Folha de S. Paulo
Parlamentares aproveitaram a distração com o
golpe para golpear o coração da Lei da Ficha Limpa
Foi só o noticiário se voltar para o
julgamento da trama golpista que o Congresso mostrou
que não é exagero qualificar determinados episódios ocorridos ali como frutos
da atuação de vivaldinos.
Enquanto as atenções estavam concentradas no relato do ministro Alexandre de
Moraes, a exposição da peça acusatória da Procuradoria-Geral da
República e as manifestações das defesas dos réus no Supremo Tribunal Federal,
ali ao lado, no edifício das leis, era disparado um tirambaço na
Lei da Ficha Limpa.
Os congressistas aproveitaram o momento também para turbinar o tema da anistia
a fim de criar um fato para dividir espaço com o julgamento. No mesmo dia,
tornaram urgente projeto que lhes permite intervir na autonomia do Banco Central.
Antes disso, já haviam se valido de leitura marota sobre decisão do STF para
aprovar o aumento do número de deputados e, dias depois, tentado interditar a
abertura de ações contra deputados e senadores com a chamada PEC da Blindagem.
Não conseguiram porque se enrolaram nas próprias pernas e, divididos, não
puderam enfrentar a péssima repercussão. Mas voltarão à carga. Assim como
voltaram no caso da Ficha Limpa.
O afrouxamento que atinge o cerne da regra, pois reduz ao mínimo a
inelegibilidade dos fichas-sujas, estava há tempos aprovado na Câmara,
aguardando a oportunidade de passar pelo Senado.
Em fevereiro deste ano houve uma tentativa, seguida de recuo por reação da
opinião pública.
Rejeição do mesmo público que, em 2010, conseguiu por meio de 1,6 milhão de
assinaturas e muita pressão que o Congresso aprovasse por unanimidade a
interdição prolongada de candidaturas de políticos em dívida com a Justiça. O
esperto presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP),
viu na distração nacional a chance de aprovar a redução da pena para uma
eleição, se tanto. Na palavra dele, tratou-se de "modernizar" a lei.
Na única interpretação possível, pintou-se a regra com as tintas do atraso, jogando no lixo uma demanda popular.
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