sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Míriam Leitão: Novo patamar

- O Globo

Crise se agravou e mudou de patamar. A crise subiu de patamar esta semana. Na área política, a paralisia do Congresso tende a aumentar. Alguns projetos podem andar, mas a tendência será retardar decisões e tramitações. Na área econômica, entrou o ingrediente da incerteza no mercado bancário. Na área judicial, a inclinação será o Supremo endurecer e apressar-se nos processos que estão em sua alçada.

Como as crises são ligadas, uma tende a piorar a outra. A paralisia no Congresso deixa o horizonte fiscal ainda mais opaco. O país está confirmando o cenário de três anos de déficit primário, com um déficit nominal de 9%. Para efeito de comparação, a Argentina, que todos sabem que vai muito mal, está com um déficit nominal de 4,5% do PIB, segundo o professor Antonio Licha, da UFRJ.

A equipe econômica, mesmo que queira propor mais do que band-aid para tirar o país da crise, não consegue ter suas ideias aprovadas. A inflação permanece subindo. Se a gasolina aumentar, por pressão da Petrobras ou por elevação da Cide, a taxa anual vai chegar ao inacreditável número de 11%, com mais de 3% de recessão. O leilão das usinas hidrelétricas desta semana contratou energia mais cara para o ano que vem, segundo cálculos de especialistas. A economia está gelada e com inflação elevada. A pior mistura possível.

Diante dessa quadro, o Banco Central manteve a taxa de juros nos elevadíssimos 14,25%, e ainda mostrou que há uma divisão interna sobre o futuro da política monetária. Dois dos seus diretores votaram por uma nova elevação de meio ponto, para tentar conter a piora das expectativas de inflação. O problema é que subir a taxa é mergulhar o país em uma recessão ainda mais forte sem ter garantia de que a inflação cairá. A arrecadação seria menor, com a diminuição da atividade das empresas, e o buraco fiscal aumentaria. Esse é o cenário que muitos economistas chamam de dominância fiscal, quando a alta do juros perde eficácia no combate à inflação. O aumento do déficit fiscal pressiona o dólar, que faz os preços subirem.

A questão fiscal se agrava a cada mês. Ontem o Tesouro anunciou mais um déficit primário. Desta vez, referente ao mês de outubro, com um rombo de R$ 12,2 bilhões. O desequilíbrio nas contas da Previdência chegou a R$ 75 bilhões, um aumento de 34% em relação ao mesmo período do ano passado. Como o déficit da Previdência tem aumentado, uma das soluções seria encaminhar alguma proposta de reforma, com idade mínima, entre outras mudanças, para indicar alteração dessa trajetória de crescimento. Mas para isso seria preciso haver capacidade de formulação dentro do governo e de articulação no Congresso.

O senador Delcídio Amaral era um dos raros pontos de ancoragem do governo no Congresso. A presidente Dilma não consegue fazer a articulação da base parlamentar e sem o até agora líder do governo no Senado será ainda mais difícil a interlocução. A pressão para a saída de Eduardo Cunha da presidência da Câmara vai aumentar nos próximos dias, como consequência natural do processo no Conselho de Ética. E isso provocará mais paralisia parlamentar em momento em que o Congresso se aproxima do recesso.

A prisão do banqueiro André Esteves cria uma nova fonte de instabilidade na economia. Os bancos de investimento, como os comerciais, precisam da confiança com seus clientes, muitos deles institucionais. A interligação dentro do sistema bancário cria polos de contágio. Por ser o oitavo maior banco do país, tem o peso de causar problemas no sistema, em caso de perda de recursos. Por enquanto, no entanto, esse risco tem sido afastado.

Os estarrecedores fatos desta semana mostram a extensão do esquema de corrupção que está sendo investigado. Ele não interrompeu suas negociatas e indicações políticas para auferir vantagens nem diante da ação da Lava-Jato. A prisão de um senador no exercício de seu mandato — de muita proximidade tanto do ex-presidente Lula, com quem teria uma reunião ontem, quanto da presidente Dilma, de cujo governo era líder — prova duas coisas: que a Lava-Jato fará todo o trabalho que considerar necessário e que os corruptos continuam agindo dentro do aparelho do Estado. Pode-se esperar, portanto, mais turbulências pela frente.

Vinicius Torres Freire: Só falta mandar matar

- Folha de S. Paulo, 26/11/2015

A gangue do senador Delcídio Amaral, do PT, e do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, pretendia fraudar o Supremo Tribunal Federal e o processo da Lava Jato, dar fuga a um condenado e corromper quem fosse empecilho a tais planos. Além do mais, desviava documentos sigilosos da investigação (os comprava?) e traficava influência. Tudo para acobertar roubanças no mundo do petróleo estatal e paraestatal.

Esse ramo da máfia do petrolão planejava ou cometia mais crimes neste novembro, 20 meses depois do começo da Lava Jato, depois de prisões e condenações em penca. Em suma, não estavam nem aí.

Assim, é razoável considerar que há grande risco de outra gangue ou figura graúda e talvez psicopática do mundo da Lava Jato estar em ação para enterrar crimes. Talvez literalmente. Agora, dado o grau de sordidez a que já se desceu, falta apenas alguém mandar matar testemunha, policial, procurador ou juiz.

Economia do crime
Está mais do que claro agora como um programa de intervenção econômica criou as condições para a nossa precoce maldição do petróleo, antes mesmo de haver petróleo bastante. Trata-se aqui, claro, do plano iniciado no governo Lula e levado a cabo sob Dilma Rousseff de reinventar a roda podre, uma paródia grotesca, ainda que reduzida, do "desenvolvimentismo" da ditadura de Ernesto Geisel.

Antes que viciados em debates binários de redes sociais protestem, não se trata de condenar em geral políticas industriais; que o grande setor privado, vide bancões do mundo, cometem crimes puramente privados. Isto posto, note-se que as várias intervenções, modelos e leis petrolíferas de inspiração dilmiana fazem parte do cardápio já histórico de fracassos, ineficiências e criação de ambientes propícios à corrupção.

Políticas que criam quase-monopólios ou oligopólios, com reservas de mercado, protecionismos e exigências irrealistas de produzir com conteúdo nacional, degringolam em caixas-pretas. Em ambientes obscuros, sem concorrência, propícios ao mofo da corrupção, da propina, do tráfico de influência. Esquemas que favorecem, no que têm de menos nocivo, mas ainda assim grave, o desperdício de recursos escassos e de energia produtivas em negociações de favores com o poder público.

Um desses polos de descalabro e exemplo concentrado dos erros listados acima foi a Sete Brasil, empresa da qual é sócia o BTG Pactual, banco de André Esteves, além do Bradesco, do Santander, da própria Petrobras e fundos de pensão. Diga-se de passagem que o negócio do qual Esteves é acusado por ora nada tem a ver com Sete.

Em resumo, a Sete foi criada para contratar a construção e a operação de plataformas de exploração perfuração de petróleo para a Petrobras, 28, no valor de US$ 30 bilhões; dependia de resto de crédito do BNDES para ficar de pé. Estaleiros pagavam propinas a gente da Sete e a políticos para conseguir contratos, um dos canais grossos de dinheiro da Lava Jato, mas nem de longe o único.

Esse sistema tem de ser desmontado. Colonizou o Estado, espalhou corruptos por toda a parte da elite política até o centro; se encastelou para se defender e, para tanto, transformou os cidadãos em reféns da roubança e paralisaram a economia e o governo do Brasil.

Nelson Motta: Aparências e enganos

- O Globo

Delcídio possui a simpatia do canalha. Por sua história pessoal e por todas as declarações, até de adversários políticos, o senador Delcídio Amaral era gente finíssima, muito querido por todos, por sua cordialidade e simpatia, sua inteligência e educação, seu espírito tolerante e conciliador.

Sem acusar ou julgar ninguém, são os primeiros requisitos de um canalha profissional para ganhar a confiança de suas vítimas e poder aplicar seus golpes. Não dá para ser grosso e arrogante e pretender a simpatia e confiança necessárias para exercer sua canalhice.

Também não se deve tripudiar sobre os caídos, mas se o bom e velho Delcídio, com seu look de Vovó Donalda e todas essas qualidades, fez o que fez, imaginem o que fizeram e fazem os suspeitos de sempre, com suas caras de bandido do tipo Jader, Cunha, Renan, Collor, Sarney, Lobão, que não há plástica ou botox, nem implante ou tintura de cabelos que disfarcem, pelo contrário, os tornam ainda mais grotescos e revelam a feiura de suas almas opacas, em contraste com o brilho cafajeste de seus ternos.

Tive um tio muito querido, inteligente e cínico, que sempre dizia que o problema dos governos brasileiros é que, com raras exceções, os talentosos e competentes geralmente são desonestos, e os honestos e bem intencionados são incompetentes e acabam dando mais prejuízo do que os ladrões. Não viveu para ver os governos petistas, mas o tempo lhe deu razão. Assim como o doce Delcídio, o banqueiro André Esteves é a própria imagem do bom moço honesto e competentíssimo, que inspirava absoluta confiança na praça, e tanto que tantos aplicavam suas economias no seu banco de investimentos e ninguém nunca perdeu dinheiro.

Deveria ter ouvido a advertência do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica em um evento junto com Lula, que fingiu que não ouviu: “Quem gosta muito de dinheiro não deve se meter em política”. Agora, levado pela ambição e pela vaidade, está preso e humilhado, mas quem mandou se meter com politícos?

No “Retrato de Dorian Gray”, Oscar Wilde diz que “só os tolos não julgam pelas aparências.”

Há controvérsias. A Lava-Jato está questionando até Oscar Wilde.

Ruy Castro: Ladrões, inclusive de galinhas

- Folha de S. Paulo

Os sociólogos, como sabemos, vieram ao mundo para nos explicar por que as coisas são como são. Por isso, outro dia recorri a um deles para me dizer por que, num país tão farto em ladrões, um dos mais simpáticos e poéticos desaparecera: o ladrão de galinhas.

A culpa foi da especulação imobiliária, ele me disse. Com a substituição das casas pelos edifícios e o fim dos quintais, acabaram-se os galinheiros domésticos. E, sem eles, não pode haver ladrões de galinhas.

Daí minha surpresa ao ler sobre o furto de 25 codornas poedeiras no quintal de uma casa em Selvíria, no Mato Grosso do Sul. Um jovem chamado Jocimar, acusado do crime, foi a julgamento e tomou um ano de prisão. Nas várias idas e vindas do caso pelo Tribunal de Justiça, Ministério Público e STJ (Superior Tribunal de Justiça), Josimar foi absolvido, condenado e absolvido de novo.

Foi então que me dei conta de que esse caso aconteceu em 2001, mas só agora, nesta quarta-feira, chegou ao STF (Supremo Tribunal Federal), que o finalizou. Os ministros Carmen Lúcia e Dias Toffoli condenaram Josimar, mas Gilmar Mendes, Teori Zavascki e Celso de Mello aplicaram o princípio da insignificância e votaram pela absolvição. Josimar é hoje não apenas um homem livre, mas o último ladrão de galinhas vivo do país. Merecia um estudo.

Nesta mesma quarta, talvez na mesma sessão, o STF tomou a decisão histórica de mandar prender o senador petista Delcídio do Amaral, por acaso também do Mato Grosso do Sul, por tentar subornar o ex-diretor internacional da Petrobras Nestor Cerveró, para ele não abrir o bico, e ajudá-lo a fugir para a Espanha.

Nos velhos filmes ingleses e americanos, o sujeito dava um golpe lá fora e vinha se esconder no Brasil. Agora é diferente: o sujeito dá um golpe no Brasil e vai se esconder lá fora. Preciso achar um sociólogo que me explique isso.

J. R. Guedes de Oliveira: “Jildo” – 50 anos de ausência

Uma das maiores intolerâncias e perseguições ocorridas no Brasil,foi quando da implantação do Golpe de 64, instalado que foi o regime de exceção, que comumente chamamos de “anos de chumbo”.

Uma das mais célebres figuras encarceradas e privadas dos seus direitos de cidadão foi Astrojildo Pereira Duarte Silva, mais conhecido por Astrojildo Pereira e, para os familiares, tão somente “Jildo”.

Esta doce criatura, amável, afável, cortes, nascido em Rio Bonito, RJ, em 8 de novembro de 1890, faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 20 de novembro de 1965, após responder por processo militar e sofrer as mais caras amarguras nas mãos de seus algozes, sem que houvesse, contra ele, qualquer ato que o desabonasse. Este roteiro da intolerância é contado por um editorial estampado na revista “Leitura”, de dezembro de 1964:

“A prisão de Astrojildo Pereira ocorreu a 9 de outubro de 1964, quando o escritor se apresentou espontaneamente para depor em um IPM, tendo sido conduzido para o quartel do 3º Batalhão de Polícia Militar. Permaneceu incomunicável durante 34 dias. A 11 de novembro foi-lhe concedido o primeiro habeas corpus, pelo Supremo Tribunal Militar, sob a alegação de falta de provas. Entretanto o escritor continuou preso, não sendo cumprida a decisão judicial. A 26 de novembro o STM deu um prazo de 24 horas para que Astrojildo pereira fosse libertado. Nesse interim, por motivos de uma crise cardíaca, Astrojildo ainda preso, foi conduzido para um Hospital Militar, onde voltou a ficar incomunicável por duas semanas. Houve em seguida a concessão de outro habeas corpus, sem que nem por isso houvesse a libertação consequente e natural. (Aqui vale esclarecer, também, que as medidas judiciais foram concedidas por unanimidade de votos). Mas finalmente, na primeira sessão de 1965, o egrégio Supremo Tribunal Militar resolveu libertá-lo, enviando a decisão para as autoridades competentes. Astrojildo tem 74 anos de idade, e durante o período de internamento, 84 dias, sofreu quatro crises cardíacas. Trata-se de excelente ensaísta, crítico literário da melhor qualidade, dos maiores conhecedores da obra de Machado de Assis, que conheceu pessoalmente e do qual faz inclusive uma interpretação sociológica, domina vários idiomas e, também, a literatura dos países cuja língua conhece e, sobre ser um fiel intérprete da doutrina marxista é um dos personagens do meio cultura brasileiro mais humano que conhecemos”.

Ao completar 50 anos de sua ausência, recordamos e homenageamos Astrojildo Pereira como um homem que pensou o Brasil, lutou pelos mais desafortunados, ardoroso combatente pelas causas dos trabalhadores e desejou um país próspero e rico.

Como escritor, jornalista, crítico literário e político, colocou-se com denodo e empenho na denúncia e na salvaguarda dos interesses populares. E, com efeito, não foi visto com bom olhos pelos que sabiam do seu poder arrebatador e pela sua dignidade de princípios. Achavam-no um perigo para o “status quo” do regime militar reinante.

Foi um lutador que se utilizou das letras, principalmente do jornalismo, para dar a sua contribuição à compreensão do mundo e do caminho a seguir, da plena democracia e da paz social. Foi intransigente na sua posição da brasilidade exposta ao mundo.

Ao que pese o correr dos anos e mesmo, dos mais céticos, a afirmação de que o brasileiro tem memória curta, divergimos disso tudo, com veemente protesto. Astrojldo Pereira repousa no Cemitério de Niterói e, com todo clamor é lembrado pelas novas gerações.

Afinal, não se evapora ou se esquece de um homem que, certa vez, afirmou peremptoriamente que “é preciso sacudir pelas entranhas os cegos que não querem ver e os surdos que não querem ouvir. Entre outras razões, porque não queremos que o Brasil se transforme num país de mudos”.

“Jildo” , uma ausência sempre sentida!

República de bandidos – Editorial / O Estado de S. Paulo

Ninguém melhor do que a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, para expressar o sentimento de frustração que atinge em cheio os brasileiros: “Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós acreditou no mote segundo o qual a esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a Ação Penal 470 (o mensalão) e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora constata-se que o escárnio venceu o cinismo”. Nessa síntese está toda a trajetória dos embusteiros petistas que, desde a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, prometeram fazer uma revolução ética e social no Brasil e agora, pilhados em escabrosos casos de corrupção, caçoam da Justiça e da própria democracia.

O mais recente episódio dessa saga indecente, ao qual Cármen Lúcia aludia, envolveu ninguém menos que o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral. Em conluio com o banqueiro André Esteves, o petista foi flagrado tentando comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, que ameaçava contar o que sabia sobre a participação de ambos no petrolão.

As palavras de Delcídio, capturadas em áudio gravado por um filho de Cerveró, são prova indisputável da naturalidade com que políticos e empresários se entregaram a atividades criminosas no ambiente de promiscuidade favorecido pelo governo do PT. Como se tratasse de uma situação trivial – a conversa termina com Delcídio mandando um “abraço na sua mãe” –, um senador da República oferece dinheiro e uma rota de fuga para que o delator que pode comprometê-lo e a seu financiador suma do País. Os detalhes são dignos de um arranjo da Máfia e desde já integram a antologia do que de mais repugnante a política brasileira já produziu.

Delcídio garantiu a seus interlocutores que tinha condições de influenciar ministros do Supremo Tribunal Federal e políticos em posições institucionais destacadas para que os objetivos da quadrilha fossem alcançados. O senador traficou influência. Mas o fato é que, hoje, as ramas corruptas que brotam do sistema implantado pelo PT se insinuam por toda a árvore institucional – com raras e honrosas exceções, entre elas o Supremo, que vem demonstrando notável independência.

Exemplo do contágio é que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), estão sendo investigados pela Lava Jato. A nenhum dos dois ocorreu renunciar a seus cargos para que não sofressem a tentação de usar seu poder para interferir no processo, como já ficou claro no caso de Cunha. Renan, desta vez, tentou manobrar para que fosse secreta a votação do Senado que decidiria sobre a manutenção da prisão de Delcídio, na presunção de que assim os pares do petista o livrariam, criando uma blindagem para os demais senadores – a começar por ele próprio. Temerosos da opinião pública, os senadores decidiram votar às claras e manter Delcídio preso.

Enquanto isso, o PT, com rapidez inaudita, procurou desvincular-se de Delcídio, dizendo que o partido “não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade”, já que o senador, segundo a direção petista, agiu apenas em favor de si próprio. Se Delcídio tivesse cometido seus crimes para abastecer os cofres do PT, seria mais um dos “guerreiros do povo brasileiro”, como os membros da cúpula do partido que foram condenados no mensalão e no petrolão.

O PT e o governo não enganam ninguém ao tentar jogar Delcídio aos leões. O senador era um dos principais quadros do partido, era líder do governo no Senado e um dos parlamentares mais próximos da presidente Dilma Rousseff e de Lula. Sua prisão expõe a putrefação da política proporcionada pelo modo petista de governar.

Também ninguém melhor do que a ministra Cármen Lúcia, que resumiu a frustração dos brasileiros de bem, para traçar o limite de desfaçatez e advertir a canalha que se adonou da coisa pública sobre as consequências de seus crimes: “O crime não vencerá a Justiça” e os “navegantes dessas águas turvas de corrupção e das iniquidades” não passarão “a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção”. É um chamamento para que os brasileiros honestos não aceitem mais passivamente as imposturas dos ferrabrases que criaram as condições para que se erigisse aqui uma desavergonhada república de bandidos.

Mais um passo – Editorial / Folha de S. Paulo

Por ampla maioria de votos (59 a 13), o Senado Federal decidiu, na noite desta quarta-feira (25), acatar a prisão do líder do governo na Casa, Delcídio do Amaral (PT-MS), decretada no mesmo dia pelo ministro Teori Zavascki e referendada por seus colegas da segunda turma do Supremo Tribunal Federal.

O episódio representa etapa significativa na dissolução de uma imagem consolidada, com bons motivos, na opinião pública: a de que poderosos e ricos estão sempre a salvo das garras da Justiça.

Ao que tudo indica, foi decisiva a pressão popular para o desfecho do episódio no Legislativo. Ainda no começo da tarde, não se sabia com certeza se a maioria dos senadores apoiaria a resolução do STF ou se, valendo-se de sua prerrogativa constitucional, determinaria a soltura do congressista.

A situação de Delcídio, contudo, era indefensável. Gravações obtidas dentro da lei haviam flagrado o senador a planejar a fuga de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras preso na Operação Lava Jato.

O petista pretendia impedir que Cerveró firmasse acordo de delação premiada com os investigadores, contando a estes o que sabe sobre o escândalo bilionário e deles obtendo algum alívio penal.

Delcídio diz ter recorrido a André Esteves, presidente do banco BTG Pactual, para oferecer ao ex-diretor da Petrobras e a sua família vantagens financeiras. Enquanto isso, assegurava ter meios de facilitar a vida de Cerveró no STF.

Era demais, e pode-se atribuir parte do rigor da corte ao empenho em dissipar qualquer suspeita de entendimentos entre seus membros e o senador.

Do ponto de vista técnico, a prisão de Delcídio –mas não a de Esteves– demandou exegese sofisticada. Pela Constituição, um parlamentar só pode ser preso ao ser flagrado cometendo crime inafiançável, como o homicídio qualificado e a prática de tortura, entre outros.

Os ministros do Supremo consideraram que se impunha a prisão preventiva do senador –para a qual não há fiança–, dada sua capacidade de influenciar um processo criminal em andamento.

Decidiram, além disso, que o conceito de "flagrante" se aplica na medida em que um dos delitos de que Delcídio é acusado, o de constituir organização criminosa, possui caráter permanente.

Aceitando o juízo, e optando por abandonar a votação secreta em suas deliberações –felizmente contrariando, nesse ponto, um injustificável dispositivo do regimento interno da Casa–, o Senado curvou-se à pressão pública.

A alternativa seria desastrosa.

Presos um dos banqueiros mais importantes do país e um senador da República, confirma-se a sensação de que, no Brasil de hoje, a condição política ou econômica privilegiada já não equivale a um passaporte para a impunidade.

Espera-se apenas que, nesse mais que bem-vindo reequilíbrio da balança da Justiça, a vontade de punir a todo custo não passe a pesar mais que as garantias individuais prescritas na Constituição.

O tom afinado do veredicto da 2ª Turma do STF – Editorial / O Globo

• Ministros alertam que julgamento da Lava-Jato precisa se ater às provas e às leis, não importando nomes, numa mensagem para juízes e Congresso

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) e os demais participantes da trama para silenciar o ex-diretor Internacional da Petrobras Nestor Cerveró no inquérito da Lava-Jato permitiram, de forma involuntária, que ministros do Supremo Tribunal estabelecessem um marco de referência na tramitação pela Justiça dos processos de acusados de participar do petrolão, o assalto à Petrobras organizado pelo lulopetismo, e a outras estatais.

O desfecho do mensalão, em que petistas também organizaram desfalques de dinheiro público, basicamente para “comprar” apoio no Congresso, avisou à sociedade que ter poder político deixava de garantir habeas corpus prévio, costume do Brasil monárquico preservado pela República.

Já a decisão unânime, quarta-feira, dos cinco ministros da 2ª Turma do STF — Teori Zavascki, Cármen Lúcia, Celso de Mello, Dias Toffoli e Gilmar Mendes —, de que o senador petista deveria continuar preso, avançou além do mensalão: a depender das provas e circunstâncias, homem público com mandato pode ser preso.

A sessão registrou pelo menos duas declarações irretocáveis. Uma, da ministra Cármen Lúcia: depois de lembrar do mensalão, de cujo julgamento participou, “quando descobrimos que o cinismo tinha vencido a esperança”, disse que agora é possível constatar que “o escárnio venceu o cinismo”, mas nem por isso o crime vencerá a Justiça. Outra declaração emblemática foi de Celso de Mello: no tom de que se valeu também no julgamento do mensalão, o decano do STF registrou que “marginais que se apossaram do aparelho de Estado” (...) praticaram uma “delinquência institucional”. Irretocável.

Além de permear a tramitação da Lava-Jato na Justiça, a postura dos ministros deve condicionar o posicionamento do Congresso no escândalo. O Senado parece ter entendido, ao referendar a prisão de Delcídio. Haverá outros casos à frente, como o do presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Fica demonstrado nas gravações da tramoia que armavam Delcídio, o banqueiro André Esteves (BTG Pactual), o advogado Edson Ribeiro e Diogo Ferreira, chefe de gabinete do senador, que poderosos podem tentar invadir espaços exclusivos da Justiça com lobbies perversos. Contatos entre juízes e representantes das partes interessadas são normais, servem para esclarecer pontos obscuros. Outra coisa é tentar influenciar veredictos, independentemente das provas.

O que disse a 2ª Turma — que os processos precisam ser julgados à luz da lei, da Constituição, das provas, sem preocupação com nomes — é de grande obviedade, mas de máxima importância nas circunstâncias da Lava-Jato, uma investigação no centro do poder, com o envolvimento, em vários graus, de parlamentares, da presidente Dilma e do ex-presidente Lula. As maquinações expostas nas gravações feitas pelo filho de Nestor Cerveró, Bernardo, clamam por apoio total à Lava-Jato, e precisam inclusive ser levadas em conta no julgamento de recurso da Procuradoria-Geral da República à decisão de fatiamento da Operação. Nunca foi hora de enfraquecer o trabalho da força-tarefa que desbarata o esquema a partir de Curitiba. Muito menos agora.

Entenda-se a dimensão do que estava acontecendo: um dos maiores banqueiros do país, André Esteves, se associou a um senador líder do governo, Delcídio Amaral, para, com milhões de reais e a facilidade de acesso ao Judiciário e qualquer Poder, silenciar um ex-diretor da Petrobras prestes a selar acordo de colaboração premiada.

Este enredo não só justifica a decisão que tomou a 2ª Turma do Supremo, como alerta para o que pode estar acontecendo em torno de outros ilustres detidos pela Lava-Jato.

Beethoven Moonlight Sonata (Sonata al chiaro di luna)

Ferreira Gullar: Poema Sujo

turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos

menos que escuro
menos que mole e duro
menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma?
claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica
e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva igual a tua bocetinha
que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor
e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo
(não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era…
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia
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(Trecho de “Poema Sujo”, de Ferreira Gullar)

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Opinião do dia: Cármen Lúcia

Na história recente de nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou mo mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com  a ação penal 470 (mensalão), e descobrimos que o cinismo tinha vencido a esperança. Agora, parece se  constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes destas águas turvas de corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão.  A decepção não pode vencer a vontade de acertar no espaço público. Não se confunde imunidade com impunidade. A Constituição não permite a impunidade a quem quer que seja.
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Cármen Lúcia, ministra do STF, em discurso sobre a prisão do líder do governo comparou a Lava-Jato com o mensalão.

‘O crime não vencerá a Justiça’

• Pela primeira vez na História, senador e líder do governo é preso no cargo por ordem do STF

*Supremo reage com veemência, PT lava as mãos e Senado mantém prisão *Delcídio e banqueiro são acusados de oferecer mesada a delator da Lava-Jato

Numa decisão inédita, um senador foi preso no exercício do mandato. O líder do governo Dilma, Delcídio Amaral (PTMS), e o presidente do banco BTG Pactual, André Esteves, foram presos por ordem do ministro do STF Teori Zavascki sob a acusação de obstruir as investigações da Lava-Jato ao tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que fez acordo de delação. Delcídio foi gravado por Bernardo Cerveró, filho do delator, planejando a fuga dele para a Espanha. Segundo Bernardo, Delcídio e Esteves também ofereceram pagar R$ 4 milhões a Cerveró para que ambos fossem poupados. Os cinco ministros do STF da turma responsável pela Lava-Jato referendaram a prisão por unanimidade. “O crime não vencerá a Justiça”, declarou a ministra Cármen Lúcia. A decisão foi confirmada pelo Senado por 59 votos a 13. A liderança do PT recomendou voto contra a prisão, enquanto o presidente do partido declarou que “não se julga obrigado a gesto de solidariedade”.

Nunca antes na história

• Em decisão inédita,STF manda orender senador Delcídio Amaral, além do banqueiro André Esteves

- O Globo

-BRASÍLIA- O Supremo Tribunal Federal (STF) mandou prender ontem o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), e o banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, acusados de obstruir as investigações da Operação Lava-Jato ao tentar comprar o silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras e novo delator do caso. A prisão de Delcídio, que caiu como uma bomba no mundo político, é a primeira de um senador no exercício do cargo. Ele foi flagrado em um grampo planejando a fuga de Cerveró e, junto com Esteves, segundo o Ministério Público, propôs o pagamento de mesada de R$ 50 mil à família de Cerveró para que ambos fossem poupados.

A prisão histórica levou o Senado a convocar sessão extra em que, pelo voto aberto, manteve a prisão de Delcídio, por 59 a 13, sendo nove votos do PT. A Constituição dá aos parlamentares o direito de não serem presos antes de sentença condenatória definitiva — ou seja, depois de encerradas todas as possibilidades de recurso. A exceção é para o flagrante de crime inafiançável, como interpretou ontem o STF e referendou o Senado.

Delcídio participou de reunião, gravada pelo filho de Cerveró, Bernardo Cerveró, em que foi planejada a fuga do ex-diretor para a Espanha, país onde tem cidadania. O senador chegou a sugerir uma rota pelo Paraguai. E alertou que pela Venezuela seria arriscado. Na mesma reunião, os participantes teriam falado, inclusive, sobre meios de violar a tornozeleira eletrônica, caso o STF determinasse o uso do mecanismo.

Outro motivo que levou o ministro Teori Zavascki a mandar prender o senador foi o fato de que, em reunião com o advogado de Cerveró, Delcídio teria prometido que o STF libertaria o réu. No áudio, o senador disse que já havia conversado com os ministros Teori e Dias Toffoli sobre a concessão de habeas corpus, o que ambos negam. Ele também prometeu pedir ao vice-presidente Michel Temer e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que falassem com o ministro Gilmar Mendes sobre o tema. Ao julgar recurso à prisão, a Segunda Turma do Supremo confirmou a decisão de Teori por unanimidade e reagiu indignada às afirmações do senador na gravação.

No pedido de prisão de Delcídio, o procuradorgeral, Rodrigo Janot, escreveu: “Há, aí, o componente diabólico de embaraço à investigação: ultimado o acordo financeiro, Nestor Cerveró passaria a enfrentar dificuldades praticamente intransponíveis para conciliar-se com a verdade. Seu silêncio compraria o sustento de sua família, em evocação eloquente de práticas tipicamente mafiosas”.

O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, também teve a prisão decretada, mas está fora do país. Ele acertou com Delcídio e Esteves o recebimento de R$ 4 milhões, segundo o Ministério Público. Em troca, convenceria seu cliente a não mencionar Delcídio e Esteves nos depoimentos. O chefe de gabinete do senador, Diogo Ferreira, participou das reuniões para acertar o pagamento das propinas e também foi preso.

— Essas pessoas não estão medindo esforços para interferir nas investigações da Lava-Jato — declarou o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF.

Na delação premiada, Cerveró denunciou que Delcídio teria obtido vantagem nas operações da Petrobras para a contratação de sondas e na compra da refinaria de Pasadena. Esteves foi mencionado quando Cerveró afirmou que o BTG Pactual teria dado dinheiro ao senador Fernando Collor (PTB-AL), em operação para transformar as bandeiras de 120 postos de combustíveis de propriedade do banqueiro em São Paulo.

O PT, em nota, lavou as mãos sobre o aliado: afirmou que não tinha obrigação de ter solidariedade com o senador. No Senado, porém, votou em peso para que Delcídio deixasse a prisão. E, apesar de a presidente Dilma Rousseff ter se aproximado de Delcídio recentemente, o governo avalia que a situação dele é “insustentável”. Preocupa-se ainda com o impacto financeiro da prisão de Esteves.

‘Criminosos não passarão’, afirma ministra do STF ao ratificar prisão

• Por unanimidade, Segunda Turma considerou que provas são ‘gravíssimas’

Carolina Brígido e André de Souza - O Globo

-BRASÍLIA- Por unanimidade, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), composta de cinco ministros, confirmou em sessão extraordinária, ontem de manhã, a decisão tomada na noite anterior pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato, de mandar prender o senador Delcídio Amaral (PT-MS). O colegiado considerou gravíssima a acusação do Ministério Público Federal de que Delcídio tentava obstruir as investigações sobre o esquema na Petrobras. Também foram mantidas as prisões do banqueiro André Esteves, do advogado Edson Ribeiro e do chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira.

— A intervenção de Delcídio Amaral perante o STF, ainda que não tenha persuadido ministros, revela conduta de altíssima gravidade — disse Teori Zavascki.

Segundo as investigações, Delcídio e Esteves ofereceram dinheiro a Edson Ribeiro, contratado pelo ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, em troca do silêncio de seu cliente em delação premiada. O senador também promete ao advogado a libertação de seu cliente, alegando ter acesso a ministros do STF. Por fim, o senador se oferece para ajudar na fuga de Cerveró caso ele obtivesse o habeas corpus. As gravações nas quais Delcídio “vende” o habeas corpus deixaram os ministros do STF revoltados.

A ministra Cármen Lúcia ressaltou a ousadia dos investigados e fez uma comparação com o caso do mensalão.

— Na História recente de nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou no mote segundo o qual uma esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a ação penal 470 (mensalão) e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora, parece-se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça. Aviso aos navegantes destas águas turvas de corrupção e das iniquidades: criminosos não passarão.

Para Cármen, imunidade parlamentar não pode ser confundida com impunidade.

Indignado, o ministro Celso de Mello considerou “gravíssimas” as acusações contra o senador. Ele lembrou que, antes de tudo, um agente político deve dar o exemplo:

— A delinquência institucional cometida na intimidade do poder por marginais que se apossaram do aparelho de Estado se tornou realidade perigosa, que vilipendia, que profana e que desonra o exercício das instituições e deforma e ultraja os padrões éticos. É preciso esmagar e destruir com todo o peso da lei esses agentes criminosos que atentaram contra as leis penais da República e contra os sentimentos de moralidade e de decência do povo brasileiro.

Dias Toffoli, presidente da Segunda Turma, concordou com os colegas:

— Infelizmente estamos sujeitos a esse tipo de situação, pessoas que vendem ilusões. (...) O que importa é o seguinte: o Supremo Tribunal Federal não vai aceitar nenhum tipo de intrusão nas investigações que estão em curso, e foi isso que ficou bem claro na tomada dessa decisão unânime e colegiada — afirmou.

Ao advogado de Cerveró, Delcídio disse que já tinha conversado com Zavascki e Toffoli sobre a concessão de habeas corpus. E prometeu que pediria ao vice-presidente Michel Temer e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que falassem com o ministro Gilmar Mendes sobre o assunto. Delcídio também teria prometido ao advogado conversar com o ministro Edson Fachin sobre a concessão de um habeas corpus ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Teori Zavascki disse que é impressionante “a desfaçatez com que se discute a intercessão política na mais alta Corte brasileira”. Para o ministro, é importante manter o senador preso, para que as investigações não sejam prejudicadas.

Após a sessão, questionados se foram procurados para tratar de habeas corpus, Gilmar Mendes, Toffoli e Fachin negaram. Teori não quis comentar.

— Nunca conversei com ele (Delcídio) sobre esse assunto — disse Toffoli.

Com voto aberto, senadores mantêm Delcídio na prisão

• Por 59 a 13, plenário ratifica decisão do STF; nove petistas são contra

Maria Lima, Chico de Gois Cristiane Jungblut – O Globo

-BRASÍLIA- Embora constrangidos por julgar um colega, os senadores decidiram em plenário, por 59 votos a 13 e uma abstenção, ratificar a decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF) e manter a prisão de Delcídio Amaral (PT-MS). Não houve comemoração com o resultado, anunciado a um plenário abalado e silencioso.

Foi um dia de muita tensão e de muitas reuniões. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), começou logo cedo a articular para que a votação fosse secreta. Líderes da oposição se rebelaram e impetraram no Supremo Tribunal Federal (STF) um mandado de segurança preventivo para garantir o voto aberto.

Forma de votação em debate
No início da sessão que definiria o futuro de Delcídio, Renan disse que sua interpretação era de que o voto deveria ser secreto, mas que deixaria a decisão para o plenário. Depois de um longo debate, em que apenas o PT encaminhou pelo voto secreto, Renan sofreu um revés e foi derrotado por 52 votos pela votação aberta e apenas 20 pela votação secreta.

Derrotado no plenário, Renan não deixou de expressar também sua contrariedade com a decisão do Supremo, que chegou ao Senado determinando a votação aberta.

— Eu me curvo à decisão do Senado, mas enquanto estiver aqui vou defender as prerrogativas do Legislativo. A polícia vir aqui cumprir mandado é democrático. O que não é democrático é prender um congressista no exercício do mandato. Não posso concordar com isso. O equilíbrio dos Poderes não permite a invasão permanente (das prerrogativas), porque causará no futuro danos à democracia — disse Renan.

Os senadores, apesar de referendarem a prisão do senador Delcídio Amaral, fizeram um desabafo sobre o constrangimento de votarem contra um colega, que era considerado dos mais bem relacionados na Casa, tanto na bancada governista quanto na oposição.

— Estou vivendo o constrangimento da minha vida parlamentar. De estar votando contra o coração, mas a favor da razão. Custei a acreditar que o meu amigo Delcídio Amaral estava preso — disse o presidente do DEM, José Agripino (RN).

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), defendeu posição a favor de Delcídio:

— A posição da nossa bancada é de votar contra (a decisão do STF). O que está em discussão é se um Poder pode mandar prender um parlamentar no exercício do seu mandato. É isso que está em discussão. Posso até estar dando adeus à minha vida pública, espero que não. Mas jamais poderia dar adeus à democracia e à Constituição.

Aloysio Nunes Ferreira (PSDBSP) expressou o sentimento dos senadores da oposição:

— É com profundo sofrimento que tenho que encaminhar essa questão. O Delcídio é uma pessoa valorosa. Não fosse sua atuação como líder, seguramente o governo teria sofrido muito mais derrotas aqui. Ele merece a consideração da nossa bancada pela função que cumpre e cumpriu aqui.

— Estou com o coração partido. O sofrimento é muito grande, mas hoje temos que defender as instituições e o fortalecimento do Senado — emendou o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN).

PT pela liberação do senador
Do PT, apenas os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Walter Pinheiro (PT-BA) não votaram pelo relaxamento da prisão de Delcídio. O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), assim como Renan, não votou, e o senador Edison Lobão (PMDBMA) , investigado na Operação Lava-Jato, absteve-se.

Logo após o fim da sessão que deliberou pela manutenção da prisão de Delcídio Amaral, Renan destacou que o Senado cumpriu a Constituição, embora de uma forma dolorosa. Renan também disse que a decisão da maioria pelo voto aberto em casos de prisão de senadores passará a ser uma norma para assuntos desse tipo.

— Este talvez tenha sido o dia mais doloroso do Senado. Mas fizemos nossa parte e cumprimos a Constituição — afirmou o presidente do Senado.

Os 13 que votaram pela liberação
Ângela Portela (PT-RR) Donizetti Nogueira (PT-TO) Fernando Collor (PTB-AL) Gleisi Hoffman (PT-PR) Humberto Costa (PT-PE) João Alberto Souza (PMDB-MA) Jorge Viana (PT-AC) José Pimentel (PT-CE) Lindbergh Farias (PT-RJ) Paulo Rocha (PT-PA) Regina Souza (PT-PI) Roberto Rocha (PSB-MA) Telmário Mota (PDT-RR)

Em gravação, senador diz que Cerveró acusa presidente

• Dilma saberia ‘de tudo’ sobre refinaria de Pasadena, segundo áudio

Eduardo Bresciani, Jailton de Carvalho - O Globo

-BRASÍLIA- O áudio que embasou a prisão do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), sugere que o exdiretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró acusou a presidente Dilma Rousseff em sua delação premiada, ao afirmar que ela sabia do que se passava em relação à refinaria de Pasadena (EUA). A compra da refinaria gerou prejuízo bilionário para a estatal.

Cerveró firmou acordo com o Ministério Público semana passada, ainda não homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu Dilma.

Na reunião gravada por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor, Delcídio afirma ter visto uma versão da proposta de acordo de delação de Cerveró em uma conversa que teve com o dono do BTG Pactual, André Esteves. O banqueiro tinha em mãos uma minuta diferente da que o senador havia recebido na qual, em anotações manuscritas, haviam acusações à presidente.

— No tópico da Dilma, ele (Cerveró) complementa, então ele bota assim: “a Dilma sabia de todos os movimentos de Pasadena” — diz o senador.

Delcídio diz a Bernardo e ao advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, crer que a letra era do ex-diretor. Ele repete em outras duas ocasiões o que constaria nessas anotações em relação a Dilma.

— No caso da Dilma, ele (Cerveró) diz: “a Dilma sabia de tudo de Pasadena, ela me cobrava diretamente, fiz várias reuniões” — afirma Delcídio.

— Ele (Cerveró) fala da Dilma dizendo que a Dilma acompanhou tudo de perto — reitera o senador.

Cerveró foi diretor da área Internacional da Petrobras até 2008. Depois, foi para a diretoria financeira da BR Distribuidora. Seu nome ganhou destaque quando, em março de 2014, Dilma o acusou de ter feito parecer “técnico e juridicamente falho” para embasar a compra da refinaria. Assim, ela justificou seu voto a favor da compra.

As menções a Dilma no áudio são feitas enquanto o senador e as demais pessoas reunidas especulam de quem seriam as anotações no rascunho da delação que Esteves possuía. Eles concluíram que a letra seria de Cerveró e que o papel poderia ter sido “roubado” na carceragem da Polícia Federal, onde o ex-diretor estava preso.

Cardozo diz que Dilma não sabia
O governo não comentou os trechos da gravação sobre Dilma, mas o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reagiu às acusações. Segundo ele, todos os elementos disponíveis confirmam a omissão de informações em documentos que levaram os conselheiros da Petrobras, entre eles Dilma, a aprovar a compra de Pasadena. O ministro disse desconhecer o conteúdo da delação do ex-diretor e não sabe se as declarações atribuídas a ele são verdadeiras:

— Se alguém disse isso (que Dilma sabia que a compra de Pasadena seria prejudicial), disse com má intenção e responderá na forma da lei — afirmou.

No áudio, o senador também menciona Cardozo. Delcídio afirma que já tinha conversado com o ministro da Justiça sobre o habeas corpus em tramitação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que poderia beneficiar Cerveró. O senador afirma que conversou com Cardozo e que o ministro Marcelo Ribeiro Dantas levaria a decisão para uma das turmas daquela Corte. Delcídio diz que “na turma vai sair”.

Cardozo disse ontem não se lembrar se conversou com Delcídio sobre decisões da Justiça relativas à Lava-Jato:

— Converso diariamente sobre questões jurídicas com parlamentares, respondo a várias questões. Mas não me lembro de ter nenhuma conversa com o senador Delcídio sobre esse assunto. (Colaborou Simone Iglesias)

Senado tem decisão histórica ao manter sentença do STF de prender Delcídio Amaral

João Valadares / , Eduardo Militão , Naira Trindade /Correio Braziliense / Estado de Minas

BRASÍLIA - Líder do governo no Senado e com livre trânsito no gabinete da presidente Dilma Rousseff (PT), Delcídio do Amaral (PT-MS), responsável pelas negociações políticas mais importantes nas votações de interesse do governo, tornou-se nessa quarta-feira (25) o primeiro senador preso da história brasileira no exercício do mandato. Ele é acusado de tentar obstruir as investigações da Lava-Jato. A prisão preventiva, que abalou o Palácio do Planalto e deixou em alerta máximo senadores e deputados investigados na Lava-Jato, foi determinada pelo ministro Teori Zavascki,referendada por todos os outros quatro integrantes da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) e mantida por 59 senadores em votação aberta no Senado, contra 13 e uma abstenção. 

Ao iniciar a sessão, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), descreveu ser um dia “triste” para o Congresso. “É um dia muito triste. Ao revogar ou fazer com que a prisão aconteça estaremos fazendo a história e abrindo mão de uma prerrogativa do Legislativo.” Na sessão, nessa quarta-feira, Renan ainda classificou a nota do PT como “oportunista e covarde” por ter abandonado o senador preso. Mas defendeu o voto fechado. Os senadores Reguffe (PDT-DF), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), entretanto, apresentaram requerimento reivindicando o voto aberto. Renan deixou com o plenário a decisão, que optou pelo fim do segredo, mantendo assim a prisão de Delcídio decidida pelo Supremo.

Nessa quarta-feira (25) pela manhã, logo depois da prisão, o clima entre os senadores petistas era de velório. Uma reunião de emergência foi marcada. Na saída, os correligionários de Delcídio estavam constrangidos. Ninguém o defendeu e, de maneira implícita, ficou claro que a ordem do Planalto era abandoná-lo. O petista foi preso por agentes da PF nessa quarta-feira pela manhã no hotel Royal Tulip — coincidentemente onde fora preso no dia anterior o pecuarista José Carlos Bumlai, apresentado pelo próprio senador ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.

Mais um
Outro senador que teve um dia de revés foi Romário (PSB-RJ). Ele afirmou, em nota, que não tem conta em banco suíço nem firmou acordo para apoiar o pré-candidato do PMDB à Prefeitura do Rio, Pedro Paulo Teixeira. As acusações foram feitas pelo advogado Edson Ribeiro, que defende o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Em conversa com Delcídio Amaral, o advogado afirmou que Romário mantinha uma conta na Suíça. Na sequência, Delcídio afirmou que Paes e Romário firmaram acordo para que o senador apoie Pedro Paulo à sucessão municipal no Rio. Romário é cotado para disputar o cargo no ano que vem.

Em trecho da conversa, em 4 de novembro e gravada de forma oculta por um terceiro participante, Delcídio afirma ter recebido o prefeito Eduardo Paes, Pedro Paulo (atual secretário municipal de Governo do Rio), Romário e o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Então o advogado Ribeiro comenta: “Fizeram acordo, né?” Delcídio responde: “Diz o Eduardo que fez”. “Foi Suíça”, afirma o advogado. “Tinha a conta realmente do Romário. Tinha dinheiro no banco que foi encontrado. ‘Tira, senão você vai preso”, continua Ribeiro. Romário dá sua versão: “Encontrei o senador Delcídio no dia 4 de novembro, quarta-feira, para tratar da votação de um Projeto de Resolução do Senado (PRS 50/2015), do senador José Serra, do qual fui coautor. No áudio, meu nome é citado. E uma história diferente (...) é contada. O advogado levanta suspeita sobre um assunto que já foi esclarecido por mim e pelas autoridades brasileiras e suíças. Aqueles que novamente fazem acusações inverídicas claro que responderão à Justiça. Qual a credibilidade do advogado de um bandido, corrupto e responsável por roubar uma das principais empresas do país?”, questiona. (Colaboraram Denise Rothenburg e Paulo de Tarso Lyra

‘Dilma sabia de tudo’, diz Cerveró em anotação

• No documento de sua delação premiada, ex-diretor da Petrobrás fez anotação à mão na qual cita a presidente sobre compra de Pasadena

Mateus Coutinho, Valmar Hupsel Filho e Andreza Matais – O Estado de S. Paulo

Na minuta da delação premiada do ex-diretor internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, há anotações do executivo à mão dizendo que a presidente Dilma Rousseff “sabia de tudo de Pasadena” e até mesmo estaria cobrando o então diretor pelo negócio, tendo feito várias reuniões com ele. O acordo de Cerveró foi firmado com a Procuradoria-Geral da República e submetido ao ministro do Supremo Teori Zavascki, que ainda não decidiu sobre sua homologação.

O fato veio à tona nas conversas gravadas entre o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, o advogado Edson Ribeiro, que defendia Cerveró, e o filho do ex-diretor, Bernardo Cerveró. No diálogo, o senador revela que teve acesso ao documento sigiloso da dela- ção do executivo por meio do banqueiro André Esteves, CEO do banco BTG Pactual, e questiona as citações à presidente manuscritas na minuta do acordo de delação.

Na gravação, o filho de Cerveró confirma que as anotações são mesmo de seu pai. Os áudios dos encontros do político com o advogado, gravados por Bernardo Cerveró, foram utilizados pela Procuradoria-Geral da República para pedir a prisão de Delcídio, André Esteves, Edson Ribeiro e o chefe de gabinete do senador.

No documento, conforme menciona Delcídio na gravação, há referências de que Dilma “sabia de tudo” e ela “estava acompanhando tudo de perto”, tendo até mesmo cobrado Cerveró sobre o negócio.

A aquisição da refinaria de Pasadena é investigada por Polícia Federal, Tribunal de Contas da União e Ministério Público por suspeita de superfaturamento e evasão de divisas. O conselho da Petrobrás autorizou em 2006, quando Dilma era ministra da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da estatal,a compra de 50% da refinaria por US$ 360 milhões.

Posteriormente, por causa de cláusulas do contrato, a estatal foi obrigada a ficar com 100% da unidade, antes compartilhada com uma empresa belga. Acabou desembolsando US$ 1,18 bilhão – cerca R$ 2,76 bilhões. Segundo apurou o TCU, essas operações causaram um prejuízo de US$792milhões para a Petrobrás.

Em carta encaminhada ao Estado no ano passado, a presidente afirmou que a decisão foi tomada com base em um parecer “técnica e juridicamente falho”.

Busca e apreensão. A investigação sobre o caso foi encaminhada ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato, e, por meio de delações, lobistas e ex-executivos da estatal confirmaram que houve o acerto de propinas no negócio para atender “compromissos políticos”. Diante disso, foi deflagrada a 20.ª etapa da Lava Jato que determinou buscas e apreensões nos endereços de ex-funcionários da estatal envolvidos no negócio.

Não é a primeira vez que o ex-diretor tenta envolver a presidente no escândalo da Petrobrás. Em janeiro, o executivo chegou a citar Dilma como sua testemunha de defesa em um dos processos que ele respondia na Justiça Federal no Paraná. Na ocasião, após o fato ser revelado, a defesa do executivo recuou e, em menos de uma hora, substituiu a testemunha.

O Palácio do Planalto informou que não vai se manifestar sobre o caso.

PT e governo 'lavam as mãos' sobre destino de Delcídio

• Com o argumento de que senador agiu em 'caráter pessoal', petistas rifam senador para que crise causada por sua prisão não respingue na presidente

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto e a cúpula do PT decidiram lavar as mãos sobre o destino do senador Delcídio Amaral (MS) e abandoná-lo à própria sorte para que a nova crise não prejudique ainda mais a presidente Dilma Rousseff. Até ser preso pela Polícia Federal, na manhã desta quarta-feira, Delcídio era líder do governo no Senado. O escândalo deixou o núcleo político do Planalto em estado de alerta.

Logo que soube da prisão de Delcídio, Dilma convocou uma reunião com ministros. A avaliação ali foi a de que o episódio envolvendo o líder do governo agravou a situação política, tendo potencial para fragilizar ainda mais a presidente. Para que a crise não colasse em Dilma, porém, o Planalto resolveu rifar Delcídio.

Ao longo do dia, ministros disseram que as ações do senador foram feitas em “caráter pessoal”, não tendo qualquer vinculação com o Executivo.

“O governo foi surpreendido pelos fatos ensejados pela ação do Supremo Tribunal Federal”, afirmou ao Estado o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “Nossa posição é muito clara, na linha de que a Justiça deve seguir o seu curso normal e que as investigações devem ser feitas, em profundidade, sobre todos os aspectos envolvidos na questão”.

Cardozo disse ter sido informado sobre a operação que a Polícia Federal realizaria somente por volta das 6h30 desta segunda-feira. “Fui avisado pelo diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, logo de manhã e comuniquei a presidenta Dilma”, contou o ministro. Questionado sobre as consequências da prisão de Delcídio para o governo, Cardozo procurou desvincular os fatos.

“Não vejo impacto maior sobre o governo, uma vez que os fatos relatados não derivam de ação do governo ou por ele solicitado”, disse Cardozo. Em conversas reservadas, porém, auxiliares de Dilma ponderaram que a estratégia foi adotada para blindar a presidente. Não sem motivo: além de ver a investigação da Operação Lava Jato avançando sobre o Planalto, a prisão de Delcídio ressuscitou o escândalo da compra da refinaria de Pasadena, em 2006, quando Dilma era ministra-chefe da Casa Civil.

A refinaria foi comprada por preço superfaturado e Dilma depois afirmou que autorizou o negócio com base em um relatório produzido por Nestor Cerveró, então diretor da área internacional da Petrobrás. De acordo com a presidente, ela constatou depois que o relatório tinha falhas.

O presidente do PT, Rui Falcão, disse estar “perplexo” com os fatos que ensejaram a decisão do Supremo Tribunal Federal de ordenar a prisão de Delcídio. “Nenhuma das tratativas atribuídas ao senador tem qualquer relação com sua atividade partidária, seja como parlamentar ou como simples filiado”, escreveu Falcão em nota. “Por isso mesmo, o PT não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade.”

Prisão de Delcídio e Esteves pode agravar crise política e econômica

Por Raymundo Costa e Leandra Peres - Valor Econômico

BRASÍLIA e SÃO PAULO - No momento em que a presidente Dilma Rousseff tentava reagrupar as forças aliadas, as prisões do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), e do banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, aumentam o risco de um agravamento da crise política e econômica.

A prisão de Delcídio é inédita na história da República. Além de líder de Dilma no Senado, Delcídio era amigo e um dos interlocutores da presidente para assuntos relativos à Petrobras. A crise foi um pouco atenuada à noite, quando o Senado, por 59 votos a 13, decidiu manter a prisão do senador, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da Operação Lava-Jato. A gravidade das acusações deixou o Senado acuado e sem muitas alternativas. Ou entregava Delcídio ou corria o risco de ser acusado de conivência com a obstrução das investigações sobre a corrupção na Petrobras.

Delcídio e Esteves foram presos sob a acusação de tentar obstruir as investigações da Lava-Jato. Em ato classificado pela Procuradoria-Geral da República como "diabólico" e "digno de máfia", Delcídio atuou para evitar o acordo de delação premiada de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras. Até um plano de fuga para a Espanha foi discutido em conversa entre o senador, seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira, e o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, com o filho de Nestor, Bernardo Cerveró.

Delcídio se tornou a 37ª pessoa com foro privilegiado investigada na Lava-Jato pelo STF. O mandado de prisão contra Ribeiro, responsável pela defesa de Cerveró, não pôde ser cumprido porque ele está fora do Brasil. Segundo o Ministério Público, o advogado foi "cooptado" por Delcídio para impedir a deleção premiada de Cerveró.

O acordo de delação foi fechado, mas ainda não homologado pelo STF. Nele, Cerveró afirma que Delcídio recebeu suborno em duas operações da Petrobras. O ex-diretor afirma ainda que Esteves pagou propina ao senador Fernando Collor (PTB-AL), no âmbito de contrato de embandeiramento de 120 postos de combustíveis, em São Paulo, que pertenciam conjuntamente ao BTG Pactual e ao grupo empresarial Santiago.

Prisão de Delcídio amplia risco de agravamento da crise
No momento em que a presidente Dilma Rousseff tentava reagrupar as forças aliadas, a prisão do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), e do banqueiro Andre Esteves, dono do BTG, amplia o risco de um agravamento da crise política e econômica.

A prisão de Delcídio é inédita na história da República e levou a crise para dentro do gabinete da presidente da República. Além de líder de Dilma no Senado, Delcídio era amigo e um dos interlocutores da presidente para assuntos relativos à Petrobras. A crise ameaçou jogar o Senado contra o Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou as prisões, efetuadas no âmbito da Operação Lava-Jato. Os senadores decidiram manter a decisão do Supremo. A gravidade das acusações deixou o Senado acuado e sem muitas alternativas. Ou entrega a cabeça de Delcídio ou corre o risco de ser acusado de cumplicidade com obstrução das investigações.

Delcídio, além das reuniões com os demais líderes para traçar as estratégias de votação do governo no Congresso, inclusive aquelas relacionadas à Operação Lava-Jato, tinha também encontros políticos reservados com a presidente da República. O senador teve papel destacado inclusive na elaboração da nova lei do petróleo. Para quem não se lembra, Delcídio Amaral foi o presidente da CPI dos Correios, que investigou o mensalão, esquema de compra de votos em troca de apoio descoberto no governo do ex-presidente Lula. É um interlocutor privilegiado também do ex-presidente Lula, com quem mantinha reuniões frequentes.

A proximidade do ex-líder com a presidente da República acaba de vez com o argumento de que a Operação Lava-Jato era coisa que diz respeito só ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - argumento muito difundido no Palácio do Planalto e no Ministério da Justiça e que explicava o constante mau humor de Lula com Dilma.

O esforço das lideranças do governo, ontem, era caracterizar a atitude de Delcídio como "pessoal". O PT imediatamente tentou se desvincular das ações do associado, por meio de nota divulgada pelo presidente do partido, Rui Falcão, em que o partido se desobriga de "qualquer solidariedade" ao senador.

A paralisia do Congresso, que ontem cancelou todas as votações importantes, e os sombrios prognósticos da economia para 2016 apontam para uma conjuntura que requer um governo com forte apoio político, o que não é o caso da presidente.

Até ontem, Dilma não era personagem ativa nas delações da Lava-Jato. Isso mudou. Ao descrever o que seria a delação premiada do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, o senador Delcídio diz que ele afirma que a presidente acompanhou de perto a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras. O negócio envolveu propinas e prejuízo à estatal.

A oposição preferiu a cautela: "O PSDB deve acompanhar a decisão do Supremo", afirmou o presidente do partido, senador Aécio Neves. Ele não deixou de criticar o Planalto, apontado como responsável pela corrupção e principal beneficiário dos desvios de verbas.

O vice Michel Temer (PMDB-SP) também é alvo na gravação da conversa do senador Delcídio. Segundo o ex-líder do governo, Temer poderia usar seu prestígio com o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, para facilitar a concessão de habeas-corpus para Cerveró e estaria muito preocupado com a delação de Zelada, em referência ao ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, Jorge Zelada. "Delcídio jamais falou com o vice-presidente sobre as investigações da Lava-Jato no Supremo", informou a assessoria de Temer. "Michel nunca mencionou o assunto com o ministro Gilmar Mendes e não tem nenhuma preocupação com a eventual delação premiada de Jorge Zelada".

O adiamento da sessão do Congresso, que votaria temas importantes da pauta econômica, foi o primeiro sintoma do que pode vir a ser uma paralisia nos projetos com os quais o governo contava para fechar as contas desse ano e de 2016.

O assunto mais importante para o governo é a alteração da meta de superávit primário de 2015 de 1,2% do PIB para um déficit de 0,85% do PIB. Sem a aprovação dos parlamentares, a presidente Dilma Rousseff pode cometer crime de responsabilidade. É pouco provável que o Congresso não trate do assunto até o fim do ano.

O Senado também tratava da revisão do projeto de repatriação de recursos do exterior, que saiu da Câmara com alíquotas reduzidas e um potencial de arrecadação muito abaixo do que esperava o governo. O senador Delcídio do Amaral é o autor de um dos projetos sobre o assunto e capitaneava as discussões. O governo também contava com a aprovação da Desvinculação de Receitas da União (DRU) ainda este ano.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, esteve ontem com a presidente Dilma Rousseff para tratar do Orçamento de 2016. Crescentemente irritado e desgastado pelo tiroteio do próprio PT, Levy reclama do que considera falta de apoio no governo à meta de superávit primário de 0,7% do PIB. O ministro considera que a proposta de superávit zero, que será apresentada pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), é feita em articulação com o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Levy quer apoio inequívoco da presidente para manter o resultado de 2016.

As prisões também mudaram as expectativas do Congresso sobre alguns desdobramentos da Operação Lava-Jato: até ontem, apostava-se que o Supremo Tribunal Federal (STF) deveria restringir o raio de ação do juiz Sergio Moro, que comanda a investigação daquele que talvez seja o maior escândalo de corrupção do mundo; agora, ganha contornos no horizonte a possibilidade de o Supremo se aliar ao juiz Moro na empreitada de passar em revista os governos Lula e Dilma.

Temendo 'até mentiras', governo não vai atacar nem isolar Delcídio

Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Aconselhada por seu núcleo político mais próximo, a presidente Dilma Rousseff decidiu que o governo não deve atacar nem isolar completamente o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), preso nesta quarta-feira (25) na Operação Lava Jato por tentar obstruir as investigações.

Segundo a Folha apurou, o governo teme que Delcídio use, nas palavras de um ministro, "até mesmo de mentiras" para atacar diretamente o Palácio do Planalto e, por isso, a ordem é ter cautela.

Auxiliares de Dilma foram avisados na noite de terça-feira (24) sobre a prisão do senador. Ao tomar conhecimento dos fatos, a presidente demonstrou preocupação com o efeito que isso teria sobre votações importantes no Congresso e sobre sua imagem e a de seu governo.

Delcídio era um dos principais articuladores do governo no Legislativo, com trânsito entre parlamentares da base aliada e da oposição, e participava da maior parte das reuniões de coordenação política do Planalto, realizadas às segundas-feiras e comandadas pela presidente.

Horas após a prisão do senador, Dilma reuniu em seu gabinete no Palácio do Planalto os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Edinho Silva (Comunicação Social) para fazer uma avaliação do cenário.

Após examinar o conteúdo das falas de Delcídio, gravadas em um áudio entregue à Procuradoria-Geral da República, Dilma ordenou que, oficialmente, o governo dissesse que foi "surpreendido" pelos fatos e defendesse "a autonomia das investigações".

Conta própria
Auxiliares da presidente ressaltaram que o conteúdo das falas do senador deixava claro que o senador "agia por conta própria" e não "a mando do governo federal".

As conversas de Delcídio foram gravadas e entregues à PGR por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, também preso na Operação Lava Jato.

Segundo interpretação dos investigadores, Delcídio queria impedir a delação premiada de Cerveró, fechada pelo ex-executivo da estatal em troca de redução de pena.

Nas conversas, o senador cita, entre outros nomes, Dilma e o ministro da Justiça, em contextos diferentes que, segundo Cardozo, não condizem com a verdade.

Substituto
Preocupada com o andamento de votações no Congresso, como a que estava marcada para esta quarta sobre a alteração da meta fiscal, Dilma escalou Berzoini para iniciar as negociações que resultariam na substituição de Delcídio na liderança do governo no Senado.

No fim da tarde, porém, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência divulgou nota para informar que o novo líder do governo na Casa será escolhido somente na próxima semana.

Até lá, respondem interinamente pelo cargo os vice-líderes Telmário Mota (PDT-RR), Wellington Fagundes (PR-MT), Paulo Rocha (PT-PA) e Hélio José (PSD-DF).

Ministros ficaram desconcertados com acesso de Esteves a delação sigilosa

Mônica Bergamo – Folha de S. Paulo

Uma das informações que mais desconcertaram ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e também do governo Dilma Rousseff nesta quarta (25) foi a de que o banqueiro André Esteves teve acesso a documentos sigilosos da delação premiada de Nestor Cerveró que estava sendo negociada com a Justiça. Ele foi preso nesta quarta (25) sob acusação de tentar obstruir as investigações.

Caneta
O documento de delação tinha inclusive anotações manuscritas de Cerveró. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, anotou que o fato "revela a existência de perigoso canal de vazamento, cuja amplitude não se conhece". Ele define como "genuíno mistério" o fato de que documento "guardado em ambiente prisional, com incidência de sigilo, tenha chegado às mãos de um banqueiro privado em São Paulo".

O inimigo...
Há tempos que, por trás da aparência algo heroica da Operação Lava Jato, crescem desconfianças de que autoridades com acesso privilegiado à investigação revelem ilegalmente dados sigilosos a investigados e outros interessados.

...Mora ao lado
Elas se somam às acusações de que policiais instalaram grampos ilegais em departamentos da própria Polícia Federal para investigarem uns aos outros.

Em todas
O banqueiro André Esteves era tão próximo de Lula que, quando visitava o ex-presidente no Hospital Sírio-Libanês quando ele se tratava de um câncer na laringe, subia ao quarto do petista por um elevador privativo.

Dilma, não
Amigo também do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Esteves não escondia de ninguém que tinha votado nele para presidente em 2014. Ele foi inclusive a jantares de apoio ao tucano. O banqueiro gostava de Lula -mas não do governo de Dilma Rousseff.

'PT cedeu à corrupção'

• Corrupção do PT se alastrou da gestão Celso Daniel à esfera federal, diz juíza

• Para juíza, quadros importantes do PT cederam à corrupção

- Diário do Poder

Em sentença de 117 páginas, na qual condenou a 15 anos e seis meses de prisão o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, a juíza Maria Lucinda da Costa, da 1ª Vara Criminal de Santo André, assinalou que ‘o esquema de corrupção era tão estruturado que se ramificou’ e atingiu a administração federal. “Encontrou no pensamento coletivo corrompido terreno fértil e se alastrou inclusive para a esfera federal”, escreveu a juíza.

Sombra é um emblemático personagem do caso Santo André. Ele era muito próximo de Celso Daniel, ex-prefeito do PT executado a tiros em janeiro de 2002. Para o Ministério Público Estadual, o esquema de propinas abastecia caixa 2 do partido. Os promotores afirmam que Celso Daniel foi eliminado porque resolveu dar um fim na arrecadação ilícita em sua gestão ao descobrir que o dinheiro estaria sendo canalizado para o enriquecimento pessoal de Sombra e de outros personagens do caso.

A condenação de Sombra é a primeira imposta pela Justiça no episódio que se transformou em um pesadelo para o PT. Além de Sombra, a juíza condenou o empresário do setor de transportes e de comunicação em Santo André Ronan Maria Pinto (10 anos e 4 meses de pena) e o ex-secretário municipal Klinger Luiz de Oliveira Souza (15 anos e seis meses). Todos poderão recorrer em liberdade.

A Promotoria atribuiu a Sombra, Ronan e Klinger a liderança de um esquema de arrecadação de propinas no setor de transporte público da cidade do Grande ABC.

A suspeita sobre o suposto caixa 2 do PT surgiu com o depoimento do médico oftalmologista João Francisco Daniel, irmão mais velho de Celso Daniel. Ele revelou que a propina ia para o partido, na ocasião presidido por José Dirceu, mais tarde ministro-chefe da Casa Civil no primeiro governo Lula.

“Os réus, especialmente Klinger e Sérgio (Sombra), ligados que são ao Partido dos Trabalhadores, ocuparam posição de destaque no partido, em uma cidade que congregava a liderança partidária”, assinalou a juíza Maria Lucinda da Costa. “Da administração de Celso Daniel saíram pessoas que ocuparam cargos no primeiro escalão do governo federal petista, como Miriam Belchior e Gilberto Carvalho. Portanto, tinham eles condições de, em fazendo uma administração limpa, fazer frutificar frutos bons. Mas, não, optaram por ceder à corrupção, o que possibilitou a proliferação do esquema maléfico, como depois se tornou público e notório.”

A juíza cita na sentença uma ‘testemunha sigilosa’. “Ouvida no procedimento preparatório, (a testemunha) relatou que soube pela ex-mulher de Celso Daniel que as empresas contratadas pela Municipalidade desviavam recursos dos cofres públicos para o Partido dos Trabalhadores, para utilização em campanhas eleitorais e que os valores eram entregues em mãos do presidente do Partido, José Dirceu.”

A juíza destaca que ‘no caso específico dos autos, não se pode ignorar, ainda, que a estrutura criminosa se instalou em torno de serviço público essencial, utilizado pela camada mais sofrida da população que, não obstante seja a menos favorecida economicamente, foi a que mais sofreu com o aumento dos custos dos serviços impostos para suportar o pagamento da verba ilícita’.

“Como se não bastasse, são atos da espécie que prejudicam a evolução social, o crescimento da economia, a estruturação do Estado Democrático de Direito e, na medida em que causam o descrédito do administrador público, comprometem a imagem de todas as autoridades públicas e toda a estruturação dos entes federativos”, alerta a magistrada.

A juíza cita João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel. “Relatou que após o falecimento do prefeito Celso Daniel, soube por Miram Belchior, ex-esposa do alcaide, que havia um ‘caixa 2′, cuja receita era destinada ao Partido dos Trabalhadores. Ocorre que pouco antes do falecimento de Celso, cogitou-se que parte deste dinheiro estava sendo desviada em proveito próprio de Klinger, Ronan e Sérgio, tanto que Celso confidenciou ao irmão que estava fazendo um dossiê contra os réus. 

Posteriormente, Miriam teria relatado à testemunha que “…Klinger direcionava as licitações, o denunciado Ronan seria o beneficiário dessas licitações….e por fim o denunciado Sérgio era o responsável para manter o contato com os empresários de Santo André….Sérgio era um homem violento e responsável pela arrecadação junto aos empresários…”, inclusive, exibindo-lhes arma de fogo durante as reuniões. Finalmente, o dinheiro seria encaminhado ao PT, na pessoa de José Dirceu, por Gilberto Carvalho.”

Perante a CPI que se instalou na Câmara municipal de Santo André, João Francisco disse que ‘o esquema lhe teria sido relatado também por Gilberto Carvalho’.

Tais informações foram desmentidas por Miriam Belchior e por Gilberto Carvalho, segundo a própria sentença da juíza de Santo André. “Também não se ignora que, ouvida pela CPI, Miriam desmentiu o ex-cunhado, assim como Gilberto Carvalho o fez. Entretanto, ainda que não se tenha provado o conhecimento de Miriam e de Gilberto acerca do esquema criminoso, certo é que os depósitos, documentalmente comprovados, são mais que suficientes para provar a existência do grupo criminoso. As demais testemunhas, embora não contribuam para confirmar a acusação, também não bastam para afastar as robustas provas produzidas.”

A juíza cita, ainda, Ivone de Santanta, viúva de Celso Daniel. “Descreveu que no primeiro mandato de Celso, Sérgio trabalhou no gabinete do Prefeito e Klinger era funcionário da Prefeitura. No segundo e terceiro mandatos, Sérgio, por não residir em São Paulo, não ocupou cargo na Prefeitura Municipal e Klinger passou a Secretário. Asseverou que o relacionamento do falecido Prefeito com o irmão João Francisco não era próximo, porque Celso não gostava de ser procurado para atender interesses pessoais do irmão, cujo filho era patrocinado no basquete pela família Gabrilli (proprietária de uma empresa de transportes). Enfatizou que João Francisco pressionava o prefeito para interceder na Administração em favor de Gabrilli. Por outro lado, Ivone negou que Celso estivesse fazendo um dossiê contra Klinger, Ronan e Sérgio. Ao contrário, sustentou que a relação de amizade entre Celso e Klinger nunca foi abalada.”