quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Reflexão do dia – Joaquim Nabuco

Essa é a primeira idéia, ou grupo de idéias, que devia a Bagehot: o governo de gabinete, o gabinete comissão da Câmara, o gabinete saído da Câmara tendo o direito de dissolver a Câmara, dissolução ministerial (não a Coroa só, nem a Coroa com um gabinete contrário à Câmara): tudo,em suma, que depois daquele pequeno livro se tornou outros tantos lugares comuns, mas que ele foi o primeiro a revelar, a fixar.
É ele quem destrói os dois modos clássicos de explicar a Constituição inglesa: o primeiro, que o sistema inglês consiste na separação dos três poderes; o segundo, que consiste no equilíbrio deles. Sua idéia é que os dois poderes, o Executivo e o Legislativo, se unem por um laço que é o gabinete e que, de fato, assim só há um poder, que é a Câmara dos Comuns, de que o gabinete é a principal comissão. “O sistema inglês, diz ele, não consiste na absorção do Poder Executivo pelo Legislativo; consiste na fusão deles.” O rival desse sistema é o que ele chamou sistema presidencial. Essas designações são hoje usadas por todos, mas são todas dele. “A qualidade distintiva do governo presidencial é a independência mútua do Legislativo e do Executivo, ao passo que a fusão e a combinação desses poderes serve de princípio ao governo de gabinete.



(Joaquim Nabuco, em “Minha Formação”, abril de 1900, pág.38 - Edição Ediouro

Morre soldado de foto icônica da queda de Berlim em 1945

Associated Press

Ismailov é o soldado do meio, que dá apoio ao militar hasteando a bandeira

Abdulkhakim Ismailov integra imagem histórica de militares hasteando bandeira soviética sobre a nazista

MOSCOU - Um soldado do Exército Vermelho que aparece em uma histórica fotografia ajudando a levantar a bandeira da União Soviética sobre o estandarte dos nazistas em Berlim, em 1945, morreu na terça-feira, 16, aos 93 anos, segundo as autoridades russas.

Abdulkhakim Ismailov morreu de causas não específicas na noite da terça-feira em seu povoado nativo, Chagar-Otar, segundo informou nesta quarta, 17, o departamento de imprensa do presidente da província do Daguestão.

Ismailov foi um dos três soldados soviéticos que apareceram em uma fotografia tirada três dias antes da queda de Berlim em maio de 1945. Ele é o que aparece dando apoio ao militar erguendo a bandeira.

A imagem se tornou um ícone da vitória soviética sobre a Alemanha nazista e é comumente comparada à outra foto de 1945, que mostra soldados americanos erguendo a bandeira dos EUA em Iwo Jima.

O fotógrafo que registrou o momento, o soviético Yevgeny Khaldei, disse anos depois que a foto havia sido arranjada e a bandeira havia sido feita por três toalhas de mesa. Segundo Khaldei, a bandeira original da URSS que estava no local foi derrubara por atiradores alemães.

Ismailov só foi identificado como um dos integrantes da foto em 1996 e recebeu a medalha de Herói da Rússia. O soldados fez parte do batalhão de infantaria motorizada na Segunda Guerra Mundial e foi ferido cinco vezes. Depois de voltar do campo de batalha, passou a trabalhar em uma fazenda coletiva e se filiou ao Partido Comunista. Ismailov deixou quatro filhos e oito netos.

Folia eleitoral:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Depois do périplo carnavalesco pelo Nordeste, não há mais dúvidas de que o governador paulista José Serra será o candidato tucano à sucessão de Lula. Sua decisão pessoal já foi tomada; ele não colocaria aquele chapéu no Galo da Madrugada em Recife se não fosse por uma causa extrema.

Resta agora superar obstáculos internos ainda resistentes. Nos últimos dias surgiram boatos de que haveria uma pesquisa feita pelo instituto do cientista político Antonio Lavareda, ligado historicamente aos tucanos e ao DEM, que mostraria um cenário futuro desanimador para a candidatura Serra.

Embora não seja totalmente verdade, o fato é que ainda alguns setores do partido consideram que somente uma candidatura nova, como a do governador mineiro Aécio Neves, seria capaz de conter o ímpeto da candidatura oficial.

Esse retorno de uma disputa que parecia estar decidida começou a surgir depois da pesquisa CNT/Sensus, que mostrou uma redução da diferença entre Serra e Dilma.

O interessante é que, para esse grupo minoritário dentro do PSDB, não é suficiente o governador paulista continuar à frente de todas as pesquisas eleitorais.

O que eles compram é a mesma interpretação que anima os petistas, a de que Serra estaria em trajetória decadente, ou estagnada na melhor das hipóteses, e que Dilma teria uma trajetória ascendente que a levará à vitória inexorável.

Na pesquisa de Lavareda, Serra está dez pontos percentuais à frente de Dilma (38% a 28%) com o cenário de quatro candidatos. A saída de Ciro Gomes de campo, hipótese cada vez mais provável, leva essa diferença a aumentar para doze pontos (43% Serra e 31% Dilma).

O fato, porém, é que Dilma tem apoios organizados, já definidos, em todos os estados, e dificilmente essa aliança política que está sendo armada, com base no PMDB, será quebrada no início da corrida sucessória. E ela se saiu muito bem do teste do carnaval.

O mais provável é que a aliança com o PMDB se mantenha, e os demais partidos da base aliada continuem apostando na popularidade de Lula. Com isso, a candidata petista terá quase o dobro de tempo de televisão de Serra - 11 minutos e pouco contra 6 minutos.

Por isso, o PSDB tenta fechar acordo nacional com o PSC, para aumentar alguns segundos de televisão. Mas nesse pacote virá o provável candidato ao governo do Distrito Federal Joaquim Roriz, a matriz de todos os escândalos que está surgindo na capital.

O pior cenário para o PSDB é que, no período entre maio e junho, quando serão apresentados os programas de televisão da maioria dos partidos, as pesquisas mostrem uma subida forte de Dilma, abalando a autoconfiança nas possibilidades de vencer a eleição.

Os programas do PSDB e de seus aliados DEM e PPS serão os últimos a serem transmitidos, próximo das convenções partidárias no fim de junho. Esse timing permitirá que o PT e seus aliados façam propaganda maciça, chegando às convenções animados com os resultados das pesquisas.

Em contrapartida, o candidato do PSDB chegará à convenção logo depois do programa, o que provavelmente lhe dará uma turbinada na candidatura.

Será preciso ter "nervos de aço" para superar as crises e pressões que separarão esses dois momentos na campanha sucessória.

Além disso, o PSDB tem situações instáveis em dois estados importantíssimos, em que não sabe o que vai acontecer. No Ceará, dada a peculiaridade da aliança entre o senador Tasso Jereissatti, uma das principais lideranças do partido, e o deputado Ciro Gomes, há uma dificuldade política que deverá ser simplificada com a desistência de Ciro à disputa presidencial.

Mas Tasso será candidato ao Senado na chapa do governador Cid Gomes, que apoiará Dilma.

Para resolver seu caso específico, o melhor para Tasso seria que Aécio fosse o candidato tucano, pois ele teria o apoio de Ciro Gomes.

Além disso, o senador Tasso Jereissatti teme que Serra tenha chegado ao seu teto, e disse isso recentemente, em um encontro em Minas, para o presidente do partido, Sérgio Guerra, na presença do governador de Alagoas Teotonio Vilela.

Tasso acha que Dilma cresceu muito e que é perigoso fazer uma campanha que favorece o plebiscito que Lula tanto quer.

A conversa de Sérgio Guerra e Teotonio Vilela em Minas, que seria para tentar convencer o governador mineiro a ser vice na chapa de Serra, virou uma conversa sobre a possibilidade de a candidatura Aécio ser retomada.

Aí entra a outra grande incógnita dos tucanos: como se comportará o eleitor mineiro diante do fato de Aécio não ser candidato e não querer ser vice de Serra?

É fato que o governador de Minas, Aécio Neves, prefere ser candidato a presidente, mesmo tendo menos chance que Serra, a ser seu vice.

Mas não há nenhum indício de que preferirá perder a eleição nacional a ver Serra eleito. Mesmo porque sua liderança em Minas está sob fogo cerrado do governo, que já mostrou todo o apetite para derrotá-lo quando aventou a possibilidade de lançar a candidatura do vice-presidente José Alencar a governador, com o apoio do PT e do PMDB.

Assim também o senador Tasso Jereissatti, mesmo sendo favorável à candidatura de Aécio, deve fazer campanha para Serra, que passou no teste carnavalesco no Nordeste, na região onde Lula é mais forte eleitoralmente.

Dilma, por sua vez, tem problemas com o PMDB no Rio, em Minas Gerais e na Bahia. E, se vingar mesmo a tentativa de Lula de se livrar de Michel Temer como vice, pode haver uma dissidência no partido que impediria a formalização da aliança, tirando do PT os preciosos minutos de propaganda política na televisão.

Os dias que faltam até o prazo final de desincompatibilização, no início de abril, e os que levam até as convenções partidárias em final de junho, reservam grandes surpresas, numa eleição que ameaça ser das mais disputadas dos últimos tempos.

Fernando de Barros e Silva: Meirelles na manga

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás em 2002, Henrique Meirelles trocou o Congresso pelo convite inesperado de Lula para ser presidente do Banco Central no governo petista. Então debutante na política, ele vinha de uma trajetória exitosa no mercado financeiro, tendo chegado nos anos 90 ao topo da hierarquia executiva do Bank of Boston.

O tucano de Anápolis com perfil conservador e carreira de banqueiro internacional foi, com Antonio Palocci, o fiador da ortodoxia econômica e uma arma de Lula para aplacar a desconfiança do mercado.

Para muitos companheiros, Meirelles era uma espécie de "alien" a ser extirpado do organismo do poder. Com seu jeitão de ET no meio da petelândia, ele sobreviveu e se tornou um dos esteios do lulismo. José Dirceu, Palocci, Luiz Gushiken, muita gente dançou na cúpula do PT e no primeiro escalão do governo. Meirelles é o único quadro de elite a permanecer onde estava desde 1º de janeiro de 2003.

O presidente do BC está no PMDB desde setembro passado. E disse a Lula há poucos dias que num eventual governo Dilma Rousseff gostaria de continuar "colaborando" na "esfera federal". Sua pretensão, como está claro, seria concorrer na condição de vice-presidente.

Na disputa interna do PMDB, Meirelles hoje é o franco azarão. O partido, que o vê como forasteiro, armou seu jogo em torno de Michel Temer. O deputado, no entanto, não inspira confiança ao PT nem tem a simpatia de Lula.

O fato é que, no círculo lulista, Meirelles começa a ser visto seriamente como coadjuvante útil a uma presidenciável que militou na luta armada. A guerrilheira e o banqueiro -parece até sessão da tarde.

O vice que patrocinou a estabilidade daria uma espécie de sinal ao mercado contra a retórica esquerdosa e a inclinação estatizante da candidata. Talvez Meirelles represente para a campanha de Dilma o que a Carta ao Povo Brasileiro representou para Lula em 2002.

Guernica 3D

PT reage às exigências de Cabral a Dilma

DEU EM O GLOBO

O Palácio do Planalto e os petistas não gostaram das declarações do governador Sérgio Cabral cobrando fidelidade da ministra Dilma Rousseff e exigindo que ela não suba ao palanque do ex-governador Anthony Garotinho. “Sérgio Cabral precisa tomar cuidado com a língua. Dilma não recusará o apoio de ninguém”, reagiu o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

"Cuidado com a língua, Cabral"

Cobrança do governador por exclusividade de Dilma desagrada ao Planalto; Vaccarezza reage

Gerson Camarotti, Chico Otavio e Flávio Tabak

As declarações do governador Sérgio Cabral (PMDB) cobrando fidelidade da ministra Dilma Rousseff (PT) e advertindo que, no Rio, ela não poderá subir no palanque do ex-governador Anthony Garotinho (PR) desagradaram ao Palácio do Planalto, ao comando do PT e aos coordenadores da campanha de Dilma. O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), criticou duramente a postura de Cabral. Ele chegou a lembrar que foi essa postura radical do governador que inviabilizou um acordo na Câmara para a votação do projeto que cria o marco regulatório do pré-sal e modifica a divisão de royalties.

- O Sérgio Cabral precisa tomar cuidado com a língua. A postura dele já atrapalhou o acordo do pré-sal. A Dilma não recusará apoio de ninguém - advertiu Vaccarezza.

Ele lembrou que, em vários estados, haverá palanques duplos. Citou a Bahia, onde o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, do PMDB, sairá candidato contra o governador Jaques Wagner (PT), que disputa a reeleição.

- Na Bahia, vamos ter dois palanques, inclusive um de oposição local, que é o Geddel, do PMDB. A regra tem que valer para todo o Brasil. Não pode haver uma regra especial só para o Rio. O PR apoiou Lula em 2002 e em 2006. Portanto, se Garotinho apoiar a Dilma, vamos ter dois palanques no Rio - avisou Vaccarezza.

Na véspera, ao chegar ao Sambódromo para o desfiles do Grupo Especial, Cabral reclamou que, no Rio, "a equação não fecha".

- Acho o seguinte: quando há dois palanques, pode ser um problema. Como é que ela (Dilma) vai no mesmo dia para um palanque de situação e para um de oposição? Vai acabar perdendo o voto até da minha mulher - disse o governador, na Marquês de Sapucaí.

Frase é vista como inabilidade política

Auxiliares do presidente Lula temem que esse comportamento de Cabral possa implodir as articulações para que haja um palanque único no estado, com um acordo para a retirada da candidatura de Garotinho. A frase de Cabral foi vista como um gesto de inabilidade política que pode prejudicá-lo na sucessão estadual. Integrantes do governo lembraram ontem que o próprio Lula já sinalizou que Cabral é seu aliado preferencial no Rio. Para isso, pressionou para que o PT fluminense fechasse um acordo em torno da reeleição do governador.

Um articulador da campanha de Dilma também reagiu à cobrança de Cabral. Para ele, antes de exigir exclusividade, o governador deveria se preocupar em melhorar seu desempenho nas pesquisas eleitorais, já que teve, durante quatro anos, todo o apoio do Planalto. Ele acha difícil que Garotinho retire a candidatura. Nas pesquisas, Cabral varia entre 36% e 39%; e Garotinho, de 23% a 24%. A assessoria do governador informou ontem que ele não vai se pronunciar sobre a declaração do deputado Cândido Vaccarezza.

Setores do PMDB do Rio também estão insatisfeitos com Cabral. Um peemedebista lembrou que a ida de Garotinho para o PR foi articulada por Dilma e pelo ministro Edison Lobão (Minas e Energia). Não faria sentido, agora, que eles se empenhem para fazer o ex-governador desistir.

Garotinho estava viajando ontem e não foi encontrado. A vereadora Clarissa Garotinho (PR), filha do ex-governador, disse que não há negociações para a retirada da candidatura do pai.
Sobre as declarações de Cabral, Clarissa ironizou:

- O voto da mulher dele (Cabral) não deve ser muito ideológico. Acho que Cabral está preocupado demais com Garotinho.

O comparável e o incomparável:: Marcos Coimbra

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Alguém imagina que Lula quer fazer, na eleição deste ano, uma guerra com Fernando Henrique em torno de números sobre o desempenho de seu governo? Que o plebiscito que persegue há tanto tempo consiste nisso, uma batalha de estatísticas de performance governamental?

Quem acha que é isso que Lula quer, se engana. Não é essa a eleição para a qual ele se prepara desde o fim de 2007, quando sua popularidade cresceu ao ponto de tornar possível que não só escolhesse sozinho quem representaria o governo na eleição, como que sua indicada tivesse boa chance de vitória.

O plebiscito que ele imaginou para vencer um candidato tão forte quanto José Serra é diferente. Nele, pode ser até necessário passar pela comparação do que fizeram os dois governos, área por área, política por política. Mas sem permanecer nesse plano, de resultados objetivos cotejados com resultados objetivos.

Lula, amplo conhecedor do eleitor brasileiro (não fosse ele calejado por oito experiências de buscar seu voto, contando apenas as candidaturas presidenciais, nos dois turnos que disputou), sabe que é ínfima a proporção de pessoas que escolhem assim seu candidato. Aliás, não é pequena apenas no Brasil, mas no mundo inteiro (países desenvolvidos incluídos), a parcela do eleitorado que opta em função de cálculos desse tipo.

Em primeiro lugar, é sempre pequena a fatia da população que se interessa por questões político-administrativas. Ainda menor é a que compreende estatísticas e raciocínios cheios de números, porcentagens e coisas do gênero. Um discurso sobre o tema, recheado com elas, entedia até o eleitor escandinavo.

Em segundo, o cidadão comum olha com cautela todo número que não entende bem. Nem que seja intuitivamente, sabe que as estatísticas podem dizer qualquer coisa, dependendo de quem as apresenta. Não há prefeitura, governo de estado ou administração federal que não desfile seus números para provar que faz tudo certo, assim como não há oposição que não exiba os dela para demonstrar o inverso. Como o eleitor não confia inteiramente em ninguém e não tem elementos próprios para saber de que lado está a verdade, prefere, na maior parte das vezes, ignorar o bombardeio que sofre. Os números entram por um ouvido e saem por outro.

Mas o mais importante é que os eleitores que se interessam por essas comparações e que têm os requisitos de informação para compreendê-las são os que menos estão disponíveis para o proselitismo dos candidatos. Eles costumam ser mais politizados, mais bem informados e mais posicionados em termos partidários e ideológicos. Por isso, costumam se definir eleitoralmente mais cedo e tendem a permanecer indiferentes ao discurso dos candidatos ao longo da campanha, pois já resolveram o que vão fazer.

Hoje, há lulistas e antilulistas entre essas pessoas e, se existe, uma minoria insignificante de eleitores “neutros” e disponíveis para a argumentação puramente racional. Seu impacto na eleição é irrelevante.

Na verdade, o plebiscito de Lula nunca foi em favor de si mesmo ou de Dilma. Nem, a rigor, contra Fernando Henrique. É apenas contra Serra.

O presidente sempre soube, ouvindo as pessoas, usando seu instinto, lendo as pesquisas, que a grande maioria do eleitorado está satisfeita com o governo e quer a continuidade. Também sabe que Dilma não está em discussão por si mesma e que a imagem do ex-presidente vem piorando com a passagem do tempo. Só por isso pensou fazer um plebiscito em que o governador fica como representante de FHC e ela dele.

Nesse embate, importa pouco (ou nada) qual foi o governo que fez mais isso ou aquilo. Qual asfaltou mais, construiu mais, educou mais e assim por diante. Lula já ganhou o plebiscito com Fernando Henrique. O que ele apenas quer agora é que os eleitores estendam a Serra o julgamento que fizeram de FHC.

Não é por outra razão que Serra não quer nem saber do assunto. Comparar (para defender) Fernando Henrique contra Lula não é com ele.

Ancelmo Gois

DEU EM O GLOBO

Dupla do barulho

A brincadeira não é nova. Mas foi repetida por Sérgio Cabral ao vice Pezão assim que Madonna e Dilma Rousseff deixaram o camarote do governador na Sapucaí, domingo:

- Ufa! Agora dá para descansar. Saíram a Madonna e a "Mandona".

Genérico do Brasil

O "New York Times" fez matéria sobre remédios genéricos, com destaque para o modelo brasileiro implantado por Serra quando era ministro da Saúde.

O jornal cita a gigante Sanofi Aventis, que comprou a Medley, líder no setor de genéricos.

Arbítrio balança o berço da impunidade::José Nêumanne

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Antes de sair do Ministério da Justiça, o petista Tarso Genro fez uma autocrítica involuntária e comemorou um feito irrelevante. Ao reconhecer que a impunidade ainda campeia no Brasil e não é um privilégio de classe social, fez uma confissão de erro, culpa e fiasco. Pois no Estado Democrático de Direito, ao qual ele serviu no primeiro escalão do governo de seu correligionário Luiz Inácio Lula da Silva, o prelúdio da punição terá de ser uma investigação policial bem feita e imparcial. Festejou também a ação positiva de ter posto fim a certa vocação para o espetáculo de seus ex-subordinados no Departamento de Polícia Federal. Os fatos que confirmam sua confissão, contudo, conspiram contra a comemoração: o eufórico exibicionismo midiático dos agentes federais nunca foi recomendável, mas não está entre os defeitos fundamentais da corporação. O pior de todos estes é a politização.

E só para o dr. Genro ficar sabendo, antes de mergulhar na disputa pelo voto dos gaúchos, é bom alertar que uma coisa tem tudo a ver com a outra. Não que seja dele o pecado original - convém reconhecer desde já. Na verdade, a politização - como sua vertente mais nociva, a partidarização - é um mal que assola a Polícia Federal (PF) desde antes da ascensão dos petistas ao poder. Quando Lula tomou posse na Presidência, a instituição já se dividia em pelo menos três grupos: um ligado ao delegado e hoje senador Romeu Tuma (PTB-SP), que a dirigiu, outro de militantes petistas e uma minoria com conexões com o tucanato emplumado. A gestão de Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça ampliou a divisão. Tarso Genro pode até se jactar de não ter criado mais uma dissidência dos petistas na PF, mas também não se pode dizer que ele tenha feito algo de notável para acabar com a divisão e unificar seu comando. Genro celebra corretamente a maior discrição das operações, como ficou claro na prisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, na semana passada. Mas não evitou que a falta de comando levasse a episódios absurdos como o uso de arapongas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) pelo delegado Protógenes Queiroz.

Fato é que a politização do aparelho policial não é a única evidência dessa doença infantil de nossa democracia, o "Estado policial", ao qual se referiu o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, em pronunciamento feito à mesma época da despedida do ex-ministro da Justiça. O Ministério Público (MP), que praticamente emergiu como um Poder na Constituição de 1988, funcionou ao longo dos dois governos de Fernando Henrique como uma garra avançada do Partido dos Trabalhadores (PT) no sistema judicial brasileiro. Os procuradores federais Guilherme Schelb e, principalmente, Luiz Francisco de Souza, com toda a justiça cognominado Torquemada, o terrível inquisidor espanhol, agiram de forma tão parcial e partidária no exercício de suas funções que foram punidos pelo Conselho Nacional do Ministério Público, a pedido de Eduardo Jorge Caldas, ex-secretário de FHC. O ostracismo desses procuradores no governo petista é a evidência mais óbvia de que não estavam a serviço do público, mas de seu partido, o PT.

O triângulo se fecha com hipotenusa do uso da sentença como arma ideológica por alguns juízes, não um ou outro destacados no noticiário, mas espalhados pelo Brasil inteiro, como era a praga da saúva do tempo do Jeca Tatu. Esta terceira ponta é a mais perniciosa de todas para o funcionamento integral da democracia no Brasil. A prova mais cabal de que estamos submetidos ao risco de um "Estado policial" não é o emprego ideologicamente seletivo das algemas nos pulsos de banqueiros, empreiteiros e outros membros da elite brasileira. Algemar presos é da rotina policial. Foi, sim, a autorização absurdamente descontrolada e leviana por juízes de primeira instância da quebra de sigilo telefônico de quaisquer cidadãos arrolados como suspeitos em operações policiais. A interrupção da violação sistemática e indiscriminada de um dos atos mais íntimos do cidadão, o telefonema, e a intervenção de Mendes para pôr fim à farra das "prisões temporárias", que na prática permitem prender para investigar, devem ser as mais brilhantes atividades a constar da biografia dele.

Será ainda justo atribuir-lhe outra garantia de que nossa incipiente democracia não será trocada de súbito pelo "Estado policial": a interrupção do ciclo estabelecido na Operação Satiagraha por delegado, juiz e promotor para submeter a Justiça aos ditames do preceito ideológico. Ao incorporar, em sua despedida do Ministério, aos feitos de sua gestão a caça aos afortunados, como se ela significasse a redenção (pela inversão) da Justiça, acusada secularmente de só perseguir pretos, pobres e prostitutas, o ex-ministro fez o elogio do vezo político, que não deveria contaminar as decisões judiciais: ninguém deve ser condenado pelo "crime" de possuir, da mesma forma que ninguém pode ser prejudicado pela desvantagem de nada ter. A parcialidade da partidarização da polícia, do MP e da Justiça não favorece o desvalido, mas o apaniguado. E a PF do dr. Genro passará à História por ter sido implacável com os abonados, mas complacente com os companheiros.

Exemplos descarados desta afirmação são dados pelo gozo de plena liberdade de Waldomiro Diniz, réu confesso impune, e pela Operação Caixa Preta, que acusou de superfaturamento de obras em aeroportos um executivo da gestão Lula, Carlos Wilson, nove meses após sua morte. E o fez num relatório final de investigação em que o vernáculo foi atropelado pela deselegância do estilo e, o que é pior, pelo excesso de indícios e suposições sem provas. É por isso que a confissão do dr. Genro desautoriza sua celebração: o arbítrio restritivo balança o berço da impunidade irrestrita.

José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde

Ainda os efeitos da crise bancária:: Luiz Carlos Mendonça de Barros

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Estamos vivendo uma nova onda de pessimismo, com forte correção dos preços dos mais diferentes ativos negociados nos mercados do mundo todo. O aperto nas condições monetárias na China e a perda de confiança na capacidade da Grécia de honrar seus compromissos estão na origem dessa nova rodada de medo. A Bovespa perdeu quase 10 mil pontos entre os primeiros dias de janeiro e seu ponto mais baixo no auge da crise criada pelo problema grego. Hoje, quando escrevo esta coluna, as perdas são de apenas metade desse valor. Nos Estados Unidos, os principais índices da Bolsa de Nova York também perderam quase 10% de seu valor nesse mesmo período, tendo recuperado parte dessas perdas com a decisão dos países europeus de apoiar a Grécia.

O mesmo comportamento volátil e nervoso dominou os negócios com as principais moedas do mundo. O euro, desta vez no olho do furacão por ser o espaço econômico europeu o centro das especulações, desvalorizou-se mais de 7% em relação ao dólar. Em relação a uma cesta de moedas importantes a valorização do dólar foi de mais de 5% no mesmo período. Mais uma vez a moeda americana serve de refúgio seguro para onde correram - assustados - investidores de todos os cantos do mundo.

A volta do pessimismo aos mercados pode ser comparada ao efeito de uma dessas bombas que explodem apenas depois de um intervalo de tempo de sua queda. Embora os problemas com a rolagem da dívida externa da pequenina Grécia tenham aparecido nos primeiros dias do ano, a questão relacionada ao enorme déficit fiscal do país de Píndaro já era conhecida há muito tempo. Mas o mercado resolveu trazer a valor presente os problemas que aconteceriam no futuro.

O mais grave nesse episódio é que a Grécia não está sozinha nessa armadilha. O mundo desenvolvido tem - sem exceção - os mesmos riscos embutidos em suas contas públicas. Os Estados Unidos, Japão, Alemanha e outros países do G-7 vão sair da crise que vivemos com déficits fiscais elevados e uma carga de dívida financeira nunca vista. Portanto os chamados Pigs - Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha - representam apenas os elos mais fracos de uma longa corrente de economias com elevado grau de endividamento público. Se o medo do mercado em relação a essa questão vazar para as maiores economias teremos certamente a volta dos piores dias vividos há mais de um ano atrás.

A deterioração fiscal desse grupo de economias é resultado da forma como foi enfrentada a crise bancária. Os vários programas de proteção aos bancos nacionais transferiram para o Tesouro boa parte dos prejuízos que seriam incorridos pelas instituições financeiras e investidores privados. Sabemos que não existia outra forma de se enfrentar o problema e que, ao longo dos próximos anos, a sociedade será chamada a pagar a conta desse excesso de endividamento.

Até agora parecia que os mercados - tendo aceitado a natureza temporal desse problema - dariam aos governos o tempo necessário para reduzir com recursos fiscais o volume de dívida pública que será acumulado nos próximos dois anos. Essa questão, de tempo e de credibilidade, é crucial nesse momento em que os governos do G-7 ainda precisam - pelo menos neste e no próximo ano - trabalhar com déficits fiscais elevados para terminar com sucesso o processo de normalização da atividade econômica em seus países.

Apenas a partir de 2012, ou mesmo 2013, é que as economias da Europa, dos Estados Unidos e do Japão poderão iniciar um período com superávits primários suficientes para estabilizar a relação dívida/ PIB. Em um momento seguinte, com a economia voltando a crescer de forma sustentada, é que se poderá iniciar a redução do endividamento. Isso será tarefa para o restante da década com certeza. Qualquer tentativa antes que as economias se fortaleçam pode recolocar a questão da depressão econômica na agenda dos analistas econômicos, se não na dos mercados.

A gravidade da crise grega vem exatamente desse risco sistêmico em relação ao endividamento público no grupo do G-7. Uma leitura semelhante em relação ao endividamento japonês ou americano pode criar um clima de pânico muito maior do que o ocorrido nas últimas semanas. No caso da Grécia os valores envolvidos são pequenos quando comparados com o das maiores economias do mundo que sofrem da mesma doença.

É possível que com a ação conjunta dos países da zona do euro o mercado reencontre nos próximos dias a paz tão necessária para que a ação dos governos na busca de uma estabilidade da economia tenha êxito. Para evitar o retorno da insegurança e da instabilidade nos mercados é preciso entender que a volta do crescimento sustentado é condição necessária para o sucesso do ajuste fiscal no mundo desenvolvido. Inverter essa equação nos levará certamente a uma recidiva da crise econômica de 2008 e a volta de uma grande instabilidade financeira.

Por outro lado, diferente das incertezas do mundo desenvolvido, o grupo de nações emergentes lideradas pela China vive momentos de controle da demanda para evitar o crescimento da inflação. Mesmo no caso brasileiro podemos estar às vésperas de um novo período de elevação dos juros para esfriar o crescimento da atividade econômica. Assistimos de longe a crise do mundo desenvolvido e acompanhamos - com certo sorriso - o aparecimento de problemas que no passado eram sempre associados ao mundo emergente.

Várias análises sobre a questão fiscal americana tentam calcular qual seria o superávit fiscal primário necessário para estabilizar a relação dívida sobre PIB. Uma dessas análises mostra que ele deve ser de no mínimo 2,5% do PIB ao longo dos próximos anos. Mesmo com o diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos, o esforço fiscal de agora em diante será da mesma intensidade entre os dois países.

Esse diferencial de endividamento vai ser um fator a mais na dinâmica que separa o crescimento do mundo emergente e do mundo desenvolvido. Se já há hoje uma diferença significativa de velocidade por conta do potencial de consumo nos dois grupos, esse apartheid fiscal vai tornar essa diferença ainda maior. Pelo menos para os países em desenvolvimento que tiverem juízo e estratégia para se beneficiar dessa situação. Certamente nos próximos anos será importante ser mais formiga do que cigarra em países como o Brasil.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. Escreve mensalmente às segundas, excepcionalmente, nesta quarta.

Oposição vai usar visita de Lula para protestar

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Objetivo é aproveitar presença de líder no país para constranger regime

Jamil Chade

A oposição iraniana planeja aproveitar a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Teerã, em maio, para realizar um grande protesto contra o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad. A iniciativa foi confirmada ao Estado por opositores que conseguiram fugir para a Europa nos últimos meses.

Para dirigentes do movimento verde - como ficou conhecido o grupo liderado pelo candidato oposicionista Mir Houssein Mousavi, derrotado por Ahmadinejad nas eleições presidenciais de junho, cujo resultado afirma ter sido fraudado -, a viagem do presidente brasileiro seria uma oportunidade única para constranger o regime.

"Estamos planejando um protesto para mostrar ao mundo que queremos democracia e liberdade de expressão", disse a líder feminista iraniana Shadi Sadr, presa em julho em Teerã e acusada de ser "agente do Ocidente" por defender os direitos das mulheres.

Vivendo agora na Europa, ela indica que movimentos sociais começam a se mobilizar para a visita de Lula. "Se o Brasil é um país democrático, vai entender o nosso protesto", indicou outro ativista, que prefere não se identificar.

A ativista iraniana e prêmio Nobel da paz de 2003, Shirin Ebadi, alertou que Lula estaria "violando os princípios democráticos" se não promovesse reuniões com a oposição em Teerã. Ela poderá visitar o Brasil exatamente na semana em que Lula estiver no Irã.

A oposição, porém, sabe que o governo de Teerã deverá tomar todas as precauções para "blindar" seu convidado de honra. Teerã insiste que muitos dos pessoas que o Ocidente identifica como oposição são, na realidade, "terroristas".

A viagem de Lula - a primeira visita de um chefe de Estado brasileiro ao Irã - vem chamando a atenção da comunidade internacional por causa da crise nuclear entre o Irã e o Ocidente.

Na Europa, governos não escondem que o Brasil deveria rever a viagem. Nos Estados Unidos, o pedido claro é de que, se a visita ocorrer, a agenda terá de tratar de direitos humanos.

O Itamaraty ainda considera a conveniência de promover a viagem, o que seria ainda uma retribuição à visita de Ahmadinejad ao Brasil no ano passado.

No Brasil, o iraniano ouviu de Lula pelo menos uma preocupação em termos de direitos humanos: a situação vivida pela minoria religiosa bahai no Irã. Mas a possibilidade de o brasileiro ter encontros com líderes da oposição seria algo que Teerã não estaria disposta a aceitar, segundo revelou ao Estado um fonte do governo iraniano.

Nos dias após a eleição de 2009, Lula comparou os protestos da oposição a torcedores de futebol que estariam descontentes com o resultado de sua equipe. Depois, insinuou que os manifestantes eram perdedores que não se conformavam com o resultado.

Cientista político Gildo Marçal Brandão morre aos 61 em SP

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Professor militou no Partido Comunista, mas se afastou da política para se dedicar à academia

DA REDAÇÃO

Morreu anteontem aos 61 anos o cientista político Gildo Marçal Brandão. Professor de ciência política da USP, ex-jornalista e ex-militante comunista, Brandão descansava com a família na praia da Baleia, em São Sebastião, quando sentiu-se mal e, por volta de 21h, morreu. Ele tinha uma cardiopatia grave e já fora submetido a cirurgia de revascularização.Natural de Alagoas, Brandão graduou-se em filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco. No final dos anos 70, veio para São Paulo, onde lecionou na Unesp e, em seguida, na Escola de Sociologia e Política, na PUC e finalmente na USP. Também era dirigente da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais).

A militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB), que vinha desde Pernambuco, acabou empurrando-o da filosofia para a ciência política. Em 1992, sob a orientação de Francisco Weffort, defendeu seu doutorado, um estudo sobre a gênese e o papel político do PCB e da esquerda brasileira.

Paralelamente, desenvolveu a carreira de jornalista. Foi o primeiro editor da "Voz da Unidade", o jornal do PCB, cargo que exerceu por quase meia década. Também foi editorialista da Folha no início dos anos 80.

Foi paulatinamente se afastando do PCB para dedicar-se à carreira acadêmica. Jamais rompeu formalmente com o partido, mas, em suas obras, tampouco o poupou de críticas muitas vezes duras.

No plano intelectual, foi bastante influenciado pelas ideias do italiano Antonio Gramsci (1891-1937), as quais, ao lado de intelectuais como Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder e Luiz Werneck Vianna, reelaborou para desenvolver um conceito de esquerda democrática que se adequasse ao Brasil.

Entre 1995 e 1996, passou uma temporada nos EUA, na Universidade de Pittsburgh, onde concluiu um pós-doutorado em teoria política. De lá trouxe as ideias que acabariam marcando a última fase de sua carreira e que resultaram em sua principal obra, "Linhagens do Pensamento Político Brasileiro" (Hucitec, 2007).

Trata-se de um grande programa de estudos que pretende traçar a genealogia das ideias políticas no Brasil desde o século 19 até hoje. O pressuposto é o de jamais desvincular a matriz de pensamento do contexto histórico particular em que ela vem: "Nenhuma grande constelação de ideias pode ser compreendida sem levar em conta os problemas históricos aos quais tenta dar respostas e sem atentar para as formas específicas em que é formulada e discutida; ao mesmo tempo que nenhuma grande constelação de ideias pode ser inteiramente resolvida em seu contexto".

Brandão, que era casado com Simone Coelho, filha do jornalista e ex-deputado comunista Marco Antonio Tavares Coelho, deixa dois filhos.

O corpo do filósofo será cremado hoje no Crematório da Vila Alpina (av. Francisco Falconi, 437), às 10h.

Morre cientista político Gildo Marçal Brandão

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Cristiane Agostine, de São Paulo

Morreu na noite de segunda-feira o cientista político e ex-dirigente do Partido Comunista Brasileiro Gildo Marçal Brandão. Às vésperas de completar 61 anos, que seriam comemorados hoje, Brandão foi vítima de um ataque cardíaco, segundo informaram seus amigos.
Ele estava em São Sebastião, litoral norte de São Paulo, com a família, preparando-se para a apresentação na Universidade de São Paulo (USP) que o efetivaria como professor da instituição.
O corpo foi velado ontem, na capital paulista.

De acordo com informações fornecidas por amigos, Brandão tinha uma cardiopatia grave há anos, mas estava bem de saúde.

Brandão trabalhava como professor do Departamento de Ciência Política da USP, de onde era livre-docente desde 2004, e é reconhecido como um dos maiores pesquisadores das linhagens do pensamento político-social brasileiro - tema de livro de sua autoria e de coletâneas de textos clássicos.

Nos anos 80, ainda na resistência à ditadura, Brandão integrou a primeira diretoria do jornal "Voz da Unidade", do PCB. Também trabalhou como jornalista na Gazeta Mercantil e na "Folha de S.Paulo". O Partido Comunista foi seu objeto de estudo na tese de doutorado e a pesquisa aprofundada resultou no livro "A Esquerda Positiva (As Duas Almas do Partido Comunista, (1920-1964)".

Amigo de Brandão, Brasílio Sallum, também professor da USP, lembrou que o ex-dirigente do partidão costumava falar que a ditadura não devia ser "derrubada", mas sim "derrotada". "Ele não militava mais, mas sempre foi um homem da esquerda", disse Sallum.

O QUE PENSA A MÍDIA

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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Reflexão do dia – Gildo Marçal Brandão

Gramsci foi importante na construção da esquerda porque justificava, delineava e trazia elementos de reflexão para uma esquerda que tentava fazer uma política de frente democrática contra o regime militar. Várias categorias do Gramsci e do euro-comunismo foram usadas no Brasil por uma parte da esquerda que estava se reconciliando com a democracia, e que achava que não se devia lutar pela derrubada da ditadura, mas sim pela derrota da ditadura. A idéia era fazer uma política de frente para isolar o regime militar. Então, categorias de Gramsci, como a Guerra de Posição e a idéia de que o País já era ocidentalizado e não oriental, comportavam a luta política institucional, luta de massa, reivindicação da democracia. Esse foi o Gramsci importante para a reconstrução da esquerda brasileira. Isso influenciou no começo o velho comunismo e depois se propagou pelo petismo, que tinha muitos elementos em contradição com a velha esquerda comunista. Mas Gramsci foi particularmente influente nos dois casos, porque, em ambos, a atenção da luta democrática, institucional e eleitoral, era importante."


(Gildo Marçal Brandão, em entrevista de 21 de outubro de 2009, publicado neste Blog - faleceu ontem)

Viva o 'tríduo momesco!' :: Arnaldo Jabor

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Todo ano meu artigo cai na terça-feira de carnaval e todo ano me repito sobre o chamado "tríduo momesco", como escreviam os jornalistas barrocos. Os bombeiros eram os "bravos soldados do fogo", um incêndio era o "belo horrível" e "no desastre o trem ficou reduzido a um monte de ferros retorcidos". E o carnaval era o "tríduo momesco".

Todo ano, espremo a cabeça sobre o assunto - nostalgias, pretensas reflexões - e nada sai de novo.

Assim, resolvi fazer uma antologia de mim mesmo sobre forrobodó de fevereiro, o farrancho, a folia, a folgança, o banzé, a bambochata, como rezam os sinônimos do genial dicionário analógico de Francisco dos Santos Azevedo.

Muito bem.

Acho o carnaval nossa patuscada e grandeza. Como pode o mundo achar o carnaval um desvio da razão, este mundo insano de Chávez, Irã , Iraque, de bombas "clean" contra bombas sujas? O carnaval nos vê e exibe a matéria de que somos feitos, por baixo dessa mímica de "Ocidente" que tentamos há quatro séculos.

A África e os índios nos salvaram, assim como salvaram os USA. Que seria da América sem o jazz?

O carnaval é feminino; o "rock" é de homem. O "rock" é guerra; o carnaval é luxo e volúpia. As mulheres que flutuam no ar dos desfiles estão além do desejo real. Conquistadas, elas seriam reais, mas nosso desejo as quer como metáforas inatingíveis.

Se bem que, nos musicais americanos, quem inventou as escolas de samba na tela foi o americano Busby Berkeley, esse gênio esquecido.

Talvez nosso carnaval seja uma doença salvadora, uma epidemia de delírio de que o mundo precisa, além da guerra, da velocidade e do mercado cruel.

A "razão perversa" é a razão do carnaval. Não a perversão como "pecado", mas como a busca de uma civilização "não civilizada", de retorno a uma animalidade perdida e pulsante.

A sacanagem das matas profundas é diferente das surubas calvinistas de Nova York, que inventaram o sexo torturado nas boates doentias e acabaram na aids. Nosso carnaval mostra que o Inconsciente brasileiro está a flor da carne. Quanto mais civilizado o país, mais fundo o recalque. Já imaginaram nossa cascata de bundas na Suíça?

Antes, o carnaval começava no Rio com as marchinhas tocando no rádio desde dezembro, sob o canto das cigarras do verão.

Na terça-feira (hoje) eu ia com meu pai à Avenida Rio Branco, ver a passagem das "sociedades" carnavalescas.

Eram carros alegóricos cheios de rodas moventes, de estátuas de papel e massa, grandes e toscas carrancas, estrelas, sóis, luas cobertos de mulheres provocantes. As "sociedades" competiam com nomes góticos como "Pierrôs da Caverna" ou "Tenentes do Diabo". Todo mundo cantava: "Chiquita Bacana lá da Martinica, se veste com uma casca de banana nanica!" De repente, eu vi um carro imenso que era um despotismo de cachos de banana, onde dançava uma mulher lindíssima, completamente nua na proa. Os pais de família, as mães de família (todo mundo era de família) sussurravam: "Olha a Elvira Pagã! Olha a Elvira Pagã!"

Já contei essa história aqui, mas repito.

Elvira Pagã era apenas uma vedete mas, naquele ano remoto, ela queria "provar" alguma coisa. Algumas atrizes como ela (Luz del Fuego e outras) transcendiam o palco e viravam símbolos dos desejos reprimidos no coração das famílias. Eu via nas senhoras distintas a inveja infinita e escandalizada e no olhar de meu pai um brilho faminto que eu não conhecia. Elvira Pagã (que nome anticristão e livre...) foi a precursora corajosa das mulheres nuas de hoje, como Luz del Fuego e Eros Volusia.

Hoje, as mulheres do carnaval travam uma competição frenética de bundas e seios e eu me pergunto: O que querem elas provar? Querem nos levar para o fundo do mar como sereias, querem destruir os lares, querem mostrar que o sexo sem limites resolverá os problemas do Brasil?

Até hoje, quando penso nos carnavais da minha infância, lembro do cheiro do lança-perfume. Carnaval para mim era o cheiro.

O lança-perfume era tudo. Havia uns em vidro, frágeis como ampolas, mas o símbolo do carnaval era o Rodouro Metálico, que ejetava um fino jato de éter, gelando as costas nuas de odaliscas e havaianas que se torciam em risos trêmulos. O perfume flutuava pelas avenidas como uma aragem geral, uma nuvem de felicidade salpicada de pontos coloridos de confetes e rasgada por serpentinas. Hoje, com os corpos malhados, excessivamente nus, falta a celulite, falta o mau jeito, falta o medo, a ingenuidade, o romantismo, falta Braguinha, Lamartine Babo, Mario Lago. Lembro também das escolas de samba a pé ainda na Avenida Rio Branco, um bando de índios de bigode e penas de espanador, pintados de preto, seguidos pelas gordas baianas cobertas de balangandãs.

Naquele atraso havia ainda uma preciosa alma brasileira, um ritmo humano de esperança que víamos no carnaval e no futebol, com Ademir e Zizinho geniais, disputando o Vasco e Bangu, esperança ingênua que se via nos bondes, nos botecos, nos caixotes dos bicheiros nas ruas, nas cadeiras da calçada e até nas favelas líricas e sem droga, sem crimes hediondos.

Este passado ainda se vê hoje no mundo dos foliões anônimos. Nas ruas, está a preciosa origem do carnaval profundo. Lá, estão os desesperados, os famintos de amor, os malucos, os excluídos da festa oficial. O carnaval das ruas está longe do populismo oficial, que transforma o popular em kitsch.

Nas ruas, estão os blocos dos anjos de cara suja, os blocos das escrotas, dos vagabundos, dos bêbados ornamentais, da crioulada pobre.

Só os sujos são santos. Ali, estão as três raças brasileiras entrelaçadas num casamento grupal doido: negros, brancos e índios dando à luz um grande bebê mestiço e gargalhante.

O carnaval de hoje é um grande tumulto. Parece uma calamidade pública musicada por uma euforia disputada pelo narcisismo de burgueses e burguesas se despindo para aparecerem na TV.

Em matéria de saudades, sou nacionalista.

Tenho vontade de botar uma camisa amarela, sair com um reco-reco e um pandeiro na mão e sumir no turbilhão da galeria da minha vida que já passou.

Cabral cobra fidelidade de Dilma

DEU EM O GLOBO

No Sambódromo, governador adverte que ministra não poderá ter dois palanques no Rio

Chico Otavio, Flávio Tabak, Maiá Menezes, Fábio Vasconcelos e Natanael Damasceno


Ao chegar ao Sambódromo no fim da noite de ontem, para a segunda noite de desfiles do Grupo Especial, o governador Sérgio Cabral (PMDB) fez uma advertência pública à ministra Dilma Rousseft, pré-candidata do PT à Presidência da República: não aceitará que, no Rio, ela também suba no palanque do ex-governador Anthony Garotinho (PR), até aqui seu mais ferrenho opositor. Dilma se reuniu com Garotinho no fim do mês passado, no Rio. Cabral disse que não uma equação eleitoral que “não fecha”, e deu a entender que Dilma poderá perder seu apoio:

- Acho o seguinte: quando há dois palanque, pode ser um problema. Aqui, a equação não fecha. Como é que ela (Dilma) vai no mesmo dia para um palanque de situação e, depois, para um de oposição? Vai acabar perdendo o voto até da minha mulher.

Na véspera, Cabral conversou Dilma no Palácio Laranjeiras, antes de os dois seguirem para o sambódromo, onde assistiram juntos à passagem de três escolas de samba. Segundo testemunhas, o encontro teria sido “extremamente” cordial. Encorajados pela apresentação da Unidos da Tijuca, um aliado próximo a Cabral chegou a dizer que já começaram as negociações para convencer Garotinho a sair do páreo em troca de alguma vantagem política.

A notícia circulou na porta do camarote do governador, na Passarela do Samba, logo depois da saída da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que passou quase quatro horas no Sambódromo, tempo suficiente para assistir, entre rápidos aplausos e braços cruzados, à passagem de três escolas de samba. Dilma desembarcara na cidade por volta das 20h, mas, antes de seguir para o camarote, teve uma reunião política com Cabral e seu staff no Palácio Laranjeiras. Garotinho, por outro lado, nega as negociações.

O encontro serviu para um acerto de ponteiros depois do mal-estar provocado pelo encontro de Dilma com Garotinho, ocorrido no fim do mês passado, no Rio. Além de explicar as razões da aproximação, a ministra aproveitou a oportunidade, em pleno carnaval, para acertar com Cabral uma agenda de campanha no estado. Segundo testemunhas, o encontro teria sido "extremamente cordial".

- Não acredito que as convenções partidárias vão confirmar as candidaturas previamente colocadas. Até lá, muita água vai passar por debaixo da ponte. Há muito balão de ensaio - disse um dos articuladores de Cabral.

Um dos trunfos do grupo de Cabral, no esforço de convencer Garotinho a abandonar o páreo, é o pouco tempo de TV que o ex-governador terá (cerca de dois minutos) numa disputa cada vez mais voltada para a mídia eletrônica. Cabral venceu as eleições passadas tendo em seu palanque o casal Garotinho, na época no PMDB.

Outra novidade esperada é a concretização de uma aliança inédita, no Rio, entre peemedebistas e petistas. Para isso, Cabral contaria com o aval do presidente Lula. Mas o governador sabe que, mesmo após a derrota de Lindberg Farias no PT fluminense, o que afastou o prefeito de Nova Iguaçu da disputa sucessória, ainda terá de acomodar os aliados, já que pelo menos três deles (Marcelo Crivella, do PRB, com apoio de Lula; Jorge Picciani, PMDB; e Benedita da Silva, do PT), cobram apoio de Cabral na disputa das duas vagas ao Senado Federal.

Depois de encerrar, à 1h40m de ontem, sua participação no carnaval 2010, a ministra só voltará ao trabalho amanhã. No Sambódromo, procurou evitar temas políticos. Nem mesmo a provocação, em tom de brincadeira, de Cabral, que tomou o microfone de uma repórter de TV para "entrevistar" Dilma, a convenceu a politizar sua passagem pelo carnaval carioca.

- Ministra, como a senhora se sente ao receber aplausos na Passarela do Samba? - perguntou um sorridente governador.

- Olha, Sérgio, nesse momento eu não prestei atenção. Eu não vi - respondeu.

A ministra estava certa. Não houve aplausos para ela.

Ajuda de Lula para para pressionar PR

Eleito com o aval de Garotinho, de quem hoje é adversário ferrenho, Cabral vinha correndo isoladamente na campanha para a reeleição, até ser surpreendido pela entrada no páreo do deputado federal Fernando Gabeira, que será candidato pelo PV, numa aliança com o PSDB.

Cabral conta com a ajuda do presidente Lula para pressionar o PR a desistir de lançar candidato. O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, será o novo presidente do partido. Cabral havia pedido uma conversa com o presidente Lula sobre o quadro eleitoral no Rio e trataria do tema durante o carnaval, mas ele desistiu de acompanhar os desfiles.

De acordo com aliados do governador, a maior preocupação de Cabral é com a entrada de Gabeira no cenário: há um temor de que, em um segundo turno, haja uma nacionalização a campanha.

- O presidente ligou para o governador, e a conversa foi marcada para depois do carnaval - disse o vice-governador Luiz Fernando Pezão, acrescentando que Cabral está convencido de que Dilma ficará em apenas um palanque no Rio.

Garotinho faz questão de dizer que ainda não sabe se concorrerá ao governo do estado. Por trás da indecisão está a sua filiação ao PR, em 2009, partido da base do governo Lula. Em troca de seu apoio e dos mais de 20% das intenções de voto que apresenta nas pesquisas, Garotinho quer estar ao lado de Dilma ou, no mínimo afastá-la de Cabral. Garotinho nega que o Planalto está tentando barrá-lo da sucessão.

- Ninguém pode retirar o que não está colocado. A ministra Dilma foi muito clara comigo no encontro que tivemos. Ela disse: "Estou aqui conversando com você, e o presidente Lula sabe que eu não faria nada sem que ele soubesse" - afirma o ex-governador. - Caso se confirmem, hipoteticamente, a minha candidatura, a do Cabral e a do Gabeira, acho pouco provável que ele (Cabral) vá ao segundo turno. A tendência que os setores populares fiquem comigo, e os mais conservadores, com o Gabeira. Aí fica difícil um espaço para ele.

Enquanto Cabral e Garotinho ainda costuram alianças e negociam vagas em suas futuras chapas, o deputado federal Fernando Gabeira (PV) já começa a esboçar o formato de sua campanha ao governo. A coligação PV/PSDB/DEM/PPS foi formalizada no dia 8 de fevereiro. Durante os dias que restam de folia, Gabeira quer ir ao Maracanã para torcer pelo Flamengo na Taça Guanabara, e escrever ideias que serão apresentadas aos eleitores.

- Trarei algumas metas que serão apresentadas na coligação, como utilizar os recursos do petróleo para nos libertarmos dele. Também escreverei sobre como avançar na segurança, que hoje está mais concentrada na Zona Sul (da capital) - diz o deputado.

OS ENREDOS DA ELEIÇÃO NO RIO

DEU EM O GLOBO

Os três prováveis candidatos ao governo do estado neste ano têm semelhanças que vão além de suas profissões de origem. O governador Sergio Cabral (PMDB), o deputado Fernando Gabeira (PV) (ambos jornalistas) e o radialista e ex-governador Antony Garotinho (PR) já passaram por diferentes trincheiras políticas. Aliaram-se a correntes que um dia já criticaram e tentam montar seus discursos na fronteira entre o pragmatismo e a coerência política.

Sergio Cabral

1) Sua estréia na política foi na juventude do PMDB, nos anos 80. Foi presidente da TurisRio na gestão do ex-governador Moreira Franco.

2) Em 1992 passou para o PSDB. Foi candidato a prefeito e a governador pelo PSDB. Cresceu na política com a benção do então governador Marcelo Alencar. Era aliado do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

3) Em 1999 entrou no PMDB pelas mãos do ex-governador Antony Garotinho. Foi com o apoio de Garotinho que Cabral se elegeu governador.

4) Hoje é amigo e aliado do presidente Lula.

Fernando Gabeira

1) Sua vida política começou nos anos de chumbo, época em que participou da luta armada contra o regime militar. Atuou em episódios marcantes, como o seqüestro do embaixador americano Charles Elbrik. Foi exilado e depois entrou na vida político-partidária brasileira.

2) Com a reabertura política fundou o PV. Foi candidato ao governo do Estado em 1986 e é deputado federal desde 1995.

3) Gabeira trocou o PV pelo PT em 2001. Deixou o partido em outubro de 2003 por divergir de políticas adotadas pelo presidente Lula.

4) De volta ao PV em 2005, Gabeira, que sempre foi identificado com a esquerda, agora é apoiado pelo PSDB, que indicará seu vice. Ele receberá ainda o apoio do DEM. Foi candidato a prefeito do Rio em 2008 pelo PV.

5) Fará campanha para Marina Silva, ex-ministra de Lula, e receberá apoio do tucano José Serra.

Garotinho

1) Começou na política no PT como vereador. Migrou para o PDT do então governador Leonel Brizola.

2) Foi eleito para o Palácio Guanabara pelo partido, brigou no meio do mandato e se filiou ao PSB. Deixou o governo e elegeu a mulher, Rosinha Garotinho, como sua sucessora. Foi candidato à Presidência pelo PSB em 2002. No meio do mandato de Rosinha rompeu com os socialistas e procurou abrigo no PMDB

3) Ungido por Garotinho o governador Sergio Cabral foi eleito para suceder Rosinha, em 2006.

4) Em 2006 tentou ser candidato pelo PMDB ao Planalto como crítico do governo Lula, mas perdeu a indicação do partido. Garotinho era adversário ferrenho de Lula, de quem hoje se diz aliado.

5) No fim do ano passado, se filiou ao PR, partido da base do governo federal..


Adeus à política diz Denise Frossard

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Informe JB :: Leandro Mazzini

EX-DEPUTADA FEDERAL e juíza aposentada Denise Frossard não vai mais disputar eleições. “Adeus à política”, disse ontem num encontro com a coluna no Rio, durante duas horas de papo. Denise ainda era esperança do PPS de um grande quadro no Rio para disputa proporcional ou majoritária.

Em 2006, levou para o segundo turno a disputa contra Sérgio Cabral pelo governo. Frossard revelou que a decisão é pessoal e irrevogável. Não houve acordo com Cesar Maia, nem mágoa com aliados ou adversários, como se propaga pelas ruas diante de sua ausência no cenário. Acredita que aprendeu a fazer a boa campanha, mas desnudou-se de ambições.

Embora ainda filiada ao PPS, não participa mais do debate partidário. Aos eleitores e fãs, esqueçam Denise política.

Voltou a ser tão só uma cidadã carioca.

Na praia com Serra

DEU EM O GLOBO

Em projeto com deficientes, governador entra de roupa no mar

Wagner Gomes

PRAIA GRANDE. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), mostrou que, em véspera de período eleitoral, vale tudo, até entrar no mar de tênis, calça jeans e camiseta. Ao lançar ontem, na Praia Grande, uma das mais populares do litoral paulista, um programa para ajudar o acesso de deficientes físicos ao mar, Serra teve dia de candidato, com as pessoas chamando-o de "presidente". Mas ele negou que estivesse em campanha eleitoral.

- Sempre sou bem recebido nos lugares em que vou - disse Serra, desconversando sobre a clima de campanha na praia lotada.

O programa ""Praia Acessível" facilitará o acesso de pessoas com deficiência às praias de São Paulo com o uso de cadeiras de rodas adaptadas, que não afundam na areia e flutuam na água. Serra foi breve no discurso, mas não hesitou em caminhar até o mar empurrando algumas cadeiras especiais. Com água na cintura, ele brincou com banhistas, tirou fotos e abraçou crianças.

Como tudo foi de improviso, Serra não encontrou toalha para se enxugar e voltou para o carro do governo encharcado e aparentemente cansado. O programa vai funcionar em Praia Grande, Ilha Bela e Santos. Na primeira fase estão sendo entregues cem cadeiras de rodas, mas a ideia é chegar a mil ainda nesta temporada.

- É mais um aspecto da batalha que estamos fazendo em São Paulo para dar a pessoas com deficiência uma condição melhor de vida e de cidadania - disse o governador.

O serviço ficará disponível de terça-feira a domingo, das 9h às 17h, até o fim de março. Após a temporada, os cadeirantes poderão utilizar o serviço durante nos fins de semana. Para usar as cadeiras, é necessário apresentar os documentos do usuário e acompanhante, além de preencher um termo de responsabilidade. O equipamento só pode ser utilizado com acompanhamento facilitador ou acompanhante, independentemente da condição física do usuário. O país tem hoje 24,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Esse número representa 14,5% da população brasileira. Em São Paulo, segundo o governador, 4 milhões de pessoas têm algum problema de mobilidade.

Corte de gastos é desafio para era pós-Lula

DEU EM O GLOBO

O presidente Lula chega ao fim de seu segundo mandato com a estabilidade econômica consolidada. Ao mesmo tempo, dizem economistas, deixa lacunas e desafios para quem vencer as eleições, como o descontrole dos gastos e a elevada carga tributária.

Altos e baixos do governo Lula

Estabilidade foi mantida, mas redução de gastos e reformas são desafio para sucessor, dizem analistas

Eliane Oliveira e Vivian Oswald

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva completará este ano seu segundo mandato, com o mérito de ter consolidado a estabilidade macroeconômica, com a manutenção dos regimes de metas de inflação e de câmbio flutuante e a produção de superávits primário (receitas menos despesas, descontados os juros da dívida) no setor público e nas contas externas. No entanto, segundo economistas ouvidos pelo GLOBO, Lula também deixará como legado lacunas e desafios, como a diminuição dos gastos correntes, o aumento dos investimentos públicos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país), a aprovação de reformas constitucionais, a redução da burocracia e do excesso de regulamentação e a busca por maior competitividade, por meio de uma política alentada de pesquisa e desenvolvimento.

A expectativa é que pouca coisa resta a ser feita em 2010. Como ocorre tradicionalmente em ano de eleição, deverão entrar em pauta apenas os assuntos em fase mais avançada e que exercem forte pressão no Congresso, como o marco regulatório do pré-sal. Na esfera administrativa, o que pode se esperar é a implementação de medidas pontuais, tendo como foco a continuidade do crescimento econômico.

Para a economista-chefe da Rosemberg & Associados, Thais Zara, o maior desafio é a recuperação da estabilidade fiscal. Além dos dispendiosos gastos com a máquina, o governo ainda teve de abrir a torneira, com medidas de estímulo à produção, para permitir que o país enfrentasse a crise financeira internacional, que começou no segundo semestre de 2008 e foi perdendo forças em meados deste ano.

- Tivemos uma mudança no comportamento fiscal para fazer frente à crise - disse ela.

Com crise mundial, "licença para gastar"

A questão é que, segundo Raul Veloso, especialista em contas públicas, enquanto os gastos correntes representam 16,3% do PIB, os investimentos do setor público estão em torno de 1%.

- O governo conseguiu licença para gastar com a crise, mas essa licença tem de ser temporária. A expansão das despesas acaba sendo compensada pela alta carga tributária - afirmou Veloso.

Uma das consequências da bonança no país acabou se refletindo do câmbio valorizado, uma das maiores queixas da indústria, sobretudo dos exportadores. A média da taxa de câmbio no ano passado foi de R$1,99. A previsão é que, em 2010, a moeda americana deve ser cotada em R$1,70. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já afirmou que este deve ser o maior desafio do setor, assim como os investimentos em infraestrutura.

- Os investimentos públicos são baixíssimos. E é o investimento privado que tem movido o país - comentou o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto.

Para o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante, o Brasil não pode se descuidar da agenda microeconômica. Ele reconheceu que é necessário aumentar os esforços de aprofundar as reformas e atacar as deficiências da infraestrutura e da logística.

Newton Marques, professor de Economia da Universidade de Brasília, cita como exemplos de frustração as reformas da Previdência, Tributária e Sindical, que não foram feitas em dois mandatos. Para ele, outro fracasso da área econômica consiste no fato de, mesmo com diversas medidas tomadas, o spread bancário (diferença entre os juros que o banco paga para captar recursos e o que ele cobra na concessão de empréstimos) não ter diminuído.

- A lacuna que fica para 2010, ou mesmo para o próximo governo, é aumentar a oferta de crédito através de cooperativas, microcréditos e estimular a ampliação da concorrência - disse Marques.

Fernando Holanda Barbosa, da escola de pós-graduação de Economia da FGV/Rio, cita especialmente a reforma tributária, que começou a ser discutida antes do governo atual:

- A reforma tributária é bastante esperada, para que tenhamos um sistema mais eficiente e menos oneroso. Também é necessário rediscutir a atual política fiscal.

Carga tributária e burocracia em alta

Para o economista e ex-diretor do Banco Central José Julio Senna, da MCM Consultores, o aspecto menos saudável da economia brasileira é o da intervenção do Estado no domínio econômico.

- Eu chamaria atenção para a intervenção tanto direta quanto indireta. A última é a regulamentação, as leis que regem o funcionamento das coisas, a burocracia. O empresário tem que ser estimulado a produzir mais para ter lucro. Os grandes geradores de empregos no mundo são os micro e pequenos empresários, que sofrem com a burocracia e o excesso de exigências - afirmou Senna.

Ele também citou a elevada carga tributária, em torno de 35% do PIB, como fator inibidor do crescimento econômico, "uma intervenção direta do Estado".

O professor de mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, destacou que o governo Lula deu continuidade às bases deixadas pela administração anterior, o que foi visto como um passo extremamente positivo, especialmente no fim de 2002, quando havia temor de que as bases fossem demolidas com a vitória de Lula nas eleições. No entanto, faltou uma política de desenvolvimento em pesquisa e tecnologia que permitisse fazer com que o país desse um salto tecnológico.

- O período FH e Lula pode ser visto como uma etapa no desenvolvimento do país. Começou com o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o sistema de metas de inflação, rigor fiscal, superávit na contas externas. Chegou o momento de se dar um passo à frente, focado em uma política consistente - disse Leite.

Classe média à vista::Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

O rumo que a classe média tomar na eleição deste ano tem tudo, pelo menos em princípio, para confirmar a continuidade da democracia e reduzir a folga ética praticada de maneira equivocada abaixo do Equador.

Só não se sabe até quando.

A falta de consequência legal para práticas inaceitáveis ou a interrupção das investigações por motivos aleatórios, de força maior e no pior sentido, continuam a perverter os costumes.

Partindo do princípio de que não há como piorar o teor da representação política com graves danos à credibilidade democrática, como passou a ser desde o mensalão, a conclusão é pela necessidade de um ponto de inflexão, a partir do qual a classe média entornará o caldo.

Por mais qualificado que seja o eleitor dessa faixa social, espremida entre o nível superior de renda e o inferior, que não são expressos em números, o que genericamente se entende como classe média, com margem de folga à direita e à esquerda, não para de crescer. Por enquanto, ainda é cedo para entender o que se passa na cabeça dessa gente que, para não se comprometer, limitase a manifestar-se em pesquisas de opinião. O anonimato funciona também no espaço cibernético que se expande socialmente com o exercício de pequenos textos, meia dúzia de linhas, opiniões veementes que traduzem mais irritação e impaciência do que raciocínio.

Na internet circula material que diz mais do quea intenção de voto. Vem aí a campanha eleitoral em novos termos.

Depois da eleição que se arma em estilo de tempestade de verão, com mais ruído do que chuva, será inevitável que a cidadania identifique novas formas de participação, mesmo que não sejam convencionais, antes que a opinião pública se solte das conveniências e procure um caminho natural como a água ensina a fazer quando entorna. A credibilidade da democracia representativa entraria em colapso se a Câmara e o Senado – sem falar nas assembleias legislativas e câmaras municipais, caixas de ressonância que desaprendem com o nível federal princípios elementares de democracia – deixassem os líderes de bancadas tomar decisões por seus liderados.

Só falta o voto por telepatia, substituído provisoriamente pelo telefone celular (obviamente tambémpago pela viúva), como etapa mínima de sobrevivência para o que restar do conteúdo representativo na evolução política brasileira.

Não é com reverência subalterna, a título de evitar o pior, que se aperfeiçoa a vida política, devedora de um exemplar ato de penitência por ter sido dócil às imposições do autoritarismo, nem sobre viver de favores que não dignificam o que se denomina democracia representativa.

Representativa de quê? Líderes que votam pelos liderados como se fosse pesquisa de opinião por falta de autoridade para exercer a função são coveiros (com carteira assinada) da democracia.

Ninguém desconhece que a classe média brasileira aprendeu o suficiente quando assistiu, transitiva e intransitivamente, à instabilidade que instalaram os governos militares e, depois de 20 anos, está elatestemunhando a desagregação do poder representativo, que não emana da simulação de líderes sem conteúdo.

Não se mede o grau de democracia pelo número de partidos políticos. O pequeno burguês tem visto de perto e deve ter aprendido o suficiente para entender o que se passou e não querer repetir lição. A alternância do poder se processa sem risco de retrocesso político, desde que se estabeleceu o princípio da maioria absoluta.

O resultado da aplicação da maioria absoluta e da alternância do poder já está na história. O pecado original de que a democracia precisa se libertar é a reeleição, que embaralhou o compasso da alternância natural a partir da tentação inevitável do terceiro mandato.

Wilson Figueiredo é jornalista

Madonna ofusca Dilma no Sambódromo do Rio

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

A ministra e presidenciável petista assistiu ao desfile das escolas de samba, no domingo à noite, no camarote do governador Sérgio Cabral. No entanto, as atenções estavam voltadas para a cantora

RIO – Na última etapa da maratona carnavalesca que incluiu Recife e Salvador, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, assistiu no domingo ao desfile no Sambódromo do Rio e dividiu as atenções com uma concorrente imbatível. A cantora Madonna foi a grande estrela durante quase duas horas em que ficou no camarote do governador Sérgio Cabral (PMDB).

Pessoas que estavam nas frisas do setor 9 e até as que desfilavam na avenida aproveitaram a oportunidade para fotografar a cantora. Algumas sequer reparavam a presença da ministra. Dilma, discreta, cumprimentou a companheira de camarote e se divertiu com a filha adotiva de Madonna, Mercy James. A ministra pegou a menina no colo e mostrou a festa para ela. Depois, leu e cantarolou trechos dos sambas.

Como a maioria dos convidados que não estão acostumados ao desfile carioca, Dilma não resistiu e, por duas vezes, desceu até a avenida para ver o espetáculo de perto. Logo ao chegar, pouco antes das 22 horas, viu o fim do desfile da União da Ilha, a primeira escola a se apresentar. Depois, voltou para assistir ao início da Imperatriz Leopoldinense. Desta vez, mais descontraída, provou o “cravo do Candonga”, bebida conhecida como “viagra natural” com aguardente e várias especiarias misturadas. Dançou com um gari e, quinze minutos depois, voltou ao camarote.

Foi na terceira escola, a Unidos da Tijuca, que Dilma mostrou mais empolgação. “Um espetáculo. Quando a gente pensa que já viu tudo, vê que não viu nada”, elogiou a ministra, ao deixar o Sambódromo, à 1h40. Dilma se disse encantada especialmente com a comissão de frente da escola tijucana e com o efeito que mudava a fantasia das dançarinas. “Hoje eu me energizei”, comentou, ao se despedir do governador Sérgio Cabral.

Cabral e Paes simularam uma entrevista com Dilma. Cabral perguntou à ministra como ela tinha se sentido ao ouvir a arquibancada aplaudi-la. “Olha, nisso eu não prestei atenção, porque não vi”, respondeu Dilma. A pergunta era, na verdade, uma brincadeira do governador, porque não houve aplausos para Dilma, que teve uma passagem bastante discreta pelo carnaval carioca. O governador de São Paulo e presidenciável do PSDB, José Serra, era esperado ontem à noite no Rio para assistir ao desfile.


TERCEIRO DIA - BLOCO DA SAUDADE

De roupa, Serra entra no mar e volta ao carro encharcado

Da Agência Estado

O governador de São Paulo, José Serra, com cadeirante na Praia Grande (Foto: Paulo Pinto/Agência Estado)

Governador levou cadeirantes até o mar em Praia Grande (SP).

Deficientes estrearam cadeiras adaptadas para banho de mar.

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), entrou nesta segunda-feira (15) no mar com tênis, calça jeans e camiseta tipo polo na Praia da Guilhermina, na Praia Grande, durante o lançamento do projeto Praia Acessível - que vai oferecer cadeiras de rodas adaptadas para que deficientes físicos possam tomar banho de mar.

Serra evitou falar de política, mas, no melhor estilo pré-eleitoral, aproveitou a praia lotada em pleno feriado de carnaval para acompanhar os cerca de 20 deficientes que estrearam as cadeiras. Empurrou uma delas, entrou no mar até que o nível da água atingisse a altura da cintura e brincou de jogar água no grupo durante cerca de cinco minutos.

Serra decidiu empurrar uma das cadeiras assim que ouviu a sugestão um popular e, ao que tudo indica, também resolveu entrar no mar com roupa e tudo em cima da hora: não havia qualquer assessor com uma toalha e o governador retornou ao carro oficial encharcado.

O governador aparentava cansaço depois das viagens recentes ao Nordeste nos últimos dias. O lançamento do projeto Praia Acessível ocorreu em uma tenda montada na Praia de Guilhermina. A ideia é distribuir cerca de cem cadeiras, na primeira fase, entre diversas praias do litoral (as primeiras serão Guilhermina; Perequê, em Ilhabela; e Boqueirão, em Santos). Compareceram ao evento os prefeitos de Peruíbe, Mongaguá, Guarujá e Bertioga e os vice-prefeitos de Praia Grande, São Vicente e Itanhaém.

'El País': Com Serra ou Dilma, 'Lula vencerá' eleições de 2010

DEU EM O GLOBO

" Se ela (Dilma) vencer, as eleições seriam na verdade um terceiro mandato de Lula e garantiriam a continuidade de um certo lulismo "

"Com Serra, o Brasil seria um país sem Lula, mas ainda com Lula, no sentido de que o governador paulista não nega nenhuma das conquistas sociais de seu governo "

Um artigo no diário espanhol "El País" avalia que, qualquer que seja o vencedor das eleições de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sairá, simbolicamente, vencedor no pleito.

A análise, assinada pelo correspondente do jornal no Brasil, Juan Árias, discorre sobre os dois principais pré-candidatos na disputa - a petista Dilma Rousseff, candidata do Planalto, e o tucano José Serra, da oposição - afirmando que ambos, se eleitos, "seguirão o caminho" de Lula.

"A partir do próximo dia 1º de janeiro, o Brasil será um Brasil sem Lula. O que acontecerá? Nada", diz o repórter.

"Continuará sendo um país com instituições democráticas consolidadas, que não apenas conseguiu sair, sem se quebrar, da crise mundial, mas que está crescendo; um país sem possibilidades de golpe de nenhum tipo e que, apesar de alguns rompantes populistas em alguns momentos - sobretudo pela influência do chavismo - não se deixou arrastar pelo populismo da vez na América Latina."

Juan Árias aposta que a disputa presidencial deste ano será disputada. De um lado está Dilma, "uma espécie de sombra" de Lula, diz o analista. "Se ela vencer, as eleições seriam na verdade um terceiro mandato de Lula e garantiriam a continuidade de um certo lulismo."

Porém, diz o texto, "Dilma não é Lula". "É quase um anti-Lula porque, mais que uma iluminada e uma improvisadora como ele, é uma gestora, que carece do carisma transbordante de seu chefe", descreve.

Já Serra "suporia a alternância normal, interrompendo de alguma forma a continuidade do PT no poder", avalia Árias.

Mas o autor acredita que o tucano não é um "anti-Lula" e que, portanto, a escolha entre sua política e a política atual é "um falso dilema". "Com Serra, o Brasil seria um país sem Lula, mas ainda com Lula, no sentido de que o governador paulista não nega nenhuma das conquistas sociais de seu governo."

Na opinião do correspondente, a campanha de Serra não seria "contra Lula", mas "depois de Lula". "Para Serra, seu governo não seria uma fotocópia do passado social-democrata, mas uma página nova."

Na avaliação do correspondente do "El País", "sem Lula agora, e talvez com Lula amanhã de novo, o Brasil é um país que tomou o trem na direção certa, que o levará a consolidar o milagre de seu desenvolvimento".

(VER matéria, na integra, neste Blog, ontem)

Para Dilma, Estado deve ser também ‘empresário’

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, defende a presença mais forte do Estado na economia: não apenas para induzir investimentos mas também para tocar obras, informa Marta Salomon. "O Estado terá, inexoravelmente, de reforçar seu segmento executor", disse a ministra, ao detalhar proposta que chamou de "bem-estar social à moda brasileira".

Dilma faz defesa de Estado presente e tocador de obras

Ministra explica em livro editado pelo PT o que chama de bem-estar social à moda brasileira

"O grande desafio é ainda superar o peso dos 25 anos de estagnação da economia e das políticas sociais", diz a pré-candidata na entrevista

Marta Salomon

BRASÍLIA - Em entrevista editada em livro que será lançado no congresso petista, de quinta a sábado, a pré-candidata ao Planalto Dilma Rousseff defendeu a presença mais forte do Estado na economia, não só para induzir investimentos mas também para tocar obras. "O Estado terá, inexoravelmente, de reforçar seu segmento executor", disse a ministra ao apresentar proposta que chamou de "bem-estar social à moda brasileira".

A presença mais forte do Estado na economia será necessária, defende Dilma, para universalizar serviços de saneamento, melhorar a segurança pública, ampliar o número de unidades de atendimento na saúde e a oferta de habitação a partir de 2011. Mais de quarta parte da população (26,6%) ainda não dispõe de serviços de esgoto, de acordo com os dados oficiais mais recentes.

"Muitos diziam que só havia um jeito de as pessoas melhorarem a sua situação, era através do mercado. E que, se acreditássemos nisso, todos seríamos salvos", observou a ministra da Casa Civil, defendendo a concessão de incentivos à atividade econômica nos últimos anos."O grande desafio é ainda superar o peso dos 25 anos de estagnação da economia e das políticas sociais. Nós vamos fazer, sabemos como fazer, aprendemos o caminho no governo Lula", diz a pré-candidata.

Lula e a ministra já tinham defendido, em eventos públicos, um Estado mais forte. No início do mês, durante inauguração da primeira fábrica de chips da América Latina, o presidente disse que "o fracasso do sistema financeiro internacional fez ressurgir o Estado como único capaz de salvar a economia da crise". Dilma seguiu o raciocínio: "Achamos que o Estado tem de ter uma presença clara na economia".

Durante a entrevista, Dilma Rousseff concordou com o coordenador do seu futuro programa de governo e vice-presidente do PT sobre o que Marco Aurélio Garcia chamou de "retraimento do pensamento crítico", com o avanço de uma "subintelectualidade de direita".

Garcia defendeu a valorização da produção cultural "submersa" pela indústria cultural.Dilma acenou com o plano que pretende universalizar o serviço de acesso à internet por banda larga para ampliar os canais de comunicação.

"Estamos vivendo um momento culturalmente explosivo. Precisamos colaborar com essa explosão", afirma a ministra no trecho final da entrevista, que ocupa parte do livro "Brasil, Entre o Passado e o Futuro", organizado pelo cientista político Emir Sader e por Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula. Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, afastado após a quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, participou da entrevista.

Vinicius Torres Freire: O caixa automático e o especulador

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Xerife do mercado britânico critica livre fluxo de dinheiro, a finança e elogia taxa sobre entrada de capitais no Brasil

O LORDE que fiscaliza o mercado financeiro britânico, um dos dois maiores, mais complexos e mais liberais do mundo, disse ontem algo parecido a um grande cardeal da Igreja Católica anunciar que acha adequado o uso de preservativos em relações casuais.

Lord Adair Turner, presidente da Financial Services Authority, afirmou ontem o seguinte, em discurso no banco central da Índia:

1) Especulação internacional com moedas pode ser algo muito nocivo;

2) É no mínimo duvidoso que a liberdade de capitais da finança seja de algum modo positiva para o crescimento econômico;

3) Impor controle do fluxo de capitais pode ser bom, tal como o Brasil faz desde outubro de 2009;

4) O sistema financeiro é grande demais para o tamanho das economias, sendo em parte inútil;

5) Parte das inovações financeiras das últimas três décadas e da teoria que a sustentava era apenas ideologia interessada. Turner cita estudos recentes para dizer que os efeitos positivos dos fluxos de capitais de curto prazo podem ser muito pequenos mesmo quando não ocorrem choques econômicos ou financeiros.


Os choques, de resto, quase anulam tais benefícios.

Um tipo de operação financeira criticada por Turner é "carry trade". Isto é, tomar empréstimos na moeda de um país onde o juro é muito baixo (iene, por exemplo) e investir numa moeda onde o juro é mais alto (como, em anos recentes, o Brasil), a fim de ganhar com a diferença. Turner diz que "não consegue discernir nenhum valor econômico" nisso.

Tais negócios foram responsáveis, em parte, por valorizar demais o real; um real forte "demais" (o demais é controverso) encarece as exportações e barateia importados. Pode prejudicar, assim, o comércio e empresas brasileiras. Uma saída rápida de capitais "especulativos" pode desorganizar a atividade econômica dita "real". Turner então elogia a taxação da entrada de capitais (para desestimular excessos especulativos) implementada pelo Brasil.

Em suma, a defesa da livre movimentação de dinheiro e a inovação financeira se baseia no seguinte:


1) Quanto mais diversos instrumentos financeiros houver, mais bem atendidas estarão as necessidades de realização de negócios e cobertura de risco dos agentes econômicos (como instrumentos negociados em mercados futuros, seguros de crédito e derivativos do gênero);


2) Quanto mais líquido e livre um mercado, menos distorção haverá: a ação dos agentes econômicos refletiria "fundamentos" econômicos.

Isto é, a moeda de um país se valoriza porque um país é capaz de pagar suas contas, seus credores. Se investidores, "especuladores" ou não, compram em massa essa moeda, mesmo sem que precisem realizar operações "reais", comerciais, isso seria reflexo de "fundamentos".

Mas sabe-se que "comportamentos de manada", irracionais, provocam excesso, superinvestimento num ativo financeiro (ações etc.) e seu contrário; causam bolhas. Paul Volcker, lendário presidente do Fed, ora assessor de Barack Obama, costuma comentar com sarcasmo sofisticações excessivas das finanças. Diz que, nas últimas décadas, a invenção mais útil do setor financeiro foi o caixa automático.

Morre o cientista político Gildo Marçal Brandão

Ontem, dia 15, segunda-feira de carnaval, por volta das 21 horas, faleceu, em São Sebastião/SP, onde repousava com a família, o nosso estimado companheiro Gildo Marçal Brandão, cientista político singular e intelectual da melhor qualidade. O seu corpo deverá ser trasladado para a cidade de São Paulo, onde será velado e posteriormente enterrado. Natural de Alagoas, transferiu-se para São Paulo, onde desenvolveu seus estudos universitários. Era professor da Universidade de São Paulo. Gildo era casado com Simone Coelho, filha de Terezinha e do nosso inefável Marco Antonio Tavares Coelho, a quem transmitimos nossos fraternos votos de pesar e de muita paz para suportar tão grande perda.

Francisco Almeida

Quem é: Gildo Marçal Brandão

É graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (1971), doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1992) e livre docente em Teoria Política Moderna pelo Departamento de Ciência Política da USP (2004). Atualmente é pesquisador do Cedec e faz parte da Comissão Editorial da Revista Lua Nova. Foi secretário adjunto da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, editor da Revista Brasileira de Ciências Sociais (gestões 2004-2006 e 2006-2008) e coordenador científico do NADD - Núcleo de Apoio à Pesquisa Sobre Democratização e Desenvolvimento (2001-2007). Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Teoria Política Moderna, História das Idéias e Pensamento Político Brasileiro.

Participa dos Conselhos Editoriais

1988 - Atual
Periódico: Lua Nova. Revista de Cultura e Política

2001 - Atual
Periódico: Política Democrática (Brasília)

2001 - 2008
Periódico: Revista Brasileira de Ciências Sociais

2004 - Atual
Periódico: Revista Mediações (UEL)

2005 - Atual
Periódico: Política Hoje

2005 - Atual
Periódico: SciELO Social Sciences


Livros publicados/organizados ou edições, entre muito outros

1. BRANDAO, G. M. B. (Org.) . Brasil: Vinte Anos de Constituição. 1. ed. São Paulo: Anpocs/Fundação Ford/Hucitec, 2008. v. 1. 239 p.

2. BRANDAO, G. M. B. (Org.) . Regionalismos, Democracia e Desenvolvimento. , 2007. v. 1.

3. BRANDAO, G. M. B. . Linhagens do Pensamento Político Brasileiro. 1. ed. São Paulo: Hucitec, 2007. v. 1. 260 p.

4. BRANDAO, G. M. B. ; GAJARDONI, Almyr . A Esquerda no Brasil. São Paulo: Duetto Editorial, 2006.

5. BRANDAO, G. M. B. ; QUIRINO, C. G. ; VOUGA, C. . Clássicos do Pensamento Político. 2ª. ed. São Paulo: Edusp, 2003.

6. BRANDAO, G. M. B. (Org.) ; QUIRINO, C. G. (Org.) ; VOUGA, C. (Org.) . Clássicos do Pensamento Político.. SP: Edusp, 2003.

7. BRANDAO, G. M. B. . Caio Prado Júnior e a nacionalização do Marxismo no Brasil.. SP: , 2000.

8. BRANDAO, G. M. B. . A vitalidade de um pensamento.. SP: Editora da UNESP, 1998. 201 p.

9. BRANDAO, G. M. B. . A Esquerda Positiva (As Duas Almas do Partido Comunista, 1920-1964). 1a.. ed. SAO PAULO: HUCITEC, 1997. v. 1. 302 p.

10. CLAUDIO VOUGA (ORGS,) CÉLIA GALVÃO QUIRINO ; BRANDAO, G. M. B. . Clássicos do Pensamento Político. São Paulo: EDUSP - NO Prelo, 1997.