Trabalhadores organizou a máquina eleitoral mais eficiente do país. Já ganhou três das seis eleições presidenciais diretas realizadas desde a ditadura e está no poder há 12 anos. No entanto, se mostra vacilante em carregar a sua candidata, a gerente da herança da era Lula, que transita pelas pesquisas com média de preferência eleitoral muito superior à que possuía a cinco meses da eleição de 2010. Isso é absolutamente incomum.

“Não vai ser moleza”, disse Lula na sexta-feira ao anunciar Dilma como alternativa eleitoral do PT neste ano. Ele sabe, como poucos, que não há dia fácil numa disputa presidencial — foi candidato durante 17 anos seguidos, de 1989 a 2006. Por isso mesmo, é notável a complacência com que, nos últimos dez meses, assistiu à passagem da procissão de petistas e aliados em conspirações para golpear a candidatura presidencial à reeleição.

Se vencer, Dilma estará na inédita posição de ter sido reeleita apesar de boa parte do PT e dos aliados. Como toda vitória ajuda a curar feridas de campanha, talvez atravesse o segundo mandato empenhada em reconstruir a própria base no PT e adjacências — a alternativa será arrastar correntes no palácio até o último dia de 2018.

Se perder, Dilma vai para uma posição singular na história recente: a de presidente-candidata abatida pelo próprio partido e aliados em pleno voo, mesmo tendo liderado as pesquisas durante a maior parte da campanha.

Então, Lula deverá voltar no seu melhor papel de sempre, o de líder da oposição.

Brasília-DF- Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

Prefeitos contra Dilma
Há um objetivo não declarado na intenção dos parlamentares de incluir hoje na pauta da Câmara o projeto que aumenta o piso pago aos agentes comunitários de saúde. É levar os prefeitos à porta do governo federal em busca de mais recursos para pagar essa conta. Hoje, do total repassado pela União, os prefeitos pegam uma parte para fazer frente aos gastos com material, uniformes e pranchetas, por exemplo. Agora, se tudo virar salário, não terão mais esse extra e pedirão um aumento. Em tempo: se o governo não conceder nada aos prefeitos — como tem dito que não fará —, uma das hipóteses é reduzir o número de agentes contratados. Aí, quem brigará com a presidente é o eleitor. Afinal, os prefeitos não têm eleição este ano.

Só em junho
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) não está com a menor pressa em fechar logo o nome do candidato a vice na sua chapa. Mas é voz corrente no partido que ele não tem restrições a José Serra, ao contrário. Considera que o ex-governador de São Paulo seria a chave para transferir votos paulistas em seu favor. Qualquer anúncio, entretanto, só virá nas portas da convenção marcada para 14 de junho em São Paulo.

Jogada de risco
Embora a rejeição de Serra seja elevada, uma vez que ele é conhecido, os tucanos acreditam que vale o esforço. O que não querem é repetir a armadilha que consideram armada para Eduardo Campos, do PSB. Os estrategistas do PSDB dizem que a inclusão de Marina Silva na vaga de vice reduziu a capacidade de movimentação do ex-governador de Pernambuco.

Palpite dos políticos
Dentro do PT, da base aliada e até da oposição, há quem acredite que, até a largada da eleição, Dilma ainda vai recuperar alguns pontos nas pesquisas de opinião, mas não escapará de enfrentar um segundo turno. Dentro do PT, aliás, toda a campanha será montada para trabalhar com as duas etapas. Isso significa que, em breve, os petistas devem começar a reduzir os ataques ao PSB para recuperar, pelo menos,
uma parte do eleitorado

A hora dos discretos
A aposta dos deputados ontem era a de que Luiz Sérgio (PT-RJ) será o indicado para substituir André Vargas na primeira vice-presidência da Câmara. Ele integra a ala majoritária do partido e tem uma vantagem sobre os outros: não tem uma aresta sequer. Até porque, como líder e ministro de Dilma Rousseff, sempre primou por um comportamento discreto.

CURTIDAS
Dilma por Dilma/ O encontro da presidente com os editores de esportes dos jornais do Rio e de São Paulo será o primeiro de uma série que a presidente deseja marcar daqui por diante. Não que tenha tanto tempo para conversas como os oposicionistas, mas abrirá mais espaço na agenda.

Aécio com Eunício/ Aécio Neves conversa hoje com o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). Não, a pauta não é CPI da Petrobras, a ser instalada hoje. Aécio joga no sentido de fazer da candidatura de Eunício ao governo estadual o seu palanque no estado.

Enquanto isso, no Pros.../ O clima esquentou ao ponto de já se cogitar uma intervenção no diretório provisório no sentido de levar o partido a apoiar a candidatura de Eunício. Até porque, no plano nacional, a relação do partido de Cid Gomes e de Ciro com a presidente Dilma vai muito bem.

"Natural"/ O ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira (foto), confirmou em entrevista no Ceará que existe mesmo um movimento do partido para apeá-lo do cargo. "Isso faz parte do jogo do poder. Sou interino até hoje. Farei o meu trabalho até o dia que a presidente quiser."

Diário do Poder – Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Revelações de ex-diretor podem ‘incendiar’ o País
Pessoas ligadas ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava Jato, garantem: ele não repetirá Marcos Valério, que aguentou firme, não entregou ninguém, preservou o ex-presidente Lula e foi condenado a 37 anos de prisão. Costa pode “incendiar” o País, recorrendo a delação premiada, e contar tudo sobre negociatas, não só na Petrobras, e o envolvimento de autoridades federais e estaduais.

• Primeiro a família
A delação premiada de Paulo Roberto Costa poderá reduzir sua pena e livrar familiares, que correm risco de cadeia por obstruírem a Justiça.

• Sob proteção
São tão graves as esperadas revelações do ex-diretor que sua defesa poderá solicitar sua inclusão no Programa de Proteção a Testemunhas.

• Segurança máxima
Paulo Roberto Costa foi levado de volta à carceragem da PF para sua segurança. No presídio comum, poderia ser alvo de queima de arquivo.

• Silêncio de ouro
Fornecedores ou parceiros de grande e médio portes da Petrobras, estão insones, rezando para que Paulo Roberto Costa fique calado.

• Negócio na África de banqueiro amigo vai à CPI
Será alvo da CPI a venda amiga dos poços de petróleo da Petrobras na África para o BTG, banco de André Esteves, quando ainda era “amigo de infância” do ex-presidente Lula e de Antônio Palocci, em 2012. A oposição quer saber como ativos na Nigéria, Tanzânia, Angola, Benin, Gabão e Namíbia, avaliados em US$ 7 bilhões por Jorge Zelada, ex-diretor da área internacional, foram dados ao BTG por US$ 1,5 bilhão.

• Preços alterados
O valor dos ativos da Petrobras na África foram reestimados depois da posse de Graça Foster na presidência da estatal, em 2012.

• Pechincha amiga
Avaliados em US$ 7 bilhões, os poços africanos caíram para US$ 4,5 bi, US$ 3,16 bi, até o BTG levar o negócio pela bagatela de US$1,5 bi.

• Impressionante
Com a CPI, a oposição quer entender como em menos de 1 ano o BTG obteve retorno de US$ 150 milhões na África, a título de dividendos.

• Ligações estreitas
O presidente do Santa Cruz, Antônio Luiz Neto, há muitos anos garante sua reeleição, como vereador pelo PTB no Recife, com sua ligação à torcida organizada “Inferno coral” (cujos integrantes ele fez sócios do clube), acusada de matar um rival com vaso sanitário atirado do alto.

• Livre barbárie
Somente a torcida “Inferno coral”, do Santa Cruz, teria o poder – “sem ser notada pela segurança” – de arrancar privadas, subir dois lances e atirá-las do alto arquibancada, matando o torcedor Paulo Ricardo.

• Manual assassino
O manual de guerra dos Black Blocs, revelada pela coluna, ensina como fazer uma bazuca caseira gastando apenas R$ 9,00. O livro destaca ainda que “com sorte e boa mira” o disparo pode ser letal. Material semelhante matou o cinegrafista Santiago Andrade, da Band.

• Cumplicidade
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) não economizou críticas e acusou o governo de ser cúmplice dos mascarados Black Blocs. “É armação terrorista com a complacência do governo”.

• Distanciamento
Não passou despercebido o distanciamento entre presidenta Dilma e o antecessor Lula, no Encontro Nacional do PT. Ao fim do evento, ela foi embora e Lula ficou no local, distribuindo abraços e poses para fotos.

• Até tu, Temer?
Dirigentes do PMDB acharam no mínimo esquisita a decisão do vice-presidente Michel Temer de não colocar os pés no Encontro Nacional do PT, que lançou a pré-candidatura Dilma à reeleição.

• Mara não viu
A deputada Mara Gabrilli (PSDB), que disse há dias que José Dirceu tem regalias na prisão, sequer conseguiu entrar na cela por causa da cadeira de rodas. Ela ficou na porta, embaixo de uma goteira.

• Aquela mãozinha
Responsável pela imagem nacional do PMDB, o publicitário Elsinho Mouco foi convidado a dar suporte na coordenação de comunicação da campanha do senador Lobão Filho ao governo do Maranhão.

• Pensando bem…
…só o jornal britânico Financial Times está rindo muito das trapalhadas econômicas de Dilma, que as comparou aos impagáveis Irmãos Marx.

Os estragos do governo petista em estatais: O Globo - Editorial

• É de suprema ironia que, ao subordinar empresas à visão intervencionista em voga no Planalto, o governo do PT aja como grande inimigo de companhias públicas

É um paradoxo que importantes estatais enfrentem enormes dificuldades num governo do PT, partido que se arvora em intransigente defensor das empresas públicas. Usa, inclusive, esta imagem como instrumento eleitoral. Foi assim em 2006, quando o partido acusou os tucanos e seu candidato a presidente, Geraldo Alckmin, de tramarem mais um programa de privatização, num apelo ao instinto nacionalista das ruas. O PSDB não soube responder à manobra e Alckmin perdeu para Lula.

Tudo desandou no governo de Dilma Roussef, no qual a Petrobras e o braço estatal do setor elétrico sob controle da União enfrentam sérios problemas, curiosamente impostos por políticas equivocadas do Planalto. Se fosse outro governo, com o PT na oposição, já teriam ocorrido tentativas de instalar CPIs no Congresso, e haveria grande mobilização política, em torno de um alegado projeto de levar estatais à ruína, para privatizá-las a preço vil.

Os dados objetivos sobre a Petrobras e a Eletrobras denunciam uma gestão desastrosa. No caso, do principal acionista das empresas.

O mergulho dado pela cotação das ações das duas é revelador. A da Petrobras estava em R$ 29 quando Dilma assumiu. Desabou para abaixo dos R$ 15. Defensores do governo argumentam que, por trás da oscilação do valor de mercado da empresa, há variações no preço do petróleo no mercado internacional. Sim, mas enquanto as cotações voltavam a subir no mundo, a Petrobras continuava a se desvalorizar.

Há, portanto, causas específicas na desvalorização patrimonial da empresa. Duas delas: o uso da estatal como instrumento de controle da inflação, com o virtual congelamento do preço de combustíveis, vendidos no mercado interno abaixo do custo de importação, e a sua conversão em instrumento de substituição de importações de equipamentos, mesmo sob o risco de atrasos na execução de projetos e perda de eficiência operacional. Na administração de Graça Foster, há tentativas de se flexibilizar algumas dessas regras para não prejudicar ainda mais a eficiência da empresa.

No plano geral, é a subordinação da Petrobras a objetivos político-ideológicos que afasta investidores de suas ações. No caso do sistema elétrico, há também a subjugação da Eletrobras e subsidiárias ao projeto eleitoreiro de corte da conta de luz em 20%, também a qualquer custo.

Resultado: o valor de mercado da Eletrobras caiu 75,8% desde 2010, de R$ 46 bilhões para R$ 11 bilhões. Como para a Petrobras, isso dificulta a capitalização futura da companhia via mercado de ações. Tem sido tão ruinosa a intervenção do governo no setor elétrico que ela gera um rombo fiscal nas contas públicas, devido a subsídios para evitar repasses ao consumidor antes da urnas de outubro.

É de suprema ironia que, ao subordinar estatais à visão intervencionista em voga no Planalto, o governo do PT aja como grande inimigo de empresas públicas.

A segunda unção de Dilma: O Estado de S. Paulo - Editorial

O primeiro-companheiro Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula do PT cumpriram à risca no último fim de semana a inadiável tarefa de relançar a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Inadiável porque, desde fevereiro de 2013, quando o seu padrinho achou necessário antecipar em mais de um ano a sagração da pré-candidata, precisamente para extinguir os focos de "Volta, Lula" que já crepitavam dentro e fora do partido, a tendência a recusar uma segunda chance à titular do Planalto só se encorpou.

Para resumir o efeito acumulado do desgaste do seu patrimônio eleitoral e a progressiva perda de confiança na sua capacidade de cumprir um segundo mandato com menos teimosia, incompetência, ideias fora do lugar e desdém pela opinião alheia, basta dizer que Dilma jamais conseguiu se recuperar politicamente do baque nas pesquisas de avaliação do seu governo à época das manifestações de junho passado. Os protestos puseram em evidência o padrão inaceitável dos serviços públicos a que precisa recorrer a grande maioria da população, toda ela, aliás, altamente taxada.

Ainda que o Executivo federal não tenha o monopólio da culpa pelas agruras dos brasileiros - cuja qualidade de vida, já se disse, só melhorou da porta de casa para dentro -, é natural que a mais alta autoridade do País seja cobrada também pela parte que não lhe toca diretamente no descalabro. Além disso, até as malpassadas respostas de Dilma às demandas da rua - incluindo a jogada populista de fazer a reforma política por plebiscito - foram ofuscadas pela reaparição do inimigo número um do povo: a alta dos preços. O novo surto inflacionário é a mais importante causa singular da erosão do favoritismo de Dilma nas sondagens.

Nesse quadro, como no proverbial círculo vicioso, o "Volta, Lula" com força renovada debilitou ainda mais a já combalida liderança de Dilma, a ponto de um político do PR governista se fazer fotografar pendurando o retrato do ex-presidente no seu gabinete. (Os deputados da legenda se queixam de não terem visto ainda este ano a cor do dinheiro para as emendas parlamentares de que dependem para se reeleger.) Dilma, fiel ao seu costume de atirar primeiro, mesmo que no próprio pé, e pensar depois, respondeu que "vai tocar em frente", com ou sem a base aliada. A essa altura, de todo modo, a operação corta-fogo já tinha sido acertada a quatro mãos com Lula.

Dilma fez a sua parte na véspera do Dia do Trabalho com um pronunciamento de palanque. Em 12 minutos na rede nacional, anunciou bondades, atacou a oposição e deixou claro até para um recém-chegado de Marte que não arredaria pé da candidatura.

Dois dias depois, foi Lula quem tomou posição sob os holofotes. Para a elite partidária presente ao 14.º Encontro Nacional do PT, instada já na abertura do show a dar o sinal vermelho - no sentido petista - à recandidatura Dilma, "a lenda", como ela chamou o seu mentor, cobrou da afilhada outras sortidas de borduna em punho, exortou-a a divulgar melhor as suas presumíveis realizações, desancou a imprensa e disse as palavras que, por dever de ofício, ela destacaria no dia seguinte.

"É preciso parar de imaginar que existe outro candidato (em lugar de Dilma)", como se ele mesmo não tivesse imaginado essa possibilidade quando o governo deu os primeiros sinais de fazer água. "Quando a gente brinca com isso, os adversários aproveitam." Ele sabe muito bem que gente saudosa do seu companheirismo no poder e da naturalidade com que beneficiava quem lhe conviesse só fala daquilo a sério. Mesmo em setores do eleitorado de Aécio Neves e de Eduardo Campos não haverão de ser irrisórios os nostálgicos da era Lula. Terminada a festa petista no Anhembi, em São Paulo, Lula deixou - inadvertidamente ou não - uma sombra no ambiente.

"Se algum dia eu tiver que ser candidato a alguma coisa", avisou assim que ungiu a sua candidatura, "a primeira pessoa a saber será a companheira Dilma." Segundo uma leitura desprevenida, a frase, indicando um futuro distante, seria apenas uma demonstração de lealdade. Mas haverá quem ache aí a esperança de que o futuro venha ainda este ano.

Arnaldo Jabor:O Brasil está com ódio de si mesmo

• Nunca pensei que a incompetência casada com o delírio ideológico promoveria este caos

- O Globo

O Brasil está irreconhecível. Nunca pensei que a incompetência casada com o delírio ideológico promoveria este caos. Há uma mutação histórica em andamento. Não é uma fase transitória; nos últimos 12 anos, os donos do poder estão a criar um sinistro “espírito do tempo” que talvez seja irreversível. A velha “esquerda” sempre foi um sarapatel de populismo, getulismo tardio, leninismo de galinheiro e agora um desenvolvimentismo fora de época. A velha “direita”, o atraso feudal de nossos patrimonialistas, sempre loteou o Estado pelos interesses oligárquicos.

A chegada do PT ao governo reuniu em frente única os dois desvios : a aliança das oligarquias com o patrimonialismo do Estado petista. Foi o pior cenário para o retrocesso a que assistimos.

Antes dessa terrível dualidade secular, a mudança de agenda do governo FHC por sorte criou um pensamento mais “presentista”, começando com o fim da inflação, com a ideia de que a administração pública é mais importante que utopias, de que as reformas do Estado eram fundamentais. Medidas simples, óbvias, indutivas, tentaram nos tirar da eterna “anestesia sem cirurgia.” Foi o Plano Real que tirou 28 milhões de pessoas da pobreza, e não este refrão mentiroso que os petistas repetem sobre o Bolsa Família ou sobre o PAC imaginário.

Foi um período renegado pelo PT como “neoliberal” ou besteiras assim, mas deixou, para nossa sorte, algumas migalhas progressistas.

Tudo foi ignorado e substituído pelo pensamento voluntarista de que “sujeitos da história” fariam uma remodelagem da realidade, de modo a fazê-la caber em suas premissas ideológicas. Aí começou o desastre que me lembra a metáfora de Oswald de Andrade, de que “as locomotivas estavam prontas para partir, mas alguém torceu uma alavanca e elas partiram na direção oposta”.

Isso causa não apenas o caos administrativo com a infraestrutura morta como também está provocando uma mutação na psicologia e no comportamento das pessoas. O Brasil está sendo desfigurado dentro de nossas cabeças, o imaginário nacional está se deformando.

Há uma grande neurose no ar. E isso nos alarma como a profecia de Lévi-Strauss de “que chegaríamos à barbárie sem conhecer a civilização.” Cenas como os 30 cadáveres ao sol no pátio do necrotério de Natal, onde os corpos são cortados com peixeiras, fazem nossa pele mais dura e o coração mais frio. Defeitos e doçuras do povo, que eram nossa marca, estão dando lugar a sentimentos inesperados, dores nunca antes sentidas. Quais são os sintomas mais visíveis desse trauma histórico?

Por exemplo, o conceito de solidariedade natural, quase “instintiva”, está acabando. Já há uma grande violência do povo contra si mesmo.

Garotos decapitam outros numa prisão, ônibus são queimados por nada, com os passageiros dentro, meninas em fogo, presos massacrados, crianças assassinadas por pais e mães, uma revolta sem rumo, um rancor geral contra tudo. O Brasil está com ódio de si mesmo. Cria-se um desespero de autodestruição, e o país começa a se atacar.

Outro nítido efeito na cabeça das pessoas é o fatalismo: “É assim mesmo, não tem jeito, não.” O fatalismo é a aceitação da desgraça. E vêm a desesperança e a tristeza. O Brasil está triste e envergonhado.

Outro sintoma claro é que as instituições democráticas estão sem força, desmoralizando-se, já que o próprio governo as desrespeita. Essa fragilização da democracia traz de volta um desejo de autoritarismo na base do “tem de botar para quebrar!”. Já vi muito chofer de táxi com saudades da ditadura.

A influência do petismo também recriou a cultura do maniqueísmo: o mal está sempre no outro.
Alguém é culpado disso tudo, ou seja, a “média conservadora” e a oposição.

A ausência de uma política contra a violência e a ligação de muitos políticos com o tráfico estimula a organização do crime, que comanda as cadeias e já demonstra uma busca explícita do horror. A crueldade é uma nova arte incorporada em nossas cabeças, por tudo o que vemos no dia a dia dos jornais e TV. Ninguém mata mais sem tortura. O horror está ficando aceitável, potável.

O desgoverno, os crimes sem solução, a corrupção escancarada deixam de ser desvios da norma e vão criando uma nova cultura: a cultura da marginalidade, a “normalização” do crime.

Uma grande surpresa foi a condenação da Copa. Logo por nós, brasileiros boleiros. Recusaram o “pão e circo” que Dilma/Lula bolaram, gastando mais de R$ 30 bilhões em estádios para “impressionar os imperialistas” e bajular as massas. Pelo menos isso foi um aumento da consciência política.

Artistas e intelectuais não sabem o que pensar — como refletir sem uma ponta de esperança? Temos aí a “contemporaneidade” pessimista.

Cria-se uma indiferença progressiva e vontade de fuga. Nunca vi tanta gente falando em deixar o país e ir morar fora. As mutações mentais são visíveis: nos rostos tristes nos ônibus abarrotados, na rápida cachaça às 6h da manhã dos operários antes de enfrentar mais um dia de inferno, nos feios, nos obesos, no desânimo das pessoas nas ruas, no pessimismo como único assunto em mesas de bar.

Vimos em junho passado manifestações bacanas, mas sem rumo; contra o quê? Um mal-estar generalizado e sem clareza, logo escrachado pelos black blocs, a prova estúpida de nosso infantilismo político.

É difícil botar a pasta de dente para dentro do tubo. Há uma retroalimentação da esculhambação generalizada que vai destruindo as formas de combatê-la. Tecnicamente não estamos equipados para resolver as deformações que se acumulam como enchentes, como um rio sem foz.

E o pior é que, por trás da cultura do crime e da corrupção, consolida-se a cultura da mentira, do bolivarianismo, da preguiça incompetente e da irresponsabilidade pública.

O Brasil está sofrendo uma mutação gravíssima, e nossas cabeças também. É preciso tirar do poder esses caras que se julgam os “sujeitos da história”. Até que são mesmo, só que de uma história suja e calamitosa.

Mordaça - Paulo César Pinheiro e Eduardo Gudin

Manuel Bandeira: Os sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Opinião do dia: Merval Pereira

O outro candidato da oposição, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, continua sem tirar vantagem da adesão de Marina Silva, e sofre algumas restrições impostas por sua companheira de chapa. Agora mesmo, ao ouvir Aécio Neves dizer que é companheiro "do mesmo sonho" de Campos, Marina fez questão de afirmar que há diferenças bastante profundas entre os dois, sugerindo que a adesão a uma eventual ida de Aécio para o segundo turno não são favas contadas.

Provavelmente faz isso para marcar uma posição de independência da chapa Eduardo Campos-Marina Silva, confiante em que o eleitorado está cansado da polarização entre PT e PSDB e acabará escolhendo a terceira via como alternativa de mudança. Se Campos se convencer de que deve também tratar o candidato tucano como adversário, o calor da campanha eleitoral pode inviabilizar um acordo no segundo turno, o que favorecerá mais uma vez o PT.

Merval Pereira é jornalista. Em artigo: Critérios e tendências, O Globo, 4 de Maio de 2014

Ingerência política na Eletrobras ajuda a causar rombo de R$ 13 bi desde 2012

• Este ano, empresa deve fechar no vermelho de novo

Henrique Gomes Batista, Nelson Lima Neto – O Globo

RIO - A crise no setor elétrico gera, até o momento, duas expectativas ruins e uma “vítima” real. Para o futuro se espera um forte aumento de conta de luz, que poderá ficar ainda mais cara até 2019, e o temor de racionamento. No presente, a grande perdedora é a Eletrobras. A estatal, que engloba Eletronorte, Eletrosul, Chesf e Furnas, amarga prejuízos bilionários, recebe valores que não cobrem seus custos, atrasa o pagamento de fornecedores, é obrigada a entrar em consórcios pouco conhecidos e com retorno duvidoso e perde seu corpo técnico. Especialistas acreditam que, devido ao prejuízo acumulado em 2012 e 2013, de R$ 13,217 bilhões, a empresa precisará de socorro do governo nos próximos anos. Este ano a conta não deve fechar de novo.

A Eletrobras tem sofrido com a interferência política, usada como braço empresarial para projetos do governo que causaram os atuais desequilíbrios do setor elétrico. Com isso, seu valor de mercado desabou de R$ 46 bilhões, em 2010, para os atuais R$ 11,094 bilhões, queda de 75,89%.

As dificuldades da estatal — cuja direção tem forte ligação com o PMDB, mas que está também sob influência direta da presidente Dilma Rousseff, que vem do setor elétrico — não são poucas nem pequenas. A empresa, que em 2006 estava se preparando para se internacionalizar e crescer, começou a ter problemas quando o governo a obrigou a usar suas subsidiárias para participar dos leilões de construção das usinas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira. Desde então, a estatal entra com mais de 40% em todo grande projeto de energia do país.

As decisões para estas participações são baseadas no desejo do governo de fazer grandes projetos saírem do papel. Um dos casos mais recentes foi o leilão da Usina Três irmãos, da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), quando a estatal apoiou um grupo de fundos de investimentos que não são do setor e sem conhecer seus controladores. Na sequência, a Eletrobras teve que assumir seis distribuidoras estaduais que foram federalizadas, geram prejuízos e precisam de aportes altos.

Empresa espera ter lucro este ano
O golpe de misericórdia foi dado em 2012, com a Medida Provisória (MP) 579, que tentou baixar à força o preço da energia no país, com uma proposta de renovação antecipada dos contratos do setor em troca de tarifas menores. Para isso, a estatal viu o valor de seus ativos caírem em R$ 10 bilhões e teve que celebrar contratos em que se compromete a vender energia elétrica a R$ 9 o megawatt hora (MWh), preço 92,5% menor que a média de R$ 120 praticada pelo setor hidrelétrico. Para piorar, a estatal, com seu Programa de Demissão Voluntária, tem perdido profissionais competentes, desmontando seu corpo técnico.

— O governo está matando a Eletrobras a agulhadas — afirma Erik Eduardo Rego, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP.

A Eletrobras diz estar em fase de reestruturação. O objetivo da companhia, oficialmente, é voltar ao azul ainda este ano. “Estão sendo finalizados os estudos para a reestruturação do modelo de gestão empresarial, da governança corporativa e societária. Eles devem ser apresentados até o fim deste semestre. A empresa deixou de receber receitas no valor de R$ 8,5 bilhões e está, no momento, adequando-se a essa situação”, informou a empresa por e-mail.

Apesar de ser a maior empresa de energia do país, respondendo por 34% da geração nacional e com faturamento anual de R$ 23,8 bilhões, a empresa é apenas a 33ª mais valiosa da Bolsa. Seu valor de mercado (R$ 11,094 bilhões) está inferior ao de outras empresas menores do setor, como Tractebel (avaliada em R$ 20,8 bilhões e com receita anual de R$ 5,6 bilhões), Cemig (valor de mercado em R$ 20,2 bilhões e receita de R$ 14,6 bilhões) e CPFL Energia (avaliada em R$ 18,7 bilhões e receita de R$ 14,6 bilhões).

— O que ocorreu com a Eletrobras eu nunca vi em nenhum outro lugar do mundo. O governo determinou em 2012 a venda do MWh a R$ 9 baseado em estudos do período pós-apagão, quando a estatal teve prejuízo. Este valor não paga os custos. No futuro, o Tesouro Nacional terá que socorrer a empresa — diz Roberto D’Araújo, presidente do Instituto para o Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico.

Graças à MP 579, diz D’Araújo, outra hidrelétrica vende o MWh a R$ 270 a 15 quilômetros de onde Furnas fornece a R$ 9, ambas geradas no mesmo Rio Grande.

Meta era ser ‘Petrobras do setor elétrico’
Presidente da Eletrobras entre 2003 e 2004, o diretor do Coppe/UFRJ Luiz Pinguelli Rosa recorda da meta central da empresa nos primeiros anos do século: transformá-la na Petrobras do setor elétrico.

— Mas a MP 579 causou uma inviabilidade econômica gigantesca para a empresa. A depreciação foi enorme. O plano de demissão voluntária provocou a perda de bons engenheiros, de bons técnicos. Além disso, há dificuldade de manutenção na estrutura atual e problemas com distribuidoras e geradoras do Norte e do Nordeste.

Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, afirma que a empresa tem que buscar investimentos que aumentem rapidamente seu fluxo de caixa: linhas de transmissão e geração eólica:

— O que vemos na Eletrobras não é um abacaxi, é uma plantação de abacaxis — diz, defendendo que a empresa feche seu capital para ficar menos pressionada.

Karina Freitas, analista da Concórdia Corretora, diz que o problema é a interferência política. Sem isso, a Eletrobras poderia não ter renovado algumas das concessões dentro da MP 579. Para ela os papéis da estatal estão voláteis, ao sabor das pesquisas eleitorais, mas nem a piora da presidente — que pode indicar nova gestão — deve melhorar a cotação das ações.

Funcionários preocupados
A participação da estatal em grandes projetos, com fundos poucos conhecidos, gera desconfiança em Ildo Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP:

— A Eletrobras é hoje uma muleta para o governo fazer negócios obscuros. E ela precisou assumir isso depois que o governo reduziu o valor de seu recebimento na canetada, sem estudo, pagando valores inexequíveis.

Na semana passada, os funcionários fizeram greve de dois dias para cobrar o pagamento da participação nos lucros e resultados. Segundo a Associação dos Empregados da Eletrobras (Aeel), a empresa alega que não houve lucros para o pagamento das bonificações.

Procurado, o governo informou “que os entes públicos que falam sobre o setor elétrico são: Eletrobras, Ministério de Minas e Energia, EPE, ONS e Aneel. Sobre aporte do Tesouro, a fonte deve ser o Ministério da Fazenda”.

Petrobras barra apuração de contratos

• Liminares freiam investigação pelo Tribunal de Contas de 19 negócios fechados fora das regras da Lei de Licitações

• Obra estimada em R$ 1,2 bi foi negociada pelo dobro do valor; para estatal, órgão pode continuar a fiscalizá-la

Dimmi Amora – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Petrobras paralisou com liminares da Justiça 19 investigações contra supostas irregularidades em contratações da companhia que estavam em curso no TCU (Tribunal de Contas da União).

Investigações sobre contratos bilionários da estatal com suspeita de desvios de recursos estão há mais de sete anos paradas porque o STF (Supremo Tribunal Federal) não julgou em definitivo nenhum desses processos.

Desde 1998, a Petrobras vinha fazendo contratações de forma mais simples que a determinada pela Lei de Licitações, baseando-se em um decreto daquele ano.

O TCU entendeu que era necessária uma lei específica para que a empresa contratasse dessa maneira e começou a emitir decisões que obrigavam a empresa a seguir as regras da Lei de Licitações.

Em 2006, a Petrobras, após esgotar os recursos no TCU, começou a recorrer ao Supremo para evitar cumprir essa determinação do tribunal.

Até 2010, a estatal conseguiu 19 decisões favoráveis do Supremo, de sete diferentes ministros, suspendendo os efeitos das decisões tomadas pelo TCU.

Em todos os casos, os ministros concederam decisões provisórias aceitando a dispensa da Lei de Licitações, que aguardam nesses 19 casos o julgamento definitivo.

Mas as liminares acabaram tendo um outro efeito: paralisaram a apuração das irregularidades específicas do processo, muitas sem relação com a forma de como o contrato foi licitado.

É o caso do processo do gasoduto Urucu-Manaus, cuja investigação a Petrobras conseguiu suspender em 2008. O TCU já suspeitava ali de preços irregulares e pediu dados à companhia que nunca foram enviados em razão de o processo ter sido suspenso.

No mês passado, a viúva do engenheiro da Petrobras Gésio Rangel de Andrade afirmou à Folha que ele foi punido pela companhia por se opor ao superfaturamento da obra. O engenheiro morreu há dois anos.

A área técnica estimou a obra em R$ 1,2 bilhão, mas o contrato foi fechado por R$ 2,4 bilhões, após pressão das construtoras.

O processo paralisado no TCU, quando a obra já estava orçada em R$ 1,4 bilhão, aponta diferença de "inacreditáveis 57.782,29%" entre o valor do orçamento da Petrobras e o que as companhias haviam proposto em alguns itens contratados.

Em outro contrato, para manutenção e recuperação do sistema de óleo e gás (R$ 1,8 bilhão) da Região Sudeste, houve superfaturamento e alguns contratos tiveram aditivos que dobraram seu valor.

O TCU chegou a multar gestores por irregularidades e cobrava a devolução de R$ 1 milhão superfaturados.

O processo está parado desde 2008 por causa da liminar do STF. A multa e a cobrança dos desvios também estão suspensas.

Depois de tantas decisões contrárias, o TCU parou de determinar em suas decisões que a Petrobras alterasse seu sistema de contratação.

Desde 2010 a Petrobras vem sendo fiscalizada pelo órgão de controle conforme suas regras de contratação, previstas no decreto de 1998.

Mesmo assim, irregularidades graves continuam sendo apontadas em contratos como os da Refinaria Abreu e Lima (PE) e Comperj (RJ), entre outros. Mas esses processos ainda estão em fase de recurso dentro do TCU.

Caso as condenações sejam confirmadas em definitivo pelo órgão de controle, a Petrobras terá a chance de voltar a recorrer ao STF.

Outro lado
A Petrobras informou que as liminares do STF não impedem as fiscalizações do TCU, as quais "contam com o bom relacionamento mantido entre as instituições, prática salutar que proporciona o aprimoramento dos procedimentos".

A empresa afirma se baseado em decreto de 1998 para fechar os negócios sem seguir regras das Lei das Licitações.

O TCU afirmou que acompanha os desdobramentos das liminares e que, apesar disso, "vem constantemente fiscalizando as contratações realizadas pela Petrobras". Consultado, o STF não falou sobre o caso.

Tarifaço pode custar até R$ 46 bi em 2015

- Correio Braziliense

Se houver o tarifaço que muitos economistas prevêem para 2015, os brasileiros vão arcar com uma fatura pesada. A conta virá por meio dos reajustes dos preços represados da energia elétrica e dos combustíveis e pode variar entre 0,5% e 1% do Produto Interno Bruto (PIB), algo entre R$ 23 bilhões e R$ 46 bilhões. Na pior das hipóteses, o desembolso equivalerá a quase o dobro dos R$ 25 bilhões gastos por ano com o Bolsa Família.

Esses números foram apresentados por representantes do governo a Tony Volpon, economista-chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes da Nomura Securities em Nova York. Ele esteve em Brasília há pouco mais de uma semana e conversou com técnicos do Ministério da Fazenda e do Banco Central. Volpon citou os encontros em um relatório distribuído a clientes da instituição financeira.

Na avaliação do economista, não é à toa que o represamento dos preços administrados pelo governo Dilma Rousseff têm causado tanta comoção nos mercados, e entrou de vez no discurso dos candidatos à Presidência da República. Todos sabem que não haverá escapatória, seja quem for o vencedor das urnas em outubro próximo.

No mercado, há quem defenda que a fatura seja repassada à sociedade de uma vez só, mesmo que o impacto no custo de vida seja elevado. É o caso de Armínio Fraga, cotado para ser ministro da Fazenda em um eventual governo de Aécio Neves (PSDB). No entender de Armínio, num primeiro momento, a inflação subiria, mas, logo depois, as expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cairiam, porque os investidores teriam a confiança de que não seriam surpreendidos por políticas artificiais de contenção das tarifas públicas.

No caso de reeleição de Dilma Rousseff, a tendência é de recomposição gradual dos preços das energia, da gasolina e do diesel. Ela deixou isso claro em pronunciamento em rede nacional de rádio e tevê às vésperas do Primeiro de Maio. Parte da conta das tarifas públicas será paga, no entanto, de forma indireta, como vem ressaltando o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A ideia é aumentar impostos de bens de consumo. Ou seja, em vez cobrar o reajuste direto na conta de luz, o governo sustentaria subsídios à energia por meio do Tesouro Nacional, que engordaria o caixa com mais tributos.

Campanha
Em entrevista ao Correio, Volpon diz que não questionou os técnicos do governo sobre como eles chegaram à fatura que pode ser apresentada à sociedade em 2015. "Creio, porém, que parcela dessa conta será paga com mais tributos", destaca. Para ele, independentemente do tamanho dos reajustes da energia e dos combustíveis, o poder de compra dos consumidores vai diminuir, o que, mais à frente, ajudará no combate à inflação.

Segundo o economista José Matias-Pereira, professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB), a fatura do represamento dos preços administrados pode ser maior que a apresentada por técnicos do governo a Tony Volpon, chegando a R$ 50 bilhões. Diante disso, o próximo presidente da República terá que apresentar um planejamento muito claro para resolver esse passivo, recolocar o país nos eixos e retomar o crescimento econômico. "Do contrário, o Brasil continuará no grupo das nações que apresentam desempenhos medíocres quando se avalia o PIB", frisa.

Petrobras
No entender de Matias-Pereira, a conta da energia decorre da falta de planejamento do atual governo e de interesses políticos, já que a presidente Dilma Rousseff prometeu, em pronunciamento público, reduzir o preço médio da tarifa de luz em 20%. O problema é que isso foi feito sem um estudo adequado e sem uma negociação com as empresas do setor, que, agora, estão tendo de lidar com o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. "Trata-se de um processo insustentável", afirma.

Já no caso dos combustíveis, com a inflação se mantendo persistentemente próxima ao teto da meta, de 6,5%, o governo optou por impor perdas à Petrobras. A empresa importa gasolina e diesel a preços muito acima do que cobra dos consumidores brasileiros. Se a estatal equiparasse os valores aos praticados no mercado internacional, certamente o IPCA estaria rodando acima dos 7%.

"Essas políticas artificiais de controle da inflação não funcionam. Só criam distorções que custam caro à população", diz o professor da UnB, que completa: "Estamos assistindo ao resultado de uma política de governo temerária e irresponsável, com interesse eleitoreiro. Medidas populistas foram tomadas, e os governantes ficaram despreocupados em manter a economia sob controle".

Recessão
Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, é preciso cautela ao avaliar o custo do represamento das tarifas públicas. Segundo ele, repassar, de uma única vez, essa fatura aos consumidores poderá levar o país à recessão. De toda forma, o Brasil terá de se livrar desse fardo, seja quem for o vencedor nas eleições de outubro próximo.

Labogen importava joias e bebidas no lugar de remédios

• Faturas tentavam camuflar compra de produtos que nada tinham a ver com as atividades do 'laboratório lavanderia' de doleiro preso

Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo

De caixas de vinhos e espumantes a coleções de joias italianas, de instrumentos musicais e tecnológicos holandeses a rolos de seda chinesa, o laboratório Labogen Química Fina viveu um aparente período de pujança no comércio exterior depois que seu controle foi assumido, em 2009, pelo grupo do doleiro Alberto Youssef, alvo maior da Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

Documentação de posse dos investigadores, no entanto, revela que o Labogen foi usado por Youssef para por em prática ousado esquema de fraudes no câmbio paralelo de dólar e euros a partir de importações fictícias de insumos farmacêuticos.

As invoices - faturas de operações em outros países que exibem quantidade do bem adquirido, o valor, as condições de quitação, a forma de transporte e prazos de entrega - traziam dados relativos a pagamentos de medicamentos. Mas, na verdade, a importação era de bebidas finas e outros produtos de clientes de Youssef.

Na prática, avalia a PF, o doleiro retomou com intensidade a rotina que havia interrompido em 2003, quando fez delação premiada à Justiça Federal no caso Banestado - evasão de divisas que pode ter alcançado US$ 30 bilhões, nos anos 1990.

Além de usar o Labogen para tentar se infiltrar em órgãos públicos, como o Ministério da Saúde, Youssef executou centenas de transações ilícitas para atender encomendas de executivos brasileiros, conforme demonstram as invoices.

Rastreamento. O que essas faturas retratavam eram as compras ou pagamentos realizados pelos clientes do doleiro. Os investigadores constataram que eram inseridos dados falsos sobre medicamentos para que o Banco Central registrasse operações "legais" do Labogen.

A PF vai rastrear os empresários estabelecidos no Brasil que usaram serviços de Youssef.

A requerimento da Procuradoria da República, a Justiça solicitou ao Banco Central que recolha nas corretoras todas as invoices relacionadas aos contratos de câmbio do Labogen nos últimos cinco anos.

A PF descobriu que o laboratório era uma grande lavanderia - entre janeiro de 2009 e dezembro de 2013, o Labogen lavou US$ 113,38 milhões em contratos de câmbio fictícios.

Clientes do doleiro compravam vinho, por exemplo, de uma empresa na Europa. O valor da compra, em reais, era entregue a Youssef, que falsificava as faturas em nome do laboratório como se estivesse fechando importação de remédios daquela vinícola. Não havia compra de insumos, mas o pagamento da compra de vinhos.

Os papéis mostram que o Labogen se valia de corretoras autorizadas pelo Banco Central para forjar a compra de medicamentos, especialmente de lipistatina, usada para combater doenças do pâncreas.

Quilos e quilos do remédio foram "importados" sucessivamente dando a falsa impressão de que o laboratório de Youssef operava a todo vapor. A PF descobriu que as invoices, com falsificações grosseiras, eram emitidas em nome de fornecedores que não têm nenhuma atuação no setor farmacêutico.

Em 5 de janeiro de 2011, o laboratório do doleiro "importou" 14 quilos de lipistatina por 24 mil euros da Contarini Vini e Spumanti, em Vazzola, Itália. Entre 9 e 15 de fevereiro de 2011, o Labogen fechou 11 "importações" do remédio da Coar Catene por 103 mil euros. Situada em Arezzo, também na Itália, a Coar Catene atua na manufatura de colares e pulseiras de ouro e prata.

CPI da Petrobras: oposição busca PMDB da Câmara dos Deputados

• Estratégia é romper blindagem ao Planalto com dissidentes da base

Júnia Gama e Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA - A oposição no Congresso conta com a rebeldia do PMDB na Câmara para fazer investigações no âmbito da CPI mista da Petrobras que sejam capazes de ultrapassar a blindagem ao Palácio do Planalto. Deputados do PMDB insatisfeitos com o governo Dilma Rousseff têm mantido conversas com oposicionistas e já estão combinando uma estratégia conjunta para tocar os trabalhos. Se de um lado a oposição pretende provocar danos à imagem da presidente para enfraquecê-la na disputa eleitoral, de outro, o PMDB deverá aproveitar para pressionar o governo por cargos e apoio nos estados.

Em outra frente, deputados estão reivindicando que a presidência da CPI fique com um nome do PMDB que tenha interlocução com a Câmara. Há uma avaliação de que alguém do PMDB ligado à Câmara será mais sensível aos pleitos dos deputados cuja relação com o Palácio do Planalto é estremecida, e poderá atuar com mais independência do governo que os senadores mais alinhados com a presidente Dilma Rousseff.

O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), no entanto, diz que não irá entrar na briga com os correligionários no Senado. O deputado reconhece que o PMDB no Senado tem a preferência na escolha do presidente da CPI, já que é a maior bancada naquela Casa, enquanto na Câmara o PT é mais numeroso que o PMDB. A combinação até o momento, de acordo com a proporcionalidade dos partidos, é que o PT na Câmara fique com a relatoria da CPI.

- A presidência vai ser do PMDB do Senado, porque é a maior bancada de lá. Eu não vou bater chapa com eles, só se o senador Eunício Oliveira desistir de escolher - afirma.

Nos bastidores, deputados peemedebistas avaliam que a melhor opção para a presidência da CPI seria um senador do PMDB mais próximo da Câmara do que João Alberto (PMDB-MA), senador ligado a José Sarney (PMDB-AP), cujo nome vem sendo o mais cotado para a função. O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), irá anunciar sua escolha nesta terça-feira.

Além de João Alberto, Eunício também irá sondar os senadores Vital do Rêgo (PMDB-PB) e Ricardo Ferraço (PMDB-ES) para o cargo. Ferraço é tido como um senador com postura independente em relação ao governo e é visto como uma opção forte pelo próprio Eunício. O líder do PMDB pode fazer a escolha menos alinhada com os interesses do Planalto se Dilma anunciar esta semana apoio ao candidato ao governo do Ceará de seu rival, o ex-governador Cid Gomes, que deve lançar a candidatura do ex-ministro Leônidas Cristino.

O líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), diz acreditar que se a presidência da CPI ficar com um nome ligado ao PMDB na Câmara há mais chances da investigação trazer resultados. Mas, o senador acredita que o que mais contará na CPI será o peso dos fatos, e não a atuação do presidente da comissão.

A oposição espera ter a bancada do PMDB como aliada, por considerá-la mais combativa que a do Senado, por conta das insatisfações com Dilma Rousseff. Na estratégia que está sendo traçada pela oposição, e que conta com o aval do PMDB na Câmara, a ideia é ter imediatamente acesso à integra do inquérito da Polícia Federal sobre a Operação Lava-Jato e focar os pedidos de investigação na quebra de sigilo de movimentações financeiras dos envolvidos.

'Temos projetos distintos', diz Campos sobre Aécio

• Em festa do Dia do Trabalho, tucano disse que eles eram 'companheiros de trincheira do mesmo sonho'

Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo

RIO - Dois dias depois da declaração do tucano Aécio Neves de que ele e o socialista Eduardo Campos estarão juntos em 2015, o candidato do PSB à presidência da República procurou marcar as diferenças entre os dois adversários da presidente Dilma Rousseff nas eleições de outubro.

"Temos projetos distintos, com bases política e social distintas. Isso não impede que tenhamos capacidade de ver o que nos une. Mas oferecemos caminhos diferentes. Eu assumi o compromisso de não retirar nenhum direito do trabalhador, considero a idade penal cláusula pétrea da Constituição Federal. Quem disser que vai mudar, está desconhecendo da decisão da Suprema Corte do País", afirmou Campos, que participou no Rio do encerramento de um seminário sobre educação do Partido Pátria Livre (PPL), que o apoia na disputa presidencial.

Aécio defende o projeto de Lei que reduz a maioridade penal para 16 anos nos casos de crimes hediondos, e Campos é contrário à proposta.

Em discurso para os integrantes da Juventude Pátria Livre (JPL), Campos disse que as forças que têm o poder farão "terrorismo eleitoral" com a propagação de informações falsas como a de que outro vencedor, senão Dilma, acabaria com o programa Bolsa Família. O candidato do PSB disse que é preciso reagir aos boatos. Campos defendeu ainda uma fórmula fixa para reajuste dos combustíveis e criticou o governo por segurar o aumento da gasolina para evitar a alta da inflação.

‘Temos bases política e social distintas’, diz Eduardo Campos sobre Aécio Neves

• Pré-candidato do PSB à presidência da República participou de seminário sobre educação na manhã deste domingo no Rio

Karine Tavares – O Globo

RIO - O pré-candidato à Presidência da República, Eduardo Campos (PSB), fez questão de apontar as diferenças entre seu projeto político para o país e de seu adversário na corrida eleitoral, o tucano Aécio Neves. Há dois dias, o pré-candidado do PSDB havia dito que os dois estarão juntos em 2015.

— Temos projetos que são distintos, bases política e social distintas. Isso não impede que nós tenhamos a capacidade de ver o que nos une do ponto de vista dos interesses do país. Mas estamos oferecendo caminhos que não são a mesma coisa. Temos compromisso com valor democrático, mas temos diferenças.

Tanto que somos de partidos políticos diferentes. A última vez em que estivemos juntos, num mesmo palanque nacionalmente, foi ainda na eleição do colégio eleitoral, após as Diretas Já — disse Campos, após participar de seminário sobre a educação que reuniu a juventude do Partido da Pátria Livre, na manhã deste domingo, no Rio.

Entre as diferenças, o candidato apontou, quando questionado por jornalistas, questões como os direitos do trabalhador e a redução da maioridade penal:

— Assumi um compromisso que não se vai fazer mudança no país tirando direito dos trabalhadores.

Hoje, o Ministro Mantega fala nisso e o candidato Aécio também já se posicionou em relação a isso.

A questão da maioridade penal é outro exemplo. Eu já deixei muito claro que a questão da segurança é muito mais séria que isso. A maioridade penal é uma cláusula pétrea da constituição. O supremo já se posicionou sobre isso, não tem como mudar. Quem está falando que vai mudar isso, não conhece a decisão da suprema corte do país — disse ele, aproveitando para alfinetar o candidato do PSDB que afirmou recentemente apoiar, em casos especiais, a redução da maioridade penal.

Questionado sobre a possibilidade de uma aliança entre os dois no segundo turno, Campos preferiu não fazer previsões:

— Eu não vou tratar de segundo turno ainda no primeiro turno, até por respeito a nossa pré-candidatura e aos outros. Dizer que fulano pode estar comigo no segundo turno seria uma agressão aos outros candidatos e pode até parecer arrogante da minha parte.

Durante o evento, o candidato aproveitou ainda para criticar o governo que, segundo ele, faz terrorismo eleitoral ao sugerir que o programa Bolsa Família correria o risco de ser extinto caso a presidente Dilma Roussef não seja reeleita. Os escândalos envolvendo a Petrobras e a situação da companhia, alvos de palavras de ordem proferidas pelos cerca de 150 jovens que participavam do seminário realizado na UFRJ, também foram lembrados pelo candidato.

— Acho completamente equivocada a posição de não ter uma regra para o preço dos combustíveis, que leve em consideração o preço internacional e também o custo de produção no nosso país.

Estamos diante de uma commodity. Quando o governo toma essa posição, o que isso gera? Tira a Petrobras do trilho em que estava porque precisava de gente comprometida que pudesse fazer a blindagem da interferência política. Quando se desrespeita o planejamento estratégico da companhia e deixa a companhia submetida a interesses politiqueiros, tira dela a possibilidade de saber qual é a receita dela e está condenando a empresa a viver o que ela está vivendo.

Preferência partidária tem queda histórica

Cristian Klein – Valor Econômico

SÃO PAULO- A queda de popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff - além de começar a reduzir as intenções de voto da pré-candidata do PT à reeleição, como constatado pela pesquisa CNT/MDA, na semana passada - tem transformado seu mandato numa era dos extremos, com o registro de taxas recordes de eleitores sem preferência partidária e que dizem que votarão em branco ou nulo na disputa presidencial.

A eclosão dos protestos populares de rua, em junho do ano passado, mudou radicalmente alguns dos principais indicadores políticos. Um deles é o que mede a relação da população com os partidos. Pouco antes das manifestações, em março, no auge da popularidade de Dilma, 53% dos eleitores tinham simpatia por alguma legenda. De acordo com levantamentos do Datafolha, foi o ápice da série histórica iniciada pelo instituto em 1989. O auge, no entanto, desde então deu lugar, em apenas 14 meses, a um tombo brusco na preferência partidária que hoje atinge seu menor nível em 25 anos. Apenas 30% dos eleitores, segundo as pesquisas do Datafolha de fevereiro e deste mês, indicam uma sigla preferida - 66% dizem não ter simpatia por qualquer agremiação. Isso coincide com as menores taxas de avaliação de governo registradas no mandato da petista.

No governo Dilma Rousseff também ocorreu a maior lua-de-mel dos eleitores com o PT desde 1989 - com o recorde de 31% de simpáticos à legenda, em abril de 2012 - logo seguida do maior declínio na preferência pelo partido, de 14 percentuais, quando caiu para 17%, quatro meses depois. Neste caso, o tombo se deu em agosto, depois do início do julgamento dos réus dos mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal, e que levou mais tarde à prisão de petistas históricos como os ex-presidentes da sigla José Dirceu e José Genoino.

A queda recorde na taxa de preferência partidária no país, por sua vez, coincide com outro dado que passou a superar, em muito, o registrado em anos eleitorais, desde a redemocratização: o de pessoas que dizem que votarão em branco ou nulo para presidente. À essa mesma época, a seis meses da eleição, o percentual, de acordo com o Datafolha, era de 11%, em 1989; de 12%, em 1994 e 1998; de 8%, em 2002; 7%, em 2006; e de 8%, em 2010. Agora, está em nada menos do que 20%, ou seja, uma vez e meia em relação à última corrida presidencial.

Uma marca no perfil dos desencantados com a oferta de candidatos à Presidência é, justamente, a falta de preferência partidária. Enquanto na média da população, 66% não têm simpatia por qualquer agremiação, entre os que votam em branco ou nulo, a taxa sobe a 80%. Esse grupo, em dado fornecido com exclusividade pelo Datafolha ao Valor, é caracterizado pela presença maior de pessoas do sexo feminino, na faixa entre 35 e 44 anos de idade, com escolaridade média e superior, sem religião, moradoras de capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes, que têm carteira assinada e ganham entre R$ 2.172,01 até R$ 3.620,00.

São estes 20% de insatisfeitos que os presidenciáveis terão que trabalhar mais para conquistar o voto. É um grupo que ganhou corpo com os protestos de junho mas difere do perfil dos manifestantes que foram às ruas, no ano passado. A alta escolaridade até guarda alguma semelhança entre os grupos, mas não a idade, já que a multidão que protestou era formada em sua maioria por jovens, ressalta Mauro Paulino, diretor do Datafolha. "Não são grupos comparáveis", diz.

Paulino afirma que convencer estes eleitores será mais difícil para Dilma do que para os seus adversários: o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB).

Isso porque outra marca do grupo é a maior rejeição à presidente. No eleitorado total, todos os três despertam a mesma taxa de rejeição, de 33%, mas, entre os que votam em branco e nulo, Dilma é mais rechaçada, por 43%, enquanto Aécio é rejeitado por 32% e Campos, por 29%. "Aécio e Campos têm mais chance de convencer esse eleitorado do que Dilma", afirma.

Com o clima de mudança apontado por todos os institutos, analistas chamam a atenção para o aparente paradoxo entre a queda de popularidade de Dilma e a relativa estagnação da intenção de voto de seus adversários - o que começou a ser rompido pelos últimos levantamentos que detectaram subida de Aécio e Campos. Paulino, no entanto, não concorda com a hipótese de que os descontentes com Dilma estariam primeiro expressando o voto em branco e nulo, como um ponto de espera, para depois decidirem pela oposição. "Geralmente, essa migração ocorre para os indecisos", diz.

Para o diretor do Datafolha, a direção destes votos terá a ver com o "legado emocional" da Copa do Mundo. Ou seja, a possibilidade de novas manifestações, a imagem que o Brasil passará ao exterior como país organizador do Mundial e, inclusive, o desempenho em campo da Seleção, o que normalmente é subestimado pelos analistas, mas que desta vez, afirma, pode ter influência.

Paulino lembra que o índice de eleitores que dizem ter mais vergonha do que orgulho de ser brasileiro, 20%, também é muito superior às taxas de 2010 (9%), 2006 (10%) e 2002 (13%), e estão similares aos 19% do pós-junho de 2013. O diretor do Datafolha afirma que a vantagem de Dilma ainda é a situação de pleno emprego, embora a sensação de piora do mercado de trabalho, que derrubou o PSDB em 2002, tenha aumentado.

Financial Times faz crítica dura contra presidente Dilma

Fernando Nakagawa, - Agência Estado

O jornal Financial Times pede um "choque de credibilidade" no Brasil. Em editorial publicado nesta segunda-feira, a publicação afirma que se o governo de Dilma Rousseff não mudar de rumo, as eleições presidenciais poderão resultar em uma mudança. Ao comentar rumores que circulam no mercado, o editorial elogia a possibilidade de um Banco Central independente em eventual segundo mandato de Dilma e a chance de indicação de Alexandre Tombini para o lugar de Guido Mantega.

O editorial tem um tom duro contra a presidente brasileira. "Pobre Dilma Rousseff", inicia o texto. Para o Financial Times, a presidente do Brasil projetava "uma aura tediosa da eficiência de Angela Merkel", mas resulta em um trabalho mais parecido com o dos comediantes Irmãos Marx. "Os preparativos atrasados para a Copa do Mundo já envergonham o País, enquanto o trabalho para os Jogos Olímpicos de 2016 é classificado como ''o pior'' que o Comitê Internacional já viu. A economia também está em queda. O Brasil, uma vez que o queridinho do mercado, vê investidores caindo fora", diz o texto.

"O País precisa de um choque de credibilidade. Se Dilma não entregá-lo, as eleições presidenciais de outubro o farão", diz o texto que cita que o Brasil enfrenta três desafios imediatos: o caso Pasadena da Petrobras, o fornecimento de energia elétrica após a recente seca e a chance de protestos e insucesso da Copa do Mundo.

Apesar do forte tom duro, o jornal dá um voto de confiança à presidente. "Dilma Rousseff é conhecida por falar em vez de ouvir, mas há sinais de que ela mesmo está reconhecendo as críticas", diz o texto. "Fala-se que ela poderia dar independência formal ao BC em um segundo mandato (originalmente, uma ideia de oposição). Ela também pode recrutar o presidente do BC, Alexandre Tombini, para substituir Guido Mantega, o desafortunado ministro da Fazenda. Ambos movimentos seriam bem-vindos", diz o texto.

"Saber se a senhora Rousseff que parece Merkel, mas resulta nos Irmãos Marx é realmente a pessoa certa para colocar o Brasil de volta aos trilhos é outra questão. Afinal de contas, sua primeira administração foi uma decepção. Mas, pelo menos, há sinais de que os mercados do País estão trabalhando como deveriam através da transmissão de uma preocupação generalizada e crescente. Estes estão agora começando a empurrar o debate político em uma direção favorável aos investidores. Isso só pode ser uma coisa boa", diz o texto.

PT dirá a empresários que oposição adotará políticas recessivas

Claudia Safatle e Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - Confirmada a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, o próximo passo da campanha será conversar com os empresários que estão lotando as plateias dos candidatos de oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), para mostrar a eles o que vai significar a saída do PT do poder.

Emissários serão enviados para iniciar essas conversas e aos empresários será dito que se a oposição for vitoriosa nas eleições de outubro será o fim do crédito subsidiado do BNDES, o fim das desonerações da folha de salários, haverá um realinhamento instantâneo dos preços da gasolina e da energia e o programa Minha Casa Minha Vida, que alimenta a indústria da construção civil, também vai acabar.

"Ou seja, eles (Campos ou Aécio) vão dar um cavalo de pau na economia que será recessivo", disse um assessor de Dilma.

Quando usou a rede nacional de rádio e televisão para um pronunciamento em comemoração ao 1º de maio, a presidente Dilma Rousseff falou como candidata. Vestiu tailleur azul, dispensando o vermelho do Partido dos Trabalhadores; definiu de que lado está - "dos mais pobres e da classe média" -; e entrou na disputa com a segurança de que terá o apoio do PT.

O movimento "Volta Lula" já havia sido equacionado em uma conversa dela com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há exatamente um mês, no dia 4 de abril, em São Paulo. Ali, o martelo foi batido: a candidata é Dilma Rousseff. Espera-se, assim, que o crescente apelo para o retorno do ex-presidente esteja estancado.

No Palácio do Planalto o diagnóstico é de que Dilma perdeu um pedaço importante da base de eleitores do governo do PT, que desde Lula tem girado em torno de 42% dos votos, por causa da inflação. Foram os aumentos de preços, sobretudo dos alimentos, que a fez cair para a casa dos 36% a 37% das intenções de voto.

O pronunciamento do 1ºde maio foi destinado a reconquistar esses eleitores. A ideia que Dilma pretendeu deixar clara no discurso foi de que "eu tenho lado e o meu lado é o dos trabalhadores", explicou uma fonte oficial.

Com esse mesmo objetivo, ela anunciou as medidas de correção de 4,5% da tabela do Imposto de Renda, em 2015 (índice abaixo da inflação de mais de 6%); e o reajuste do Bolsa Família.

Assessores da presidente recomendam não buscar no texto do pronunciamento sinalizações para um eventual segundo mandato. Mesmo o compromisso com a valorização do salário mínimo, assumido no discurso, não deve ser lido necessariamente como a manutenção da atual fórmula de reajuste cuja vigência se encerra em dezembro de 2015.

A partir da certeza de que Dilma é a candidata do PT, seu governo começou a mudar de comportamento, disse uma fonte oficial. Por exemplo, reagiu de imediato à tentativa da Cemig, distribuidora de energia de Minas Gerais, Estado governado pelo PSDB de Aécio Neves, de responsabilizar o governo federal pelo aumento de 14,3% da tarifa de energia. Coube à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) responder que, ao contrário, a Cemig queria um reajuste bem mais salgado, de 29,74%, e que à agência reguladora cabe apenas estabelecer um teto para os aumentos de preços.

De agora até as eleições de outubro, a presidente estará voltada para a campanha. Não será encontrado nos seus discursos o que o PT tem chamado de "sincericídio" dos candidatos de oposição, ou seja, a antecipação de medidas duras que terão que ser tomadas na área econômica para recolocar o país na trilha do crescimento.

Não haverá, assim, clareza do que será um eventual segundo mandato de Dilma, embora se saiba que ela também terá que promover ajustes se quiser colher melhores resultados do que os do primeiro mandato. Nesse período o país conviveu com inflação alta e crescimento baixo como produto das escolhas do governo.

Campanha, como lembrou uma fonte próxima à presidente, é para ganhar a eleição. Governar é outra coisa.

Manifesto do PSB preocupa pré-campanha de Campo

• Coordenador de comunicação sugere alteração de documento do partido

• Em convenção, sigla defendeu "socialização dos meios de produção" e imposição de limite à propriedade privada

Italo Nogueira, Daniel Marenco – Folha de S. Paulo

RIO - A coordenação da pré-campanha do presidenciável Eduardo Campos demonstra preocupação com trechos do manifesto do Partido Socialista Brasileiro (PSB) que defendem a "socialização dos meios de produção" e limites à propriedade privada.

Para tentar anular ataques, a coordenação propõe alterar o documento de fundação do partido. Uma mensagem já circula na internet com críticas ao manifesto do PSB, a fim de atingir Campos.

O tema foi exposto em e-mail enviado ontem pelo coordenador de comunicação da pré-campanha, Alon Feuerwerker, ao próprio Campos. A mensagem foi flagrada pela Folha durante evento do pessebista com a Juventude do PPL (Partido Pátria Livre), no Rio.

No e-mail, Feuerwerker reencaminha uma mensagem enviada por um colaborador que descreve o ataque ao partido que circula na internet. O coordenador questiona Campos, presidente nacional do PSB, se é possível alterar o manifesto do partido na convenção em junho.

"Tem como mexer nisso na convenção de junho?", diz o e-mail do coordenador.

O evento será o mesmo em que Campos será oficializado candidato à Presidência, tendo como vice Marina Silva.

A sequência de fotos não mostra a resposta de Campos.

Feuerwerker confirmou o envio do e-mail, mas não quis se estender em relação à preocupação da campanha com o documento. "Apenas reencaminhei um e-mail que recebi. Ele não respondeu."

Procurada, a assessoria de Campos não respondeu às ligações da reportagem.

O manifesto do PSB --partido extinto pela ditadura militar em 1965-- é datado de abril de 1947. Em seu item 7, afirma: "O objetivo do Partido no terreno econômico é a transformação da estrutura da sociedade, incluída a gradual e progressiva socialização dos meios de produção, que procurará realizar na medida em que as condições do país a exigirem".

O programa diz que "a socialização realizar-se-á gradativamente, até a transferência, ao domínio social, de todos os bens passíveis de criar riquezas, mantida a propriedade privada nos limites da possibilidade de sua utilização pessoal, sem prejuízo do interesse coletivo".

Após a refundação da legenda, em 1985, o manifesto foi mantido.

Discurso padrão
A troca de e-mails também traz um texto classificado de "discurso padrão" de Campos, de ataque à política econômica do governo federal. O mote é mostrar que "o Brasil vinha melhorando, e parou de melhorar".

O documento expõe a estratégia do pessebista em apontar o que considera retrocessos da gestão Dilma Roussef no combate à inflação, à desigualdade social e no crescimento do país.

"Achávamos que tínhamos derrotado a inflação, e vemos a inflação bater à porta dos assalariados. É um Brasil que achava que havia terminado o tempo de crescer pouco, e o país volta a crescer menos que a América Latina e o mundo", disse Campos à Juventude do PPL, reproduzindo roteiro. O pessebista afirmou que o país perdeu "o rumo estratégico".

"Em 2010, saímos da crise usando os remédios keynesianos clássicos que animaram a economia. Talvez ali não fizemos um debate de profundidade, de ter uma pauta estratégica além de ganhar a eleição. Parecia que a presidenta ia fazer isso em 2011, mas não fez. Houve o contrário. Cresceu a sensação de que as mudanças para melhor foram interrompidas", disse Campos. Ele criticou o controle do preço da gasolina para segurar a inflação.

"Dilma está perdendo a condição de ser candidata"

Entrevista - Antônio Lavareda - Cientista político e diretor-presidente da MCI Comunicação

Especialista em marketing eleitorale comunicação institucional, o cientista político Antônio Lavareda considera a eleição de outubro a mais imprevisível desde a volta do país à democracia. E aponta dificuldades especialmente no caminho da presidenta Dilma Rousseff. Em sua opinião, a reeleição de Dilma está ameaçada por três fatores: a popularidade em baixa, a percepção pessimista dos eleitores sobre os rumos da economia e o desgaste do PT, após quase 12 anos no poder. Essa, diz, é a explicação para a queda da presidenta nas pesquisas de opinião. Além disso, ela enfrenta forte rejeição do mercado financeiro. "Desde 1989, era das eleições presidenciais democráticas no Brasil pós-ditadura, nunca houve um candidato que tenha sido eleito ou reeleito sob o antagonismo manifesto do mercado", constatou Lavareda, em entrevista ao Brasil Econômico. Com base nessa equação, afirma que "Dilma está perdendo as condições de ser candidata" e pode ser substituída pelo ex-presidente Lula até as convenções de junho. "Se o declínio nas pesquisas continuar, será extremamente difícil o PT deixar no banco de reservas sua principal estrela". Ele não chega a cravar uma aposta na oposição, mas ressalta que Aécio Neves e Eduardo Campos são identificados com o desejo de mudança por serem "candidatos do Século 21".

Eduardo Miranda, Octávio Costa e Paulo Henrique de Noronha – Brasil Econômico

Como o sr. está vendo o cenário eleitoral, como crescimento de Aécio Neves na última pesquisa de intenção de votos?

O americano Thomas Holbrook (cientista político e professor da Universidade Wisconsin Milwaukee), estudando fatos que vêm antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos — um país onde o processo eleitoral tem uma série histórica mais longa, que permite inferir as estatísticas de forma mais robusta — elegeu três variáveis como as mais importantes para segurar, ou não, a reeleição de um incumbente (titular do cargo) à Presidência.

Quais são essas variáveis?

A primeira é a popularidade do governante; a segunda, a percepção da população sobre a economia; e a terceira, o tempo que o partido do incumbente está no poder. Do ponto de vista da popularidade, Dilma está vendo aproximar-se o início da campanha eleitoral em viés perigosamente de baixa de sua avaliação positiva. As medições mais recentes apontam apenas 33% de ótimo e bom, contra 31% de ruim e péssimo. É um percentual baixo. Em segundo lugar, a percepção da economia, que neste momento é predominantemente negativa: 79% dos brasileiros dizem que o custo de vida aumentou nos últimos seis meses, segundo a pesquisa CNT/ MDA. Sendo que 70,8% dizem que o principal item cujos preços viram aumentar nos últimos seis meses foi a alimentação. Ou seja, a inflação chegou à mesa dos brasileiros, e isso tem um potencial de produzir irritação muito grande. Ainda pela proposição do Holbrook, quanto mais tempo um partido passa no poder, menos chances terá o incumbente de se reeleger. Nos EUA, de 1952 para cá, em todas as eleições realizadas à época da televisão, somente uma vez um partido conseguiu uma sequência de três mandatos. Foi o Partido Republicano, que elegeu Ronald Reagan em 1980, reelegeu-o em 1984 e conseguiu eleger seu vice-presidente, George Bush (pai), em 1988. Mas não conseguiu produzir um quarto mandato: Bush perdeu para Bill Clinton em 1992. Assim, levando em conta essas três variáveis, vê-se que o cenário é bastante adverso, hoje, para a presidenta Dilma. Seria preciso que a economia melhorasse substancialmente, levando junto a percepção da população, e tudo isso se refletisse em sua popularidade. Mas é difícil que ocorra.

O tempo é curto, de três, quatro meses...

E há outro fator, que emite um sinal ainda mais preocupante para Dilma. Desde 1989, era das eleições presidenciais democráticas no Brasil pós-ditadura, nunca houve um candidato que tenha sido eleito ou reeleito sob o antagonismo manifesto do mercado. Há uma manifestação objetiva e cotidiana do mercado nos índices da bolsa de valores. Sintomaticamente, todas as vezes em que a presidenta Dilma tem enfrentado dificuldades e assistido à queda de seus índices de preferência, a bolsa de valores tem subido, automática e simetricamente. Isso é inédito. Não estou dizendo que o mercado indica o presidente, mas que, até hoje, não houve um candidato ou presidente vitorioso que tivesse um visível antagonismo do mercado. Em 1989, quando Fernando Collor começou a crescer, o mercado assistiu à sua ascensão aliviado, pois não queria Brizola e muito menos Lula. Em 1994 e 1998, o mercado assistiu e refletiu a satisfação com a ascensão de Fernando Henrique. Em 2002, até maio, o mercado tinha hostilidade com relação ao pré-candidato Lula, mas, exatamente por isso, ele confeccionou a "Carta ao Povo Brasileiro". A partir de junho, tanto a oposição a Lula na mídia impressa quanto o próprio mercado arrefeceram na hostilidade ao candidato. Em 2006, podemos dizer que o mercado preferia A ou B, mas não havia sinais de hostilidade a Lula. Em 2010, o mercado até assistia, com boa vontade, o crescimento da candidata de Lula, então com 75% de avaliação em ótimo/bom e, sobretudo, comandando o país em uma fase de crescimento do PIB de 7,5%, sob os aplausos e a felicidade em larga latitude do mercado. Agora, pela primeira vez, temos um candidato à reeleição sobre quem o mercado manifesta desapreço.

Seria o caso de ela fazer uma nova "Carta aos brasileiros"?

Essa questão da carta era adequada a um candidato fora do poder. Para Dilma, essa recomposição com o mercado teria de ser sinalizada de forma mais objetiva. Por exemplo, pela substituição do ministro da Fazenda por um nome mais sintonizado com o mercado, um Henrique Meirelles da vida, em relação ao qual ela se comprometesse a garantir o máximo de autonomia e, sobretudo, sua permanência em um eventual segundo mandato. Mas isso não tem ocorrido, e ela está perdendo tempo. E o pacote de 1º de maio é um fator que agrava ainda mais a situação da presidenta com o mercado.

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