quinta-feira, 21 de julho de 2022

Luiz Werneck Vianna* - Os gansos do Capitólio e nós

O negacionismo, seja lá o que isso for, é marca registrada desses tempos de governo Bolsonaro em sua revolta permanente contra os fatos, nega-se a pandemia com seu cortejo fúnebre de mais de 650 mil vítimas, as virtudes do direito social e do próprio direito como conquista civilizatória em nome de uma liberdade irrestrita dos indivíduos no espaço social em guerra entre si, a questão ambiental cuja degradação contínua ameaça a sobrevivência da espécie, e entre os mais afoitos, até a forma esférica da terra. Trata-se, na verdade, de uma ação combatente contra a razão e a ciência, típica do irracionalismo fascista com seu culto à supremacia da vontade na instituição da vida social. Noutras palavras, recusar realidade empírica a essa coisa tida por sociedade, pois quem sabe faz a hora, não espera acontecer, alardeia o voluntarismo político.

Sob essa sinistra orientação, nega-se a lisura do processo eleitoral realizado por urnas eletrônicas, prática usual bem-sucedida entre nós, coincidente com várias pesquisas eleitorais que apontam a vitória oposicionista por larga margem de votos, e se urde no preparo do que em linguagem popular significa melar a apuração eleitoral, possivelmente com o concurso de ações criminosas por parte de esbirros milicianos. O golpe está sobre a mesa disponível para o uso.

O cometimento desse ultraje que se premedita é de gravidade inaudita, e, caso ocorra, poderá suscitar um amplo movimento de indignação, nacional e extramuros. Na eventualidade, é preciso atentar para os cálculos dos estrategistas do golpe que contam com um tumulto superveniente para desferir o movimento desde sempre desejado, a restauração, remodelada, aqui e ali, do regime do AI-5.

Merval Pereira - Punição necessária

O Globo

Nada acontecer é como estarmos numa aparência de democracia, onde o autoritário de plantão faz o que quer

O presidente Bolsonaro confirmou a avaliação de que ele é seu principal opositor. Na patacoada que protagonizou no Palácio da Alvorada diante de embaixadores, parecia um líder da oposição numa daquelas repúblicas bananeiras que reprimem e impedem adversários de se pronunciar publicamente. Falava contra seu próprio país na função de presidente da República, com o desembaraço de quem acusava a oposição de tentar impedir sua vitória nas urnas em outubro.

Falava ao lado de líderes militares da reserva que pareciam garantir sua manifestação ao mundo para o caso de o palácio onde mora ser invadido. Só que os inimigos imaginários de Bolsonaro fazem parte da mesma estrutura de poder a que ele pertence, como chefe de um deles, o Executivo. Os ataques ao Judiciário soaram ainda mais desajustados quando disse que o fazia para defender a democracia. E que ela dependeria da ação mais aprofundada dos militares junto aos tribunais eleitorais.

Míriam Leitão - Bolsonaro fracassa mas risco continua

O Globo

Presidente atirou contra a democracia brasileira, mas a bala voltou-se contra ele mesmo

O presidente Jair Bolsonaro fracassou totalmente na sua investida contra as urnas eletrônicas. Recebeu de volta uma saraivada de reações fortes vindas de todas as áreas. As diversas notas do Ministério Público deixaram o procurador-geral, Augusto Aras, isolado e com a obrigação de responder à notícia-crime feita pelos seus colegas. O comunicado do governo americano, elogiando o sistema eleitoral brasileiro, deu o tom do ceticismo com o qual as acusações sem provas de Bolsonaro foram recebidas nas embaixadas de países com governos democráticos. A nota conjunta de delegados e peritos da Polícia Federal tirou dele o argumento de que a PF tinha constatado fragilidades no sistema eleitoral. O comunicado dos servidores da Abin mostrou que ele ficou quase totalmente sozinho nesse “putsch” do Alvorada.

Vera Magalhães - Recado dos EUA é direto para as Forças Armadas

O Globo

Nota e manifestação do porta-voz destacam necessidade de instituições seguirem papel constitucional

Tanto a nota da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil quanto a declaração do porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, reiterando a confiança do governo norte-americano no processo eleitoral brasileiro têm outro destinatário direto, além de Jair Bolsonaro: as Forças Armadas brasileiras.

Escaldado em tentativas da nova extrema-direita de tumultuar a democracia e contestar o resultado de eleições graças ao que Donald Trump promoveu internamente, o governo Joe Biden sabe que o apoio militar a aventuras deste tipo é a chave para o maior ou menor grau de risco de ruptura democrática.

Por lá, os militares foram firmes em deixar Trump falando sozinho quanto ao questionamento do resultado das eleições e o incentivo a atos como o que culminou na invasão do Capitólio.

Ao reiterar a expectativa de que as eleições ocorram de forma justa, livre e confiável, "com todas as instituições agindo conforme seu papel constitucional", o governo Biden comunica aos militares que o resultado das eleições será prontamente reconhecido por Washington.

William Waack - A originalidade de Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Em geral o presidente tornou pior o que já existia na política, mas trouxe duas contribuições pessoais

A obra de destruição presidida por Bolsonaro está quase completa, e falta apenas provocar a “convulsão social” – a caminho, que ninguém se iluda – por conta da provável derrota eleitoral. Essa obra se compõe da dissolução da institucionalidade e da formidável expansão do patrimonialismo, com suas velhas marcas de corrupção. Só teve dois aspectos originais.

Bolsonaro não foi muito criativo. O empenho em atacar a imprensa, por exemplo, é parte de um fenômeno mais amplo do desgaste da mídia profissional em seu papel tradicional como guardiã da veracidade objetiva dos fatos. Daí o destaque alcançado por fake news, e a presença desproporcional no debate público brasileiro de celebridades projetadas por redes sociais.

Maria Cristina Fernandes - O golpismo sufocado

Valor Econômico

Resta à oposição contestar legado com igual veemência

Repousa nos escaninhos do Tribunal de Contas da União um relatório sobre a sonegação de informações por parte do Exército, da Marinha e da Aeronáutica relativo a compras de equipamentos e serviços no exterior. Acumulam-se R$ 2 bilhões nas contas a serem auditadas. Desde o início dos anos 1990, quando foi retomado o acordo militar com os Estados Unidos, denunciado por Ernesto Geisel em 1977, que o tribunal não registra uma prestação de contas completa dessas compras, cujo carimbo da segurança nacional dispensa de licitação. O relatório do TCU sugere que o não atendimento às informações requeridas incorrerá em penalidades que vão de multas ao afastamento dos responsáveis pelas despesas e seus superiores, passando pelo arresto de bens.

É a contraface nacional da pressão de deputados democratas nos Estados Unidos. Eles tentaram condicionar as transações do orçamento do Pentágono com as Forças Armadas brasileiras a um compromisso democrático. Incluem-se nessas transações desde o crédito para a aquisição de equipamentos a cursos para oficiais passando pelo fornecimento a projetos sensíveis como os da vigilância das fronteiras. Seja pelo histórico dos anos 1970, quando o Brasil alegou ingerência em sua política de direitos humanos para romper o acordo militar, seja porque o Brasil, no momento, ocupa a presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, os parlamentares americanos recuaram do veto.

Sérgio Besserman* - Agir antes que seja tarde

O Globo

Há soluções, mas é necessário vencer a inércia

Os impactos das mudanças do clima atingem severamente a população mundial. O AR6, último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), estima que de 3,3 bilhões a 3,6 bilhões de pessoas vivam hoje em locais ou contextos altamente vulneráveis às alterações. Gênero, etnia e renda são fatores de aumento de vulnerabilidade.

Diversos eventos previstos nos relatórios de estado da arte da ciência estão ocorrendo antes do esperado, e muitas ocorrências extremas não previstas também estão acontecendo. Isso não surpreende, na medida em que a ciência só pode se pronunciar quando todas as etapas do método científico são preenchidas, sendo sempre e corretamente conservadora.

No Brasil, apenas em 2022, sofremos grandes inundações em Pernambuco, Alagoas, Minas e Bahia. A ocorrência no ano passado, mais uma vez, de crise de escassez de recursos hídricos no Sul do país acendeu o sinal de alerta sobre o aumento da frequência de evento tão impactante e o temor de uma mudança de padrão na disponibilidade de água no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com consequências de grande magnitude.

Vinicius Torres Freire – Os amigos secretos de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Na ressaca do show golpista, Brasília estava quieta e há um esboço de acordão

O Brasil oficial e oficioso saiu de fininho do palco e da plateia do mais recente show da turnê golpista de Jair Bolsonaro.

Políticos governistas, publicitários da reeleição, gente das Forças Armadas ou do Itamaraty dizem a jornalistas que nada tiveram a ver com o espetáculo em que Bolsonaro enxovalhou a democracia para diplomatas estrangeiros. Tudo foi obra da camarilha íntima do bolsonarismo. No mais, Brasília estava quieta no dia da ressaca do show golpista.

"Você não acredita no que sai nos seus jornais?", pergunta um general ao jornalista. "Bolsonaro é isso aí. Junta uns dois ou três com quem ele come sanduíche com guaraná, mais um camarada [colega de farda] imprudente, uns malucos com quem ele confraterniza no Palácio e dá nisso. Ele não ouve ninguém, vive em outro universo".

Note-se de passagem que, para esse general da ativa, não haveria "problema" com um governo do PT. Os militares esperam apenas "respeito à autonomia, às capacidades e às condições de trabalho" —inclui cargos, salários e aposentadorias bons e dinheiro para armas. Uma tentativa de acordão começou.

Luiz Carlos Azedo - Resiliência mantém Ciro na disputa do primeiro turno

Correio Braziliense

Ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco, foi responsável pela implementação do Plano Real, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deixou o cargo para concorrer e vencer as eleições de 1994

O perfil político do ex-governador do Ceará Ciro Gomes pode ser sintetizado numa palavra da moda: resiliência. Ontem, o PDT aprovou em convenção nacional, por aclamação e sem votos contrários, a escolha do seu nome como candidato à Presidência da República. Ele resistiu a todas as investidas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para desestabilizar sua candidatura. O petista comeu pelas beiradas as alianças do PDT nos estados, mas o político cearense, intempestivo e destemperado, duas palavras que também constituem o seu perfil, resistiu bravamente. Manteve-se em cena com uma fatia de 8% do eleitorado, que segue firme e forte apoiando sua candidatura.

Esta será a quarta vez que Ciro disputará a Presidência, que é a sua grande obsessão política. Nunca chegou ao segundo turno, mas sempre deu trabalho aos adversários, nos pleitos de 1998 e 2002, pelo antigo PPS, e 2018, pelo PDT, quando obteve seu melhor desempenho, com 13,3% dos votos.

Ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, foi responsável pela implementação do Plano Real, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deixou o cargo para concorrer e vencer as eleições de 1994, derrotando Lula. Ciro tem uma trajetória bem-sucedida de gestor público, como prefeito de Sobral e Fortaleza e governador do Ceará, que hoje se destaca por ter uma das melhores redes de ensino público e gratuito do país.

Bruno Boghossian - Ciro e o fantasma do voto útil

Folha de S. Paulo

Máquina do governo e fantasma do voto útil devem concentrar ainda mais a disputa Lula-Bolsonaro

Ciro Gomes (PDT) recauchutou um discurso de oposição a Lula e Jair Bolsonaro para lançar sua quarta candidatura ao Palácio do Planalto. Primeiro, o pedetista tentou igualar os dois adversários. Ele reconheceu que a dupla tem diferenças ideológicas, mas argumentou que o petista e o atual presidente, "na essência, praticam o mesmo modelo". Depois, vendeu o próprio peixe: "Eu procuro ser completamente diferente".

O problema do candidato é que o eleitor não anda muito interessado no produto. Ciro ainda luta para romper a barreira dos 10% das intenções de voto num momento em que o embate direto entre os dois líderes da corrida presidencial tende a ficar ainda mais sólido.

Ruy Castro - Bolsonaro falando sozinho

Folha de S. Paulo

Mas os crimes em seu discurso para os embaixadores podem ter sido uma cartada

Para Jair Bolsonaro, neste momento, a pior forma de solidão deve ser a companhia dele mesmo. Encerrado seu sketch cômico no Alvorada contra as urnas eletrônicas, viu que estava falando sozinho. Nenhum dos embaixadores o aplaudiu e, ao sair dali, todos alertaram seus governos para a possibilidade de uma versão roceira da arruaça de Donald Trump em 6 de janeiro de 2021. Habituado a governar no tapa, Bolsonaro pode ter sentido a mão se voltar contra a sua própria face.

Nas 48 horas seguintes, o Departamento de Estado dos EUA, escolado em trumpices, declarou que as eleições brasileiras são um modelo para o hemisfério e o mundo. A mídia internacional repudiou em massa a encenação e organismos da área econômica insinuaram que uma aventura, de inspiração óbvia e desfecho conhecido, não fará bem aos negócios do Brasil.

Conrado Hübner Mendes* - Corrupção bolsonarista, capítulo 6

Folha de S. Paulo

Corromper eleição com dinheiro, assédio, violência e desinformação

Victor Nunes Leal, maior ministro da história do STF, escreveu "Coronelismo, Enxada e Voto", clássico de interpretação do Brasil. Militares não suportavam sua inteligência jurídica e seu desprezo à delinquência armada. Foi sequestrado por sargentos revoltosos em 1963 e aposentado na marra pelo AI-5 em 1968.

O livro de Nunes Leal descreveu o sistema eleitoral corrupto da primeira República, fundado na barganha entre o poder privado local, do coronel, e o poder público central. Vitórias eleitorais dependiam da pobreza, da força bruta e do dinheiro. A representação política resultante, baseada no mando e na obediência, retroalimentava o sistema patrimonialista.

Eleições no Brasil tornaram-se gradualmente mais competitivas e democráticas a partir de 1988. Mas Jair Bolsonaro veio para resgatar nossa pré-modernidade eleitoral à máxima potência. Todos os seus atos na disputa eleitoral reavivam a tradição do consórcio entre poder privado rudimentar e um governo incivil e insubmisso à lei. Com tecnologia do século 21.

Adriana Fernandes - A promessa dos R$ 600

O Estado de S. Paulo

Quem for eleito terá de arrumar a casa e mostrar uma trajetória de redução da dívida

No final de agosto, o governo terá de enviar ao Congresso projeto de lei do Orçamento de 2023 prevendo o retorno do piso do Auxílio Brasil de R$ 600 para R$ 400.

Parece um detalhe técnico, sem muita importância neste momento de esquenta da campanha, uma vez que o Orçamento só será votado mesmo no final do ano e sempre muito modificado. Mas em ano de eleições não é bem assim que a música toca.

Não haverá tecnicamente outra saída para o Ministério da Economia na elaboração do Orçamento do primeiro ano do próximo governo porque o teto de gastos é uma regra fiscal prevista na Constituição que ainda está em vigor.

Não há espaço no teto para acomodar a partir de 1.° de janeiro esse valor com a inclusão de mais 2 milhões de famílias. O orçamento do programa anual teria de subir de R$ 89 bilhões para um patamar mais próximo de R$ 150 bilhões. Cenário que absolutamente não cabe nas contas do governo.

Celso Ming - A Europa atolada em conflitos

O Estado de S. Paulo

A Europa enfrenta grave conflito de prioridades. Não sabe se põe força total para garantir o cumprimento das metas ambientais ou se trata primeiramente de assegurar a segurança energética.

Esses dois objetivos contraditórios produzem estresse econômico e político. A forte onda de calor e de incêndios que se espraia pela França, Espanha, Portugal, Itália e Inglaterra exige ação imediata dos governos para combater a exacerbação do efeito estufa e a promoção da substituição mais rápida da energia de fonte fóssil pela energia de fonte limpa e sustentável.

No entanto, a guerra na Ucrânia e as sanções contra a Rússia são fatores que aumentam a dependência de gás natural russo.

Ao mesmo tempo, tornam inevitável a reativação das usinas térmicas a carvão e a outros derivados de petróleo.

Pedro Cavalcanti Ferreira / Renato Fragelli Cardoso* - Reformas, contrarreformas e não reformas

Valor Econômico

A destruição do arcabouço fiscal, construído a duras penas, terá graves e duradoras consequências

Economistas do governo apontam, com razão, o grande número de reformas implantadas nos últimos três anos e meio, que terão um impacto positivo permanente sobre a taxa de crescimento da economia. Entretanto, contrapondo-se a elas, houve várias “contrarreformas” e retrocessos institucionais com efeitos na direção contrária. Além disso, há muitas “não reformas”, aquelas prometidas no início do governo que não saíram do papel. Só se conhecerá o resultado final no futuro, mas não há razões para otimismo.

A teoria econômica ensina que distorções, principalmente microeconômicas, afetam negativamente a alocação de recursos, os investimentos e, consequentemente, o crescimento e a renda de longo prazo. Ao canalizar fundos para firmas e empresas pouco produtivas, e dificultar a operação de outras mais eficientes, concentrando desproporcionalmente recursos nas “piores” empresas e agentes econômicos, as distorções reduzem o produto agregado. Má regulação, barreiras comerciais, tributação cumulativa, subsídios mal direcionados são exemplos de distorções que prejudicam o funcionamento dos mercados, desincentivam o investimento e a entrada de novas firmas mais eficientes.

Lu Aiko Otta - Orçamento muda para favorecer “gol de mão”

Valor Econômico

O desgaste silencioso do arcabouço fiscal, que veio de mãos dadas com o ataque à isonomia entre candidatos na eleição, deveria acender todos os sinais de alerta

A arrecadação de impostos federais seguiu “bombando” em junho e o time do ministro da Economia, Paulo Guedes, anuncia nesta sexta-feira novas projeções para receitas e despesas que mostrarão um quadro bem mais favorável para as contas federais este ano. Tem gente otimista com a perspectiva de obter saldo primário positivo, algo que não se vê desde 2013. É uma notícia positiva, sim, mas isso não quer dizer que o Brasil não enfrente outros problemas em relação à gestão do Orçamento.

O saldo anual no azul não deve ser anunciado esta semana. A expectativa é que isso ocorra mais para o fim do ano, mantidas as atuais condições de temperatura e pressão.

Há aí pelo menos dois fatos com potencial de animar o debate eleitoral pelo lado do governo: a superação da “herança maldita” de quase uma década de saldos negativos e o fato de o governo de Jair Bolsonaro terminar com um nível de gastos inferior ao de seu início. A projeção atual é terminar o ano com despesas primárias equivalentes a 18,7% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 19,5% do PIB em 2019.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Resposta vigorosa à ofensa de Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Ante o ataque de Bolsonaro ao País, a reação brotou forte. Instituições públicas, entidades civis e governos estrangeiros expressam incondicional apoio ao sistema eleitoral brasileiro

Na segunda-feira, Jair Bolsonaro disse ao mundo que o Brasil não era uma democracia confiável. Desde então, o Brasil e o mundo têm dado uma impressionante resposta rechaçando as teorias conspiratórias. Instituições públicas, entidades da sociedade civil, lideranças políticas, governos estrangeiros e muitíssimos cidadãos, das mais diversas áreas, reafirmaram sua confiança no sistema eleitoral brasileiro: na sua eficiência e na sua segurança. A falsa tese bolsonarista contra as urnas eletrônicas é apenas isso: uma falsa tese bolsonarista, à qual ninguém fora da patota dá crédito.

Nada poderia ter sido mais acachapante para a credibilidade de Jair Bolsonaro do que a nota do governo dos Estados Unidos. Um dia depois de o presidente da República dizer que a apuração das urnas eletrônicas no Brasil era uma farsa, os Estados Unidos afirmaram o exato oposto, reiterando sua confiança em nosso sistema eleitoral. “As eleições brasileiras conduzidas e testadas ao longo do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas servem como modelo para as nações do hemisfério e do mundo”, disse o governo americano.

Poesia | Dalcídio Jurandir - Aleluia

 

Música | Teresa Cristina - Canta Noel Rosa

 

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna*

"Derrotar o governo que aí está, encouraçado como está por grossos interesses do sistema financeiro e do agronegócio e da malha de interesses novos, uma parte de índole mafiosa, que ele mesmo promoveu, não é missão à altura dos políticos liliputianos que rondam a esfera pública em busca de oportunidades ou de satisfação de egos inflados. É frase de Guimarães Rosa que sapo não pula por boniteza, mas por precisão, e assim por força das dramáticas ameaças que podem conduzir a uma legitimação eleitoral do fascismo entre nós que realizamos uma pirueta política. Como quase sempre, o recurso à imaginação deu em bom resultado, embora imprevisto, na aliança entre dois quadros provados nas últimas décadas em nossas competições eleitorais, a Lula e Alkmin.

Tal aliança vai na direção de uma correção de rumos tanto na política do PT, cuja prática apartou a questão social da democracia política, como nos quadros da social-democracia do PSDB que se alienou dos temas sociais, como se faz reconhecer na corajosa guinada operada por Alkmin amparada por muitos dos seus antigos correligionários no sentido de estabelecer os justos nexos entre essas duas dimensões. Os democratas de todos os matizes não podem desconhecer a grandeza do gesto desses dois veteranos da nossa política. Não é hora de remoermos antigas feridas, mas da procura do interesse comum que não pode prosperar sem a entrega de cada qual à missão libertadora de devolver à sociedade a capacidade de decidir democraticamente sobre seu destino.

Quem disser que é tarefa fácil estará mentindo, as forças contrárias são muitas e sabem se unir, e conhecem por lições sabidas as artes de nos dividir com cantilenas sedutoras que nos afastem de um caminho seguro que é o da nossa unidade em favor da democracia que é a nossa via única."

*Luiz Werneck Vianna, Sociólogo, PUC-Rio. ‘Ouvir os sinais de perigo’ – Blog Democracia Política e novo Reformismo, 26.4.2022.

Vera Magalhães - Mulheres no topo? Deixa para depois

O Globo

Os últimos dias foram marcados por dois movimentos — de origens distintas, mas muito similares na forma e no significado — de investida de partidos e grupos eminentemente masculinos para retirar de cena a candidatura de mulheres à chefia do Executivo.

Tanto a senadora Simone Tebet, pré-candidata do MDB à Presidência, quanto a governadora do Ceará, Izolda Cela, do PDT, são consideradas inapropriadas, fracas, incapazes pelos dirigentes de seus partidos, todos homens, para disputar e vencer as eleições. Melhor descartá-las, deixar essa coisa de candidata mulher ou para ornamentar chapas como vices vistosas ou para uma outra hora.

Não se trata de discutir a viabilidade eleitoral de uma e de outra. Tebet enfrenta, na disputa presidencial, a mesma dificuldade de todos os outros postulantes homens para se colocar diante da cristalização das preferências eleitorais por Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. Mas o questionamento e as investidas contra sua permanência no páreo são muito mais ostensivos, sem cerimônia e graduados que os feitos contra João Doria, que se davam às escuras, nos bastidores.

Merval Pereira - Candidatura de Bolsonaro deveria ser impugnada

O Globo

Presidente usou palácio do Planalto para campanha eleitoral

A candidatura de Bolsonaro deveria ser impugnada. Recebeu embaixadores no Palácio do Planalto para fazer campanha política. mentiu, distorceu fatos, citou fake News. Os embaixadores devem ter ficado chocados. Nunca se viu na história da diplomacia um presidente da República convocar embaixadores para falar mal de seu próprio país.

O que antigamente era assunto para reações públicas indignadas, agora virou normal pelas atitudes de Bolsonaro. Não sofrer nenhuma punição é sinal dos tempos. Ele foi testando os limites, chegando ao ponto de ser inimputável. Hoje, pode fazer qualquer coisa, não há nada que o impeça e não sofre qualquer punição.

O que aconteceu é muito grave, é o caminho que está abrindo para uma tentativa de golpe e os mecanismos constitucionais não o controlam para impedir uma situação dessa, que é inaceitável. Mas foi criado um ambiente tal, que se o TSE cassar o registro de sua candidatura, vai ficar marcado como perseguindo Bolsonaro para eleger Lula.

É como PT, que disse que Lula foi preso para eleger Bolsonaro. É a mesma situação, de um lado acusar o outro de usar a justiça para prejudicá-lo. É uma situação paradoxal, não tem uma saída, nem uma consequência concreta, nada que impeça Bolsonaro de continuar fazendo essas loucuras.

Elio Gaspari - O cercadinho dos embaixadores

O Globo

Há 200 anos, antes do Grito do Ipiranga, José Bonifácio de Andrada e Silva criou a semente da diplomacia brasileira. Em agosto de 1822, ele encaminhou um “Manifesto aos Governos e Nações Amigas”, em que Dom Pedro mencionava a “vontade geral do Brasil que proclama à face do universo a sua independência política”. Sempre antes do 7 de Setembro, Andrada mandou representantes a Londres e Paris.

Passaram-se 200 anos, e Jair Bolsonaro apequenou a diplomacia fundada por José Bonifácio. Reuniu embaixadores estrangeiros para recriminar o sistema eleitoral brasileiro, atacando nominalmente os ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes.

Ele disse coisas assim:

— Por que um grupo de apenas três pessoas quer trazer instabilidade para o nosso país, não aceita nada das sugestões das Forças Armadas, que foram convidadas? São perfeitas, chega a perfeição absoluta? Talvez não. Nem um sistema informatizado pode dar garantia de 100% de segurança. As Forças Armadas, das quais sou comandante supremo, ninguém mais do que nós quer estabilidade em nosso país.

Bernardo Mello Franco – Yes, nós temos bananas

O Globo

Um chefe de Estado convoca diplomatas de todo o mundo para enxovalhar a imagem do próprio país. Aconteceu no Brasil de Jair Bolsonaro, com a cumplicidade de generais e a conivência do Itamaraty.

Os embaixadores que foram ao Palácio da Alvorada assistiram a um espetáculo de autoavacalhação. Num longo monólogo, o presidente mentiu sobre a urna eletrônica, atacou ministros do Supremo e sugeriu ter apoio das Forças Armadas para melar a eleição. Reduziu o Brasil a uma república de bananas, onde o voto popular conta menos que a opinião dos quartéis.

Diante da plateia estrangeira, o capitão cometeu uma série de crimes de responsabilidade. Atentou contra o livre exercício do Poder Judiciário, ameaçou a execução da lei eleitoral, incitou militares à indisciplina. Todos os delitos estão tipificados na lei do impeachment, que virou letra morta nos últimos quatro anos.

Luiz Carlos Azedo - Simone Tebet vive semana decisiva no MDB

Correio Braziliense

O grupo pró-Lula ainda busca convencer Temer a aceitar a aliança, mas isso depende de uma iniciativa pessoal do petista, que mantém distância do ex-presidente por causa do impeachment de Dilma

A uma semana da convenção eleitoral do MDB, a candidatura da senadora Simone Tebet (MS) à Presidência da República vive uma semana decisiva, com muitas articulações políticas contrárias, mas em condições de derrotar a ofensiva dos caciques do MDB que desejam remover sua candidatura e apoiar o ex-presidente Luiz Inácio lula da Silva já no primeiro turno. Na segunda-feira, 11 representantes de diretórios regionais, a maioria do Nordeste, se reuniram com o PT para consolidar a dissidência que apoia Lula. Ontem, o ex-presidente Michel Temer e o presidente da legenda, deputado Baleia Rossi (SP), com apoio de 19 diretórios, reafirmaram a candidatura. A conta não fecha. São 27 diretórios.

Os senadores Eduardo Braga (AM), Renan Calheiros (AL), Veneziano Vital do Rêgo (PB), Rose de Freitas (ES) e Marcelo Castro (PI); o governador de Alagoas, Paulo Dantas; e os ex-senadores Eunício Oliveira (CE) e Edison Lobão (MA), além do presidente do diretório estadual do MDB no RJ, Leonardo Picciani, participaram do encontro com Lula. O governador do Pará, Helder Barbalho, e o ex-senador Garibaldi Alves (RN), aliados do petista, não compareceram.

Vinicius Torres Freire - O golpe de Bolsonaro não virá: apenas continua

Folha de S. Paulo

Elemento que ocupa a Presidência desativa instituições e pode delinquir no cargo

O golpe de Jair Bolsonaro está em curso pelo menos desde o início de 2020. Ficou explícito na reunião ministerial de 22 de abril daquele ano, como se viu no vídeo publicado por ordem do STF. O progresso golpista está evidente no fato de que um delinquente como Bolsonaro pode cometer crimes de responsabilidade em série e impunemente. Nem sequer é processado por isso.

Agora, gente de Brasília diz que pedidos de processos contra o mais recente vomitório antidemocrático não apenas vão dar em nada, bidu, como não é conveniente que deem em alguma coisa. No momento, segundo essa tese, seria como dar trela à conversa de que há uma conspiração, uma tentativa de cassar a candidatura de Bolsonaro, um temor real e declarado do elemento que ocupa a cadeira de presidente da República.

Isto é, no fim das contas, melhor deixar quieto, em uma espécie de resignação tática.

No entanto, assim, a campanha golpista progride, a situação política se degrada e o caminho fica aberto para a próxima tentativa de arruinar a democracia. Tudo se passa como se, não havendo propriamente institucionalização do golpe (uma ordem autoritária formalizada), a ordem democrática não se desvanecesse. Mas se desvanece. Bolsonaro, ao menos até agora, opera por meio da desativação das instituições da democracia, de Estado etc.

Hélio Schwartsman - A mais tolerante das sogras

Folha de S. Paulo

Mesmo que seja rejeitado em outubro, deixará um rastro de destruição institucional

Jair Bolsonaro transformou a Presidência numa casa da sogra. A expressão designa o lugar onde o sujeito pode fazer o que lhe der na telha sem risco de ser repreendido. Não consegui uma confirmação etimológica da seguinte história, mas ela é boa, apesar de politicamente incorreta. O lar dos sogros seria esse lugar porque, numa herança do patriarcado, pais estavam tão ansiosos para se livrar de suas filhas, vistas como uma boca a mais para comer e um braço não muito bom para trabalhar, que até pagavam um dote, uma indenização, ao genro. Também aceitavam desfeitas que o rapaz pudesse cometer.

Bruno Boghossian - Vale tudo, menos ganhar no voto

Folha de S. Paulo

Além de atacar urnas, presidente precisa desafiar realidade de não ter maioria para continuar no cargo

Jair Bolsonaro abriu e encerrou seu discurso a embaixadores reunidos no Palácio da Alvorada com vídeos de passeios e motociatas pelo país. A exibição das imagens não foi acidental. Além de apontar falsas vulnerabilidades no sistema de votação, o presidente trabalha para desafiar a dura realidade de não ter, ao menos até agora, apoio da maioria da população para continuar no poder.

Com essa venda casada, Bolsonaro tenta arrasar a noção básica da democracia de que a vontade popular deve ser expressa através do voto. Em sua trama contra as eleições, o presidente não quer apenas espalhar a ideia de que as urnas eletrônicas não são seguras o suficiente para esse processo, mas também sugerir que nenhum desfecho diferente de sua vitória seria legítimo.

Mariliz Pereira Jorge - Cartas de repúdio são ridículas

Folha de S. Paulo

O português que o presidente entende é a grosseria

A única pessoa apta a escrever uma carta de repúdio a Jair Bolsonaro é o cantor Roberto Carlos. "Cala a boca, porra!" É o português que o presidente entende, a grosseria. Em show recente, o Rei perdeu a paciência com um fã e, com semblante sisudo, meteu-lhe um passa-fora. Não deixou dúvida de que o fulano havia passado dos limites e de que não toleraria aquele comportamento.

É o problema de nossas instituições em relação ao presidente golpista: não deixarem dúvida, darem alguma demonstração de que funcionam. Sabemos que não, são apenas figurantes do golpe em andamento. Posam de indignadas, soltam manifestos recheados de palavras musculosas e retornam aos seus postos de observadores da morte da democracia. Sistema eleitoral atacado, membros do Judiciário difamados, abuso de poder, crime de lesa pátria, ameaças ao Estado democrático de Direito. Palavras, palavras, palavras.

Marcelo Godoy - O arbítrio e a corrupção

O Estado de S. Paulo

General enxerga a destruição da democracia e da moral pública no orçamento secreto

O primeiro-ministro inglês, Neville Chamberlain, e o colega francês, Édouard Daladier, foram a Munique, em 1938, encontrar Mussolini e Hitler. Queriam apaziguar o alemão. Entregaram um aliado – a Checoslováquia – a Hitler, pois existiriam milhões de razões para a paz e nenhuma para a guerra. Na Inglaterra, Winston Churchill pensava diferente. “Entre a desonra e a guerra, eles escolheram a desonra. E terão a guerra.”

No Brasil de Jair Bolsonaro, os militares que o apoiam vivem um dilema. Quem mostra é um dos que se distanciaram do presidente. “O orçamento secreto é imoral, a começar do nome. Não tem cabimento, não tem critério ou transparência. É vergonhoso”, disse o general Santos Cruz, que deve desistir da candidatura à Presidência pelo Podemos e disputar uma vaga no Congresso. Ele comentava a confissão do colega de partido, o senador Marcos do Val (ES), que recebeu R$ 50 milhões em emendas para apoiar Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no Senado.

Nicolau da Rocha Cavalcanti* - Razões para barrar a candidatura de Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Há hipóteses de inelegibilidade. Para garantir o funcionamento do regime democrático, a Constituição manda que seja barrada antes.

A Justiça Eleitoral não tem medo da opinião pública. Em 2018, apesar de intensos protestos, barrou a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República. Pesquisas indicavam o ex-presidente Lula em primeiro lugar nas intenções de voto, mas a Justiça Eleitoral não titubeou. No dia 31 de agosto de 2018, seguindo o voto do relator da ação, ministro Luís Roberto Barroso, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou o registro da candidatura do líder petista, sob o fundamento da inelegibilidade em razão de condenação criminal.

Em outubro do ano passado, o TSE cassou o mandato do deputado estadual eleito pelo Paraná, em 2018, Fernando Destito Francischini, por divulgar desinformação contra o sistema eletrônico de votação. A decisão condenou o deputado por uso indevido dos meios de comunicação e por abuso de poder político e de autoridade, tornando-o inelegível.

As duas decisões foram objeto de severas críticas pelos respectivos apoiadores. Mas não se pode negar que ambas contavam com fundamento constitucional e legal. No capítulo relativo aos direitos políticos, a Constituição de 1988 prevê que, para “proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta”, uma Lei Complementar estabelecerá “outros casos de inelegibilidade”.

Alvaro Gribel - PIB perde força e espera estímulos

O Globo

Índice de atividade aponta novo recuo em junho e economia depende de estímulos para evitar recessão

Depois de um início de ano que surpreendeu para melhor, vários indicadores da economia brasileira estão mostrando desaceleração mais acentuada no segundo trimestre. O índice de atividade do Banco Central (IBC-Br), por exemplo, ficou negativo nos meses de abril e maio, e ontem o Bank of America (BofA) divulgou o seu próprio índice, que mostrou nova queda em junho, de 0,41%. O governo conta com os estímulos fiscais para mudar o quadro até as eleições e já colheu os frutos da pressão política sobre a Petrobras, que rapidamente reduziu os preços da gasolina.

Segundo David Beker, chefe de estratégia para América Latina do BofA, o aumento dos juros pelo Banco Central começou a chegar na ponta, levando a uma piora das condições financeiras no país. Os setores automobilístico e de bens de consumo duráveis são os mais afetados. Além disso, houve queda da confiança dos consumidores e empresários, e o ambiente externo ficou mais volátil, com o aperto monetário pelo BC americano.

Fernando Exman - Inflação, corrupção e segurança pública

Valor Econômico

Ao manter ataques às urnas, Bolsonaro perde tempo precioso

A divulgação de dados recentes sobre inflação, os quais poderiam ser uma bandeira relativamente positiva para a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição, está sendo ofuscada pelo ato promovido no Palácio da Alvorada para desqualificar o sistema eleitoral perante embaixadores estrangeiros.

Era tudo o que a ala política queria evitar. O pré-candidato, contudo, continua a seguir um roteiro próprio. Não poderá dizer que não foi alertado, caso seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto continue a decepcionar.

Bolsonaro perde tempo. Dá prioridade aos ataques às urnas eletrônicas e a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), afastando-se do que os políticos em seu entorno gostariam de ver na campanha: as medidas adotadas pelo governo para reduzir o custo de vida, aumentar o emprego e assegurar a retomada da atividade econômica.

Para piorar, desta vez a audiência era formada por aqueles que irão aconselhar seus governos a reconhecer ou não o resultado da eleição. E eles, por dever de profissão, nem poderiam recusar o convite para um evento na residência oficial do presidente da República. Não surpreenderá se Bolsonaro passar novamente dos limites e utilizar a tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro, às vésperas do primeiro turno, para voltar ao assunto sem apresentar provas.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - "Não haverá nem segundo turno": Cuidado com a aritmética!

Êta!...Então a eleição está ganha!. Lula tem 42 por cento da preferência do eleitorado nacional e Bolsonaro 36 por cento, apontam as pesquisas.  Não é bem assim. Pesquisas divulgadas com antecedência tem o mesmo propósito de uma propaganda explícita.   Pretende   fazer o eleitor acreditar que aquele candidato já está eleito. Uma falsa indução. A premissa condutora é a de” não se vota em candidato previamente derrotado”. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por alguma conveniência, faz de conta que não vê.

Nada mais enganoso que essa aritmética absolutizada, mesmo que   esteja assinada por um grande instituto de pesquisa. Existem mais de 100 no Brasil. Alguns copiando os resultados dos outros, e alguns vendendo opiniões. Assim, foi em eleições anteriores e, nesta próxima, não parece diferente.

As indicações de resultados prévios entre   Aécio e Dilma, Bolsonaro e Haddad e em alguns estados marcaram grandes enganos das pesquisas. O candidato que lidera as pesquisas, na maioria dessas disputas é quase sempre atropelado no final, embora até o última momento as pesquisas   o indiquem como potencial vencedor. Em geral, os institutos de pesquisa concentram-se em dois dos candidatos com melhores resultados, com vistas a um segundo turno ou não. Há pesquisas tendenciosas cujas conclusões vem acompanhadas da afirmação - verdadeira pregação - de que” Não haverá nem segundo turno!". 

Fernando Carvalho* - Ser militar hoje

Se compararmos os temas guerra e paz na literatura universal, a guerra é o assunto favorito. Cito apenas três clássicos: A Arte da Guerra de Sun Tzu, clássico chinês de cinco mil anos. Servidão e Grandeza Militares de Alfred de Vigny e ainda o Da Guerra de Carl von Clausewitz. Resta o consolo de que o filósofo chinês disse que o objetivo da guerra é a paz. E que se for possível ganhar uma guerra sem necessidade de matar nenhum soldado inimigo isso deve ser feito. Chego a me perguntar se Sun Tzu era mesmo um filósofo da guerra ou da paz. E para não concluir este parágrafo sem mencionar nem um livrinho sobre a paz, faço-o e recomendo O Homem e a Paz, um livro de bolso da Editora da FVG, RJ, 1981. Uma publicação d'O Correio da Unesco. O que tem de pequeno tem de bom. A capa é o quadro de Picasso Vive la paix.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Presidente golpista

Folha de S. Paulo

Bolsonaro barganha com Congresso liberdade para atacar a democracia; isso tem de acabar

O presidente da República se empenha em destruir as eleições periódicas no Brasil. Como o êxito é improvável, a sua segunda linha de fogo é a de conturbar a vida cívica nacional, o que não dispensa a incitação de arruaças e sublevações.

É preciso que seja impedido pelas forças vivas da democracia.

Organizações de Estado que construíram reputação de profissionalismo ao longo das últimas décadas se atolam na lama da marcha autoritária. As Forças Armadas e o Itamaraty se metem em conspiratas contra as urnas eletrônicas.

Convidaram-se dezenas de embaixadores estrangeiros para um insólito ataque, recheado de mentiras repetidas, do chefe de Estado à cúpula do Judiciário do seu próprio país. Rebaixa-se a diplomacia brasileira às fossas da conivência golpista.

O presidente do Senado apôs à gravíssima investida algumas palavras de bom senso político. Acabou o momento de debater o sistema de votação. A emenda que estabelecia a impressão do escrutínio foi derrotada ainda na Câmara.

O presidente da Casa dos deputados calou-se, como tem se calado sobre os pedidos de impeachment acumulados em sua gaveta. Cúmplice de um chefe de governo que na opinião desta Folha há muito perdeu as condições de permanecer no cargo, acomoda-se ao casamento de interesses com o Planalto, que lhe transfere o controle das manivelas da execução do Orçamento.