• Alta dos preços afeta o cotidiano do brasileiro e repõe inflação no centro do debate eleitoral
Alexandre Rodrigues – O Globo
Vinte anos depois do Plano Real, a inflação volta ao centro do debate eleitoral. Decisiva nas vitórias do PSDB sobre o PT em 1994 e 1998, a estabilidade econômica ainda serviu ao discurso do medo ensaiado pelos tucanos em 2002, que não impediu a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Nas duas eleições seguintes, ficou em segundo plano. Parecia consolidado o consenso em torno da política de metas de inflação do Banco Central. Já no início da campanha presidencial deste ano, o tema retoma o protagonismo. A inflação não sai da boca dos candidatos, sobretudo os desafiantes de Dilma Rousseff (PT), municiados por pesquisas e marqueteiros que já perceberam como as remarcações de preços voltaram a incomodar.
Palavras como "carestia" e "arrocho" retornaram aos discursos. Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) não perdem uma oportunidade de acusar Dilma de negligenciar o combate à inflação para tentar impulsionar a economia com gastos públicos descontrolados enquanto salários são corroídos. A petista responde que não há descontrole inflacionário e fiscal, exibindo índices no intervalo de tolerância da meta oficial e superávit nas contas, pelo menos no papel. E devolve a acusação dizendo que as "medidas duras" defendidas pelo tucano e a revisão da meta de inflação prometida pelo socialista gerariam desemprego.
Economistas ouvidos pelo GLOBO concordam: os números mostram uma dificuldade do governo para domar a alta dos preços, mas não há risco de hiperinflação. Pelo 5º ano consecutivo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vai chegar a dezembro muito próximo do teto do intervalo de tolerância de dois pontos porcentuais da meta oficial de 4,5%. A previsão é do governo, que estimou na semana passada uma inflação de 6,2% no fim deste ano.
Alta nos alimentos e serviços
As estimativas do mercado são mais pessimistas, já que, em junho, o indicador passou da trave quando se considera o resultado acumulado em 12 meses: 6,52%. Na prévia do índice de julho (IPCA-15), o dado mais recente do IBGE, a inflação acumulada em 4,14% nos primeiros sete meses de 2014 praticamente esgota o centro da meta para o ano.
Acontece que o impacto no orçamento das famílias é maior. Índice oficial da inflação, o IPCA é uma média do comportamento de todos os preços. A alta tem sido maior nos alimentos e nos serviços. A feira livre, o cabeleireiro e o transporte configuram o que fica mais caro. O brasileiro começa a ver com mais frequência reajustes acima da inflação, que foi de 5,91% em 2013. Foi o caso de restaurante, plano de Saúde e mensalidade escolar, que subiram mais de 10% em 2013. Na feira, a tangerina subiu 73%. A farinha de trigo, 25%. A alta sazonal de alimentos permite trocá-los por outros, mas substituir o aluguel dá mais trabalho. Como os serviços são o componente mais resistente da inflação (em 2013, subiram 8,7%), o cidadão sente um retrocesso no bem-estar conquistado pelo aumento da renda e do emprego.
- Faz uns três meses que passei a gastar mais para comprar as mesmas coisas na feira. Eram R$ 100 por semana e agora são R$ 150. Sou diabética e consumo, por recomendação médica, diariamente frutas e verduras. Não posso parar. Mas já tem laranja custando R$ 10 e banana, R$ 6 - conta Antônia Amaral, na Glória.
- Vivemos um tipo de inflação que afeta diretamente o bolso do consumidor - afirma Bruno Fernandes, economista da Confederação Nacional do Comércio: - Não há dúvidas de que as pessoas têm hoje uma percepção muito mais forte da inflação do que nas últimas eleições. ( Colaborou: Carolina Benevides )
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