sábado, 11 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais /Opiniões

Guerra aberta

Por  Revista Será?

Na guerra aberta entre o Congresso (leia-se, Centrão) e o Executivo (leia-se, presidente Lula), a vítima é o Brasil. Enquanto eles brigam para ver quem gasta mais e onde apertam os calos, os brasileiros colherão os frutos podres de uma economia que se arrasta e de um Estado capenga.

A Câmara dos Deputados decidiu, ontem, retirar de pauta a Medida Provisória 1.303, que ampliava impostos para tapar um buraco no Orçamento de 2026, com o objetivo de cumprir as metas definidas pelo Arcabouço Fiscal. Sob o argumento de que “o Brasil não aguenta mais aumento de imposto” para financiar mais gastos do governo em ano eleitoral, a oposição se uniu para derrotar o projeto e fragilizar o presidente Lula da Silva diante das próximas eleições.

Em resposta, o governo defende a elevação da receita com “impostos sobre os ricos” para cobrir despesas voltadas aos pobres, retomando a velha polarização entre pobres e ricos. Nesta disputa, ambos os lados estão errados, e seus argumentos são falaciosos. Cada um utiliza o interesse da sociedade como biombo para esconder seus próprios interesses políticos — e os dos grupos que os sustentam.

Há uma percepção geral de que é necessário e urgente reduzir as despesas primárias, tanto para evitar uma crise fiscal aguda nos próximos anos quanto para preservar o próprio Arcabouço Fiscal. O ministro Fernando Haddad concorda com esse diagnóstico e tem feito um esforço sincero para rever gastos públicos e equilibrar as contas. Enfrenta, porém, duas dificuldades.

A primeira, e mais grave, é o apetite gastador do presidente da República e de sua base política, que não aceitam ajustes e ainda pretendem ampliar despesas e lançar novos programas sociais — uma generosidade que não cabe no orçamento e que, em última instância, tem propósito eleitoral.

A segunda é o obstáculo real da rigidez estrutural do orçamento, que restringe os espaços para cortes com resultados rápidos e sem desgaste político. A solução mais fácil e imediata é o aumento de impostos, embora o Brasil já suporte uma das maiores cargas tributárias do mundo.

Diante da derrota na Câmara dos Deputados, o governo Lula devolve a responsabilidade aos parlamentares, que controlam cerca de 50 bilhões de reais do orçamento da União (metade das despesas discricionárias do Executivo) por meio das emendas parlamentares. Como a Medida Provisória pretendia arrecadar 20,9 bilhões, os deputados e senadores poderiam, em tese, ceder metade de suas cotas. Mas não vão ceder — e o governo já antecipou que cortará parte dessas emendas, podendo chegar a 10 bilhões de reais.

A escalada do conflito entre o Centrão e o presidente Lula antecipa a polarização e as tensões que dominarão o cenário das próximas eleições. E, mais uma vez, a vítima será o Brasil.

Nosso amargo legado. Por Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Sem mudanças profundas nas instituições, mentalidades e comportamentos, a perspectiva será um crescimento econômico médio anual de 2,5%

De onde menos se espera – assim reza o ditado popular – é que não vem mesmo nada. Essa é uma das conclusões que poderíamos extrair do excelente texto intitulado Sistema disfuncional, publicado neste espaço pelo jurista Miguel Reale Júnior (4/10, A6). Eis como ele sintetiza sua reflexão sobre nossa trajetória política desde o começo da República: “O presidencialismo sem freios e contrapesos redundou num sistema de irresponsabilidade, gerador de conflitos entre (os) Poderes”.

O discurso de Lula. Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O governo requentador e reativo agora tem marca e discurso. Nada a ver com ser verdadeiro, bem antes com capacidade de convencer e engajar. O Planalto, longamente acuado, botou na frente – já ao fim do terceiro ano de mandato – e se tornou pauteiro do debate público. Lula, sem nunca ter sido carta fora do baralho, passou a distribuir as cartas, afinal senhor de fórmula que justifica o financiamento à sua gastança e acossa – criminaliza mesmo – a oposição que não lhe quer facilitar a vida.

Centrão e bolsonarismo, o fim do amor. Por Thaís Oyama

O Globo

Como na casa em que falta pão todos ralham e ninguém tem razão, o ex-casal perfeito começou a brigar em público

“Dinheiro compra até amor verdadeiro.” A frase, do escritor Nélson Rodrigues, se aplicou perfeitamente à união do bolsonarismo com o Centrão na metade final do governo Jair Bolsonaro. Sendo o bolsonarismo um autointitulado crítico do “sistema” e o Centrão a personificação do próprio, era de esperar que jamais se atraíssem. Mas, como tantas relações inusitadas, essa vingou por dar aos envolvidos vantagens mútuas — ao governo ameaçado pelo impeachment, a sobrevivência; ao Centrão voraz, as boas coisas da vida —, além de glória, poder e jatinhos, uma rica coleção de siglas, do tipo Codevasf, BNB e FNDE. Assim, salvo o governo Bolsonaro e ornado de joias o Centrão, viveram ambos felizes — até que o dinheiro acabou. Bolsonaro perdeu a eleição, ganhou processos, foi preso. O Centrão perdeu cargos (nem todos, claro), levou o fardo de ter apoiado um presidente golpista e viu integrantes obrigados a passar ao árido terreno da oposição. Como na casa em que falta pão todos ralham e ninguém tem razão, o ex-casal perfeito começou a brigar em público.

Onde você mora. Por Flávia Oliveira

O Globo

A falta de endereçamento atrapalha o acesso a serviços de saúde, educação e políticas sociais

Foi nos anos 2010 que as organizações Redes da Maré e Observatório de Favelas provocaram o poder municipal pela organização cartográfica da Maré. A partir de foto fornecida pelo Instituto Pereira Passos, espécie de IBGE carioca, demarcaram limites, avenidas, ruas, becos e vielas das 16 favelas que formam o bairro, reconhecido como tal em 1994 pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Só então as comunidades puderam, literalmente, entrar no mapa da capital fluminense. O Guia de Ruas da Maré 2012 identificou cerca de 900 logradouros; um quarto não tinha Código de Endereçamento Postal (CEP), a combinação numérica que identifica áreas geográficas para localização rápida e eficiente.

Saudade do Brasil. Por Eduardo Affonso

O Globo

Assim como todo muçulmano deve ir a Meca pelo menos uma vez na vida, todo brasileiro deveria peregrinar a Brasília

Assim como todo muçulmano deve ir a Meca pelo menos uma vez na vida, todo brasileiro deveria peregrinar a Brasília. Talvez na adolescência, quando há picos de estrogênio, testosterona e idealismo. Jamais na primeira infância (não vai se lembrar), na senectude (vai esquecer) ou na época da seca (vai voltar com as narinas áridas, feridas, como as minhas).

Dois rochedos no caminho. Por Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Finalmente, ao menos por algum tempo, um sopro de vida percorre as sociedades israelense e palestina

Netanyahu transformou o veto a um Estado Palestino na sua razão política de existir

As bombas já não caem sobre Gaza. Reféns israelenses e prisioneiros palestinos, todos alquebrados, retornam a suas famílias. Triunfou a primeira etapa do plano de paz de Trump, mas a paz segue distante. No mapa sinuoso que conduz a ela, destacam-se dois rochedos íngremes. O primeiro, que já se avista, é a exigência de deposição das armas do Hamas. O segundo, lá longe, no fim do caminho, é o acordo de autodeterminação estatal palestina.

MP escala guerra entre bancões e fintechs. Por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Frebaban sobe o tom e ataca empresas digitais, que falam em tributação mais alta

O que se espera é que a população de baixa renda não seja a grande prejudicada pela disputa aberta

A guerra nos bastidores entre os bancos e as fintechs ficou escancarada com o enterro pela Câmara da polêmica MP do aumento de impostos. Desde o ano passado, o clima já vinha tenso em meio às discussões com o Banco Central sobre a reformulação do FGC, o fundo formado com recursos aportados pelas instituições financeiras que dá garantias aos aplicadores em caso de quebra e liquidação dos bancos.

Inimigo do povo. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Petismo reage a derrota em MP dos impostos emulando discurso da antipolítica

Parlamentos surgiram historicamente para controlar gastos de governantes

Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente entre outras razões porque, naquele 2022, representava a união de forças democráticas contra um adversário que já escancarara seus ímpetos autoritários. Não que Lula e o PT tenham sido sempre baluartes da elegância republicana, mas jogam dentro das quatro linhas da Constituição, o que Bolsonaro não fazia.

Não importa o que digam as pesquisas eleitorais hoje, o próximo pleito deverá ser, como o anterior, uma disputa apertada. É do interesse de Lula, portanto, seguir cultivando a imagem de democrata dedicado.

A química e o café. Por Sérgio C. Buarque

Revista Será?

O que Trump fala não vale um cent de dólar. Até porque, ele é impulsivo e parece ser muito mal-informado sobre vários assuntos e, mais ainda, sobre países da segunda linha das potências mundiais, entre os quais, o Brasil. Tudo indica que ele não conhece o Brasil, tem vaga ideia sobre o maior país da América Latina e deve achar que não precisa de nada além de suas suspeitas para tomar decisões. Como ele se considera um ser superior que, além do mais, é o “dono” da nação mais poderosa do planeta, não importa muito o que diz, o que pensa e o que faz em relação a uma “república de bananas” da América Latina.

Quem são os inimigos do povo. Por Tibério Canuto

A palavra de ordem do PT e do governo Lula — “Congresso inimigo do povo” — é um desserviço à democracia. Ao alimentar o discurso da antipolítica, ajuda a enfraquecer as próprias instituições que sustentam o regime democrático. Foi nesse caldo de antipolítica que nasceram figuras como Bolsonaro. Mussolini, décadas antes, também foi um filho legítimo desse mesmo fenômeno.

Além disso, a acusação é injusta. O Congresso que hoje os lulistas apontam como “inimigo do povo” aprovou, em pouco mais de dois anos e oito meses, medidas centrais para o governo: o novo arcabouço fiscal, a reforma tributária, a taxação dos fundos exclusivos, a política de valorização do salário mínimo, a reoneração parcial dos combustíveis, o novo PAC, a retomada do Minha Casa, Minha Vida, a política de igualdade salarial entre homens e mulheres, o novo Carf e o programa Pé de Meia.

Reforma Administrativa Já! Por Marcus Pestana

Em boa hora, o Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (REP/PB), constituiu o Grupo de Trabalho da Reforma Administrativa, liderado pelo competente deputado carioca Pedro Paulo (PSD/RJ), que tem o foco de seu mandato nas questões econômicas e da gestão pública.

Há muito o Congresso Nacional assumiu o    protagonismo das reformas estruturantes. Antes, a iniciativa e a comando do processo pertenciam sempre ao Executivo. A partir do governo de Michel Temer, um ensaio parlamentarista, o eixo se deslocou para o Congresso. Acompanhei de perto como, sob a liderança de Rogério Marinho (PSDB/RN) e Rodrigo Maia (DEM/RJ), transformamos um projeto de Lei do Executivo de apenas quatro artigos - dispondo simplesmente que o negociado prevaleceria sobre o legislado – na superação da CLT, importante conquista da era Vargas, mas completamente defasada em relação às demandas do mundo contemporâneo.

Lula e o Brasil real. Por Renato Meirelles

CartaCapital  

A virada política da justiça tributária

Nos últimos meses, algo se moveu na política brasileira. E, pela primeira vez em muito tempo, foi para cima. O presidente Lula voltou a crescer em popularidade, não apenas por causa de Donald Trump ou porque o vento mudou, mas porque aprendeu a soprar na direção certa. O segredo? Misturar justiça tributária com um toque de dramaturgia política. Deixar claro quem paga a conta e quem finalmente vai respirar aliviado.

Trunfos eleitorais. Por Carlos Drummond

CartaCapital

Real forte, inflação sob controle e melhora da distribuição de renda pavimentam o caminho de Lula

Entre sinais de desaceleração e dificuldades nos principais setores, a economia não terá tempo de se beneficiar de modo pleno de uma provável redução dos juros antes da próxima eleição presidencial, mas o aumento do poder aquisitivo desencadeado com a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais, em fase final de aprovação no Congresso, o real valorizado e a dinâmica característica dos perío­dos eleitorais deverão garantir um quarto ano de crescimento ao governo Lula III, apontam economistas. Obrigado a concentrar energias na defesa da democracia e contra o cerco do mercado e do Congresso, o presidente encerrará o ano, entretanto, sem a definição de uma estratégia clara de política econômica.

Loucura? Não, método. Por Celso Pinto de Melo

CartaCapital

Uma engrenagem planetária disciplinada movimenta a extrema-direita

E nos tensos interregnos das transições entre o velho que se recusa a desaparecer e o nascer de novos tempos que fenômenos mórbidos proliferam. A política da extrema-direita, nos Estados Unidos ou no Brasil, é muitas vezes tratada como incoerente e irracional. É fácil zombar de seus rituais: pedidos de auxílio a extraterrestres, invocações ao AI-5 em meio a bandeiras verde-amarelas, a invasão do Capitólio com fantasias de viking. Tudo parece improviso de lunáticos. Por trás da aparência de caos, há, no entanto, uma engrenagem internacional disciplinada, operando com objetivos claros e articulada por think tanks ultraconservadores, como a Heritage Foundation.

Reconstruir Gaza. Por Jamil Chade

CartaCapital  

Dinheiro e cimento não serão suficientes. Resta saber como recompor uma sociedade após um genocídio

Em 1928, Aldous Huxley escreveu o romance Contraponto. Um dos diálogos terminava com uma pergunta desconcertante: “Como você sabe que a Terra não é o inferno de outro planeta?” Em Gaza, hoje, essa pergunta parece fazer sentido para milhares de habitantes. Crianças descalças empurrando avós em cadeiras de rodas pelos escombros. Crianças amputadas lutando contra a poeira. Mães carregando crianças com a pele sangrando devido a erupções cutâneas. Crianças tremendo diante dos implacáveis ataques aéreos. E crianças olhando para o céu, acompanhando o fogo a partir de helicópteros.

Quando o passado ameaça o futuro. Por Luiz Gonzaga Belluzzo e Nathan Caixeta

CartaCapital

A presença de empresários no gabinete de Trump mimetiza o poder da Siemens e da Krupp na economia do III Reich

No famoso editorial da revista The Economist, que sugere lições a serem aprendidas pela democracia norte-americana a partir da demonstração de força da democracia brasileira na punição aos golpistas e seu líder Jair Bolsonaro, há uma evidência substancial do entorpecimento da liberal-democracia ocidental.

Segundo os editorialistas, no Sul, a tradição autoritária acena para a resistência democrática e, no Norte, os guardiões da democracia e da liberdade estariam se entregando aos impulsos autoritários que sempre se ocuparam de repelir, dentro e fora de seus espaços nacionais.

Os desavisados imprimem a ideia de que a democracia ocidental é produto da mistura entre instituições políticas livres para abrigar a expressão das maiorias e da atuação da economia de mercado desancorada do estatismo e da regulação excessiva.

A COP 30 - a Paz e os Desafios da Sustentabilidade. Por George Gurgel de Oliveira

O Brasil realizará em Belém, nos próximos dias 10 a 21 de novembro, a COP 30.

Os objetivos principais deste importante encontro internacional são: fazer o balanço dos 10 anos do Acordo de Paris, revisar as metas climáticas dos países, definir compromissos ambiciosos e urgentes para o combate ao aquecimento global, com a consequente redução de emissões dos gases de efeito estufa, adaptação às mudanças climáticas, financiamento climático, ampliação do uso de tecnologias para energias renováveis, preservação ambiental e da biodiversidade.

A COP 30, por se concretizar numa cidade brasileira, coloca nosso país na centralidade das discussões ambientais globais, advogando a consequente redução dos gases de efeito estufa; a preservação dos nossos ecossistemas, particularmente o amazônico, dos oceanos, da água; a ampliação do uso de energias renováveis, assim como a mitigação dos impactos econômicos, sociais e ambientais causados pelas mudanças climáticas, ora em curso, atingindo o Brasil e toda a humanidade.

Confiar e desconfiar. Por André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

São muitos os exemplos de governos que foram mantidos por Washington que, de um momento para o outro, desabaram depois de perder a proteção norte-americana

A inesperada mudança de posição do presidente Donald Trump em relação ao Brasil e, especificamente, ao presidente Lula revela o modo de agir da diplomacia norte-americana. Na visão de Washington, a diplomacia é um jogo de pôquer em que o mais forte faz um lance absurdamente elevado para, depois, negociar uma situação mais próxima da realidade. Ainda assim, o jogador tenta ganhar de seu adversário. O governo Trump, com suas tarifas de 10 a 50% contra os vendedores de produtos no mercado interno norte-americano, produziu enorme receita adicional para seus cofres. Quem está pagando a diferença é o consumidor.

Poesia | Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, de Luís de Camões

 

Música | Mônica Salmaso | O tempo nunca mais firmou

 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Plano de Trump reflete derrota do Hamas para Israel

Por O Globo

Paz duradoura — com dois Estados e reconhecimento mútuo — depende de desmantelamento do grupo terrorista

No Oriente Médio, a realidade áspera dos fatos costuma desafiar projetos ambiciosos. Por isso é preciso toda a cautela diante do acordo assinado por Israel e pelo grupo terrorista Hamas para libertação imediata dos reféns e interrupção dos ataques israelenses na Faixa de Gaza — primeira fase no plano de paz de 20 itens formulado sob os auspícios de Donald Trump. Mas, sim, desta vez, dois anos depois da barbárie perpetrada pelo Hamas que deflagrou a guerra, há motivo concreto para otimismo. O plano de Trump revela sensatez e nada tem a ver com suas primeiras propostas estapafúrdias, que aventavam expulsar os palestinos de Gaza para transformá-la numa “riviera”. Se os reféns forem mesmo libertados no início da semana como promete o Hamas, e se Israel retirar suas tropas de Gaza até o limite pactuado, Trump aparentemente terá obtido êxito antes tido como impossível ao intermediar um conflito historicamente intratável.

Não pode haver dúvida de que o plano de Trump reflete a vitória militar de Israel sobre o Hamas. Todas as condições impostas pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foram atendidas, ao menos no papel: libertação de todos os reféns com devolução dos corpos daqueles já mortos; deposição de armas pelos terroristas; desmilitarização e entrega do poder em Gaza a forças externas a cargo de países árabes; exílio das lideranças do Hamas; retirada gradual das tropas israelenses, seguindo cronograma e condições que não ponham em risco a segurança de Israel. Ainda não se sabe, é claro, quanto disso se tornará realidade. De seu lado, os israelenses libertarão prisioneiros palestinos, mas, mesmo nos detalhes — como o pedido pela soltura de figuras de relevo e pelos corpos de próceres do Hamas mortos na ofensiva israelense —, Netanyahu aparentemente levou a melhor.

Reforma tem de fazer escolhas estratégicas. Por Fernando Luís Abrucio

Valor Econômico

O sucesso depende da combinação de um bom diagnóstico dos problemas e do contexto reformista com uma estratégia adequada de implementação

A qualidade da gestão pública é fundamental para a legitimidade da democracia e para o desenvolvimento dos países. Reformas administrativas são muito relevantes e também muito complexas. Seu sucesso se deve à combinação de um bom diagnóstico dos problemas e do contexto reformista com uma estratégia adequada de implementação.

Liderado pelo deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), um projeto inicial sobre o assunto foi apresentado na Câmara. Há ideias e intenções boas na proposta, mas ainda há falhas e a falta de uma visão estratégica sobre os caminhos da mudança, da lei à prática.

O mérito primordial do projeto do deputado Pedro Paulo é abrir o debate de várias questões relevantes da gestão pública brasileira e que têm tido pouca atenção do sistema político. Há algumas propostas bem elaboradas e que merecem mudanças institucionais. Entretanto, o conjunto da obra está com muitos excessos e faltas onde não deveria haver.

Excessos de centralização, de uniformização e de instrumentos legais a serem votados, com um número grande de alterações constitucionais. Soma-se a isso a falta de tempo para maior debate e amadurecimento das ideias com atores relevantes que serão influentes no processo legislativo, bem como a ausência de uma visão mais estruturada e realista sobre a implementação de tais reformas.

Nome de gente. Por José de Souza Martins

Valor Econômico

Temos milhares de pessoas registradas no Brasil com nomes ou sobrenomes difíceis de pronunciar e sem nenhuma significação em nossa língua. E os cartórios reagem arbitrariamente

Há umas duas semanas, ocorreu em Belo Horizonte um problema com a recusa do registro de nascimento de uma menina, no cartório instalado na maternidade, do nome escolhido pelos pais para a filha: Tumi Mboup.

A mãe é formada em história, e o pai é sociólogo. Dois intelectuais, portanto, que certamente sabem o que estão fazendo. Ambos são negros. O cartorário alegou que o nome exporia a criança ao ridículo. Um segundo cartório e a própria Justiça confirmaram a interpretação.

Uma enxurrada de insultos preconceituosos contra os pais, por parte dos leitores de sites, acusava-os de serem responsáveis pela recusa por terem escolhido um nome não brasileiro e de motivação racial.

Em reação, governo e PT dobram aposta nas redes. Por Andrea Jubé

Valor Econômico

Ânimos seguem alterados porque o governo não se compromete com o calendário de pagamento das emendas

No fim de junho, o Congresso impôs derrota acachapante ao governo, revogando os decretos presidenciais que aumentavam o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O placar na Câmara foi expressivo: 383 votos para derrubar a norma, contra 98. Como se 383 deputados bradassem em uníssono: “Estamos descontentes!”

O resultado irritou, em especial, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para além da perda de receita, estimada em R$ 12 bilhões para este ano, a avaliação interna foi de que a edição do decreto é prerrogativa do presidente da República prevista na Constituição, e não havia nódoa de inconstitucionalidade no texto. A peleja foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF).

Só beijos. Por José Sarney

Correio Braziliense

O que temos ouvido depois dos tapas e beijos entre Brasil e EUA tem sido somente beijos, sem deixar marca na cueca, mas, nem por isso, menos significativos do pensamento das chancelarias

Há duas sextas-feiras, escrevi nesta coluna sobre o encontro entre o presidente Lula e o presidente Trump. Ambos se conheceram, se abraçaram e trocaram cortesias no encontro de 38 segundos. A declaração dos dois foi de que o encontro gerou uma química entre eles; química esta que se desdobrou nas semanas seguintes em declarações de simpatia e de amizade que desembocaram num telefonema de meia hora em videoconferência, combinando um encontro pessoal. Afirmaram que a excelente conversa abriu caminho para o início de negociações para encontrarem uma solução para o problema das taxas altíssimas aplicadas ao Brasil e o término de uma conduta de relações ásperas entre os dois países.

Autocandidato ao Nobel, Trump protagoniza o fim da guerra em Gaza. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Chefe do Hamas comemora, enquanto Netanyahu ainda negocia o apoio do seu governo ao acordo de paz entre Israel e Hamas, mediado pelos Estados Unidos

A foto de dois meninos de mãos dadas, um com a camisa azul de Israel e seu quipá, e outro com a bandeira da Palestina e seu lenço quadriculado, que circula nas redes sociais desde o começo da guerra em Gaza, provocada por um ataque terrorista do Hamas, passou a fazer um sentido prático. Mas ainda não será nada fácil ver isso acontecer, com as sequelas de uma guerra que ceifou as vidas de milhares de crianças. Sim, é uma mensagem utópica: a convivência fraterna entre palestinos e israelenses. Entretanto, o processo civilizatório não existiria sem as utopias.

Sucessão no STF será política. Por Vera Magalhães

O Globo

Favoritos para o lugar de Barroso são todos homens, e nomeação de mulher só ocorrerá com mobilização social semelhante à que barrou a PEC da Blindagem

A política dita as conversas, que já correm adiantadas, para a escolha do sucessor de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal, agora que o ministro confirmou sua aposentadoria antecipada. Para que a indicação de uma mulher à Corte passe a ser cogitada por Lula, precisará haver pressão social de tal monta que ele entenda que isso será fator crucial na campanha eleitoral de 2026 — algo que, até aqui, não é considerado.

Por ora, a avaliação que faz a todos que o abordam sobre a questão de gênero na escolha é que “nunca antes neste país” um presidente indicou tantas mulheres para Cortes superiores quanto ele. No atual mandato, foram cinco as designadas a tribunais superiores: Maria Marluce Caldas Bezerra e Daniela Teixeira para o Superior Tribunal de Justiça, Verônica Sterman para o Superior Tribunal Militar e Edilene Lôbo e Estela Aranha para o Tribunal Superior Eleitoral.

Uma bomba para Lula. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Votação abriu rombo nas contas do governo para ajudar bets e fintechs a pagarem menos imposto

A oposição lançou uma bomba fiscal no caminho da reeleição de Lula. A nova derrota do governo na Câmara deve abrir um rombo de R$ 46 bilhões nas contas públicas. O dinheiro fará falta no ano eleitoral de 2026.

A derrubada da Medida Provisória mostra que a melhora nas pesquisas não resolveu a vida do presidente no Congresso. Sem base parlamentar sólida, Lula continua exposto a sustos e rasteiras. Na noite de quarta, levou uma das maiores deste terceiro mandato.

Os 251 votos contra o Planalto indicam que a aliança entre Centrão e bolsonarismo continua firme. Em setembro, a dobradinha aprovou a PEC da Blindagem e acelerou a anistia aos golpistas. Agora complica os planos da Fazenda de cumprir a meta fiscal via elevação de receita.

O Brasil dos invisíveis. Por Pablo Ortellado

O Globo

Sob as ruidosas e intolerantes guerras culturais, resiste um substrato majoritário, comedido e independente

No último domingo, O GLOBO publicou uma pesquisa da More in Common que apresenta uma segmentação da população brasileira em seis grupos ideológicos e de valores. Essa segmentação desvela uma estrutura subjacente da opinião que permite olhar a divisão política no Brasil com muito mais nuance e granularidade.

A segmentação usa técnicas estatísticas de aglomeração de padrões de resposta para encontrar grupos ideologicamente coerentes, com um comportamento previsível para mais de 150 perguntas. Esses grupos são chamados de “segmentos”.

Para quem vai a nova toga? Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Lula embola Justiça, Congresso e 2026 ao preencher a vaga de Barroso no STF

Com a aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso, perdem o Brasil, o Supremo e também o presidente Lula, quando a polarização ainda domina a política e ele parecia navegar de vento em popa, mas a ventania da oposição veio mais rápida e mais forte do que o previsto. A derrubada da MP que aumentaria a arrecadação bateu no bolso, ou melhor, nas contas do governo. Uma derrota e tanto.

Barroso, indicado para o STF por Dilma Rousseff, em 2013, antecipou sua aposentadoria em oito anos e se despediu muito emocionado, deixando um legado de firmeza, convicções, defesa contundente da democracia e, particularmente, de discursos vivos e brilhantes. Ouvi-lo é um aprendizado e um prazer.

O Brasil no centro do planeta. Por Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

Todas as dificuldades deveriam nos unir na tentativa de conseguir o melhor durante a COP-30, em Belém

Está chegando o momento da COP-30. O evento é um instrumento importante para que o mundo negocie compromissos de redução de emissões e de adaptação às mudanças climáticas. Até agora, temos falado muito sobre os preços assombrosos de hospedagem e de possíveis problemas de organização. Tudo bem. Isso pode ser discutido, mas seria uma lamentável miopia deter-se em aspectos secundários diante do grande problema dos nossos tempos.

O Brasil generosamente se ofereceu para hospedar a COP30 numa metrópole amazônica. Investiu mais de R$ 4 bilhões e designou um competente diplomata para presidir o evento: o embaixador André Corrêa do Lago. É um esforço considerável, sobretudo porque o Brasil assume grandes compromissos num momento difícil para a política ambiental no planeta.

Educação técnica e profissional: desta vez vai? Por Simon Schwartzman

O Estado de S. Paulo

Com Propag, a oferta de cursos técnicos deve crescer. Mas isso trará os efeitos esperados, tornando este ensino mais difundido, acessível, melhor e mais relevante para quem o procura?

À esquerda e à direita, todos parecem se preocupar com o tema da educação técnica e profissional. Em 1971, o governo militar concluiu que as escolas brasileiras só formavam bacharéis e decidiu que todos os estudantes de nível médio teriam de ter uma qualificação profissional. Depois tivemos o Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador (Planfor) – governo Fernando Henrique, 1995 –, o Plano Nacional de Qualificação (PNQ) – Lula, 2003 – e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) – Dilma, 2011. Nada funcionou direito. Em 2017, tivemos a reforma do ensino médio, com um novo itinerário técnico de nível médio – governo Temer –, que foi reformulado em 2024 antes de entrar em vigor, e agora temos o Programa de Expansão da Educação Nacional de Qualidade (Propag), que permite que os Estados destinem parte dos recursos de suas dívidas com a União ao ensino técnico, com valores que podem chegar a R$ 12 bilhões. Será que agora vai?

China limita venda de terras raras, vitamina da tecnologia de ponta. Brasil bobeia. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Empresas terão de pedir permissão para negociar produtos e tecnologia relacionadas

Comércio do produto está no centro do conflito econômico entre americanos e chineses

China vai fechar a porteira da venda e do uso de terras raras e de tecnologias relacionadas. Empresas e indivíduos, em especial estrangeiros, terão de pedir permissão para negociar terras raras e produtos que contenham terras raras chinesas. Ou que sejam produzidos no exterior e utilizem "tecnologias originárias da China para mineração, fundição e separação de terras raras, fundição de metais, fabricação de materiais magnéticos ou reciclagem de recursos secundários de terras raras".

É o que diz um comunicado desta quinta do Ministério do Comércio da China. Vendas para uso militar desses produtos serão vetadas; para a fabricação de chips, estarão sujeitas à análise caso a caso.

Donald Trump deixa Bolsonaros e Tarcísio pendurados na brocha. Por Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Apontado como intransigente ao defender soberania, Lula buscou negociação e ganha pontos, enquanto governador se desgastou

Presidente dos EUA mudou de página ao sentir o cheiro de queimado do bolsonarismo e os efeitos negativos na economia de seu país

conversa de Donald Trump com o presidente Lula enxotou da sala o bode bolsonarista que tentava se impor pelo mau cheiro entreguista e deixou os subalternos Eduardo Bolsonaro, deputado desertor, e Tarcísio de Freitas, governador Maga de São Paulo, pendurados na brocha –para usar a sugestiva imagem popular...

Trumpistas e direitistas radicais, com simpatias moderadas, estavam vibrando com a ofensiva da Casa Branca para salvar golpistas e culpar o Supremo pelas ameaças à democracia brasileira.

Um Nobel para Trump? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Presidente americano já se voluntariou para receber comenda da Paz

Se plano para Gaza se mostrar mais do que um cessar-fogo, Agente Laranja terá realizado uma proeza

Escrevo estas linhas menos de 24 horas antes da divulgação do prêmio Nobel da Paz. Donald Trump voluntariou-se para a comenda, mas será que ele a merece?

Não creio que os noruegueses sejam loucos o bastante para galardoar Trump por uma iniciativa de paz que pode não durar mais do que alguns dias, mas, se o plano do presidente americano para Gaza se mostrar mais sólido do que um cessar-fogo com troca de reféns por prisioneiros, então não há dúvida de que seria uma façanha digna de Nobel.

Uma derrota anunciada. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Há meses a oposição avisara que não aprovaria mais nada que implicasse cobrança de novos tributos

Quando o governo insistiu em apostar na arrecadação, assumiu o risco de perder no Congresso

derrubada da medida provisória alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) era uma fava contada. Surpreendente foi o governo acreditar que pudesse ganhar.

Os sinais da derrota estavam à vista de todos. A começar pelo aviso dado meses atrás de que o Congresso não aprovaria mais nada que implicasse novas cobranças de tributos. Tanto que em junho invalidou o decreto de aumento do IOF, depois parcialmente recuperado no Supremo Tribunal Federal.

Os três 'culpados', segundo o governo pela queda da MP e a volta à prancheta. Por Míriam Leitão

O Globo

Em conversas com integrantes do governo, a avaliação é de que a derrubada da Medida Provisória 1303 pode ser atribuída a três pessoas: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o secretário Gilberto Kassab, presidente do PSD, e também o senador Ciro Nogueira.

— Há digitais dos três por todo o Congresso —disse essa fonte.

A articulação da oposição junto a parlamentares teve como argumento central o impacto da medida nas receitas do governo em 2026, ano eleitoral. Isso mostra que não houve análise técnica — e que 2026, para o jogo político, já começou.

Poesia | Versos escritos na água, de Manuel Bandeira

 

Música | Chico Buarque - Tua Cantiga

 

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Genial/Quaest: Lula lidera cenários de 1º e 2º turno para 2026 e abre vantagem sobre Tarcísio

Por Joelmir Tavares, Cristiane Agostine e Lilian Venturini / Valor Econômico

Distância entre presidente em eventual segundo turno contra governador de SP agora é de 12 pontos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém a liderança nas simulações de primeiro e segundo turno para 2026, de acordo com pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quinta-feira (9). O levantamento feito neste mês, a um ano das eleições, mostra que os nomes mais competitivos contra Lula em eventual segundo turno são os de Ciro Gomes (PDT)Jair Bolsonaro (PL)Tarcísio de Freitas (Republicanos) Michelle Bolsonaro (PL).

Segundo a pesquisa, Lula tem entre 35% e 43% das intenções de voto, nos oito cenários de primeiro turno testados. O levantamento ouviu 2.004 pessoas entre quinta-feira (2) e domingo (5) e possui margem de erro de dois pontos.

O melhor desempenho entre os candidatos oposicionistas é o de Bolsonaro — que está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e foi condenado por tentativa de golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro marca 26% contra 35% de Lula.

Pesquisa Genial/Quaest encoraja clã Bolsonaro a não ceder protagonismo em 2026. Por César Felício

Valor Econômico

Resultados como os verificados em outubro podem fortalecer estratégia, que inviabiliza candidatura de Tarcísio e racha a direita

A nova rodada da pesquisa Genial/Quaest com cenários eleitorais para 2026 mostra uma recuperação de força das opções mais extremistas do bolsonarismo dentro da oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Houve diminuição da diferença entre Lula e o opositor apenas nas simulações de segundo turno que incluem integrantes da família Bolsonaro. Nos demais casos houve aumento, com exceção do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que ficou estável.

O pior resultado foi obtido pelo nome mais moderado entre os testados da oposição, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que obteve magros 22%, ante 45% de Lula. Mas proporcionalmente o saldo mais adverso ficou com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A diferença a favor de Lula passou de oito para doze pontos percentuais ( 45% a 33%).