- Folha de S. Paulo
O próximo presidente da Câmara exercerá um mandato-tampão de apenas seis meses. Neste curto período, comandará uma Casa desmoralizada e esvaziada pelas eleições municipais. Será pressionado a proteger colegas em apuros e terá a vida devassada pela imprensa e pelos órgãos de investigação.
Não parece o melhor emprego do mundo, mas ao menos 15 deputados já secandidataram a ocupá-lo. A lista pode crescer nos próximos dias, embora ainda não se saiba ao certo nem a data da eleição.
A disputa começa com o favoritismo do centrão, que agrupa mais de 200 deputados de siglas médias e pequenas. Essa massa partidária foi fermentada por Eduardo Cunha e resultou num bolo com o triplo do tamanho do PMDB. Seus principais ingredientes são o conservadorismo e a subordinação ao correntista suíço, que tenta salvar o mandato.
A mistura arrisca desandar pelo excesso de candidatos. Personagens pouco conhecidos até outro dia, como os cunhistas Rogério Rosso (PSD), Beto Mansur (PRB) e Fernando Giacobo (PR), tendem a roubar votos uns dos outros. No sentido figurado, é claro.
Correm por fora deputados como Rodrigo Maia (DEM) e Marcelo Castro (PMDB). Os dois têm histórico de ligação com o agora ex-presidente da Câmara, embora tenham se descolado dele recentemente. Ambos buscam apoio da esquerda, que não chega a uma centena de votos.
O governo interino finge não se envolver, mas fará o possível para emplacar um presidente dócil, que aprove as "medidas impopulares" anunciadas por Michel Temer. O pacote deve incluir reforma da Previdência, corte de direitos trabalhistas e aumento de impostos.
Quem oferecer mais proteção a Cunha e mais segurança a Temer terá maiores chances de comandar a Câmara. A capacidade para resgatar o prestígio da Casa, que o correntista suíço atirou na lama, é o atributo menos lembrado na disputa.
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