João Valadares / , Eduardo Militão , Naira Trindade /Correio Braziliense / Estado de Minas
BRASÍLIA - Líder do governo no Senado e com livre trânsito no gabinete da presidente Dilma Rousseff (PT), Delcídio do Amaral (PT-MS), responsável pelas negociações políticas mais importantes nas votações de interesse do governo, tornou-se nessa quarta-feira (25) o primeiro senador preso da história brasileira no exercício do mandato. Ele é acusado de tentar obstruir as investigações da Lava-Jato. A prisão preventiva, que abalou o Palácio do Planalto e deixou em alerta máximo senadores e deputados investigados na Lava-Jato, foi determinada pelo ministro Teori Zavascki,referendada por todos os outros quatro integrantes da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) e mantida por 59 senadores em votação aberta no Senado, contra 13 e uma abstenção.
Ao iniciar a sessão, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), descreveu ser um dia “triste” para o Congresso. “É um dia muito triste. Ao revogar ou fazer com que a prisão aconteça estaremos fazendo a história e abrindo mão de uma prerrogativa do Legislativo.” Na sessão, nessa quarta-feira, Renan ainda classificou a nota do PT como “oportunista e covarde” por ter abandonado o senador preso. Mas defendeu o voto fechado. Os senadores Reguffe (PDT-DF), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), entretanto, apresentaram requerimento reivindicando o voto aberto. Renan deixou com o plenário a decisão, que optou pelo fim do segredo, mantendo assim a prisão de Delcídio decidida pelo Supremo.
Nessa quarta-feira (25) pela manhã, logo depois da prisão, o clima entre os senadores petistas era de velório. Uma reunião de emergência foi marcada. Na saída, os correligionários de Delcídio estavam constrangidos. Ninguém o defendeu e, de maneira implícita, ficou claro que a ordem do Planalto era abandoná-lo. O petista foi preso por agentes da PF nessa quarta-feira pela manhã no hotel Royal Tulip — coincidentemente onde fora preso no dia anterior o pecuarista José Carlos Bumlai, apresentado pelo próprio senador ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.
Mais um
Outro senador que teve um dia de revés foi Romário (PSB-RJ). Ele afirmou, em nota, que não tem conta em banco suíço nem firmou acordo para apoiar o pré-candidato do PMDB à Prefeitura do Rio, Pedro Paulo Teixeira. As acusações foram feitas pelo advogado Edson Ribeiro, que defende o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Em conversa com Delcídio Amaral, o advogado afirmou que Romário mantinha uma conta na Suíça. Na sequência, Delcídio afirmou que Paes e Romário firmaram acordo para que o senador apoie Pedro Paulo à sucessão municipal no Rio. Romário é cotado para disputar o cargo no ano que vem.
Em trecho da conversa, em 4 de novembro e gravada de forma oculta por um terceiro participante, Delcídio afirma ter recebido o prefeito Eduardo Paes, Pedro Paulo (atual secretário municipal de Governo do Rio), Romário e o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Então o advogado Ribeiro comenta: “Fizeram acordo, né?” Delcídio responde: “Diz o Eduardo que fez”. “Foi Suíça”, afirma o advogado. “Tinha a conta realmente do Romário. Tinha dinheiro no banco que foi encontrado. ‘Tira, senão você vai preso”, continua Ribeiro. Romário dá sua versão: “Encontrei o senador Delcídio no dia 4 de novembro, quarta-feira, para tratar da votação de um Projeto de Resolução do Senado (PRS 50/2015), do senador José Serra, do qual fui coautor. No áudio, meu nome é citado. E uma história diferente (...) é contada. O advogado levanta suspeita sobre um assunto que já foi esclarecido por mim e pelas autoridades brasileiras e suíças. Aqueles que novamente fazem acusações inverídicas claro que responderão à Justiça. Qual a credibilidade do advogado de um bandido, corrupto e responsável por roubar uma das principais empresas do país?”, questiona. (Colaboraram Denise Rothenburg e Paulo de Tarso Lyra
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