Folha de S. Paulo
Anistia a Bolsonaro defendida por governador
paulista representaria suicídio institucional, que não pode ser aceito por
democratas
Por séculos, matemáticos tentaram encontrar
uma solução para o problema da
quadratura do círculo (produzir, só com régua e compasso, um
quadrado de área igual à de um círculo dado) sem saber que isso não era
possível.
Em 1882, Ferdinand von Lindemann demonstrou a transcendentalidade do número Pi (π) provando que a tarefa é impossível —o que não impediu aventureiros de continuar tentando.
Tarcísio de
Freitas está em busca de uma quadratura do círculo. Para
tornar-se o principal candidato presidencial da direita, precisa passar para o
segundo turno. E ele calcula que não conseguiria fazê-lo se recebesse o veto da
família Bolsonaro. Foi por isso que passou a trabalhar
ativamente por uma anistia para o ex-presidente.
O problema é que, se chegar ao segundo turno,
ele precisará, para triunfar no que promete ser um pleito apertado, do apoio de
eleitores moderados, que muito corretamente ficam horrorizados com a perspectiva
de votar em alguém que passa a mão na cabeça de golpistas. Sem saída fácil,
Tarcísio parece ter optado por lidar com a questão em modo ordinal: tratar
primeiro dos problemas que vêm antes. E o primeiro turno vem antes do segundo.
Tarcísio deve imaginar que, se driblar a
linha dura bolsonarista agora, terá tempo para depois reverter danos de imagem.
Se a anistia sair, ele até evitaria o problema futuro de, em plena campanha,
ter de renovar sua promessa de indulto a Bolsonaro, com o que atrairia para si
com toda força a rejeição ao capitão reformado.
Há, contudo, uma, digamos,
transcendentalidade que Tarcísio e centenas de parlamentares do centrão parecem
não considerar. Não dá para servir ao mesmo tempo às forças da
institucionalidade e da anti-institucionalidade. Se a democracia sofre um
ataque como o que sofreu e todo mundo finge que não aconteceu nada, é questão
de tempo até que venha o próximo ataque.
A anistia a Bolsonaro e à cúpula do golpe
seria uma espécie de suicídio institucional, que políticos que prosperam na
democracia deveriam
rejeitar axiomaticamente.
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