Valor Econômico
Câmara abriu sessão com uma pauta cheia de
assuntos irrelevantes
A potestade do cargo é o principal ativo que
os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP), têm para negociar com os parlamentares que
bloqueiam desde terça-feira as duas Casas do Congresso, exigindo a votação do
tal “pacote da paz”. Demoraram muito, mais de 24 horas, para exercerem o peso
de suas cadeiras.
Esse poder só começou a ser exercido na noite de quarta. Somente às 22 horas Hugo Motta conseguiu retomar, de forma precária, o controle da Casa que preside. O motim bolsonarista teve início na terça. As notas de Alcolumbre e Motta divulgadas na ocasião, em vez de esvaziarem a crise, insuflaram-na. Na sua nota oficial de terça, Alcolumbre disse logo na segunda linha que “a ocupação das mesas diretoras das Casas, que inviabilize (sic) o seu funcionamento, constitui exercício arbitrário das próprias razões”. Alcolumbre criticou os bolsonaristas, mas admitiu que a manobra extremista atingia um de seus objetivos, inviabilizar o andamento do Congresso Nacional.
De forma concomitante, Motta publicou o
seguinte: “Determinei o encerramento da sessão do dia de hoje e amanhã [quarta]
chamarei reunião de líderes para tratar da pauta”. Pauta que já havia sido
definida na semana anterior.
Motta e Alcolumbre poderiam ter aberto sessão
de forma remota, ou realizá-las dentro do Congresso, em outro ambiente fora dos
plenários, ou acionar a Polícia Legislativa, já que a tropa bolsonarista que
ocupou as mesas não se tratava naquele instante de uma multidão. Não fizeram
nada disso em um primeiro momento.
O carnaval se instalou ao longo da
quarta-feira. Houve parlamentar que se deixou fotografar acorrentado,
amordaçado, exibindo tornozeleira eletrônica, recitando bordões em jogral, etc.
Eram poucos, e foram capazes de parar Câmara e Senado, uma proeza. Acertadamente
comemoraram nas redes sociais. O episódio mais emblemático foi protagonizado
pela deputada Júlia Zanatta (PL-SC), que levou a filha de quatro meses de idade
no colo para ocupar a cadeira de Motta e impedir os trabalhos da Câmara.
O grande “stand up” dos bolsonaristas teve um
espetáculo à parte no Senado: “a coleta de assinaturas” para o pedido de
impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Não há nada disso na lei. De
acordo com a norma, cabe à Mesa do Senado receber a denúncia ou não, apenas isso.
Uma montanha de assinaturas só tem efeito simbólico, não formal.
No início da noite de quarta, Motta e
Alcolumbre despertaram para a ameaça que a crise trazia para a posição que
ocupam. Se presidente da Câmara ou do Senado não controlam a pauta, não controlam
mais nada. Alcolumbre convocou para hoje uma sessão virtual, por meio de uma
nota muito mais dura do que a da véspera: “Não aceitarei intimidações nem
tentativas de constrangimento à presidência do Senado. O Parlamento não será
refém de ações que visem desestabilizar seu funcionamento”, consignou.
Motta decidiu abrir sessão, e descrever o
clima como tenso é minimizar o que se passou. A contra-ofensiva só começou
depois que o presidente da Câmara teve endosso dos líderes para ameaçar a
suspensão do mandato dos deputados sublevados. Só teve força para abrir os
trabalhos e encerrá-los em 18 minutos. Gastou o tempo pedindo calma e ameaçando
acionar a Polícia.
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