sábado, 20 de agosto de 2022

José Eduardo Faria* - A Constituição e suas emendas – da resiliência à degradação

Estado da Arte – Revista de cultura, artes e ideais (19.8.22.)

Há quase dez anos, a Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, publicou um importante estudo sobre a trajetória da Constituição brasileira nos seus primeiros 25 de vigência. Intitulado Resiliência Constitucional: compromisso maximizador, consensualismo político e desenvolvimento gradual[1], o trabalho foi preparado para ser apresentado num evento da Iniciativa Latino-americana em Direito e Democracia (ILADD) apoiado pela Ford Foundation.

O texto é uma análise dos mais variados aspectos da ambiciosa Constituição brasileira e seu denominador comum foi a ideia que ela demonstrou resiliência ao longo dessas duas décadas e meia. Na física, resiliência é a propriedade que possuem determinados materiais de acumular energia, quando submetidos a situações-limite, sem que ocorram rupturas ou mudanças permanentes. Por isso, à medida que acomodam estímulos e pressões, esses materiais preservam sua função e identidade em diferentes ambientes. Ao trazer esse conceito da física para o direito, o trabalho lembra que, apesar das duras críticas que sofreu na época de sua promulgação, em 1988, a Constituição teria não só conseguido manter estável o sistema político, mas, também, adaptar-se às necessidades políticas e econômicas do país, ao longo de distintos momentos de tensão institucional e de governos com ideologias conflitantes.

A ambição da Constituição decorre do fato de que ela abrigou diversos interesses, direitos e metas para o desenvolvimento da economia e o bem-estar da sociedade, o que foi chamado pelo coordenador do estudo de “compromisso maximizador”. Além de ambicioso, o que por si só já era um problema dadas desigualdades de uma sociedade complexa e heterogênea como a brasileira, o processo político de elaboração do texto foi fragmentário. Segundo o trabalho, ao estabelecer direitos, proteger interesses e distribuir poderes, a Constituição foi produto de um processo de conciliação entre as forças políticas que moldaram uma transição do autoritarismo militar para a democracia representativa. Todavia, ela não foi fruto de um pacto simétrico de mútuos interesses – pelo contrário, foi uma estratégia de estabilização de uma ordem assimétrica.

Detalhista bem como programática, simultaneamente, e com problemas de antinomia, por ser resultante desse pacto assimétrico, a Constituição não se limitou a definir as regras do jogo político e da institucionalidade jurídica. Ela também ampliou os direitos fundamentais e as prerrogativas do Ministério público. Transferiu para o sistema político e para o Judiciário a responsabilidade da concretização, ao longo do tempo, de suas metas e dos direitos em que elas se fundamentam. Um dos avanços do texto constitucional foi a criação do Sistema Único de Saúde, por meio de uma estrutura democrático-participativa e da autonomia dos entes federativos. Outro avanço está no âmbito das questões urbanas, que pela primeira vez foram abordadas por um texto constitucional. A Carta foi, ainda, inovadora na área da seguridade social, compreendendo o conjunto de ações estatais e da sociedade voltadas à implementação da previdência e da assistência social. Há vários outros exemplos nesse sentido.

Ascânio Seleme - O rebanho é cego

O Globo

Bolsonaro não apenas mente e incentiva a mentira como instrumento político, mas também ataca quem tenta conter fake news nas redes sociais

Jair Bolsonaro é o candidato a presidente que mais se distancia da doutrina cristã. Em todos os aspectos da sua vida privada e política, é aquele que melhor encarna a antítese do Cristianismo. Mesmo assim, com a abundância de evidências que comprovam esta premissa, quase metade dos evangélicos brasileiros pretendem votar nele, segundo a pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira passada. Mais do que a falta de empatia, que já o transforma numa pessoa nefasta, é impossível olhar para Bolsonaro e não enxergar o ódio que emana da sua figura.

Ódio, aliás, é o primeiro sinal de que Bolsonaro se importa com os princípios cristãos. Cristo pregou o amor como o caminho para a salvação. Quem aqui consegue perceber um único sinal de amor verdadeiro no presidente do Brasil? Este homem odeia, não ama. Odeia todos os que não pensam exatamente como ele. Mesmo entre os seus aliados e subordinados, não há um que ele ame verdadeiramente. Seus adversários são inimigos, que ele odeia violentamente e contra os quais dissemina o ódio. Seus adversários são também objetos de suas mentiras escancaradas que visam a destruir. Bolsonaro prefere destruir a erguer pontes.

A mentira é outra evidência de que o candidato à reeleição não se pauta pela mesma régua dos evangélicos que o apoiam. Mentir é pecado em qualquer religião. Bolsonaro não apenas mente e incentiva a mentira como instrumento político, mas também ataca quem tenta conter fake news nas redes sociais, como o Supremo Tribunal Federal, que investiga o que além de pecado é crime. O candidato é um mentiroso contumaz. Numa única entrevista na semana passada mentiu sete vezes. Segundo o site de checagem Aos Fatos, Bolsonaro mentiu mais de cinco mil vezes desde a sua posse. Pelas suas piores mentiras, que podem ter tirado a vida de milhares de brasileiros, as que disseminaram desinformação sobre a Covid, a Polícia Federal pediu o seu indiciamento.

Carlos Alberto Sardenberg - A opção Lula

O Globo

Falta ainda um teste importante para o petista: a campanha no rádio e TV, quando os adversários vão se fartar com as denúncias de corrupção

Do economista John K. Galbraith: “Os economistas gostam de ficar brigando entre si para não correr o risco de estar todos errados ao mesmo tempo”.

Outra hipótese: e se todas as análises, embora divergentes, estiverem igualmente erradas? Parece estar acontecendo isso no panorama mundial. Por exemplo: haverá ou não recessão nos Estados Unidos? A resposta não depende da orientação deste ou daquele economista. Depende da semana em que é apresentada a opinião. Ou do dia. O que nos leva a uma primeira conclusão unânime — a situação de fato é bastante complexa —, que não serve para nada.

Aqui no Brasil, a situação também é complexa, mas por causa dos políticos, não dos economistas. Os que estão no governo, Bolsonaro e o Centrão, promovem uma farra fiscal. Sim, a expressão é antiga, mas fazer o quê? O hábito permanece.

No lado da oposição, Lula, o favorito, denuncia os “gastos eleitoreiros” para logo em seguida prometer um governo de mais ... gastos. Diz que não se pode colocar teto na despesa pública — o teto que Bolsonaro e sua turma já detonaram há muito tempo.

Vai daí que nenhum lado mostra como pretende lidar com o Orçamento, já furado, do ano que vem e dos próximos. Pode-se tentar adivinhar, porque estamos tratando com um governante de plantão e um ex-governante.

Pablo Ortellado – Bolsonaro

O Globo

O presidente Jair Bolsonaro é candidato à reeleição apoiado por uma coligação de partidos do Centrão: PP, PL e Republicanos. Com Lula, Bolsonaro polariza a intenção de voto para presidente, deixando muito pouco espaço para os outros concorrentes. Nas pesquisas, cerca de 75% dos eleitores votam num dos dois candidatos quando é apresentada uma lista. Sem a apresentação da lista, no voto espontâneo, surpreendentes 70% citam um dos dois, um indicador da consolidação da intenção de voto. A disputa de fato está praticamente restrita a Lula e a Bolsonaro.

Como nas eleições de 2018, há grande divergência entre o que diz Bolsonaro nas entrevistas e o que diz seu programa de governo. Foi justamente para nomear seu desinteresse pelas políticas públicas que Bolsonaro cunhou o bordão “fala com meu Posto Ipiranga”, referindo-se ao futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, que deveria cuidar dos assuntos propriamente político-administrativos.

Enquanto nas entrevistas Bolsonaro dá grande ênfase a temas das guerras culturais, como o direito de adquirir armas e o combate à ideologia de gênero, seu programa de governo tenta esboçar uma proposta que trate dos problemas reais do Brasil. Uma avaliação da sua candidatura precisa ao mesmo tempo olhar para o plano de governo e para as manifestações do candidato. Tudo isso sem deixar de ver seus três anos e meio de governo.

Eduardo Affonso - Não há ateus na política

O Globo

Quando se faz o diabo para conseguir votos, lambuzar-se na gordurama do pastel de feira por puro populismo chega a ser pecado menor

Demonstrações oportunistas de fé no Altíssimo e apreço à baixa gastronomia são tão tradicionais nas campanhas políticas quanto a troca de ofensas entre os novos adversários e de afagos entre os ofendidos na eleição passada.

Deus é testemunha de que, no Estado laico em que vivemos, campanha que se preze tem de ter candidato comendo pastel de feira e/ou em pose contrita — sempre de joelhos, se possível de mãos postas —, invocando a intercessão divina para ganhar mais voto do que peso. Pode até haver ateus em aviões que despencam — na propaganda eleitoral, jamais.

Tecnicamente, Estado e Igreja estão separados no Brasil desde 1891. Mas a atual Constituição foi promulgada “sob a proteção de Deus”. Nas cédulas, há a recomendação de que “Deus seja louvado”. O presidente de turno chegou ao poder com o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. É um Deus nos acuda em tempo integral.

Hélio Schwartsman – Anjos e demônios

Folha de S. Paulo

A religião é uma assombração que não conseguiremos exorcizar

Na batalha pelo voto evangélico, bem, mal, anjos e demônios têm sido invocados. Religião e política compõem um coquetel complexo, por vezes explosivo. Ainda assim, são, na democracia, indissociáveis um do outro. E é uma relação bem assimétrica.

No cômputo geral, a democracia faz mais bem do que mal às religiões, especialmente àquelas que são minoritárias. É só quando a liberdade de culto, uma das marcas registradas do Estado democrático, está assegurada que as fés não dominantes têm condições de prosperar. Os efeitos da religião sobre a democracia são mais problemáticos.

Alvaro Costa e Silva - Na terra da milícia tudo é possível

Folha de S. Paulo

Religião, polícia e até Wilson Witzel embaralham eleição no Rio

Em dois pontos as eleições no Rio de Janeiro reproduzem o cenário nacional. O primeiro é a preocupação com abordagens e temas religiosos, a quase guerra santa que hoje se confunde com a conquista do eleitor. Os três principais candidatos ao governo do estado —Cláudio Castro, Marcelo Freixo e Rodrigo Neves— iniciaram a campanha de joelhos, visitando igrejas, pedindo bênçãos e fazendo orações.

O segundo demonstra o crescimento do número de candidatos policiais militares e de outras forças de segurança, que costumam agregar a patente ou função ao nome que aparece no santinho: Delegado Fulano, Coronel Sicrano, Capitão Beltrano.

Há um terceiro aspecto semelhante, mas nem tanto, envolvendo o voto para presidente. As últimas rodadas de pesquisa apontam a lógica da campanha que se iniciou cedo demais: grande parte dos eleitores está convicta de sua escolha, resistindo a mudar de opinião. Como se sabe, Lula lidera. Em comparação aos dois maiores colégios do país, Minas Gerais e São Paulo, a disputa no Rio está mais apertada —o que também não é bom sinal para Bolsonaro, que em 2018 ganhou de lavada na preferência de cariocas e fluminenses.

Demétrio Magnoli - Stalingrado, versões de uma batalha

Folha de S. Paulo

Adoração a Putin pela extrema direita é normal, mas simpatia da esquerda pede investigação

No 23 de agosto de 1942, 80 anos atrás, começou a Batalha de Stalingrado, ponto de inflexão da guerra mundial no teatro europeu. Desde 2013, Volgogrado reverte a seu antigo nome nos aniversários da batalha crucial. O culto a Stalingrado descortina a evolução do nacionalismo russo, de Stálin a Putin.

A primeira versão sobre a batalha fixou-se em 1943, na Conferência de Teerã, quando Churchill passou às mãos de Stálin a Espada de Stalingrado, oferenda do rei George 6º à cidade heroica. Originalmente, a URSS traduziu a vitória como marco da unidade das potências aliadas contra o nazifascismo.

Durou pouco. Desde 1947, Stálin ergueu uma segunda versão, adaptada à nova rivalidade da Guerra Fria. Os antigos aliados foram reinterpretados como herdeiros do nazifascismo e a batalha transformou-se na certidão de batismo da Grande Rússia soviética. Duas décadas depois, numa cidade já renomeada, Kruschev inaugurou A Pátria Convoca, a estátua de 85 metros de altura, no estilo do realismo socialista, de uma mulher guerreira empunhando uma espada.

Fernando Schüler* - A sociedade dos militantes

Revista Veja

As redes sociais de fato deram voz aos sábios de mesa de bar. Mas a internet é só uma ferramenta. O problema está no coração humano, e vem de longe

Os militantes estão em toda parte. O chato do WhatsApp talvez seja o pior de todos. O pessoal cria um grupo para trocar ideias sobre a escola, e lá está ele, todo santo dia, mandando figurinhas contra ou a favor do Bolsonaro. Tem o xarope do Twitter, cuspindo suas pequenas frases de efeito, dia e noite. A vantagem desse é que se pode bloquear, e o sujeito some do mapa. Há muitos outros. Um deles é o militante da faculdade. O vereador Fernando Holiday foi impedido de falar, aos gritos e pontapés, na Unicamp, em um episódio constrangedor. As universidades são públicas, mas o militante acha isso conversa fiada. Seu mundo é Star Wars. Forças do bem contra forças do mal. É um mundo divertido, não há dúvida, ainda que possa soar um tanto ridículo, visto a certa distância.

O problema é o militante fora do lugar. Ele ainda não invadiu as reuniões de condomínio, mas o mesmo não se pode dizer das empresas e agências de publicidade. E da Netflix, claro. Estes dias vi uma lista de “séries que você pode ver sem um sermão a cada episódio”. Guardei. Outro espaço colonizado é a imprensa, mas não toda. A existência de uma mídia profissional, fiel aos fatos e imparcial, é elemento essencial para a qualidade do debate público. É espaço de confiança, onde pessoas e grupos com visões antagônicas podem buscar informação, e com isso formar uma base comum de fatos e razões para lidar com a realidade. Isto tudo vai pelo ralo com o jornalismo militante, no qual a opinião pende sempre para o mesmo lado, e o noticiário vem misturado com a adjetivação, perdendo-se a distinção elementar entre fato e interpretação.

José Casado - Salários surreais

Revista Veja

Não importa a crise, a elite de servidores sempre aumenta os ganhos

A felicidade existe, alguns conseguiram localizá-la na folha de pagamentos do serviço público brasileiro. Ali, a elite do funcionalismo descobriu uma fonte de satisfação na remuneração pelo dever, alheia à crise na paisagem ao redor dos palácios de Brasília, onde mais da metade das famílias patina na pobreza e no endividamento recorde.

O Judiciário, por exemplo, decidiu aumentar salários em 18%. O Ministério Público soube e correu atrás, agitando a bandeira da “paridade”. Como é inevitável o efeito em cascata, quase 800000 servidores de carreiras jurídicas na União, nos Estados e nos Municípios devem ter novos motivos para sorrir no réveillon.

O Judiciário já paga, na média, o triplo da remuneração do Executivo e o dobro do Legislativo, informa o Ipea. O novo aumento vai custar 6 bilhões de reais nos próximos dois anos, somente na área federal. É volume de dinheiro equivalente ao que a Petrobras conseguiu recuperar dos prejuízos com má gerência e corrupção desvendadas na Lava-Jato. Numa conta de padaria, é quantia suficiente para construir creches em metade dos municípios.

João Gabriel de Lima - A tática húngara de Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro vai usar tática semelhante à de Orbán: congestionar o debate com temas que lhe são favoráveis

“As pesquisas eleitorais se sofisticaram e, hoje em dia, não mostram só o resultado do jogo. Elas analisam o esquema tático e revelam quem está fazendo as jogadas certas ou tomando as decisões erradas.” A metáfora futebolística, tão ao gosto de Lula e Bolsonaro, líderes da corrida presidencial, foi cunhada por Felipe Nunes. Diretor do instituto Quaest, o atleticano Nunes – entrevistado no minipodcast da semana – é um craque em analisar as nuances que se escondem por trás dos números.

Na semana que marcou o início oficial da campanha eleitoral, três dos principais institutos – Ipec, Datafolha e o próprio Quaest – divulgaram levantamentos. Lula e Bolsonaro encontraram motivos para comemorar. Lula festejou o placar, que há meses não se mexe. Segundo o agregador do Estadão, o petista segue ganhando de goleada desde abril, com vantagem que varia entre 12 e 16 pontos.

Bolsonaro não cresceu, como esperava, entre os que recebem auxílio emergencial, mas pode comemorar um gol. Os institutos rastrearam seu avanço entre os evangélicos. Onde há três meses havia um empate técnico, Bolsonaro abriu 24 pontos de vantagem sobre Lula, em números do Quaest. “Trata-se de um público que foi decisivo para eleger o presidente em 2018, e ele está conseguindo atraí-lo de volta”, diz Nunes.

Adriana Fernandes - Negociações para depois das eleições

O Estado de S. Paulo

O presidente eleito em outubro vai precisar do ‘velho Congresso’ para fechar o Orçamento

Enquanto na frente das câmeras os presidenciáveis disparam promessas aos eleitores, é nos bastidores que os atores políticos e econômicos já se movimentam nas negociações sobre o que fazer no dia seguinte das eleições.

Candidato a deputado federal por Alagoas, o presidente da Câmara, Arthur Lira, deixou a campanha de lado nos últimos dois dias para se posicionar nesse debate.

Em evento no BTG, na quinta, Lira foi no ponto ao dizer que Lula, se eleito, terá de conviver de forma “harmônica” com ele de outubro a fevereiro (quando os deputados eleitos escolhem o novo presidente da Casa). São dois meses até a posse do presidente da República.

É nessa reta final do ano que o presidente eleito, seja quem for, precisará de apoio político do “velho Congresso” para aprovar um Orçamento que permita ao novo governo tocar os primeiros meses e garantir condições para a manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600 no dia 1.º de janeiro.

Ricardo Henriques - Uma agenda para a educação

O Globo

É preciso canalizar esforços para implementar uma trajetória sustentável e acelerada de desenvolvimento educacional

Entramos em período eleitoral, com o risco de o debate sobre temas fundamentais para o país ser ofuscado pelo radicalismo e pelas ameaças de ruptura democrática. Porém, mesmo diante da atual conjuntura, é preciso tratar de nosso futuro. E isso implica falar de educação.

Neste sentido, o documento “Educação já!”, composto por uma coalizão de 18 organizações da sociedade civil, articulado pelo movimento Todos Pela Educação, traz importante contribuição, que se soma a propostas de outras organizações também comprometidas com o tema.

Temos o desafio de estabelecer um bom plano de voo, factível, e que nos permita chegar aos objetivos propostos. É preciso coragem para definir e priorizar quais são as transformações essenciais, integradas e perenes nas políticas públicas, capazes de superar o voo de galinha da educação brasileira.

A complexidade atual não permite estabelecer uma rota única. O “Educação já!” nos ajuda nesse ponto, pois propõe uma agenda sistêmica que compreende a necessidade de ações emergenciais relacionadas aos impactos da pandemia e do ensino remoto. Ademais, apresenta caminhos específicos para a primeira infância, a alfabetização, os anos finais do ensino fundamental e o ensino médio.

Alvaro Gribel - As cinco maiores incertezas sobre as contas públicas

O Globo

Dívida bruta pode chegar a 2027 em 81% do PIB, no melhor cenário, ou disparar para 100%, no pior, dizem economistas do Itaú

Os economistas Pedro Schneider, Luiz Cherman e Fabio Diniz, da equipe de análise do Itaú Unibanco, mapearam cinco incertezas fiscais que dão direções completamente diferentes para a dívida pública. Por aí, percebe-se o tamanho da insegurança dos investidores em relação ao futuro econômico do país.

Dependendo do que for decidido pelo próximo governo sobre esses cinco temas, a dívida bruta pode chegar em 2027 em 81% do PIB, no melhor cenário, ou disparar para 100% do PIB, no pior deles.

“A trajetória futura da dívida pública dependerá de várias decisões de política fiscal que serão tomadas nos próximos 6 a 12 meses. Elas vão desde decisões que afetam as receitas e os gastos de curto prazo, até a discussão mais estrutural sobre a regra fiscal que irá ancorar as expectativas de longo prazo”, explicam os economistas.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Brasileiro valoriza democracia acima de todos os regimes

O Globo

Apoio ao sistema democrático voltou a atingir o pico histórico no Brasil, segundo pesquisa do Datafolha

O mês de agosto tem se destacado por um sinal claro e determinado da sociedade brasileira em defesa da democracia e do Estado Democrático de Direito.

No último dia 11, duas cartas em favor do sistema eleitoral foram lidas na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) — a enorme repercussão atraiu a assinatura de mais de 1 milhão de cidadãos para uma e de mais de cem entidades do setor produtivo e da sociedade civil para a outra. Na noite da última terça-feira, a posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reuniu as principais autoridades da nação para ouvir e aplaudir de pé um discurso enfático em defesa das urnas eletrônicas e do sistema eleitoral. Por fim, ontem o Datafolha divulgou que o apoio à democracia retornou ao pico histórico na sociedade brasileira.

Para 75% da população, a democracia é um regime preferível a qualquer outra forma de governo, patamar mais alto desde 1989, que havia sido atingido apenas no levantamento realizado em 2020. Desde o primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, o apoio incondicional à democracia subiu 13 pontos percentuais na sondagem do Datafolha. Ao mesmo tempo, aqueles que dizem que uma ditadura pode ser preferível “em certas circunstâncias” não passam de 7%, o menor índice nos 33 anos da série histórica.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - Nosso Tempo

 

Música | Zé Ramalho & Overdriver Duo - Sinônimos

 

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Fernando Gabeira - Algumas ideias para a campanha que começa

O Estado de S. Paulo

Uma nova relação entre Estado e empresas, junto com o esforço dos cidadãos, pode ser uma novidade num ambiente estagnado e sem esperanças

Um fato importante dos últimos dias foi a aprovação do pacote ambiental de Joe Biden no Congresso americano: US$ 430 bilhões. O objetivo é transitar para uma economia de baixo carbono e adaptar os EUA às transformações produzidas pelo aquecimento global.

Esta grande vitória de Biden me fez pensar no Programa Apollo, que levou dois homens à Lua e custou, a preços de 2020, US$ 283 bilhões. O programa recuperou minha atenção pois é descrito pela economista Mariana Mazzucato, no seu livro Mission Economy (HarperCollins Publishers), como um exemplo de sucesso que pode inspirar uma nova fase do capitalismo, a economia de missão.

Segundo ela, existe um grande caminho para projetos em que governo e iniciativa privada se unam com possibilidades de grandes triunfos, como o programa anunciado por Kennedy em 1962 como a mais arriscada e perigosa aventura em que o ser humano embarcou.

Naturalmente, a proposta de Mariana Mazzucato prevê um Estado eficiente e empresas com alto sentido social, algo que, de forma pioneira, Larry Fink, da BlackRock, enunciou em 2018: sem um senso de propósito, nenhuma empresa pública ou privada consegue atingir seu pleno potencial.

Trabalhar com essas ideias no Brasil ainda é um pouco difícil. A tendência, aqui, é pensar no Estado como ineficaz e sonolento; e nas empresas como devoradora dos recursos públicos. Na verdade, o liberalismo mais radical só vê no Estado a função de normalizar, regulamentar, uma vez que trabalha também com a tese de que é intrinsecamente improdutivo.

Vera Magalhães - O medo como ativo eleitoral

O Globo

A pregação criminosa de fake news de cunho religioso precisa receber uma resposta da Justiça Eleitoral

O medo passou a ser o principal combustível da eleição, e, sabe-se, isso não é um bom prenúncio diante do ambiente cada vez mais radicalizado em que está mergulhada a política brasileira desde pelo menos 2013.

Jair Bolsonaro é um presidente acossado pelo medo. Cada vez mais isolado e acuado, lançou mão de todas as medidas possíveis, e até das que as leis diziam ser impossíveis, para se viabilizar eleitoralmente num momento em que as pesquisas lhe davam uma rejeição terminal e apontavam com consistência a chance de Lula ganhar no primeiro turno.

Diante da potência do arsenal que lhe foi dado pelo Congresso, com aval silente da Justiça, o resultado colhido nas pesquisas, até aqui, é pífio.

O presidente cresce entre evangélicos, se consolida junto aos mais ricos (que nem eram o alvo do pacote de bondades) e supera Lula no Sul, no Centro-Oeste e no Norte, mas isso é pouco diante da permanente desvantagem em eleitorados mais numerosos.

Os pobres, a grande massa do eleitorado brasileiro — o que, aliás, é o retrato acabado de muitas das nossas mazelas e da nossa incapacidade duradoura de crescer e distribuir renda —, continuam votando maciçamente em Lula: 55% dos que ganham até um salário mínimo apontam o petista como seu preferido em outubro pelo Datafolha.

Eliane Cantanhêde - A falsa ‘guerra santa’ de 2018 em 2022

O Estado de S. Paulo

Projeções de segundo turno em 2022 são semelhantes às de 2018 entre Lula e Bolsonaro

O segundo turno desta eleição não foi antecipado no primeiro, com Luiz Inácio Lula da Silva, favorito, e Jair Bolsonaro, segundo colocado, liderando as pesquisas desde o primeiro momento e ao longo de exatamente toda a campanha e de todo este ano. Na realidade, essa polarização, que sufocou as chances de uma terceira via, começou bem antes, vem desde 2018.

As simulações de segundo turno ao longo de 2018, quando Lula foi preso e impedido de concorrer, apontavam um mínimo de 52% e um máximo de 58% para ele, ante o mínimo de 32% e o máximo de 35% para Bolsonaro, no Datafolha, por exemplo. Pelo Ipec desta semana, deu 51% a 31%. Pelo próprio Datafolha de ontem, 54% a 37%, pouco acima do teto de 2018. Logo, a estabilidade se mantém por quatro anos.

Pelas projeções de primeiro turno, Lula mantém estabilidade, com 47%, enquanto Bolsonaro cresceu para 32% e vem reduzindo a distância para Lula, lenta e gradualmente, como a pesquisa de ontem mostrou. O petista, porém, mantém acima de 50% dos votos válidos, o que é suficiente para vencer em primeiro turno. Pelo Ipec, 52%. Pelo novo Datafolha, 51%.

De qualquer forma, a campanha oficial está apenas começando e o governo vem dizendo, inclusive a empresários, que tem “bombas” contra Lula, além de mensalão, petrolão e gestão Dilma.

E a equipe de Lula também reuniu pesado arsenal contra Bolsonaro, a começar da teimosia na pandemia. O quanto essa guerra vai interferir nos índices, nem os dois lados sabem.

Luiz Carlos Azedo - Lula e Bolsonaro estão no mano a mano no Rio de Janeiro

Correio Braziliense

O estado deixou de ser o “tambor” do Brasil, mas nada garante que os fatores que determinaram a mudança de cenário não possam ocorrer em outros estados

Uma das frentes de batalha decisivas das eleições presidenciais está no Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral do país, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro estão em empate técnico segundo a pesquisa divulgada, ontem, pela Genial/Quest. De julho a agosto, o presidente da República subiu de 34% para 39% das intenções de voto, colando em Lula, que manteve 39% no período. Na projeção do 2º turno, a diferença entre os dois, que era de 9 pontos, caiu para 2 nos últimos 35 dias. Faltam 44 dias para as eleições.

Detalhe: a pesquisa espontânea aponta uma tendência de Lula ser ultrapassado por Bolsonaro no Rio de Janeiro: com 33% de indecisos, Bolsonaro tem 32%, em empate técnico com Lula, que tem 30%. De onde vem essa mudança no cenário eleitoral fluminense? Dos eleitores que recebem o Auxílio Emergencial, que foi reajustado para R$ 600 e está sendo pago em dobro neste mês; dos que têm renda familiar até 2 salários-mínimos; dos católicos e, principalmente, dos evangélicos.

A pesquisa mostra que as ações administrativas do governo para melhorar os índices de aprovação de Bolsonaro começam a surtir efeito. E, também, que a narrativa conservadora nos costumes, em defesa da família, contra o aborto e outras bandeiras de cunho religioso, que estão sendo muito disseminada por meio das redes sociais, atrai de volta parte dos eleitores de Bolsonaro que estavam decepcionados com o desempenho dele na Presidência.

Bernardo Mello Franco – O major e o capitão

O Globo

Curió identificou Bolsonaro como legítimo herdeiro da repressão

Morreu Sebastião Curió, um dos mais notórios carrascos da ditadura militar. Em 1973, ele foi destacado para reprimir a Guerrilha do Araguaia. Comandou o sequestro e o assassinato de dezenas de militantes na floresta.

A operação pode ser resumida como um massacre. A ordem do Exército era não fazer prisioneiros. Os guerrilheiros eram capturados, levados para centros de tortura e executados.

Documentos militares mostram que os superiores do major o elogiavam pela “coragem e arrojo” na “árdua tarefa de combate à subversão”. Sem a proteção da ditadura, Curió não se mostrou tão destemido assim. Convocado pela Comissão da Verdade, apresentou três atestados médicos para não depor. Também se esquivou de ser ouvido em casa ou num hospital.

A rigor, seu depoimento nem seria necessário. Em 2009, Curió confirmou ao jornal O Estado de S. Paulo a execução de 41 militantes presos e desarmados. Com frieza, comparou o extermínio à limpeza de uma lavoura. “Quando se capina, não se corta a erva daninha só pelo caule. É preciso arrancá-la pela raiz”, afirmou.

Ruy Castro - Presidente demente

Folha de S. Paulo

O que Castello, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo achariam de Bolsonaro?

Quando os militares tomaram o poder, em 1964, eu tinha 16 anos. Quando foram obrigados a devolvê-lo aos civis, em 1985, 37. Nesses 21 anos, quase todos como jornalista, soube bem o que era trabalhar e viver ao peso de Castello Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo, os generais escolhidos pela cúpula militar e "eleitos" presidentes por um Congresso emasculado. Esse rodízio no poder era para mostrar que não havia ditadura no Brasil. De fato, não havia um ditador como o Getulio Vargas de 1937-1945. Na prática, era a mesma coisa, mudando apenas certos traços de personalidade e comportamento de cada general.

Bruno Boghossian - Lula deixou de jogar parado

Folha de S. Paulo

Ataque conservador e dinheiro público aumentam tração do presidente e forçam reação do petista

Lula continua à frente nas pesquisas de intenção de voto, mas teve que fazer alguns movimentos para correr atrás de Jair Bolsonaro. Nos últimos dias, o petista testou um discurso para conter o domínio do presidente sobre o eleitorado evangélico, começou a erguer barreiras para limitar os dividendos eleitorais do Auxílio Brasil e ensaiou uma estratégia de reação na campanha digital.

Depois de meses em posição confortável, o ex-presidente sabe que não é mais possível jogar parado. Lula acumulou capital eleitoral, mas a máquina do governo, o arsenal retórico de Bolsonaro e a dinâmica das próximas semanas de campanhas devem fazer com que a disputa fique mais apertada até outubro.

O avanço acelerado do presidente entre os evangélicos foi um dos fatores que ligaram o alerta do PT. O partido acreditava que a economia cambaleante seria suficiente para manter parte dos fiéis afastada de Bolsonaro, mas passou a temer um aumento dos índices de rejeição a Lula nesse grupo do eleitorado.

Hélio Schwartsman - Recado dado

Folha de S. Paulo

Só estaremos seguros mesmo quando Bolsonaro estiver no xadrez

Menos de uma semana após a sociedade civil ter afirmado de forma crível que não aceitará um golpe, foi a vez de a classe política dizer o mesmo. A mensagem foi dada na posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do TSE. A impressionante salva de palmas que as urnas eletrônicas receberam no discurso de Moraes mostrou que não será fácil desacreditar o sistema de contagem de votos. A Bolsonaro, que estava no evento, só restou fazer cara de tacho.

Isso significa que agora o presidente vai parar com a pregação golpista? Não é tão simples. Até acho que Bolsonaro entendeu que as resistências a seu plano de pôr as eleições sob suspeição serão maiores do que ele antecipava, mas daí não decorre que a estratégia será abandonada. O problema de Bolsonaro é que, quando acuado, ele só sabe reagir radicalizando.

Reinaldo Azevedo - O óbvio como discurso de resistência

Folha de S. Paulo

Golpismo de empresários choca também pela ignorância sobre o país

A que padrão miserável foi relegado o Brasil para se ver na contingência de saudar como um ato de resistência a fala de Alexandre de Moraes ao tomar posse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A rigor, nada há de especial ali: é o Teorema de Pitágoras do Estado de Direito; é a Lei da Gravidade da democracia; é a Lei dos Grandes Números de uma vida civilizada. E, no entanto, reagimos, os decentes, como se o ministro tivesse descoberto a Pedra Filosofal.

Que país é este em que o óbvio é alçado à condição de uma categoria especial de pensamento? É aquele em que alguns empresários, entre outros, reúnem-se em um grupo de WhatsApp para pregar um golpe de Estado caso Lula vença a eleição. E o fazem em nome da liberdade. A retórica dos trogloditas mundo afora é sempre a mesma.

José de Souza Martins* - O Brasil subjacente

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Em nosso subdesenvolvimento econômico do mero crescimento e das grandes taxas de lucro perece o Brasil industrial do verdadeiro desenvolvimento econômico com desenvolvimento social

Um conjunto de fatos e fatores da conjuntura política atual expõe de maneira singular as contradições da sociedade brasileira, sua perda de identidade, a inversão das realidades, o protagonismo do avesso que somos de nós mesmos. Somos um país politicamente duplo.

De certo modo, vai chegando a hora da verdade do Brasil, a do enfrentamento dessa duplicidade, sem que seja ela, propriamente, a hora de sua certeza, de sua emancipação e, finalmente, do encontro do país consigo mesmo. Do país capaz ou não de sair do atoleiro dos oportunismos que transformaram a nação em propriedade privada. Neste centenário da Semana de Arte Moderna, Macunaíma tornou-se real, o herói sem nenhum caráter, que é e não é ao mesmo tempo.

Um país que já foi industrializado e se tornou meio industrializado para atender, pela força, à ditadura de uma geopolítica do subdesenvolvimento econômico com grave e crescente atraso social. Um atraso, aliás, nunca dantes visto nem vivido, pois é o de um país que “evoluiu” para o atraso modernizado do desenvolvimento desigual. Um país sem futuro. Quase só nos repetimos.

Maria Cristina Fernandes - O principal cabo eleitoral de Bolsonaro

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Presidente precisa camuflar facetas do governo. Este é o papel de Michelle, tirar o foco do essencial. Pesquisa revela que primeira-dama influencia positivamente 29% dos eleitores do presidente

 “Geralmente as pessoas mais importantes é que falam por último. A pessoa mais importante deste momento não é o presidente da República, não é o candidato, é a senhora Michelle Bolsonaro”. O presidente da República poucas vezes esteve tão próximo da verdade quanto ao discursar no início oficial de sua campanha, em Juiz de Fora, no dia 16 de agosto. “Que Deus dê sabedoria e discernimento ao nosso povo brasileiro, para que não entregue o nosso país, a nossa nação tão amada por Deus, na mão dos nossos inimigos”, disse uma ovacionada primeira-dama.

Os dois únicos presidentes casados a disputar uma reeleição, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, tiveram as companhias diametralmente opostas, mas igualmente discretas, de Ruth Cardoso e Marisa Letícia. O que estava em jogo, tanto em 1998 quanto em 2006, era o julgamento do eleitor sobre seus mandatos. Se Bolsonaro colocou sua mulher para magnetizar seu palanque é justamente para conseguir o inverso. Tirar do foco do eleitor o que o governo fez. Por isso não exagera ao sublinhar sua importância.

Na primeira pesquisa destinada a aquilatar a importância da primeira-dama para a disputa eleitoral, feita com exclusividade para o Valor, a Quaest colheu que 34% dos eleitores têm uma imagem positiva da primeira-dama e 10%, de Rosângela Silva, mulher de Lula. Entre os evangélicos, os que avaliam positivamente a imagem de Michelle chega a 52% (27% entre os católicos). Entre os eleitores de Bolsonaro, a primeira-dama influencia positivamente o voto de 29%.

César Felício - Michelle Bolsonaro e a esposa de Assuero

Valor Econômico

Porque Michelle Bolsonaro é estratégica na campanha de reeleição do marido

A pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta assinalou que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria hoje 32% dos votos de evangélicos e 47% da preferência total. No caso do presidente Jair Bolsonaro, o apoio no meio evangélico sobe para 49% e entre o público em geral, 32%.

O resultado mostra que evangélicos e não evangélicos parecem viver em mundos diferentes, um é o avesso do outro. No mundo evangélico quem está às portas da vitória no primeiro turno é Bolsonaro. Não há sinal mais eloquente para se constatar que neste segmento específico da população a decisão de voto é tomada de forma muito diferente do que no do restante da população.

Os evangélicos a si mesmos se denominam de rebanho, e os pastores desse rebanho, muitas vezes, recomendam o voto em Bolsonaro. É tentadora a explicação de que a preferência por Bolsonaro se deve a alguma espécie de obediência cega dos fiéis a guias como Edir Macedo, Silas Malafaia, bispo Waldomiro, apóstolo Estevam, reverendo R. R Soares e outros. Tão tentador quanto enganoso.

Claudia Safatle - Novo arcabouço fiscal preserva o teto

Valor Econômico

Tão logo seja conhecido o resultado das eleições, e, independentemente de quem vencer a disputa, espera-se disparar o debate sobre o novo modelo

Está tomando forma a proposta de um novo arcabouço fiscal para vigorar a partir de 2023. Elaborada por técnicos do Tesouro Nacional, esta é uma discussão pós-pandemia que ocorre no mundo todo e que, aqui, abre as portas para flexibilização do polêmico teto do gasto público. A lei do teto impede que a correção das despesas ano a ano supere a inflação, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

A proposta é de criar três faixas de parâmetro de dívida bruta do governo geral como proporção do PIB e, de acordo com a faixa, abrir possibilidade de aumentar o gasto. Uma das faixas seria a dívida estar abaixo de 60% do PIB, média do nível de endividamento dos países emergentes. Nesse caso, o governante poderia aumentar a despesa pública pela inflação mais 2% a 2,5% - percentual que equivale ao PIB potencial. Com as receitas e as despesas elevando-se, em termos reais, o equivalente ao crescimento da economia, o resultado primário ficaria constante, e a dívida, estável.

Ruth de Aquino - Os crimes de responsabilidade de Bolsonaro

O Globo

Na mira implacável de Alexandre de Moraes

Não faz muito tempo. Menos de um ano. O ministro Alexandre de Moraes, hoje comandante de nossas eleições, foi xingado abertamente, em discurso na Avenida Paulista, pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 7 de setembro de 2021. “Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. (...) Ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais. Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair. Ele tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha”. Um mês antes, em agosto, Bolsonaro pediu o impeachment do ministro.

É sempre bom lembrar. O Brasil teima em ter memória curta. Seja lá qual for a persona que o presidente assumir nesta reta de chegada até outubro, não podemos esquecer que enfrentamos quatro anos de crimes de responsabilidade, um após o outro. Xingar um juiz do Supremo e afirmar que não obedecerá ao Poder Judiciário é crime de responsabilidade. Reunir embaixadores, com verba pública, para mentir sobre as urnas eletrônicas e caluniar o próprio país é crime de responsabilidade. Vazar dados sigilosos de inquérito da Polícia Federal é crime de responsabilidade. Negar a gravidade da Covid-19, depreciar a máscara e as vacinas, promover remédio inútil e zombar do sofrimento das famílias é crime de responsabilidade. Associar a vacina da Covid à contaminação pelo vírus da Aids é crime de responsabilidade. Propagar fake news é crime de responsabilidade.

Flávia Oliveira - Chamar pelo nome

O Globo

Não é aceitável tratar como fake news ou marketing político a estratégia espúria de atrair votos via perseguição religiosa ou sacralização de candidaturas

Quatro décadas atrás, quando comecei a percorrer grandes distâncias da cidade de ônibus, faria diferença saber que importunação sexual batizava o constrangimento a que meninas e mulheres eram submetidas silenciosamente no transporte público. Seria encorajador nominar como assédio sexual as cantadas indesejáveis nos ambientes acadêmicos e corporativos. E libertador tratar como estupradores os que sequestravam infâncias e adolescências com abusos cometidos em igreja, escola, família, vizinhança. Ou apontar o racismo de quem não perdia a chance de chamar de macacos pessoas negras de todas as idades, dolosamente desumanizando-as. São todos termos ora enquadrados como crimes para coibir violações de direitos, ainda persistentes.