Correio Braziliense
O julgamento no STF serviu para fazer com que
o Brasil acredite na força de sua democracia. Mas Lula continua candidato à
reeleição, e a direita ainda não encontrou um substituto
O espetáculo midiático foi bonito, cada um
dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) teve seu momento de grande
exposição, mas a festa acabou. Surgiu um novo tempo, o ex-presidente e seus
principais auxiliares serão presos, e há a perspectiva de a eleição de 2026 se
transformar numa guerra de posições parecida com o que ocorre atualmente nos
Estados Unidos, onde os divergentes se resolvem na base do tiro e da pancada.
Todo mundo mata todo mundo.
O mundo está passando por um de seus períodos de loucura. A Rússia bombardeou a Polônia, que chamou os colegas da Otan a enfrentar o inimigo comum, o Exército de Moscou. A Europa está convulsionada. Israel bombardeou o Qatar para matar chefes do grupo Hamas. Nenhuma atenção foi dada ao fato de que as bombas caíram em país que não está em guerra com o país dos judeus. E Telaviv também já não dissimula que não pretende abrir espaço para um futuro país palestino. O mundo piorou nos últimos tempos, por consequência da atuação de líderes despreparados para exercer suas responsabilidades. O resultado dessa situação é a guerra, ou a política exercida por outros meios, seja chantagem econômico-financeira ou ameaça de conflito bélico.
Esse clima de confronto pesado chegou ao
Brasil por intermédio de Jair Bolsonaro e seus auxiliares, civis e militares.
Eles provocaram a população até um nível altíssimo com a reiterada convocação
de militantes para invadir as sedes dos Poderes, a difusão da mensagem de que
não haveria posse do presidente eleito, ou ao incentivo ao pessoal que
participou da Festa da Selma. Todo o esforço teve como objetivo criar um clima
de confusão administrativa e política dentro do país, que justificaria a adoção
de medidas de Garantia da Lei e da Ordem, posteriormente. Ou seja, o golpe de
Estado estava armado e preparado. Não se transformou em realidade porque os
comandantes do Exército e da Aeronáutica não aceitaram participar da
quartelada.
O Conselheiro Acácio, personagem inesquecível
de Eça de Queiroz, só se manifestava para dizer o óbvio. Os bolsonaristas não
vão desaparecer de um dia para o outro. Eles estarão presentes nas eleições de
2026, que terá como sujeito oculto o governo do presidente Trump. Os
norte-americanos são capazes de articular golpes de Estado em qualquer lugar do
mundo. A atuação do ministro Luiz Fux, que divergiu da maioria, foi melhor do
que a encomenda, segundo relatos transcritos pela imprensa brasileira de
comentários feitos em Washington. Ninguém esperava que ele fosse tão enfático
na defesa de Bolsonaro e seus asseclas.
Fux, com seu voto, forneceu um precioso
argumento para os advogados da defesa, que poderão buscar uma fórmula para
reduzir as penas com base no voto divergente. O processo deverá tramitar ainda
por longo período. Nada vai se solucionar, no curto prazo, mesmo porque os
parlamentares deverão buscar uma solução dentro do Congresso. A festa midiática
serviu para fazer com que o Brasil acredite na força de sua democracia. Mas
Lula continua candidato à reeleição, e a direita ainda não encontrou o substituto
de Bolsonaro. Os próximos tempos deverão desvendar esse enigma.
Mas doravante, qualquer um, civil ou militar,
que venha a ser convidado para participar de alguma trama golpista vai pensar
duas vezes. O risco de pegar uma cana dura é muito elevado. Ou a organização
tem meios e modos de se impor com tiros e bombas, ou não vale a pena correr o
risco. E o efeito colateral dessa situação é curioso. Os políticos estão
descobrindo que o melhor caminho para buscar a hegemonia na convivência entre
parlamentares é promover a vitalização dos partidos políticos. Partidos fortes
significam representação forte e, nessa perspectiva, a tentação do golpe fica
diluída.
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