terça-feira, 1 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Decisão de Toffoli incentiva leniência com corrupção

O Globo

Sozinho, mais uma vez ministro anulou processos contra outro réu confesso da Operação Lava-Jato

Faz um ano que o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), vem anulando decisões da Operação Lava-Jato e de outras operações de vulto contra a corrupção em decisões individuais, com a anuência da maioria da Segunda Turma da Corte. A última, anunciada na semana passada, beneficiou Leo Pinheiro, ex-presidente da construtora OAS. Réu confesso, Pinheiro relatou propinas na Petrobras e as reformas no apartamento do Guarujá e no sítio de Atibaia que levaram aos processos, depois anulados, contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Toffoli acatou a versão da defesa, segundo a qual Pinheiro, condenado a mais de 30 anos de prisão, foi vítima de “ilegalidades processuais”. Sozinho, cancelou todas as ações contra ele. Tem sido esse o procedimento-padrão no desmonte da maior operação contra corrupção da História do Brasil. Nada de debate no plenário, nenhuma possibilidade de a população ouvir opiniões divergentes. É difícil pensar que isso contribua de algum modo para a confiança dos brasileiros no Judiciário.

Em setembro do ano passado, Toffoli invalidou as provas do acordo de leniência firmado pela Odebrecht (hoje Novonor). Tornou nulos todos os dados obtidos pelos sistemas de informação do “departamento de propinas” da empreiteira. Cinco meses depois, suspendeu o pagamento das multas. Em maio, anulou as decisões da Lava-Jato contra o também réu confesso Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira. Ele baseou seu despacho nas mensagens trocadas pelo então juiz Sergio Moro e integrantes do Ministério Público. Obtidas de forma ilegal, elas mostraram cooperação entre os responsáveis pela acusação e o juiz. A partir da decisão que beneficiou a Odebrecht, sabia-se que haveria uma avalanche de pedidos de condenados.

Merval Pereira - Voto útil

O Globo

Levantamentos preliminares indicam que a direita terá uma vitória importante no quadro nacional. A presença de Marçal, no entanto, vitorioso tanto quanto Tabata na esquerda mesmo que não vença, deixa o futuro incerto na direita

O voto útil, esse nosso velho conhecido nas eleições, responsável por tantas surpresas nas últimas campanhas eleitorais, volta a dar as caras nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro. A mais recente foi a vitória de Wilson Witzel para o governo do Rio. Para evitar que Romário pudesse ir para o segundo turno contra Eduardo Paes, muita gente pregou o voto útil em Witzel na ilusão de que seria derrotado no segundo turno com facilidade. Não contavam com a tempestade perfeita que vinha a reboque do fenômeno Bolsonaro naquele 2018, que transformou aquele juiz desconhecido em um fenômeno, passageiro felizmente.

Ao mesmo tempo que, no Rio de Janeiro, o reconhecimento de Ramagem como candidato apoiado por Bolsonaro o leva a melhorar de posição, em São Paulo os candidatos da direita dividem o eleitorado bolsonarista e caminham de maneira quase independente nos últimos dias de campanha, sem que o ex-presidente tente intervir.

À esquerda, também o presidente Lula se afasta da candidatura de Boulos, certo de que dificilmente terá chance de ver seu candidato vencer a disputa, mesmo que vá para o segundo turno. O problema da esquerda paulistana é não ter representante no segundo turno, o que seria uma derrota de grandes proporções. A disputa acirrada pelo segundo turno levou a que um grupo de artistas e intelectuais divulgasse texto defendendo o voto útil a favor de Boulos, para impedir que a direita leve seus dois candidatos ao segundo turno.

Míriam Leitão - O que já se sabe destas eleições

O Globo

As pesquisas das eleições municipais mostram que Bolsonaro não é um bom cabo eleitoral, mas o PT também não tem o que comemorar

A uma semana da eleição, já se pode afirmar que o ex-presidente Jair Bolsonaro não se revelou um grande eleitor. Em São Paulo, caso o candidato Ricardo Nunes vença, a vitória será atribuída ao governador Tarcísio de Freitas. Se ele perder, será debitado na conta de Bolsonaro, que não defendeu a candidatura e viu parte do seu eleitorado migrar para Pablo Marçal. No Rio, seu reduto eleitoral, o candidato apoiado pelo ex-presidente, Alexandre Ramagem, subiu, mas está na reta final com 20% dos votos. Essa é a visão do cientista político, Carlos Melo, do Insper. “Ele não sai dessa como grande eleitor, ele sai fragilizado até porque se for mantida a inelegibilidade, Bolsonaro não tem expectativa de poder.”

As pesquisas de ontem da Quaest mostraram que em Belo Horizonte, o candidato bolsonarista Bruno Engler cresceu, mas ainda está em segundo. No Recife, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado está com 11% numa eleição já decidida.

Luiz Gonzaga Belluzzo - Dívida pública: as garantias da maldição

Valor Econômico

Os catastrofistas de mercado esperneiam para promover a elevação da Selic

Não cessa a barulhenta inconformidade com a relação dívida/PIB. Na visão dos catastrofistas, o risco fiscal está associado a uma trajetória “insustentável” da dívida pública.

Não são poucos os que antecipam um calote na dívida do Estado. Calote? Seria devastador para a riqueza financeira privada, aquela que frequenta os balanços de bancos, fundos, gestoras de ativos e seus clientes do dinheirão e do dinheirinho.

Em sua trajetória secular, o capitalismo abriu espaço para o surgimento e desenvolvimento de instituições encarregadas de administrar a moeda e os estoques direitos - títulos de dívida e ações - que nascem de seu incessante movimento de criação e apropriação do valor.

No afã de se apropriar da riqueza, as criaturas do mercado estão submetidas à soberania monetária do Estado. O Estado é o senhor da moeda, mas os bancos, sob a supervisão e o controle do Banco Central, são incumbidos de atender à demanda de crédito das gentes privadas. Esse sistema complexo, em sua evolução, engendrou essa forma de criar dinheiro para dar início ao jogo do mercado. Os bancos apresentam-se como os agentes particulares do senhor da riqueza universal. Universal, porque a forma inescapável que deve denominar e mediar todas as negociações, transações e, sobretudo, marcar o valor da riqueza registrada nos balanços.

Luiz Schymura - O que pode estar por trás dos erros de previsão do PIB

Valor Econômico

Além das reformas de vulto, há políticas que vêm sendo trabalhadas sem muito alarde e que também trazem ganhos relevantes para a economia do país

Nos cenários apresentados pelos analistas de conjuntura econômica, um aspecto tem chamado a atenção da classe política e dos formadores de opinião: o erro sistemático na previsão do PIB. Ao se avaliar uma série, com dados a partir de 2020, de projeções decrescimento econômico no boletim Focus do Banco Central para o ano subsequente, é fácil constatar que as subestimações para o PIB são recorrentes e significativas.

Em dezembro de 2020, a média das expectativas apontava crescimento de 3,4% para o PIB de 2021. Todavia, a taxa efetivamente aferida ficou em 4,8%. No término de 2021, o cenário apontava apenas 0,4% de elevação para 2022, e acabaram acontecendo vistosos 3%. Já no encerramento de 2022, a perspectiva era de que 2023 vivenciasse um crescimento do PIB de somente 0,8%. No caso, a surpresa também ocorreu e foi bastante favorável, 2,9%. Por fim, no ano passado, havia o entendimento de que o PIB terminaria 2024 com uma expansão na casa de 1,5%. No entanto, as projeções já apontam para uma ampliação na faixa de 3%.

Maria Cristina Fernandes - Marçal e ‘bets’, faces da mesma moeda

Valor Econômico

Candidato do PRTB surfou na ilusão do dinheiro fácil e se valerá dela para enfrentar a crescente rejeição feminina

O voto envergonhado deu ao ex-presidente Jair Bolsonaro cinco pontos percentuais a mais do que a média das últimas pesquisas do segundo turno de 2022 registravam. O candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, pode vir a ser beneficiado pelo mesmo fenômeno, ainda que tenha ficado mais difícil para ele diminuir a rejeição feminina depois de dizer que é burrice votar em mulher.

Emulou seu apoiador, o fundador do grupo G4 Educação, Tallis Gomes, que pediu a Deus para livrá-lo de uma CEO mulher e sua própria esposa, Carolina Marçal, que, no seu livro, “A verdadeira força da mulher”, disse que a mulher é substituível na profissão mas não nos cuidados com o marido e os filhos. Até domingo, Marçal vai tentar tirar o voto envergonhado das mulheres do armário com suas armas habituais enquanto os adversários tentarão empurrá-lo de volta com a declaração do candidato no debate da Folha/Uol.

Eliane Cantanhêde - Ousadia ou delírio?

O Estado de S. Paulo

Marçal caiu de paraquedas na eleição de São Paulo, mas o céu é o limite para a sua ambição

Não se brinca com fogo, nem na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal, nem nas eleições para qualquer esfera de poder, mas a campanha de 2024 girou o tempo todo e continua girando até o fim em torno de um personagem como Pablo Marçal, como se não houvesse mais ninguém disputando em São Paulo e não tivesse eleição no Brasil inteiro. Isso é brincar com fogo.

Ninguém sabe exatamente como Marçal caiu de paraquedas na eleição para a principal capital do País. Nem como nem por que caiu, com quem e principalmente para o quê. Mas todo mundo já sabe que ele veio para tumultuar, confundir, provocar, mentir e… dar saltos ainda mais altos.

Carlos Andreazza - O direito xandônico

O Estado de S. Paulo

Por que multar a recém-nomeada representante legal do X, senão para intimidá-la?

O bloqueio ao X no Brasil continua. A empresa já tem representação regularizada; teve transferidos os milhões necessários ao pagamento de multa; cumpriu a ordem de bloqueio de contas na plataforma. E permanece fora do ar.

Permanecerá até quando Alexandre de Moraes quiser. O ministro já determinou algumas condições para o fim da censura. A cada semana, cria novas exigências, que se desdobram das precedentes. Está sempre faltando algo; lista extra – surpresa! – que conhecemos assim que cumpridas as demandas anteriores. Logo faltarão comprovante de residência e fotos 3x4.

Luiz Carlos Azedo - Febre de apostas tem freio de arrumação

Correio Braziliense

O governo corre atrás do prejuízo, depois de fazer vista grossa à jogatina digital, na expectativa de aumentar a arrecadação de impostos

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou, ontem, que até 600 sites de apostas on-line, as chamadas bets, serão banidos do Brasil nos próximos dias por irregularidades em relação à legislação aprovada pelo Congresso Nacional. Desde a semana passada, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) está fazendo um pente-fino para bloquear os sites. O ministro recomendou aos apostadores que retirem seu dinheiro o quanto antes. Haddad admitiu que a febre de apostas está "completamente fora de controle" e que os sites devem ter regulamentação, como acontece com o fumo e a bebida alcoólica.

Joel Pinheiro da Fonseca - O 'jogo do tigrinho' eleitoral

Folha de S. Paulo

Em meio a mentiras, sobra pouco espaço para Marçal falar da cidade

Numa eleição marcada por insultos e trocas de acusações, alguns se sobressaem como especialmente precisos. É o caso da comparação que Tabata Amaral lançou sobre Pablo Marçal: ele é o "jogo do tigrinho" da eleição.

Para quem não sabe, o "jogo do tigrinho" é um jogo de azar eletrônico que promete altas recompensas em dinheiro, mas que na verdade é programado para arrancar o máximo possível do jogador.

Todos os sinais apontam que é uma furada: por que uma empresa daria dinheiro fácil assim? É óbvio que ela vive de tirar dinheiro de quem é tolo o bastante para acreditar na promessa. O influenciador que te garante que o jogo paga bem recebe altas cifras para fazer esta propaganda —o jogo paga bem a ele! Todo mundo sabe disso. E, no entanto, o jogador acredita e aposta. Nas condições certas, o salto de fé parece uma chance de salvação. O resultado é previsível.

Hélio Schwartsman - O sobrevivente

Folha de S. Paulo

Netanyahu prolonga e amplia conflito para evitar responsabilização pelas falhas de segurança de seu governo

Não importa o que você pense de Binyamin Netanyahu, é preciso tirar o chapéu para sua capacidade de sobrevivência política. Nos dias que se seguiram ao ataque terrorista de 7 de outubro perpetrado pelo Hamas, a situação do premiê israelense parecia insustentável.

Se a democracia é o regime da responsabilização de dirigentes, as falhas de segurança sob seu governo eram grandes demais para ser ignoradas. O fracasso era duplo, operacional e na estratégia de como lidar com os palestinos.

Dora Kremer - 'Direitas' entram em cena

Folha de S. Paulo

A habitual divisão de grupos na esquerda agora também toma conta da direita

Brigas internas e divisões entre partidos sempre foram características da esquerda. Isso deu origem ao termo "esquerdas", falado como se houvesse mais de um lado esquerdo a se contrapor ao flanco direito.

Pois agora já se pode atualizar a imprecisão e permitir referência a "direitas". Junto à perda de inibição dessa banda em dizer seu nome em voz alta, surge nesse espectro ideológico o elemento da divisão.

Alvaro Costa e Silva - Guarda municipal armada

Folha de S. Paulo

A surpresa são eleitores do Rio, que dizem 'chega'

Atribuição dos governadores, a segurança pública se tornou literalmente a pauta-bomba das eleições. É citada como principal problema por moradores de 7 das 10 capitais mais populosas do país. Os candidatos a prefeito anunciam um mundo de paz, omitindo as limitações a que terão de se submeter. Eleitos, eles poderão ajudar, com as guardas municipais, na prevenção e proteção. Além de fazer o básico: conservação, limpeza e iluminação do patrimônio; instalação de vigilância tecnológica.

Poesia | Um dia você aprende, de William Shakespeare

 

Música | Noite Ilustrada & Quinteto Branco e Preto

 

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ataque a Hezbollah era necessário para conter ameaça

O Globo

Agora, para conter danos aos civis e obter reféns de volta, as partes devem buscar um cessar-fogo

Horas depois do monstruoso ataque terrorista do grupo palestino Hamas em 7 de outubro do ano passado, quando nem se sabia ao certo quantas centenas de pessoas haviam sido massacradas, sequestradas ou abusadas sexualmente, o grupo xiita libanês Hezbollah — responsável por dezenas de atentados terroristas em vários continentes, inclusive na América Latina – começou a bombardear o norte de Israel de suas bases no sul do Líbano. Foram lançados desde então mais de 10 mil foguetes, forçando o êxodo de 67.500 habitantes da região. Foi esse o motivo para Israel atacar o Líbano nas últimas semanas, começando com a explosão sincronizada de perto de 3 milhares de pagers usados para comunicação entre integrantes do Hezbollah e culminando com a morte de seu líder, Hassan Nasrallah, atingido por um ataque em Beirute enquanto participava de uma reunião no subsolo de um prédio residencial na sexta-feira.

A ofensiva israelense deixou milhares de feridos e centenas de mortos, entre eles as principais lideranças do Hezbollah, representantes do governo iraniano e, lamentavelmente, civis inocentes, inclusive dois brasileiros. Ao contrário de Israel, que dispõe de um sofisticado sistema de defesa antiaéreo capaz de interceptar mísseis e foguetes ainda no ar — testado em seu limite por um ataque iraniano meses atrás —, o Hezbollah opera, a exemplo de seu congênere Hamas, infiltrado na população civil libanesa, usada como escudo humano para dissuadir ataques. Só que o Hezbollah é mais sofisticado e poderoso que o Hamas. Seu arsenal, estimado entre 150 mil e 200 mil foguetes, lhe confere dez vezes o poder de fogo do grupo palestino. O Hezbollah também é dependente militar e financeiramente de Teerã, mas os vínculos são mais fortes. Como o Irã, professa a vertente mais extremista do fundamentalismo xiita, almeja a destruição de Israel e está em conflito aberto com os valores (e países) ocidentais há décadas. O Hezbollah usufrui um status especial no Líbano, que lhe permite, ao mesmo tempo, manter representação política e uma milícia própria, além de comandar bancos, fornecimento de energia e um sistema econômico paralelo.

Fernando Gabeira - Todos os tons do setembro amarelo

O Globo

Não existe perigo de o planeta acabar, mas sim de a vida humana tornar-se inviável nele

Começou o outono em Nova York. Estive concentrado na cidade porque os líderes mundiais falariam na ONU. E também porque minha filha Maya estava por lá. O que tem a ver uma coisa com a outra? O trânsito. Ela precisava se deslocar entre um e outro evento sobre defesa do oceano e fez uma curta viagem à Califórnia. Sofreu com as longas viagens de táxi.

Os discursos na ONU se sucediam indiferentes aos pequenos transtornos urbanos. Imagino aquele prédio como um imenso transatlântico com seus oradores navegando num mar tempestuoso, repleto de icebergs.

Ouço uma voz em português de nosso presidente advertindo para a catástrofe climática. Soa sensato, mas, a 8 mil quilômetros de distância, o que sentimos ainda é o calor do fogo, o cheiro de fumaça. Estamos destruindo o planeta com regularidade, sem discriminação.

O outono começa por lá. Por aqui o inverno acabou. Ainda restam algumas folhas de amendoeira não recolhidas na Rua Almirante Saddock de Sá.

Preto Zezé - Rumo às urnas

O Globo

É preciso diferenciar a politização fácil das redes de discursos realmente conectados com a realidade

Com quase 20 milhões de pessoas, as favelas representam uma fatia importante a ser disputada pelos candidatos no próximo pleito. O futuro está nas mãos dessas populações, mais lembradas em tempos de eleição. Como dizia um professor meu:

— Favelado fica mais importante em época de eleição.

O favelado enfrenta dificuldade para participar da política. Há uma visão equivocada de que todos votamos nos mesmos candidatos.

A política tem sido a maior invenção de transformação social. Quando se participa dela, descobrem-se os caminhos dos espaços de poder e decisão. Com o advento das redes sociais, os excluídos, por um lado, ganharam voz, mas, por outro, viraram presas fáceis para todo tipo de aproveitador.

Os debates e apresentações são cada vez mais teatrais, buscando a espetacularização ou até ridicularização da política. Não há espaço para propostas sérias. Tudo parece girar em torno de curtidas que se convertem em votos.

Lygia Maria - Vícios sem paternalismo estatal

Folha de S. Paulo

Seja no caso das bets ou das drogas, poder público deve escolher o melhor problema, ou seja, o mais manejável com os recursos escassos disponíveis

O gasto de R$ 3 bilhões em apostas online (bets) por beneficiários do Bolsa Família inflamou o debate público.

Produtos que causam externalidades negativas —como dependência física ou psicológica— tendem a ser tratados, pelo Estado e pela sociedade, por um viés moralista que incita medo. A consequência são políticas paternalistas e punitivistas que, geralmente, não apenas não contêm o problema como ainda o pioram.

guerra às drogas é o exemplo clássico. Quaisquer prejuízos que o consumo de maconha ou cocaína possam causar nem sequer chegam perto dos efeitos nefastos da proibição, como o monopólio pelo crime organizado, as disputas entre cartéis do tráfico e suas facções, a violência urbana que atinge sobretudo a população mais pobre e a corrupção policial e do sistema de justiça.

Ana Cristina Rosa - A marca das eleições municipais 2024

Folha de S. Paulo

A violência política mingua a democracia, e as condenações são irrisórias

Entre cadeirada, soco, cusparada, intimidações, ataques e ameaças de morte, a violência política tornou-se a marca das eleições municipais de 2024.

A menos de uma semana para o primeiro turno do pleito (no dia 6 de outubro), é difícil encontrar quem não saiba de alguma ofensiva criminosa contra postulantes a prefeituras ou câmaras de vereadores pelo país.

O caso mais estarrecedor foi transmitido ao vivo pela televisão e envolveu dois homens na disputa pelo comando da maior cidade da América Latina.

Mas, para além do matiz ideológico, gênero e raça têm servido de agravantes da violência política, fazendo das mulheres (em especial as negras) o principal alvo.

Camila Rocha - Mais de 1 milhão passam fome em São Paulo

Folha de S. Paulo

Assunto de vários níveis de governo parece ter pouco espaço em meio a debates eleitorais superficiais

Mais da metade da população da cidade de São Paulo possui algum grau de insegurança alimentar. É o que afirma a pesquisa intitulada "I Inquérito sobre a Situação Alimentar do Município de São Paulo", realizada neste ano por duas universidades paulistas, a Unifesp e a UFABC.

Segundo o estudo, divulgado em 20 de setembro, 12,5% dos moradores da cidade, cerca de 1,4 milhão de pessoas, experimentam insegurança alimentar grave. Ou seja, passam fome. A maioria (72%) vive nas periferias e é de trabalhadores informais (52%), principalmente mulheres que trabalham como faxineiras e diaristas (34%).

Marcus André Melo - Faoro, a túnica centralizadora e o STF

Folha de S. Paulo

O combate à corrupção é promessa não realizada da democracia

As decisões monocráticas de Dias Toffoli anulando provas inequívocas de corrupção envolvendo a OAS, e de Ricardo Lewandowski, ex-juiz do Supremo e agora ministro da Justiça, viabilizando nomeações na Petrobras, ao arrepio da Lei das Estatais, nos fazem lembrar a frase com que Faoro conclui Os Donos do Poder: "nossa sociedade –'um esqueleto de ar'— está coberta pela 'túnica rígida do passado inexaurível, pesado, sufocante'. E este passado é, em larga medida, o passado da impunidade e do estatismo intervencionista, ao qual está umbilicalmente interligado".

A Nova República foi inaugurada sob a consigna do combate à impunidade: "A corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune toma nas mãos de demagogos que a pretexto de salvá-la a tiranizam. Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública". As palavras de Ulysses Guimarães, em seu discurso de promulgação da Constituição de 1988, atestam a centralidade que a questão assumira na agenda pública. E não podia ser diferente, pois a corrupção e a impunidade são faces da mesma moeda: abuso de poder. Na democracia ele não tem a visibilidade da violência e do arbítrio sob o autoritarismo; mais suave, é mais insidioso.

Carlos Pereira - Usurpação individual ou delegação?

O Estado de S. Paulo

Muito do que parece arroubo individual de um ministro do STF pode ser, na realidade, apenas delegação

Fica cada vez mais claro que o Judiciário tem exercido um papel proeminente na política brasileira. A maioria das interpretações deste fato, entretanto, se baseia quase que exclusivamente na perspectiva da personalidade individual de um juiz ou de um ministro do STF. Como se o protagonismo do Judiciário fosse consequência direta de características pessoais ou de um estilo próprio de atuação de alguns de seus membros, e não de elementos institucionais.

Na direção contrária a essas interpretações de enfoque individual, especificamente em relação ao desempenho arrojado do ministro Alexandre de Moraes, o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, argumentou que Moraes “tem tido condição de fazer esse papel porque essa é uma visão majoritária no Supremo”. “Portanto, não é uma coisa personalista, nem monocrática. Reflete um sentimento coletivo de proteção da democracia. É claro que cada um, quando conduz um inquérito, conduz com as características da sua personalidade, mas há uma institucionalidade por trás.”

Marcelo de Azevedo Granato - Marçal é sintoma de uma sociedade sem esperança

O Estado de S. Paulo

Onde um personagem com essas características pode florescer, se não num ambiente de desesperança na vida comunitária e na ação conjunta dos cidadãos, ou seja, na política?

O entusiasmo em torno da figura de Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo quando da redação deste texto, tem algo de paradoxal. Afinal, é um entusiasmo que parece florescer não na esperança, mas na desesperança dos seus adeptos quanto à ação política.

Assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro, Marçal se declara antissistema. Também como Bolsonaro, que teve sua candidatura à Presidência em 2018 viabilizada pelo então inexpressivo Partido Social Liberal (PSL), Marçal se candidata à Prefeitura paulistana pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), comandado até 2021 pelo falecido Levy Fidelix, proponente do “aerotrem”.

Ao contrário de Bolsonaro, porém, Marçal é realmente um outsider. O ex-presidente, como se sabe, vive da política há cerca de 30 anos. Ele próprio confirma sua procedência: “Eu sou do Centrão (...), eu nasci de lá” (22/7/2021).

Bruno Carazza - Para onde vai o maior fundão da história?

Valor Econômico

Prestação de contas mostram distorções das eleições municipais mais caras desde a redemocratização

Há quatro anos, Eduardo Paes (PSD) conquistou a prefeitura do Rio de Janeiro gastando R$ 11,2 milhões do fundo eleitoral (valores atuais). Em busca da reeleição, ao que tudo indica em primeiro turno, o atual prefeito recebeu até o momento R$ 21,3 milhões de seu partido - ou melhor, do contribuinte brasileiro.

O Congresso Nacional decidiu que o fundo eleitoral deste ano será de R$ 4,9 bilhões, o maior da história. Quatro anos atrás, o valor foi de R$ 2,035 bilhões - corrigido pelo IPCA, isso daria R$ 2,65 bilhões em dinheiro de hoje.

Ou seja, sem nenhuma justificativa plausível, os deputados e senadores (com a conivência de Lula, que não vetou a proposta) elevaram o volume de recursos públicos nas campanhas eleitorais em praticamente 85%.

Sergio Lamucci - O mercado de trabalho e a política monetária

Valor Econômico

O nível alto dos juros e uma inflação não explosiva recomendam cautela no aumento dos juros; incertezas fiscais, porém, são entraves à elevação moderada da Selic

A força do mercado de trabalho impressiona. A taxa de desemprego segue em queda, a população ocupada está em nível recorde, a criação de empregos no mercado formal continua forte e a massa de rendimentos cresce a um ritmo expressivo. Ao lado das transferências de renda do governo, esse desempenho é um dos motivos que fazem do consumo das famílias um dos principais motores do crescimento do PIB. Na outra direção, o endividamento elevado breca uma expansão mais forte da demanda.

Com essa pujança, o comportamento do mercado de trabalho é uma das justificativas do Banco Central (BC) para ter começado o ciclo de alta da Selic neste mês. No entanto, o nível já alto dos juros e uma inflação que não é explosiva, ainda que as expectativas estejam relativamente distantes da meta de 3%, recomendam cautela no aumento da taxa, para evitar uma dose excessiva de aperto monetário. Um problema é que as incertezas sobre as contas públicas continuam altas, o que impede uma queda mais forte do dólar, apesar do aumento da diferença entre os juros no Brasil e no exterior. Isso conspira contra uma subida mais moderada da Selic.

Poesia | Brisa, de Manuel Bandeira

 

Música | Marisa Monte e Adriana Calcanhoto - Beijo sem

 

domingo, 29 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Liderança global de Lula entrou em declínio

O Globo

Passagem por Nova York mostra que passou o tempo em que o presidente encantava as plateias

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez o possível na semana passada para se projetar como liderança global em Nova York. Discursou na abertura da Assembleia Geral da ONU, participou de reunião do G20, disparou críticas contra seus desafetos Benjamin Netanyahu e Volodymyr Zelensky, manteve encontros bilaterais com Pedro Sánchez, Cyril Ramaphosa e Gustavo Petro, defendeu reformas na governança global e foi conversar até com representantes de agências de risco, na tentativa de melhorar a nota do Brasil.

Não dá para negar seus esforços. Mas Lula está longe de alcançar os resultados que gostaria. A verdade é que, em seu terceiro mandato, ele é conhecido no exterior, mas não é mais o líder popular que já foi um dia. Um termômetro disso é uma pesquisa recente do Pew Research Center, com dados recolhidos entre janeiro e abril em cinco países da América Latina: ArgentinaChileColômbiaMéxico e Peru. Os resultados mostram que é baixa a confiança latino-americana em Lula fazer o que é certo em termos de política externa. Nem no próprio continente ele consegue atrair a simpatia da maioria.

Os que mais confiam em Lula são os argentinos (das respostas, 40% foram positivas e 49% negativas). Os mais críticos são os chilenos (62% de respostas negativas), seguidos de mexicanos (60%), peruanos (55%) e colombianos (53%). As respostas são coerentes com a inclinação recente à direita na América do Sul, marcada pela ascensão do argentino Javier Milei à Casa Rosada. Em relação ao Brasil, em contraste, a percepção é positiva. Os argentinos têm a visão mais favorável do país (59% de respostas positivas), seguidos de peruanos (58%) e colombianos (55%) A pesquisa também foi feita nos Estados Unidos. Os americanos são mais reticentes com relação ao Brasil que os latino-americanos: 47% têm imagem favorável e 46% desfavorável.

Merval Pereira - A divisão da direita

O Globo

Desunida, a direita pode ter dificuldade de chegar ao poder em 2026, a não ser que Bolsonaro possa disputar a eleição

É possível que São Paulo tenha dois candidatos de direita no segundo turno? As pesquisas eleitorais mostram que essa hipótese existe, embora menos provável do que uma disputa entre o prefeito Ricardo Nunes e o psolista Guilherme Boulos. Em Goiás, também a direita está dividida entre o candidato do governador Ronaldo Caiado, a quem Bolsonaro chamou de covarde recentemente, e o do ex-presidente.

Ao que tudo indica, a direita brasileira dará uma demonstração de força no próximo fim de semana, mas também de divisão, o que pode dificultar a chegada ao poder em 2026. A não ser que Bolsonaro, por um golpe de mágica jurídica que costuma acontecer entre nós, possa disputar a eleição. Nesse caso, a direita e a extrema direita se unirão em torno de seu nome, e esse é um fenômeno que pode fazer com que a direita tradicional seja fagocitada.

Hoje, existem vários candidatos disputando o direito de ter o apoio de Bolsonaro para ser o candidato da direita na próxima eleição presidencial, todos pisando em ovos para não irritar o líder, que, assim como Lula fez com a esquerda em 2018, não pretende abrir mão da sua prerrogativa enquanto não se esvanecer a última esperança de concorrer. Assim como aconteceu naquela ocasião, a direita perderá tempo discutindo quem é o herdeiro de Bolsonaro, com a peculiaridade que todos, com exceção de um, são de centro-direita e se veem induzidos a radicalizar para agradar ao chefe.

Míriam Leitão - Direita perdida e elite inculta

O Globo

A direita virou um satélite de extremistas, a elite não encontrou o rumo da atualidade, isso coloca em risco o projeto de país

A direita dividiu-se nessa eleição com conflitos de fazer sombra à sempre dividida esquerda. Jair Bolsonaro em cima de um palanque berrou duas vezes que Ronaldo Caiado é um governador covarde. O sócio de Pablo Marçal deu um soco no publicitário de Ricardo NunesOs 20% dos eleitores paulistanos que se dizem bolsonaristas entregam 48% de intenção de votos a Marçal e 39% a Nunes, segundo o último Datafolha. A Faria Lima, que administra o dinheiro poupado da classe média e dos ricos, se inclina por um candidato que não tem uma única ideia de como administrar a maior cidade do país. Um empresário dono de startup de educação para gestores diz que mulher não pode ser CEO. O agro tecnológico nada faz para se separar da lavoura arcaica. Vivem juntos.

Murillo de Aragão - A degradação da política

Revista Veja

Eleição em São Paulo evidencia a mediocridade dos candidatos

As eleições municipais da cidade de São Paulo têm se revelado um verdadeiro teatro do absurdo, evidenciando a mediocridade dos candidatos. Algo que deveria causar profunda indignação, considerando que estamos falando da cidade mais importante do Hemisfério Sul.

Os sucessivos debates entre os concorrentes à prefeitura, ao invés de promoverem discussões profundas sobre os problemas estruturais da maior metrópole do país, foram desviados por episódios lamentáveis, como a cadeirada do candidato José Luiz Datena (PSDB) no adversário Pablo Marçal (PRTB) e, mais recentemente, o soco desferido por um assessor de Marçal no marqueteiro do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Esses eventos não são meramente incidentes isolados. São sintomas de uma crise mais profunda na política brasileira. A mediocridade dos candidatos não apenas reflete a degradação do debate público, mas também aponta para um estágio alarmante da política nacional.

Dorrit Harazim - Guerra sem paz

O Globo

As intermináveis rodadas de negociações quadripartites acabam implodidas por novas exigências de Netanyahu

A História registra anos em que a Humanidade é forçada a se fazer perguntas. Em 2001, o mundo que testemunhou o ruir das Torres Gêmeas deixara de ser compreensível, e ficamos atarantados por um bom tempo. Outros anos da História exigem respostas, dão início a uma era de urgência, e 2024 parece elencado a ocupar esse papel. Estamos falando, é claro, da guerra sem paz no Oriente Médio.

Em seu aguardado discurso no plenário da ONU, na sexta-feira, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tonitruou certezas por mais de meia hora. Orador eloquente, de sua boca não se ouviu uma única vez a palavra “cessar-fogo”. “Palestinos” só frequentaram en passant seu discurso de 3.979 palavras. Tal qual o solitário peixe-dourado que, embora aprisionado num minúsculo aquário, acredita estar nadando no oceano, Netanyahu deu braçadas múltiplas sem sair do lugar. Um lugar fincado na força.

Eliane Cantanhêde - Aos amigos, tudo!

O Estado de S. Paulo

STF bombardeia a Lava Jato até não sobrar um tijolo, prisão, condenação e... multa

Na sexta-feira à noite, no escurinho do cinema, o ministro do STF Dias Toffoli lançou mais uma bomba, em meio à decisão de Alexandre de Moraes sobre a volta do X, eleições na reta final, o debate crescente sobre os riscos das bets e o ataque de Israel à capital do Líbano: a anulação de todos os processos contra Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira OAS.

Ex-advogado do PT, Toffoli foi nomeado para o Supremo nos primeiros mandatos do presidente Lula, mas votou contra o partido na época da Lava Jato, impediu Lula de sair da prisão para ir ao velório do irmão e agora se açoita anulando condenações e multas da Lava Jato. Uma reviravolta e tanto, ou um pedido de perdão?

Bruno Boghossian - A próxima guerra pelo Senado já começou

Folha de S. Paulo

Esquerda traça sua estratégia para reagir a plano de captura da Casa pelo bolsonarismo

José Dirceu fez uma curva fechada. Em 2018, o ex-ministro afirmou que a esquerda precisava de maioria no Congresso para implementar um "programa radical". Anos mais tarde, lançou um diagnóstico mais realista e disse que Lula havia formado "um governo de centro-direita" ao voltar ao poder. Agora, ele vê necessidade de ir mais longe.

Dirceu diz que a esquerda deve estar preparada para apoiar candidatos de direita ao Senado nas eleições de 2026. Em entrevista a Mônica Bergamo, o ex-ministro petista disse que será preciso seguir esse caminho em alguns estados para "evitar que haja uma maioria de extrema direita" na próxima legislatura. "Estamos preocupados", reconheceu.

Luiz Carlos Azedo - A milionária disputa pela Câmara de São Paulo

Correio Braziliense

Além da acirrada disputa pelo controle da Prefeitura de São Paulo, há uma milionária campanha pelo controle da Câmara Municipal da capital paulista

Além da acirrada disputa pelo controle da Prefeitura de São Paulo, na qual despontam o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, Guilherme Boulos (PSol) e Pablo Marçal (PRTB), há uma milionária campanha pelo controle da Câmara Municipal da capital paulista. São 55 vagas de vereadores, das quais 52 são pleiteadas pelos atuais mandatários. Independentemente de quem ganhar a eleição, a Câmara de São Paulo deve sair das mãos do atual presidente, Milton Leite (União Brasil), que assumiu seu primeiro mandato como vereador na Câmara de São Paulo, em 1997, durante a gestão de Celso Pitta

Sete prefeitos já passaram pela cidade, Milton Leite nunca fez oposição. Poderoso, no sexto mandato de presidente da Câmara, após mudar o regimento da Casa para permitir três sucessivas reeleições, Leite não se candidatou e decidiu apoiar dois candidatos na sua base: Silvio Antônio de Azevedo, o Silvão, seu chefe de gabinete, e Silvio Pereira dos Santos, o Silvinho, chefe de gabinete da subprefeitura de M'Boi Mirim. O primeiro recebeu R$ 3.565.826,79 de fundo eleitoral; o segundo, R$ 3.571.246,14.