segunda-feira, 28 de julho de 2014

*Paulo Brossard: Mexer em eletricidade pode dar choque

- Zero Hora (RS)

Foi amplamente divulgado que 35 empresas do setor elétrico eram devedoras à União de R$ 3 bilhões, e chamava a atenção a circunstância de a revelação ter o abono do advogado geral da União, que, obviamente, é possuidor de informações que o comum dos mortais não possui. Com todas as letras, foi dito que a atualização de tarifa dar-se-ia em dezembro, ou seja, após as eleições, reconhecido que praticamente todos são consumidores de energia elétrica, desde o grande industrial até o operário mais modesto; a técnica foi denominada de "preços administrados".

Ora, entra pelos olhos de um cego que o expediente apenas adia determinada medida de natureza inevitável, de modo que o adiamento agrava o problema, pois, na hora de trazê-lo à realidade, sua dimensão cresceu. É elementar que o poder pode muito, mas não pode tudo. O problema não será de R$ 3 bilhões, mas superior a R$ 7 bilhões, como foi divulgado. Não tenho elementos para pronunciar-me nem teria por que fazê-lo.

Não é segredo que o adiamento da revisão de tarifa em causa foi a maneira encontrada pelo governo, não porque fosse justa ou plausível, mas para não embaraçar a reeleição da presidente da República. E aí está uma das razões pelas quais é inconveniente a reeleição dos cargos executivos, aliás, vedada desde a Proclamação da República.

Merece ser lembrada a apregoada competência profissional da senhora presidente em matéria de energia elétrica, e agora, por ironia das coisas, lhe cai no colo o problema de dimensões nacionais que mais se agiganta quanto mais tempo decorre em resolvê-lo.

Se é exata a versão proclamada de ser a senhora presidente a suma doutora quanto aos segredos da energia elétrica, como e por que ter deixado de solucionar o problema, que não ocorre de inopino, para que ele viesse a infernizá-la exatamente quando é nada mais nada menos que a chefe de Estado e do governo, detentora da última palavra a respeito.

Se a situação das empresas devedoras não é lisonjeira, melhor não é a do governo, que deixou o caso chegar ao ponto a que chegou.

Ao final, quem vai pagar essa conta serão os consumidores. Diz a sabedoria popular que mexer em eletricidade sem entender pode dar choque...

*Jurista, ministro aposentado do STF

Tito Costa*: Antes, era a Arena. Agora, o PT

• Em artigo, advogado e ex-deputado fala sobre os autores da cena política

- O Estado de S. Paulo

Quando os militares assumiram o poder em março de 1964, puseram de lado a Constituição e passaram a legislar por meio de Atos Institucionais, criação da mente privilegiada de Francisco Campos, o Chico Ciência. O Ato Institucional nº 1 aboliu garantias constitucionais, especialmente o habeas corpus, autorizou a cassação de mandatos eletivos e de direitos políticos, entre tantas outras restrições. O AI nº 2 extinguiu os partidos políticos então existentes, e eram muitos, tal como hoje. Necessitando de um instrumento político para governar, ainda que garroteado, e salvando as aparências, permitiu o governo militar, por esse AI-2, a criação de duas entidades com finalidade de partidos políticos, mas sem o nome de partido: surgiram a ARENA – Aliança Renovadora Nacional (de apoio ao governo) e MDB – Movimento Democrático Brasileiro (acolhendo as oposições).

A ARENA dominou a cena política elegendo, nas poucas eleições então permitidas, grande maioria de representantes seus em diversos postos do poder executivo (menos o federal, claro) e nos legislativos. Essa hegemonia perdurou nos dez primeiros anos da instalação do governo castrense. Em 1974, já aflorando os primeiros sinais de cansaço natural em relação a um poder opressivo, houve clara reação popular, com manifestação nas urnas que apontavam para o rumo, digamos, de renovação. Então, o MDB elegeu governadores, prefeitos, parlamentares em expressivas maiorias, sinalizando o desejo de mudança de uma sociedade já meio desiludida em relação aos excessos do poder dominante, com perseguições, prisões, tortura nos dissidentes, e o clamor público, embora contido, expressando seu inconformismo pela via do silêncio das urnas.

Surgiu então, por volta do final dos anos setenta, inicio dos anos oitenta, meio que no apagar das luzes dos governos militares, quando já circulavam promessas de abertura, lenta e gradual, um movimento nascido no ABC paulista gerado por greves ruidosas sob o comando daquele que, liderando-as, viria a ser, mais adiante, o principal fundador do PT, o Partido dos Trabalhadores. Chegava Lula empolgando multidões não apenas de trabalhadores, mas também da sociedade em geral, a intelectualidade e o meio artístico deslumbrados com o despontar carismático do líder operário.

Abro aqui um parêntese para destacar fatos que marcaram esse tempo de violência e incertezas, como os ocorridos a partir do dia 23 de março de 1979, em que se deu a intervenção no Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Bernardo pelo Ministro do Trabalho Murilo Macedo. O ato intervencionista ocorreu na madrugada dessa sexta-feira e encontrou Lula em vigília na sede do Sindicato, onde passara toda a noite, de plantão, em companhia do então deputado e escritor Fernando Moraes. Na véspera do dia da intervenção, prevenido por certo de que ela ocorreria, pediu-me Lula, por telefone, ajuda para remoção da sede do Sindicato, de alimentos ali estocados, aguardando pelo pior que poderia ocorrer, como de fato ocorreu. Mandei-lhe caminhões da prefeitura para retirar dalí a carga preciosa, que foi levada para uma igreja cedida especialmente para o seu garantido resguardo. Expliquei-lhe que não poderia acolher esse material em dependências da prefeitura. Despertado por telefonema dele, nessa madrugada, dirigi-me imediatamente à Delegacia de Polícia local onde já se encontravam presos alguns trabalhadores. Na companhia do Delegado do DOPS, o simpático e saudoso bragantino Dr. Nivaldo, dirigimo-nos à sede do Sindicato totalmente cercada por tropas militares. Ali encontramos Lula e o Fernando Moraes naturalmente surpresos e assustados. Dali voltamos à Delegacia onde havia detidos. Mais tarde, à boa moda brasileira, resgatados, Lula foi levado para esconderijo numa igreja no subdistrito do Riacho Grande.

Nesse mesmo 23 de março de 1979, à tarde, na praça em frente ao Paço Municipal onde se realizava uma assembléia do Sindicato, houve violenta intervenção militar com a natural reação dos participantes do evento. Registre-se que a reunião ali ocorria pelo fato de o Estádio de Vila Euclides, cedido pela prefeitura para as reuniões dos grevistas, havia sido interditado por ordem do então governador Paulo Maluf, nomeado pelo governo militar. Almoçando em meu apartamento com alguns jornalistas, por volta das treze horas, fui chamado às pressas para o local da assembléia e aí, enfrentando o tumulto, procurei o comandante da operação e me ofereci, como prefeito, para impedir que prosseguisse, com as possíveis consequências de feridos ou até mesmo mortos, que não houve. E então, sem nenhuma intenção de assumir a prática de improvisado ato de bravura, e com a devida permissão do então comandante da operação repressiva, o coronel Walterdimas Rigonato, subi na capota de seu veículo oficial, ali a serviço, e com o microfone por ele cedido, busquei conter a multidão, o que foi conseguido com a ajuda do então Bispo de Santo André, dom Claudio Hummes , chegado, providencialmente, ao local naquele momento. O fato está registrado pela mídia que lhe deu o devido destaque nos dias que se seguiram. Nesse mesmo ano de 1979, por ocasião do Natal, fiz visita ao coronel Rigonato em seu quartel e, então, já refeitos do susto, brincou ele dizendo que iria cobrar da prefeitura de São Bernardo os estragos feitos na lataria do veículo pelo pisar dos meus sapatos.

Foi assim que, como prefeito de São Bernardo, participei, juntamente com lideranças da Igreja e de destacados políticos do MDB, de tratativas com o poder dominante no sentido, principalmente, de evitar consequências mais graves das que já vinham ocorrendo em razão do inconformismo dos grevistas e dos evidentes excessos , comuns na época, na atuação de autoridades, tanto civis, quanto militares.

Mais adiante, acompanhei, à distância, o nascimento do PT, na década de 80, assumindo posição ao lado dos trabalhadores e, não sem os riscos naturais do enfrentamento do status quo reinante, sem a ele filiar-me.

Feita essa digressão, necessária para registro de fatos que fazem parte da história de nossos dias, e de um tempo importante na abertura política que viria mais t arde, volto o foco ao PT que, já atuante em busca do poder, com apoio de sua expressiva militância (atualmente com deserções e muitos desapontamentos). Como é sabido, após duas ou três tentativas nas urnas, agora com as liberdades à solta, a partir de 1985, e depois sob o manto da Constituição Cidadã de 1988 (Ulysses Guimarães), chega o ano de 2002. Vem a mudança de governo pelo voto popular, Lula e PT anunciando representar o novo, assumem o buscado poder e ele se torna presidente da República, para continuar em 2006, reeleito. Em 2010, com a tônica da continuidade de um governo popular, como “nunca antes, na história deste país”, prosseguiu o PT no governo central, elegendo a sucessora imposta por Lula ao partido que acolheu a candidata “mascando o freio” como se diz no linguajar caboclo.

Estamos agora em 2014. O desgaste petista no poder é evidente: escândalos, processos, mensalão, roubalheiras, prisões, a Petrobrás, empresa orgulho do Brasil, posta na berlinda com as inexplicáveis compras bilionárias de usinas nos Estados Unidos, no Japão, e tantos abusos mais, tudo a evidenciar aquilo que na Física se chama resistência e fadiga dos materiais. Nas ruas sente-se claro o desejo de estancar a ladroagem, de conter a inflação, de desmascarar os projetos caríssimos, muitos inacabados do tal PAC, obras incompletas e abandonadas, seus custos superfaturados, com a drenagem criminosa de recursos públicos desviados dos projetos a que se destinariam. A economia à deriva, nosso PIB claudicante, e o povo, impaciente, vem a tudo assistindo, perplexo, impotente, descrente, desiludido. E quer mudança, de preferência sem continuidade do governo atual, revelam aflorados sentimentos e pesquisas.

Reedita-se agora, em situação diversa, mas semelhante, o antigo descontentamento da sociedade em geral com a velha ARENA, no distante ano de 1974. Após dez anos de sua predominância político-administrativa, foi substituída, na eleição e em parte, pelo velho MDB, o legítimo, até então fiel às suas origens e aos seus propósitos. Veio depois o PMDB, agora como partido político, fiel até então ao seu destino, porém antes de sua notória e lamentável deterioração política, depois atrelando-se ao que há de pior nos quadros políticos brasileiros. Claro, com as exceções de sempre.

Há fantasmas agora rondando a combalida fortaleza petista. O movimento pendular da História tende a registrar os limites de exaustão na paciência da sociedade em relação a desmandos, alta inflação, economia em recesso, desenvolvimento em baixa. E assim, esgota-se a capacidade de tolerância de todos e de cada um, nos mais variados segmentos da sociedade, nas urgências dos apelos por respeito e dignidade no trato da coisa pública.

Tal como aconteceu em 1974, dez anos após o advento do poder militar, a ARENA, entidade de sustentação ao governo, esgotada a munição que garantia sua superioridade política, até certo ponto artificial, cedeu a vez ao MDB. Agora é o PT, partido no comando da Nação há doze anos, que protagoniza o desgaste próprio do mau exercício do poder na linha inversa do comando constitucional a exigir da administração pública, direta e indireta, obediência aos princípios da moralidade e transparência, entre outros. Bem por isso, passa a arcar com as consequências de seu negativo desempenho. Ficou, lá atrás, o tempo da todo poderosa ARENA. Esgota-se agora a força petista com seus conhecidos abusos na administração pública e até mesmo certa arrogância impulsionada pela certeza de vitórias ainda a perseguir, como se fosse senhor absoluto de alardeadas virtudes que por momentos procurou ostentar sem praticá-las. Alguns, verdadeiros “aloprados”, como os definiu alhures seu chefe supremo.

Autorizadas vozes de dentro do poder petista reconhecem os desajustes de sua atuação frente aos reclamos da sociedade e registram a necessidade de “um rigor interno ético muito grande” que se destinaria “a mudar o indutor da corrupção”, ainda firme nos mais variados escalões do poder, especialmente o central. Do lado de fóra, nos grandes, médios e pequenos municípios do Brasil, nos táxis, nas feiras, nos trens, nas filas de ônibus, nas estações do Metrô e, durante a Copa de futebol, nas gritas dos estádios, a voz é uma só: o cansaço, a exaustão, a paciência do povo revelando sinais evidentes de esgotamento, de desencanto, e a esperança de mudanças adentrando o pessimismo na economia, o desabrochar de novas ondas de desemprego em escala alarmante, ao ponto de prestigiosas lideranças trabalhistas reclamarem que o PT estaria virando as costas aos trabalhadores.

Enfim, avaliações mais negativas que positivas de um eleitorado descrente de tudo aquilo de bom e de mudanças com que lhe acenava o partido em sua chegada ao poder. E, de dentro do poder, com os desentendimentos próprios de grupos que se digladiam, na possível surdina dos gabinetes, afloram preocupantes sinais de uma sempre buscada tentativa de garroteamento dos meios de comunicação, assim como a já decretada instituição de “conselhos” para gerir a administração pública, pela via da inconstitucionalidade. Sempre com a presença deletéria de conhecidos delírios esquerdizantes apostando e insistindo numa adoção cabocla de bolivarismo soprado por ventos advindos de vizinhos nada confiáveis. E nossas conquistas democráticas resistindo até onde seja possível resistir diante da enganação de perseverante marquetagem, a ludibriar incautos e distraídos das ameaças a liberdades duramente conquistadas.

Mas, há tempo para o despertar de uma aparentemente silenciosa indiferença popular. Oportunismos de praxe que se agregam ao poder, seja ele qual for, tangidos por indecorosa e momentânea conveniência política, podem manter-se alheios ao interesse da sociedade, como um todo, indiferentes ao perigo que nos ronda em face da pretendida continuidade de um poder desgastado e desmoralizado. Não será demais apontar a estes as consequências da indiferença, como lembrado nos versos de Eduardo Alves da Costa em seu festejado “No Caminho com Maiacóvski”: “Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor de nosso jardim/E não dizemos nada./Na segunda noite, já não se escondem:pisam as flores, matam nosso cão,/e não dizemos nada./Até que um dia,/ o mais frágil deles/entra sozinho em nossa casa/rouba-nos a luz,e,/conhecendo nosso medo/arranca-nos a voz da garganta./E já não podemos dizer nada”.

No caso ora enfocado, poderíamos substituir a palavra medo do poema por indiferença de alguns. Ou, talvez, egoisticamente, conveniência para outros tantos. Mas o desastre poderá ser inevitável, para todos.

*Tito Costa, advogado. Prefeito de São Bernardo do Campo (1977-1982). Deputado federal constituinte (1988).

O eleitor está revoltado e crítico"

• Entrevista - Mauro Paulino: Diretor-geral do Datafolha Instituto de Pesquisas

À frente do Datafolha Instituto de Pesquisas há 16 anos, o sociólogo Mauro Paulino afirma que esta eleição será imprevisível, e com características únicas, por ser a primeira após as manifestações de junho do ano passado, que geraram enorme má vontade do eleitor com a política. "Hoje há uma rejeição aos políticos e aos partidos que talvez só se compare à época do impeachment do Collor. O Datafolha aponta que 67% dos eleitores não têm preferência por nenhum partido, é um recorde histórico", conta. Este ano, acredita Paulino, a eleição não será tão dominada por temas econômicos quanto em 2010. "A economia é importante, mas divide a atenção com a exigência por melhores serviços públicos". Paulino avalia que a presidenta Dilma Rousseff deveria investir numa vitória em primeiro turno. "Se for para o segundo turno, a possibilidade de ser uma campanha muito acirrada é maior", alerta o sociólogo, que se incomoda com a especulação na bolsa de valores sobre as pesquisas eleitorais: "É pura jogatina".

Leonardo Fuhrmann / Priscilla Arroyo - Brasil Econômico

Quem vence a eleição presidencial deste ano?
É uma eleição bastante imprevisível, com características diferentes. Em dezembro de 2009, a então candidata Dilma Rousseff estava bem atrás de seu adversário tucano, José Serra. Mas fizemos um exercício com o poder de transferência de votos do Lula e chegamos à conclusão de que, no mínimo, ela iria empatar com o Serra. Mas nessa eleição não dá para fazer um exercício como antes. Em 2010, havia um desejo de continuidade da população, com um candidato de oposição conhecido, o Serra, e uma candidata da situação desconhecida, Dilma. Hoje, a situação é inversa. Há um desejo amplo, de 74% do eleitor, por mudanças; uma candidata do governo conhecida; e dois candidatos da oposição desconhecidos. A taxa dos que conhecem muito bem Dilma é de53%. No caso do Aécio, 17%. Tem uma avenida a ser percorrida pelos candidatos de oposição para serem conhecidos e passar suas mensagens.

O que esse desejo de mudanças significa?
Os três candidatos colocaram apalavra mudança no slogan. Esse desejo não é só em relação ao governo, e sim uma vontade do eleitor de os políticos agirem de outra forma. Hoje há uma rejeição aos políticos e aos partidos em geral que talvez só se compare à época do impeachment do Collor. O Datafolha aponta que 67% dos eleitores não têm preferência por nenhum partido, é um recorde histórico.

Isso seria um resquício das manifestações de junho de 2013?
Certamente. Junho de 2013 foi um momento muito rico e de importância fundamental no desenvolvimento da cultura política do brasileiro. O cidadão vem exercitando o voto a cada dois anos e se conscientiza gradativamente sobre o significado de votar. Isso é o desenvolvimento da democracia, que ainda é muito jovem. A conscientização do eleitor cresce em uma velocidade muito mais rápida que a dos políticos em geral. Isso acaba acarretando essa rejeição aos partidos. Até mais importante do que a quantidade de pessoas que foram às ruas, foi o número das pesquisas, que apontaram que mais de 80% da população apoiavam as manifestações.

Não é um contrassenso as pessoas continuarem votando nos mesmos políticos, uma vez que não acreditam mais neles?
A oferta de políticos não deixa muita escolha, as pessoas acabam votando por exclusão. Os anseios que se manifestaram em junho não são contemplados. Desde 2008, o principal problema apontado no país, com respostas espontâneas, é a saúde pública. Mesmo em meio à polêmica, o Programa Mais Médicos tinha o apoio de 51% da população no seu lançamento. O que havia de indignação antes das manifestações, caminhou para algo que podemos chamar de revolta. Teve um episódio naquela época muito significativo: no segundo dia de manifestações, a imprensa transmitia ao vivo a pancadaria da polícia em jovens de classe média. No programa "Brasil Urgente", da TV Bandeirantes, o José Luiz Datena apresentou uma enquete para saber se a população era a favor do movimento, mesmo com a violência, e 60% disseram que sim. Então ele repetiu a pergunta, fez um discurso para tentar induzir a resposta, mas aumentou ainda mais o número de favoráveis. Essas enquetes não têm valor científico, mas foi significativo o fato de o público do Datena responder dessa forma. Por conta disso, ele mudou o discurso.

Essa indignação se reflete no número de 13% de votos brancos e nulos, e 14% de indecisos? Essa é uma taxa considerada alta?
A taxa de 27% de eleitores sem candidatos é inédita neste período da eleição. Quando comparamos com eleições anteriores, ficava em torno de 12%. Esse é um dos indícios de que o eleitor está revoltado e crítico.

Que outros indícios são importantes?
Hoje temos a maior taxa de eleitores que não têm um partido de preferência, 67%. Pela primeira vez, a maioria dos eleitores se mostra contra o voto obrigatório. E a maioria não votaria senão fosse obrigatório. Quando observamos esses números em cidades com mais de 200 mil habitantes, eles aumentam muito. O eleitor está mais desconfiado da política, principalmente nas capitais e centros urbanos.

Essa desconfiança tende a crescer?
Há uma grande parcela do eleitorado buscando mudanças, que ainda não enxerga na oposição a concretização disso e nem vê claramente no governo um vetor de mudança. Desde a semana passada, começou a exposição maior das campanhas.

Como os candidatos se comportarão em relação a essa demanda?
Esta é uma eleição na qual o marketing político terá um papel fundamental. Cada um dos três principais candidatos tem uma mensagem a passar muito específica. A de Dilma é mudar sem perder o que já foi conquistado. A de Aécio, de que ele faz a oposição mais explícita ao governo, mas tem que se defender da imagem negativa do segundo mandato do Fernando Henrique Cardoso — que é um cabo eleitoral negativo, mais tira votos do que agrega. Eduardo Campos tem a missão mais difícil, que é fazer oposição a Dilma sem criticar Lula, e ao mesmo tempo convencer o eleitor da Marina Silva que está em sintonia com suas ideias. E a oposição ainda tem que se tornar conhecida.

Na eleição passada, Serra abandonou Fernando Henrique. Mas parece que Aécio não pretende fazer o mesmo. Como é possível trabalhar a imagem dessa parceria?

Isso é um risco para a campanha de Aécio. Mostrar a imagem de Fernando Henrique e se remeter Aos governos dele pode ser negativo. Tanto que, na primeira inserção, a campanha deu sinais de que não irá usar tanto isso.

Eduardo Campos tenta colar na imagem do Lula e se afastar de Dilma, o que até parece uma questão simples, só que Lula e Dilma estão juntos...

O Lula está explicitamente mostrando que Dilma é a candidata dele. Ele não tem a mesma força de transferência de votos que esbanjava em 2010, mas ainda é o maior cabo eleitoral do país. E Dilma tem um tempo de televisão farto. Embora isso não garanta a vitória. Ulysses Guimarães, que tinha 20 minutos em 1989, ainda assim não conseguiu passar sua mensagem. Às vezes, muito tempo de televisão pode-se voltar contra o candidato.

Mas hoje não existe uma diferença por conta das inserções?
Sim, a inserção é mais importante que o horário político. Até porque, mais do que nunca, os políticos não são bem-vindos às casas hoje. O horário político fixo deve perder muita audiência depois da primeira e da segunda semana. Já era assim, mas será intensificado nesta eleição, pois ninguém está com vontade de receber os políticos em casa.

Dilma e Aécio já sinalizaram que travarão uma batalha de números na televisão. A petista deve comparar as taxas de juros e a inflação como último governo de Fernando Henrique, enquanto Aécio deve utilizar os últimos números fracos da economia. Como isso será visto pela população?
Esse é o grande embate: a forma como cada um vai comunicar os vetores que vão definir a eleição. Vai levar vantagem aquele que souber conversar como eleitor de uma forma mais natural e factível.

Lula vai participar da campanha de Dilma e deve esbanjar carisma na televisão. Isso se refletirá em vantagem para a petista?
O maior trunfo da campanha da Dilma será o Lula. Normalmente, a propaganda na televisão melhora a avaliação do governo. Dilma vai passar a mostrar seus feitos de forma atraente e é fundamental que ela melhore a taxa de aprovação, hoje em 32%, para vencer no primeiro turno. Há um estudo que mostra que, quando o candidato tem uma taxa de aprovação de até 34%, não vence eleição.

A campanha dela prioriza a vitória no primeiro turno?
Essa é a maior chance de vitória da Dilma. Se for para o segundo turno, a possibilidade de ser uma campanha muito acirrada é maior. A reeleição é um plebiscito — ou a população aprova, ou não aprova. As principais simulações de segundo turno mostram que o aperto é cada vez maior.

Dilma vem se mantendo com cerca de 35% da preferência do eleitor, enquanto Aécio na ultrapassa os 23%. É uma situação confortável para o PT, ou já pode ser considerada um sinal de alerta?
A Dilma permanece como favorita para ganhar no primeiro turno, mesmo com a queda de popularidade. Por outro lado, quando observamos a evolução da avaliação do governo Dilma,ela voltou para o patamar mais baixo, verificado durante o período das manifestações do ano passado (32%). A probabilidade de ter segundo turno é de 50%.

As pesquisas tendem a mudar com o horário eleitoral?
Isso varia. Em 2002, era uma disputa entre Serra, Ciro Gomes (então no PPS), Lula e Anthony Garotinho (na época no PSB). A partir do horário eleitoral, Ciro Gomes passou a crescer muito e encostou no Lula, mas deu uma declaração ruim em relação à atriz global Patricia Pillar (sua mulher naquele período) e despencou. Em 2010, Dilma era desconhecida e, na medida em que teve o nome vinculado a Lula na televisão, conseguiu ultrapassar Serra. É possível que, neste ano, o horário eleitoral também funcione dessa forma

"O eleitor hoje é pragmático, quer melhoria na sua vida"

O Datafolha aponta que 45% dos eleitores acreditam que a Copa foi favorável a Dilma. O que o sr. acha?
A Copa não vai pesar nada. A expectativa de caos nos aeroportos e de uma organização ruim acabou se revertendo. Fizemos pesquisas antes da Copa, durante, e depois que terminou. Notamos que, durante o evento, os brasileiros se mostraram com mais orgulho do Brasil em meio ao sucesso da organização. A taxa de vergonha de ser brasileiro, que havia chegado a 27% antes da Copa, se reverteu. Coma derrota da seleção, esse e outros indicadores sobre o evento voltaram ao patamar do começo.

Então o sucesso da organização acabou anulando a derrota histórica da seleção?
Sim, acabou sendo um zero a zero. Houve uma movimentação durante o evento. O ânimo do brasileiro melhorou, uma vez que a perspectiva de caos se tornou festa.

O que sai como plataforma possível das manifestações de rua para os candidatos?

Nas eleições anteriores, o comportamento da economia ditava a conduta do eleitor. Isso continua importante, mas divide a atenção do eleitor e a formulação do voto com a exigência por um melhor padrão de serviços públicos, especialmente na área de saúde. O eleitor hoje é pragmático, quer melhoria na vida.

É por isso que vimos tantas voltas na discussão sobre o Mais Médicos?
O programa foi criado para dar resposta a essa demanda pela melhora no setor de saúde. A partir do seu lançamento, a taxa de eleitores que citam a saúde como principal problema vem caindo. Ela saiu de um patamar de 50% e hoje está em 38%. Isso é um reflexo da boa avaliação do Mais Médicos.

Eduardo Campos colocou entre suas prioridades de campanha a bandeira para que 10% do Produto Interno Bruto sejam investidos em saúde. Isso pode ajudar a angariar votos?
As propostas têm de ser factíveis. O eleitor vai observar isso também. Ele precisa demonstrar de onde vai tirar recursos para chegar a esses 10%. Em um primeiro momento, ele pode estampar essa proposta no horário eleitoral gratuito e agradar, mas, se no debate ele for questionado sobre o assunto e titubear, pode perder o que ganhou.

O sr. falou dos impactos dessa rejeição aos políticos no plano nacional. Essas questões aparecem também nos estados?
Sim. Mas em São Paulo é um pouco diferente, pois existe uma relação muito próxima do eleitorado com os governos do PSDB, principalmente no Interior. E, também, os candidatos de oposição ainda não são conhecidos. O eleitor acorda para a eleição estadual mais tarde, a partir do horário eleitoral, quando percebe a necessidade de escolher governador, deputados e senadores. Grande parte dos eleitores não acordou ainda para a eleição. Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin sai com favoritismo grande, de 56%das intenções de voto, para ganhar no primeiro turno. No entanto, existe a preocupação coma falta de água e a violência urbana. Temos ainda um terço dos eleitores que não escolheu candidatos em São Paulo, é uma taxa recorde. No Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (ex-governador) foi tirado da disputa política deste ano como reflexo das manifestações. O Rio é uma cidade mais crítica e politizada, busca mais mudanças. Foi onde a ex-ministra Marina Silva, então candidata à Presidência pelo PV, teve mais votos em 2010. São Paulo é mais conservador.

Essa relação do eleitor de São Paulo como PSDB mexe com a decisão do Paulo Skaf (candidato a governador pelo PMDB) de não querer fazer campanha para a presidenta Dilma Rousseff?
Sim, pois São Paulo é um dos estados onde se tem a maior rejeição aos governos do PT.

Isso explicaria o fraco desempenho do ex-ministro Alexandre Padilha, que tem 4% das intenções de voto, para o governo paulista?
Não, é mais pelo desconhecimento da população. Ele vai se apresentar no horário eleitoral. O prefeito Fernando Haddad, neste mesmo momento da eleição, tinha 3% das intenções devotos. Durante a campanha, ele foi lentamente sendo conhecido e, quando foi relacionado ao Lula, acabou ganhando a eleição. O Padilha pode se transformar em uma candidatura forte.

E o Skaf?
Ele já aproveitou muito tempo de televisão com as propagandas da Fiesp (entidade da qual é presidente licenciado) e chegou a esse patamar (16% de intenção de voto) graças a essa exposição. Conseguiu ainda um tempo de televisão considerável e tem um marqueteiro de primeira linha, o Duda Mendonça. Pode se consolidar, nas primeiras três semanas de horário eleitoral, como uma alternativa viável para derrotar Alckmin. Pode ser que o eleitor do Padilha pratique o voto útil, uma vez que Skaf pode se tornar o candidato mais viável para vencer Alckmin.

Enquanto em São Paulo Alckmin é o favorito, no Rio a disputa está bem acirrada, com Garotinho e Crivella empatados. Mas Garotinho tem uma taxa de rejeição de 39%. Isso pode se traduzir em vantagem para o Crivella?
Sim. E também o Rio tem um percentual de evangélicos acima da média nacional. Então, o Crivella teria duas vantagens, embora os evangélicos estejam divididos entre os dois candidatos. O Rio é um estado que guarda surpresas.

A questão da queda da popularidade de Haddad vai pesar para o PT em São Paulo?
Não diria isso. A avaliação do Haddad é reflexo em boa parte dessa resistência do paulistano ao PT. Desse sentimento de revolta e contestação aos políticos, que é maior em grandes cidades, especialmente São Paulo.

Dilma perdeu seis pontos percentuais de popularidade no Nordeste, que é a região onde tem a maior parte do eleitor, de 49%. Isso é preocupante?
Não. Temos que relativizar as variações por região, porque a margem de erro é maior. A grande questão em relação ao Nordeste é como o Eduardo Campos vai se comportar, se vai conseguir extrapolar as fronteiras de Pernambuco, superar um certo preconceito que outros estados têm com Pernambuco e tirar votos da Dilma.

Eduardo Campos se instalou em São Paulo, Aécio tem visitado o estado. Qual será o peso do maior colégio eleitoral do país?
Neste momento, todos os candidatos vão tentar marcar território em São Paulo. É uma parte do país que está um pouco descoberta, o que cria a necessidade nas campanhas de conquistar a empatia dos paulistas.

Como as eleições nacional e estadual se conversam em cada estado?
Tradicionalmente, o eleitor acaba não fazendo ligação, tanto que muitos votam no Alckmin e na Dilma. Historicamente, os eleitores votam mais no no medo que no partido. A empatia com o candidato, com a figura que é criada pelos marqueteiros, acaba decidindo a eleição.

Isso tem alguma relação com a impressão de que a Dilma fica com quase toda a rejeição do Lula, mas não consegue ficar com parte expressiva da aprovação dele?
Quando a gente lembra de Dilma entregando a taça da Copado Mundo para o jogador da Alemanha, já dá uma ideia de como é difícil para os marqueteiros superarem a imagem que a personalidade da presidenta acaba passando para o eleitorado. É diferente da empatia que Lula cria espontaneamente. Essa é uma dificuldade, fazer com que o candidato se torne simpático, mesmo que ele não seja no dia a dia. Dilma não tem, nem de perto, o carisma do seu padrinho.

Em relação às pesquisas. Enquanto Datafolha e Sensus apontaram que haveria empate técnico no segundo turno, para o Ibope, Dilma ganharia. Como explicar essa diferença de cenário, se os levantamentos foram feitos na mesma época?
Ainda bem que os institutos permanecem com as suas convicções, cada um utilizando um método próprio, apesar de a lei eleitoral tentar cada vez mais igualar os métodos. Sutilezas metodológicas explicam essa diferença. Por exemplo, todo questionário do Datafolha é voltado para trazer o entrevistado para uma situação presente, com questões como "Se o segundo turno fosse hoje, em quem você votaria?". O Ibope não traz o eleitor para pensar se o segundo turno fosse hoje. Não digo que um esteja certo e o outro errado, são apenas diferentes.

O reflexo dessa diferença foi sentido principalmente na bolsa de valores, que vem oscilando de maneira contundente a cada divulgação de pesquisa eleitoral. Já aconteceu em outras eleições?
Isso é esdrúxulo. A especulação na bolsa é algo que está me incomodando muito. As pesquisas eleitorais estão supervalorizadas. A pesquisa não pode ser vista como um prognóstico, ela é um diagnóstico do que já aconteceu, pois quando é divulgada, já está velha. Tem muito a se percorrer na cultura de leitura de pesquisa no Brasil. Aconteceu algo parecido em 2002, quando o Lula era considerado uma ameaça e, a cada ponto que subia, o dólar subia junto. Esse movimento da bolsa, peculiar desta eleição, é pura especulação, não vejo lógica e nem justificativa para que resultados de pesquisas que mostram estabilidade e variações dentro da margem de erro possam influenciar as ações desse jeito. Isso é pura jogatina, cassino. E essa especulação é estimulada pela lei eleitoral.

De que maneira?
Todo instituto que divulga a pesquisa tem que registrar a realização do levantamento cinco dias antes da divulgação. Isso é anacrônico, não tem utilidade nenhuma. Em tese, seria para os partidos poderem fiscalizar as pesquisas, mas a fiscalização na maioria das vezes se dá após a divulgação. Esse intervalo de cinco dias proporciona a possibilidade de outro instituto, contratado por financeiras, fazer uma pesquisa tentando copiar exatamente o questionário que já foi registrado e repete a mesma amostra. Isso é uma pesquisa clone, confeccionada para ser entregue um dia antes da divulgação oficial. Não com o objetivo de informar, e sim de tentar antecipar o número que Datafolha e Ibope entregarão no dia seguinte, o que dá mais margem para especulações.

Em 2010, as campanhas tentaram abordar temas morais. Qual a possibilidade de esses temas voltarem agora?
Devem voltar. As questões do aborto e da legalização da maconha devem ser levantadas, principalmente após a atitude do Uruguai. E como é um tema no qual Fernando Henrique se envolveu diretamente, e como há acusações na internet em relação ao Aécio, a questão das drogas pode voltar sim.

Aécio pode ser prejudicado?
Se a eleição ficar muito acirrada, principalmente na reta final, pode ser decisivo. Mudanças de pequenas parcelas do eleitorado podem levar a eleição a um segundo turno.

E a questão do aeroporto de Claudio (MG), construído em terras desapropriadas de parentes de Aécio Neves?
Algum impacto tem, não saberia dizer em que grau. Não creio que seja decisivo, pois são muitas denúncias envolvendo diversos partidos e correntes. Isso chega ao eleitor mais como um exemplo de "olha aí como os políticos são". Tem mais o efeito de aumentar a rejeição à prática política do que um impacto pontual em um candidato.

Os marqueteiros já aprenderam a lidar comas redes sociais?
Os partidos conseguiram desenvolver uma forma de utilizar a internet para fazer o trabalho sujo. Jogam na rede tudo aquilo que não pode ir ao ar na televisão, como boatos, associação de determinados candidatos a uso de drogas, acusações levianas. Mas como as coisas se equilibram, as redes têm status de neutralidade na eleição.

Painel :: Bernardo Mello (interino)

- Folha de S. Paulo

Pouso forçado
As metas do programa ProAero não justificavam o uso de verba pública para construir um aeroporto em Cláudio (MG), próximo à fazenda da família do tucano Aécio Neves. O plano do governo de Minas Gerais anunciava como objetivo reduzir a no máximo 80 quilômetros a distância de cada cidade do Estado para uma pista de pouso. Antes da obra, os municípios da região já eram atendidos por outros aeroportos em Divinópolis (MG) e Oliveira (MG), também contemplados no plano.

Veja bem O governo de Minas, comandado pelo aecista Alberto Pinto Coelho (PP), diz que a distância era "apenas uma das referências do programa e não o critério único ou definidor". Segundo a administração, contava ainda "a característica específica de cada município e região".

Experiência Provocação de um aliado de Eduardo Campos (PSB) sobre o aeroporto: "O que chama a atenção não é a construção na terra do tio-avô, é a displicência de ter deixado a chave na mão do parente..."

Programático Emidio de Souza, o presidente do PT paulista, brincou ontem com aliados em um evento dos metalúrgicos do ABC: "Descobrimos um trecho do programa de governo de Aécio para aviação: construir o terminal 3 no aeroporto de Cláudio".

Virando o disco O mineiro reúne hoje integrantes de ONGs como Afro Reggae e Saúde Criança. Vai anunciar a criação de um grupo da campanha para procurar exemplos de ações do terceiro setor que possam se transformar em políticas públicas.

Sem... Com presença quase inexistente nas diretrizes de governo do PSB, a política externa brasileira terá destaque no programa preparado pela sigla. O texto fará críticas ao atual olhar do país sobre o Mercosul.

... diplomacia O tom crítico é mais próximo da visão de Campos, e não da opinião de Roberto Amaral, vice-presidente do PSB e referência na sigla sobre política externa.

Casa cheia O partido quer dar tratamento especial ao evento em que vai divulgar o texto. Está procurando um espaço maior que o mirrado auditório do comitê central, que comporta 117 pessoas.

190 Lançada pelos tucanos junto com o site da campanha de Geraldo Alckmin, a página "SP Contra o Crime" divulga um projeto de lei para endurecimento de penas de menores infratores.

No alvo Pesquisas de rivais do governador indicam que a mudança na legislação tem sido uma bandeira eficaz como antídoto ao desgaste causado pela alta em indicadores de crimes no Estado.

Isso pega? A aversão de Paulo Skaf (PMDB) a subir no palanque com Dilma Rousseff tem respaldo numérico: só 20% de seus eleitores avaliam o governo da petista como bom ou ótimo. O número é menor até que o de Alckmin, que tem 22% de apoiadores com boa imagem da presidente.

No bolso A Justiça Eleitoral determinou multa diária de R$ 10 mil ao Facebook a partir de quinta-feira, caso a empresa não informe quem pagou anúncios para a página de Alckmin na rede social.

Ordem do chefe A cobrança de Lula por engajamento da Prefeitura de São Paulo na campanha de Alexandre Padilha (PT) começou a dar resultado. Ontem, quatro secretários de Fernando Haddad acompanharam o candidato em corpo a corpo.

Versátil Eduardo Suplicy (PT), candidato à reeleição ao Senado, ficou feliz por visitar Perus, zona norte paulistana. Do alto do palanque, contou ter encontrado parafusos para consertar sua privada.
----------------------
Tiroteio
"O Brasil parou de crescer, inflação e juros estão nas alturas, mas Dilma quer falar de futebol. Parece candidata ao cargo de Dunga."
DO DEPUTADO BETO ALBUQUERQUE (PSB-RS), líder da bancada na Câmara, sobre encontro recente da presidente Dilma Rousseff com jogadores de futebol.
-----------------------
Contraponto
Dormindo com o governador
Em entrevista a um programa matinal da rádio Paiquerê, do Paraná, o candidato ao governo Roberto Requião (PMDB) tentou fazer piada sobre o atual governador, Beto Richa (PSDB), que disputa a reeleição:

--Quero sugerir que entrevistem o Beto. Mas não a essa hora da manhã, porque a essa hora ele está dormindo.

Um dos locutores retrucou:

--Acho que isso é mal de governador, porque quando o sr. estava no governo seus assessores não deixavam!

--Mas você ia lá na residência oficial, dormia comigo e me entrevistava às 7h! --rebateu o peemedebista.

Diário do Poder – Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Duda veta Dilma para dar o troco em João Santana
Em uma briga que remonta ao escândalo do mensalão, o marqueteiro Duda Mendonça convenceu o candidato Paulo Skaf (PMDB-SP) a vetar a presidente Dilma em seu palanque para dar o troco no arquiinimigo João Santana, queridinho da presidenciável petista. Duda, que ajudou Santana no passado a se inserir no núcleo do PT, não perdoa o ex-colega por ter aproveitado o desgaste do mensalão para tomar o seu lugar no governo.

• Se viabilizou
Santana foi apresentado ao PT por Duda e acabou convidado por Antônio Palocci para a equipe de campanha que reelegeu Lula após o mensalão.

• Não decola
Homem de confiança de Dilma, Santana é o responsável pela campanha ao governo do petista Alexandre Padilha (SP), que não sai do lugar.

• Missão impossível
O vice-presidente Michel Temer prometeu ao Planalto que irá reverter o veto de Paulo Skaf à presidenta Dilma. O difícil é Duda Mendonça deixar.

• Somando ódios
Não surpreenderá a ninguém se Duda e Franklin Martins se unirem para dar uma lição em João Santana, a quem consideram “muito arrogante”.

• ‘Aeroneves’ custou quase aeroporto da Copa
O aeródromo construído na fazenda desapropriada do tio de Aécio Neves custou quase o mesmo valor de aeroporto turístico do Ceará. Em valores corrigidos de janeiro de 2009 a maio de 2012, pelo IGP-M, o “aeroneves”, no município de Cláudio, custaria R$15,6 milhões aos cofres públicos. Já aeroporto de Aracati, que recebe cerca de 40 voos mensais e mantém 22 funcionários, teve sua pista reconstruída para a Copa por R$ 16 milhões.

• Falta qualidade
O aeroporto de Aracati, ao contrário do de Cláudio, tem uma espessura de asfalto para atender Boeings 737 e até 1.200 voos por ano.

• Grande, só no preço!
Além disso, a pista do aeroporto de Aracati tem 2,2 quilômetros de comprimento e 30 metros de largura. O de Cláudio não passa de 1km.

• Aposta pro 2º turno
Apesar da candidatura própria de Eduardo Jorge, o PV está cada dia mais próximo de Aécio Neves (PSDB-MG) na disputa pela Presidência.

• Buscando provas
O relator Marcos Rogério (PDT-RO) solicitou à Câmara o roteiro dos voos do deputado Luiz Argôlo (SD-BA) pagos com verba indenizatória para bater com viagens do doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal.

• Contra nepotismo
A fim de acabar com nepotismo e o famoso “QI” – quem indica – no Itamaraty, um grupo de jovens diplomatas apresentou proposta que estabelece critérios mais claros e transparentes nas promoções.

• Ornamentada
Dilma Rousseff tem apreço por joias. Desde que assumiu a Presidência da República, a petista conseguiu acumular R$ 72 mil em adornos. Com essa dinheirama, Dilma poderia até trocar seu carro, um Fiat Tipo 96.

• Multiplicação
Trabalhar faz bem para finanças, ou pelo menos o Ministério do Trabalho parece fazer. Em 2006, Carlos Lupi tinha R$ 638 mil em bens. Após virar ministro de Lula, o patrimônio de Lupi disparou aos atuais R$ 1,2 milhão.

• Mãos na cabeça
O TRE da Paraíba deve julgar esta semana a legitimidade da candidatura de Cassio Cunha Lima (PSDB) ao governo. Se for impugnado, será mais um problema para Aécio Neves no Nordeste em menos de sete dias.

• Rebelião
Com a recusa de Cid Gomes (CE) em usar símbolos do PT na campanha de Camilo Santana à sucessão, Luizianne Lins lidera rebelião no partido para trocar na marra a cor laranja pelo vermelho na pintura dos muros.

• Voto de protesto
O PRB aposta que, por ter ficado sozinho na disputa ao governo do Rio, Marcelo Crivella pode acabar faturando o chamado “voto útil”, ou “voto de protesto”, devido ao apelo crescente contra a “suruba eleitoreira”.

• Hora do desempate
O PT disputa em outubro próximo a sexta eleição presidencial desde a redemocratização do país. A sigla levou três derrotas, uma para Collor e duas para FHC, e três vitórias: duas com Lula e uma com Dilma. Este ano, Dilma será responsável pela quarta derrota ou pela quarta vitória.

• Pensando bem…
… o Itamaraty poderia aproveitar a coragem repentina para também se posicionar sobre o conflito entre a Ucrânia e a Rússia.

Almir Rouche - FREVO Nº 2 DO RECIFE - (Antonio Maria) - MADEIRA DO ROSARINHO - (Capiba)

Carlos Drummond de Andrade: Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

domingo, 27 de julho de 2014

Opinião do dia: Marco Aurélio Nogueira

Quando Dilma fala em "mais mudanças, mais futuro", quantifica um processo em que o mais importante é a qualidade, silenciando sobre isso. Aécio Neves é imperativo quando propõe "muda, Brasil", mas não diz que a mudança social é uma construção que somente pode proliferar se for adotada pela sociedade: negociada com ela. Eduardo Campos diz que é preciso "coragem para mudar o Brasil", como se o problema fosse exclusivamente de falta de vontade e ousadia.

Caso se deixem levar por tais discursos mudancistas, as pessoas para quem a vida precisa de fato mudar ficarão sem saber para que lado correr. E passarão a se perguntar: se é assim, por que diabos esses candidatos não se dão as mãos e reúnem forças para desenhar uma mudança que seja factível e produza impacto efetivo sobre o futuro?

Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp. Mudar sem sair do lugar. O Estado de S. Paulo, 26 de julho de 2014.

FH: ‘mal-estar’ aumentou chances de PSDB derrotar PT nas urnas

• Em entrevista à revista 'Isto É', o ex-presidente fez críticas à habilidade política de Dilma e disse que os tucanos estão unidos

- O Globo

RIO — O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista à revista “Isto É” publicada neste fim de semana, disse que aumentaram as chances de o PSDB derrotar o PT nas eleições presidenciais deste ano. Segundo ele, essa percepção, que ele avalia não existir há dois anos atrás, é resultado de um "mal-estar" no país provocado por escândalos de corrupção e erros na política econômica, entre outros problemas.

“Hoje, eu acho possível transformar esse mal-estar em algo que tenha consequência eleitoral”, declarou o ex-presidente, elogiando a capacidade de articulação de Aécio Neves ("Aécio foi lá e fez"). O tucano fez duras críticas à gestão petista ao longo da entrevista. De acordo com FH, o governo petista persistiu no estímulo ao consumo e não olhou para outras questões. Sobraram críticas também para a habilidade política de Dilma: FH afirmou que, diferentemente de Lula, a presidente não sabe manejar o Congresso.

Na visão do ex-presidente, a pouca visibilidade da oposição pode ser um entrave na corrida eleitoral. Ele avalia que ações no Congresso, como discursos, apresentam pouca repercussão nos dias de hoje.

"Quando eu era senador, meus discursos eram publicados na íntegra nos jornais. Isso não acontece mais", afirmou. Para FH, "foi-se perdendo o elo entre o Congresso e a sociedade", e o mesmo tipo de fenômeno se aplica à UNE e aos sindicatos.

Ainda sobre eleições, FH disse que as eleições deste ano trouxeram a superação de um "grave problema" da desunião característica de disputas presidenciais anteriores. Ele afirmou que o PSDB, desta vez, está unido.

Petrobras: FH critica gestão de Lula
Na área econômica, o ex-presidente criticou a insistência da gestão petista no estímulo ao consumo em detrimento da ênfase no desenvolvimento econômico do país, por exemplo. Ele avalia que o governo demorou a entender a importância de ter capital público e privado para reativar o investimento. “Houve certa desatenção, não muito grave, à pressão inflacionária”, afirmou.

Já “na política monetária, por exemplo, o PT pode ter errado aqui e ou ali, mas não mudaram o que vinha sendo feito”, declarou. FH também se defendeu de acusações de que, durante seu governo, teve a intenção de privatizar a Petrobras. “Sempre lutamos para tirar qualquer partido de dentro das empresas. A Petrobras, por exemplo. Nunca pensamos em privatização. É mentira”, explicou, dizendo que a proposta era a mesma para a Caixa Econômica e o Banco do Brasil. Ainda sobre a estatal, afirmou que Dilma está sofrendo as consequências do que ele considera uma ingerência partidária nas estatais.

Há chance de derrotar o governo agora, diz FHC à IstoÉ

• Ex-presidente afirmou que 'mal-estar' da sociedade favorece oposição

Agência Estado

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que, há dois anos, não acreditava na possibilidade de uma derrota eleitoral do governo, mas hoje acha possível transformar o "mal-estar" da sociedade em algo que tenha "consequência eleitoral".

Em entrevista à revista IstoÉ, FHC afirmou que o governo tem recursos enormes e exposição permanente e achava muito difícil que houvesse uma mudança. "Hoje existe um mal-estar no País. Isso favorece a oposição. Por isso, acho que temos grandes chances", afirmou.

FHC também apontou a pouca visibilidade da oposição como um obstáculo à mudança. Segundo ele, a oposição feita no Congresso não repercute mais. "Quando eu era senador, meus discursos eram publicados na íntegra nos jornais. Isso não acontece mais. Foi se perdendo o elo do Congresso com a sociedade". Para o ex-presidente, o mesmo ocorreu com outras instituições, como os sindicatos e a União Nacional dos Estudantes (UNE).

Ele disse ainda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "sabia manejar o Congresso" - "não da maneira correta, pois o mensalão ninguém pode apoiar" - mas que a atual presidente, Dilma Rousseff, não sabe.

Economia
O tucano também afirmou que o governo petista persistiu no estímulo ao consumo e não olhou para outros lados, como, por exemplo, o desenvolvimento econômico do País. Segundo Fernando Henrique, o governo levou muito tempo para entender que, para reativar o investimento, precisaria ter capital público e privado.

Segundo ele, o PT acredita que se muda o Brasil ocupando o Estado e controlando mais, sobretudo a economia, enquanto o PSDB acredita que é preciso não ocupar o Estado e ter uma "relação maior com a sociedade". Mas, para FHC, há similaridades entre os dois partidos. "Na política monetária, por exemplo, o PT pode ter errado aqui ou ali, mas não mudaram o que vinha sendo feito", afirmou.

"O juro não baixou como devia, é verdade. Mas isso é algo técnico. Ninguém está discutindo, na essência, a função do Banco Central."

Petrobras
FHC negou que tenha sido cogitada a privatização da Petrobras durante seu governo. "Queríamos a competição e tirar a influência partidária", disse, citando também o Banco do Brasil e a Caixa Econômica. Para o tucano, Dilma está sofrendo as consequências da gestão Lula na estatal.

Bolsa Família
Fernando Henrique Cardoso disse que todos são a favor da distribuição de renda e outros governos só não fizeram isso porque não tinham como. Ele voltou a dizer que as bolsas (escola e alimentação) surgiram durante seu mandato e afirmou que a política de sustentação do salário mínimo começou no governo de Itamar Franco.

Campanha
FHC diz que Dilma não fala com o País como Lula e defende "simpatia" de candidato tucano à Presidência. "O Aécio pode falar. Jeitão ele tem. Mas precisa dizer alguma coisa que faça ele chegar lá". O ex-presidente disse que a união do partido, os bons palanques regionais e a grande rejeição ao PT em São Paulo aumentam a chance de uma vitória do PSDB.

'Quem é do PSDB apoia Aécio e PSB apoia Campos', afirma Alckmin

• Governador paulista evita falar sobre apoio a Campos no Estado e diz que Aécio é seu candidato à Presidência

Pedro Venceslau e Luís Lima - Agência Estado

SÃO PAULO - O governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição, desconversou ao ser questionado sobre a decisão de abrir espaço em seu palanque para o candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB). "Quem é do PSB vai apoiar o Eduardo Campos. Quem é do PSDB apoia o Aécio, que é o meu candidato", disse, ao lado do candidato mineiro, em evento na capital paulista neste sábado, 26. O PSB é aliado de Alckmin em São Paulo e terá a vice na chapa tucana.

Sobre a resistência da candidata a vice na chapa de Campos, Marina Silva, de ter sua imagem associada ao tucano em propagadas eleitorais, Alckmin disse apenas que "respeita" e tem "grande apreço pela ex-ministra".

Alckmin também rebateu a acusação feita pelo provedor da Santa Casa de São Paulo, Kalil Rocha, de que o governo estadual deixou de repassar recursos federais à instituição. "Tudo que o governo repassa nós repassamos para a Santa Casa", reforçou.

O governador manifestou apoio à proposta de instalar uma auditoria para verificar o repasse de recursos. "Mas o problema não é só da Santa Casa de São Paulo, é de todos que atendem o Sistema Único de Saúde (SUS)", ressalvou.

Se apoiar o PT, eu sou um maluco, diz Skaf no interior de SP

• Candidato do PMDB ao governo paulista se nega a falar o nome de Dilma durante visita a Franca e Kassab sugere que ele pare de falar sobre apoiar a campanha da reeleição da presidente

Rene Moreira - O Estado de S. Paulo

FRANCA (SP) - O candidato do PMDB ao governo de São Paulo, o empresário Paulo Skaf, se viu numa situação complicada neste sábado, 26, ao ser questionado sobre a relação de sua campanha com o PT, aliado de seu partido em nível nacional. O peemedebista se nega a apoiar a candidatura de Dilma Rousseff (PT) à presidência, mas tenta evitar atrito porque acredita que fará o segundo turno contra Geraldo Alckmin (PSDB) e precisará dos votos dos petistas.

Questionado pelo Estado sobre como lidaria com situações como as mensagens que têm sido postadas em suas páginas nas redes sociais pedindo distância dos petistas, Skaf disparou: "Eu não preciso lidar com a situação, porque, se apoiar o PT, eu sou um maluco", disse durante entrevista concedida em um hotel da cidade de Franca, onde estava prevista uma caminhada pela região central, cancelada em razão das chuvas. Segundo ele, o partido tem candidato a governador e é tão adversário quanto o PSDB. "A posição da nossa coligação é vencer o PT e o PSDB. Então, pode estar tranquilo que o apoio ao PT eu não darei", afirmou.

O candidato repetiu que está descartada a possibilidade de abrir palanque para a presidente. "O palanque natural da presidente Dilma é o palanque do PT, o partido dela. O eleitor não entende o que é palanque duplo". E completou: "Entendo assim, muito claramente, o PT é um adversário nosso assim como o PSDB. Em relação a palanque duplo, isso confunde o eleitor."

Ao ser indagado que, se apoia mesmo a Dilma, por que evita falar o nome dela, Skaf começou a se irritar. "Eu já falei da nossa posição hoje aqui em São Paulo. O nome da Dilma fala a Dilma...”, alegou. "Entenda a nossa posição- em São Paulo nós somos adversários, então esta é a situação, e eu estou concentrado na nossa eleição", complementou.

Saia justa. A discussão política sobrou até para o candidato ao Senado na chapa do PMDB, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), que acompanhava Skaf na visita à região. Durante a entrevista aos jornalistas, uma repórter argumentou que fora o próprio Kassab quem teria dito que o peemedebista apoia a Dilma. "Eu disse que o candidato Paulo Skaf, com a inteligência que tem, vai encontrar ao longo da campanha o ponto de equilíbrio, porque ele tem adversário em São Paulo que é o PT.
Portanto, ele é candidato a governador e o PT é adversário dele", interveio.

O candidato do PSD disse entender o interesse da imprensa em abordar uma situação delicada como esta. Em seguida sugeriu ao colega ao lado: "Se eu fosse o candidato Paulo Skaf eu não me manifestaria sobre esse tema, que é polêmico, até porque o PT é adversário dele, então eu não me manifestaria até o momento em que possa encontrar um ponto de equilíbrio que seja compreensível...".

Skaf, por sua vez, acatou a sugestão e pediu para um assessor ao lado acabar com a entrevista. Antes, porém, explicou que não quer polêmica com o PT. "Neste momento vocês sabem muito bem que há uma probabilidade maior de irmos para o segundo turno contra o PSDB. Então, nesse primeiro momento, o adversário é o próprio PT. Primeiro né, para viabilizar o segundo turno... Já tem polêmica demais, não serei eu que irei aumentar isso...", finalizou.

Campos: velha política está com pé na canoa PT-PSDB

• Segundo candidato, apenas quebrando polarização será possível ter nova forma de governo

Olívia Bulla - Agência Estado

O ex-governador de Pernambuco e candidato às eleições presidenciais pelo PSB, Eduardo Campos, voltou a dizer neste sábado, em entrevista coletiva concedida na cidade mineira de Juiz de Fora, que, para mudar o Brasil, é preciso ter coragem para romper com a velha política e construir um novo caminho. "Vamos mostrar que estamos prontos para fazer a mudança política que o Brasil deseja", afirmou Campos, na companhia da vice-presidente da chapa, a ex-senadora Marina Silva, e também do candidato do partido ao governo do Estado de Minas Gerais, Tarcísio Delgado.

Segundo o candidato, a velha política no Brasil está com o pé em duas canoas. "Na canoa do PT, que governa, e na canoa do PSDB, que já governou e governou cercado da velha política." A mesma opinião tem a vice-presidente na chapa. "A quebra da polarização PT-PSDB é o que vai unir o Brasil", afirmou Marina.

Só quebrando essa polarização, segundo Campos, seria possível ter uma nova forma de governabilidade no Brasil. "Fazer a mudança verdadeira, para que o Brasil se reencontre com o desenvolvimento econômico, com a geração de oportunidade de trabalho, de geração de renda, com sustentabilidade", afirmou.

De acordo com Campos, a mudança do modo de governar o Brasil deve envolver a sociedade. "Temos uma crença muito forte de que a mudança será feita pela sociedade." Ele afirmou também que as conquistas do presente serão preservadas, mas para mudar o futuro é preciso melhorar a educação, a saúde, a segurança, garantindo serviço público de qualidade e melhorando as condições de vida da população.

Para tanto, Campos diz que o primeiro eixo é um novo Estado brasileiro e uma "democracia de alta intensidade". "O Brasil só vai equilibrar sua economia e dar conta da agenda se inverter a lógica política que hoje domina Brasília, que é a lógica da política para os políticos, para os partidos, quando cada um se colocar como agente dessa mudança", emendou.

Aécio e Alckmin cumprem agenda juntos

• Dois dias atrás, governador paulista disse que, se convidado, participaria de atividades com presidenciável do PSB em São Paulo

Sílvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO - Dois dias após ter afirmado que participaria de atividades de campanha com o presidenciável do PSB, Eduardo Campos, se fosse convidado, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), cumpriu, neste sábado, agenda eleitoral na capital paulista com o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, e classificou como “futricas” as queixas de aliados do mineiro à aproximação entre ele e Campos. Para evitar mais polêmica, Aécio negou qualquer mal-estar entre ambos e disse que a declaração de apoio de Alckmin a ele é “suficiente”.

— Quem é do PSB vai apoiar o seu candidato, que é o Eduardo Campos, e quem é do PSDB apoia o Aécio, que é o meu candidato. O resto são apenas futricas — disse Alckmin, que desconversou quando perguntado se continuava de pé a posição de acompanhar o adversário de Aécio em alguma atividade em São Paulo.

O PSB de Campos faz parte da coligação de Alckmin, candidato à reeleição. O partido indicou o vice do tucano na sucessão paulista, o deputado federal Márcio França.

Depois de caminhar debaixo de chuva com o governador no parque da Juventude, construído no local do antigo presídio Carandiru, na Zona Norte, e visitar uma feira de tecnologia, na Zona Leste, organizada pelo padre Rosalvino, aliado do PSDB desde os tempos do ex-governador Mário Covas, Aécio afirmou estar satisfeito com as declarações de apoio de Alckmin.

— Para mim, isso é extremamente suficiente e satisfatório. Estou muito honrado em ter o apoio do governador Geraldo Alckmin, e vamos ganhar juntos a eleição.

Mais uma vez perguntado sobre o caso dos aeroportos feitos por sua gestão em Minas Gerais, o presidenciável repetiu que “não há nada mais a esclarecer”.
Aécio também disse concordar com alguns bancos e consultorias econômicas que avaliaram nos últimos dias que a vitória da presidente Dilma Rousseff não faria bem à economia brasileira.

— Essas avaliações apontam na mesma direção: o fracasso da política econômica da atual presidente da República. O atual governo perdeu a capacidade de gerar expectativas positivas e isso impacao fortemente em nosso crescimento.

O candidato tucano criticou a manifestação do governo sobre a guerra entre israelenses e palestinos:

— Acho que faltou equilíbrio. Todos nós temos que condenar o uso excessivo da força por parte de Israel, mas, da mesma forma, temos que condenar as ações do Hammas com o lançamento sucessivo de foguetes. Faltou uma palavra mais clara de convocação a um cessar-fogo e a um entendimento entre as partes. O Brasil se precipitou, a meu ver, com uma nota com viés muito mais unilateral do que o esperado de um país como o Brasil.

Discurso de candidatos na prática é outro

• À frente de governos, Dilma, Aécio e Campos agiram de forma diferente da que preconizam aos eleitores

Chico de Gois – O Globo

BRASÍLIA - Os três principais candidatos à Presidência da República apontam as mazelas dos outros, mas têm em comum alguns exemplos de "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".
Dilma Rousseff (PT), por exemplo, procurou, no início de seu governo, criar a imagem de gerentona que não aturava malfeitos. Por isso, demitiu a diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), afastou o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e disse que, a partir dali, tudo seria diferente.

Presidente Recuperou PR e Lupi
Com o calendário da eleição apertando-lhe o calcanhar, e com a traição do PTB, que depois de lhe ter feito juras de amor caiu nos braços de Aécio, Dilma cedeu aos apelos do PR: afastou o ministro Cesar Borges que, apesar de ser do partido, não tinha a simpatia dos mandachuvas, e, em troca, levou o tempo de TV que tanto queria. A faxina ficou debaixo do tapete. No lugar de Borges, a presidente voltou a escalar Paulo Sérgio Passos, que já havia fora ministro em outras ocasiões e vivia orbitando pelo governo.

Dilma também trabalhou para que Carlos Lupi se demitisse do Ministério do Trabalho, em dezembro de 2011. Ele caiu depois de uma série de denúncias de que sua pasta beneficiava ONGs vinculadas a partidários do PDT. A própria Comissão de Ética da Presidência recomendou a exoneração dele. Lupi chegou a peitar a própria Dilma, dizendo que só deixava o cargo "abatido à bala". Depois, fez troça com a situação, dizendo que amava sua chefe.

Mas o amor, na ocasião, não lhe manteve na cadeira. Agora, porém, irritada com a aliança entre o PT e o PSB no Rio, que tem o craque Romário como candidato a senador, Dilma resolveu apoiar o ex-auxiliar.

PMDB é aliado de Campos em PE
O candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, disse que, uma vez eleito, não governará com o PMDB. Não faltaram críticas ao partido, sobretudo aos senadores José Sarney (AP), que já anunciou que se retirará da vida pública, e Renan Calheiros (AL), um dos principais líderes da legenda.

O PMDB já foi o principal adversário de Campos em Pernambuco. Jarbas Vasconcelos, eleito prefeito e governador, rompeu com Miguel Arraes e virou a cara para seus descendentes, Campos incluído. No entanto, no segundo mandato do socialista no governo do estado, o PMDB passou a frequentar a antessala do gabinete do governador. E Jarbas e Campos selaram a paz. Nesta eleição, Jarbas concorre a deputado federal. O PMDB integra a aliança de Paulo Câmara, o candidato de Campos para substituí-lo.

Campos também costuma apresentar-se como o novo na política, que deseja romper com velhas práticas. Porém, em seu governo, foi aliado de Severino Cavalcanti (PP) e Inocêncio Oliveira (PR), deputado federal desde 1975. Em seu primeiro mandato, criou 29 secretarias, e hoje ataca o governo federal pelo número de ministérios - 39. Antes de deixar o governo neste ano, ele reduziu a 23 as secretarias.

A tática de criticar certas atitudes quando se está na oposição, e fazer o contrário, quando no governo, também foi usada por Aécio Neves. Enquanto o PSDB usa todo o espaço que dispõe para pedir CPI sobre qualquer assunto que envolva o governo federal, quando Aécio era governador de Minas a Assembleia Legislativa, controlada por ele, não criou nenhuma CPI. E não foi por falta de propostas da oposição. Uma delas queria investigar a reforma no Mineirão e a cessão do espaço para uma empresa pública administrar. Mas o governo atuou e a proposta não prosperou.

Aécio, que se apresenta como alternativa ao PT, uniu-se ao partido nas eleições de 2008 ao apoiar, com Fernando Pimentel (PT), o candidato do PSB, Márcio Lacerda, à Prefeitura de Belo Horizonte.

A assessoria da campanha da presidente Dilma informou que a resposta para o fato de ela ter aceitado as condições do PR para trocar o ministro dos Transportes estava no discurso que fez na posse de Paulo Sérgio Passos, em substituição a Cesar Borges, em 26 de junho.

- Nesse momento nós estamos fazendo uma pequena reorganização no time que toca a infraestrutura logística no governo. Eu estou realocando as melhores pessoas em funções diferentes, ainda que semelhantes na essência e nos princípios. Altero a equipe e passo a aproveitar ainda mais a competência de três servidores públicos exemplares, que já exerceram diferentes atividades e em todas se saíram muito bem - discursou Dilma, sem menção ao PR.

A assessoria não informou por que Dilma, que antes não morria de amores por Lupi, agora o apoia ao Senado no Rio.

A assessoria de Eduardo Campos reafirmou que o candidato quer reduzir à metade o número de ministérios, e justificou a criação de 29 secretarias em sua administração como forma de "empoderar algumas áreas sem haver acréscimo de gastos ou cargos comissionados".

Negação de clientelismo
Sobre as alianças com Severino Cavalcanti e Inocêncio Oliveira, a assessoria afirmou que elas se deram "em torno de um programa de governo considerado inovador e voltado para os que mais precisam". Ainda segundo a assessoria, Campos nunca foi pautado pelo clientelismo ou pelo fisiológico. "Conversamos com todas as forças políticas, mas nosso critério para o preenchimento de cargos sempre foi a competência."

A assessoria observou que as críticas dirigidas pelo candidato ao PMDB referem-se apenas à ala do partido vinculada aos senadores Sarney e Renan.

Através da assessoria, Aécio argumentou que CPIs são instrumentos fundamentais das minorias para fiscalizar e investigar as ações de um governo, mas não podem ser banalizadas e usadas apenas para a disputa política. "No caso de Minas Gerais, absolutamente nenhum fato determinado com alguma consistência surgiu", afirmou.

Aécio disse que em 2008 foi feita uma ousada aliança política em favor de um nome que ele e Pimentel achavam ter as qualidades necessárias para administrar Belo Horizonte. "Mesmo sendo governador e tendo alta aprovação na capital, abri mão de lançar uma candidatura de meu partido porque considerava que a eleição de Márcio Lacerda era a que melhor atendia aos interesses da população", disse o tucano.

No congresso, Aécio e Campos defenderam propostas polêmicas

• Presidenciáveis não confirmam se ideias vão fazer parte dos programas de governo

Eduardo Bresciani – O Globo

BRASÍLIA - Candidatos à Presidência, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) apresentaram no Congresso propostas polêmicas. Quando era deputado, Aécio defendeu desconto obrigatório na mensalidade escolar para quem tem mais de um filho, flexibilização de limites de endividamento de estados e municípios e antecipação de feriados para segundas-feiras. Campos propôs dinheiro da União para pagamento de auxílio-funeral, reduzir pela metade tributos para quem contratar jovens ou pessoas com mais de 45 anos e aumentar de três para quatro anos o ensino médio. Procurados, não responderam se essas ideias farão parte de seus programas de governo. Dilma Rousseff não foi incluída porque nunca exerceu mandato parlamentar.

Aécio foi deputado federal por quatro vezes e é senador pela primeira vez. Em 1992, propôs garantir em lei desconto obrigatório para as famílias com mais de um filho nas mensalidades em escolas particulares. O abatimento seria de 20% para o segundo filho, 30% para o terceiro filho e 40% para o quarto filho e seguintes. Em 1999, queria a proibição de contingenciamento em programas de crédito educativo. As duas propostas foram arquivadas. No Senado, em 2011, defendeu dedução do Imposto de Renda para empresas por gastos com ensino para os empregados.

No atual mandato apresentou projeto que flexibilizava a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), uma das bandeiras do PSDB, ao propor a adoção de limites de endividamento maiores para que estados e municípios pudessem fazer investimentos nos anos de 2013 e 2014. O senador protocolou ainda vários projetos que aumentavam repasses de recursos da União para estados e municípios. Um deles obriga a compensação quando o governo federal faz desonerações tributárias. Defendeu a inclusão do programa Bolsa Família na lei que trata das políticas de assistência social e a garantia do benefício por seis meses para quem conseguisse renda para sair do programa. Ainda na Câmara, defendeu os "feriadões" ao propor, em 1997, que os feriados fossem sempre comemorados, antecipadamente, às segundas-feiras. Propôs a coincidência das eleições, esticando o mandato de prefeitos.

IR e bolsa família
Aécio disse que as propostas reforçam suas bandeiras, mas não garantiu a defesa delas em sua campanha presidencial. "Nas propostas, estão claros os seguintes pontos: a defesa do fortalecimento de estados e municípios, aproximando o cidadão da solução dos problemas do seu dia a dia; a necessidade do crescimento da economia com aumento dos investimentos e a adoção de regras claras e estáveis; o compromisso com a superação da pobreza, com a transformação da Bolsa Família em política de Estado; a garantia de educação de qualidade a todos. Sempre lembrando que o combate à inflação e a responsabilidade fiscal são pontos prioritários e inegociáveis", disse, por sua assessoria.

Eduardo Campos teve três mandatos na Câmara. Em 2001, propôs que a União passasse a auxiliar estados e municípios no pagamento de auxílio-funeral e auxílio-natalidade. O pagamento seria para quem recebesse até três salários-mínimos e no caso de morte chegaria a um salário. O projeto foi rejeitado por ir contra a LRF e arquivado em 2007.

A preocupação com geração de empregos foi a motivação para outro projeto. Em 2003, Campos defendeu reduzir à metade alíquotas de impostos para quem desse o 1º emprego para "jovens de até 30 anos" ou empregasse pessoas com mais de 45. As empresas poderiam deduzir no IR 50% do salário dos contratados, desde que não excedessem um limite de 30% do total de IR devido.

O candidato do PSB defendeu outras medidas com impacto nas contas públicas, garantindo seguro-desemprego para trabalhador rural que tenha trabalhado por menos de seis meses e permitindo saque do FGTS para pagar curso superior, inclusive para dependentes. Propôs ainda, em 2003, uma alteração na Educação elevando de três para quatro anos a duração do ensino médio. Na mesma proposta desejava elevar para nove anos a duração do ensino fundamental, adotada em todo o país em 2010. Em um projeto que chamou de Lei de Responsabilidade Eleitoral, defendeu que a Justiça Eleitoral fixe teto de gastos, proibição de despesas de campanha para divulgação de pesquisas e aluguel de espaços. Propaganda de TV só seria feita em lugares fechados.

O candidato do PSB não respondeu se as propostas estão mantidas. "O programa de governo é uma construção coletiva e será apresentado nos próximos dias. Portanto, não há como assegurar que algum projeto desses esteja ou não contido nele por enquanto", disse a assessoria.

Eleitor vai às urnas sentindo o bolso

• Alta dos preços afeta o cotidiano do brasileiro e repõe inflação no centro do debate eleitoral

Alexandre Rodrigues – O Globo

Vinte anos depois do Plano Real, a inflação volta ao centro do debate eleitoral. Decisiva nas vitórias do PSDB sobre o PT em 1994 e 1998, a estabilidade econômica ainda serviu ao discurso do medo ensaiado pelos tucanos em 2002, que não impediu a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Nas duas eleições seguintes, ficou em segundo plano. Parecia consolidado o consenso em torno da política de metas de inflação do Banco Central. Já no início da campanha presidencial deste ano, o tema retoma o protagonismo. A inflação não sai da boca dos candidatos, sobretudo os desafiantes de Dilma Rousseff (PT), municiados por pesquisas e marqueteiros que já perceberam como as remarcações de preços voltaram a incomodar.

Palavras como "carestia" e "arrocho" retornaram aos discursos. Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) não perdem uma oportunidade de acusar Dilma de negligenciar o combate à inflação para tentar impulsionar a economia com gastos públicos descontrolados enquanto salários são corroídos. A petista responde que não há descontrole inflacionário e fiscal, exibindo índices no intervalo de tolerância da meta oficial e superávit nas contas, pelo menos no papel. E devolve a acusação dizendo que as "medidas duras" defendidas pelo tucano e a revisão da meta de inflação prometida pelo socialista gerariam desemprego.

Economistas ouvidos pelo GLOBO concordam: os números mostram uma dificuldade do governo para domar a alta dos preços, mas não há risco de hiperinflação. Pelo 5º ano consecutivo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vai chegar a dezembro muito próximo do teto do intervalo de tolerância de dois pontos porcentuais da meta oficial de 4,5%. A previsão é do governo, que estimou na semana passada uma inflação de 6,2% no fim deste ano.

Alta nos alimentos e serviços
As estimativas do mercado são mais pessimistas, já que, em junho, o indicador passou da trave quando se considera o resultado acumulado em 12 meses: 6,52%. Na prévia do índice de julho (IPCA-15), o dado mais recente do IBGE, a inflação acumulada em 4,14% nos primeiros sete meses de 2014 praticamente esgota o centro da meta para o ano.

Acontece que o impacto no orçamento das famílias é maior. Índice oficial da inflação, o IPCA é uma média do comportamento de todos os preços. A alta tem sido maior nos alimentos e nos serviços. A feira livre, o cabeleireiro e o transporte configuram o que fica mais caro. O brasileiro começa a ver com mais frequência reajustes acima da inflação, que foi de 5,91% em 2013. Foi o caso de restaurante, plano de Saúde e mensalidade escolar, que subiram mais de 10% em 2013. Na feira, a tangerina subiu 73%. A farinha de trigo, 25%. A alta sazonal de alimentos permite trocá-los por outros, mas substituir o aluguel dá mais trabalho. Como os serviços são o componente mais resistente da inflação (em 2013, subiram 8,7%), o cidadão sente um retrocesso no bem-estar conquistado pelo aumento da renda e do emprego.

- Faz uns três meses que passei a gastar mais para comprar as mesmas coisas na feira. Eram R$ 100 por semana e agora são R$ 150. Sou diabética e consumo, por recomendação médica, diariamente frutas e verduras. Não posso parar. Mas já tem laranja custando R$ 10 e banana, R$ 6 - conta Antônia Amaral, na Glória.

- Vivemos um tipo de inflação que afeta diretamente o bolso do consumidor - afirma Bruno Fernandes, economista da Confederação Nacional do Comércio: - Não há dúvidas de que as pessoas têm hoje uma percepção muito mais forte da inflação do que nas últimas eleições. ( Colaborou: Carolina Benevides )