domingo, 10 de julho de 2016

Opinião do dia – Dora Kramer

Diante da evidência de que não há solução ideal, o Planalto prefere guardar prudente distância de qualquer solução que venha a decorrer a disputa em plenário. Quanto à ideia de que o renunciado Cunha venha a influir na escolha do novo presidente, a resposta é a seguinte: não conseguiu preservar o próprio mandato, muito menos poderá assegurar o do próximo.

Sete chaves. Aprovado o impeachment de Dilma Rousseff, sobre o qual os atuais governistas não têm a menor dúvida, Planalto e adjacências sofrerão mudança radical. Transformação esta já desenhada, mas mantida sob o mais absoluto sigilo.”

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Dora Kramer é jornalista. ‘Amargo regresso’, O Estado de S. Paulo, 10/07/2016

Perícia do TSE evidencia que a campanha de Dilma lavou dinheiro do Petrolão

• Durante auditoria realizada pelo Tribunal Eleitoral, as gráficas VTPB, Focal e Red Seg, que receberam R$ 52 milhões da campanha da presidente afastada, em 2014, não comprovam que prestaram os serviços declarados

Débora Bergamasco - IstoÉ

No dia 20 de abril, a ministra Maria Thereza de Assis Moura, corregedora-geral da Justiça Eleitoral, autorizou a apuração das suspeitas de que a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, em 2014, havia utilizado gráficas para lavar dinheiro do Petrolão. Na última semana, o relatório entrou em fase final de redação e uma perícia deverá ser oficialmente divulgada no próximo mês. ISTOÉ apurou que as evidências de lavagem de recursos desviados da Petrobras se confirmaram. As empresas VTPB, Focal e Red Seg não conseguiram comprovar que prestaram os serviços declarados durante as últimas eleições, o que reforçam os indícios de que eram mesmo de fachada e serviram de ponte para o pagamento de propinas do Petrolão. Juntas, elas receberam uma fábula da campanha de Dilma em 2014: R$ 52 milhões.

Cunha sai do jogo. E agora?

• Eduardo Cunha renuncia à presidência da Câmara para salvar seu mandato – e o governo Temer se livra de um aliado incômodo

Alana Rizzo, Ana Clara Costa e Talita Fernandes - Época

Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana

A renúncia de Eduardo Cunha à presidência da Câmara era questão de tempo. No domingo, 3 de julho, Cunha finalmente concebeu que seu tempo se esgotara. Afastado do cargo há dois meses por decisão do Supremo Tribunal Federal, e perto de ser cassado por quebra de decoro parlamentar, ele não só não tinha mais saída, como o arranjo de um interino em seu posto começava a incomodar o Palácio do Planalto. A pressão da família, em especial da esposa, Cláudia Cruz, ré na Lava Jato, de seus advogados e de aliados políticos o fez dar um passo definitivo.

O olhar obtuso da professora Chaui

• Além dos prejuízos ao Brasil e aos brasileiros, a corrupção petista parece produzir uma perigosa cegueira em alguns conceituados acadêmicos

Mário Simas Filho - IstoÉ

Não é preciso frequentar as salas da filosofia da USP para saber que o PT de hoje nada tem a ver com o partido que a professora Marilena Chaui e muitos brasileiros do bem ajudaram a fundar em 1980. Depois de tantas operações promovidas pela Lava Jato não há cidadão que discorde: a legenda que nasceu idealista se transformou em sinônimo de corrupção e institucionalizou a roubalheira para se manter no poder e melhorar a vida de seus líderes. Mas, além dos enormes prejuízos ao Brasil e aos brasileiros, a gatunagem petista parece produzir uma perigosa cegueira em alguns conceituados acadêmicos. É o caso da professora Chaui.

Força-tarefa vê suspeita de caixa 2 em empresa de segundo maior fornecedor de Dilma em 2014

• Polícia Federal e Procuradoria apontam que Carlos Cortegoso, dono da Focal e da CRLS, contratadas pelo PT para fornecer palanques e materiais de campanha, registrou movimentação de quase R$ 50 milhões, de créditos e débitos, entre 2010 e 2014, mas receita bruta de R$ 9 milhões; transações 'atípicas' são alvos da Custo Brasil, que apura se propinas foram ocultas nos negócios

Ricardo Brandt, Fausto Macedo, Julia Affonso, Mateus Coutinho e Fábio Serapião – O Estado de S. Paulo

/BRASÍLIAA Operação Custo Brasil, desdobramento da Lava Jato, investiga lavagem de dinheiro e sonegação fiscal em negócios do segundo maior fornecedor da campanha da presidente afastada Dilma Rousseff, reeleita há quase dois anos. Relatório da Receita Federal repassado à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal revela que, entre 2010 e 2014, uma das empresas de Carlos Roberto Cortegoso, a CRLS Consultoria e Eventos, movimentou quase R$ 50 milhões, de créditos e débitos, um quinto do valor declarado de receita bruta no período.

Os investigadores suspeitam de contabilidade “atípica” e caixa 2 com recursos provenientes do PT e de esquemas de propinas na Petrobrás e no Ministério do Planejamento. “A CRLS, segundo a Receita Federal, movimentou em suas contas cerca de R$ 25 milhões de entrada (crédito) e R$ 24 milhões de saída, mas declarou receita bruta de menos de R$ 10 milhões”, afirmam procuradores da República da Custo Brasil.

Contra tese de Temer, PMDB lança candidatos

• Sigla tem 5 nomes para disputa na Câmara, mas presidente quer 1 só que unifique base

Caio Junqueira - O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - A bancada do PMDB na Câmara acabou por se tornar um problema para o presidente em exercício Michel Temer na sucessão do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou à presidência da Casa na quinta-feira. Cinco deputados da legenda já apresentaram suas candidaturas ao partido a despeito de o Planalto trabalhar por um nome de consenso entre o Centrão (bloco que inclui 13 partidos) e a antiga oposição (PSDB, DEM, PSDB e PSB).

O governo espera que o candidato, provavelmente Heráclito Fortes (PSB-PI) ou Rogério Rosso (PSD-DF), unifique a base. Mas o PMDB, no entanto, está indo na contramão dessa estratégia. Dos cinco, dois já protocolaram suas candidaturas, caso de Marcelo Castro (PI) e Fabio Ramalho (MG). Outros três comunicaram que vão disputar: Carlos Marun (MS), Sergio Souza (PR) e Osmar Serraglio (PR). A orientação é de que eles viabilizem seus nomes com as outras forças políticas da Casa. A expectativa é de que seja fechada questão em torno do nome em reunião por ora agendada para a manhã de terça-feira. “A decisão que a maioria tomar será a que eu defenderei”, disse ao Estado o líder da bancada, Baleia Rossi (SP).

Planalto atua para conter racha na base

• Governo pede a líderes aliados que tentem reduzir o número de candidatos

Temer, porém, se manterá publicamente neutro na disputa. Interino quer evitar erro de Dilma, que, ao apoiar adversário de Cunha, perdeu respaldo político

O presidente interino, Michel Temer, decidiu agir para evitar a implosão de sua base no Congresso, e para isso determinou que seus principais interlocutores pedissem aos líderes dos partidos aliados que demovam pré-candidatos à presidência da Câmara da disputa, que já tem pelo menos 15 interessados, seis deles registrados. Só no PMDB, são quatro concorrentes. Publicamente, porém, o governo mantém o discurso de que não vai interferir no pleito. Temer quer evitar o erro da presidente afastada, Dilma Rousseff, que articulou abertamente uma candidatura contra o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e acabou inviabilizando-se politicamente.

Contenção de danos

• Temendo implosão da base na Câmara, governo pede a aliados redução de candidatos

Eduardo Bresciani e Júnia Gama - O Globo

BRASÍLIA - Sob risco de implosão da base aliada por conta da disputa pela presidência da Câmara, que já tem 15 candidatos, o governo está procurando os líderes aliados e pedindo que eles negociem para reduzir ao máximo o número de concorrentes. O Planalto passou a operar nos bastidores numa tentativa de pelo menos amenizar as sequelas na sua base parlamentar. Publicamente, o discurso governista ainda é o de que não se envolverá na eleição, mas o risco de conflagração dos aliados alarma os articuladores do presidente interino, Michel Temer, que tem dito aos candidatos que o procuram que não terá um favorito.

Dois líderes de partidos aliados confirmaram a nova postura do governo ao GLOBO e disseram que a preocupação do Planalto é com o conflito que a corrida eleitoral pode gerar na base aliada.

Onda de dificuldades para Temer no Congresso

• Projetos prioritários esbarram em indefinição na Câmara e em pauta escolhida por Renan no Senado

Cristiane Jungblut e Isabel Braga - O Globo

BRASÍLIA Na última semana de trabalho do Congresso antes do recesso de julho, as votações de projetos cruciais para o governo interino de Michel Temer serão contaminadas pelo impasse que marca a disputa acirrada para eleição do sucessor do expresidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O esforço concentrado no Senado também será dominado por uma pauta de interesse do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), deixando de lado propostas prioritárias para o governo. Caso esses projetos não sejam votados até a interrupção dos trabalhos, as chances de aprovação diminuem, porque em agosto está prevista a votação do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff. Em seguida, começará a campanha para a eleição municipal.

Por que tão tarde? - Fernando Gabeira

- O Globo

Cunha renunciou. Ainda estou devendo a mim mesmo uma explicação de como foi possível a trajetória e a resiliência de Cunha na democracia brasileira. É um pouco cedo para isso. Cunha oferece um anel para não perder os dedos. Todos sabem em Brasília que ele renunciou à presidência na esperança de manter o mandato e escapar de Curitiba.

O momento em que suas lágrimas me pareceram mais convincentes foi quando mencionou mulher e filha. Também foram envolvidas e, certamente, muito criticadas na imprensa e nas redes sociais. As lágrimas são enigmáticas. Seu último esforço é, precisamente, escapar do destino delas: ser julgado em Curitiba.

Estouro da boiada - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

A Câmara dos Deputados chegou à redemocratização com o inatacável Ulysses Guimarães na presidência, mas acendeu o sinal amarelo com a eleição do indescritível Severino Cavalcanti e o sinal vermelho com o duplamente réu Eduardo Cunha e, agora, não apenas convive com o inacreditável Waldir Maranhão como está entre duas opções: ou um estouro da boiada e mais um presidente problema, ou uma união das forças políticas em torno de um nome palatável pela opinião pública.

Os maiores partidos, PMDB, PSDB e PT, simplesmente não apresentaram candidatos, para não piorar a implosão da Câmara e para esperar 2017. Mas, além deles, nenhum outro partido fechou firmemente em torno de um nome que preencha requisitos básicos, como o respeito da grande maioria e uma ficha razoavelmente limpa. Está difícil!

O preço da sacralização do judiciário - Elio Gaspari

- O Globo

Aconteceram três episódios que prenunciam encrencas que serão testes para o Judiciário nacional. Em fevereiro, contra o voto de Celso de Mello e de três outros ministros, o Supremo Tribunal Federal decidiu que uma pessoa condenada na segunda instância deverá esperar o julgamento de um novo recurso na cadeia. Mello chamou a decisão de “inversão totalitária”. Na semana passada, numa inversão minoritária, o ministro mandou soltar um empresário que em 2009 matara o sócio. 

Condenado a 16 anos na primeira instância, ficou com 14 anos na segunda e foi preso. Mello soltou-o. Ele não julgou o caso, mas o direito de um assassino esperar em liberdade o julgamento de seu último recurso. O Supremo deverá decidir se a decisão de fevereiro foi constitucional. Todos os grandes clientes e escritórios de advocacia que defendem a turma da Lava-Jato torcem para que ocorra uma inversão plutocrática. Como 7x4 pode virar uma outra coisa, não se sabe, mas pode-se sonhar com uma reversão do doloroso 7x1 do Mineirão.

Corrida ao pote – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

O próximo presidente da Câmara exercerá um mandato-tampão de apenas seis meses. Neste curto período, comandará uma Casa desmoralizada e esvaziada pelas eleições municipais. Será pressionado a proteger colegas em apuros e terá a vida devassada pela imprensa e pelos órgãos de investigação.

Não parece o melhor emprego do mundo, mas ao menos 15 deputados já secandidataram a ocupá-lo. A lista pode crescer nos próximos dias, embora ainda não se saiba ao certo nem a data da eleição.

Amargo regresso - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

A perspectiva de uma campanha eleitoral sem doações de empresas a serem registradas na contabilidade oficial instalou o pânico nos partidos. Ao contrário do que seria natural, não produziu neles solução alternativa.

O veto ao financiamento de pessoas jurídicas está em vigor há mais de um ano, por decisão do Supremo Tribunal Federal, corroborada por votação do Congresso. Votação esta pautada pelo constrangimento de ir contra a decisão do STF. Tempo suficiente para que suas excelências estivessem ao menos discutindo o que fazer: mobilizar eleitores, preparar campanhas de arrecadação, mostrarem-se dignos de financiamento espontâneo.

Golpe só na fantasia - Sérgio Besserman Vianna

• Presidente tem de ser um líder e fazer política com maestria

- O Globo

Um presidente não é impedido porque cometeu estelionato eleitoral. Isso é das regras do jogo, é legal e legítimo. “Hate the game, not the players”, dizem os americanos.

Um presidente não é impedido porque, em decorrência do item 1 acima, sua popularidade vai para a lona, e o eleitorado se sente traído. É do jogo, basta manter sustentação parlamentar.

Um presidente não é impedido porque, além dos itens 1 e 2 acima, todo o sistema de representação política está em crise, no Brasil e no mundo. Está no jogo, basta ter casca grossa.

O desajuste político das contas públicas - Rolf Kuntz

- O Estado de S. Paulo

Pode-se medir o sucesso de várias formas, algumas espantosas, principalmente quando se trata de políticas públicas no Brasil. O governo poderá fazer uma festa se fechar 2016 com um déficit primário de R$ 170,5 bilhões. Poderá abrir champanhe se reduzir o buraco no próximo ano para R$ 139 bilhões, valor correspondente, segundo a estimativa oficial, a 2,05% do produto interno bruto (PIB). Somando os juros, porém, a conta mostrará um rombo total muito maior. Esse resultado, conhecido como déficit nominal, tem estado na vizinhança de 10% do PIB, uma monstruosidade, pelos padrões internacionais. O déficit nominal americano ficou em 3,7% no ano passado e deve oscilar por um bom tempo nas vizinhanças desse número. A média geral dos países da eurozona tem estado na faixa de 2% a 3%. A média latino-americana bateu em 7,3% no ano passado – com a maior parte dos países muito abaixo disso – e tende a cair.

Um novo jeito - Míriam Leitão

- O Globo

O ministro Henrique Meirelles deixou claro nas suas conversas dentro do governo sobre a meta fiscal que este ano a atual equipe pegou o bonde andando, mas em 2017 será considerado responsável pelo que acontecer. Por isso, “sob nenhuma hipótese” a meta fiscal poderia ser um déficit maior que o de 2016. Desta forma ele rechaçou as propostas mais expansionistas. Mesmo assim, R$ 139 bilhões é um déficit enorme.

É muito difícil fazer uma reversão de um resultado tão negativo sem aumento de carga tributária. Mas não foi incluído aumento de imposto. A hipótese de elevação da Cide, apesar de ser considerada um “imposto verde”, também foi deixada de lado pelo impacto inflacionário que poderia representar.

Renegociação com os Estados – Samuel Pessòa

- Folha de S. Paulo

A área econômica do governo acaba de enviar ao Congresso Nacional o texto do projeto de lei complementar (PLC) que estabelece os termos nos quais se dará a renegociação das dívidas dos governos estaduais com a União.

Desde a renegociação no governo Fernando Henrique Cardoso, os Estados comprometem parte de sua receita corrente líquida, até o limite de 13%, com pagamentos do serviço e da amortização da dívida com o Tesouro Nacional.

A penúria dos Tesouros estaduais em razão da crise econômica, associada à verdadeira farra fiscal que ocorreu no setor público brasileiro no primeiro mandato de Dilma, criou situações-limite em que os Estados não conseguem pagar a folha salarial.

Vinte e cinco anos e muito por fazer - José Serra

- O Globo

O Mercosul faz 25 anos, em meio a bons resultados agregados, ao lado de algum ceticismos em relação ao período recente e ao futuro próximo. Tem pela frente o grande desafio da renovação e da adaptação a um cenário internacional cada vez mais competitivo e instável.

A crise que atingiu a região nos últimos anos não diminui a importância do projeto de integração. Ao contrário, torna urgente recuperar o dinamismo perdido, com vistas ao nosso desenvolvimento e projeção externa.

É no contexto desses desafios que abordamos a questão da transmissão da presidência pro tempore do Mercosul para a Venezuela. A presidência do bloco, atualmente a cargo do Uruguai, é exercida semestralmente, em sequência alfabética.

O entulho começa a ser removido – Editorial / O Estado de S. Paulo

Mergulhado numa paralisante crise política, econômica, social e moral, cuja persistência pode significar um enorme retrocesso no trabalho de construção de uma sociedade livre, próspera e justa, o Brasil se prepara para remover o entulho do passado recente que tem obstruído o processo político e prejudicado a retomada do crescimento econômico em benefício da justiça social. Esse entulho tem nome duplo: Dilma Rousseff e Eduardo Cunha. O definitivo afastamento de ambos da vida pública, mediante a cassação de seus mandatos, terá ainda o efeito simbólico de uma vitória dos brasileiros sobre a corrupção disseminada por ambos, cada uma a seu modo: Dilma na condição de chefe de um governo comprometido com o objetivo duplo de beneficiar com o desvio de recursos públicos um projeto partidário de poder e também enriquecer seus principais líderes e aliados; Eduardo Cunha, no comando da Câmara dos Deputados, responsável pela cooptação de companheiros de mandato para acumular poder e, assim, beneficiar-se de recursos públicos. Uma e outro, inimigos figadais, ironicamente se unirão em breve no mesmo destino: o exílio político. Já é um avanço e tanto.

Riscos do gradualismo – Editorial / Folha de S. Paulo

O governo Michel Temer (PMDB) afinal delineou um programa econômico que alcança o ano de 2019, quando terá início o mandato de um novo presidente eleito.

Trata-se de uma estratégia gradualista de reequilíbrio das finanças públicas, que por ora adia a tomada de decisões mais duras —o presidente interino previu medidas impopulares "a partir de certo momento" e depende de reformas constitucionais ambiciosas.

A diretriz central do plano é a tolerância com deficits elevados nas contas do governos ao longo do mandato atual, o que manterá sua dívida em escalada até, no mínimo, o final da década.

Em compensação, será imposto um congelamento inédito dos gastos federais em termos reais —dito de outra maneira, os desembolsos, salvo poucas exceções, não poderão crescer acima da inflação.

Resistência dos governadores pode levar estados à falência – Editorial / O Globo

Previsto para ser votado no Congresso na última quarta-feira, o projeto de lei que formaliza a renegociação das dívidas dos estados com a União foi adiado para esta semana. Segundo o relator do projeto, o deputado Esperidião Amin (PP-SC), as contrapartidas exigidas pelo governo federal enfrentam resistências dos governadores e suas bancadas na Câmara.

O principal ponto de atrito é a inclusão dos estados na Proposta de Emenda à Constituição, que limita o aumento de gastos públicos à inflação do ano anterior.

Os representantes dos estados argumentam que a medida significa uma ingerência indevida, ferindo a autonomia dos gestores estaduais. Para o governo federal, porém, sem que se estabeleça um limite de gastos, o problema se repetirá, obrigando uma nova negociação no futuro, num ciclo vicioso, cujo preço final é pago pela população. Esta preocupação procede.

O banal maravilhoso – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

Não me lembro se já falei aqui para vocês da menininha que vi no elevador do edifício onde moro. Ela devia ter alguns meses de nascida mas, quando voltei a vê-la, no mesmo elevador, uns dois anos depois, já de pé ao lado da mãe, levei um susto: batia o pezinho no chão e gritava: "Não quero ir lá! Não quero!".

Mal acreditei que se tratava daquela mesma menininha que ainda nem abrira os olhos direito, com chupeta na boca. Agora, não só falava como tinha opinião —e opinião contrária à de sua mãe.

Saí dali perplexo. Então, aquele bichinho que, dois anos atrás, no colo da mãe, nada sabia da vida, agora gritava, batia o pé e opinava!? A verdade é que a garota de agora já estava naquela, que, ao que tudo indicava, não sabia nada de nada, nem sequer pensava ainda. E sabe-se lá o que mais de gente estava ali, naquela pirralha, e só saberemos mais tarde, quando ela se tornar uma adolescente e, depois, uma mulher.

Poema Sujo - Ferreira Gullar

turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos

menos que escuro
menos que mole e duro
menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma?
claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica
e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva igual a tua bocetinha
que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor
e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo
(não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era…
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia
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Trecho de Poema Sujo, de Ferreira Gullar

Toquinho & Baden Powell - ODEON

sábado, 9 de julho de 2016

Opinião do dia - Cristovam Buarque

Nós temos uma grande diferença entre a renda per capita dos municípios brasileiros. E o governo federal precisa atender as prefeituras que não têm condições orçamentárias para investir na educação. Com essa desigualdade, é impossível dar a educação de qualidade que o Brasil precisa.

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Cristovam Buarque é senador (PPS-DF), na audiência pública para ouvir o Ministro da Educação do governo interino de Michel Temer, Mendonça Filho.

Lula e Temer travam disputa pelo comando da Câmara

Planalto age para emplacar ‘perfil confiável’ na Câmara

• Governo Temer atua para não repetir a desarticulação na base que em 2005 levou Severino Cavalcanti ao comando da Casa e ameaçar a aprovação da pauta econômica

Tânia Monteiro e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Apesar do discurso oficial de que não vai se envolver na disputa pelo comando da Câmara, o governo Michel Temer age para emplacar um nome da confiança da gestão interina. A avaliação no Planalto é que Temer não pode “correr riscos” neste processo, pois um parlamentar hostil ao Executivo no cargo pode comprometer a aprovação de projetos fundamentais para a recuperação da economia.

A eleição do deputado que assumirá um mandato-tampão na presidência da Câmara – até fevereiro de 2017 – deve ocorrer na próxima semana.

O Palácio do Planalto avalia que precisa de um “perfil confiável” no cargo porque depende de estabilidade política para aprovar projetos como o teto para aumento de gastos públicos. Além disso, o novo presidente da Câmara terá a responsabilidade de analisar pedidos de impeachment contra Temer, já protocolados na Casa, e será o primeiro na linha de sucessão da Presidência da República, caso Dilma Rousseff seja afastada definitivamente pelo Senado.

Temer está empenhado em unificar a base aliada em busca de um nome de consenso para suceder ao deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou na quinta-feira.

‘Efeito Severino’. O receio também é o de repetir o “efeito Severino”. Em 2005, a desarticulação da base do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou à eleição do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que acabou sendo obrigado a renunciar ao cargo e mandato após denúncias de corrupção.

O Planalto também não quer ver repetido o ambiente que Dilma enfrentou com Cunha no comando da Câmara. Além de manobrar contra o governo em votações, Cunha autorizou o processo de impeachment da petista.

Nos últimos dias, Temer recebeu pelo menos cinco dos 15 postulantes na tentativa de conseguir viabilizar um nome de consenso para a sucessão de Cunha. O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, também participou das articulações, designado por Temer.

Geddel procurou os candidatos pedindo acordo. “Se não houver a unificação de uma candidatura da base, corremos o risco da eleição de um novo Severino”, disse o ministro. O presidente em exercício já conversou pessoalmente com Fernando Giacobo (PR-PR), Osmar Serraglio (PMDB-PR), Rogério Rosso (PSD-DF), Beto Mansur (PRB-SP) e Heráclito Fortes (PSB-PI).

Na quinta-feira, Temer se encontrou com o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), que foi pedir apoio para ficar no cargo até fevereiro de 2017. Maranhão ofereceu apoio ao governo para votar as propostas de interesse do Planalto. Segundo um interlocutor de Temer, a conversa não prosperou.

Temer tem dito que “não importa o nome” do presidente da Câmara, mas que a base tenha 2/3 de votos, o suficiente para aprovar medidas consideradas fundamentais, inclusive as que dependem de mudança na Constituição, como a reforma da Previdência. Apesar disso, ele já demonstrou maior simpatia por Rogério Rosso (PSD-DF), que representa o Centrão.

A indicação de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem sido cortejado pelo PT (mais informações na pág. A6), também poderá receber o apoio do Planalto. O governo sabe que, no caso de Rodrigo Maia ser o candidato de consenso, terá de fazer muitos acenos a ele, que ficou contrariado por ter sido preterido na escolha do líder do governo na Câmara.

O entendimento do Planalto é que o PMDB não deveria postular o cargo porque continuará comandando a presidência do Senado no próximo ano. Um assessor palaciano avalia que o partido não pode repetir o erro do PT, “que não aceitou repartir forças”. Outro auxiliar destacou que, nesta eleição, há uma peculiaridade que dificulta as negociações: o mandato-tampão.

Aécio diz que PSDB pode abrir mão da disputa por 2017

• Senador tucano fala em reciprocidade do apoio ao governo Temer e defende ‘protagonismo’ do seu partido na Câmara

Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), sinalizou, em entrevista ao Broadcast Político, serviço de notícia em tempo real da Agência Estado, que o partido pode deixar de lançar candidato à sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em troca do apoio do governo Michel Temer para comandar a Casa nos próximos dois anos.

O líder do partido na Câmara dos Deputados, Antônio Imbassahy (BA), está entre os cotados para o mandato-tampão até o ano que vem.

Aécio afirma que o foco está na “governabilidade”, mas fala em “reciprocidade” com o PMDB a partir de 2017 ao defender que o PSDB tenha “protagonismo”. Em fevereiro do próximo ano, quando haverá renovação das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, a preocupação é que o PMDB não tenha hegemonia da agenda do Congresso e não ocupe os dois principais cargos da linha sucessória da Presidência da República, que também pode ficar com o partido caso o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff seja aprovado no segundo semestre.

“Interessa ao governo Michel ter um acordo programático e mais sólido e passa por uma reciprocidade. Vejo disposição do governo em relação a isso”, disse ele, ao considerar que esse acordo é importante para se aprovar as reformas.

O tucano admitiu que é preciso ter “atenção” em relação aos partidos do Centrão, que ganharam espaço político na gestão Temer e que devem lançar candidatos. Mas contemporizou ao dizer que essas legendas sempre foram aliadas do PSDB. “É absolutamente possível manter o apoio com esse grupo político sem desprezar a relevância de ter apoios de partidos sintonizados com a sociedade como é o caso do PSDB”, afirmou.

Cunha. Aécio também disse que o “sentimento” no PSDB é de apoiar a cassação de Cunha e afirmou não acreditar num acordo de Temer para salvar o mandato do peemedebista. “Ele não cometeria um equívoco primário”, afirmou.

Governo. Sobre o apoio ao governo Temer, Aécio alertou para os “sinais trocados e preocupantes” na condução da economia às vésperas de completar dois meses da gestão e alertou que não há um apoio “cego” do PSDB à gestão do peemedebista na Presidência.

Em meio à grave crise das contas públicas, o tucano criticou o fato de que, ao mesmo tempo em que o governo anunciou uma meta fiscal extremamente rigorosa, cedeu a pressões para conceder reajustes ao funcionalismo público.

“Ele(Temer) teve o mérito de montar uma equipe econômica qualificada, mas esses sinais trocados foi o ponto negativo nesse início de governo. Há tempo para corrigir ainda? Espero que sim. Nós apoiamos por responsabilidade com o País, mas não apoiamos cegamente”, afirmou o tucano.

Para Aécio, a partir de agosto, passada a votação do impeachment da presidente afastada, será o momento crucial para o governo tomar medidas de contenção de despesas, como a reforma da Previdência. “Será o momento de colocar em prática a agenda de reformas estruturais que ele sempre nos garantiu que faria”, disse o tucano, incluindo as reformas trabalhista e política na lista.

PT negocia apoio a candidato do DEM

• Ala majoritária do partido articula endossar nome de Rodrigo Maia para enfrentar hegemonia do Centrão, grupo aliado de Eduardo Cunha

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Na tentativa de quebrar a hegemonia do grupo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a ala majoritária do PT negocia o apoio ao candidato do DEM, Rodrigo Maia (RJ), para a sucessão à presidência da Câmara. Acompanhada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se reuniu nos últimos dias com o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), a articulação política já divide o PT.

A ideia é que a nova oposição – PT, PC do B e PDT – se una a antigos adversários, como DEM, PSDB e PPS, para enfrentar o Centrão, bloco que abriga cerca de 270 deputados e foi fundamental para aprovar o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. A negociação também envolve o PSB.

Para dirigentes da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), grupo de Lula, somente com essa estratégia será possível se contrapor ao presidente em exercício Michel Temer. Nos bastidores, o comentário é que Maia seria o único nome capaz de enfrentar o candidato do Centrão, que deve ser Rogério Rosso (PSD-DF), ligado a Cunha.

A bancada do PT, porém, rachou. Integrantes da tendência Mensagem ao Partido – segunda maior força no espectro ideológico do partido – e de outras correntes mais à esquerda não aceitam apoiar um nome do DEM. Argumentam que Maia votou a favor da deposição de Dilma e sempre fez oposição a Lula.

Esse grupo defende a candidatura de Marcelo Castro (PMDB-PI), que foi ministro da Saúde de Dilma e ficou contra o impeachment. Há também os que têm simpatia por Fernando Giacobo (PR-PR). “A nossa preferência é por um candidato que tenha votado contra o impeachment, mas isso não é condicionante. Vamos apresentar uma agenda de pauta social e queremos um candidato com potencial de ir para o segundo turno”, disse o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA).

Articulações. Não é apenas no PT, no entanto, que a articulação a favor de Rodrigo Maia causa polêmica. A deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ), pré-candidata à Prefeitura do Rio e adversária de Maia, é contra o acordo. Já o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), está conversando com o candidato do DEM. Ao mesmo tempo, Aécio emitiu sinais para o Planalto ao dizer que o PSDB pode não lançar concorrente a mandato-tampão na Câmara, desde que o governo apoie os tucanos para a presidência da Casa, em 2017.

A proposta não foi vista com bons olhos no Planalto. Nos bastidores, ministros do PMDB alegam que o partido não pode correr riscos – lembram que a gestão Cunha provou ao PT o quanto um presidente da Câmara pode desestabilizar o governo.

Waldir Maranhão fechou acordo com Rodrigo Maia. O presidente interino da Câmara demitiu o secretário-geral da Mesa Diretora, Silvio Avelino, porque não gostou de ver publicada no Diário da Câmara a decisão do colégio de líderes que antecipou de quinta-feira para terça a eleição de seu sucessor.

Para o lugar de Avelino, Maranhão nomeou Wagner Soares Padilha, que foi assessor da liderança do DEM. O secretário adjunto será Lourimar Rabelo, que é próximo de deputados do PT, como José Guimarães (CE).

Governo. O Planalto vê com preocupação o movimento para dividir a base aliada. Em conversas reservadas, ministros dizem que o governo não deixará Maia ir para “o lado de lá”. Embora o discurso oficial seja o de que o Planalto não vai interferir na disputa da Câmara, nos bastidores há muitas negociações de cargos em andamento.

“Diante desse quadro, não faz sentido lançarmos uma candidatura apenas para marcar posição”, afirmou o deputado Orlando Silva (PC do B-SP), que defende o aval a Maia. “Não vamos eleger o líder do governo Michel Temer.

O que está em discussão aqui é quem defende a política feita à luz do dia e quem prega os métodos de Eduardo Cunha.”

“Diante desse quadro, não faz sentido lançarmos uma candidatura (à presidência da Câmara) apenas para marcar posição.”, Orlando Silva (PC do B-SP)

Para o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), não é hora de definir os candidatos à sucessão de Cunha por ideologia partidária. “Nós queremos que o nome represente o conjunto da Casa”, comentou.

Maia disse ao Estado que só formalizará sua candidatura depois de costurar o apoio dos partidos de esquerda. “Eu posso ser o nome que vai unificar a Câmara”, observou ele. / Colaborou Julia Lindner

Lula dá aval para PT apoiar articulador do impeachment de Dilma à presidência da Câmara

Painel – Folha de S. Paulo

Meu “golpista” favorito Interessado em implodir o candidato de Eduardo Cunha à presidência da Câmara e dividir a base de Michel Temer, Lula deu aval para que o PT apoie Rodrigo Maia (DEM), entusiasta e artífice da abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff. O recado de que “não possui veto” a Maia foi transmitido por Orlando Silva (PC do B) em reunião na quinta (7) na casa de Waldir Maranhão, que teve presença do candidato. Informada, Dilma deixou a negociação correr.

Garanta o seu Um emissário do PT, em contato constante com Rodrigo Maia, apresentou os termos do acordo: o candidato, primeiro, terá de oficializar o apoio de sua base — DEM, PSDB e PPS.

Aquela dívida Marcelo Castro (PMDB-PI) foi outro que procurou petistas pedindo voto. O PT não acredita que ele vá muito longe, mas diz não poder abandoná-lo caso viabilize sua candidatura. Afinal, foi um dos 137 votos a favor de Dilma.

Impasse pode adiar para agosto eleição na Câmara

• Presidente interino passou escolha para quinta, mas há resistência do centrão; PMDB terá ao menos 4 candidatos

O clima de disputa em torno da sucessão de Eduardo Cunha na presidência da Câmara é tanto que não há consenso sequer sobre a data da eleição. O presidente interino da Casa, Waldir Maranhão, aduou para quinta-feira e chegou a tirar as urnas de votação de dentro da Câmara. O adiamento poderá levar a eleição para agosto. Os deputados do centrão, que terá nove candidatos, tentarão de novo manter a data de terça-feira. Até o PMDB, partido do governo, se dividiu e deve lançar ao menos quatro nomes.

Um incerto pós-Cunha

• Partidos e blocos lançam nomes à sucessão na Casa e ameaçam dividir base do governo Temer

Eduardo Bresciani, Evandro Éboli, Isabel Braga e Leticia Fernandes - O Globo

-BRASÍLIA- A sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara deflagrou uma profusão de candidaturas e um cenário conturbado em que sequer há certeza de quando ocorrerá a eleição. A quantidade de nomes apresentados, embora só cinco tenham sido oficialmente registrados, ameaça a unidade da base do governo Michel Temer, que precisa de entendimento na Câmara para aprovar projetos urgentes. Ontem, o presidente interino, Waldir Maranhão (PPMA), demitiu o secretário responsável pelas sessões e mandou até retirar as cabines de votação do prédio da Câmara para evitar que o pleito ocorra antes da data fixada por ele, a próxima quinta-feira. Líderes do centrão reagiram e querem que a Mesa Diretora antecipe a eleição para terça-feira.

Os que defendem a eleição na quinta sustentam ser preciso resolver antes, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a situação do recurso de Eduardo Cunha para que o processo de cassação dele possa seguir para o plenário. Por outro lado, os deputados pró-antecipação dizem que a real intenção de Maranhão seria empurrar a eleição do presidente para agosto, criando dificuldades para o governo Temer e embaralhando o processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff.

— A tentativa de levar a eleição para quinta-feira é para não acontecer e ir para agosto, para misturar com o impeachment e prejudicar o governo. É uma atitude nefasta e covarde — acusou o peemedebista Carlos Marun (MS), aliado de Cunha.

— Entre os que desejam fazer a eleição na terça-feira há os que querem inviabilizar a decisão da CCJ sobre Eduardo Cunha. Mas não vejo risco de ir para agosto. Tenho convicção de que a eleição será antes do recesso — rebateu Alessandro Molon (Rede-RJ).

Maranhão exonerou Silvio Avelino da função de secretário-geral da Mesa. Indicado por Cunha, Avelino acatou requerimento dos líderes do centrão, que convocava a eleição para terça-feira, contrariando a data estipulada por Maranhão.

— De acordo com o regimento e com a Constituição, o presidente tem a prerrogativa de assim fazer e o faremos. Será quinta-feira às 16h — disse Maranhão.

Para anular a convocação feita pelo centrão, ele contou com apoio de deputados de DEM, Rede e PSB. Dentre eles Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Júlio Delgado (PSB-MG), pré-candidatos na sucessão. Deputados do centrão reagiram. Rogério Rosso (PSD-DF), apontado como candidato, e Marun estiveram no gabinete de Maranhão, e os gritos foram ouvidos do lado de fora da sala. Mais tarde, os líderes do centrão pediram que a Mesa Diretora referende a eleição para terça-feira. Na Mesa, o centrão tem maioria. Mas há dúvidas regimentais se o órgão pode rever a decisão de Maranhão.

Até a noite de ontem, cinco deputados tinham registrado candidaturas: Fausto Pinato (PP-SP), Carlos Gaguim (PTN-TO), Fábio Ramalho (PMDBMG), Carlos Manato (SD-ES) e Marcelo Castro (PMDB-PI). Nenhum deles figura entre os favoritos, mas Castro, que foi ministro de Dilma e votou contra o impeachment, pode ganhar viabilidade se conseguir o apoio da nova oposição.

O peemedebista diz que ainda discutirá com a bancada do seu partido se ficará na disputa até o fim. Além de Castro, Sérgio Souza (PMDB-PR) também lançou seu nome. Outro possível candidato do PMDB seria Osmar Serraglio (PR), presidente da CCJ.

— Fomos pegos de surpresa com a renúncia, e, como está tudo muito rápido, já registrei a candidatura. Vou discutir com a bancada. Defendo que o PMDB tenha candidato próprio. O mandato é do PMDB, o maior partido da Casa não pode ficar 100% fora da Mesa — disse Castro.

Muitos candidatos disputando a indicação de uma mesma bancada não é exclusividade do PMDB. No DEM, que tem 27 deputados, Rodrigo Maia e José Carlos Aleluia (BA) anunciam suas pretensões. No PSB, que tem 34, são três pré-candidatos: Julio Delgado (MG), Heráclito Fortes (PI) e Hugo Leal (RJ).

No centrão, que reúne vários partidos médios, também há muita divisão. O primeiro secretário da Mesa, Beto Mansur (PRB-SP), o segundo vice-presidente da Casa, Giacobo (PR-PR), e os deputados Cristiane Brasil (PTB-RJ) e Esperidião Amim (PP-SC) são alguns dos que pretendem disputar, além de Pinato, Gaguim e Manato.

Os nomes mais fortes do grupo, porém, continuam a ser os de Rosso e de Jovair Arantes (PTB-GO), que negam a intenção de disputar.

— Tenho recebido centenas de manifestações de deputados solicitando que sejamos candidatos. Fico feliz de ser lembrado, mas não sou candidato. Gostaria de ser agente de construção de um entendimento. Temos nomes mais preparados e mais experientes — afirmou Rosso.

PT flerta com Marcelo Castro e com Rodrigo Maia

• Já Aécio não descarta apoio do PSDB a aliado de Cunha

Leticia Fernandes – O Globo

-BRASÍLIA- Na batalha pela sucessão de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, PT e PSDB, que cogitaram união em torno de uma candidatura alternativa ao centrão, estão no momento em rumos opostos. Boa parte da bancada do PT vê com bons olhos o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), ex-ministro da Saúde do governo da presidente afastada, Dilma Rousseff, embora as negociações para apoiar Rodrigo Maia (DEM-RJ) estejam avançadas. Já o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), não descarta que o partido apoie um aliado de Cunha.

Apesar de ser do PMDB, Castro se licenciou do ministério e voltou à Câmara para votar contra o impeachment de Dilma, e é desafeto de Cunha. Castro registrou ontem sua candidatura à presidência da Câmara, e afirmou a petistas que conseguiria arregimentar pelo menos 40 votos na bancada do PMDB. Se isso ocorrer, o PT pode apoiá-lo, mas isso só será decidido em uma reunião de bancada na segunda-feira.

— Claro que para nós é melhor votar em alguém que não apoiou o impeachment, e Marcelo Castro é um nome ótimo. Se não vetamos o nome do Rodrigo Maia, imagina o do Marcelo Castro? — disse o líder do PT, Afonso Florence (BA).

Aécio disse que a eleição para um mandato-tampão não é prioridade para o PSDB, que deve concentrar suas forças para a sucessão em fevereiro de 2017:

— O que queremos é que a Câmara volte a funcionar. Neste momento, somos um partido da base do presidente Michel Temer. Não seremos o partido da discórdia.

Em jantar com Lula, apenas seis senadores

• Encontro para tratar do impeachment de Dilma foi na casa de Roberto Requião

Cristiane Jungblut - O Globo

Acostumado a discursar para grandes plateias em eventos disputados, o ex-presidente Lula participou esta semana, em Brasília, de um jantar em sua homenagem com apenas seis senadores. Isolado politicamente, Lula teve rápida passagem por Brasília para tentar cabalar votos contra o impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, como sempre faz, mantendo conversas reservadas em um hotel.

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) aproveitou para oferecer a Lula um jantar em sua residência, e convidou senadores que poderiam ser convencidos a votar contra a cassação definitiva do mandato de Dilma. Mas só compareceram senadores que já defendem a realização de novas eleições ou que não têm simpatia pela cassação: Acir Gurgacz (PDT-RO), João Capiberibe (PSB-AP), Elmano Férrer (PTB-PI), Roberto Rocha (PSB-MA) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), além de Requião. Convidado, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) não compareceu.

Lula falou sobre a importância de evitar o impeachment de Dilma e sobre a proposta de realização de um plebiscito para decidir sobre a convocação de novas eleições. Lula disse que era Dilma quem deveria falar com os senadores. Na verdade, a presidente afastada também tem se reunido com senadores, mas no Palácio da Alvorada. O cardápio do jantar foi carne de carneiro, mas Lula nem comeu.

— Lula acha que é a Dilma que tem de conversar com a gente, no que eu concordo — disse um dos participantes do jantar.

Segundo quem esteve na casa de Requião, o quorum foi baixo porque a ideia era reunir um pequeno grupo de senadores, para que a conversa com Lula fluísse, fosse franca e não virasse “uma festa”.

A bancada do PT, por exemplo, decidiu não comparecer. O líder Humberto Costa (PE), que está voltando ao comando da bancada no Senado no lugar de Paulo Rocha (PT-PA), disse que os petistas conversaram pela manhã e decidiram não ir. O PT tem dez senadores. Inicialmente, o senador José Pimentel (PT-CE) iria ao jantar representando a bancada, mas foi convencido pelos demais a não comparecer.

— Quisemos deixar o Lula mais à vontade — afirmou Humberto Costa.

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) disse que o espírito do encontro era mesmo o de uma conversa reduzida, até porque os senadores de PT, PCdoB e PSB já sabem como atuar. O bloco de parlamentares tem sido combativo na comissão do impeachment e defende uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para a realização de um plebiscito sobre nova eleição presidencial. O plebiscito seria realizado em outubro, juntamente com as eleições municipais.

Assassinato do futuro - Cristovam Buarque

• Brasileiros preferem ficar presos ao passado

- O Globo

Na mesma semana do plebiscito que tirou o Reino Unido da União Europeia, conhecido como Brexit, uma pesquisa feita pelo professor Júlio Jacobo Waiselfisz, coordenador do Programa de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), mostrou que no Brasil são assassinadas 29 crianças por dia, mais de dez mil por ano. Estes dois fatos representam o desprezo pelo futuro.

O Brexit é uma preferência pelo passado; a morte de crianças é nossa Braxit, um assassinato de portadores do nosso futuro. Há décadas, o Brasil faz sua Braxit, sem plebiscito, discretamente, por decisões ou missões silenciosas de seus políticos.

Raras decisões de um povo geraram tantos debates quanto o chamado Brexit. Talvez sejam necessárias décadas para termos pleno conhecimento das consequências desta decisão: ética, o fechamento daquele país aos imigrantes que buscam abrigo contra a pobreza e as guerras em seus países; econômica, perda de investimento e vantagens comerciais; política, isolamento de uma população de 65 milhões de habitantes diante de uma comunidade de 510 milhões; cultural, pela perda da oxigenação promovida pela convivência entre povos; histórica, isolamento em um tempo de inevitável marcha a integração e globalização.

Mas já é possível dizer que foi uma opção da maioria dos britânicos pelo passado. O perfil etário dos eleitores demonstra: 63% com mais de 60 anos votaram pela saída; 73% com menos de 30 anos votaram pela permanência. O futuro queria permanecer; o passado, sair.

A surpresa do voto dos britânicos não surpreende o Brasil. Há décadas, optamos por sair do futuro, preferindo ficar presos ao passado. Nossos investimentos, nossas estruturas não têm preferência pelo futuro, são usados sobretudo para pagar erros e dívidas do passado. Gastamos R$ 500 bilhões por ano com a Previdência e R$ 300 bilhões com a Educação. A maioria dos aposentados ainda recebe menos do que o necessário para atender todas as suas necessidades, mesmo assim, considerando o valor per capita, o passado recebe quase duas vezes mais do que recebe o futuro.

Em 2013, o setor público brasileiro fez um sacrifício fiscal de R$ 2 bilhões somente para promover a venda de automóveis; e de R$ 1,6 bilhões com incentivos fiscais para inovação tecnológica nas empresas.

Em 2015, pagamos R$ 502 bilhões de juros por dívidas financeiras contraídas no passado e investimos apenas R$ 68,5 bilhões na construção de infraestrutura econômica no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Gastamos mais com o passado do que com o futuro.

No dia seguinte ao Brexit, os eleitores do Reino Unido iniciaram o movimento por um Brain, uma reunificação com a União Europeia, mas o Brasil continua sem ao menos perceber nossa clara opção por fugir do futuro, nem se propondo a incorporar-se ao futuro: nosso Brain. Para tanto, são necessárias diversas reformas, mas sobretudo cuidar da educação das crianças. Nosso Brain quer dizer cuidar do cérebro de cada criança.
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Cristovam Buarque é senador (PPS-DF)

Respeito e decoro - João Domingos

- O Estado de S. Paulo

O momento político e econômico do País é grave. Por isso, mais do que nunca, o deputado que vier a assumir a presidência da Câmara não pode ser um interesseiro qualquer. Ele tem a obrigação de evitar a exibição personalista que caracterizou a gestão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), exibição esta que se transformou num desastre para a imagem da Casa e a levou para o fundo do poço, como se costuma dizer.

O próximo presidente da Câmara tem um compromisso muito sério com a Nação. Ele será também o vice-presidente da República, caso o Senado aprove o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Pede-se a ele que tenha modos, respeite a ética, ande na linha.

Do presidente da Câmara que for eleito na semana que vem espera-se que tenha compromisso com as necessidades do País e que venha a ser o comandante imparcial das reformas que precisam ser feitas, a exemplo daquelas que buscam o equilíbrio fiscal, a redução no déficit da Previdência, a que trata da modernização das questões trabalhistas. Enfim, dele se cobra o entendimento de que seu cargo é mais importante para o País do que para ele próprio.

O novo presidente da Câmara deve saber que sua função é o ápice da carreira de um deputado. Por isso mesmo, ela não deve servir para picuinhas pessoais, vingança, manobras espúrias, chantagens ou obtenção de favores.

Quem vier a assumir a presidência da Câmara deve esquecer o triste passado que se encerrou na quinta-feira, com a renúncia de Eduardo Cunha.

Cunha, de fato, deu uma sacudida na Câmara como há muito não se via. Passou a fazer votações de terças a quintas e melhorou a autoestima da Casa, ao dar-lhe mais poder para enfrentar o Executivo. Ao mesmo tempo, porém, ele passou a fustigar o governo do PT com a possibilidade de aprovar as chamadas pautas-bomba e prejudicar ainda mais as combalidas contas públicas.

Durante a gestão de Cunha, adotou-se na Câmara a política de “para os amigos, tudo, para os inimigos, nada”. A estes, ele simplesmente virava as costas quando discursavam.

Enquanto foi presidente da Câmara, Cunha fez da força do presidente um instrumento de obtenção de vantagens pessoais. Usou e abusou de seu poder. Fez e desfez. Tentou transformar o Conselho de Ética em um fantoche a seu serviço. Foi prepotente.

Pela arrogância caiu.

Exibicionista, apareceu de uma hora para a outra na CPI da Petrobrás para fazer um depoimento espontâneo e, por essa atitude, gabou-se dias seguidos. Indagado na CPI se tinha contas no exterior, negou, negou e negou. As contas apareceram. Em seguida, veio a abertura de processo por quebra de decoro, não por causa da Operação da Lava Jato, que o tornou réu no Supremo Tribunal Federal, mas por ter mentido à CPI. O resultado é que hoje há um processo de cassação do mandato dele esperando a hora de ser votado pelo plenário. Nem o próprio Cunha tem segurança de que vai se salvar.

Paralelamente a isso tudo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a cassação do mandato de Cunha ao STF por uma série de irregularidades, entre elas a de que o hoje ex-presidente da Câmara havia transformado a Casa num “balcão de negócios”.

Logo a seguir o Supremo suspendeu o mandato de Cunha, numa decisão inédita, e o proibiu de ir ao gabinete, transitar pelos corredores da Câmara ou frequentar o gabinete. Trata-se de um curioso caso em que a Justiça impõe uma tornozeleira a alguém, embora em nenhum momento a sentença cite a palavra tornozeleira.

Da passagem de Cunha pela presidência da Câmara não dá também para esquecer que foi ele quem inventou a triste figura do vice Waldir Maranhão (PP-MA). Ao montar a chapa, Cunha escolheu os integrantes da Mesa Diretora. Deu a Maranhão o segundo cargo mais importante. Calculou que Maranhão jamais ameaçaria sua força. Calculou errado.

Nem tudo faz sentido – Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

Uma eleição para a presidência da Câmara tem suas peculiaridades. As alianças parecem estranhas e os interesses, esquisitos. A lógica, em certas ocasiões, vai às favas. Uma leitura em tese óbvia nem sempre faz sentido e lances decisivos são dados no próprio plenário, na hora da votação (e podem causar traumas como o de Severino Cavalcanti ).

À coluna o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) falou da coalizão que, segundo ele, tem sido formada para lançá-lo candidato na próxima semana. "Tenho sido procurado por vários partidos por causa do meu perfil. Estou muito avançado para construir uma base", diz. "Querem alguém que trabalhe para baixar a temperatura da Casa", ressalta.

Maia é do DEM, que apoia o impeachment de Dilma Rousseff e integra a base de apoio do presidente interino, Michel Temer. "Sou governo. Quero deixar claro que sou um interlocutor dele", diz.

Temer é do PMDB, mas o PMDB não apoia Maia. Segundo o deputado do Rio, a articulação em torno de seu nome envolve parlamentares de DEM, PSDB, PSB, PT e PC do B. Sim, PT e PC do B, do grupo de Dilma, afastada do cargo por aliados de Temer, que tem um deputado do DEM, de Rodrigo Maia, como ministro da Educação.

Aldo Rebelo, ex-ministro de Dilma e ex-deputado pelo PC do B, pede votos para Maia. São amigos — em 2007, apoiado por Maia, Aldo perdeu a reeleição à presidência da Casa para Arlindo Chinaglia (PT-SP).

O problema para a aliança liberal-comunista é que o PMDB, maior bancada da Casa, flerta com o "centrão", versão gourmetizada do fisiologismo classificado até pouco tempo atrás de baixo clero. Líderes do "centrão", aliados de Eduardo Cunha, atuam para eleger Rogério Rosso (PSD-DF).

Rosso é cria política de Joaquim Roriz e de José Roberto Arruda, que, ao menos em Brasília, dispensam apresentações.

Popularizar o ajuste - Míriam Leitão

- O Globo

Pesquisa mostra que o brasileiro é contra o aumento de impostos e a favor do ajuste. No front fiscal, o desafio do governo também é de comunicação. Medidas tidas como impopulares podem ser bem aceitas se apresentadas da maneira correta. É o que se conclui de uma pesquisa exclusiva CNI/Ibope. Quando informados sobre o déficit nas contas, 95% dos brasileiros dizem que é necessário cortar ou manter as despesas públicas no mesmo nível. Não há apoio para aumento de impostos, mas 42% dos que defendem controle dos gastos são a favor de privatizar ativos.

Para 84% dos brasileiros, os impostos são “muito elevados” ou “elevados”. A percepção de que a carga tributária cresceu é generalizada: 94% da população considera que os tributos vêm aumentando nos últimos anos; em 2010, eram 79%. A rejeição à CPMF chega a 73% na pesquisa, que ouviu 2.002 pessoas em 143 municípios do país. A sociedade sabe que paga demais pelo que recebe, conta Renato da Fonseca, gerente executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ele explica que o aumento de impostos não pode ser o primeiro passo para equilibrar as contas. O governo vai ter que mostrar avanços antes de pedir mais dinheiro.

Fonseca destaca que o desequilíbrio fiscal está entrando na discussão sobre o país. Para 85% da população os gastos do governo “aumentaram” ou “aumentaram muito” nos últimos anos. A impressão das pessoas é que a despesa pública chegou ao limite. Quando informadas sobre o déficit em 2014 e 2015, 80% consideram que o governo deve reduzir os gastos atuais e 15% acham que eles devem ser mantidos; os outros 5% não souberam responder.

— As pessoas estão entendendo que algo precisa ser feito. O governo avisou que vai apresentar medidas impopulares, mas é preciso mais. Essas políticas têm que ser defendidas e discutidas com a sociedade. Caso contrário, o debate vai ser emotivo. Nesses termos, uma proposta de reforma da previdência, por exemplo, seria tratada como um ataque aos idosos. Algo parecido aconteceu com a privatização, no passado — lembra Fonseca.

Foram apresentadas três opções para estabilizar os gastos públicos. Para 42%, a melhor alternativa é o governo vender ou conceder bens e empresas, em vez de criar de impostos (17%) ou aumentar a dívida (12%).

— O resultado da pesquisa indica que o debate fiscal precisa de mais substância. O governo tem que explicar a situação das contas e as opções para resolver o problema. Se a pergunta sobre privatização viesse sozinha, sem a informação sobre o déficit, a aceitação provavelmente seria menor — diz Fonseca.

Para ele, o desequilíbrio das contas ganhou destaque desde a chegada de Joaquim Levy ao governo. Coube ao ex-ministro colocar o problema na pauta. O processo do impeachment ajudou a aprofundar o debate. A denúncia é exatamente sobre a irresponsabilidade fiscal do governo. Com a discussão no Congresso, a população começou a notar os efeitos econômicos de uma política econômica equivocada.

— Concessões e privatizações parecem o caminho mais viável para melhorar as contas no curto prazo. Esses mecanismos, se bem divulgados, vão contar com apoio da população. Tem que ser destacado também que o serviço deve melhorar, como aconteceu com as telecomunicações, com os transportes. Se isso ficar claro, a aceitação tende a subir — conta Fonseca, lembrando que a demanda por bons serviços é latente na sociedade, como mostraram as manifestações de 2013. A pesquisa aponta que 87% dos brasileiros acham que os impostos são altos ou muito altos, tendo em vista a qualidade dos serviços públicos prestados.

Foi a falta de debate no passado que contribuiu para a imagem negativa que parte da população ainda alimenta em relação à privatização. Os governos que negociaram ativos não se esforçaram em convencer as pessoas sobre o processo, lembra Fonseca. Os benefícios foram divulgados de maneira tímida enquanto os críticos discursavam alto. O cenário atual tem uma série de desafios similares, como a reforma da previdência e a criação de um limite para os gastos. É a forma como o governo se comunica que vai definir se essas pautas são de fato impopulares.

Motivos e princípios - Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

O ministro José Serra adiou sua intenção de suprimir a parte ruim do Mercosul, que é a união alfandegária, mas rapidamente, pela inação, está suprimindo a parte boa, que é a cláusula democrática. Propondo o adiamento de uma decisão até agosto, tenta conciliar a posição paraguaia, favorável à suspensão da Venezuela, com a uruguaia, que pretende cumprir a regra usual, transferindo a presidência rotativa do bloco ao regime de Nicolás Maduro. É uma forma de fugir ao dilema político que revela tanto a fraqueza estrutural do governo Temer quanto a inaptidão de Serra para chefiar o Itamaraty.

"O que pensa da postura do Brasil diante da posição paraguaia?", perguntei a Aloysio Nunes Ferreira, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado e um dos parlamentares que, no ano passado, foi a Caracas prestar solidariedade aos presos políticos venezuelanos. Na resposta, ele preferiu não opinar, mas declarou compreender a posição paraguaia, "porque reflete a mágoa de um país que foi suspenso do Mercosul sem que tenha havido uma ruptura da ordem democrática".

Há dois erros aí: 1) A suspensão obedeceu ao espírito da cláusula democrática pois, embora seguindo a letra da lei, o "impeachment-express" no Paraguai violou o princípio geral do direito de defesa do presidente impedido; 2) A especulação sobre os motivos da solicitação paraguaia de suspensão da Venezuela não passa de um pretexto malicioso para silenciar sobre a tática do apaziguamento conduzida por Serra.

O Paraguai tem razão, independentemente de suas motivações. O Protocolo de Ushuaia do Mercosul reza que "a plena vigência das instituições democráticas é condição essencial" para a integração. O Protocolo de Assunção, de 2010, vai além e identifica "os direitos humanos e as liberdades fundamentais" como "pilares" do bloco. Eis o motivo pelo qual a Venezuela deveria ter sido suspensa há mais de um ano, quando o regime encarcerou centenas de opositores, inclusive líderes políticos eleitos, provocando protestos da ONU e do Parlamento Europeu. Mas o Itamaraty de Serra mostra-se disposto a conviver com um sócio que escarnece dos dois protocolos –desde que, para manter as aparências, ele não seja alçado à presidência do Mercosul.

Princípios importam mais que motivos. O governo Dilma tinha razão ao forçar a suspensão do Paraguai, mesmo se apenas seguia sua estrela ideológica, como ficou provado quando calou diante dos encarceramentos políticos da falida "revolução bolivariana", uma violação incomparavelmente mais grave. Hoje, a soma do desrespeito aos direitos humanos com a ruptura institucional representada pela anulação das prerrogativas da Assembleia Nacional por um tribunal servil ao regime coloca a Venezuela fora do campo das democracias. Os motivos da inação do governo Temer são diferentes dos da inação do governo Dilma, mas ambos confluem no pátio de um ilusório "realismo" que subordina os princípios a mesquinhas conveniências.

O "realismo" de Serra mal dissimula o medo de agir. "A Venezuela rechaça as insolentes e amorais declarações do chanceler de facto do Brasil", respondeu a chanceler de Maduro à mera proposição postergatória do Itamaraty, aproveitando para repetir que o impeachment de Dilma configura um "golpe de Estado". O cenário onírico no qual um país com presos políticos brada sobre uma ruptura democrática no Brasil só serve como evidência da tolice do apaziguamento de Serra. A tática desastrada, além de tudo, aprofunda as divisões no Mercosul, paralisando o bloco e minando o pouco que resta da liderança regional brasileira.

"As nações fazem sempre a coisa certa, depois de esgotar todas as demais possibilidades", disse certa feita o chanceler israelense Abba Eban. O Brasil aguardará até o fechamento formal da Assembleia venezuelana para, tarde demais, fazer a coisa certa?

É necessário diminuir o peso do Estado na economia – Editorial / O Globo

• O preconceito com privatizações ficou à margem do tempo. Mudou o conceito, da simples venda de empresas estatais para uma real mudança no papel do Estado

Em meio a uma crise sem precedentes, produziu-se em Brasília uma autêntica obra de arte política, a Lei de Responsabilidade das Empresas Estatais. Durante ano e meio, à margem da tempestade perfeita que caiu sobre o Executivo e o Legislativo, por causa da corrupção em contratos de empresas estatais e órgãos públicos, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) negociou à exaustão com todos os partidos, e aprovou um conjunto de normas com o objetivo de impedir o uso político das empresas estatais.

O resultado foi um raro consenso parlamentar — PT incluído — sob a forma de legislação inovadora, em torno da profissionalização da gestão das empresas públicas, com adoção de mecanismos de mercado e barreiras inéditas ao loteamento político-partidário.

Houve uma tentativa rasteira de subversão do projeto na Câmara, mas o Senado recuperou o espírito da proposta de lei, legitimou-a no voto, e o presidente interino, Michel Temer, sancionou na semana passada, com vetos pontuais e precisos.

Agora, é preciso ir além. A emergência da crise impõe a necessidade de redução do peso e do tamanho do Estado na economia. Não se trata de mera questão ideológica ou acadêmica, mas de racionalidade: a sociedade não suporta mais pagar por um Estado caro, esbanjador e ineficaz tanto na produção quanto na prestação de serviços essenciais.

Tem-se um bom retrato das distorções no conjunto das empresas públicas, usadas politicamente na última década de forma intensiva e prejudicial ao erário.

Além do mais, qual a razão para a Petrobras manter ativos como uma fábrica de fios sintéticos ou alguns dos campos de petróleo no Nordeste se a própria estatal avaliou e concluiu pela certeza de que já não precisa deles? Qual o sentido de se manter empresas como a Telebras, a Valec e a Infraero?

O preconceito com privatizações ficou à margem do tempo. Mudou o conceito, da simples venda de empresas estatais para uma real mudança no papel do Estado. Como lembrou a economista Elena Landau, em recente entrevista ao GLOBO, o novo ciclo alcança áreas como infraestrutura, se reveste de formas inovadoras, como os contratos de gestão, as parcerias público-privadas, e concessões. Ao Estado moderno cabe, sim, forte papel regulatório, com atuação eficaz na defesa da sociedade.

A meta fiscal estabelecida pelo governo federal para 2017 significa, na prática, uma tentativa de conter o déficit nas contas públicas no limite de R$ 139 bilhões.

Para realizá-la, governo federal e os estados dependem do auxílio das chamadas receitas extraordinárias, passíveis de se obter na escala necessária apenas com a venda de empresas públicas, contratos de gestão, parcerias público-privadas e concessões. É a saída.