domingo, 3 de agosto de 2014

Gaudêncio Torquato: A rua, o eleitor e os candidatos

- O Estado de S. Paulo

O ano era o de 64 antes de Cristo. O candidato, Marco Túlio Cícero, o tribuno mais eloquente do ciclo de César, tinha o apoio das classes altas. Disputava-se o cargo de cônsul de Roma. O adversário, o general Catilina, era o candidato do proletariado. O marqueteiro de Cícero, Quinto, seu irmão, considerado o primeiro organizador de estratégias de marketing, enviou-lhe uma carta cheia de recomendações: "Volte sua atenção para a cidade, todas as associações, os distritos e os bairros; vá ao encalço de homens de toda e qualquer região, passe a conhecê-los, cultive e fortaleça a amizade, cuidando para que eles cabalem votos para você; três são as coisas que levam as pessoas a se sentir cativadas e dispostas a dar apoio eleitoral: um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea". Cícero venceu, repetiu a vitória um ano depois, acusou Catilina de corrupção, roubo, adultério, perversão e puxou sua orelha com a célebre interrogação: "Quousque tandem abutere Catilina patientia nostra?" ("Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?").

Os conselhos de Quinto, suportando a corrosão de mais de dois milênios, chegam incólumes ao cenário eleitoral brasileiro, sendo receita eficaz para os 24.979 candidatos que disputarão, em outubro, 1.709 vagas - para a Presidência da República, o Executivo dos 26 Estados e do Distrito Federal, as representações no Senado, na Câmara dos Deputados e nas Assembleias legislativas. O tufão que inundou as ruas no ano passado, com grupos em passeatas e depredações, cujas marolas ainda se fazem presentes aqui e ali, serve como biruta para mostrar aos candidatos a direção a seguir: ruas, becos, bairros, cidades. Tal apontamento se ancora no espírito do tempo, esse vetor que tende a imprimir aos ciclos eleitorais características peculiares, agendas condizentes com o ânimo social, discursos alinhados ao cotidiano. A lógica é cristalina: se o povo está nas ruas, os candidatos devem ir ao seu encontro.

Milton Nascimento, na bela música Nos Bailes da Vida, canta: "Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão, todo artista tem de ir aonde o povo está". Candidatos são os artistas do palco político. Cada eleição tem sua índole. A deste ano é a campanha de rua.

O barulho social bate nas portas dos Poderes. O eco espraia-se pelas teias organizadas por setores e categorias profissionais, organizações não governamentais e, mais importante, sob o empuxo da elevação do nível de conscientização política de participantes de todas as classes, até mesmo das margens. Sob o clamor geral, aos candidatos se impõe a lição de casa: conhecer os problemas regionais, absorver as prioridades de cada compartimento da pirâmide e dar respostas adequadas e factíveis às reivindicações (demonstrando como realizarão as promessas). A diferença de outros pleitos se escancara. Hoje a percepção do eleitor é mais aguda, situação apontada não apenas pelo ajuntamento de conglomerados eleitorais, mas também pela baixa avaliação que faz de governos e candidatos.

O que motiva a contundente expressão social? Entre as hipóteses, alinham-se o sentimento da nova classe média (C) de que não alcançou o mesmo patamar de sua vizinha de cima, a classe B; a sensação de que os ganhos obtidos se esvaem no ralo da inflação; a precariedade dos serviços públicos; o receio de voltar ao andar de baixo da pirâmide; a maré enchente de escândalos, desvios e corrupção, que estende o fosso entre o universo político e o eleitor... Em suma, a sensação generalizada de que o País gira em torno de si mesmo, tateando sofregamente na trilha esburacada de grandes deficiências. Não é exagero aduzir que a comunidade nacional grita em uníssono: basta de mesmice!

A indignação é solfejada por um conjunto formado por tipos variados de eleitores, entre os quais se incluem amorfos, emotivos, pragmáticos, locais, religiosos, esclarecidos/racionais. Grupamentos de baixo nível de conscientização, que tendem a estender braços ao populismo, habitam principalmente o território que agrega 54% (72 milhões) dos 142 milhões de eleitores que não chegaram a concluir o primeiro grau. Constata-se, porém, que mesmo na terra desse eleitorado se ouve acentuado teor crítico, a denotar menor dispersão e olhar atento. O fato é que os currais das turbas ignaras se vão fechando. Veja-se a pressão de grupos como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto. O voto segmentado, direcionado, será mais volumoso que o de ontem, a refletir a organicidade social do País. Um bloco em ascensão é o do voto religioso, até comporta candidato próprio, na demonstração de que os credos evangélicos e o mercado da fé, endinheirados, passam a ser parceiros poderosos da política.

O bolo eleitoral incha com o fermento das redes sociais, formando exércitos de ataque e de defesa em torno dos atores políticos. A virulência verbal recrudesce. Até grupos tradicionalmente alheios à política, como os jovens, se envolvem na malha eletrônica, que passa a exercer papel importante no debate nacional.

Resta, por último, retratar a galeria de candidatos. O perfil predominante acaba de sair do forno do TSE: homem, branco, casado, sem ter concluído o ensino superior. Se considerarmos que a população brasileira é constituída, segundo o Pnad, por 47% de pessoas brancas, 43% de pardas e 8% de negras, a proporção de candidatos brancos supera o conjunto. As mulheres entram na arena eleitoral com apenas 29,7% do total de candidatos (7.410), apesar de constituírem maioria da população (51,5%). O painel de profissões mostra fatia maior de candidatos que se dizem empresários (9,3%), advogados (5,5%), comerciantes e políticos (deputados, vereadores). O circo eleitoral abre suas cortinas para os olimpianos da cultura de massa - artistas e ex-jogadores de futebol -, que tentarão atrair votos com sua fama. Sem o sucesso de outrora.

Ao fundo, o eleitor insatisfeito parece gritar: "Até quando, candidatos, abusareis da nossa paciência?".

* Jornalista, professor titular da USP

Miriam Leitão: Filme velho

- O Globo

O Brasil está vivendo nesta eleição o que já tínhamos superado em 2002: temores do mercado e oscilação de ativos em função das pesquisas. Em 2006 e 2010, as simpatias pelos candidatos se distribuíram de maneira natural, porque o primeiro governo Lula havia mitigado o temor de que a vitória de uma corrente política significasse risco econômico. O velho clima voltou.

Em 2002, o eleitorado queria mudança após dois mandatos com o mesmo partido, mas desde que isso não significasse a perda de conquistas, como a estabilização da moeda. O primeiro programa do então candidato Lula veio com as velhas e amalucadas ideias de auditoria na dívida interna e externa, revogação de privatização, centralização cambial. O Partido dos Trabalhadores pagava, na época, o preço de suas próprias atitudes ao ficar contra o Plano Real e todos os seus avanços, como a Lei de Responsabilidade Fiscal. Quanto mais Lula subia nas pesquisas, mais o dólar disparava.

A Carta aos Brasileiros, a atuação do ministro Palocci, o trabalho cooperativo na transição e a escolha dos nomes da primeira equipe econômica permitiram ao país dar um passo importante no seu amadurecimento institucional. Ficou claro que o mercado financeiro poderia gostar de qualquer um dos candidatos, mas a vitória do outro não representaria risco de adoção de uma política econômica que levasse à instabilidade.

O curioso é: por que voltou agora esse clima, se ele se concentra na continuidade e não na mudança para um governante novo? A atual administração acumulou uma série de erros na condução da política econômica e não esclareceu o que pretende fazer num segundo mandato para corrigir os desequilíbrios. Nas entrevistas, a presidente Dilma repete frases de efeito, faz afirmações que os fatos não confirmam, sustenta números discutíveis. Na quarta-feira, por exemplo, ela elogiou sua política industrial e, na sexta-feira, saíram dados de queda forte da indústria. Dilma deveria esclarecer seus projetos porque está na frente das pesquisas e seus métodos de governar são bem conhecidos.

O episódio da demissão de uma analista do Santander é patético. Primeiro porque ela fez uma análise binária. De fato a Bolsa tem oscilado na razão inversa da intenção de voto da presidente. Segundo, porque o governo tratou o fato de forma histriônica, como se fosse uma “inadmissível” interferência estrangeira. Terceiro, porque o banco se curvou, pediu desculpas, demitiu a analista.

É assim, de forma subserviente, que se comportam os chamados agentes econômicos. A presença do governo sempre foi grande na economia e isso aumentou no atual mandato. Os bancos ganham muito dinheiro, o setor elétrico está sendo socorrido, as indústrias têm redução de imposto e empréstimo subsidiado. Todos temem o governo porque dele dependem. Na preparação de mais uma rodada do empréstimo ao setor elétrico, alguns bancos disseram que não iriam participar. O governo os enquadrou e eles ficaram. Foi apenas atendido o pedido de jogar a maior parte do peso sobre os bancos públicos.

Esse empréstimo é obviamente uma insanidade que seria reprovada por qualquer modelo independente de risco bancário. O tomador não tem ativos, é uma câmara de empresários. Já recebeu a exorbitância de R$ 11,2 bilhões em créditos. O dinheiro foi todo entregue às distribuidoras. A garantia bancária é apenas um documento do órgão regulador autorizando a cobrança do empréstimo e juros na conta a ser enviada ao consumidor a partir do ano que vem. O dinheiro não foi suficiente e o governo pediu mais R$ 6,5 bilhões.

A ação da Petrobras sobe e desce conforme os ventos eleitorais. Isso acontece por que no mercado há mentes malévolas conspirando contra a empresa ou porque a atual administração impôs uma política de preços que dá prejuízo à estatal?

A lista é extensa, mas a matriz é a mesma e tem produzido efeitos negativos: o país não está crescendo, a inflação é alta, há preços represados, piora dos números fiscais, queda da corrente de comércio externo e uma confusão no setor elétrico. O ano de 2015 será de ajuste. A ansiedade maior recai sobre o que fará a presidente Dilma para corrigir o que foi feito em sua administração. Ela ainda não disse. Pelo contrário, tem defendido as escolhas que fez.

Ferreira Gullar: Um caso de polícia

• A divulgação de um vídeo gravado dentro de um carro-patrulha da Polícia Militar do Rio deixou-me chocado

- Folha de S. Paulo / Ilustrada

Não faz muito tempo, escrevi aqui uma crônica em que procurava mostrar que a desmoralização da polícia não ajuda os cidadãos e, sim, ao contrário, ajuda os criminosos.

Dizia, portanto, apenas o óbvio, uma vez que a polícia é um órgão do Estado, criado e mantido por ele, para garantir a segurança dos cidadãos. Admitia, claro, que muitos policiais abusam da autoridade que lhes é delegada por nós e chegam mesmo a agir como bandidos.

Mas não é assim que age a maioria dos policiais. Esses merecem nosso respeito e nosso reconhecimento, já que a sua função implica frequentemente em pôr a própria vida em risco.

Isso afirmei naquela ocasião e o mantenho, porque é essencialmente verdade. Não obstante, a divulgação de um vídeo gravado dentro de um carro-patrulha da Polícia Militar do Rio de Janeiro deixou-me chocado e revoltado. Não tenho dúvida de que essa terá sido a reação de todas as pessoas que o viram.

No carro estavam dois cabos da PM que haviam prendido três garotos suspeitos de praticarem furtos no centro da cidade.

Puseram os garotos na mala do carro e rumaram para o morro do Sumaré, que fica acima da floresta da Tijuca, local habitualmente deserto.

Enquanto viajavam para lá, estavam sendo filmados por um equipamento de vídeo instalado no veículo, com o propósito de controlar a ação dos seus ocupantes.

Os soldados pareciam se divertir com aquela tarefa e conversavam: "Vamos descarregar a arma neles?...", disse um deles, e o outro: "Jogar eles lá de cima". Conversavam e riam, como se falassem de coisas engraçadas.

Finalmente, chegaram ao alto do Sumaré. Fizeram o terceiro garoto descer e seguiram até o ponto em que estacionaram e um deles saiu para tirar os garotos do porta-malas. Em seguida, o outro guarda também saiu do carro. Dava para ver o momento em que abriram a mala, mas a partir daí a gravação parou.

Não se viu nem ouviu o que aconteceu, para onde os levaram, o que fizeram com eles.

Depois de um tempo, retornam e a gravação recomeça. Dão a volta no carro e, mais adiante, pegam o garoto que haviam deixado na estrada. Por que o deixaram ali e agora o pegam de volta? Para que não visse o que iam fazer com os outros dois?

Fazem-no sentar no banco traseiro e um dos guardas diz a ele que, se souberem que alguém andou falando do que ocorreu ali, a coisa vai engrossar.

Avisam-lhe que deve ficar de bico calado, não sabe de nada, não aconteceu nada. Mais tarde, quando certamente já estão de volta à cidade, fazem o garoto descer e seguem seu caminho, sorridentes, felizes da tarefa realizada. Mas que tarefa foi essa: matar os dois pivetes?

Inacreditável, pensei comigo mesmo. Que há policiais que matam bandidos, todo mundo sabe. Mas, neste caso, havia uma coisa surpreendente: aqueles dois cabos da PM disseram o que disseram, dando a entender que iam executar os garotos, sabendo que estavam sendo gravados pelas duas câmeras instaladas no carro.

As câmeras não são postas ali sem o conhecimento de quem usa o veículo; são postas ali para que eles saibam que estão sendo vigiados. E sabem também que as gravações são depois levadas para a sede da polícia e armazenadas para serem posteriormente analisadas por oficiais da corporação.

E mesmo assim aqueles dois cabos deixavam claro que iam dar fim aos meninos e ainda ameaçam o terceiro para que não conte nada do que houve?

Ou seja, se o menino não falar, nada se saberá. Mas e a gravação?

Pois, sim, se os policiais sabiam que tudo o que diziam estava sendo gravado, se deixaram claro que puseram os garotos na mala do carro, que depois os tiraram de lá e os executaram e o vídeo mostra isso, a pergunta inevitável é esta: eles estavam certos de que, ainda que o comando da PM viesse a saber do crime que praticaram, nada lhes aconteceria?

Ou seja, o comando da PM está de acordo com a execução de suspeitos?

Sinceramente, sem pretender fazer juízo antecipado de ninguém, acho que o comando da Polícia Militar do Rio de Janeiro deve uma explicação à opinião pública.

Brasília-DF :: Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

Doou, pagou
As pessoas que costumam fazer doações em dinheiro, ainda que para filhos e parentes, devem prestar atenção, porque, no Distrito Federal, desde agosto de 2012, 4% dessa generosidade deve seguir para os cofres do GDF. E, aqui, as doações são muitas. Primeiro, foi o ex-deputado José Genoino e a "vaquinha" de R$ 667,5 mil para quitar a multa cobrada pela Justiça. Agora, a presidente Dilma Rousseff, que afirmou na sabatina do Uol/Folha/Jovem Pan/SBT doar parte dos recursos que tem em espécie à filha Paula. No caso de Genoino, o GDF pretendia cobrar o ITCD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos). Afinal, é lei. Na última sexta-feira, informou apenas que não poderia dar detalhes porque se trata de sigilo fiscal. Quanto à presidente Dilma, é um mistério, até porque a presidente não esclareceu quando fez a doação à filha.
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O ITCD é o suprassumo da burocracia nacional. Deve ser pago por quem recebe a doação ao estado de quem doou. O recebedor precisa pedir uma guia de recolhimento que leva três dias úteis para ser emitida. Tem gente achando que a extinção desse tal de ITCD poderia dar início à reforma tributária. As excelências generosas agradecem.

Agora vai
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), mandou telegramas a todos os deputados peemedebistas para pedir que venham a Brasília no esforço concentrado que começa terça-feira para votar a derrubada do decreto que regulamenta os conselhos consultivos. O governo torce para a sessão não ter quórum. A única forma de derrotar o PMDB é não votando.
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"O único esforço que os políticos se concentram agora é no da busca de votos. Para o esforço da Câmara, vai o corpo e fica a alma. Seremos 400 zumbis"
Deputado Márcio França (PSB), candidato a vice-governador de São Paulo
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O discurso de Eduardo
Aos poucos, o candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, vai modelando o discurso. O tom que, às vezes, parecia raivoso, está em franca mutação. Agora, a maioria de suas falas tem um tom mais professoral, sob encomenda para se colocar como o único capaz de unir os melhores nomes do PSDB e do PT.

Se não atrapalhar...
...O governo e o PT agradecem. Alguns petistas acreditam que, desde março, quando o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi ao Congresso e mencionou a resistência da inflação, cresceu a visão de pessimismo. Esta semana, Tombini irá novamente. Tudo o que o governo quer é que, se não puder ajudar, pelo menos ele não crie mais uma imagem negativa a menos de 70 dias da eleição.

Nossos comerciais, por favor/ Os candidatos a presidente estão ansiosos por aquela que consideram a melhor forma de fazer campanha: o um minuto diário para a agenda de cada um no Jornal Nacional da TV Globo, a partir de segunda-feira. José Serra, do PSDB, avisou a amigos que foi ali que começou a crescer na campanha de 2010.

Chororô/ Este esforço concentrado promete inversão de papéis. Deputados ávidos por contactar empresários, sempre potenciais financiadores de campanha, e os empresários loucos para fugir das excelências.

Nome da moda / De tempos em tempos, os políticos se fixam num nome para seus projetos, escolas, praças. Pois o personagem da hora é dona Lindu, a mãe do ex-presidente Lula. Em Divinópolis (MG), a extensão do Campus Universitário de Ouro Preto, inaugurada por Lula, se chama D. Lindu; em Recife, há um parque D. Lindu; no ABC, tem a escola D. Lindu. Há quem diga que até Lula já perdeu as contas.

Vale tudo / Olha só o que fez o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) (foto) em uma rede social. Tirou foto dormindo e ainda colocou uma legenda: "Olha eu dormindo!".

Diário do Poder :: Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Aécio teme prejuízo com julgamento de Cunha Lima
Candidato à Presidência, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) está preocupado com pedido de impugnação da candidatura do tucano Cássio Cunha Lima ao governo da Paraíba, que será julgado nesta segunda (4) pelo Tribunal Regional Eleitoral com base na Lei do Ficha Limpa. A equipe de campanha de Aécio avalia que o presidenciável perderá uma importante base no Nordeste caso Cássio Cunha Lima saia derrotado.

• Pau a pau
A briga pela impugnação, impetrada pelo governador Ricardo Coutinho, será acirrada. Dois advogados de renome nacional vão atuar no caso.

• Experiente
Cássio Cunha Lima contratou para defender sua candidatura ninguém menos que o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral Eduardo Alckmin.

• Só fera
Do outro lado, está Erick Pereira, doutor em Direito Constitucional pela PUC-SP e parceiro de escritório do ex-presidente do STF Cezar Peluso.

• Eleições à parte
Amigo também do ex-presidente Lula, Cássio Cunha Lima chegou a cuidar, no Nordeste, da pré-campanha de Aécio Neves à Presidência.

• Fugindo da hora extra, Caixa não exige ponto
O Sindicato dos Bancários acusa a Caixa Econômica Federal de realizar “manobra” para obrigar gerentes a trabalharem cerca de 12 horas por dia, sem receber hora extra. O banco enviou comunicado aos empregados com a lista do registro no Sistema de Ponto Eletrônico, onde vários gerentes tiveram os nomes excluídos sem qualquer explicação. O registro do ponto estava na pauta dos empregados da Caixa há mais de 10 anos.

• Quebra de acordo
Em acordo firmado com o sindicato, a Caixa prometeu cobrar o ponto eletrônico de todos os gerentes a partir do dia 1º de agosto.

• Não é o caso
Pelo artigo 62 da CLT, apenas os ocupantes de cargos máximos nas unidades ficam de fora do registro de entrada e saída do trabalho.

• Nos conformes
A Caixa Econômica informou, por meio de sua assessoria, que a medida adotada está em consonância com a Legislação Trabalhista vigente.

• Bola dividida
O PT quer que Dilma cumpra agenda com os candidatos ao governo, Robinson Farias (PSD-RN), e Senado, Fátima Bezerra (PT). O Planalto foge para não desagradar presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB).

• Processo de cassação
O PSOL deverá protocolar nesta terça (5) representação no Conselho de Ética da Câmara contra Rodrigo Bethlem (PMDB), flagrado admitindo, em áudio, ter recebido propina quando secretário de Assistência Social do RJ.

• Do nosso bolso
Para o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), a presidenta Dilma ofende o povo brasileiro ao tirar ministros do trabalho para “bater palmas em sua campanha”. Sete participaram de sua sabatina na quarta (30) na CNI.

• Postura errada
O sociólogo e ex-deputado Paulo Delgado (PT-MG) resume a visão dos empresários sobre os presidenciáveis Dilma, Aécio Neves e Eduardo Campos: “Quem precisa de gerente é empresa, o Brasil precisa de líder”.

• Submissão
Diretora da União Indústria de Cana de Açúcar, Elizabeth Farina criticou, em reunião na CNA, a “submissão” e “falta de conhecimento” do senador Romero Jucá (PMDB-RO), relator do PL 432, que define trabalho escravo.

• Mal na fita
A desconfiança no Congresso é tamanha que o presidente da Federação dos Agricultores do MS, Eduardo Riedel, também questionou na reunião o que a Frente Parlamentar da Agropecuária tem feito pelos ruralistas.

• 75% dos ministros
O governo petista de Dilma e Lula foi responsável por nomear 54 dos 71 ministros que compõem constitucionalmente os quadros do STF, STJ e TST. Da gestão tucana de FHC, restam apenas 15 ministros.

• Estranhos no ninho
Há, ainda, Celso de Mello, nomeado por José Sarney, e Marco Aurélio, da gestão de Collor, ambos ministros do STF. Já o STJ e TST estão polarizados: só há ministros nomeados pela dupla Lula/Dilma e por FHC.

• Vergonha coletiva
Com a rejeição ao PT em SP, políticos comparam eleitores de Dilma com os de Maluf: eles até votam, mas não tem coragem de falar em quem.

Painel :: Bernardo Mello Franco (interino)

- Folha de S. Paulo

Linha cruzada
Lula tem reclamado de ruídos na relação com Dilma Rousseff (PT) nesta primeira fase da corrida ao Planalto. O ex-presidente disse a aliados que a sucessora tem dado pouca atenção a suas sugestões sobre os rumos da campanha e que perdeu espaço na definição da estratégia adotada pela petista. Lula reclamou que tem tido poucas oportunidades para conversar a sós com Dilma. Por isso, disse que deve se limitar a pedir votos nas ruas e na TV, sem interferir no discurso da candidata.

De cima... Em uma estratégia casada com Dilma, Fernando Pimentel (PT) vai reforçar seus ataques a Aécio Neves (PSDB) na campanha pelo governo de Minas.

... para baixo O objetivo é reforçar a polarização no Estado e evitar que o presidenciável transfira votos para Pimenta da Veiga (PSDB).

Retaguarda Aécio tem viagens programadas ao Paraná e a Santa Catarina na próxima semana. A campanha tucana observou que a avaliação negativa do governo Dilma caiu na região Sul nos últimos meses.

Fonte seca Deputados candidatos à reeleição sofrem para conseguir doações de empresas. Um dirigente de banco privado em São Paulo conta, "sem exagero", que recebeu "mais de 50 ligações" de um congressista desde o início do mês passado.

É débito? Autoridades que visitaram o Templo de Salomão, da Igreja Universal, se disseram impressionadas ao ver uma mesa cheia de máquinas de cartão de crédito. As engenhocas são usadas para arrecadar o dízimo eletrônico dos fiéis.

Ecos do passado Repórteres japoneses que cobriam a visita do primeiro-ministro Shinzo Abe a Brasília, na última sexta-feira, queriam saber se o chinês Xi Jinping teve mais pompa em sua passagem pela capital. As relações entre os dois países são historicamente tensas.

Programa Livre A apresentação que Eduardo Campos e Marina Silva farão do programa de governo do PSB terá a plateia preenchida por jovens --público em que a dupla enxerga maior potencial de crescimento. A ideia é que os convidados façam intervenções durante o evento.

Outro Skaf Michel Temer combinou com deputados do PMDB gaúcho que vai criar um comitê "paralelo" de apoio a Dilma no Estado. O candidato da sigla, José Ivo Sartori, é aliado de Campos.

Obra apócrifa O governo Geraldo Alckmin (PSDB) ficou furioso com a discrição das placas com o logo da administração paulista nas obras da linha da CPTM que chegará ao aeroporto de Guarulhos. A equipe foi cobrada pela falta de assinatura.

Trailer Com a vantagem de José Roberto Arruda (PR) nas pesquisas do Distrito Federal, a equipe de Agnelo Queiroz avisou à cúpula do PT que vai explorar o vídeo em que o ex-governador aparece recebendo propina.

Guerrilha A gravação deve ser usada inicialmente nas redes sociais, mas pode ir para as inserções na TV no futuro. Pesquisas petistas apontam que o eleitor de Arruda "se envergonha" quando confrontado com o vídeo.

Seletiva A biografia de Luiz Fernando Pezão (PMDB) no site do governo do Rio informa que ele foi secretário estadual em 2006. Mas omite que a governadora, na época, era sua atual desafeta Rosinha Garotinho (PR).

Eu lembro Líder nas pesquisas, Anthony Garotinho (PR) tentará colar a pecha de "traidor" no peemedebista. Ele se diz responsável pela indicação de Pezão como vice de Sérgio Cabral (PMDB).
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Tiroteio
"Eduardo não terceirizou seu governo em Pernambuco, não o entregou a outra pessoa. Aviso: não dá para fazer isso na Presidência."
DE MARINA SILVA, candidata a vice na chapa de Eduardo Campos (PSB), sobre a influência de Antonio Anastasia no governo de Aécio Neves (PSDB) em Minas.
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Contraponto
Questão de numerologia

Quando o Tribunal Regional Eleitoral julgava a legalidade das caravanas do candidato do PT ao governo paulista, Alexandre Padilha, o juiz Alberto Toron defendeu a redução da multa aplicada ao ex-ministro por propaganda antecipada, de R$ 25 mil para R$ 18 mil.

Argumentou que, diante da extensão dos eventos, Padilha não merecia a punição mínima. Mas, como não era reincidente, também não deveria receber a punição máxima. Ao final da conta, o magistrado brincou:

--E o número 18 tem ainda simbologia para o judaísmo, significa vida!

Panorama político :: Ilimar Franco

- O Globo

A antipolítica
Uma parcela crescente dos eleitores vem se posicionando contra a política. O aumento dos votos em branco e nulos e as abstenções têm esse ingrediente. Por isso, Eduardo Campos busca ser um estuário do voto de protesto. Esse sentimento elegeu Fernando Collor, em 1989, e favoreceu Marina Silva, em 2010. Campos quer esse eleitor e proclama: “os únicos que não vão governar com Renan, Sarney e Collor somos nós, eu e Marina”.

Em busca do casamento perfeito
Na largada da campanha, um dos objetivos do tucano Aécio Neves é colar seu desempenho ao dos candidatos aliados, a governador e ao Senado, que lideram as pesquisas. Em São Paulo, Alckmin tem 51% das intenções de voto e Aécio, 25%. A tarefa de vincular a candidatura estadual à nacional não é uma obra simples. Em 2010, em São Paulo, Alckmin ganhou no primeiro turno com 51% e o tucano José Serra fez 40%. A presidente Dilma também não conseguiu atingir o desempenho de Eduardo Campos na eleição passada. Ele fez para o governo de Pernambuco 82%, cerca de 20 pontos a mais que a presidente Dilma, que chegou a 61%. Esse descasamento ocorre porque o brasileiro vota em candidatos e não em partidos.
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“A campanha não começou em lugar nenhum. Não tem cartaz nem tem panfleto. A campanha está mais na mídia do que na rua. Estou surpreso e chocado”
Ciro Nogueira
Senador (PI) e presidente do PP
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Na carona dos Jogos
Técnicos do governo querem fazer da Rio 2016 um acontecimento nacional. Com eventos paralelos, a ideia é atrair turistas o ano todo para o Brasil. E, além do Rio, sede das Olimpíadas, incluir outros destinos no roteiro dos visitantes.

Índio quer apito
O candidato ao governo do Amazonas Eduardo Braga (PMDB) tem um jingle cantado na língua indígena tikuna. A versão foi apresentada no município de Amaturá, que tem
população indígena. Em ritmo de arrocha, a cantora pede votos para o senador e para sua vice, a deputada Rebecca Garcia (PP). O áudio pode ser ouvido no blog da coluna.

Parada dura
Socialistas e marineiros avaliam que Eduardo Campos tem que vencer dois obstáculos. Um deles é a falta de militantes na rua para amarrar o voto. O outro é romper o sentimento de que a disputa é entre a presidente Dilma e Aécio Neves.

Pacto secreto
Os candidatos Marcelo Crivella (PRB) e Lindbergh Farias (PT) evitam ataques diretos um ao outro. Lindbergh quer os votos evangélicos em um eventual segundo turno e Crivella, o eleitor da Baixada. A estratégia nas duas candidaturas é bater no governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e em Anthony Garotinho (PR).

O pessimismo e a realidade
A campanha do PSDB diz que a presidente Dilma não pode afirmar que o mercado é pessimista. O Sistema de Expectativas do Mercado do Banco Central fez previsões de crescimento maiores (em 2011, 2012 e 2013) do que os alcançados.

Os medos
Os temores dos empresários são: o incremento de uma linha populista com a permanência da presidente Dilma no governo e a falta de capacidade de Eduardo Campos para administrar o país sem quadros e apoio no Congresso.
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A PRESIDENTE DILMA recebeu informe do comando de sua campanha de que ela está crescendo lentamente nas pesquisas de monitoramento

Luiz Roberto Nascimento Silva: Raízes do Brasil

- O Globo

Amorte duplamente indesejada e quase simultânea de João Ubaldo e Ariano Suassuna nos faz pensar sobre a importância da literatura nordestina na construção da identidade do país. Se recuarmos no tempo, veremos que no século XIX um escritor como Machado de Assis, que é um cânone de nossa língua, produzirá toda a sua obra extraordinária em torno do Rio de Janeiro, então capital do país.

Derrubada a monarquia, sepultada a República Velha com Getúlio Vargas, esboça-se o primeiro esforço de construção de uma sociedade mais urbana e industrializada. Curiosamente, nesse mesmo período surgirá o grande ciclo regionalista, com autores como José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado e a obra também literária de Gilberto Freyre. Esses autores voltam a sua atenção e o foco de sua criação para seus ambientes e habitats naturais de origem agrária e nordestina. Cria-se uma nova identidade nacional até então desconhecida do próprio país e do mundo.

Tolstoi nos ensinou que em literatura “se queres ser universal, escrevas sobre tua aldeia”. Esses autores irão mergulhar no âmago de suas infâncias e na estrutura muitas vezes ainda feudal dos donos da terra e seus empregados e agregados. Irão assim desconstruir a origem econômica dessas relações sociais de um Brasil que durante séculos se apoiou na escravidão e no latifúndio.

Penso que foi fundamental para essa revolução a plasticidade do português falado no Nordeste. Quando me refiro à língua, penso naquela falada pelo povo, e não pelos acadêmicos e filólogos.

Não há dúvida que o português falado nesses nove estados que parecem constituir uma nação dentro do Brasil é muito mais fluído, mais rico em nuances, expressões, apelidos e aliterações que o português do Sul e Sudeste, mais contido, próximo da norma culta. Essa liberdade linguística me parece ter sido essencial na construção dessa nova literatura mais próxima do povo.

Além disso, a região salientou aspectos importantes de nossa nacionalidade como a religiosidade mística, a tradição das festas juninas e dos presépios, a simbologia poderosa do cangaço, as comidas típicas e uma música rica como o frevo, o xaxado e o forró.

Mesmo escritores nordestinos como Graciliano Ramos, ao se mudarem para o Rio de Janeiro continuaram a escrever sobre sua realidade natal. O gênio mineiro de Guimarães Rosa — ainda que represente uma ruptura com o grupo regionalista por empreender uma revolução também na linguagem — vai escrever sobre o sertão que “está em toda parte”.

Curioso assinalar que outro meio de expressão artística fundamental que é o cinema foi buscar no Nordeste sua inspiração modernizadora. “O pagador de promessas”, de Anselmo Duarte; o canônico “Deus e o diabo na Terra do sol”, de Glauber Rocha; e “Vidas secas”, de Nelson Pereira dos Santos, são expressão disso. É esse Brasil nordestino, esse Cinema Novo, que será exibido e premiado no exterior.

Resta uma indagação importante. Quando conseguiremos traduzir proporcionalmente em termos culturais o Sul e o Sudeste do país? São Paulo, por exemplo, é uma megalópole capitalista fascinante. Talvez até hoje, o melhor filme sobre a cidade tenha sido “São Paulo S/A”, de Luís Person, realizado ainda em 1965. Há um outro país urbano e industrial que ainda não foi descoberto culturalmente para nós mesmos. Claro que autores como Mário de Andrade, Érico Verissimo, Drummond, Mário Quintana, Clarice Lispector, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca são exemplos desse Brasil ainda desconhecido; mas falta muito a ser dito.

A homenagem a João Ubaldo e a Ariano Suassuna — autores fundamentais para a compreensão de nosso país e nosso povo — é também uma oportunidade para introduzir esse debate.

Luiz Roberto Nascimento Silva é advogado e foi ministro da Cultura no governo Itamar Franco

Livro: Aproximações – Cultura e Política

Ana Amélia M. C. de Melo e Ivenísia Torres de Oliveira

Apresentação

Este livro reúne trabalhos que se dedicam a assuntos e problemas de interesse da linha de pesquisa Cultura e Poder, do Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Federal do Ceará.

Ao referir-nos nomeadamente à cultura e política pretendemos não apenas incluir algumas abordagens que, atualmente no Brasil, faz em uso da noção de cultura política, como também apresentar um panorama mais amplo de discussões onde se articulam as concepções de cultura e política, apontando para a diversidade de suas contribuições nos estudos históricos. Procuramos explorar, sobretudo, os fecundos intercâmbios interdisciplinares que tomam a história como uma referência necessária. Esses trabalhos representam também o diálogo que temos estabelecido com pesquisadores de diversas instituições em distintas áreas.

Eles procuram analisar a cultura desde diversas perspectivas: da literatura,em suas intrincadas relações com o social; dos impressos, como revistas e jornais, que difundem ideias artísticas e também políticas; do patrimônio urbanístico, como expressão de uma atitude em relação ao lugar; e da política propriamente, com o fim de examiná-la na perspectiva das ideias e valores defendidos por seus atores. O vasto espectro de significações de cultura e sua relação com o social são as ligaduras entre os textos que aqui damos a conhecer.

Os estudos que lidam com literatura procuram pensar a intrincada relação entre a figura social e política dos escritores, as ideias do tempo e a configuração literária das obras. O capítulo elaborado por Eleonora Ziller Camenietzki propõe uma discussão sobre o tema do negro na literatura,examinando o debate atual nos casos de Machado de Assis e Monteiro Lobato. O primeiro vem sendo interrogado por sua pouca intervenção na questão abolicionista e o segundo tem protagonizado uma polêmica de vulto nos últimos anos, devido ao teor considerado racista de alguns de seus livros infantis. O ensaio discute a redefinição atual da relação comesses autores consagrados, a partir das exigências cidadãs contemporâneas,e procura mostrar que, examinando as obras como um todo e não apenas partes isoladas, elas trazem em si mesmas as contradições dos limites ideológicos apontados.

Em “‘Cenas cruas da natureza’ - Cientismo no romance naturalista A carne, de Júlio Ribeiro”, Ângela Mendes de Almeida mostra a relação entre literatura e ideologia. O ensaio destaca a presença massiva do conhecimento e do vocabulário científico-naturalista do século XIX na composição do romance, tanto nas conversas e valores dos protagonistas, quanto na explicação do comportamento de todas as personagens. A autora ressalta ainda o uso desse ideário para fundamentar velhos preconceitos contra os negros e as mulheres.

Irenísia Torres de Oliveira investiga a relação entre indivíduo e sociedade na obra de Lima Barreto, partindo da hipótese de que a afirmação do individualismo que se percebe nos protagonistas de seus principais romances pode ser indício de um momento novo na experiência social brasileira, com repercussões na forma narrativa. O ensaio examina como a construção de um eu nos primeiros anos do Diário íntimo do escritor retoma a orientação e valores que estiveram na base da constituição do romance como gênero na Europa.

No texto seguinte, de autoria de Soledad Falabella Luco, faz-se uma análise histórica e crítica sobre a emergência da mulher na esfera letrada do Chile, nos primeiros anos do século XX. A autora examina a trajetória das escritoras Winétt de Rokha e Gabriela Mistral, procurando evidenciar através dos seus discursos e percursos, as estratégias que elas estabelecem para encontrar reconhecimento e legitimação. Vale destacar o contraponto proposto neste estudo entre as duas escritoras: uma como detentora e outra como despossuída de patrimônio cultural e material.

O estudo da professora Ana Paula Pacheco analisa a figura do intelectual representado pelo narrador de Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Uma espécie de sombra do mundo, conforme palavras da autora,o intelectual incide no plano estrutural do romance para esquadrinhar a violência da sociedade brasileira. Em seu estudo, a professora dá relevo às marcas sociais deixadas pelo intelectual alagoano nas próprias estratégias narrativas usadas para fazer a crítica social tão cara aos escritores dos anos 1930.

Com foco agora não no intelectual e sua obra, mas no movimento editorial de um período, o estudo apresentado pela professora Tânia de Luca procura estabelecer uma tipologia de publicações periódicas no Brasil das primeiras décadas do século XX. Nesse momento, verifica-se um aumento significativo na circulação de periódicos em todo o país. Num esforço de construir um instrumento analítico, a autora propõe critérios de seleção e ordenamento que permitam, ao pesquisador voltado para a análise e uso de publicações periódicas do século XX, operar com maior rigor.

O artigo de Clovis Jucá Neto volta-se para o estudo arquitetônico e urbanístico colonial a partir de instalação da Vila de Montemor-o-Novo d’América (1764) no território cearense. Nesse estudo, o autor descreve amaneira pragmática como foi pautado o traçado urbanístico de uma Vila no Ceará e o método Lusitano que obedecia a uma ritualística técnica muito rigorosa.

No campo da história política e especialmente das ideias políticas, o professor Marcos Sorrilha Pinheiro procura discutir as noções do liberalismo no Brasil frente à escravidão, a partir do estudo pormenorizado dos escritos de José Bonifácio, não com o sentido de arrolar mais elementos que confirmem nosso contrassenso, mas para indicar uma complexa trama onde se identificam vertentes combatentes.

A política no Império é também o tema central do estudo do professor Marcello Basile. Nesse trabalho, Basile analisa o conturbado período regencial no Rio de Janeiro, mostrando que a vacância do Trono,além de colocar em cena atores sociais quase sempre excluídos de uma participação mais ativa na vida política, expõe as tensões e conflitos no interior da própria elite. Examinando as manifestações de rua de setembro de 1832, na Corte, o trabalho aponta ainda para a importância do estudo dos movimentos contestatórios regenciais, como expressão de uma politização das ruas que constituiria uma nova cultura política fundada nos ideais liberais.

Discutindo também as ideias liberais no Brasil, o artigo de Ana Amélia Melo e Reginaldo Araújo investiga os seus significados a partir dos debates na imprensa do Ceará, na primeira metade do século XIX. Os autores detêm-se na difusão dos impressos na Província do Ceará e sua importância na propagação do pensamento ilustrado, bem como na função destes nas disputas políticas por toda a Província.

O estudo de Maria Regina Santos de Souza, também sobre o Império, analisa as referências feitas na imprensa do Ceará aos veteranos da Guerra do Paraguai. Mostra como os ex-combatentes passaram de heróis a responsáveis pela insegurança na Província e como as autoridades,incomodadas com sua presença na cidade, transformaram os soldados retornados no principal assunto das páginas policiais.

O último texto, tratando também de aspectos da política no Brasil,volta-se para o séc. XX. A professora Surama Conde Sá Pinto analisa a atuação parlamentar de Roberto Teixeira da Silveira, liderança fluminense do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) que atuou durante as décadas de 1940 e 1960, como parlamentar e depois no executivo. A historiadora faz aqui um rigoroso estudo da vida política no Rio de Janeiro, durante os tensos anos de democracia restrita, tomando como chave a trajetória de um dos mais emblemáticos políticos do Estado.

Guinga - Catavento e Girassol

Vinicius de Moraes: O Girassol

Sempre que o sol
Pinta de anil
Todo o céu
O girassol
Fica um gentil
Carrossel.

O girassol é o carrossel das abelhas.

Pretas e vermelhas
Ali ficam elas
Brincando, fedelhas
Nas pétalas amarelas.

— Vamos brincar de carrossel, pessoal?

— "Roda, roda, carrossel
Roda, roda, rodador
Vai rodando, dando mel
Vai rodando, dando flor".

— Marimbondo não pode ir que é bicho mau!
— Besouro é muito pesado!
— Borboleta tem que fingir de borboleta na
entrada!
— Dona Cigarra fica tocando seu realejo!

— "Roda, roda, carrossel
Gira, gira, girassol
Redondinho como o céu
Marelinho como o sol".

E o girassol vai girando dia afora . . .

O girassol é o carrossel das abelhas.

sábado, 2 de agosto de 2014

Opinião do dia: Eliane Catanhêde

"Vale o registro de que Lula adora futebol, mas a Copa começou, encantou e acabou, e não se viu nem ouviu falar de Lula em estádios ou em eventos da seleção brasileira. O Lula de hoje é o das entrevistas a blogs camaradas, reuniões a portas fechadas com Dilma, articulações com a cúpula da campanha, assembleias da CUT. E, claro, dos auditórios protegidos e do aconchego dos ambientes do PT. Na campanha para valer, só deve ir ao Nordeste e a palanques pré-selecionados. Vai na boa, nada de bola dividida. Ou está se descolando da rejeição (de Dilma e do PT) e se prevenindo de eventuais derrotas alheias, ou tem pesquisa mostrando que a coisa não anda boa também para o lado dele."

Eliane Catanhêde, Folha de S. Paulo, 1 de agosto de 2014.

O nó do crescimento - Produção da indústria cai em 21 de 26 setores

• O maior impacto veio do ramo de veículos, que recuou 36,3% em um ano

• Desempenho industrial brasileiro teve retração de 6,9% em relação a junho de 2013, informa o IBGE. Na área de bens de capital, importante indicador de investimentos no país, o tombo foi de 21,1%

Indústria em marcha a ré

• No quarto mês de recuo, produção cai 6,9% em junho, a maior queda desde 2009

Lucianne Carneiro – O Globo

-RIO E SÃO PAULO- Os sinais de fraqueza da indústria brasileira se mostram cada vez mais nítidos. A produção registrou em junho o quarto mês seguido de retração e caiu 6,9% frente a junho de 2013, no ritmo mais intenso desde o recuo de 7,4% em setembro de 2009. Dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE, 21 reduziram sua produção. Frente a maio, o indicador caiu 1,4%. Quase 70% dos produtos encolheram o nível de produção. Nos primeiros seis meses do ano, a produção despencou 2,6% frente ao primeiro semestre de 2013.

Mais que o perfil disseminado de taxas negativas, no entanto, há preocupação com os investimentos: a produção de bens de capital teve perda de 9,7% frente a maio e 21,1% na comparação com junho de 2013, esta última a mais intensa desde agosto de 2009 (-22,4%). No segundo trimestre, a queda foi de 15%, frente a igual período do ano passado. A produção de bens duráveis também se destacou e registrou o maior tombo da série histórica, de 24,9% frente a maio.

Em relação a junho de 2013, o recuo foi de 34,3%, o mais intenso desde dezembro de 2008, em plena crise mundial.

— O investimento deve ser a principal contribuição negativa no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre pelo lado da demanda. A produção de bens de capital e de insumos para construção civil veio ruim, o que é sinal de investimento muito fraco no segundo trimestre — afirma o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria.

CONFIANÇA EM BAIXA
O Bradesco projeta recuo dos investimentos no segundo trimestre nos dados do PIB, frente a igual período do ano passado, em algo entre 5% e 6%.

— O calcanhar de Aquiles é a categoria de bens de capital, que depois de cair 3,8% em maio, recuou 9,7% em junho. É um resultado ruim para a economia e desanimador em termos de investimento — aponta o economista-chefe do ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal.

O cenário delicado para os investimentos é influenciado pelos baixos níveis de confiança da indústria: a sondagem da Fundação Getulio Vargas (FGV) registrou em julho a décima queda seguida e atingiu o menor nível desde abril de 2009.

A confiança em baixa também influencia a indústria como um todo, somada a fatores como nível de estoques acima do usual, evolução menor da demanda doméstica, cenário adverso no exterior, entrada de produtos importados e maior restrição na concessão de crédito, segundo o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo. Em junho, a atividade foi atingida ainda por um fator extra: a Copa, que levou a feriados e reduções de jornada de trabalho.

— São quatro meses de resultado negativo, mas é claro que a magnitude da queda (-1,4%) tem relação com a Copa do Mundo. Há influência de todos aqueles fatores que vem pontuando a indústria.

— O desempenho seria ruim de qualquer forma. Mas a intensidade tem um pouco de efeito calendário, sim — diz o economista Aloísio Campelo, coordenador de sondagens conjunturais do Ibre/FGV.

Quando se olha para as atividades, a maior influência para o desempenho negativo da indústria vem do segmento de veículos automotores, que caiu 12,1% frente a maio e 36,3% na comparação com junho de 2013. As quedas foram as mais intensas desde dezembro de 2013 e dezembro de 2008, respectivamente.

O resultado negativo é reflexo de recuos na produção de caminhões (45,4%) e de automóveis (35,1%), mas Macedo destaca que este não é um movimento isolado: cerca de 80% dos produtos deste segmento tiveram taxas negativas.

Analistas esperam alguma reação na produção nos próximos meses, mas isso não deve ser suficiente para evitar um recuo em 2014. Tendências, LCA Consultores e ABC Brasil são algumas das instituições que preveem queda. Pelo Boletim Focus, que reúne cem projeções de analistas de mercado, a estimativa é de retração de 1,15% da indústria este ano.

— Esperamos uma melhora entre agosto e dezembro e estimamos uma queda de 2% em 2014, mas pode ser maior. O quadro geral não é bom, não dá para apostar em melhora contundente da produção — diz Bacciotti.

EMPRESAS CORTAM INVESTIMENTOS
A Associação Brasileira de Máquinas (Abimaq) associa a reversão da queda na curva de produção a “ajustes profundos” que deverão ser feitos pelo próximo governo, para que os investimentos voltem a crescer.

— O ajuste no câmbio, para dar competitividade, e o reajuste nos preços administrados, por exemplo, serão inevitáveis, seja qual for o governo — disse Mário Bernardini, assessor econômico da Abimaq.

A perspectiva é ainda mais pessimista no setor de vestuário (que teve recuo de
10% em junho, de acordo com o IBGE). De acordo com Roberto Chadad, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Vestuário (Abravest), a falta de política industrial de longo prazo está acabando com o segmento de confecção no país:

— Está cada vez mais vantajoso fabricar na Ásia. Um dia, não muito longe, não teremos mais produção de vestuários no Brasil. Tudo virá do Oriente.

A Gerdau, maior produtora de aços longos das Américas, anunciou na quarta-feira corte de R$ 500 milhões, de R$ 2,9 bilhões para R$ 2,4 bilhões, em seus investimentos deste ano. Em nota, citou “o cenário de volatilidade de resultados vivenciado pela indústria do aço” para explicar a redução. No primeiro trimestre, a AmBev também revisou sua estimativa de investimentos este ano, que ficarão abaixo
dos R$ 2,8 bilhões de 2013. l

Doleiro preso foi sócio da Petrobras em projeto de usina

• Consórcio formado por estatal e duas empresas de Youssef venceu leilão para construir termelétrica em Pernambuco

• PF aponta que parceria decorreu das relações políticas do doleiro, que deixou sociedade após a concorrência, em 2007

Mario Cesar Carvalho - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Duas empresas controladas pelo doleiro Alberto Youssef foram sócias da Petrobras Distribuidora num consórcio escolhido para construir uma usina termelétrica em Suape (Pernambuco), segundo relatório da Polícia Federal sobre a Operação Lava Jato.

O doleiro é réu numa ação penal sob acusação de ter lavado dinheiro desviado da obra da refinaria Abreu e Lima, que está sendo construída em Pernambuco. Mas é a primeira vez que ele aparece como sócio da estatal.

Uma das suspeitas investigadas é que Youssef conseguiu entrar no consórcio graças aos contatos políticos que ele tinha na Petrobras.

As empresas de Youssef que se associaram à estatal (Ellobras e Genpower Energy) não tinham atuação no mercado de energia.

A Petrobras não quis se pronunciar.

Com as duas empresas, Youssef detinha a maior fatia do consórcio, de 40%. Petrobras, MPE Montagens e Genpower detinham 20% cada uma, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica, que fez o leilão para a construção da termelétrica.

A usina começou a ser erguida em 2008 e ficou pronta em 2013, após investimentos de R$ 600 milhões.

A PF descobriu que o doleiro estava por trás do consórcio ao apurar que a CSA Project Finance, empresa de Youssef e do ex-deputado José Janene (PP-PR), que morreu em 2010, controlavam as duas associadas da Petrobras. "A CSA é mandatária das empresas Ellobras e Genpower", afirma o relatório da investigação.

Janene foi quem introduziu Youssef no mundo político, de acordo com a polícia. Foi o ex-deputado também quem indicou Paulo Roberto Costa para a diretoria de distribuição da Petrobras em 2003. Costa está preso na PF em Curitiba e é réu em dois processos, sob acusação de ter desviado recursos da refinaria Abreu e Lima.

A CSA é acusada de ter lavado dinheiro do mensalão para Janene. A empresa investiu R$ 1,16 milhão dos R$ 4,1 milhões que Janene e o PP receberam do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza em uma indústria de Londrina (PR).

Youssef não atuou na construção da usina. O consórcio ganhou o leilão em 7/11/2007 e, 40 dias depois, o doleiro vendeu os 40% que detinha para o Grupo Bertin.

A Folha apurou que os 40% no consórcio renderam cerca de R$ 700 mil a Youssef. O Bertin acabou fora do projeto por falta de recursos. Para acabar a usina, a Petrobras teve de recorrer ao Fundo de Investimento do FGTS, que aplicou R$ 372,9 milhões na usina de Suape.

Gasto do Planalto com publicidade cresce 30% no primeiro semestre

• Lei provoca concentração ao proibir despesa perto da eleição

Fernando Rodrigues – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto concentrou seus gastos de publicidade institucional no primeiro semestre.

De 1º de janeiro a 30 de junho, a Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência informou uma despesa de R$ 109,3 milhões com propaganda. O valor é 29,7% maior do que o consumido no mesmo período de 2013, que foi de R$ 84,3 milhões.

A concentração de publicidade nos primeiros seis meses do ano ocorre por causa da Lei Eleitoral, que proíbe esse tipo de despesa nos três meses anteriores à eleição --ou seja, a partir de julho.

Em 2010, quando Lula era o presidente, o Planalto consumiu R$ 124 milhões em publicidade de janeiro a junho, o equivalente a 67,3% desse tipo de despesa naquele ano inteiro. O site da Secom não informa se esse valor é o da época ou se foi feita atualização monetária.

Neste ano, a previsão de gastos publicitários da Secom é em torno de R$ 170 milhões. Os R$ 109,3 milhões consumidos até junho equivalem a 64,3% do total. O percentual é semelhante ao verificado nesta época em 2010.

A prática de concentrar os gastos no primeiro semestre de anos eleitorais é comum também em governos estaduais e em prefeituras. Os políticos usam uma brecha da Lei 9.504, que proíbe investimentos acima da média dos três anos anteriores. A norma não veda, entretanto, desovar grande parte das verbas até junho, o que permite aos governantes se autopromoverem com dinheiro público até três meses antes do pleito.

"Seria importante aperfeiçoar a lei, pois de fato como está hoje não é possível impedir a concentração de gastos", diz o ministro Admar Gonzaga, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A transparência dos valores investidos em propaganda por parte do governo federal é parcial. Em 2013, o total foi de R$ 2,313 bilhões, incluindo também a administração indireta (estatais).

O orçamento da Secom nessa área representa sempre menos de 10% do total. Os valores completos deste ano só serão conhecidos em 2015.

O ministro-chefe da Secom, Thomas Traumann, disse não haver nenhum valor fora do padrão. "Esta comparação entre investimentos em publicidade federal feita pela reportagem é a prova de que, sob tortura, os números confessam qualquer coisa", disse.

"É uma comparação completamente equivocada. A legislação proíbe investimentos em publicidade institucional nos anos eleitorais nos três meses anteriores à votação. Portanto, é uma fraude estatística comparar os investimentos de publicidade do governo de primeiros semestres de anos com eleição com anos sem eleição", acrescentou.

Há pessimismo decorrente de insegurança, diz Aécio

Luciana Nunes Leal – O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, afirmou nesta sexta-feira que há pessimismo no País decorrente da insegurança causada pela falta de clareza da presidente Dilma Rousseff em relação ao futuro. "O pessimismo não é algo patológico, como quer fazer crer o governo.

O cenário de pessimismo é consequência de una construção desse governo que gera insegurança em todos os agentes econômicos e na sociedade. O governo mascara números, faz avaliações sempre confrontadas com a realidade e o ministro Mantega talvez seja o melhor exemplo disso", disse o tucano, depois de participar de gravações para o programa de TV.

Candidata à reeleição, Dilma repete com frequência que é preciso combater o discurso "pessimista" propagado por setores que, segundo ela, tentam influenciar os rumos da eleição. A exemplo da presidente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse, em entrevista publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo na quinta-feira, que há um "pessimismo artificial " e negou que o governo planeje um "tarifaço" em 2015, para compensar reajustes represados este ano.

Aécio cobrou posição clara da presidente Dilma Rousseff sobre o setor elétrico, relações internacionais, política de desonerações e papel do BNDES, entre outros temas. Acompanhado da filha mais velha, Gabriela, o candidato gravou no estúdio montado em um hotel da zona sul do Rio. Aécio disse que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso estará em seu programa "na hora que quiser".

Segundo Aécio, os primeiros dias na TV serão dedicados a mostrar a biografia, a família, a trajetória política e os principais pontos do programa de governo. Com o tempo, quando se tornar mais conhecido, as propostas ganharão mais espaço. O tucano pretende repetir a fórmula de programas do PSDB em que ele procurava falar mais espontaneamente, sem auxílio da tela com o texto pronto (teleprompter). O formato batizado de "vamos conversar" foi criado pelo antropólogo e publicitário Renato Pereira, que trabalhou com Aécio até dezembro passado, quando o tucano e o marqueteiro romperam, por "diferenças de visões".

O publicitário Paulo Vasconcelos, que já fez várias campanhas para Aécio, assumiu o marketing da campanha presidencial tucana. "As pessoas têm que saber quem eu sou, minha família, minha vida pública. Saber o que fizemos e o que pretendemos fazer. Esse tripé virá já na largada, com pesos diferentes ao longo da campanha. Setenta por cento dos meus textos não têm teleprompter, eu vou falando e eles (equipe de TV) depois vão cortando. O tom será muito coloquial", afirmou Aécio.

Para Eduardo, Dilma fará tarifaço

- Correio Braziliense

O candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, criticou ontem o discurso do ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartando um possível "tarifaço" em 2015. "O ministro da Fazenda vai para os jornais dizer que é conversa para boi dormir que não vai ter "tarifaço". Primeiro, o ministro da Fazenda não deveria usar esse tipo de termo. Segundo, se ele está dizendo que não vai ter tarifaço, é porque vai ter. É só examinar o que ele anda dizendo e tudo o que ele diz acontece o contrário", criticou o presidenciável em um evento com militantes do PSB em Pelotas (RS).

Campos comparou os últimos discursos do ministro para qualificar a falta de credibilidade da população com a economia no país. "Ele (Mantega) disse que o juro não ia subir e o juro explodiu. Ele disse que o Brasil ia crescer, e o Brasil está caindo. Ele disse que não ia ter desemprego e está tendo. Se ele está dizendo que não vai ter tarifaço, pode anotar aí que já está na gaveta para depois da eleição", atacou. Em seguida, Campos afirmou que, se eleito, vai "passar confiança" para o mundo, porque o país será "bem governado" na macroeconomia.

Ao falar de Mantega, o presidenciável referiu-se à entrevista concedida pelo ministro ao jornal Estado de S.Paulo que criticou a postura de candidatos da oposição ao afirmarem a necessidade de um ajuste forte na economia do Brasil. "Esta história de que não reajustamos as tarifas é conversa para boi dormir. Como alguns falam aí de dar um tarifaço, não há necessidade. Sei que não faria nenhum tarifaço em 2015. Não procede a ideia, não recomendo", disse Mantega.

O ministro culpou o "pessimismo artificial" com a política econômica pela real situação do país. "Tem um pessimismo artificial, gerado por fatores extraeconômicos. Tivemos isso antes da Copa também. Se tivesse mais otimismo na economia, talvez ela fosse melhor", alfinetou. Mantega também comparou à política monetária do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. "Nosso juro real é baixo, mesmo com a alta recente. Tinha gente no passado que praticava 10% de juro real."

No evento em Pelotas, nem a candidata a vice, Marina Silva, poupou os maiores partidos do país de ataques. Marina disse que o "PMDB pragmático" se uniu a "velhas raposas para dar continuidade à comilança no galinheiro".

Jovens
Além das críticas à economia, Campos chamou a juventude às ruas. De acordo com o presidenciável, para o país mudar de verdade, os jovens precisam estar mobilizados nas ruas, nas universidades e nas redes sociais. "A história nos ensina que nada de novo, de bom, na direção da construção de um Brasil mais democrático e justo, foi feito sem a energia, participação e militância da juventude brasileira", comentou o ex-governador de Pernambuco.

Lula ataca: 'Aécio trata Minas como propriedade'

• Em entrevista a jornal do norte do Estado, ex-presidente faz críticas à gestão do tucano

Leonêncio Nossa - O Estado de S. Paulo

MONTES CLAROS - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que Minas Gerais, sob domínio do tucano Aécio Neves, não acompanhou o crescimento do Brasil nos últimos 12 anos. Lula, em entrevista ao jornal Gazeta Norte Mineira, de Montes Claros, acusou o principal adversário da presidente Dilma Rousseff nas eleições de outubro de tratar o Estado como "propriedade para benefício de uma família".

"Não precisa ser mineiro para saber que o governo de Minas faz muita propaganda e pouca ação. O governo federal, sim, investiu fortemente", afirmou.

No período em que presidiu o País, Lula manteve uma relação amistosa com o então governador tucano. O cenário mudou e na entrevista, Lula não economizou ataques ao agora candidato do PSDB à Presidência e disse que o governo federal sob o comando do PT criou dois milhões de empregos, construiu 366 mil moradias e destinou doze vezes mais recursos para a agricultura familiar no Estado.

Ainda ressaltou que o Bolsa Família, principal programa federal na área social, beneficia 1,2 milhão de famílias mineiras. "Eles (os tucanos) não têm programas sociais e por isso se apropriam dos programas do governo federal, mudando somente os nomes", disse. "A maior parte do dinheiro é federal, mas eles nunca reconhecem isso."

Ao defender a candidatura do petista Fernando Pimentel ao governo do Estado, Lula voltou a atacar o tucano. "Ele (Pimentel) sabe que o governo do Estado não pode ser tratado como propriedade para benefício de uma família e que não pode ser centralizado na capital."

Na entrevista, Lula não foi questionado sobre a polêmica envolvendo a construção de um aeroporto, durante a gestão de Aécio, em área desapropriada de um parente do tucano em Cláudio (MG). A pista, não homologada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), custou R$ 13,9 milhões, fica a 6 km de uma propriedade de Aécio e familiares. O senador defende a regularidade da obra, mas reconheceu que errou ao usar o aeroporto não homologado.

Dilma e Lula estiveram ontem em Montes Claros para participar de ato político com Pimentel e Josué Gomes (PMDB), candidato ao Senado e filho do ex-vice-presidente da República, José Alencar. A cidade é o berço da Coteminas, indústria têxtil fundada por Alencar. Em evento com prefeitos da região, Dilma disse que vai evitar a adoção de medidas "impopulares" e "antipopulares" no combate à crise. "Vamos enfrentar aqueles que acham que mudar é voltar atrás, é retroceder naquilo que havia de pior, aumentando o desemprego."

Lula chegou a dizer que os jornais do Estado "são dóceis com o candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves". Dilma mostrou uma revista local para reclamar que o programa de água do governo federal é tratado como se fosse do governo estadual.

Nota. Em nota assinada pelo candidato ao governo do Estado, Pimenta da Veiga, o PSDB afirma que "os mineiros não são bobos, como o PT acredita". e que Aécio tem "história oposta à de muitos dos líderes do PT". "Misturar assuntos pessoais com assuntos de governo não é pratica do PSDB."

Dilma usa polêmica de aeroporto em Minas para atacar Aécio

• Presidente diz que não ficou com a chave dos que reformou para a copa

Ezequiel Fagundes – O Globo

Em discurso para prefeitos aliados de Minas Gerais, a presidente Dilma Rousseff (PT) explorou o caso do aeroporto de Cláudio para atacar o seu adversário tucano, Aécio Neves. Acompanhada do ex-presidente Lula, Dilma criticou Aécio enquanto fazia um balanço da ação do governo na Copa do Mundo. Foi a primeira vez em que ela usou o episódio em público.

- Queria ganhar dentro e fora dos estádios. Infelizmente, não conseguimos ganhar dentro do estádio, mas ganhamos na condução da condução, na realização e no planejamento. Estou falando da Copa por um motivo. Disseminaram mentiras por aí. Disseram, por exemplo, que a Copa seria um fracasso porque os estádios só ficariam prontos em 2038. Depois, disseram que iria haver racionamento de energia. Depois, disseram que não ia ter aeroporto. Aumentamos a capacidade dos aeroportos em 67milhões, e ninguém ficou com a chave desses aeroportos - alfinetou a presidente.

A petista se referiu à denúncia de que as chaves do aeroporto de Cláudio, que recebeu R$ 14 milhões em investimentos do governo mineiro, ficavam guardadas com o ex-prefeito da cidade Múcio Guimarães Tolentino, tio de Aécio. Atualmente, a administração do espaço está sob responsabilidade da prefeitura. Durante o segundo mandato de Aécio, o terreno foi desapropriado.

O Ministério Público abriu inquérito para apurar se obra teve interesse público e se Aécio cometeu improbidade administrativa. Outra frente de investigação foi aberta pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), porque o aeroporto não foi liberado para o uso por falta de documentação. Esta semana, Aécio admitiu ter usado a pista algumas vezes.

Antes do ataque, Dilma voltou a repetir o mote da campanha petista deste ano.

- Quando o presidente Lula foi candidato pela primeira vez, criamos uma frase que é assim: a esperança vai vencer o medo. Agora, a nossa frase é diferente daquela época: a verdade tem de vencer a desinformação, tem que vencer as falsidades e o pessimismo. Nós vimos isso aqui no Brasil na Copa do Mundo - disse ela.

Na sua vez de discursar, Lula pediu para os aliados compararem os 12 anos de governo do PT com os governos anteriores. Sem citar nome de adversários e partidos políticos, o ex-presidente listou avanços na gestão petista, em especial em relação a emprego, educação, moradia e crédito.

- Temos até o dia 5 de outubro uma só tarefa. É dizer claramente o que foi feito neste país e desafiar nossos adversários a dizer o que eles fizeram. Esta eleição é quase um jogo da verdade. A gente vai ter que dizer o que queremos - afirmou.

Em momento de interação com a plateia, o ex-ministro Fernando Pimentel, candidato do PT ao governo de Minas, também explorou a construção do aeroporto de Cláudio:

- Em 12 anos de governo, me mostra, me diga uma grande obra do governo de Minas que tenha resolvido o problema. Digam uma, não precisa de duas. O aeroporto não vale - alfinetou.

Após o encontro com os prefeitos, Dilma e Lula participaram de um comício na praça em frente à catedral de Montes Claros. Cerca de oito mil pessoas eram esperadas no local ontem à noite. Além de intensificar a presença de Dilma em Minas, segundo maior colégio eleitoral do país e reduto político de Aécio, os dois atos petistas serviram para lançar a campanha do empresário Josué Alencar (PMDB) na corrida pelo Senado. Filho do ex-vice-presidente José Alencar, Josué é presidente do grupo Coteminas, fundado em Montes Claros.

Candidato a governador de MG rebate críticas de Lula e Dilma

• Pimenta da Veiga rebateu críticas afirmando que PSDB não mistura ‘assuntos pessoais’ com o governo

Ezequiel Fagundes - O Globo

BRASÍLIA — O candidato ao governo de Minas Gerais, Pimenta da Veiga (PSDB), emitiu uma nota nesta sexta-feira para contestar uma declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, em entrevista ao jornal Gazeta Norte Mineira, alfinetou o presidenciável Aécio Neves (PSDB). Lula disse que, se Fernando Pimentel, candidato petista ao governo mineiro, for eleito, “sabe que o governo do estado não pode ser tratado como propriedade para benefício de uma família”, em alusão ao fato de Aécio ter construído um aeroporto na propriedade de um tio-avô.

Na nota, Pimenta também faz acusações indiretas. Ele critica as acusações que o petista teria feito a Aécio – embora Lula não tenha citado o nome do candidato – e diz que os mineiros conhecem a honestidade do presidenciável, “história oposto à de muitos líderes do PT”. Para Veiga, “misturar assuntos pessoais com assuntos de governo não é uma prática do PSDB”.

Num outro trecho do documento, Veiga declara que “Lula perdeu mais uma boa oportunidade para dar explicações que o Brasil aguarda há muito tempo sobre atos que envolvem pessoa de sua intimidade”. A afirmação é uma referência à ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha. Ela é acusada pelo Ministério Público de tráfico de influência. Depois que o escândalo veio à tona, ela deixou o cargo que ocupava.

“O PT é um no discurso e outro na prática”, concluiu Pimenta da Veiga.

Setor do agronegócio cobra segurança jurídica dos candidatos à Presidência

Roldão Arruda - O Estado de S. Paulo

Representantes do agronegócio vão apresentar nos próximos dias aos candidatos à Presidência da República as principais reivindicações do setor. O que chama a atenção nos documentos que eles organizaram neste ano é o destaque dado à questão da segurança jurídica - expressão que envolve alguns dos temas mais conflituosos e polêmicos da história recente do País na zona rural.

Entre eles aparecem demarcação de terras indígenas, reconhecimento de territórios quilombolas, desapropriações para a reforma agrária, ampliação das áreas de reserva ambiental, vendas de propriedades rurais para estrangeiros e trabalho análogo à escravidão. De forma direta, os ruralistas reivindicam mudanças nas principais leis que regem esses temas.

A segurança jurídica é um dos capítulos de maior destaque em dois documentos preparados até agora para serem entregues aos candidatos. O mais representativo deles está sendo finalizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), após consultas às 27 federações e quase dois mil sindicatos rurais que reúne. Ele também será assinado por associações de quase todos os setores do agronegócio no País.

O texto, que deve ter algo em torno de 60 páginas, segundo assessores da CNA, será oficialmente repassado a Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) na quarta-feira, durante sabatinas a que os três serão submetidos na sede da entidade, em Brasília. Entre outras coisas, ele pede mudanças na legislação sobre demarcação de terras, reduzindo o papel do Executivo, representado pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul e vice-presidente da CNA, Eduardo Riedel, o destaque dado à questão jurídica se deve ao agravamento dos conflitos. De acordo com ele, o debate nas entidades ruralistas ganhou corpo sobretudo a partir de 2010. "Não há nenhum foro do setor produtivo do País que esteja debatendo essas questões, que envolvem direito de propriedade e segurança para investir."

Invasões. O segundo documento, elaborado pelo Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, com a colaboração da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), já foi entregue aos candidatos. Um de seus cinco capítulos, que abrangem questões consideradas fundamentais para o agronegócio, é dedicado à segurança jurídica.

Entre as suas propostas aparece a retomada da medida provisória que impede a demarcação de terra que tenha sido invadida. Adotada no governo Fernando Henrique Cardoso, para conter invasões de imóveis rurais por sem-terra, ela foi esquecida após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. Os ruralistas querem que volte a ser aplicada e não apenas em relação aos sem-terra: areas reivindicadas e invadidas por indígenas e quilombolas também ficariam indisponíveis.

O documento, cuja elaboração foi coordenada por Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura no primeiro mandato de Lula (2003-2006), também manifesta apoio à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/200, que tramita no Congresso. Se aprovada, ela retirará do Executivo a competência para aprovar demarcações de terras indígenas. A tarefa ficará para o Legislativo.

Segundo representantes de comunidades indígenas, isso poderá significar o fim das demarcações. Afirmam que a bancada ruralista tem força para bloquear qualquer projeto.

Representantes dos três candidatos melhor posicionados nas pesquisas eleitorais vão debater o documento nesta segunda-feira, durante o 13.º Congresso da Abag, em São Paulo. Aécio Neves e Michel Temer, que concorre ao cargo de vice-presidente na chapa de Dilma, também vão participar do encontro.

Reservas. Segundo o produtor rural Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Abag, a questão da segurança jurídica ganhou mais espaço após a constatação de que 34% do território está ocupado por áreas de preservação ou destinado a índios e quilombolas. "Nos países que disputam o mercado com o Brasil, na área de produção agrícola, o território preservado não chega a 9%", afirma.

Carvalho também chama a atenção para a necessidade de se redefinir as leis que regulam a venda de terras para estrangeiros. "Existem dificuldades enormes nessa área. Tratam a questão tomando como exemplo o caso da África em relação à China, mas são situações muito diferentes", diz. "Não se pode esquecer que, apesar dos avanços, o Brasil ainda é pobre em capital para investimento."

Os dois documentos também vão tratar da questão do trabalho análogo à escravidão. Segundo Carvalho, a principal preocupação dos ruralistas envolve a definição desse tipo de trabalho. "O que temos até agora é muito subjetivo", afirma.

Além das questões jurídicas, os dois documentos destacam sobretudo os problemas de infraestrutura e logística que ainda estariam travando o crescimento do agronegócio no País. "O pior de tudo é que os investimentos públicos no setor caíram nos últimos anos, em vez de subir", observa o presidente da associação.