terça-feira, 30 de março de 2010

Ainda falta o principal:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O resultado da pesquisa Datafolha divulgada no último sábado mostrando José Serra 9 pontos à frente de Dilma Rousseff foi uma surpresa geral. A oposição andava jururu, ainda traumatizada com a pesquisa anterior que havia registrado um quase empate entre os dois, achando que ela poderia ultrapassar Serra na próxima.

Os governistas cantavam vitória como se não houvesse amanhã, na base do "está eleita", já conseguindo contaminar vários setores da sociedade com essa certeza. A coisa chegara a um ponto em que a dúvida era se Dilma ganharia no primeiro ou no segundo turno.

Pura técnica de agitação política e ingenuidade de quem acredita. Pois a pesquisa favorável a Serra tampouco indica que os celebrantes por antecipação devam cancelar os festejos. Apenas aconselha o óbvio: que sejam prudentes, pois eleição não prescinde de campanha. Se não se ganha de véspera, quem dirá antes de começar a campanha eleitoral.

A decantada certeza da vitória por enquanto não teve nem tem base na realidade. Aos fatos: o oponente está na frente. Isso sem se declarar candidato. Uma vez declarando-se, qual o motivo de o eleitor desistir da opção feita anteriormente? Portanto, o mais lógico é que subisse e não caísse nas pesquisas.

Por ora, a pesquisa Datafolha mostra que onde a oposição está pior, no Nordeste, a diferença é de 10 pontos, 35% Dilma e 25% Serra. Mas onde o governo está pior, no Sul, a diferença é de 28 pontos, 48% Serra e 20% Dilma.

A oposição está na frente no Norte, Centro Oeste e Sudeste, aqui com 14 pontos de frente onde estão os três maiores colégios eleitorais, São Paulo, Minas e Rio de Janeiro.

Além disso, entre os eleitores que aprovam o governo, 33% votam em Dilma e 32% em Serra.

Isso significa que há vantagem oposicionista real. Só que há tempo, instrumentos e militância de sobra para alterar a situação se assim o eleitor decidir que deve ser.

Combination. Pode ter sido mera coincidência, mas à medida que ficava mais evidente a candidatura de José Serra à Presidência da República, menos se falava no PT e no Palácio do Planalto da candidatura Ciro Gomes ao governo de São Paulo.

Ao ponto de o consenso em torno do nome de Aloizio Mercadante ter se estabelecido sem necessidade de uma única conversa entre o presidente Lula e Ciro para "resolver" a questão como antes vinha sendo constantemente anunciado.

Conclusão: a candidatura de Ciro em São Paulo nunca existiu de verdade.

Defesa civil. Chico Buarque certa vez propôs a criação de um ministério para prevenção de catástrofes políticas óbvias.

Algo como um conselho que impedisse o presidente Lula de mandar cassar o visto do correspondente do New York Times, que fizesse ver aos aloprados do PT a bobagem de carregar dinheiro em malas para comprar dossiês contra adversários, que aconselhassem deputados a não tentar passar pelo sistema de fiscalização eletrônica de aeroportos com dólares na cueca, enfim, que não dessem tanta chance ao azar.

Seria um dos mais ativos ministérios. Agora mesmo teria a tarefa de desmentir José Rainha Júnior. Um dos primeiros líderes do MST a ficar famoso, a ser preso e acusado por formação de quadrilha, porte ilegal de armas, suspeita de assassinato, associação ao tráfico de drogas, condenado por crimes de incêndio, furto e danos e a merecer da direção nacional do movimento uma manifestação oficial de repúdio.

Ainda assim, apresenta-se como líder de uma ala do MST no Pontal do Paranapanema (SP), cujos acampamentos segundo ele, serão transformados em "comitês pró-Dilma".

As ações começam no "abril vermelho" com as ocupações que tanto desagradam à população. Da mesma forma, os movimentos dos sindicatos ligados à CUT em São Paulo, em que um grevista admitiu que a ideia é "quebrar a espinha" do governador e do candidato.

É de se perguntar aos estrategistas da campanha de Dilma se essa ausência de sutileza não cria uma associação de brutalidade e radicalismo a uma imagem que vem sendo trabalhada exatamente no sentido contrário, de suavidade e moderação.

Sem mesquinharia :: Marcello Cerqueira

DEU EM O GLOBO

O comandante do Exército russo reuniu seu estado-maior e advertiu: A terceira guerra mundial está a caminho e nossos adversários serão os chineses. Um general mais prudente perguntou: Mas, comandante, os chineses são mais de um bilhão e meio e nós apenas cento e cinquenta milhões de russos. Riu-se o comandante: Israel tem apenas cinco milhões de judeus e vence cento e cinquenta milhões de palestinos. Volta o general prudente: E nós temos cinco milhões de judeus? À falta dos cinco milhões de judeus e pacifistas por natureza, fluminenses e capixabas, além de paulistas, vão ter de negociar a tunda que sofremos com a chamada emenda Ibsen Pinheiro, na aprovação da qual o governo federal demonstrou sua política ambígua e de consequências sinistras para os estados produtores de óleo. De logo, o Estado do Rio e seus municípios produtores perdem não menos de 7,5 bilhões de reais e o Espírito Santo 98% das compensações financeiras.

E a ninguém escapa que a responsabilidade pela chamada emenda Ibsen Pinheiro foi resultado da posição que assumiram os ministros Dilma e Lobão, na indiferença pela supressão dos royalties já devidos aos estados-membros produtores, agravados pela curiosa declaração do presidente Lula de que não desejava tal discussão (a dos royalties) no período eleitoral. Ora, se assim não queria, então por que enviou o anteprojeto com o carimbo de urgência urgentíssima? E mais do que isso: a alguém escapa que sem o apoio, ou pelo menos a leniência do governo, a malsinada emenda teria alcançado o formidável número de votos que colheu (369 a favor contra 72)? Sabem os leitores de alguma votação na Câmara, em todo o período do presidencialismo compromissado do governo Lula, em que o governo tenha perdido? De vida atribulada, o deputado autor da emenda, consciente ou inconscientemente não importa, serviu de espoleta para os ministros que referi. É certo que ele tem sua responsabilidade, mas ela não decorre de sua vontade. Antigo parlamentar, sei que as maiorias não se formam à margem do governo-patrão.

A questão do marco regulatório do pré-sal envolve interesses estratégicos do país e não pode ser tratada com a leveza que está sendo conduzida. Não pode. Não pode sem antes ser objeto de ampla discussão com toda a sociedade. E o assunto é de tal vulto e de tal alcance, que irá romper o dique das forças que o governo ainda represa. Os problemas represados com o assistencialismo e apesar da enorme capacidade de comunicação do presidente da República, permanentemente em campanha eleitoral, acabarão por alertar o eleitor que o modelo chegou ao seu termo.

Não é verdade que o Senado Federal pode resolver a contenda e devolver aos estados produtores o direito às áreas pré-licitadas. Sem o de acordo da Câmara dos Deputados, o Senado fará mera figuração. Pela sistemática constitucional, as mensagens do presidente da República são enviadas primeiro para a Câmara dos Deputados, funcionando o Senado da República como Câmara meramente revisora. O anteprojeto porventura alterado pelo Senado pode ser derrubado quando voltar à Câmara que, querendo, restabelecerá o seu texto original. Nessa comédia de erros e desacertos, o presidente da República anuncia que vai, como é do seu ofício, mais uma vez arbitrar a contenda. É possível, mas os eleitores já viram como pode atuar um governo despreocupado pela vida real e talvez já sinta a ameaça de uma sucessão presidencial em que se apresente a burocracia mais arrogante.

Quando o Brasil comprou o Acre dos bolivianos, em 1903, a região amazônica era rica em seringais. Reza a lenda que os grandes proprietários acendiam charutos com notas de mil-réis, importavam vinhos e queijo da Europa, mandavam passar suas camisas em Lisboa, e o fabuloso Teatro Amazonas aí está para atestar a riqueza da época.

Hoje, a União federal gasta com o Acre mais de três vez do que lá arrecada. Na projeção, desde a quebra da borracha, o Acre terá custado ao país cerca de 100 bilhões de reais. A solução correta seria abandonar o Acre à sua sorte? Não. Naturalmente, não.

É isso que querem fazer com a riqueza finita do petróleo? Ontem a borracha e no futuro o petróleo.

O Congresso, o governo federal e os governos dos estados não produtores devem ter juízo. E pensar grande, sem mesquinharia. Pensar no Brasil.

Marcello Cerqueira é advogado e ex-deputado federal

Serra reduz imposto do setor têxtil e ataca Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Silvia Amorim

O governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência da República, José Serra (PSDB), anunciou ontem redução de impostos para a indústria têxtil paulista com críticas às políticas macroeconômica e de competitividade externa do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo Serra, o "Brasil não se defende tanto quanto seria necessário" de países como a China e a Coreia. A dois dias de anunciar oficialmente sua postulação ao Planalto, o tucano assinou decreto que diminui temporariamente ? até março de 2011 ? a alíquota do Imposto de Circulação sobre Mercadorias e Serviços (ICMS) de 12% para 7% para o setor têxtil no Estado.

A medida visa a melhorar a competitividade frente aos produtos chineses e coreanos. Serra comparou a política do seu governo para enfrentar o problema à conduzida em âmbito federal, porém sem mencionar explicitamente o governo Lula.

"É um alívio, é um incentivo", afirmou, elogiando a atitude paulista. "Resolve todos os problemas? Não. Há vários outros de carga tributária e de concorrência externa com práticas desleais que são praticadas pelos países do Sudeste Asiático, como China e Coreia. E o Brasil ainda não se defende tanto quanto seria necessário", prosseguiu, seguido de aplausos.

Para uma plateia formada por representantes de sindicatos e empregadores, o tucano elogiou trabalhadores e empresários. "Estou convencido de que trabalhadores e empresários brasileiros são muito eficientes. Mais que os chineses."

Ele classificou a desigualdade de concorrência com os asiáticos como "problema crucial" e defendeu mudanças macroeconômicas. Mas não disse quais seriam. "Os problemas que nós temos de competitividade decorrem de problemas macroeconômicos", disse. "Temos que ir criando as condições no nosso Estado e no nosso País que permitam padrões justos de competitividade." Metáfora. Para explicar o que seria essa atuação insuficiente do governo federal no combate ao problema, Serra recorreu a uma metáfora. "Eu não posso ir a uma corrida onde o adversário está com tênis novinho e bem amarrado e eu com o tênis desamarrado. Não dá", comparou. "Temos que amarrar esse tênis da competitividade no Brasil."

Depois, em entrevista, o tucano amenizou a crítica: "O Brasil não consegue se defender à altura, apesar das intenções corretas do governo nessa direção." A redução da carga tributária anunciada ontem poderá beneficiar 13.500 empresas que empregam cerca de 200 mil trabalhadores.

Serra cumpriu ontem extensa agenda com vistoria de obras ? como as da linha 4 do Metrô ? e entrega de escola técnica e assinaturas de convênios com universidades. Na Estação Paulista, fechada ao público, Serra assistiu a uma apresentação de bailarinos e chegou a dançar com funcionários da empresa. Hoje ele inaugurará o trecho sul do Rodoanel. / colaboraram Roberto Almeida e Carolina Freitas

Lula lança plano para além de 2014, a 9 meses de sair

DEU EM O GLOBO

Prioridades do PAC-2 (Energia e Transporte) são as mesmas de JK há mais de 50 anos

A nove meses de deixar o cargo, o presidente Lula lançou a segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2), que prevê investimentos de R$ 1,5 trilhão - R$ 958,9 bilhões até 2014 e R$ 631,6 bilhões depois. O ato foi o último, na Casa Civil, da ministra Dilma Rousseff, que sai do governo amanhã para disputar o Planalto. Mais da metade do PAC-1 não foi concluída, e os atrasos se acumulam. Com foco na área social, o PAC-2 prevê investimentos mais altos em energia e transportes, as mesmas prioridades do governo Juscelino Kubitschek, há 50 anos. Diante de uma plateia lotada de aliados, Dilma discursou em clima de palanque e chorou: "Este é o Brasil que o senhor, presidente Lula, recuperou e construiu para todos nós. E que os brasileiros não deixarão mais escapar de suas mãos."

Depois de sete anos...

Em ano eleitoral, Lula lança com Dilma o PAC-2, um pacote de obras para além de 2014

Flávia Barbosa e Gustavo Paul

BRASÍLIA -Juntamente com a pré-candidata do PT à Presidência da República, a ministra Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou, a nove meses de concluir seu segundo mandato, as diretrizes da segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (o PAC-2). Foi o último grande ato de Dilma como chefe da Casa Civil, que amanhã deixa o cargo para disputar o Planalto. Apesar de mais da metade do PAC-1 não ter sido concluída, o PAC-2 prevê, entre 2011-2014, mais foco na área social.

Amparado em investimentos que somam R$ 1,590 trilhão duas vezes mais que os R$ 503,9 bilhões do PAC já em curso , o programa destaca ações de forte apelo às comunidades carentes, especialmente nos grandes centros urbanos, concentradas na Região Sudeste, na qual a ministra tem mais dificuldades eleitorais.

De cara, o novo PAC promete 29 mil pequenas obras, como creches, unidades de saúde e postos policiais. As 800 Praças do PAC terão ginásios, pista de skate e espaço para crianças e a terceira idade. Na área de segurança pública, o governo planeja construir 2.883 postos de policiamento comunitário em 543 municípios.

Os investimentos mais altos, pela complexidade das obras, vão para as áreas de energia e transportes, prioridades do governo Juscelino Kubitschek, há 50 anos, além de habitação. A maior parte dos R$ 958,9 bilhões em investimentos para os próximos quatro anos está prevista para transporte (R$ 104,5 bilhões) e energia (R$ 465,5 bilhões) e é herança do 1° PAC.

Para uma plateia lotada com 16 governadores e prefeitos aliados, ministros e sindicalistas, Dilma leu um discurso de 50 minutos e terminou emocionada, com a voz embargada, afirmando que os brasileiros não deixarão mais escapar de suas mãos as realizações dos últimos anos, num apelo à continuidade do governo Lula: Esse PAC é a nossa consciência de que cada brasileiro e cada brasileira, quando tem apoio e atenção, ajuda a construir um bairro e uma comunidade cada vez melhor.

As ações sociais incluem ainda acesso à água potável, irrigação e obras de mobilidade urbana, como metrôs e corredores de ônibus. Esse viés social representará R$ 110,70 bilhões 7% do total anunciado. A maior parte dos projetos, porém, só deverá ser definida até junho, depois de reuniões com prefeitos e governadores

Falta de detalhamento sobre infraestrutura

Já os investimentos em habitação, com os dois milhões de casas da 2aetapa do programa Minha Casa, Minha Vida somam outros R$ 278,2 bilhões.

Mais da metade (R$ 176 bilhões) são recursos da caderneta de poupança para financiar compra e reforma de imóveis novos e usados.

Nas áreas de logística (transportes) e infraestrutura, o novo PAC não detalha as ações. São 441 projetos. As novidades são estudos de viabilidade para implantação de Trens de Alta Velocidade (TAV) ligando São Paulo a Curitiba e Campinas a Belo Horizonte e ao Triângulo Mineiro.

O orçamento de investimentos da Petrobras irá ancorar os grandes números da área energética R$ 281,8 bilhões (60%) serão gastos na exploração e produção de petróleo e gás até 2014. Depois de 2014, a área responderá por mais R$ 593,4 bilhões, quase a totalidade dos R$ 631 bilhões previstos para esta etapa.

No setor elétrico, o novo PAC prevê 54 usinas hidrelétricas, capazes de gerar 47,8 mil megawatts de energia, ao custo de R$ 116,2 bilhões.

A grande novidade é o lançamento das usinas plataformas. As obras terão menor impacto ambiental e ficarão isoladas na floresta.

Segundo a Casa Civil, 31% (R$ 297,2 bilhões) dos investimentos até 2014 vêm do PAC. O governo já anunciara que R$ 502,2 bilhões do programa seriam gastos após 2010. Além disso, a Casa Civil decidiu incluir no montante do PAC-2 os recursos de obras que não serão concluídas este ano. É o caso do Trem de Alta Velocidade, que ligará o Rio a São Paulo e canalizará R$ 32,8 bilhões dos R$ 46 bilhões para o setor ferroviário.

A secretária-executiva do PAC, Miriam Belchior, explicou que, do total de investimentos, R$ 220 bilhões virão do Orçamento da União, R$ 300 bilhões das estatais, R$ 186 bilhões de financiamento a pessoas físicas, R$ 95 bilhões de financiamento ao setor público, R$ 46 bilhões do setor privado e R$ 133 bilhões a definir.

Os leilões de energia, a gente não sabe quem vai ganhar disse Miriam.

Ao estabelecer obras prioritárias de longo prazo, o PAC-2 poderá engessar a administração do futuro presidente. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, admitiu que ele será a base do Plano Plurianual (PPA) 2012-2015 e que servirá de base para os orçamentos anuais. Ele foi irônico ao ser perguntado se o próximo presidente poderá abrir mão das obras: Ele poderá fazer um pronunciamento à nação e dizer que não concorda e quer fazer o PEC ou o PIC.

Megafesta de Lula anuncia PAC 2 para ajudar Dilma

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Numa solenidade que custou R$ 170 mil aos cofres públicos, o governo juntou ontem 30 ministros, 18 governadores e centenas de prefeitos para apresentar o PAC 2 - pacote que, segundo o próprio presidente Lula, é apenas uma "prateleira de projetos" para o futuro governo. Os discurso sindicaram que o novo programa, de mais de R$ 1 trilhão, é uma série de promessas eleitorais da candidata do PT à sucessão presidencial, Dilma Rousseff. Ao prever mais casas, transporte, saúde, água e luz, o PAC 2busca o eleitor da periferia das regiões metropolitanas.

PAC 2 traz promessas eleitorais para ajudar Dilma nas grandes cidades

Tânia Monteiro e Renato Andrade
BRASÍLIA - O governo juntou 30 ministros, 18 governadores e centenas de prefeitos para apresentar ao País a segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento. Na prática, como deixaram claro os discursos, o PAC 2 é uma plataforma de promessas eleitorais da candidata do PT à sucessão presidencial, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Na solenidade, realizada ontem em Brasília, o grosso das promessas - mais casas, mais transporte, postos de saúde, água e luz para todos,saneamento, creches, quadras poliesportivas, praças públicas e postos de polícia comunitária - foi dirigido ao eleitor da periferia das regiões metropolitanas, onde estão concentrados os grandes colégios eleitorais.

A indefinição sobre os projetos e investimentos ficou tão evidente, embora o governo tenha citado cifras na casas dos"trilhões", que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o conjunto do PAC 2 de uma "prateleira de projetos" para o futuro governo.

Durante o mesmo discurso, o presidente anunciou que tinha desistido da viagem que faria hoje para Pernambuco a fim de inaugurar uma parte da FerroviaTransnordestina, por problemas com a obra. "Eu não estou contente com o que nós fizemos até agora", disse Lula, reconhecendo fragilidades do PAC 1.

Preliminar. Na página 31 do relatório do novo PAC, o governo admite que "os investimentos em habitação e saneamento, mobilidade urbana, pavimentação e equipamentos sociais e urbanos serão definidos entre abril e junho a partir do diálogo com Estados e municípios".

Na mesma página do relatório, ao tratar dos “investimentos em logística e energia", o governo federal admite que existe apenas uma seleção que tem "caráter preliminar". Assim como o PAC 1, o novo plano nasce como reunião de propostas e projetos que transitam pelos ministérios.

O PAC 1, lançado em janeiro de2007, tem 54% dos projetos que nunca saíram do papel, 11,3% das que transitam e 34,7% das propostas em andamento.

Para reforçar o viés da promessa eleitoral, o governo falou menos em grandes obras de infraestrutura e apresentou o novo programa como um plano que reúne seis PACs. Como a promessa de construção de uma usina hidrelétrica tem pouco apelo eleitoral, o Planalto tratou o PAC 2 como um conjunto de investimentos em que "o dinheiro público será transformado em qualidade de vida e um futuro melhor para os brasileiros".

Prazos. Os seis planos dentro da segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento são: PAC Cidade Melhor, PAC Comunidade Cidadã, PAC Minha Casa, Minha Vida, PAC da Água e Luz para Todos, PAC dos Transportes e PAC da Energia.

Ao ser questionada sobre prazos e cronograma de obrasdesses planos todos, a secretária de Acompanhamento e Monitoramento da Casa Civil, Miriam Belchior, foi taxativa: "Não temos bola de cristal."

Na solenidade, que durou duas horas e 40 minutos, o cerimonial do Planalto escolheu o governador Jaques Wagner, da Bahia, para representar os demais chefes dos Estados.

"Lula está refundando a nação brasileira", disse. Wagner é o governador petista candidato à reeleição que enfrenta a oposição do PMDB, do aliado federal e ministro de Lula, Geddel Vieira Lima (Integração Nacional). Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), ex-tucano e aliado incondicional do governador Sérgio Cabral (PMDB), discursou representando os colegas.

Ao se manifestar na cerimônia, o presidente da CUT, Arthur Henrique, defendeu o controle social da mídia. "A liberdade de imprensa não é liberdade privada", declarou ele. / COLABORARAM JOÃO DOMINGOS, EDNA SIMÃO, VERAROSA

Evento custa R$ 170 mil
O governo pagou R$ 170 mil à CUT Serviços de Festas e Eventos para "planejamento e organização" do lançamento do PAC 2. A contratação foi publicada ontem no Diário Oficial da União.

Para oposição, PAC-2 é uma 'fraude eleitoreira'

DEU EM O GLOBO

Em nota conjunta, PSDB, DEM e PPS criticam baixa execução do PAC-1 e campanha fora de hora de Dilma

Adriana Vasconcelos e Isabel Braga

BRASÍLIA. A oposição classificou ontem como uma farsa o lançamento da nova edição do Programa de Aceleração do Crescimento, o chamado PAC-2.

Em nota conjunta, PSDB, DEM e PPS denunciaram o caráter eleitoreiro do anúncio de investimentos estimados em R$ 1,59 trilhão, que teriam como objetivo principal turbinar a candidatura da petista Dilma Rousseff à sucessão presidencial. Os três partidos lembraram ainda que pelo menos 54% das obras incluídas no PAC-1 sequer saíram do papel e apenas 11% foram concluídas. A ideia dos tucanos, por exemplo, é explorar isso durante a campanha eleitoral.

O PAC-2 representa mais promessas de obras que não serão realizadas ou ficarão inacabadas.

Trata-se de uma grande fraude que será demonstrada na campanha, quando pretendemos mostrar as obras atrasadas, as que não saíram do papel e as que têm problemas segundo levantamento do Tribunal de Contas da União afirmou o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

No mesmo tom, o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), condenou a tentativa do presidente Lula de definir o programa de governo de seu sucessor: O governo não conseguiu terminar o PAC-1 e já lança o 2.

Parece filme de comédia e mostra que este governo não tem gestão, só pensa em eleição.

O Brasil precisa acordar para essa nova jogada de marketing do governo, que está mais para Programa de Aceleração de Campanha do que de Crescimento.

E o pior, lançam um programa e deixam a conta para o sucessor emendou o líder do DEM, José Agripino (RN).

Partidos podem entrar com nova ação no TSE Na nota divulgada ontem, a oposição não poupou de críticas nem mesmo as lágrimas vertidas pela ministra Dilma Rousseff: Sob lágrimas e promessas de fazer até o que cabe a governos estaduais e municipais, atuais e futuros, a candidata do governo, com pompa e circunstância, anunciou o PAC-2, um programa tão pretensioso quanto o primeiro, o PAC-1, que três anos depois de ser lançado tem 54% do que foi anunciado dormindo em gavetas da burocracia.

Para o líder do PSDB na Câmara, João Almeida (BA), em vez de chorar, Dilma deveria ter pedido desculpas pela baixa execução do PAC-1. Irônico, o líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), disse que já tinha reservado bilhetes para o trem-bala, um dos projetos listados no PAC-2: Foi um espetáculo de marketing eleitoreiro, uma atuação teatral da pré-candidata que, na falta de emoção, procurou as lágrimas provavelmente ouvindo o marqueteiro da Hillary Clinton.

O próprio presidente reconheceu que não tem nem 50% de execução do PAC-1: é a confissão de incompetência explícita.

Diante do viés eleitoral da solenidade preparada pela Presidência, os lideres de oposição admitiram que vão avaliar, com as assessorias jurídicas, se entram ou não com uma nova ação contra Dilma e Lula no TSE, acusando-os de propaganda eleitoral fora de época.

Oposição chama PAC 2 de eleitoreiro e quer ir à Justiça

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Da sucursal de Brasília

Lideranças da oposição classificaram ontem o lançamento do PAC 2 como eleitoreiro e devem ir à Justiça novamente por propaganda antecipada.

Integrantes do PSDB reagiram, no Congresso, às declarações da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), que disse que o mandato de FHC "foi omisso".

O senador tucano Arthur Virgílio (AM) afirmou que as declarações de Dilma demonstram "mau humor de quem leu a última pesquisa e viu que não adiantou nada fazer campanha antecipada". Líder do DEM no Senado, José Agripino (RN) classificou o discurso da petista de "politicamente infantil".

PSDB, DEM e PPS distribuíram nota conjunta em que criticam o ritmo de execução do PAC. Segundo os partidos, só 11% das obras da primeira versão do programa foram concluídas.

"A responsabilidade por esse fiasco gerencial cabe à ministra Dilma. No afã de arranjar-lhe uma bandeira eleitoral, o presidente na verdade passou-lhe um atestado de incompetência", diz a nota.

Os três partidos se reúnem hoje para decidir se vão ao TSE (Tribuna Superior Eleitoral) contra Dilma e Lula. (Maria Clara Cabral e Noeli Menezes)

Em nota, PPS, PSDB e DEM afirmam que PAC 2 é pantomima eleitoral

DEU NO PORTAL DO PPS

As direções do PPS, PSBD e DEM divulgaram, nesta segunda-feira, nota em que classificam o PAC 2 de peça de campanha eleitoral custeada pelo contribuinte brasileiro. Os três partidos denunciam o fracasso do PAC 1, que teve apenas 11% das obras concluídas e perguntam: "se o primeiro programa está empacado, para que lançar o segundo? Não é o caso de terminar o começado?" Com a bandeira do PAC 2, o presidente Lula passou para a ministra Dilma Roussef, na verdade "um atestado de incompetência administrativa". Leia a íntegra da nota abaixo

"Pantomima eleitoral

Sob lágrimas e promessas de fazer até o que cabe a governos estaduais e municipais, atuais e futuros, a candidata do governo, Dilma Rousseff, com pompa e circunstância, anunciou o PAC 2, um programa tão pretensioso quanto o primeiro, o PAC 1, que três anos depois de ser lançado tem 54% do que foi anunciado dormindo em gavetas da burocracia, sem sequer sair do papel.

Para se ter uma ideia do quanto o discurso não tem relação com a realidade, apenas 11% das obras do PAC 1 foram concluídas, sendo que nos estados do Nordeste, região mais necessitada de obras de infraestrutura, essa percentagem cai para 4%. Seria demais perguntar, se o primeiro programa está empacado, para que lançar o segundo? Não é o caso de terminar o começado?

Fosse verdadeiramente desejo do governo melhorar as precárias condições de nossa infraestrutura, a resposta óbvia seria sim. Mas não é o caso do governo Lula e de sua candidata. O PAC 2 é mera peça de campanha eleitoral, movida às custas do contribuinte brasileiro. Cerca de 60% das obras inauguradas pelo governo nem mesmo estavam prontas.

Fica claro que não existe compromisso algum com o país. Passada a caravana do governo e de sua candidata; terminada a sessão de autoelogios do presidente, das críticas aos adversários e a imprensa; findo o comício em que a candidata e seu cicerone pedem voto de forma escancarada, afrontando a Justiça eleitoral, depois que as emissoras de TV filmam, as de rádio e os jornais fazem entrevistas, o palanque é desfeito e tudo volta a ser como antes.

Quem acredita que existe perspectiva de conclusão do que naquele palavrório foi prometido corre o altíssimo risco de se cansar de esperar, se frustrar e concluir que obras não virão dessa pantomima eleitoral.

A responsabilidade direta por esse fiasco gerencial cabe à ministra Dilma Rouseff, chefe da Casa Civil, apresentada ao país como a mãe do PAC.

No afã de arranjar-lhe uma bandeira eleitoral, o Presidente da República na verdade passou-lhe um atestado de incompetência administrativa.

Roberto Freire – Presidente Nacional do PPS
Senador Sérgio Guerra – Presidente Nacional do PSDB
Deputado Rodrigo Maia – Presidente Nacional do DEM
Brasília, 29 de março de 2010."

Especialistas veem viés eleitoral

DEU EM O GLOBO

Para eles, PAC-1 não foi concluído e momento não é adequado

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. O fato de a primeira fase do PAC estar inacabada e o momento político do lançamento do PAC-2, a poucos meses da eleição, foram pontos criticados ontem por cientistas políticos e economistas. Na visão dos especialistas, esses dois fatores enfraquecem a necessidade de lançamento do novo programa e reforçam a opinião da oposição de que o novo programa não passa de uma peça de campanha.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconhece que há essa confusão. Ontem, no discurso, disse que não lançou o PAC-1 em 2006 para que ele não fosse confundido com o período eleitoral, quando era candidato à reeleição, deixando para lançá-lo em 2007. Mas agora justifica que está lançando o PAC-2 a nove meses da eleição porque a intenção é criar uma carteira de projetos para o sucessor.

A melhor alternativa para o governo, na visão dos especialistas, teria sido aperfeiçoar o PAC original. Para o professor Ricardo Caldas, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), é inadequado o momento de lançamento do PAC-2. Ele argumentou que definir ações de longo prazo, até 2014, acaba se intrometendo no programa de governo do sucessor.

O ponto aceitável seria até 2011, isso seria o limite. Não temos como fugir de uma questão eleitoral, porque só ela (Dilma Rousseff) vai dizer que vai cumprir. O governo admite que só conseguiu executar 50% do PAC-1, então, não faz sentido lançar o 2. O mais lógico seria corrigir os problemas do PAC-1 disse Ricardo Caldas.

A professora de macroeconomia Margarida Guterrez, da Coppead/UFRJ, argumenta que o aumento de investimentos num país como o Brasil é sempre positivo, mas considera que, nesse caso, o PAC-2 acaba tendo impacto eleitoral. Para ela, é injustificável lançar o PAC-2 sem ter concluído o PAC-1: O Brasil precisa de investimento público, mas qual é o investimento prioritário? O PAC não se realizou, e está sendo lançado o PAC-2.

Por quê? Em 2009, eram R$ 28,5 bilhões, e o governo gastou R$ 17 bi e ainda vai lançar o PAC2? Isso foge a qualquer um que tenha o mínimo de bom senso. Embora possa ser um bem para a comunidade, já é mal visto (pelo momento político). A gente sabe que o PAC-2 tem fins eleitorais porque o PAC 1 não foi todo executado.

Ela acrescentou que o programa corre o risco de nascer morto, já que o Orçamento da União aprovado pelo Congresso é autorizativo e não impositivo, ou seja, o governante não precisa executá-lo fielmente.

Os investimentos são discricionários, não são obrigatórios disse a professora.

O economista Raul Velloso também aponta esse problema e disse que o governante em fim de mandato deve deixar sugestões para o sucessor em dezembro, mas não lançar um programa inteiro.

Peça de marketing:: Miram Leitão

DEU EM O GLOBO

O presidente Lula governa o Brasil há 87 meses.

Faltam nove para acabar seus dois mandatos. Por que ele lança, assim no finalzinho, um programa para os próximos quatro anos e além? Para fazer campanha política, óbvio. O presidente alega que é para que o próximo governante não perca um ano sem saber o que fazer, mas para isso existe o Plano Plurianual, que vai até 2011.


Do PAC-1, anunciado em 2007, não se concluiu uma única obra de logística. Foram inaugurados alguns trechos de rodovias, mas de ferrovia não adianta inaugurar trechos.

A Ferrovia Norte-Sul andou, mas não ficará concluída.

A Ferrovia OesteLeste é só uma ideia na cabeça, que liga um porto sem estudo de mercado, sem projeto, sem licença, em Ilhéus, à Norte-Sul. A Transnordestina está parada pelas enormes complicações das desapropriações de minifundios no nordeste.

Os portos não foram dragados. O trem-bala precisará de mais dois anos para concluir o projeto. Começou custando US$ 11 bilhôes, hoje custa US$ 20 bilhões, e o governo diz que fará mais três trens-balas diz o professor de logística Paulo Fernando Fleury.

O truque dos números gigantes é somar o que pode vir a ser orçado com o que pode vir a ser investido pelo setor privado e com os futuros orçamentos das estatais.

Assim foi construído o número de R$ 503 bilhões anunciado em 2007. Depois, virou R$ 638 bilhões.

Destes, o governo considerou ações concluídas de R$ 256 bilhões, mas do Orçamento foram R$ 35 bilhões disse o economista Gil Castelo Branco, do site Contas Abertas.

Mas como 35 viram 256? Do total, mais da metade são empréstimos habitacionais de pessoa física com dinheiro do FGTS. Até reforma na sua casa se for com dinheiro da Caixa entra como ação do PAC diz Gil No balanço do PAC-1, o governo disse que R$ 88,8 bilhões foram investimentos do setor privado. O site Contas Abertas já perguntou insistentemente ao Planalto que empresas são estas.

Ainda não obteve resposta.

O governo alega que completou 40% do que se propôs a fazer nestes quatro anos, mas só concluiu 11%, segundo o site.

Para os próximos quatro anos, o governo Lula anuncia investimentos de cerca de R$ 1 trilhão. O número é outro ilusionismo, e o anúncio, feito agora, é truque eleitoral. De novo, reempacota-se dinheiro que já está aí, como o do FGTS, com investimento que pode estar no orçamento dependendo do próximo governo e possíveis investimentos privados e de estatais a serem feitos no futuro.

É uma forma de dizer, em linguagem de palanque: se o governismo vencer, é isso que o país terá. É também uma armadilha para o próximo governante, se não for eleita a candidata oficial. O próximo será cobrado em cada cidade, cada estado, cada região por não ter feito aquilo que Lula faria. E todas as ideias que são levadas ao governo são incluídas nessa verdadeira sacola de papai Noel.

A mensagem é clara: tudo isso só acontecerá se o governo continuar. Como disse o presidente da CUT, não podemos retroceder.

Ou como disse a ministra Dilma Rousseff: O neoliberalismo que nos antecedeu não tinha planejamento.

Antes, nós tínhamos o Estado que dizia não.

Era o Estado omisso.

Lula admitiu que não lançou o PAC-1 em 2006 para não confundir com as eleições.

A ministra fala do que acontecerá em 2011 como se não houvesse uma eleição no meio.

Tenho a felicidade de anunciar que haverá a democratização da água prometeu.

Os números mostram que, apesar dos sete anos e três meses do governo Lula e um PAC, os problemas de água e esgoto continuam enormes.

Segundo o presidente da Abcon (Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto), Yves Besse: 14,5 milhões de pessoas não têm acesso à água potável; 40 milhões sofrem com abastecimento descontínuo de água; 70 milhões não são atendidos por coleta de esgoto; 100 milhões não têm esgoto tratado.

Besse diz que o PAC-1 prometeu R$ 40 bilhões para quatro anos, pouco mais de 15% do necessário, mas não trouxe recursos novos, apenas reorganizou orçamentos como o do FAT (Fundo de Amparo do Trabalhador), sob controle da BNDES, e o do FGTS, sob comando da Caixa Econômica.

No ritmo atual de investimentos, o serviço de água e esgoto só vai ser acessado pelo total da população em 2070 afirmou.

Planejamento é necessário, mas isso que foi exibido ontem não foi planejamento.

A Constituição estabelece que seja feito, e passe pelo Congresso, o Plano Plurianual, e determina que ele não coincida com o período de mandato, exatamente para que não haja a paralisia que Lula teme que ocorra no ano que vem. O Plano atual vai até 2011. Claro que existem obras que não podem ser concluídas no período de quatro anos ou oito , mas não é razoável apresentar uma lista gigante de projetos que tomariam o próximo governo inteiro, a menos que fosse um programa de governo de candidato.

O empenho para pagar parte da festa saiu ontem no Diário Oficial. A empresa Swot, serviços de festas e eventos, receberá R$ 170 mil.

Um palco à altura para a despedida do mestre:: Miguel Caballero

DEU EM O GLOBO

No Maracanã, parentes e amigos lembram do homem que aliou o sonho dos poetas à objetividade dos jornalistas

O Maracanã abriu suas portas numa segunda-feira para que parentes e amigos se despedissem do jornalista Armando Nogueira. O velório ocorreu durante todo o dia na Tribuna de Honra do estádio, enquanto os telões exibiam foto e frases do cronista. Armando morreu por volta das 7h30m da manhã de ontem, em sua casa, no Rio, depois de luta contra o câncer. O enterro será hoje, ao meio-dia, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

Seu único filho, Armando Augusto Nogueira, o Manduca, falou comovido sobre sua relação com o pai.

Éramos mais amigos do que pai e filho. Ele foi meu amigo, mestre, chefe, também foi chefiado por mim.

Como o grande comandante que sempre foi, hoje ele pediu autorização da torre para decolar, certamente para um lugar muito bonito disse Manduca, também jornalista, lembrando da paixão do pai pela aviação. Ele contou que, mesmo debilitado, Armando não deixou de acompanhar os programas esportivos.

Nos últimos meses, já não falava, o que, para um homem da palavra, é doloroso. Mas esteve sempre lúcido, assistia aos programas.

Antigos amigos e companheiros de jornalismo rememoravam ontem histórias do homem que unia o talento com as palavras, típico dos grandes poetas, à objetividade e senso de notícia imprescindíveis aos melhores jornalistas. A importância de Armando para o telejornalismo brasileiro, participando da criação do Jornal Nacional, foi relembrada.

Ele criou nova linguagem para a televisão, que era essencialmente radiofônica.

Trouxe o rigor da apuração precisa, e sobretudo da ética. É interessante, pois o Armando, escrevendo, não economizava palavras, tinha um estilo quase barroco.

E criou, no telejornalismo, a linguagem da informação superobjetiva, e com um texto compreensível para toda a população brasileira disse o vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho.

Academia de Ideias Armando Nogueira será criada no Maracanã Na mesma linha, outro companheiro de Armando por décadas na Rede Globo resumiu: Para sonhar, toda pessoa tem que ter o pé no chão. Todo grande poeta conhece bem a realidade afirmou José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.

O jornalista Sérgio Cabral reverenciou o texto de Armando, seu amigo há mais de 50 anos: Fica a herança do bom texto.

Armando era machadiano. Sempre tentei imitá-lo, mas nunca consegui.

Amigo mais recente, o ex-jogador Júnior citou uma lição: Não esqueço o que ouvi do Armando quando virei comentarista: é possível elogiar sem bajular e criticar sem ofender disse Júnior.

O governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes decretaram luto oficial de três dias. As homenagens oficiais prosseguirão com a criação, no Maracanã, da Academia de Ideias Aramando Nogueira.

Teremos um acervo sobre o Armando, referente às suas paixões: futebol, literatura, aviação. Será um espaço para discussão, aberto ao público, junto à visitação turística explicou a secretária estadual de Esportes, Márcia Lins.

Armando Nogueira, democrata e digno: Gilvan Cavalcanti

Nunca tive a felicidade de conhecer, pessoalmente, o grande jornalista, rigoroso e simples nos seus textos poéticos. O futebol para ele era arte, poesia. Revolucionou o jornalismo, levando-o para a televisão. Eram os tempos de ditadura militar. Difícil fazer jornalismo na televisão, sob censura, com um oficial militar verificando o que poderia ou não ir para o ar. Mas, passou no teste. Encontrava maneiras sutis de noticiar coisas que não eram de agrado dos donos do poder.

Mas, conheci o outro lado do mestre, desconhecido para muitos. Na clandestinidade, como dirigente estadual do PCB, no Rio Janeiro, nos idos de 1969, sempre me encontrava com os companheiros comunistas que trabalhavam na TV Globo. O local era muito conhecido à época: um Bar que ficava na esquina da Rua Jardim Botânico e Pacheco Leão.

Era comum nas conversas políticas sobre a conjuntura se falar de ajuda financeira para o PCB e apoio aos familiares de presos políticos e os companheiros perseguidos, os quais tinham de viver na clandestinidade, sem poder trabalhar.

Quando recebia as contribuições dos companheiros, mensalmente, eles citavam os colaboradores e entre os quais estava, sempre o do mestre Armando Nogueira. Lembro-me de um fato curioso. Numa dessas reuniões um companheiro falou assim: está faltando a contribuição de Nogueira. Levantou-se da mesa e foi até a TV, voltou, logo em seguida, sentou-se novamente à mesa e disse: agora, sim, está completa a contribuição.

Esse foi o Armando Nogueira que ficou na minha memória. Naqueles dias negros, difíceis que vivia o País. Não era atitude muito comum. Por isso o gesto do mestre mostrava o homem digno, democrata.

Orquesta Sinfónica de Xalapa en el concierto Tango Sinfónico, interpreta Libertango

O QUE PENSA A MÍDIA

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Morte e vida Severina (Auto de Natal Pernambucano) – parte 7::João Cabral de Melo Neto

O RETIRANTE CHEGA À ZONA DA MATA, QUE O FAZ PENSAR, OUTRA VEZ, EM INTERROMPER A VIAGEM

— Bem me diziam que a terra
se faz mais branda e macia
quando mais do litoral
a viagem se aproxima.
Agora afinal cheguei
nesta terra que diziam.
Como ela é uma terra doce
para os pés e para a vista.
Os rios que correm aqui
têm a água vitalícia.
Cacimbas por todo lado;
cavando o chão, água mina.
Vejo agora que é verdade
o que pensei ser mentira.
Quem sabe se nesta terra
não plantarei minha sina?
Não tenho medo de terra
(cavei pedra toda a vida),
e para quem lutou a braço
contra a piçarra da Caatinga
será fácil amansar
esta aqui, tão feminina.
Mas não avisto ninguém,
só folhas de cana fina;
somente ali à distância
aquele bueiro de usina;
somente naquela várzea
um banguê velho em ruína.
Por onde andará a gente
que tantas canas cultiva?
Feriando: que nesta terra
tão fácil, tão doce e rica,
não é preciso trabalhar
todas as horas do dia,
os dias todos do mês,
os meses todos da vida.
Decerto a gente daqui
jamais envelhece aos trinta
nem sabe da morte em vida,
vida em morte, severina;
e aquele cemitério ali,
branco na verde colina,
decerto pouco funciona
e poucas covas aninha.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Reflexão do dia – Merval Pereira

O descaso com que o presidente Lula trata as condenações que recebeu do Tribunal Superior Eleitoral resume bem o estado de complacência moral em que o país se debate, gerando o esgarçamento de seu tecido social com graves repercussões.
Está se impregnando na alma brasileira uma perigosa leniência com atos ilegais, que acaba tendo repercussões desastrosas no dia a dia do cidadão comum, que passa a considerar a esperteza como um atributo importante para vencer na vida.
Em vez de usar seu imenso prestígio junto ao eleitorado para dar o exemplo de cidadania, de respeito às leis, o presidente Lula vem, não é de hoje, confrontando publicamente as instituições que considera obstáculos a seus objetivos políticos, não apenas os meios de comunicação, a chamada mídia, mas principalmente órgãos encarregados da fiscalização dos atos governamentais.


(Merval Pereira, no artigo “O exemplo de Lula”, ontem, em O Globo

Fora de controle:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

"Notícia é o que a gente quer esconder; o resto é propaganda".
(Lula, que gostava de notícia antes de virar presidente)

No passado, desdenhou o canudo da universidade.

Por hábito, censura o comportamento da imprensa.

Ridicularizou em Cuba a greve de fome e o conceito de direitos humanos. Na semana passada, para completar, debochou da Justiça. E logo após ter sido punido duas vezes com um total de R$ 15 mil em multas por fazer campanha fora de hora para Dilma.

Saiu no lucro, ressalve-se. O que representam R$ 15 mil para quem se ocupa há mais de um ano e meio em afrontar a lei eleitoral? No caso, a Justiça foi cega, lenta e conivente. Em benefício da solidez das nossas instituições, digamos, porém, que na maioria das vezes a Justiça se limita a ser cega e lenta.

Manda Paulo Okamoto, atual presidente do Serviço Brasileiro de Apoio a Micros e Pequenas Empresas, pagar a multa! Em 2004, Okamoto pagou do próprio bolso uma grana que Lula devia ao PT. Sindicalistas zelosos já se ofereceram para quitar a multa e agradar Lula. Sem problema.

Problema e grave é ver o presidente da República incitar seus seguidores a ignorarem a lei. Foi assim em Osasco, São Paulo, durante a inauguração de 106 apartamentos inacabados. A multidão começou a gritar o nome de Dilma. Conhecido por repreender com severidade multidões que vaiam seus aliados, como Lula reagiu?

Disse: Se eu for multado, vou trazer a conta para vocês.

As pessoas acharam graça e fizeram com as mãos o gesto de assentimento.

A faceta cada vez mais debochada de Lula com tudo e com todos combina com a faceta conhecida de um país galhofeiro, mas é imprópria para o titular do cargo mais importante do serviço público.

Nem os generais da ditadura, nem mesmo Jânio Quadros, por exemplo, ousaram tanto. Os militares aviltaram a democracia, mergulhando o país numa treva de duas décadas. O folclórico Jânio avacalhou o voto popular mergulhando sua alcoolizada presidência num porre de sete meses que acabou, três anos depois, com a ressaca do golpe militar.

Mas os generais conseguiram manter a pose e a circunstância ensaiadas em suas academias militares, embora a tortura rolasse nos porões. E Jânio fingiu uma sobriedade expressa em bilhetinhos nervosos que projetavam um bafo austero sobre a administração.

Diferente deles todos, Lula não mascara o que é, nem finge o que não é.

Isso é bom quando ele atravessa a barreira que sempre separou governantes de governados e procura atender às necessidades primárias do povo. É ruim quando, do alto de seus impressionantes 76% de aprovação popular, e no ocaso de uma administração histórica, sente-se no direito de desafiar qualquer coisa, até mesmo a Justiça.

Com frequência, a língua nada presa e muitas vezes irresponsável de Lula vergasta instituições, ideias, princípios e verdades. Em Osasco, ela justificou a falta de revestimento nas paredes dos apartamentos com uma desculpa malandra: Tem gente que vê o azulejinho de uma cor e na semana seguinte tira e coloca outro.

Qualquer cidadão tem o direito de criticar a imprensa.

Eu diria o dever. Ela é poderosa demais para ficar imune a críticas. E se não lhe faltarem sabedoria e bons propósitos, aprenderá com elas. Mas esse não é o objetivo de Lula ao admoestá-la.

Lula é um governante populista e autoritário. Esse tipo de gente prefere uma imprensa servil.

Não consigo entender a predileção (da imprensa) pela desgraça. Há tanta coisa boa no cotidiano do povo brasileiro, repetiu ele outro dia. O lamaçal que derrubou o governo de José Roberto Arruda não arrancou de Lula uma só palavra de indignação. Imagem não quer dizer tudo, afirmou de cara limpa. Referia-se aos vídeos do escândalo.

OK. Lula foi apenas coerente.

Afinal, o mensalão jamais existiu. O preso político cubano Orlando Zapata morreu porque decidiu fazer uma greve de fome. E preso político é igual a preso comum. Pois imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrassem em greve de fome e pedissem liberdade.

O PT no Sudeste:: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Lula chegou ao Palácio do Planalto em 2002 e reelegeu-se em 2006, mas o PT nunca decolou de fato quando se trata de ganhar os governos dos três Estados mais populosos do país, São Paulo,Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Na eleição deste ano, por enquanto, os petistas continuam pouco competitivos no Sudeste. O partido não deve ter candidato próprio ao governo do Rio. Apoiará a reeleição de Sérgio Cabral. Em Minas Gerais pode ocorrer o mesmo. Lula está impondo ao PT mineiro uma adesão forçada à candidatura de Hélio Costa. É sintomático da atual fase lulista que Cabral e Costa sejam ambos filiados ao PMDB.

Em São Paulo, berço do PT, o partido terá Aloizio Mercadante como candidato próprio ao governo local.

O desempenho do petista é sofrível.

Na pesquisa Datafolha, registra 11% -bem abaixo dos 32% obtidos na eleição para o mesmo cargo em 2006, quando recebeu 6,8 milhões de votos. Antes, em 2002, havia conquistado 10,5 milhões de votos para o Senado.

Tudo somado, o único nome do PT nas disputas pelos governos de São Paulo, Rio e Minas Gerais é o de Mercadante, cuja popularidade enfrenta uma queda real e fulminante nos últimos anos.

Os petistas rebatem em coro, dizendo que a eleição é só em outubro. Até lá, esperam ser inoculados com os 76% de aprovação do governo Lula. É uma hipótese não desprezível, porém incerta.

Um pouco antes do Datafolha deste fim de semana, lulistas já falavam em vitória em São Paulo. Por esse raciocínio, Dilma Rousseff iria disparar nas pesquisas para presidente e galvanizaria os apoios necessários para Mercadante.

Essa teoria megalômana do PT ruiu com os dados do Datafolha. Para o governo de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin tem até 53%.

Falta muito tempo ainda até a eleição. OK, mas, por ora, o PT repete seu clássico e histórico desempenho medíocre no Sudeste.

Roberta Sá & Orquestra Petrobras Sinfônica - 06 - A Você (Ao Vivo no Canecão 15.04.2009)

Oposição se mobiliza para atrair Jarbas

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

RECIFE - Se no plano nacional a oposição está próxima de dar um passo adiante na construção da candidatura ao Planalto - com a saída do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), do cargo, na próxima quarta-feira (31) -, os principais membros dos quatro partidos de oposição em Pernambuco (DEM, PMDB, PPS e PSDB) planejam para os próximos dez dias a realização de um ato político que demonstre a unidade da base oposicionista e abra as portas para o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) decidir, enfim, enfrentar a batalha eleitoral. A ação, idealizada pelos deputados Augusto Coutinho (DEM) e Terezinha Nunes (PSDB), deve ser detalhada em reunião a ser realizada até amanhã.

Ainda não definimos, mas é uma ação nossa e do Democratas, afirmou Terezinha Nunes, sem explicitar mais detalhes. Para os oposicionistas, a última pesquisa publicada pelo Datafolha, no sábado (27), enfatiza o projeto do grupo em prol do lançamento da candidatura do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) ao governo. A pesquisa apontou crescimento da vantagem de Serra (36%) em detrimento da pré-candidatura de Dilma Rousseff (27%), do PT, num cenário com a participação do deputado federal cearense Ciro Gomes (11%). O cenário anterior apontado pelo instituto indicava empate técnico entre Serra e Dilma.

De acordo com o presidente estadual do PPS, deputado federal Raul Jungmann, o senador Sérgio Guerra teria convidado os deputados federais e estaduais da bancada de oposição para uma reunião em sua residência, em Jaboatão dos Guararapes, ontem à noite. Vamos discutir o dia 10 de abril, o lançamento de Serra. Acredito que a reunião também servirá para delinearmos a festa de lançamento de Jarbas, afirmou Jungmann.

Da Tailândia, onde cumpre agenda administrativa do Senado, Jarbas divulgou nota comemorando o desempenho obtido por Serra na última pesquisa do Datafolha e subiu o tom contra o PT. Não tenho dúvida nenhuma de que Serra tem tudo para crescer nas pesquisas daqui para frente e vencer, até no primeiro turno. Agora, a gente da oposição tem de estar preparado, porque esse pessoal do PT não vai querer largar o poder. Temos de estar preparados para tudo que é tipo de agressão, ressaltou. (M.M.N.)

Serra diz ter "infinita alegria" por sua gestão

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Governador afirma ter "perfeita consciência de que vamos continuar fazendo as coisas boas acontecerem no Estado e no país"

Em inauguração de obras viárias, o presidenciável tucano diz que nãoficará "eufórico" ao deixar governo paulista, na quarta-feira

Flávio Ferreira


O governador de São Paulo José Serra (PSDB) disse ontem estar ao mesmo tempo triste, por deixar a administração do Estado, e alegre, por ter certeza de que fez e vai "continuar fazendo as coisas boas acontecerem no nosso Estado e no nosso país". Em discursos, Serra também deu pistas de possíveis bordões de sua campanha para as eleições presidenciais.

O tucano participou ontem da inauguração de um complexo viário na intersecção da marginal Tietê com a via Anhanguera e da entrega de três estações de trens metropolitanos reformadas na capital.

Em um dos discursos, Serra disse que as estações e os novos trens entregues pela gestão dele representam uma "bolsa transporte" para o trabalhador.

"É como se fosse uma bolsa transporte porque, no fundo, é um subsídio que você está dando à renda das pessoas indiretamente, através do menor tempo e do menor estresse de um bom sistema de transporte. Renda se distribui também através da saúde, da educação e do bom transporte coletivo", afirmou Serra após o evento.

Ao comentar a entrega do cargo ao vice, Alberto Goldman, prevista para quarta-feira, o governador disse: "Vou passar o cargo para o Goldman com um misto de chateação de deixar o governo, não vou ficar eufórico com isso. Mas, por outro lado, com uma infinita alegria por ter perfeita consciência de que nós fizemos e vamos continuar fazendo as coisas boas acontecerem no nosso Estado e no nosso país".

A expressão "fazer acontecer" foi repetida várias vezes por Serra no fim de semana.

Governador sai com 55% de ótimo/bom

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

S. PAULO - Após três anos e três meses de governo e às vésperas de deixar o cargo para concorrer à Presidência da República (ele deixará o cargo nesta quarta-feira), o governador de São Paulo, José Serra, é aprovado por 55% dos eleitores do Estado.

A taxa dos entrevistados que consideram sua gestão como ótima ou boa se manteve inalterada desde a última avaliação, realizada em dezembro do ano passado -de lá para cá, o Estado, e especialmente a capital, passaram por dias consecutivos de temporais e enchentes, mas que não alteraram a percepção do paulistano sobre o desempenho do governador.

No início de seu governo, Serra era avaliado positivamente por 39% da população, em março de 2007. Ele alcançou a sua melhor marca em agosto de 2009, com 57% de índice de ótimo ou bom.

Em relação à pesquisa feita em dezembro, o percentual dos que avaliam o desempenho de Serra como regular se manteve em 32%, e dos que acham seu governo ruim ou péssimo, em 11%. Em uma escala de zero a dez, Serra alcança a nota média de 6,6.

Serra afirma que implantou 'bolsa transporte'

DEU EM O GLOBO

Prestes a deixar cargo, tucano faz balanço de gestão e cita gastos com trem e metrô como melhoria na renda do trabalhador

Sérgio Roxo

SÃO PAULO. A três dias de deixar o cargo para assumir a pré-candidatura à Presidência, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), teve ontem um domingo repleto de atividades oficiais: andou de trem e afirmou que a sua gestão implantou a bolsa transporte em São Paulo.

Vou passar o cargo de governador para o Alberto Goldman (seu vice) com um misto de chateação, de deixar o governo, deixar São Paulo; não vou ficar eufórico com isso.

Mas, por outro lado, com uma infinita alegria por ter perfeita consciência de que nós fizemos, e vamos continuar fazendo, coisas boas acontecerem no nosso estado e nosso país disse Serra, ao inaugurar um complexo viário de R$ 410 milhões para ligar a Rodovia Anhanguera à Marginal Tietê.

A maior encomenda da história do mundo de trens Apesar de a obra ser voltada ao transporte individual, o governador destacou que, em sua gestão, priorizou investimentos nos trens e no metrô.

Estamos investindo na área de trilhos três a quatro vezes mais do que nas obras viárias afirmou.

Segundo Serra, o gasto total com melhorias na rede ferroviária é de R$ 21 bilhões.

Nós fizemos a maior encomenda da história do mundo de trens, com exceção, meio óbvia e rotineira, da China. Isso é transporte para trabalhador. Isso é a bolsa transporte. Vamos ter isso claro: transporte é vital para a vida das pessoas. Ou é tempo para lazer ou é tempo para trabalhar e ganhar mais dinheiro.

Portanto, é um investimento eminentemente popular disse o tucano.

Ao ser perguntado sobre o bolsa transporte, Serra afirmou que um melhor sistema de transporte também significa melhoria na renda do povo. Há duas semanas, ele já havia dito que investir em transporte significava transferência de renda.

É como se fosse uma bolsa transporte, porque no fundo é um subsídio que você está dando à renda das pessoas indiretamente através do menor tempo (gasto nos deslocamentos).

Renda se distribui através da saúde, da educação, do bom transporte coletivo. É isso que configura o padrão de vida, junto com renda monetária.

Serra se disse frustrado por deixar o governo sem conseguir entregar obras. A quinta linha de metrô da capital paulista deveria ser aberta ao público amanhã, mas houve atraso nos testes da operação dos trens.

Tenho orgulho do que foi feito e um certa frustração de não estar presente nas várias coisas que vão ser entregues ao longo deste ano. Muita coisa vai sobrar para o Goldman, um sortudo disse ele.

Além do complexo viário, Serra inaugurou ontem, ao lado de Orestes Quércia (presidente do PMDB-SP) e do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), três estações reformadas da Linha 9-Esmeralda da rede de trens. As estações de trem passarão a ter, segundo o governo estadual, padrão de metrô.

Na última semana, de imposto abatido a bônus a professor Serra vem mantendo uma intensa rotina de inaugurações em seus últimos dias no cargo. No sábado, o tucano abriu as novas pistas da Marginal Tietê. No mesmo dia, foi inaugurado um parque na Zona Leste da capital paulista. O governador também inaugurou, na última semana, unidades de saúde; anunciou o pagamento de bônus a professores; regulamentou uma lei para abater imposto de empresas que investirem no esporte; e chegou a realizar uma cerimônia para dar início à demolição de imóveis no local em que será construído um complexo cultural.

Restará ainda a Serra, nestes dois próximos dias, a abertura do Trecho Sul do Rodoanel, provavelmente na terça-feira.

Como a quinta linha de metrô da capital paulista não ficou pronta, o governador fará apenas uma vistoria técnica no local.

A ideia era incluir a obra no pacote de final de governo.

Serra entrega obra em tom de despedida

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Silvia Amorim

Pré-candidato do PSDB à Presidência da República, o governador de São Paulo, José Serra, iniciou ontem a sua despedida do cargo. Ao participar de duas inaugurações na capital paulista, o tucano disse que deixará o governo estadual sentindo uma combinação de frustração e alegria.

Na próxima quarta-feira, Serra faz um evento na sede do governo para anunciar oficialmente seu desligamento do cargo. Na prática, ele fará um balanço das realizações nesses três anos e três meses à frente do Estado. Simbolicamente, também transmitirá a administração ao vice, Alberto Goldman.

A previsão é que Serra encaminhe sua carta de renúncia à Assembleia Legislativa somente na sexta-feira. Já a posse de fato de Goldman está prevista para terça-feira da semana que vem, também no Legislativo.

"Vou passar o cargo para o Goldman com um misto de chateação, de deixar São Paulo. Não vou ficar eufórico com isso. Mas, do outro lado, com uma infinita alegria por ter perfeita consciência de que nós fizemos e vamos continuar fazendo as coisas boas acontecerem no nosso Estado e no nosso País", disse o tucano, ao discursar na cerimônia de entrega de cinco de pontes e viadutos do Complexo Anhanguera sobre a Marginal do Tietê.

Pelas regras eleitorais, Serra tem de se desincompatibilizar do cargo até 2 de abril. O mesmo prazo vale para a sua adversária, a ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, desembarcar do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O tom de despedida também apareceu em outro evento na mesma tarde. Ao entregar três estações de trem reformadas, Serra disse que uma "frustração" ficará quando se afastar do posto de governador. "É uma certa frustração de não estar presente quando várias coisas vão ser entregues ao longo deste ano."

Uma delas é a linha 4 do metrô. Vitrine da sua gestão, o projeto terá as primeiras estações inauguradas no fim deste ano. A linha virou notícia em todo o País por causa de um acidente, em 2007, que matou sete pessoas. Uma cratera surgiu no canteiro de obras, em Pinheiros, engolindo funcionários, equipamentos e pedestres.

Abertamente. Serra tem falado nos últimos dias mais abertamente sobre sua saída. Ontem, ele chegou a chamar o vice de "sortudo". "Muita coisa vai sobrar para o Goldman (inaugurar), que é um sortudo."

No dia anterior, Serra apresentou Goldman como futuro governador a moradores na periferia da capital. Desde sábado, o vice acompanha o governador em todas as inaugurações. A participação dele foi discreta. Goldman não fez discursos e, quando citado, manifestou-se com um aceno ou sorriso. Desde o ano passado, ele cumpre uma agenda intensa de inaugurações pelo interior, a maioria sem o chefe.

Ontem o governador também agradeceu a sua equipe e afirmou ter "orgulho" do que fez por São Paulo.

Bolsa-Transporte. Tendo a área de transporte sobre trilhos um dos carros-chefe da sua gestão, Serra disse ter criado em São Paulo a "Bolsa-Transporte" - numa analogia ao Bolsa-Família do governo Lula. "Estamos fazendo a maior encomenda de trens da história e do mundo, com exceção da China. É transporte para trabalhador. É a Bolsa-Transporte, um investimento eminentemente popular", explicou.

ÚLTIMA SEMANA

Agenda lotada na reta final

Hoje
Vistoria e inauguração

Serra inspeciona obras da estação de metrô Vila Prudente, na zona leste, pela manhã. À tarde, inaugura uma escola técnica na favela Paraisópolis, assina convênio com universidades paulistas e entrega obra viária na interligação de Poá, Suzano e Itaquaquecetuba. À noite, anuncia redução de carga tributária para indústrias têxteis.

Amanhã

Rodoanel

Principal evento do dia será a inauguração do trecho sul do Rodoanel Mário Covas.

Quarta-feira

Balanço de gestão
É a data do anúncio da saída de Serra do governo, com um balanço da gestão tucana.

Sexta-feira

Renúncia

Dilma patina e Serra cresce entre os pró-Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

José Roberto de Toledo
Análise:

Do total do eleitorado, 76% avaliam que o governo Lula é bom ou ótimo, segundo o Datafolha. É o mesmo porcentual de dezembro de 2002, que dava a dimensão da expectativa em relação ao futuro governo. Se Lula está entregando o que a maioria dos eleitores esperava, não se pode dizer o mesmo de sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff (PT).

A ministra patina no eleitorado-chave para sua candidatura: entre os 76% que aprovam o governo, ela oscilou de 35% para 33% no último mês. E está tecnicamente empatada com José Serra (PSDB), que cresceu de 27% para 32% nesse segmento. Se não ganhar os simpatizantes do governo, Dilma terá poucas chances de se eleger.

Serra lidera por ampla margem entre os que julgam o governo Lula regular. Desde dezembro, o tucano subiu de 46% para 51% nesse grupo, que representa 20% do eleitorado. Nesse campo, Dilma tem tão poucas possibilidades (9%) quanto Ciro Gomes (10%) e Marina Silva (10%). Os 4% que desaprovam o governo Lula também têm preferência por Serra (48%).

Logo, ou Dilma reverte a atual tendência entre os que aprovam o governo, ou pode morrer na praia. Nada menos do que 25 pontos dos 27% de sua intenção vêm desses eleitores. Serra, por sua vez, conta com 10 pontos de seus 36% de intenção de voto entre os que dizem que o governo é "regular".

Mantida a alta aprovação de Lula, a única possibilidade de sua candidata vir a lhe suceder é "roubar" de Serra eleitores pró-governo. Para ultrapassar o tucano além da margem de erro, Dilma precisaria tirar 10 pontos de Serra nesse segmento e chegar a pelo menos 43% dos pró-Lula. Aí o placar geral ficaria 35% a 29% em favor da petista.

Mas não é fácil chegar a 43% entre os eleitores governistas. Nem mesmo Lula conseguiu a totalidade dos votos de quem o aprovava. Em 2006, quando disputava a reeleição, o presidente chegou, no final do 1º turno, a 80% da preferência entre os que apoiavam seu governo.

Isso porque há gradações na aprovação. Quanto mais enfático o apoio, maior a transferência de voto. Os eleitores que mais tendem a votar no candidato governista são os que avaliam o governo como "ótimo" ou que dão nota 8 ou superior à administração.

Infelizmente, na maioria das vezes os institutos de pesquisa agregam as respostas "ótimo" e "bom" em um só porcentual e perde-se a informação sobre a intensidade da aprovação.

O preço da submissão :: Luiz Paulo Corrêa da Rocha

DEU EM O GLOBO

A cultura do pensar a curto prazo, a política do olhar para o próprio umbigo e não para o interesse maior, a prioridade das alianças políticas acima da defesa do Estado do Rio estas são as verdadeiras raízes da atuação do governo estadual no emaranhado em que se transformou a desastrosa ideia do Executivo federal de alterar o modelo regulatório para exploração e produção de petróleo no país.

O projeto de lei original enviado pelo Executivo federal foi assimilado de forma submissa. Nele as perdas do Estado são enormes, mas são de longo prazo. A emenda Ibsen, que aumenta drasticamente os prejuízos do Estado do Rio, tem efeito no curto prazo e foi rechaçada pelo governo estadual com veemência, aquela que faltou para rechaçar o projeto de lei original, devido ao privilégio da manutenção dos acordos políticos.

Não se trata de discutir a importância da mobilização de todas as forças do Estado contra a emenda Ibsen, mas sim da necessidade de reproduzi-la, de maneira ainda mais forte, contra o previsto no projeto aprovado para as áreas do pré-sal.

O Estado do Rio e seus municípios receberam nos últimos dez anos mais de R$ 50 bilhões em royalties e participação especial pela produção de petróleo e gás.

Este valor seria menos da metade caso os critérios de distribuição fossem os previstos no projeto de lei enviado ao Congresso, causando perdas de mais de 50% aos cofres do Estado. A emenda Ibsen tratou de nos retirar a outra metade.

Os municípios fluminenses sofrerão consequências ainda maiores, uma vez que os royalties têm peso mais relevante nos seus orçamentos.

A Confederação Nacional dos Municípios (CNM), dominada pelos municípios não produtores, a maioria deles na categoria de inadimplentes, faz o mesmo jogo de todos os outros, governo federal e Câmara, inclusive Ibsen, isto é, buscar recursos adicionais em fontes cujas receitas já têm atribuições federativas estabelecidas.

A sociedade fluminense está sendo ludibriada por meio de informações parciais, articuladas e que escondem toda a verdadeira perda do nosso Estado. Perdemos recursos com a emenda Ibsen, perdemos recursos com o projeto de capitalização da Petrobras e perdemos recursos com o projeto de lei que introduz a partilha de produção.

Os números são gigantescos e podem atingir mais de R$ 100 bilhões nos próximos dez anos.

Lutar por apenas parte das perdas, e em caso de vitória comemorar a solução que traz prejuízos menores, parece se preparar para uma Vitória de Pirro.

Luiz Paulo Corrêa da Rocha foi vice-governador do Estado do Rio de Janeiro e é deputado estadual (PSDB-RJ).

PAC-2 vai ser lançado hoje, mesmo com PAC-1 atrasado

DEU EM O GLOBO

Governo só pagou, em 3 anos, 16,4% das obras anunciadas em estradas
O governo federal, que lançará hoje o PAC-2, não tem conseguido cumprir os investimentos previstos para a construção e a recuperação de rodovias federais, incluídas na primeira versão do PAC. Segundo dados oficiais, obtidos em fontes como o Sistema Integrado de Administração Financeira, só R$ 7,4 bilhões (16,41%) dos recursos anunciados foram pagos de 2007 a 2009, em relação ao que se espera desembolsar até 2010. No relatório de três anos de balanço do PAC, o governo alega que foram investidos R$ 20,8 bilhões em obras concluídas.

Rodovias empacadas

União pagou apenas 16,41% dos investimentos do PAC no setor nos últimos três anos

Marcelo Portela

BELO HORIZONTE - Principal projeto para alavancar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está longe de cumprir os investimentos previstos para o período entre 2007 e 2010. Um exemplo é o que foi previsto no orçamento para obras em rodovias. Apesar de os balanços do PAC preverem investimentos em rodovias de R$ 45,5 bilhões em quatro anos, nos últimos três as Leis Orçamentárias Anuais (Loas) tinham autorizado somente R$ 21,6 bilhões para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o que equivale a 47,6% do previsto.

Apenas R$ 7,4 bilhões foram efetivamente pagos. Esse valor representa 16,41% dos recursos anunciados pela União para construção, adequação, duplicação e recuperação de trechos de rodovias em todo o país, e 34,58% dos recursos autorizados no orçamento para os projetos.

Esses dados foram obtidos em consultas ao Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) do governo federal e aos portais Transparência Pública e Portal da Transparência criados pela União também para divulgação dos gastos públicos. Os dados são relativos a investimentos exclusivos da União e estão disponíveis nos relatórios de execução de despesas do PAC no Siga Brasil, sistema do Senado que reúne informações do Siafi e de outras bases de dados do governo federal.

E contestam os investimentos contidos no balanço dos três anos do PAC, publicado em fevereiro, com previsão de investimentos em obras rodoviárias entre 2007 e 2010.

No relatório com o balanço de três anos do programa, o governo afirma ter investido R$ 20,8 bilhões em obras já concluídas e outros R$ 16,5 bilhões em projetos ainda em andamento. Somados, os valores representam 82,8% dos R$ 45,5 bilhões previstos para investimentos em rodovias em 24 estados e no Distrito Federal nos quatro anos, segundo o relatório com o balanço de três anos do PAC. Os dados de Goiás, Piauí e Rondônia não estão disponíveis nos documentos.

Rio foi o estado com o pior resultado

Pelos relatórios, o estado com maior defasagem entre os investimentos previstos no PAC, autorizados nas Loas e efetivamente pagos é o Rio de Janeiro. Nos balanços do PAC, o governo prevê, para o estado, investimentos de R$ 9,6 bilhões em logística, sendo R$ 4,8 bilhões em rodovias. No entanto, as leis orçamentárias de 2007 a 2009 tinham autorizado R$ 659,3 milhões para o Dnit investir em obras no estado. E apenas R$ 36,4 milhões foram desembolsados no período, o que corresponde a 5,52% dos recursos autorizados e a 0,74% do previsto no PAC para ser investido até o fim de 2010 no território fluminense.

Não tenho dúvida de que o PAC existe só para alavancar a candidatura da ministra Dilma. É um projeto de marketing para enganar a população.

Há várias obras que o governo afirma que estão em execução e nunca aconteceram diz o presidente do DEM, deputado federal Rodrigo Maia (RJ).

É literalmente uma encheção de linguiça. O governo põe coisas no balanço do PAC que não estão previstas no orçamento para dar mais volume. É desrespeito ao cidadão ou desespero para fazer campanha política emenda o relator da subcomissão do PAC da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, deputado federal Duarte Nogueira (PSDB-SP).

O estado com maior índice de investimento nos últimos três anos foi o Acre, para o qual o PAC previu R$ 1 bilhão em obras rodoviárias. Pelas Loas, R$ 612,1 milhões foram autorizados para serem investidos entre 2007 e 2009. No período, R$ 524,1 milhões foram pagos pelo governo, equivalentes a 85,63% dos recursos autorizados no orçamento e 51,92% do previsto no balanço do PAC.

O diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, negou que haja atraso nos projetos e atribuiu aos procedimentos burocráticos necessários à realização das obras o baixo índice de investimentos, sobretudo em 2007 e 2008.

O PAC foi criado em 2007 e não é de uma hora para outra que se resolvem os projetos. Superamos a inércia.

O Brasil ficou muitos anos sem investimentos e havia uma falta de projetos.

Nos dois primeiros anos, cuidamos de projetos executivos, licitações, licenças ambientais. Agora que esses processos estão terminando, e desde o ano passado, começou a execução real das obras.

Segundo Pagot, somente ano passado foram licitados projetos no valor de R$ 16 bilhões, mas as obras devem ser concluídas apenas este ano ou em 2011: Há 579 contratos em execução no momento, mas eles só serão faturados em 2010, alguns em 2011.

A assessoria do Dnit também contesta os dados contidos no Siafi e afirma que, entre 2007 e 2010, a execução orçamentária de obras do PAC chega a R$ 17,5 bilhões. O valor, no entanto, ainda bem abaixo do previsto nos balanços do PAC, também inclui restos a pagar, conta que será deixada para o próximo governo.

A reportagem procurou a Casa Civil para falar sobre o assunto, mas não houve retorno.

Opinião pública e política externa:: Fábio Wanderley Reis

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Em artigo na "Folha de S. Paulo" de 22 de março, Hélio Schwartsman examina trabalhos recentes de especialistas estadunidenses em psicologia e ciência cognitiva (especialmente George Lakoff, de quem me ocupei aqui há algum tempo, a propósito de conselhos dados à campanha de Obama), os quais demonstrariam que, na escolha dos candidatos pelos eleitores, "emoções são significativamente mais importantes que a razão". A ideia de metáforas ou de "framing" ou "enquadramento" (esta última devida, na verdade, ao trabalho anterior de outros estudiosos), com seu substrato de conexões neuronais, envolvem a percepção dos mesmos objetos com sentimentos positivos ou negativos que condicionariam fortemente as decisões, e a possibilidade de racionalidade na política seria posta em xeque, bem como, eventualmente, a viabilidade da própria democracia.

A discussão de Schwartsman, de maneira afim às ênfases de Lakoff, não considera as ramificações sociológicas do tema. A questão da "racionalidade" do eleitor, vista em ligação com as informações de que dispõe ou sua sofisticação intelectual geral e com o condicionamento por fatores de estratificação social, é há muito tomada por especialistas de ciência política ou sociologia dedicados ao processo político-eleitoral. Provavelmente o nome de maior destaque a ser associado a uma posição restritiva a respeito do assunto é o de Philip Converse: desde os anos 1960, Converse aponta as deficiências de "estruturação ideológica", e a dificuldade de situar-se diante de rótulos como "progressista" e "conservador" ou "esquerda" e "direita", em parcelas substanciais não apenas do eleitorado dos Estados Unidos, país com respeito ao qual isso talvez soe menos surpreendente, mas mesmo do eleitorado francês. E sua perspectiva básica, como revelam balanços de que ele mesmo participa em publicações recentes (como o "Oxford Handbook of Political Behavior", de 2007, editado por R. J. Dalton e H.-D. Klingemann), resiste bem a revisões de seu trabalho que outros têm procurado fazer.

Uma área específica em que surge o tema da informação e da racionalidade do eleitorado diz respeito à política externa, que me tem interessado aqui. No mesmo volume de Dalton e Klingemann, R. Eichenberg trata de avaliar, em perspectiva transnacional, os embaraços e avanços no estudo da opinião dos cidadãos sobre a política externa. Sua avaliação mostra "disposições" gerais da opinião pública ("moods", como as chama J. Stimson) que surgiriam em diferentes contextos nacionais e internacionais e cujos vaivéns podem ser relacionados de forma significativa a considerações relevantes em qualquer momento dado. Esse padrão de "movimentos estáveis e sensatos" da opinião dos cidadãos servem de base à tese central de Eichenberg: enquanto haveria, até os anos 1980, um consenso entre os estudiosos segundo o qual um público desinformado e desinteressado seria "quase por definição incapaz de produzir uma opinião pública ´racional´ em questões de política externa", estudos mais recentes em vários países, com métodos supostamente mais apropriados, permitiram falar agora de uma opinião pública não só racional por sua estabilidade e coerência, mas também plausível, isto é, cujas variações seriam respostas razoáveis a ocorrências no ambiente global ou a políticas governamentais.

Apesar dos supostos avanços metodológicos mencionados, em particular o empenho das pesquisas em diversificar tanto quanto possível as questões com referência às quais se procuraria apreender a "opinião pública", o balanço de Eichenberg tampouco destaca, bem como os estudos de que trata, a provável importância da dimensão relativa à estratificação social para o tema geral da "racionalidade". É notável, por exemplo, que haja a assimilação tranquila entre a ideia de "opinião pública" e o que resulta de pesquisas com amostras do eleitorado em geral, sem que qualquer informação seja dada sobre possíveis variações na "racionalidade" de diferentes categorias socioeconômicas (ou educacionais) de eleitores. Em síntese, qual será a contribuição do eleitorado mais pobre e sabidamente mais politicamente desatento, em particular quanto aos temas de política internacional e política externa, na conformação dessa "nova" opinião pública vista como sensata e racional? No caso do Brasil da atualidade, por exemplo, é patente o contraste entre as disposições do eleitorado popular majoritário e o que costumamos designar por "opinião pública", conformada amplamente pela elite de maior interesse político e informação e pela imprensa que politicamente se dirige sobretudo a ela.

Seja como for, uma constatação particular produzida em pesquisas do próprio Eichenberg me parece de grande interesse. Fechei minha última coluna com a menção ao imperativo de construção de uma legalidade transnacional e mundial, eventualmente capaz de mitigar o peso das meras assimetrias de poder nacional no terreno baldio em que as relações internacionais sempre se desenrolam. O exemplo mais dramático da importância desse aspecto na história recente pode ter sido a Guerra do Golfo, talvez a guerra mais "legal" jamais ocorrida, em que, não obstante os elemenos de "realkpolitik" certamente presentes, o respaldo legimitador da ONU permitiu aos Estados Unidos exercerem poder de polícia diante da flagrante violação das normas internacionais pelo Iraque de Saddam Hussein. Pois os dados de Eichenberg mostram os níveis inéditos de aprovação com que a ação militar contou então em populações de países muçulmanos (Barein, Oman, Arábia Saudita, Turquia e Emirados Árabes Unidos): o nível de aprovação oscila entre 50% e 60% em média, contra médias correspondentes que não vão além de 25% em outras circunstâncias. "Enquadramento", sem dúvida. Mas não parece haver por que contrapor, nele, a adesão a normas, e seu necessário componente emocional, à racionalidade.

Fábio Wanderley Reis é cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Escreve às segundas-feiras

A crise estrutural do euro e a Alemanha:: Luiz Carlos Bresser-Pereira

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Embora possa ajudar, a criação de um FMI europeu não resolverá o problema dos países da eurozona

O euro está enfrentando uma crise estrutural que não põe em jogo a União Europeia, mas põe em risco sua própria existência. Dependendo de como se desenrolar a crise, alguns países poderão voltar a suas moedas nacionais ou, o que é mais grave, o euro poderá se tornar inviável para todos. A UE, depois de algumas hesitações, sinalizou o apoio necessário à Grécia para que esta continue a cumprir seus compromissos financeiros, mas o problema mais geral do seu desequilíbrio interno não está resolvido e não tem solução fácil.

Qual a razão estrutural da crise?

Seria a irresponsabilidade fiscal de alguns governos, a começar pela Grécia? Ou então a expansão fiscal ocorrida em 2009 para enfrentar a crise financeira global? Essas são duas boas razões, mas, se fossem suficientes para explicar a crise europeia, bastaria que os governos gastadores apertassem os cintos e o problema seria resolvido. O verdadeiro e grande problema é o desequilíbrio das contas-correntes entre os países europeus, é o endividamento crescente do setor privado de um grande número de países e o crédito de outros, principalmente da Alemanha.

É um desequilíbrio que pode decorrer de gastos excessivos de outros países, mas é principalmente consequência da poupança alemã: da estagnação dos salários, não obstante o aumento da produtividade, e, em consequência, da redução do custo unitário da mão de obra em cerca de 20% nos últimos dez anos, enquanto nos outros países europeus esse custo unitário permanecia constante ou mesmo aumentava.

Os trabalhadores alemães aceitaram a redução relativa de seus salários para enfrentar a concorrência do trabalho barato da Ásia e assim salvar seus empregos. O governo alemão, por sua vez, implementou uma série de reformas reduzindo direitos trabalhistas que contribuíram para que essa redução relativa de salários fosse possível. Enquanto isso, os demais países europeus não lograram replicar essa política. O que é, aliás, compreensível; é preciso um povo disciplinado e austero como é o povo alemão para aceitar uma política econômica.

O problema não seria estrutural se não existisse o euro. Se cada país continuasse com sua moeda nacional, a desvalorização cambial seria uma solução para os países deficitários. Foi o que aconteceu com o Reino Unido, que não está no euro. Através da desvalorização em relação ao marco alemão, cada país reduziria seus salários reais, e assim recuperaria sua competitividade de um dia para o outro.

Naturalmente neste caso a redução de salários não seria relativa ao aumento da produtividade, como aconteceu na Alemanha, mas seria real. Esta, entretanto, é uma forma de redução de salários e de resolução do endividamento dos países mais simples e muito mais rápida do que aquela baseada em acordos salariais.

Já que a alternativa da desvalorização não existe, o que acontecerá com o euro? É difícil dizer. Embora possa ajudar, a criação de um FMI europeu não resolverá o problema.

Como também é inútil acusar os parceiros por uma situação da qual a Alemanha é também responsável ao ter agido unilateralmente. Resolveria a questão uma política de aumento do salário real e de estímulo ao aumento do consumo na Alemanha? Creio que sim, mas essa é uma questão que dependerá da decisão do povo alemão de preservar o euro mesmo que seja à custa de alguma perda de competitividade internacional.

Definitivamente, não é uma decisão fácil, porque nela estão envolvidas mais perdas do que ganhos.


Luiz Carlos Bresser-Pereira , 75, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Globalização e Competição".

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